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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE- CCBS


DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA
FISIOTERAPIA EM CARDIOLOGIA
PROFESSOR: João Virgínio de Moura
ALUNOS: João Lucas de Azevedo Duarte - 201140136
Vitor Gabriel Cavalcante da Silva - 201140233

FISIOTERAPIA NO PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA

CAMPINA GRANDE - PB
09/12/2022
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1. INTRODUÇÃO
O coração é um órgão localizado no mediastino e formado por duas bombas
que funcionam em conjunto, o coração direito e coração esquerdo, sendo cada um
destes responsável por impulsionar o sangue para áreas diferentes do organismo. O
coração direito é o responsável pela propulsão da circulação pulmonar, enquanto o
coração esquerdo é responsável pela propulsão da circulação sistêmica. Ambos os
lados do coração possuem 2 câmaras, sendo elas: átrio e ventrículo, os quais são
separados por valvas atrioventriculares (tricúspide no lado direito e mitral no lado
esquerdo). O átrio é uma fraca bomba de escorva que recebe o sangue de volta ao
coração e transfere esse líquido para o ventrículo, os quais fornecem o
bombeamento principal para circulação fora do coração, seja para o tronco
pulmonar no ventrículo direito ou para artéria aorta no ventrículo esquerdo.
Cabe mencionar que algumas lesões, deformidades e doenças podem
acometer o sistema cardiovascular e impedir o seu funcionamento normal enquanto
bomba. Sendo assim, a cirurgia cardíaca surge como um dos principais métodos de
correção desses possíveis acometimentos. Alguns dos principais procedimentos
cirúrgicos cardíacos são: revascularização do miocárdio, reparos e trocas das
válvulas cardíacas e correções de patologia cardíacas congênitas.
Ademais, algumas complicações podem elevar a morbidade e mortalidade
dos pacientes durante o período pós-operatório, tendo em vista quão invasivo é o
procedimento e os efeitos advindos anestesia no sistema respiratório, a disfunção
orgânica gerada pela circulação extracorpórea, as alterações mecânicas na caixa
torácica, entre outros impactos resultantes das particularidades do procedimento.
Sendo assim, faz-se necessário uma abordagem que proporciona melhor qualidade
de vida e previna o surgimento de complicações cardiopulmonares. Nesse sentido,
a fisioterapia apresenta-se como uma importante coadjuvante durante o pré e pós
operatório dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, visando uma recuperação
adequada e proteção contra as complicações supracitadas.

2. PRÉ-OPERATÓRIO
O atendimento fisioterapêutico inicia-se no período pré-operatório, através do
rastreamento dos pacientes que apresentam maior risco de complicações
pulmonares pós-operatórias, tendo como indicativos de risco: idade, IMC maior que
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30kg/m², diabetes, pressão arterial pulmonar média maior que 20mmHg, volume
sistólico menor que 30 ml/m², albumina sérica baixa, histórico de doença vascular
cerebral, ICC, DPOC, angina instável e tabagismo. A identificação do risco para o
paciente permite planejamento de intervenção eficiente e atuação de forma
preventiva, minimizando os efeitos do processo cirúrgico.
O fisioterapeuta é responsável por realizar uma avaliação um dia antes da
cirurgia e elucidar aspectos relacionados ao período pós-operatório (principalmente
em relação a intubação orotraqueal e restrição ao leito).
Consoante Feltrim, uma das partes importantes para fisioterapia durante o
período pré-operatório é o treinamento muscular inspiratório, visando reduzir
complicações, sob a perspectiva que a endurance dessa musculatura será afetada
devido a anestesia e outros fatores.

3. PÓS-OPERATÓRIO
O pós-operatório é uma etapa de extrema importância pois representa as
repercussões da cirurgia cardíaca sobre a fisiologia dos subsistemas, que, devem
ser entendidas como variações previstas de suas funções, caso permaneçam dentro
dos limites preestabelecidos. O papel do fisioterapeuta neste momento é avaliar o
paciente fisicamente , adaptá-lo corretamente a ventilação mecânica e conforme a
estabilidade clínica e hemodinâmica do paciente, evoluir o seu desmame. Ademais,
a fisioterapia promove uma minimização das complicações, otimizando ao paciente
o seu processo de recuperação e garantindo a ele uma melhor qualidade de vida.
Programas de exercícios são essenciais principalmente para pacientes pós-
cirúrgicos e devem ser iniciados o quanto antes, a fim de restabelecer a frequência
cardíaca após o procedimento cirúrgico, mas também para recuperar a função
muscular devido ao longo período de internação.

4. PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO
O fisioterapeuta atua no pós-operatório imediato primeiramente realizando a
admissão do paciente pela equipe multidisciplinar. Previamente, o fisioterapeuta
deverá testar o ventilador mecânico, para que no momento de admissão o paciente
possa ser conectado, e com isso, fixar a cânula orotraqueal e realizar uma ausculta
pulmonar para avaliar a simetria de expansibilidade torácica do paciente. Os dados
cirúrgicos, ventilatórios e complicações do paciente devem ser anotados na ficha de
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fisioterapia. Periodicamente, avaliações radiológicas e gasometrias são realizadas


no intuito de tratar precocemente as alterações patológicas. Em casos de hipoxemia
em pacientes sem instabilidade hemodinâmica pode ser realizada a manobra de
recrutamento alveolar, considerando que, a hipoxemia frequentemente é
consequência do colapso alveolar devido às intercorrências do intra-operatório. A
partir das primeiras 24 horas, os sinais vitais, débito de dreno e débito urinário
devem ser monitorados de forma constante.

5. INTERRUPÇÃO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA


A partir do momento em que o paciente apresenta gasometria adequada,
estabilidade hemodinâmica, ausência de complicações e ausência de altas doses
de drogas vasoconstritoras, pode ser realizada a interrupção da ventilação
mecânica com alteração da modalidade de assisto-controlada para ventilação
pressão suporte (PSV) com PS de 7cmH₂O durante trinta minutos. É realizado
então o procedimento de extubação seguido de adaptação à oxigenoterapia, por
diante, é realizado a terapia de higiene brônquica seguida de aspiração
endotraqueal e a retirada do tubo orotraqueal.

6. ATENDIMENTO AO PACIENTE NÃO COMPLICADO


O paciente não acometido de complicações pós cirúrgicas é capaz de se
recuperar de forma rápida, apresentando melhoras em poucos dias. Rotineiramente,
esses pacientes recebem alta da terapia intensiva dois dias após o processo
cirúrgico. O período em que o paciente está submetido no pós-operatório na
unidade de terapia intensiva o fisioterapeuta deve realizar com o paciente técnicas
reexpansivas torácicas considerando que o posicionamento em decúbito dorsal, a
dor após a cirurgia e o uso do dreno não possibilitam a expansibilidade torácica
completa. Caso o paciente não tenha compreensão da realização da técnica ou
apresenta uma expansibilidade reduzida a ponto de impedir a realização ativa, a
utilização de exercícios respiratórios com pressão positiva intermitente (RPPI) é
recomendada.
A higiene brônquica ou terapia de remoção de secreções deve ser utilizada
sempre que houver indicativo de secreção pulmonar. As técnicas utilizadas são
acompanhadas da tosse, no entanto, em situações em que a tosse é ineficaz, é
indicado a realização da aspiração nasotraqueal.
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As análises da avaliação radiológica e da gasometria são constantes durante


o acompanhamento ao paciente. Alterações em ambos ou sintomas de piora do
padrão respiratório é preconizado o tratamento através da ventilação não-invasiva
VNI). A utilização da VNI com pressão contínua (CPAP) ou em dois níveis de
pressão (BIPAP) pode ser feita de forma terapêutica na insuficiência respiratória,
uma vez que, as complicações respiratórias são frequentes no pós-operatório de
cirurgia cardíaca.

7. COMPLICAÇÕES CARDIOVASCULARES NO PÓS-OPERATÓRIO


As principais complicações que acometem os pacientes em PO de cirurgia
cardíaca são: infarto agudo do miocárdio (IAM), arritmias, síndromes de baixo débito
cardíaco, estados de choque e hipertensão.
O IAM no pós-operatório de cirurgia cardíaca acomete 1,4% a 23% dos
pacientes pós-RM. A identificação de um IAM é complicada nesse período devido às
alterações enzimáticas que ocorrem pela manipulação do miocárdio e a
impossibilidade de avaliar a dor do paciente, já que o mesmo ainda se encontra com
uso de sedativos, sendo a melhor forma de identificar um IAM a análise minuciosa
do eletrocardiograma.
A morbidade e a mortalidade aumentam consideravelmente no PO em casos
de arritmias cardíacas, sendo a mais comum a fibrilação atrial, que acomete em
média 33% dos pacientes operados. A fibrilação atrial apresenta várias causas,
podendo estar associada com as condições perioperatórias, ademais, está
associada com disfunções como a insuficiência cardíaca, choque cardiogênico e
fenômenos tromboembólicos.
Outro achado frequente é o derrame pericárdico, onde irá apresentar maior
significado clínico quando evolui para um tamponamento cardíaco. O
tamponamento cardíaco acomete 3% dos pacientes com derrame pericárdico,
ocasionando instabilidade hemodinâmica e diminuição do débito cardíaco. À medida
que os mecanismos de compensação da pressão arterial não conseguem exercer
sua função, ocorrem complicações como: hipoperfusão tecidual, arritmias e morte.
Todas essas complicações são causas da síndrome de baixo débito, que apresenta
um elevado índice de mortalidade hospitalar.
A hipertensão pós-operatória acontece em aproximadamente 50% dos
pacientes, sendo frequente após Ressonância Magnética e intervenções na artéria
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aorta. Sua manifestação pode gerar consequências como: aumento do risco de


sangramento, dissecção da aorta, acidente vascular encefálico e aumento da pós-
carga do ventrículo esquerdo.
As doenças cardíacas de forma geral tem como principal complicação a
insuficiência cardíaca. Ela ocorre quando o bombeamento cardíaco é insuficiente
para atender às necessidades metabólicas do organismo. O principal sintoma de
insuficiência cardíaca é o desconforto respiratório, que ocorre devido a diminuição
da função pulmonar. Uma manifestação bastante característica da insuficiência
cardíaca é a redução da capacidade de exercício relacionada à congestão pulmonar
e redução do suprimento sanguíneo para os músculos.

8. CONCLUSÃO
A correção cirúrgica é uma alternativa para muitas doenças do sistema
cardiovascular, no entanto, por ser um processo invasivo o paciente pode ser
acometido de complicações que reduzem uma melhora do processo de recuperação
pós-cirúrgico. A fisioterapia age nesse aspecto buscando minimizar os efeitos
adversos da cirurgia, otimizando ao paciente o seu processo de recuperação e
garantindo a ele uma melhor qualidade de vida.
Programas de exercícios são essenciais principalmente para pacientes pós-
cirúrgicos e devem ser iniciados o quanto antes, a fim de restabelecer as variáveis
cardíacas após o procedimento cirúrgico, mas também para recuperar a função
muscular devido ao longo período de internação.
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REFERÊNCIAS
UMEDA, Iracema Ioco Kikuchi. Manual de fisioterapia na reabilitação cardiovascular.
Barueri, SP: Manole. 2005.
HALL, John E. Guyton & Hall. Tratado de fisiología médica. Elsevier Health
Sciences, 2021.
LIMA, Paula Monique Barbosa et al. Fisioterapia no pós-operatório de cirurgia
cardíaca: a percepção do paciente. Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery,
v. 26, p. 244-249, 2011.

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