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São Paulo, 2021 abr-jun;4(2):145-51 ARTIGO DE REVISÃO

Reflexologia podal em condições dolorosas: revisão sistemática


Foot reflexology in painful conditions: systematic review
Dérrick Patrick Artioli1, Alana Ludemila de Freitas Tavares2, Gladson Ricardo Flor Bertolini2

DOI 10.5935/2595-0118.20210022

RESUMO ABSTRACT

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os benefícios da reflexologia BACKGROUND AND OBJECTIVES: Because foot reflexo-
podal são difíceis de serem estabelecidos, pois revisões sistemáti- logy is commonly associated with other interventions, its bene-
cas foram realizadas há muitos anos, analisando parâmetros ines- fits are difficult to establish. In addition, systematic reviews have
pecíficos com resultados controversos. Os objetivos deste estudo been carried out many years ago, analyzing unspecific parameters
foram analisar os resultados de ensaios clínicos randomizados and with controversial results. Thus, the objectives of this study
com grupo controle frente a quadros dolorosos, com a reflexo- were: to analyze the results of randomized controlled trials with
logia podal como intervenção única; registrar sua aplicação e a a control group in painful conditions, using foot reflexology as
qualidade metodológica dos estudos (escala PEDro). a single intervention; describe the proposed application and me-
CONTEÚDO: Foram consultadas as bases de dados PEDro, thodological quality of the studies (PEDro scale).
Pubmed, Scielo e LILACS, buscando por ensaios clínicos com CONTENTS: The PEDro, Pubmed, Scielo and LILACS data
as seguintes palavras-chave e índice booleano: Foot Reflexology bases were consulted, searching for clinical trials with the follo-
AND pain; reflexology foot massage AND pain (inglês, português wing key words and Boolean index: Foot Reflexology AND pain;
e espanhol). Essas palavras-chave deveriam estar presentes nos reflexology foot massage AND pain (English, Portuguese and
tópicos de título ou resumo do artigo para sua inclusão, dire- Spanish). These keywords should have been present in the title or
cionando para quadro álgico e afastando-se de outras variáveis. summary of the article for inclusion, directing to pain and mo-
Foram encontrados 95 estudos, 17 foram selecionados e em sua ving away from other variables. 95 studies were found, 17 were
maioria os resultados foram favoráveis. A aplicação usual varia selected and most of the results were favorable. The usual appli-
de 2-30 minutos de estimulação em cada pé, alterando massa- cation varies from 2-30 minutes of stimulation on each foot,
gear de maneira geral ou pelo mapa somatotópico estimulando o varying between massaging in general or using the somatotopic
plexo solar, zona de correspondência de dor e pontos acessórios map stimulating the solar plexus, pain correspondence zone and
relacionados ao diagnóstico. Os estudos apresentaram qualidade accessory points related to the diagnosis. In short, the studies
metodológica de moderada a boa segundo a escala PEDro. showed moderate to good methodological quality according to
CONCLUSÃO: A reflexologia podal mostrou-se promissora the PEDro scale.
para alívio da dor como terapia isolada em casos de dor neu- CONCLUSION: Foot reflexology has shown promise for pain
romusculoesquelética em ambiente hospitalar e ambulatorial. relief as an isolated therapy in neuromusculoskeletal cases in
Estudos de melhor qualidade metodológica devem ser realizados hospital and outpatient settings. The hope is that studies of
para comprovar a importância da reflexologia podal na dor neu- excellent methodological quality can support this statement in
romusculoesquelética. the near future.
Descritores: Dor, Manipulações musculoesqueléticas, Modali- Keywords: Musculoskeletal manipulations, Pain, Physical the-
dades de fisioterapia. rapy modalities.

INTRODUÇÃO
Dérrick Patrick Artioli – https://orcid.org/0000-0003-3259-1725;
Alana Ludemila de Freitas Tavares – https://orcid.org/0000-0002-8687-1231; Por não obter bons resultados com o modelo biomédico ocidental,
Gladson Ricardo Flor Bertolini – https://orcid.org/0000-0003-0565-2019. alguns pacientes buscam métodos alternativos para tratar suas dores.
1. Centro Universitário Lusíada, Núcleo Acadêmico de Estudos e Pesquisas em Fisioterapia Or- As Práticas Integrativas Complementares (PICS) estão sendo imple-
topédica Desportiva e Terapias Alternativas, Departamento de Fisioterapia, Santos, SP, Brasil. mentadas no Sistema Único de Saúde (SUS) 2006, e incluem mas-
2. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Programa de Biociências e Saúde, Cascavel,
PR, Brasil.
sagem, acupuntura, fitoterapia, Lian Gong, Yoga, Tai Chi, recursos
manipulativos, musicoterapia e a reflexologia1,2.
Apresentado em 03 de dezembro de 2020. Nos últimos séculos, a capacidade do sistema nervoso de detectar
Aceito para publicação em 12 de março de 2021.
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: não há. informações do mundo exterior e produzir uma resposta fez com
que pesquisadores questionassem se os reflexos são uma resposta in-
Endereço para correspondência:
Rua Universitária 2069 – Jardim Universitário voluntária a um estímulo, se um órgão doente talvez estivesse rece-
85819-110 Cascavel, PR, Brasil. bendo a instrução errada do cérebro e, se o organismo fosse capaz de
E-mail: gladsonricardo@gmail.com
interromper tal estímulo errôneo, seria capaz de retornar sua forma
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor normal de funcionamento3.

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Mapas propõem que as orelhas, mãos e pés possuem áreas de CONTEÚDO


correspondência a partes do corpo e que ao pressionar pontos
específicos é possível tratar órgãos, glândulas ou sistemas em lo- Foram consultadas as bases de dados PEDro, Pubmed, Scielo e
cais longínquos1,2,4,5. Receptores pressóricos nessas áreas, uma vez LILACS. As seguintes palavras-chave foram utilizadas para a busca:
estimulados, seriam capazes de enviar mensagens ao sistema ner- Foot Reflexology, reflexology, foot massage e pain (inglês, português e
voso central (SNC), e a partir daí a eferência regulatória chegaria espanhol). O índice booleano AND foi utilizado entre a palavra-
ao local desejado5. Portanto, são utilizadas as zonas reflexas nos -chave selecionada e dor (Foot reflexology AND pain; reflexology
pés como o teclado de um computador que se comunica com o AND pain), direcionando para quadro álgico e afastando outras va-
processador, o SNC, e provocando uma resposta emitida na par- riáveis. Essas palavras-chave deveriam estar presentes nos tópicos de
te do corpo correspondente. Além deste efeito reflexo, específico, título ou resumo do artigo para sua inclusão e não houve restrições
vinculado a uma parte do corpo que se queira tratar, é descrita quanto ao ano de publicação. Além disso, “Ensaios Clínicos” foi
redução de tensão, estresse, efeito relaxante geral, melhora da um dos filtros aplicados para eliminar outras metodologias que não
circulação sanguínea, manutenção de boa saúde e promoção de mencionassem grupos comparativos. Estudos não randomizados
bem-estar2,4,6. também foram desconsiderados. Os trabalhos precisavam ter a dor
A reflexologia podal tem apresentado resultados promissores em como uma das variáveis analisadas e a reflexologia podal não poderia
câncer, doença renal crônica, neuropatias, doença arterial corona- estar associada a outra forma de tratamento (como analgésicos ou
riana, diabetes melittus tipo 2, esclerose múltipla, demência, artrite auriculoterapia). Outros critérios de exclusão foram experimentos
reumatoide, dismenorreia, dor pós-operatória e lombar2,4,5,7,8. No com animais e resultados que se repetiam nas bases de dados. Os
entanto, uma antiga revisão sistemática e sua atualização concluíram estudos que atenderam os critérios de inclusão foram avaliados pela
que as evidências científicas de alta qualidade metodológica eram escala PEDro para ensaios clínicos, aplicada por dois profissionais
insuficientes para embasar efeitos positivos da reflexologia podal8,9, com experiência em fisioterapia musculoesquelética, sem eliminar
porém, não analisa fadiga, qualidade do sono, estresse, dor e ansieda- a pesquisa de acordo com a pontuação obtida, ou seja, apenas indi-
de, a associação de outras formas de reflexologia auricular e as mãos, cando a qualidade metodológica do estudo. A tabela 1 apresenta os
e os efeitos da reflexologia podal como recurso isolado de tratamento dados quantitativos da busca.
das condições dolorosas. A tabela 2 sintetiza os resultados dos ensaios clínicos selecionados,
O objetivo deste estudo foi analisar os resultados de ensaios clínicos sendo a sua disposição de forma decrescente, ou seja, quanto maior a
randomizados com grupo controle de reflexologia podal como in- pontuação indicada pela escala PEDro melhor a qualidade metodoló-
tervenção única no tratamento de quadros dolorosos. gica do estudo. Os resultados descritos na tabela se referem aos acha-
dos de dor unicamente e não a outras variáveis avaliadas pelos estudos.
Dos 17 estudos analisados, 14 (82%) mostraram resultados supe-
Tabela 1. Busca e seleção dos estudos riores com reflexologia podal em comparação ao grupo controle
Base de dados Encontrados Repetidos Excluídos Final no que se refere ao efeito analgésico da intervenção. No entanto,
PEDro 9 6 3 0 em 3 destes 14, os grupos comparativos massagem clássica nos pés,
Pubmed 84 19 49 16 mãos e acupressão foram tão eficientes quanto a reflexologia podal
Scielo 1 0 0 1 em relação ao grupo controle. Os três (18%) estudos restantes, des-
crevem resultados insuficientes na melhora de quadro doloroso em
LILACS 1 1 0 0
cardiopatas (2 estudos) e câncer de mama (1 estudo). Porém, car-
Total 95 26 52 17 diopatas (1 estudo) e pacientes oncológicos (3 estudos - linfoma,

Tabela 2. Características dos ensaios clínicos analisados


Autores Objetivos Contra- População Reflexologia podal Duração e Escala Resultados
intervenção sessões PEDro
Jones et Comparar o GC – Placebo; 12 pacientes GI – Região da cintura es- Bilateral e por 9 GI seme-
al.10 efeito imediato zonas inespecífi- com insuficiên- capular; GC – região abdo- 4,5 min; uma lhante
da aplicação na cas do pé cia cardíaca minal e pélvica. sessão de in- ao GC
área do pé cor- crônica tervenção e (p>0,05).
respondente ao uma de pla- Sem melho-
coração (GI) a cebo. ra da dor.
zonas inespecífi-
cas (GC)
Wyatt et al.11 Avaliar a segu- GC1 – Manipula- 286 mulheres GI – Estimulação nos Sessão sema- 9 GI seme-
rança e eficácia ção aleatória dos com câncer de nove reflexos específicos nal de 30 min lhante
da reflexologia pés, contato su- mama. GI – 95, essenciais de câncer de por 4 sema- a GC1
em câncer de perficial evitando GC1 – 95; GC2 mama c/ pressão firme e nas. (p>0,05).
mama as áreas do GI; – 96. thumb walk12 Sem melho-
GC2 - cuidados ra da dor.
convencionais.
Continua...

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Tabela 2. Características dos ensaios clínicos analisados – continuação


Autores Objetivos Contra- População Reflexologia podal Duração e Escala Resultados
intervenção sessões PEDro
Rambod, Avaliar os efeitos GC - Cuidados 72 pacientes GI – Uso de óleo de amên- 5 sessões em 8 GI supe-
Pasyar e da reflexologia convencionais do com linfoma, GI doa e foram pressionados, 5 dias con- rior ao GC
Shamsadini5 na fadiga, dor e hospital – 36 e GC 36. feito deslizamento, rota- secutivos, 15 (p<0,05)
na qualidade do ções e alongamento no min em cada
sono em pacien- hálux, plexo solar (sono), pé
tes com linfoma bordas internas e externas
do ante pé, médio pé e bor-
da interna da planta do pé
e calcanhar (fadiga e dor
lombar, cintura escapular,
mãos, pernas e pés).
Pasyar, Avaliar os efeitos GC - Cuidados 66 pós-opera- GI – Massagem realizada Sessão única, 8 GI supe-
Rambod e da reflexologia convencionais do tórios de fratu- do calcanhar aos artelhos 10 min (5 em rior ao GC
Kahkhaee13 na dor e ansie- hospital ra diafisária da (face dorsal e plantar), sem cada pé) (p<0,001)
dade após ci- tíbia. GI – 33; optar por zona específica.
rurgia de fratura GC – 33. Movimento deslizante uti-
diafisária da tíbia lizando óleo de amêndoa.
Medeiros, Descrever o alí- GC – Reflexote- 36 enfermeiras GI – Áreas reflexas esti- Duas sessões 8 GI supe-
Sasso e vio de dor lombar rapia não especí- c/ dor lombar muladas c/ amassamen- (intervalo de rior a GC
Schlindwein7 aguda por meio fica, com amas- aguda. GI – 17, to forte: coluna (torácica 72 horas) nos (p<0,01)
de reflexologia samento suave e GC – 19. e lombar), quadril, pelve. dois pés de
podal de equipe superficial Área da musculatura lom- 30 minutos
de enfermagem bar e nervo isquiático. 3 x (15 para cada)
hospitalar 8 repetições em cada área.
Saatsaz et Determinar o GC1 – Massagem 156 participan- GI – Petrissage, amassa- Sessão úni- 8 GI e GC1
al.14 efeito da mas- nas mãos e pés tes após cesa- mento e fricção aplicada ca, 5 min em superior
sagem na dor e GC2 - cuidados riana com vaselina e s/ especifi- cada membro. a GC2
ansiedade após convencionais do GI – Massagem cações das zonas reflexas (p<0,001)
cesariana hospital. podal (52), GC1 estimuladas
– massagem
manual e podal
(52), GC2 – (52)
Imani et al.6 Avaliar os efeitos GC1– placebo, 75 pacientes GI – Massagem aplicada Duas sessões 7 GI supe-
da reflexologia local inespecífico internados em na porção superior de am- de 20 min (10 rior a GC1
em enxaqueca massageado (cal- unidade coro- bos os hálux (zona reflexa min em cada e GC2
induzida por ni- canhar); GC2 – nariana. GI – da cabeça-cérebro). Pres- pé). Intervalo (p<0,001)
troglicerina controle, s/ mas- 25, GC1 – 25, são contínua e uniforme de 3h entre
sagem GC2 - 25 aplicada com o polegar. sessões.
Wojciech, Avaliar os efeitos GC – Massagem 40 mulheres c/ GI – Pressão aplicada c/ 2 sessões por 7 GI supe-
Pawel e da reflexologia segmentar, 3 vezes crises de en- polegar no plexo solar, sem, 30 min rior ao GC
Halina15 podal e massa- por sem, 20 min, xaqueca (2-10 glândula pituitária, cora- (15 em cada (p<0,05)
gem segmentar 15 no total. Aplica- anos). GI – 20, ção e fígado (zonas refle- pé), 10 no to-
em enxaquecas. ção em múltiplos GC – 20. xas). As outras partes da tal.
locais: coluna ver- face plantar do pé também
tebral e muscula- foram massageadas e foi
tura das costas, finalizado no plexo solar.
peitoral maior, pes-
coço e cabeça
Koç e Avaliar o efeito GC – Controle, 60 bebês (até GI – Deslizamento aplica- 20-30 min de 7 GI supe-
Gozen16 da reflexologia sem massagem. 12 meses) pré- do dos artelhos em dire- e s t i m u l a ç ã o rior ao GC
podal aplicada -vacina. GI – ção ao calcanhar podal (p<0,001)
em bebês sobre 30; GC – 30.
a dor aguda que
pode surgir após
vacinação.
Koç Ozkan Determinar os GC1 – Acupres- 139 recém- GI - Massagem no pé de Apenas 2 min 6 GI e GC1
et al.17 efeitos da mas- são, 2 min, pres- - n a s c i d o s , maneira geral superiores
sagem nos pés são por 60s nos pré-punção no ao GC, sem
e da acupressão pontos de acu- calcanhar, GI – diferença
na dor durante a puntura B60 e R3; 47; GC1 – 46; intergrupos
punção do cal- GC2 – controle, s/ GC2 - 46 (p<0,001)
canhar em re- intervenção
cém-nascidos
Continua...

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Tabela 2. Características dos ensaios clínicos analisados – continuação


Autores Objetivos Contra- População Reflexologia podal Duração e Escala Resultados
intervenção sessões PEDro
Hattan, King Investigar o im- GC1 – 20 min de 25 indivíduos GI – Não especificado Sessão única 6 GI seme-
e Griffiths18 pacto da mas- uma gravação de pós-cirurgia de de 20 min. lhante a
sagem nos pés relaxamento guia- revasculariza- GC1 e GC2
e do relaxa- do; GC2 - cuida- ção do miocár- (p>0,05).
mento guiado dos convencio- dio. GI – 9; GC1 Sem melho-
em pacientes nais do hospital – 9; GC2 – 7. ra da dor.
submetidos a
cirurgia de re-
vascularização
do miocárdio
Bakir, Examinar o efei- GC – Monitora- 60 pacientes GI – Vaselina p/ lubrifica- 6 sessões de 5 GI supe-
Baglama e to da reflexolo- mento rotineiro com artrite reu- ção, 5 min de movimentos 60 min (30 rior ao GC
Gursoy2 gia podal na dor da policlínica matoide. GC – gerais de aquecimento. A) min cada pé), (p<0,01)
e qualidade do 30 e GI -30. 3 min p/ a parte do cére- 1 x sem.
sono de pacien- bro (na glândula pituitária
tes com artrite e pineal no hálux). B) o
reumatoide ponto medula espinhal,
do hálux até o meio do
calcanhar. C) 2 min de
pressão mínima no ponto
do plexo solar (ponto re-
flexo do sistema nervoso
central na face plantar). D)
3 min p/ estimular o siste-
ma linfático. E) 3 min em
cada região do diafragma;
no ponto da tireoide, estô-
mago e glândulas suprar-
renais. F) 5 min movimen-
tos gerais.
Uysal et al.19 Determinar o GC1 – Massagem 60 pacientes c/ GI - Pontos reflexos esti- 2 x sem, por 5 GI eficaz
efeito de 2 mé- podal clássica câncer colorre- mulados: A) sistema lin- 5 sem 30 min na redução
todos de massa- (effleurage, pe- tal que recebe- fático; B) órgãos incluídos cada sessão. da dor e
gem nos pés no trissage, fricção e ram quimiorra- na área de radiação na 20 min no pé do nível de
controle dos sin- vibração) foi apli- dioterapia. GI região pélvica - estômago, direito (repre- fadiga, GC1
tomas em pes- cada por 10 min -30, GC1 – 30 e fígado, baço, medula espi- senta o siste- eficaz na
soas com câncer em cada pé, in- GC2 – 30. nhal, cólon e orifício retal; ma simpático) redução do
colorretal cluindo o dorso e C) região ciática; D) cére- e 10 min no nível de dor.
a planta dos pés. bro, glândula pituitária, hi- pé esquerdo GI e GC1
GC2 – cuidados potálamo, glândula pineal (representa superiores
clínicos de rotina e plexo solar. sistema pa- ao GC2
rassimpático) (p<0,05)
Nazari et Determinar e GC1 – Técnicas 75 mulheres GI – Massagem geral, se- 2 x sem, por 4 5 GI supe-
al.20 comparar os de Jacobson e com esclerose guida de pressão e movi- sem, 40 min. rior a GC1
efeitos da refle- Benson via gra- múltipla. GI – mentos de thumb walk nos e GC2
xologia e relaxa- vação de relaxa- 25, GC1 – 25 e pontos do plexo solar, hi- (p<0,05).
mento na dor em mento guiado. 2 GC2 – 25. potálamo, glândula pituitá- Sem dife-
mulheres c/ es- x sem, por 4 sem, ria, medula espinhal, Rim 1 rença entre
clerose múltipla 40 min.GC2 – cui- (K1), glândulas adrenais e os 3 grupos
dados usuais pelve. 20 min em cada pé. 2 meses de-
Finalizando c/ pressão no pois (follow
plexo solar. up)
Hanjani, Determinar o GC – Massagem 80 mulheres GI – Óleo de girassol, mas- Sessão única, 4 GI supe-
Tourzani e efeito da refle- em outras partes primigestas sagem realizada em toda 40 min, 20 em rior ao GC
Shoghi21 xologia podal na do pé (não espe- em trabalho de planta dos pés no início. cada pé. (p<0,001)
ansiedade e dor cificado). parto, GI – 40 e Posteriormente, pressão
em mulheres pri- GC 40. rotacional nos pontos
migestas glândula pituitária, plexo
solar e útero.

Continua...

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Tabela 2. Características dos ensaios clínicos analisados – continuação


Autores Objetivos Contra- População Reflexologia podal Duração e Escala Resultados
intervenção sessões PEDro
Stephenson Comparar os GC – Cuidados 86 participan- GI – 10 min iniciais de Sessão de 30 4 GI supe-
et al.22 efeitos da refle- convencionais do tes c/ câncer massagem relaxante ge- min aplicada rior ao GC
xologia podal fei- hospital, atenção em regiões ral envolvendo tornozelo, pelo acom- (p<0,001)
ta por parceiros e 30 min de lei- aleatórias e porção do dorsal e plantar panhante do
na dor e ansie- tura sobre algum metástase. GI dos pés. 15 min de estimu- paciente.
dade de pacien- tema de agrado – 42 e GC – 44. lação específica corres-
tes oncológicos do paciente. pondente a áreas e órgãos
de queixas do paciente.
Estímulos também foram
realizados nos pontos de
glândula pituitária, tireoi-
de, adrenais e plexo solar.
5 min finais de massagem
relaxante geral.
Özdemir, Avaliar o efeito GC – Sem men- 80 pacientes GI – 5 min iniciais de 3 sessões em 3 GI supe-
Ovayolu e da reflexologia ção de interven- em hemodiáli- massagem relaxante ge- uma semana rior ao GC
Ovayolu23 podal na fadiga, ção se. GI -40, GC ral envolvendo tornozelo, após hemo- (p<0,05)
dor e cãibras em – 40. porção do dorsal e plantar diálise. 30
pacientes em dos pés. 7 min de estimu- min, 15 min
hemodiálise lação específica corres- em cada pé
pondente a áreas e órgãos
de queixas do paciente. 7
min de estimulação nos
pontos da hipófise, tireoi-
de, paratireoide, pâncreas,
glândulas adrenais e plexo
solar. 3 min finais de mas-
sagem relaxante. Foram
realizadas pressões, des-
lizamento e amassamento
nos locais citados.
GI = Grupo intervenção; GC = Grupo controle; min = minutos; sem = semana

colorretal e metástases), foram beneficiados por intervenção nos pés paratireoide e suprarrenal, sistema nervoso central e linfático. A partir
em outros estudos, deixando incerteza quanto à efetividade nestes dos artigos analisados e das informações do estudo pode se estruturar
casos. A reflexologia podal mostrou-se promissora em três grandes a prática iniciando a estimulação no plexo solar, seguido pela região
grupos, neuromusculoesqueléticos com dor lombar aguda, artrite de representação do corpo relatada como dolorosa e complementar
reumatoide, após cirurgia de fratura de tíbia e esclerose múltipla, em com pontos acessórios relacionados à condição clínica e apresentados
ambiente hospitalar de trabalho de parto, após cesariana, pré-vacina, na figura 1. A técnica thumb walk foi uma das mais descritas, consiste
recém-nascidos em pré-punção, ou ambulatorial de hemodiálise e em fazer movimentos de flexão da articulação interfalangiana distal
enxaqueca. Vale salientar que os resultados positivos descritos foram seguidos de deslizamento curto. Além de pressões sustentadas e desli-
baseados em estudos de qualidade metodológica de moderada a boa zamentos, o uso de acessórios como bola de golfe ou de tênis, pedras
(93%) e em apenas um estudo de qualidade ruim (7%). Essa clas- de rio, cabo de vassoura ou bambu, foot roller e superfícies de dife-
sificação é baseada nos critérios da escala PEDro, que aponta quali- rentes texturas também podem ser utilizadas pelo profissional, como
dade “excelente” de 9-10, “boa” de 6-8, “moderada” de 4-5 e “ruim” também pode-se orientar o paciente para autoaplicação.
quando inferior a 4. Quando aplicadas as recentes considerações de Os efeitos de maneira geral foram promissores quanto à melhora
um estudo24, 29% dos efeitos analgésicos obtidos com reflexologia de quadros dolorosos (82%), sejam estes justificados pela teoria da
podal se enquadra em trabalhos de qualidade metodológica 8-10, comporta, liberação de endorfinas ou por liberação de “bloqueios
sendo considerados “excelentes”. energéticos” por estimular a circulação local. Uma explicação plau-
Além do uso dos lubrificantes de óleo de girassol, amêndoa ou vaselina sível deve-se ao fato dos pés receberem múltiplas raízes nervosas (L4
e uma variação de 2-30 minutos de estímulos em cada pé, duas for- – S3) capazes de propagar os estímulos via medula espinhal e córtex,
mas de intervenção podal foram encontradas. Uma delas utiliza mo- consequentemente emitindo eferências resolutivas5. Se os benefícios
vimentos de massagem clássica effleurage, petrissage, fricção e vibração são por estimular zonas reflexas específicas ou os pés como um todo,
e trabalha o pé como um todo em sua face plantar e dorsal. A forma permanece a discussão. Em três estudos nos quais o grupo interven-
dita como de reflexologia é aplicada em pontos específicos por meio ção foi superior ao controle (zonas inespecíficas nos pés e massagem
de mapa somatotópico, que além das porções de referência de quei- segmentar), os estímulos foram aplicados em locais específicos nos
xas dos pacientes, também tiveram os seguintes pontos estimulados: pés6,7,15. Em outros cinco estudos com efeitos benéficos, o grupo
plexo solar, hipotálamo, hipófise, glândula pituitária, pineal, tireoide, intervenção trabalhou nos pés de forma geral13,16,20,22,23. Mais dois

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1 Coluna vertebral 9 Hipotálamo 17 Suprarrenal 25 Joelho


2 Cervical 10 Tireoide/paratireoide 18 Rim 26 Perna
3 Torácica 11 Coração 19 Cólon transverso 27 Pé
4 Lombar 12 Plexo solar 20 Cólon descendente 28 Glândulas linfáticas
5 Quadril 13 Diafragma 21 Cólon sigmoide 29 Útero
6 Cérebro 14 Fígado 22 Orifício retal 30 Abdômen
7 Glândula pituitária 15 Estômago 23 Nervo isquiático 31 Cintura escapular
8 Glândula pineal 16 Baço 24 Braço

Figura 1. Representação de pontos podais de estimulação.


Fonte: arquivo pessoal dos autores

estudos também massagearam os pés como um todo, com bons re- nar os efeitos de outras e discriminar seu efeito de forma isolada. No
sultados, porém semelhantes às contra-intervenções de acupressão e entanto, a técnica é costumeiramente utilizada como terapia com-
massagem nas mãos mais aos pés14,17. Outros quatro estudos descre- plementar e se seus efeitos são melhores quando associado a outras
vem o uso de reflexologia, mas estimularam demasiado número de abordagens foge do objetivo deste estudo. A análise de outras variá-
áreas, o que acabou por estimular todo o pé dos participantes2,5,19,21. veis além de dor também não fez parte da proposta atual. Portanto,
Não se pode desconsiderar que, ao massagear todo o pé, as zonas apenas para registro, foram mencionadas melhora da fadiga, disp-
reflexas também as serão, mas que alguns estudos mostraram efei- neia, função física e ansiedade5,11,13,14.
tos de estimulação em zonas específicas superiores à estimulação em
locais aleatórios2,5-7,19. São necessários mais estudos aprofundando o CONCLUSÃO
conhecimento das relações das áreas dos pés e seus efeitos específicos.
Dos três estudos nos quais não houve melhora da dor, dois eram A reflexologia podal se mostrou eficaz na redução da dor na maioria
de qualidade metodológica “excelente”, usaram tanto a massagem dos estudos, sendo que a prática comum é bilateral, tem duração de
reflexa como aleatória e devem ser considerados em pesquisas fu- 2 a 30 minutos por pé e segue a sequência de estímulos no plexo
turas para determinar se o recurso escolhido de fato é ineficaz ou solar, zona correspondente de dor no corpo e áreas acessórias corre-
se não atende para a população estudada de cardiopatas e câncer de lacionadas ao diagnóstico, ou massagear os pés como um todo. Es-
mama10,11,18. Mesmo que todos os estudos analisados não sejam de sas afirmações são baseadas em estudos de qualidade metodológica
qualidade “excelente”, para que afirmações mais fidedignas possam moderada a boa.
ser feitas quanto à redução da dor ao se aplicar reflexologia podal,
o cenário atual pode ser considerado positivo, visto que aproxima- CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES
damente 57% dos estudos promissores ficaram classificados como
qualidade entre “excelente” e “boa”, 36% “moderada” e 7% “ruim”, Dérrick Patrick Artioli
pelos novos critérios. Esta revisão sistemática analisou os resultados Coleta de Dados, Conceitualização, Gerenciamento de Recursos,
da reflexologia podal como única forma de intervenção, para elimi- Investigação, Metodologia, Redação - Preparação do original

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Reflexologia podal em condições dolorosas: revisão sistemática BrJP. São Paulo, 2021 abr-jun;4(2):145-51

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