Abrir portas onde se erguem muros Director: Manuel Carvalho Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • Ano XXXII • n.º 11.

no XXXII • n.º 11.395 • Edição Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,30€
RICARDO CAMPOS

Vieira suspeito de montar esquema

para desviar dinheiro do Benfica
Suspeitas de fraude terão causado prejuízos à SAD benfiquista, Novo Banco e Estado português
O presidente do Benfica, Luís Filipe o empresário Bruno Geraldes Mace- sário da sua confiança, José António de abuso de confiança, burla quali- co está a investigar negócios superio-
Vieira, terá montado um esquema do, todos detidos ontem, para des- dos Santos, foi igualmente detido. ficada, falsificação, fraude fiscal e res a 100 milhões de euros Desta-
em que participaram o filho Tiago e viar dinheiro do clube. Outro empre- Em causa estão suspeitas de crimes branqueamento. O Ministério Públi- que, 2/3 e Editorial

Covid-19 Caso Tancos Trabalho no interior

Caxias
Peritos pedem Ex-ministro Função pública
ao Governo tem agora MAI já não vai usarr pode acumular
menos falhas na a defesa de prisão para instalar
ar ajudas de custo
comunicação quem o acusou imigrantes com mais férias
Especialistas dizem que submeter José Azeredo Lopes foi ilibado pelo Eduardo Cabrita diz que o MAI tem três
ês Quem já receber ajudas de custo e
pessoas com vacinação completa a mesmo MP que o acusou de quatro milhões para melhorar e construir for para o interior terá mais dois dias
isolamento e testes só aumenta a crimes associados à recuperação do centros de instalação Sociedade, 15 de férias, mas não o apoio de 4,77
confusão Destaque, 4 a 7 material Sociedade, 16/17 euros diários Economia, 24/25
ISNN-0872-1548
2 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Destaque Justiça

Vieira suspeito de
montar esquema
para desviar
dinheiro do Benfica
O presidente do BenÄca, o Älho, os empresários Bruno Macedo
e José António dos Santos serão presentes hoje ao juiz Carlos
Alexandre, mas só deverão começar a ser interrogados amanhã
conhecido como “rei dos frangos”, foi de pelo menos três jogadores: os
Mariana Oliveira
aberto em 2018, e no início não visava paraguaios Derlis Gonzalez e Claudio

O
presidente do BenÆca, Luís
Filipe Vieira, terá montado
um esquema em que partici-
param o Ælho Tiago e o
empresário Bruno Geraldes
Macedo, todos detidos
ontem, para desviar dinheiro do clu-
be da Luz. A informação consta dos
mandados emitidos no âmbito de um
inquérito do Departamento Central
de Investigação e Acção Penal, segun-
do avançou a RTP e conÆrmou o
PÚBLICO.
Os mandados, que segundo o
PÚBLICO apurou têm cerca de 90
páginas, descrevem vários esque-
mas de fraude que terão causado
prejuízo não só à SAD benÆquista,
como ao Novo Banco e ao Estado
português, quer através de impos-
tos não cobrados quer através de
injecções de capitais públicos no
Novo Banco e de Ænanciamento ao
Fundo de Resolução.
No centro do esquema está Bruno
Geraldes de Macedo, sócio da Ærma
de advocacia Vespasiano Macedo &
Associados, localizada em Braga, que
ao que tudo indica foi ontem um dos
dois escritórios alvo de buscas pelo
Ministério Público. Aliás foi em Braga
que esteve ontem o procurador Rosá-
directamente Vieira. O presidente do
BenÆca só surge como suspeito na
sequência do desenlace de um com-
plexo novelo de transacções que o
Ministério Público tem vindo a
reconstituir desde então.
A sociedade de advogados perten-
ce ao seu pai, ex-advogado de António
Salvador, presidente do Sporting de
Braga e amigo de Luís Filipe Vieira.
Bruno de Macedo é também um
homem da conÆança do líder dos
“encarnados” e tem intermediado
algumas transferências sonantes no
futebol português. No BenÆca, o
empresário negociou o regresso do
treinador Jorge Jesus e as contrata-
ções dos jogadores Darwin Nunes,
Everton Cebolinha e Lucas Veríssi-
mo.
Bruno Macedo possui várias empre-
sas de agenciamento de jogadores,
que trabalham para o BenÆca, mas
também para outros clubes como o
rival FC Porto, algumas das quais
estão sediadas no Brasil, onde o
empresário passa grande parte do
ano, como disse o próprio em Feve-
reiro ao PÚBLICO quando o seu nome
surgiu na lista de passageiros que
deveria regressar a Portugal num
avião privado, onde foram apreendi-
Correia, a que se junta o brasileiro
César Martins.
Compra de dívida
O inquérito investiga igualmente sus-
peitas de crimes na forma como uma
dívida de 54 milhões de euros contraí-
da por uma empresa de Vieira, a
Imosteps, junto do Novo Banco, foi
parar às mãos do amigo e sócio do
presidente do BenÆca, José António
dos Santos. Estranho é que um fundo
controlado pelo empresário do sector
agro-alimentar chamado Iberis Sem-
per, ofereceu quase dez milhões ao
Novo Banco para comprar a dívida
que acabou por ser vendida por cinco
milhões a um outro fundo. Mesmo
assim o “rei dos frangos” acabou por
adquirir a dívida da Imosetps por oito
milhões de euros, num negócio que
Vieira apelidou de “óptimo” no Par-
lamento, já que a Imosetps possui
metade de uma outra sociedade que Tiago Vieira chegou a ser administra-
é proprietária de um terreno no Rio dor e sócio.
de Janeiro, uma parte em reserva eco- Esta foi uma das sociedades que
lógica, mas no qual Vieira terá conse- ontem foi alvos de buscas, numa
guido obter uma autorização para mega-operação que envolveu 140
construir 102.000 m2. elementos da PSP e inspectores tribu-
Em investigação está igualmente a tários que estiveram no Estádio da
restruturação das dívidas do grupo Luz, na casa de Vieira, em várias
Promovalor ao Novo Banco, uma das empresas do dirigente benÆquista,

rio Teixeira, líder do inquérito, que
como tem sido habitual volta a dele-
gar a investigação numa equipa da
Direcção de Finanças de Braga, enca-
beçada pelo inspector tributário Pau-
lo Silva, com quem já trabalhou nas
operações Marquês e Furacão.
Este inquérito, onde para além de
Vieira também foi detido o empresá-
rio José António dos Santos, que Æcou
dos mais de 500 quilos de cocaína.
O Ministério Público diz que o
empresário aumentava indevidamen-
te as comissões inerentes à venda de
jogadores que depois reverteriam
para as empresas do universo de Luís
Filipe Vieira, para onde terão sido
desviados quase 2,5 milhões de euros,
noticiou a RTP.
O mandado fala das transferências
instituições alvo das 45 buscas reali-
zadas ontem em Lisboa, Torres
Vedras e Braga, que em Maio de 2017,
ascendiam a 267 milhões. O Novo
Banco acabou por constituir um fun-
do que limpou esta dívida do seu
balanço e que é gerido pela C2 Capital
Partners, empresa presidida por
Nuno Gaioso Ribeiro, vice-presidente
de Vieira na SAD do BenÆca, da qual
100
milhões de euros é o montante
de eventuais prejuízos que estão
a ser investigados pelo
Ministério Público.
assim como nas casas dos dois empre-
sários e nas respectivas empresas. As
diligências foram acompanhadas por
quatro magistrados do Ministério
Público e três juízes de instrução.
Os quatro detidos deverão ser
hoje presentes ao juiz Carlos Ale-
xandre, no Tribunal Central de Ins-
trução Criminal, mas apenas deve-
rão ser identiÆcados. Como é nor-

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
mal que os respectivos advogados
peçam tempo para consultar o pro-
cesso, os interrogatórios só deverão
começar amanhã.
Numa nota emitida ontem, o
Ministério Público precisa que no
processo se investigam “negócios e
Ænanciamentos em montante total
superior a 100 milhões de euros, que
poderão ter acarretado elevados pre-
juízos para o Estado e para algumas
das sociedades”. Em causa, refere-
se, estão factos ocorridos, essencial-
mente, a partir de 2014 e até ao pre-
sente e susceptíveis de integrarem a
prática, entre outros, de crimes de
abuso de conÆança, burla qualiÆca-
da, falsiÆcação, fraude Æscal e bran-
queamento. com Paulo Curado
Juristas acreditam
que há motivos
para destituição
A
constituição de Luís Filipe
Vieira como arguido por
suspeitas de vários crimes
(ver texto ao lado) não
implica a perda do cargo de
presidente do Benfica. Os
estatutos do clube são omissos
face a esta eventualidade,
mesmo que haja uma prisão
preventiva, a mais gravosa das
medidas de coacção. Apesar
disso, para alguns juristas
ouvidos pelo PÚBLICO, haverá
motivos para a destituição do
actual líder dos “encarnados”,
caso não opte pela renúncia
para salvaguardar a instituição.
É o artigo 43.º dos estatutos
do Benfica que aflora as
circunstâncias que podem
precipitar a saída de um titular
dos órgãos sociais. O mandato
cessa antecipadamente “por
morte, impossibilidade física,
perda da qualidade de sócio,
incompatibilidade, renúncia,
destituição ou cessação do
mandato da maioria dos
membros eleitos” da direcção.
Nenhum deles enquadra
especificamente as actuais
circunstâncias, mas alguns
juristas, que não quiseram ser
identificados, consideram que
tudo dependerá da leitura que
se vier a fazer de algumas
destas normas estatutárias.
Por um lado, várias medidas
de coacção que venham a ser
aplicadas poderão implicar,
segundo especialistas, a
“impossibilidade física” de Luís
Filipe Vieira continuar a presidir
ao clube e à SAD, que gere o
futebol. A prisão preventiva, a
prisão domiciliária, a
impossibilidade de
comparecer nas instalações do
clube e SAD ou a proibição de
contactar com os membros da
direcção implicariam um
prolongado impedimento de
exercer as funções, pelo
menos na sua plenitude.
Outra possibilidade prevista
nas normas é a revogação do
mandato (artigo 46.º). Para tal
seria necessário convocar uma
assembleia geral para efeitos
de destituição de Vieira,
alegando justa causa. Neste
caso, poderia ser invocado o
risco de graves danos
reputacionais e patrimoniais ao
Benfica, tendo em conta que a
SAD lançou esta semana um
empréstimo obrigacionista de
35 milhões de euros, para o
qual a SAD solicitou já uma
adenda à CMVM. P.C.
Luís Filipe Vieira e José António dos Santos
A relação que chegou a ser omitida
do relatório e contas do clube
Miguel Dantas
N
em sempre a relação empre-
sarial entre Luís Filipe Vieira
e José António dos Santos,
líder do grupo Valouro que
ganhou a alcunha de “rei
dos frangos”, foi publica-
mente (re)conhecida. Apesar de, no
universo Ænanceiro das “águias”, o
empresário nunca ter sido uma Ægu-
ra misteriosa — não fosse, a todos os
títulos, o principal accionista indivi-
dual da SAD do BenÆca — só há bem
pouco tempo foi desvendada a exten-
são da ligação pessoal e empresarial
entre Vieira e José António dos San-
tos.
Olhemos para o relatório e contas
das “águias” relativo a 2018-19: neste
documento, que detalha os resulta-
dos Ænanceiros do clube, Luís Filipe
Vieira surge ligado a três empresas
— Imosteps, Promovalor e Verdelago.
Desta lista de interesses não constam
as empresas Palpites e Teorias nem
a sociedade Sul Crescente, na qual o
presidente do BenÆca tinha parceria
com o maior accionista da SAD das
“águias”, José António dos Santos.
O presidente do BenÆca e o empre-
sário foram dois dos cinco detidos
ontem no âmbito de um inquérito
dirigido pelo Departamento Central
de Investigação e Acção Penal
Audição no Parlamento
“Não fujo, nem vou delapidar património meu”
Marta Moitinho Oliveira
“T
enho negócios, uma
boa reforma, vivo
bem.” A frase, que
parece um slogan de
um empresário de
sucesso, foi dita por
Luís Filipe Vieira a 10 de Maio na
comissão Parlamentar de Inquérito
ao Novo Banco. O presidente do Ben-
Æca foi depor como o segundo maior
devedor ao banco que nasceu do Æm
do BES e que já acumula mais de oito
mil milhões de euros em capitais
injectados pelo Estado. Aos deputa-
dos disse-se “assustado” por ocupar
aquela posição na lista dos maiores
devedores e jogou à defesa.
As quatro horas de audição a Viei-
ra permitiram, porém, levantar o
véu sobre algumas operações, por
exemplo, sobre a Imosteps, uma
empresa controlada por Vieira, que
tinha uma dívida de cerca de 50
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 3
(DCIAP). Em causa estão suspeitas de
crimes de abuso de conÆança, burla
qualiÆcada, falsiÆcação, fraude Æscal
e branqueamento. Os detidos serão
sujeitos hoje ao primeiro interroga-
tório judicial.
Esta ligação entre o presidente dos
“encarnados” e o “rei dos frangos”
foi inicialmente revelada pelo Expres-
so e recebeu especial atenção após o
BenÆca ter anunciado uma oferta
pública de aquisição (OPA), em
Novembro de 2018. Com esta opera-
A CMVM
chumbou a
OPA lançada
por Luís Filipe
Vieira alegando
“vício” no
processo
ção, e caso decidisse vender a sua
participação — que ultrapassava os
13% do capital total da SAD — José
António dos Santos poderia ter um
lucro de 11 milhões de euros. O Ben-
Æca oferecia cinco euros por acção,
valor que representava um prémio
superior a 80%, visto que, na altura
em que foi anunciada esta operação,
as acções estavam a ser comerciali-
zadas a 2,76 euros.
Um valor também muito acima
dos 1,05 euros desembolsados pelo
milhões de euros que Æcou com o
Novo Banco. Este vendeu-a em 2019
a um fundo americano por cerca de
cinco milhões. E o fundo já a vendeu
por oito milhões. Quem a comprou
foi José António dos Santos, revelou
Vieira, lembrando que nos activos
da empresa estão terrenos no Rio
de Janeiro de 102 mil metros qua-
drados, ou seja, com um enorme
potencial de construção. E contou
como tudo aconteceu. Vieira soube
que o fundo tinha aquela dívida à
venda e falou com o sócio. “Disse ao
Zé que estava ali um bom negócio.”
O Zé a que se referiu é José António
Santos.
Vieira contou
alguma s
conversas que
teve com o
empresário José
António dos
Santos
“rei dos frangos” em Maio de 2017,
na compra de mais de 1,8 milhões de
acções ao Novo Banco. Em Março do
mesmo ano, o empresário tinha
adquirido 840 mil acções da SAD
benÆquista à Somague.
Na altura, em resposta ao possível
lucro e relação empresarial com o
presidente do BenÆca, José António
dos Santos adiantou ao PÚBLICO que
não venderia as acções nesta OPA,
classiÆcando o encaixe de 11 milhões
como “mau negócio”. Admitindo
uma amizade “de mais de 50 anos”
com Vieira, o empresário negou
qualquer conÇito de interesses.
A Imobiliária do Sul Crescente, de
que fazem parte Luís Filipe Vieira e
a cônjuge do maior accionista indivi-
dual da SAD, foi constituída em Abril
de 2017, menos de três semanas após
a compra de acções à Somague.
Luís Filipe Vieira justiÆcou a OPA,
em declarações à BTV, como uma
operação estratégica que capitaliza-
ria o bom estado Ænanceiro do clube,
mas a Comissão do Mercado de Valo-
res Mobiliários (CMVM) suspendeu
a venda de acções da BenÆca SAD,
enviando aos “encarnados” um pedi-
do de esclarecimento. Menos de dois
meses após esta suspensão, a CMVM
chumbaria a realização da OPA, por
ter detectado um alegado “vício” que
afectava a “legalidade da oferta”.
Ao longo da audição, Luís Filipe
Vieira quis por várias vezes dar nota
de um comportamento exemplar na
sua relação com o banco e, em geral,
nos negócios e deixou uma garantia:
“Não fujo, nem vou delapidar patri-
mónio meu.”
Na audição foi citada uma acta do
conselho de administração do Novo
Banco que indicava que o único bem
na posse do presidente da Promo-
valor era uma “casa palheiro”. Viei-
ra disse nem saber que casa era
aquela, mas não deu detalhes sobre
quanto e o que tem. No entanto,
deixou uma frase para resumir a sua
situação patrimonial: “Tenho negó-
cios, uma boa reforma, vivo
bem.”
Vieira esteve na comissão de
inquérito por ter deixado uma dívi-
da por pagar, de 440 milhões de
euros, ao Novo Banco. O valor foi
conÆrmado pelo próprio e reporta
a 2017.
4 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Destaque Covid-19
Pressão sobre
Governo. Peritos
pedem coerência
e menos falhas
na comunicação
Deixar cair o medo e a ameaça de novos conÄnamentos
e apostar numa campanha capaz de garantir a adesão
das pessoas às medidas de distanciamento social. Eis alguns
dos conselhos dos especialistas para travar a quarta onda
Natália Faria
A
s medidas restritivas impos-
tas a vários concelhos da
Área Metropolitana de Lis-
boa (AML) devem ser alarga-
das a outras zonas do país
ou tornou-se fútil insistir no
conÆnamento, numa altura em que
quase 60% dos portugueses já rece-
beram pelo menos uma dose da vaci-
na contra a covid-19? A famosa “matriz
de risco”, que norteia a gestão política
da pandemia, deve ou não ser altera-
da? E quem já tenha o esquema vaci-
nal completo deve estar igualmente
sujeito a isolamento proÆláctico e à
obrigatoriedade de testes de rastreio?
O PÚBLICO ouviu vários especialistas
na véspera de uma reunião decisiva
do Conselho de Ministros dedicada a
discutir as medidas de combate à pan-
demia. Numa altura em que, por
exemplo, o Reino Unido deu ordem
para desconÆnar e abandonar o uso
de máscara na via pública a partir do
dia 19, faz sentido voltarmos ao con-
Ænamento? O que seria essencial para
fazer um ponto de ordem na situação
e garantir a adesão das pessoas ao
distanciamento social?
“Temos de acabar de vez com este
folclore sobre se vamos conÆnar,
reconÆnar ou desconÆnar”, começa
por aconselhar Paulo Santos, profes-
sor da Faculdade de Medicina da Uni-
versidade do Porto, para quem, além
de carregar a fundo no acelerador da
vacinação, o Governo tem de lançar
“uma campanha maciça, muito clara,
rigorosa e transparente, que dê às
pessoas ferramentas para poderem
orientar a sua vida”, isto é, para pode-
rem viver “bem com a doença, por
via do uso da máscara de protecção,
da higienização das mãos e da fuga
aos ajuntamentos”.
Uma campanha “capaz de garantir
a adesão da população às medidas de
controlo e prevenção seria importan-
tíssima”, concorda o coordenador do
gabinete de crise para a covid-19 da
Ordem dos Médicos, Filipe Froes. “As
pessoas estão confusas. E, embora
com a vacinação tenhamos protegido
as pessoas em maior risco de desen-
volver formas graves da doença, os
jovens também podem evoluir para
estados graves, embora menos, e cer-
ca de 10% dos infectados irão ter quei-
xas durante mais de 12 semanas, é a
chamada covid longa”.
Claro que garantir a adesão às medi-
das de distanciamento não se conse-
gue inoculando medo. “Trata-se de
educar e não de proibir ou assustar.
Enquanto andámos a assustar as pes-
soas com a sida, as pessoas tinham
medo, mas continuavam a contagiar-
-se. Só quando, nos anos 90, mudá-
mos a agulha para a educação, conse-
guimos que as pessoas percebessem
a importância do método-barreira e
começassem a usar preservativos”,
ilustra a propósito Paulo Santos.
Não é uma lógica muito distante da
responsabilização individual para
que parece apontar o Reino Unido,
que vai levantar a maior parte das
restrições, nomeadamente a obriga-
toriedade do uso da máscara no espa-
ço público, a partir do dia 19. “Isso é
possível porque eles concluíram que
ter 100 mil novos casos por dia não é
problemático, se isto não representar
uma sobrecarga dos serviços de saú-
de”, enfatiza Paulo Santos.
Claro que, como lembra o pneumo-
logista Filipe Froes, os britânicos têm
uma taxa de vacinação que é o dobro
da portuguesa. Em Portugal, e numa
altura em que temos pouco acima dos
36% da população com o esquema
vacinal completo, ambos concordam
que as regras de distanciamento social
são para manter. Mas Paulo Santos e
Filipe Froes divergem quanto às medi-
das de conÆnamento ou de recolher
obrigatório. “Quando sabemos que os
idosos e as pessoas com co-morbilida-
des estão protegidas com a vacina,
não se antevendo, por isso, uma enor-
me pressão sobre os serviços de saúde
como a que vivemos no início do ano,
penso que Marcelo Rebelo de Sousa
O Governo já admitiu que está certo quando afasta a hipótese de
estamos perante uma quarta o país se reconÆnar”, opina Paulo San-
vaga de covid-19 tos, acusando a ministra da Saúde,
Marta Temido, de, ao invés disso,
estar a querer “uma vez mais a assus-
tar as pessoas, em vez de as educar”,
nomeadamente quando admitiu que
não descartava a declaração de novo
estado de emergência.
É verdade que a variante do novo
coronavírus actualmente predomi-
nante no país, a Delta, é 60% mais
Temos discursos transmissível. Mas nem as diferentes
variantes têm posto em causa a eÆcá-
contraditórios cia da cobertura vacinal nem se pode
e falta de coerência dizer que o aumento de novos casos
(3285, nas últimas 24 horas) tenha
na aplicação feito disparar o número de interna-
mentos (603 casos, no último balan-
de critérios ço), sustenta ainda Paulo Santos. “E
termos 130 pessoas nos cuidados
de isolamento intensivos é gerível. Logo, devíamos
estar a insistir na necessidade de a
Filipe Froes população manter
m as medidas de pro-
Pneumologista, dando tecção ind
individual, mas numa pers-
como exemplo o recente pectiva de promoção da literacia e,
isolamento profiláctico sobretudo
sobretudo, de preservação da sani-
do primeiro-ministro, dade na ccomunidade, que não é
António Costa poss
possível se houver desempre-
go, empresas a encerrar por
fal
falência e enquanto as pes-
ssoas estiverem instáveis e
em lay off e por aí fora.”
Em sentido contrário,
FFilipe Froes admite que

HUGO DELGADO/LUSA
pode fazer sentido alargar o recolher
obrigatório a todo o país durante
algum tempo mais. “O que distingue
as zonas de menor risco das outras é
o atraso em relação à actividade pan-
démica. E, se o objectivo é ganhar
tempo para fazer avançar a vacina-
ção, corremos o risco de estar, com
medidas restritivas localizadas, a pro-
mover a deslocação das pessoas des-
sas zonas para outras em que as res-
trições não são tão apertadas, disse-
minando os contágios”, argumenta.
Tão grave quanto isso, para este
pneumologista, é que “as pessoas
estão confusas e reticentes porque o
Governo está a falhar na comunicação
e na coerência das medidas”. “Temos
inúmeros discursos contraditórios e
temos falta de coerência na aplicação
de critérios, nomeadamente dos cri-
térios de isolamento”, aponta. O espe-
cialista refere-se às dúvidas sobre se
as pessoas com esquema vacinal com-
pleto devem ou não cumprir isola-
mento proÆláctico e devem ou não
estar sujeitas à obrigatoriedade de
testes de rastreio, agudizadas depois
do recente isolamento proÆláctico
cumprido pelo já vacinado primeiro-
-ministro, António Costa. “A evidência
cientíÆca aponta para a não-necessi-
dade de as pessoas com esquema
vacinal completo irem para isolamen-
to, ou seja, os contactos de alto risco
Situação em Portugal
Em 7 de Julho de 2021, às 14h15
Internados (total) Em UCI
603 130
-10
NOVOS CASOS DIÁRIOS
-3
17000
12750
8500
4250
0 Alexandra Campos
M A M J J A
Incidência* Dias 2 5 7 R(t):1,2
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0,5 0,6 0,7 0,8
* Novos casos de infecção por SARS-CoV-2/COVID-19 nos últimos 14 dias por 100 mil habitantes
Fontes: DGS
tidos por pessoas com a vacinação
completa devem ser abordados como
sendo de baixo risco, a não ser que
estejamos perante imunodeprimidos,
por exemplo”, esclarece Filipe Froes,
para quem este caso só contribuiu
para debilitar a conÆança das pessoas
na eÆcácia da vacinação.
Testes para restaurantes?
Quanto à eventual obrigatoriedade de
submissão a um teste de rastreio à
entrada dos restaurantes, que pareceu
ontem estar em equação, o pneumo-
logista é claro. “O certiÆcado digital de
covid não isenta as pessoas da manu-
tenção das medidas de prevenção,
mas é desejável que este se cumpra e
se dispensem as pessoas com esque-
ma vacinal completo e assintomáticas
de realizar testes.” Mais assertivo, Pau-
lo Santos considera que tal medida “só
faz sentido numa lógica salazarenta”.
“Perante indivíduos assintomáticos,
e com baixo risco de estarem infecta-
dos como são as pessoas vacinadas,
não faz qualquer sentido estarmos a
intervir com um teste”, critica.
A alteração da matriz de risco é
outra das medidas que estes especia-
listas gostariam de ver anunciadas
após o Conselho de Ministros. “A
actual matriz de risco já demonstrou
a sua insuÆciência e a sua incapacida-
de em fundamentar decisões”, consi-
Mortes
17.126
Recuperados
838.642
Activos
40.258
+8 +1507 +1770
Total de casos
896.026 +3285
S O N D J F M A M J
Continente Portugal
2 5 7 R(t):1,2
Incidência: 254,8 Incidência: 247,3
Linha de critério
Linha de critério
Linha de critério
0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4
Transmissibilidade R(t)
PÚBLICO
dera Filipe Froes, para quem “é impe-
rioso que seja mudada para permitir
maior coerência e uma maior antevi-
são das medidas” mais adequadas a
cada momento epidemiológico. “Tem
decididamente que ser alterada para
incluir os factores preventivos, nomea-
damente a vacinação, e para incluir
aquilo que são os factores de severida-
de, nomeadamente o número de
doentes internados e de mortes”, con-
corda o médico Paulo Santos.
O matemático Óscar Felgueiras,
que foi um dos cientistas envolvidos
na elaboração desta matriz que esta-
belece os limites (um acumulado a 14
dias de 240 novos casos por 100 mil
habitantes, um Rt superior a 1 e uma
ocupação de 245 camas nos cuidados
intensivos hospitalares) e fundamen-
ta as decisões do Governo para fazer
frente à crise pandémica, assevera
que ela se mantém ajustada. “A matriz
dá uma imagem sintética da situação
epidemiológica a cada momento. As
medidas que são tomadas dependem
também de outros indicadores que
devem ser contextualizados”, argu-
menta, recordando que em Maio se
concluiu pela não alteração daquele
instrumento “porque se veriÆcou que
dos países analisados não havia
nenhum que tivesse tomado a cober-
tura vacinal como indicador principal
da matriz”.
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 5
Ministra ouvida no Parlamento
Mais de 154 mil vacinas
administradas, novo
recorde diário
J
A
vacinação contra a covid-19
é agora a principal resposta
contra a propagação da
variante Delta e os esforços
estão concentrados na cam-
panha em curso que acele-
rou nos últimos dias. Na terça-feira
foram administradas mais de 154 mil
doses de vacinas, um novo recorde
diário, destacou ontem a ministra da
Saúde durante uma audição na
Comissão de Saúde na Assembleia da
República, enfatizando “o esforço
gigantesco” que está a ser feito e
pedindo a compreensão das pessoas
que têm sido obrigadas a esperar em
Ælas para serem vacinadas nos últi-
mos dias. Foi assumido que se ia ago-
ra “privilegiar o ritmo ao conforto”,
justiÆcou.
A task force (grupo de trabalho)
que gere o plano de vacinação pre-
cisou, entretanto, que na terça-feira
1,5 se Æzeram mais de 154.600 inocula-
ções e que só nos últimos dois dias
foram administradas mais de 297
mil doses de vacinas, um ritmo iné-
dito de vacinação.
No Parlamento, Marta Temido
recordou que as metas deÆnidas pelo
grupo de trabalho passam por “che-
gar a meados de Setembro com a
vacinação completa de mais de 70%
da população e com mais de 90%
com uma dose da vacina”. E aprovei-
tou para alertar que o certiÆcado de
covid “deve ser usado com prudên-
cia, já que há muita incerteza sobre
o que é a evolução desta doença”.
Com a vacinação a acelerar, a
ministra afastou, para já, a adopção
de outras medidas, nomeadamente
Portugal nunca fez também
testes diários como agora
o eventual regresso ao estado de
emergência, apesar de frisar que
“não há impossibilidades totais”.
“Queremos fazer esta corrida contra
a variante Delta através da vacinação
e não através de outras medidas”,
disse, em resposta ao deputado
Ricardo Baptista Leite (PSD), que
quis saber se Marta Temido conside-
ra que as medidas que estão a ser
tomadas são suÆcientes para enfren-
tar o agravamento da situação epi-
demiológica e se defende um regres-
so ao estado de emergência para
viabilizar medidas mais restritivas.
Marta Temido enfatizou que isso
não passa exclusivamente pelo Gover-
no. “Não é só o Governo que opta pela
utilização de um determinado meca-
nismo de enquadramento, também
a Assembleia da República e o Presi-
dente da República têm uma palavra
e saberão, em cada tempo desta evo-
lução, voltar ou não a recorrer a
mecanismos que a lei tem especiÆca-
dos. Não há impossibilidades totais,
há necessidades de avaliação cons-
tante”, acentuou.
Sobre a contenção da pandemia,
adiantou que, nos primeiros dias des-
te mês de Julho, a média diária da
realização de testes de diagnóstico do
novo coronavírus atingiu o valor mais
alto, ou seja, mais de 52 mil, número
registado em Janeiro.
Mais 3285 casos
Portugal registou, terça-feira, mais
3285 casos positivos de covid-19 e
oito mortes associadas à doença, de
acordo com o último boletim publi-
cado ontem pela Direcção-Geral da
Saúde (DGS). Este é o número mais
elevado de casos desde 10 de Feve-
reiro, quando se registaram 3480
casos — ainda que o número de mor-
tes fosse superior, com 167 víti-
mas.
Estão internadas 603 pessoas nos
hospitais — menos dez do que no
último boletim. Dessas, 130 estão
nas unidades de cuidados intensi-
vos, menos três do que no dia ante-
rior.
A matriz de risco sofreu uma alte-
ração e foi alargada. Portugal conti-
nua na zona vermelha da nova
matriz de risco. De acordo com os
últimos dados, o índice de transmis-
sibilidade — ou R(t) — é agora de 1,20
a nível nacional e no continente. Já
a incidência é actualmente de 247,3
casos por cada 100.000 habitantes
a nível nacional e 254,8 casos por
cada 100.000 habitantes no conti-
nente. com Inês Chaiça
6 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Destaque Covid-19
Mensagem política

“Desalinhamento” entre Governo e Presidente.

O que está a correr mal?
MÁRIO CRUZ/LUSA

Filipa Almeida Mendes

e Liliana Borges

C
ontam-se já mais de 15 meses
desde que o país entrou num
ritmo de ajuste e reajuste à
evolução epidemiológica da
covid-19, ora fechando portas,
ora anunciando uma nova
fase de desconÆnamento — muitas
vezes a diferentes ritmos, conforme a
situação da pandemia em cada região.
Foi também desde o início que as duas
principais Æguras do Estado foram
gerindo a pandemia com diferentes
discursos: enquanto o Presidente da
República assumiu um tom mais vira-
do para a preocupação sanitária, o
primeiro-ministro focou-se na neces-
sidade de proteger a economia. Mas,
no último mês, os papéis inverteram-
se e falta uma orientação clara por
parte dos responsáveis políticos, numa
altura em que o Governo se viu até
obrigado a alargar a matriz de risco
para acomodar o aumento de casos.
Enquanto o Governo alerta para a
chegada de uma quarta vaga, Marce-
lo Rebelo de Sousa continua a defen-
der que não devem ser dados passos
atrás e centra o seu discurso nos avan-
ços da vacinação como argumento
para não voltar a fechar o país. Mas
também na vacinação, há um desen-
contro de expectativas. Tenha-se
como exemplo, justamente, o isola- Marcelo Rebelo de Sousa na forma de combate à pandemia e ra da task force que estuda o compor- O “suÆciente”, na sua opinião, pas-
mento a que foi sujeito o primeiro- continua a defender que não vinca que “há mais vida para além da tamento dos portugueses em relação sava por “uma boa gestão de expec-
ministro há uma semana, apesar de devem ser dados passos atrás pandemia”. à pandemia, defende, por sua vez, tativas”. O especialista do IHMT tece
já estar vacinado. O episódio levou o que Costa e Marcelo “têm estado uma comparação com um maratonis-
Presidente da República a exigir expli- “Politização” da gestão numa notável convergência e solida- ta: “Uma maratona é muito difícil de
cações às autoridades de saúde para Segundo Tiago Correia, professor de riedade, demonstrando de modo correr, mas o maratonista sabe que
que os portugueses percebessem, de Saúde Internacional e investigador do interessante que põem o bem-estar são 42 quilómetros. De repente, está
forma clara, “por que é que uma pes- Instituto de Higiene e Medicina Tro- dos portugueses acima de divergên- a correr e dizem-lhe que a nova meta
soa, apesar de vacinada há mais de pical da Universidade Nova de Lisboa cias entre si”. não é nos 42 quilómetros, mas sim
um mês”, tem de estar sujeita a qua- (IHMT), veriÆca-se efectivamente “Às vezes, não estarão alinhados, nos 30 e ele vai fazer uma gestão de
rentena. “um desalinhamento da mensagem mas penso que têm sido muito conti- esforço completamente diferente.
A declaração surgiu duas semanas política”, cuja “consequência directa dos sobre isso, exactamente porque Mas se lhe disserem depois que, aÆ#
depois de Costa e Marcelo terem tro- é um descrédito na mensagem por têm noção da entropia que tal geraria nal, a meta será nos 32 quilómetros,
cado impressões em público sobre parte da população, que está também numa altura tão dura para todos nós”, aumentando sucessivamente até aos
aqueles que deveriam ser os próxi-
mos passos: enquanto o primeiro-mi- Há mais vida para associado a uma politização e a uma
partidarização de toda a gestão da
explica, notando ainda que “quanto
mais se basearem na Ciência, mais as
42, a distância dos 42 quilómetros
pode ser a mesma no Ænal mas ele vai
nistro admitia um retrocesso no des-
conÆnamento, Marcelo desvalorizava
além da pandemia pandemia”.
Pegando no caso de Costa, o inves-
suas posições convergirão”.
“Em casos extremos e continua-
ser incapaz de correr a maratona.”
Tiago Correia usa esta comparação
a opção. Marcelo Rebelo de Sousa tigador do IHMT nota que esta ques- dos”, tais desalinhamentos poderão para destacar alguns momentos em
Também para a ministra da Saúde, Presidente da República tão criou, aliás, em Portugal um “ruí- fazer com que os cidadãos Æquem que a mensagem política “foi errada”:
ainda que o aumento de casos não do enorme com o primeiro-ministro confusos sobre o que devem fazer e o surgimento das vacinas, no início
possa ser equiparado ao registado no e com a Direcção-Geral da Saúde com como devem encarar esta fase da pan- do ano, que “levou a um relaxamento
início da pandemia — uma vez que
“não é acompanhado pelo mesmo [Regresso ao estado uma grande incapacidade de tomar
uma posição”.
demia, pelo que serão “sempre de
evitar”. Porém, salienta, “os portu-
das medidas e à ideia de que o Æm [da
pandemia] estava ali ao virar da esqui-
número de internamentos e de óbi-
tos” — isso não signiÆca que não venha
de emergência?] “Sabendo nós que há ruído no
espaço cientíÆco — que, neste momen-
gueses já provaram que estão mais do
lado da solução do que do lado do
na”; e quando “a situação começou a
melhorar, começamos a avançar na
a ser declarado um novo estado de
emergência. “Não há impossibilida-
Não há to, é inevitável porque estamos a
experimentar coisas pela primeira
problema”.
Mas o desalinhamento entre Costa
vacinação” e foi dito que Portugal
chegaria à imunidade de grupo em
des totais”, avisou Marta Temido. impossibilidades vez —, o discurso político deveria ser e Marcelo não foi o único erro apon- meados de Junho. Segundo o especia-
E volta o desencontro entre Belém
e São Bento. Apesar dos números e totais mais consensual”, destaca Tiago Cor-
reia.
tado por Tiago Correia, que destaca
que não foi feito “o suÆciente para
lista, “não podemos, em momento
algum, falar em imunidade de grupo”
avisos do Governo, é agora Marcelo Marta Temido Margarida Gaspar de Matos, psicó- acautelar e minimizar a fadiga pandé- e ir alterando “constantemente” as
quem pressiona para uma mudança Ministra da Saúde loga clínica e da saúde e coordenado- mica”. metas.
 Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 7

Pessoas vacinadas que adoecem com covid-19:

são mais do que esperamos?
RUI GAUDÊNCIO
pertencem aos 5% que a vacina não Mesmo depois de 15 meses de
Opinião
nião protegeu e não Æcaríamos pandemia, ainda há milhões de
surpreendidos pelo total domínio portugueses que poderão contrair
de vacinados entre os casos graves. a infecção pelo novo coronavírus,
Isto não põe em causa a eÆcácia da caso não sejam vacinados. Uma
vacina. infecção respiratória com as
Manuel Carmo Gomes e Luís Graça
Avancemos para um exemplo características da nova variante

A
vacinação contra a
covid-19 avança em bom
ritmo em Portugal e já
mais de metade dos
residentes no país
receberam pelo menos
uma dose de vacina. As vacinas
conferem protecção elevada contra
doença grave e morte. Todas elas.
Somos, contudo, surpreendidos
por notícias de pessoas que
adoecem, por vezes gravemente,
apesar de estarem completamente
vacinadas. Também nos
surpreende que, entre os novos
casos de doença, possam surgir
pessoas com idades fortemente
cobertas pela vacinação, como é o
caso dos idosos, mas que aÆnal
ainda não estavam vacinadas.
Estas notícias fazem-nos
questionar a efectividade das
mais realista. Neste momento em
Portugal, só cerca de 90% de
pessoas com mais de 70 anos estão
completamente vacinadas. Há
portanto 10% desprotegidas por
falta de vacinação. Mas também há
5% de vacinados que não estão
protegidos, porque, recorde-se, a
vacina não é totalmente eÆcaz. A
percentagem de pessoas vacinadas
que não estão protegidas é 4,5% (=
90% x 5%).
Assim, entre os maiores de 70
anos, há um total de 14,5% de
pessoas desprotegidas, a soma dos
10% não vacinados com os
vacinados em que a vacina não foi
eÆcaz (4,5%). Novamente, o
número de casos de doença grave
nestas idades deverá ser muito
baixo, porque a grande maioria
destes idosos está protegida.
doentes não estavam vacinados.
2.ª conclusão: com uma
cobertura vacinal que não seja de
100%, a administração de uma
vacina que não seja 100% eÆcaz
tem resultados que nos parecem
inesperados, se confundirmos um
pequeno número de árvores com a
Çoresta. A Çoresta é a imensidão de
casos de doença que são evitados,
mas que só se tornam “visíveis”
quando nos perguntamos o que
aconteceria, se não houvesse
vacinação.
Delta do SARS-CoV-2, pode
potencialmente infectar quase toda
a população.
Até à data, temos conhecimento
de cerca de 900 mil portugueses
que já foram infectados, mas
sabemos que houve muitos mais.
Admitamos que três ou quatro
vezes mais, com base nos
inquéritos serológicos do Instituto
Nacional de Saúde Doutor Ricardo
Jorge. Mesmo assim, sem
vacinação, mais de seis milhões de
portugueses ainda poderiam ser
infectados, seria apenas uma
questão de tempo.
Professor de Epidemiologia da
Univerdidade de Lisboa e
professor de imunologia da UL
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vacinas e da própria campanha de Contudo, veriÆcamos que cerca de

vacinação. Era de esperar que isto
acontecesse?
A resposta curta é sim. É uma
consequência pouco intuitiva de
uma grande campanha de
vacinação em massa feita com
vacinas que não são 100% eÆcazes,
como, aliás, acontece com todas as
O futuro
um em cada três doentes graves
estaria totalmente vacinado! (4,5%
em 14,5%). Ora... se ouvirmos dizer
que 1/3 dos doentes graves estavam
vacinados... podemos Æcar
apreensivos. Mas não há razão para
isso.
1.ª conclusão: com uma vacina

vacinas. Vejamos alguns exemplos
simples que nos ajudem a
compreender.
Suponhamos que todos os
portugueses com mais de 80 anos
estavam vacinados com uma
vacina que confere 95% de
está nas
que não é 100% eÆcaz e coberturas
vacinais muito elevadas, iremos
observar muito poucos casos de
doença, mas poderemos Æcar com
a impressão de que há demasiados
vacinados entre os casos graves e
os óbitos.

protecção contra doença grave e
morte. Se isto acontecesse, a
doença praticamente
desapareceria dessas idades, mas
os poucos casos graves e os óbitos
ocorreriam todos em indivíduos
vacinados. Estes indivíduos
Neste momento
em Portugal, só
cerca de 90% de
tuas mãos
Evidentemente, se as notícias
que lemos se focarem muito no
facto de que a última pessoa que
morreu estava vacinada,
perderemos a perspectiva geral.
Mesmo com uma vacina altamente
eÆcaz (por exemplo, 95%),
podemos encontrar uma
proporção elevada de pessoas
vacinadas entre os óbitos. Não
obstante, houve um número muito Faz-te ouvir
maior de óbitos que foram evitados
e que são “invisíveis”.
E quanto à nossa perplexidade
relativamente a encontrarmos
entre os doentes um grande
número de pessoas não vacinadas,
apesar de a cobertura vacinal ser
muito elevada? O último exemplo

pessoas com mais também responde a esta pergunta.

Apesar de a cobertura vacinal dos
de 70 anos estão maiores de 70 anos ser de 90%,
que é um valor elevado, vamos
completamente ainda encontrar entre os doentes
uma maioria de não vacinados. No
vacinadas exemplo dado, cerca de 2/3 dos
8 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Espaço público

Costa e Medina deviam mandar flores a Vieira

À
s vezes, o tempo, o tal
Editorial grande escultor, acelera a
produção de algumas
obras. Em Setembro,
António Costa e Fernando
Medina atestavam a probidade de
Luís Filipe Vieira — mesmo depois do
Ana Sá Lopes que já se sabia sobre os empréstimos
ao Novo Banco — e aceitavam fazer
parte da comissão de honra nas
eleições do BenÆca. Ontem, o
homem que não acreditava ser o
segundo maior devedor do Novo
Banco foi detido em nome de um
cabaz de suspeitas signiÆcativo:
abuso de conÆança, burla
qualiÆcada, falsiÆcação, fraude Æscal
e branqueamento. Deve ter sido uma
A Medina impõe-se que enorme surpresa para Costa e
mande dois ramos de Medina, tal como a detenção de
Åores a Vieira e acenda Sócrates surpreendeu todo o PS que,
uma vela ao santo até esse dia, nunca tinha visto nada,
não tinha percebido nada e,
protector dos políticos evidentemente, não lia jornais ou,
que adoram misturas quando lia, enquadrava tudo numa
com o futebol grande conspiração para prejudicar
o povo socialista. Já se imagina que,
quando Costa e Medina forem
obrigados a reagir à detenção de
Vieira, irão optar por uma fórmula
semelhante àquela com que Costa
procurou proteger o PS do caso
Sócrates: “À política o que é da
política, à justiça o que é da justiça”.
Deve ser algo como “ao futebol o que
é do futebol, à justiça o que é da
justiça”. A questão é que ser
benÆquista não obrigava a ser
vieirista mas Costa e Medina acharam
que sim. Não estavam sozinhos: o
deputado do CDS Telmo Correia, o
deputado do PSD Duarte Pacheco ou
o presidente comunista da Câmara
do Seixal também atestaram a honra.
O cómico da situação é que foi
Vieira a fazer o favor de retirar por
sua iniciativa — assim foi anunciado —
Costa e Medina da comissão de
honra. Costa deveria mandar hoje a
Vieira um ramo de flores e um
cartãozinho a agradecer o préstimo.
Mais: a Medina, com autárquicas à
porta, impõe-se mesmo que mande
dois ramos e acenda uma vela ao
santo protector dos políticos que
adoram misturas com o futebol.
Vale a pena recordar o comunicado
em que Vieira anunciou que ia
apagar Costa e Medina: “Tomei a
iniciativa de retirar da minha
comissão de honra todos os titulares
de cargos públicos (...). É triste que,
46 anos depois do 25 de Abril, se
tenha de censurar quem livremente
decidiu manifestar-me o seu apoio,
mas o populismo e a demagogia dos
dias de hoje obrigam-me a fazê-lo de
forma a terminar com uma polémica
injustiÆcada e profundamente
hipócrita”. Pois, tudo uma grande
conspiração. A questão já não é só o
PS fazer a catarse do caso Sócrates
(que nunca fez, apesar de o deputado
Delgado Alves a ter defendido). É a
de como foi possível, quase 50 anos
após o 25 de Abril, o regime manter a
opacidade e a sensação de
impunidade do corporativismo.

CARTAS AO DIRECTOR
Evolução
da pandemia
O PÚBLICO de 6 de Julho
apresenta a frase: “Não estamos a
atingir a linha vermelha: estamos
a ultrapassá-la”, Manuel Carmo
Gomes (numa reacção ontem aos
últimos números da pandemia).
Gostaria que os leitores tivessem
a noção de que os elevados
números de infecção são
irrelevantes e que, no meu
entender, de médico e professor de
Saúde Pública, a evolução da
epidemia nacional de covid-19 é
muito positiva. O número de
mortes pela doença é muito baixo
(compare-se com as mortes por
pneumonia, por enfarte do
miocárdio ou por acidente
vascular cerebral, em 2019,
respectivamente 90 por semana,
80 por semana e 211 por semana), e
o número de internados pouco
signiÆcativo. E a vacinação
progride a um ritmo elevado, pelo
que as mortes e os internamentos
não irão aumentar. A pandemia em
Portugal não exige mais medidas
de contenção da vida social.
Uma linha vermelha dever-se-ia
traçar sobre uma matriz de risco
supostamente criada para medir a
evolução de uma epidemia, matriz
que não contempla a vacinação, por
vacinas que evitam a doença grave e
a morte a mais de 95% dos
vacinados. Medir infecções e isolar
os infectados é progressivamente
inútil, pois as infecções respiratórias
a vírus com uma muito elevada
percentagem de infectados
assintomáticos são incontroláveis
com medidas de conÆnamento.
Como a experiência destes 18 meses
de covid-19 demonstra. Unicamente
a vacina diminuiu a mortalidade, a
marca de qualquer epidemia. Pelo
que o esforço de informar os
cidadãos que se devem vacinar é o
desígnio a prosseguir.
Jorge Torgal, Lisboa
As comissões
de inquérito
O discurso populista de que os
deputados não estão lá a fazer
nada não nos leva a lado nenhum,
para além de ser um discurso falso
e que tem como pano de fundo a
intenção de reduzir o número de
deputados, com que não concordo.
Naturalmente que há deputados
que fazem melhor o seu trabalho do
que outros, mas isso é como em
todas as proÆssões. Sendo que, com
um deputado, a qualidade do
trabalho dependerá sempre mais da
nossa percepção e aproximação
ideológica do que em muitas outras
proÆssões. Um dos trabalhos que os
deputados têm, muitas vezes
invisível, é o de pertencer às
comissões, que podem ser
permanentes ou eventuais, como as
de inquérito. Toda a sua actividade
é escrutinável quer no site da
Assembleia da República, quer pelo
canal do mesmo órgão, quer por
aquilo que, destas comissões, passa
nas notícias. Muitos deputados têm
feito um excelente trabalho, de
vários partidos, nestas comissões.
Elas não servem para julgar nin-
guém, é certo. Mas também acre-
dito que têm sido um óptimo ins-
trumento para a justiça. Não quer
dizer que quem a elas seja chama-
do venha a ser detido, mas convém
irem com memória e com factos.
Pedro Perdigão, Lousada
Emaranhado jurídico
Com a crescente complexidade da
vida actual, é naturalíssimo que o
ordenamento jurídico que nos rege
seja cada vez mais denso e comple-
xo, a ponto de se deixar invadir por
normas que, às vezes, roçam o
contraditório. Por outro lado, a ve-
locidade a que vivemos hoje induz
uma urgência maior na produção
legislativa, com recurso sistemático
a proÆssionais ainda em formação,
mas dispensando-se vezes de mais a
ponderação que só o tempo e a
experiência podem conferir ao
articulado das leis. A propósito das
recentes medidas contra a dissemi-
nação do coronavírus, André Lamas
Leite, na crónica do PÚBLICO Os
jovens assessores brincam aos
legisladores, chama a atenção para
alguns dos efeitos que esta realidade
pode gerar, em especial no que toca
à falta da proporcionalidade que se
deseja entre os factos a combater e
as armas a utilizar. É que não se
espera — nem deseja — que “o dócil
povo tudo aceitará por estar em
causa a saúde e a vida”.
José A. Rodrigues, V.N. de Gaia
Filas de espera
As filas de espera para a inoculação
das vacinas anticovid-19 estão na
ordem do dia. Noticiários
televisivos e primeiras páginas de
jornais dão relevo ao atraso. O
vice-almirante Gouveia e Melo é
interpelado pela demora nos
centros de vacinação. Sem demora,
responde com assertividade. Se a
”bicha” for para entrar num centro
comercial em época de saldos ou
para assistir a um evento cultural
ou desportivo, a demora não
incomoda nem é tema de conversa.
Há quem reclame por tudo e por
nada. A paciência é necessária em
situações anormais na
administração da saúde pública.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim
PÚBLICO ERROU
Na chamada do Mundo na primeira
página de ontem, referia-se no
antetítulo o “Sudoeste asiático”
como espaço onde se situa o Japão,
China e Taiwan. Pelo erro, o nosso
pedido de desculpas.

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
‘A dialéctica do interesse é quase sempre mais
poderosa que a da razão e consciência’ Marquês
de Maricá (1773-1848), escritor e filósofo
“Adolf Hitler fez muitas coisas boas” Donald
Trump (frase que terá sido dita pelo então Presidente
dos EUA numa visita a Paris em 2018 e que é revelada
em livro sobre Trump a publicar na próxima terça-feira)
O NÚMERO NESTE DIA 8 DE JULHO
100
1497Armada de Vasco da Gama parte de Belém,
em Lisboa, rumo à Índia 1889 Primeiro número
do The Wall Street Journal 1964 Inauguração do
aeroporto do Funchal 1978 Incêndio no Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro e perda de
quase todo o seu acervo, incluindo obras de
Picasso, Joan Miró, Salvador Dali, Max Ernst,
René Magritte 1992 Comercializados os
primeiros medicamentos genéricos em
Portugal 2001 Restos mortais da fadista Amália
Luís Filipe Vieira, o filho e dois Rodrigues são trasladados para o Panteão
empresários amigos foram deti- Nacional 2004 Morre, aos 73 anos, Henrique
dos. Na mira do MP estão negó- Mendes, apresentador de TV, profissional da
cios superiores a 100 milhões rádio, um dos pioneiros da TV em Portugal
Setúbal
é que é
Ainda ontem
tem
E
Miguel Esteves Cardoso
stou a apaixonar-me
por Setúbal há 60
anos — mas só nos
últimos 30 é que a
coisa se agravou.
Quando ia com os
meus pais, a paixão por Setúbal
não era minha — era deles. Mas
alguma coisa se inÆltrou pelos
meus olhos meninos, durante
aqueles almoços ao ar livre,
quando me estavam a ensinar a
comer peixe.
Só nos últimos dias, graças a
circunstâncias felizes que me
levaram a Setúbal várias vezes, é
que me dei conta que era amor e
que já não havia nada a fazer. Para
mim, é uma revolução
apaixonar-me agora por Setúbal,
quando eu já tinha o coração
configurado.
Até aqui, tenho vivido
alegremente no meu triângulo das
Bermudas: os três sítios que amo,
onde me sinto à vontade para
andar de bermudas, de pernas ao
léu: Lisboa, Cascais e Sintra.
A paixão por Setúbal rouba-me
essa piada barata e introduz a
figura do quadrilátero. É mais
quadrada, mas quero lá saber:
Lisboa, Cascais, Sintra e Setúbal.
Não é só Setúbal, a cidade e a
gente, a maneira de conviver e a
graça, a honestidade e o civismo.
É também tudo o que Setúbal tem
à volta. Para além da Arrábida e
de Tróia — como se fosse preciso
mais — há tantas praias e aldeias,
tantas paisagens e surpresas, que
o único problema para um
andarilho é nunca mais parar
quieto e não poder assim ver a
mesma beleza mais de uma vez.
A vantagem de pertencer ao
quadrilátero é que não é nenhum
bico-de-obra saltar de aresta para
aresta: de Setúbal a Cascais ou
Sintra são dois ou três pulinhos,
com a vantagem imensa do
primeiro pulinho ser Lisboa.
Depois, há a pequena questão
dos almoços e jantares. Em
Lisboa, Cascais e Sintra, é cada
vez mais difícil — e caro — comer
bem. Mas em Setúbal é preciso
muito azar e muita dedicação
para comer mal. Pelo menos por
enquanto, não é?
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 9
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10 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Espaço público
Recepcionou suporte para experienciar a sua resiliência?
Em Público
o entender vai pelo mesmo caminho,
Nuno Pacheco
É
habitual, e é verdade, dizer-se que
as línguas evoluem, que vão
absorvendo novos termos, ou
dando signiÆcados novos a
palavras antigas (como
documentam, aliás, os dicionários,
desde as edições mais vetustas às actuais),
mesmo contra o gosto e a vontade de Ælólogos
e linguistas. Mas há, como sempre houve,
“modas” que não correspondem a qualquer
evolução, antes a um retrocesso, até porque
afectam a clareza do discurso. Há dias, no
PÚBLICO, Manuel Monteiro (autor, revisor e
formador de revisão de textos) alertava para o
abuso da palavra “colocar”, em vez de,
simplesmente, “pôr”. “Coloque-se na Æla” em
vez de “ponha-se na Æla”, por exemplo.
Mas há mais palavras que têm vindo a
substituir, automaticamente, outras bem mais
simples, e muitas vezes sem atender ao seu
real significado. Por exemplo: agora já não se
recebe nada, recepciona-se (ou “receciona-se”,
usando o estranho termo que o Acordo
OrtográÆco de 1990 inventou só para Portugal
e que mais ninguém usa); e também não se
percebe nada, percepciona-se; quanto a viver,
A floresta de produção merece mais
C
Francisco Gomes da Silva
omeço com uma declaração de
interesses: desempenho, desde há
cerca de dois meses, a função de
diretor-geral da CELPA, na qual
estão associadas empresas que
produzem pasta, papel, tissue
(como papel higiénico, guardanapos de papel
ou papel de cozinha) e cartão a partir de
madeira (essencialmente eucalipto e pinho) e
de papel reciclado. Ora, as empresas que a
CELPA representa (bem como outras, ligadas a
outras Æleiras de base Çorestal) necessitam de
áreas de Çoresta especialmente dedicadas à
produção de madeira. Alguns dirão que assim
está explicado o conteúdo do texto abaixo.
Desenganem-se: o que o explica é aquilo em
que acredito, fruto do meu conhe-
cimento e da minha experiência proÆssional.
Esperando, é certo, estar do lado certo da
começa a ser raro, hoje vivencia-se; a palavra
substituída pelo anglicismo realizar; gerir,
então, surge cada vez mais como gerenciar;
coisa rara é também experimentar, já que a
moda é experienciar (outro escusado
anglicismo); e se precisamos de apoio
nalguma coisa (como apoio técnico), o mais
certo é darem-nos suporte. Os acontecimentos
vividos passam a acontecimentos
“vivenciados” e as experiências de qualquer
tipo hão-de ser “experienciações” ou
“experienciamentos” (sabe-se lá o que o
futuro nos reserva).
O que se ganha com tais trocas? Mais letras,
mais sílabas, menor clareza. Imaginem estas
frases, caso tais modas se tornem regra: “Já
experienciou o bife da casa? É muito bom!”
Ou: “Posso experienciar este par de
sapatos?”; “Recepcionou o meu livro?
Percepcionou o que escrevi?”; “Como
vivenciou a sua semana de férias?”;
“Concederam-lhe o suporte que solicitou?”;
“Quem está a gerenciar esta loja?”;
“Explicaram-me tudo, mas não realizei o que
queriam dizer”. Ou, como ironicamente
sugere Manuel Monteiro no seu texto, “Posso
colocar-lhe mais vinho no copo?”,
concluindo: “Só me resta desejar que o
‘pôr-do-sol’ não se transforme no
‘colocar-do-sol’. E que quem citar Camões
não diga que Inês estava linda COLOCADA em
sossego.”
Convém notar que, exceptuando “realizar”
no sentido de “entender”, tais termos existem
e os que não constam de dicionários
história, questão que só o futuro determinará.
Ao longo dos últimos anos tem vindo a
construir-se a ideia de que as “florestas de
produção” (perdoem-me o termo, porque de
facto não conheço nenhuma floresta que não
produza), por se destinarem a produzir
matéria-prima para diversas indústrias, devem
ficar arredadas quer das preocupações das
políticas públicas (exceto no seu caráter
restritivo), quer da consideração e valorização
dos contributos que dão à sociedade na
multiplicidade de funções que
cumulativamente desempenham.
Se retivermos, por exemplo, as diversas
medidas de política que, ao longo dos últimos
anos, têm vindo a ser anunciadas para a
floresta, verificaremos que a maior parte delas
se destina a áreas muito restritas do território
nacional, normalmente focadas na
preocupação (legítima) dos incêndios rurais.
Nestas medidas a que nos referimos, com
muito poucas exceções, a floresta de produção
tende a ser tratada como inimiga das
populações, impondo-se-lhe inúmeros
obstáculos e retirando-lhe rentabilidade.
Quanto a medidas de política positivas, que
enquadrem o reconhecimento do papel que as
florestas de produção desempenham em
termos económicos, sociais e ambientais, nada
portugueses já ganharam registo no Brasil,
como “experienciar” ou “gerenciar”. A TAP,
por exemplo, tem uma página em português
do Brasil (e ali escreve, como deveria,
“registre-se” por “registe-se” e “planejar” por
“planear”) com o título “Preparar e gerenciar
viagem”; e há no Brasil uma agência de
turismo intitulada “Vivenciar” e frases do
género “Vem vivenciar grandes momentos
com a gente!”. Mas também por cá se apela a
“vivenciar momentos únicos”, como se lê na
página da Câmara de Vila Nova de Gaia. Será
mesmo atendendo ao signiÆcado da palavra?
Ou será “vivenciar” “mais giro” do que
“viver”?
É porque convém sempre atender ao
contexto. Não é a mesma coisa aÆrmar, em
Portugal, “eu não apoio esse candidato” [não
lhe dou aval] que “eu não suporto esse
candidato” [não posso nem vê-lo]; tal como
não é igual aÆrmar “vivi não sentindo que
O pior não é ouvir e ler
‘resiliência’ a torto
e a direito; o pior
mesmo é vê-la escrita
e ouvi-la onde devia
estar ‘resistência’
de relevante tem acontecido.
É fundamentalmente neste aspeto que a
Çoresta de produção merece mais. Merece
mais atenção política, merece mais
instrumentos, merece mais reconhecimento
social. Merece mais, porque dá muito mais à
sociedade do que aquilo que por vezes nos
querem fazer crer. Claro que não é “toda e
qualquer” Çoresta de produção. Num
paralelismo com a célebre aÆrmação de Ortega
y Gasset de que “o homem é o homem e a sua
circunstância”, também a “Çoresta de
produção é ela própria e a qualidade da sua
gestão”. O mesmo se aplica a uma Çoresta que
se quer “apenas” de conservação.
Sim, uma Çoresta de produção bem gerida é
seguramente a forma de Çoresta que, no seu
conjunto, mais contributos traz para a
sociedade portuguesa. Perdoem-me a
terminologia menos coloquial, mas a valoração
de uma “variável-objetivo” através de uma
matriz de decisão multicritério que incorpore
as diversas dimensões que uma Çoresta de
produção aporta à sociedade (económicas,
sociais e ambientais) torna muito evidente que
assim é. Ela é essencial para a proteção e
conservação do solo (e mesmo para o fabrico
desse solo!), para a regularização dos regimes
hidrológicos (nomeadamente dos regimes
vivi” ou “vivenciei não sentindo que vivi”,
porque “vivenciar” signiÆca, segundo a
generalidade dos dicionários, “viver algo,
sentindo intensamente”. Mas será mesmo
isso que querem dizer os que usam e abusam
de tal palavra?
Nesta moda entra ainda a palavra
“resiliência”. Há umas décadas, os dicionários
em Portugal só registavam o seu sentido na
Mecânica ou na Física. A edição de 1981 do
Grande Dicionário da Língua Portuguesa (de
José Pedro Machado) falava apenas em “valor
ou número característico da resistência ao
choque de um material e que representa a
energia absorvida pela rotura de uma barra
de secção unitária”; e o Dicionário da
Academia das Ciências até ignora a palavra
(passa directamente de “resignatário” para
“resina”, pág. 3217). Mas, seguindo o inglês
“resilience”, outros acrescentaram-lhe um
novo sentido, Ægurado: “Capacidade de
superar, de recuperar de adversidades”
(Priberam), “Capacidade de se recobrar
facilmente ou se adaptar à má sorte ou às
mudanças” (Houaiss), “Capacidade de defesa
e recuperação perante fatores [sic] ou
condições adversos [sic]” (Infopédia, que lhe
acrescenta ainda signiÆcados na Ecologia e na
Psicologia).
O pior não é ouvir e ler “resiliência” a torto
e a direito; o pior mesmo é vê-la escrita e
ouvi-la onde devia estar “resistência”. E são
tantas vezes! Assim haja “resiliência” para
suportá-las.
Jornalista. Escreve à quinta-feira
torrenciais), para a preservação dos níveis de
biodiversidade, para o sequestro de CO2 e para
um conjunto vasto de outros valores que
prezamos. Estes “serviços dos ecossistemas”
devem, de facto, ser remunerados pela
sociedade (através das políticas públicas
adequadas), como complemento de
rendimento para os seus proprietários,
evitando-se assim as soluções de abandono
para onde estão a ser empurradas.
Sim, uma Çoresta de produção, desde que
instalada em local adequado e gerida de forma
sustentável, é a única alternativa que muitas
regiões do nosso território encontram. A sua
exclusão ou o menosprezo a que tem sido
votada rapidamente condenarão áreas
crescentes do nosso país ao abandono, como,
aliás, é hoje bem visível. Termino com um
lamento: que o país que somos, para aÆrmar
alguns dos valores da Çoresta (que devem ser
valorizados), tenha a necessidade de
ostracizar e varrer do mapa a maior parte da
área Çorestal que temos. Este não é,
certamente, o caminho que transformará a
nossa Çoresta.
Director-geral da CELPA – Associação da
Indústria Papeleira e professor auxiliar do
Instituto Superior de Agronomia

Descaramento
N
M. Fátima Bonifácio
ão é este o lugar nem é este o
momento para averiguar do
estado de saúde da
democracia portuguesa. Aliás,
muitas das maleitas de que
enferma são comuns às demais
democracias por essa Europa e esse Mundo
fora. Porém, convém lembrar algumas
generalidades, a Æm de colocar em contexto
as declarações feitas há dias à televisão pelo
ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto
Santos Silva. É pelo menos a segunda vez
que escrevo sobre este exímio manipulador,
capaz de quase tudo para defender a sua
causa, a causa do poder, a causa da
oligarquia endogâmica que preside aos
nossos destinos. No dia seguinte, 3 de Julho,
o insubstituível Carlos César, presidente do
PS, um “yes-man” a toda a prova, foi ao
telejornal da noite glosar as declarações
feitas pelo ministro na véspera.
Quer se queira quer não queira, os
indicadores sobre o crescente e persistente
abstencionismo eleitoral dos portugueses é
um indicador que não se pode ignorar.
Revela ele um sistemático alheamento de
uma signiÆcativa parte dos eleitores da
política democrática. Tal alheamento
funda-se numa indiferença que, por seu
turno, resulta de uma muito generalizada
insatisfação com a maneira de fazer política e
com os resultados das políticas adoptadas
pelo Governo. Para pelo menos metade dos
portugueses, a política é matéria para uns
quantos chico-espertos que se servem da
democracia para seu benefício pessoal ou da
capelinha a que pertencem, uma
comunidade de cumplicidades que em nada
— pelo contrário — os prejudica
individualmente. Ou seja, a democracia é
vista como uma conspiração oculta por trás
dos cerimoniais e dos rituais que lhe são
próprios, a começar, muito infelizmente,
pela vida parlamentar e total falta de
independência dos deputados. O Parlamento
está (há muito) governamentalizado.
O recente caso do comendador (!) Berardo
é mais uma pedra colocada sobre o edifício
conspirativo. Toda ou quase toda a gente se
lembra de que foi no tempo do excelso sr.
José Sócrates Pinto de Sousa que Berardo
adquiriu, graças a um empréstimo de
centenas de milhões concedido pela Caixa
Geral de Depósitos, uma bela posição no BCP,
cuja administração se viu assim vigiada e
condicionada por um submarino do
primeiro-ministro — para nem mencionar um
outro, Santos Ferreira. E todas as mais
trapalhadas urdidas por Berardo para evitar
o pagamento de dívidas pessoais e
salvaguardar a sua colecção de arte, bem
como todo o seu património, tudo isso
aconteceu no tempo do primeiro-ministro
socialista, o sr. José Pinto de Sousa. Berardo
está assim indelevelmente associado ao
consulado do pseudo-engenheiro.
De uma coisa os políticos portugueses não
se podem queixar: da proliferação de teorias
conspirativas a respeito do exercício do
poder. Sobejam os motivos pelos quais têm
audiência garantida. É verdade que os
escândalos se têm nos últimos anos repetido
com regularidade e que o pessoal já está
habituado. Mas, ainda assim, indigna, tanto
mais que Berardo é o primeiro peixe graúdo a
passar umas noites no “hotel” da Judiciária.
Armando Vara, por exemplo, não passa de
petinga fácil de prender. Desde a Operação
Marquês, seguida da falência do BES, que a
política portuguesa se transformou num
autêntico lodaçal. O povo percebeu que nem
de longe é o primeiro destinatário dessa
política, e metade dos eleitores vira-lhe as
costas, não apenas ao Governo, mas ao
establishment em geral. Muito
compreensivelmente.
Para além das conspirações contra a
democracia perversamente levadas a cabo a
coberto da democracia, outra pecha terrível
Os golpes de Estado
passaram de moda.
Hoje em dia, a
democracia destrói-se
por dentro. E o recente
caso Cabrita é mais uma
acha para a fogueira
da nossa política democrática reside no facto
de ser demasiado visível quando os
responsáveis políticos estão a mentir. Os
políticos mentem — é uma “verdade”
generalizadamente aceite, até mesmo pelos
que, mesmo assim, ainda se dão ao trabalho
de ir votar, na esperança de salvar alguma
coisinha, mesmo “poucochinha”.
(Pessoalmente, votarei sempre por alguma
coisa muito grande, a Liberdade.) Mas, regra
geral, os políticos têm o cuidado de mentir
com alguma verosimilhança, a Æm de não
atropelar a moral nem ofender a inteligência
das pessoas. Coube ao ministro Eduardo
Cabrita mais esta “pequena” fatalidade de
servir de pretexto para que a regra das
aparências fosse quebrada e a mentira
aparecesse nua e crua, descarnada.
O que nos pregou então Santos Silva, com
ar “verdadeiramente” compungido? Que era
indecente transformar um acidente
rodoviário trágico num caso político; num
caso para a oposição extrair vantagens
políticas; não se recordava, na sua longa
carreira política, de ter assistido a uma tal
perversão e a tão grosseiro oportunismo.
Como se vê, a vítima do acidente não era o
morto — nem pensar! —, a real vítima era o
pobre do ministro Eduardo Cabrita, um
político excelente mas azarado, que
arranjava sarilhos atrás de sarilhos, logo
expeditamente explorados sem escrúpulos
pela oposição. Um homem tão competente,
tão bem intencionado, mas tão
incompreendido e tão perseguido pela má
sorte. Carlos César, como referi, limitou-se a
papaguear as mesmas coisas, seguindo o
mote dado por Santos Silva: a oposição
procura indecentemente tirar proventos
políticos de um mero acidente rodoviário.
Um mero acidente rodoviário?! O carro de
um ministro, conduzido por um motorista, é
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 11
PAULO CUNHA /LUSA
igual ao meu carro conduzido por mim?! É
evidente que não. Primeiro, um sinistro
desta gravidade não Æcaria no segredo dos
deuses durante já nem sei quantos dias.
Depois, chamada ao local, a polícia
apreender-me-ia o carro pelo motivo de não
estar sequer registado. Certamente que em
seguida seria convidada para ir a uma
esquadra da PSP ou da GNR, e muito
provavelmente pernoitaria por lá.
Seguir-se-ia a ida a tribunal, etc., etc., etc.
Para agravar tudo, o ministro resolveu
inventar que as obras não estavam
sinalizadas, para ser logo desmentido pela
Brisa. Acidentes destes só ocorrem quando
se circula a uma velocidade desvairada, e o
ministro tinha toda a obrigação de mandar
o seu motorista respeitar o Código da
Estrada, que justamente proíbe
semelhantes desvarios. Todo este mais do
que lamentável episódio seria tratado de
forma radicalmente diferente caso se
tratasse de um civil. E então não é político?!
Mas algum civil, nas mesmas circunstâncias,
teria o privilégio da protecção de que
Eduardo Cabrita tem gozado?!
Ninguém teria um tal privilégio.
E é precisamente esta impressão — fundada
— de que os políticos vivem num mundo à
parte, com regras próprias, encobrindo-se
uns aos outros, que leva o cidadão comum a
desistir de colaborar na res publica. Não, os
políticos não são todos iguais, mas o lote
dos que se igualam é de longe o maior e,
pior, é aquele cujo ethos prevalece. Casos
como este desacreditam a democracia. Os
golpes de Estado passaram de moda. Hoje
em dia, a democracia destrói-se por dentro.
E o recente caso Cabrita é mais uma acha
para a fogueira.
Historiadora
12 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Política “Era bom que o presidente do CES tivesse noção do seu lugar”
“Aquilo que Ɗcou
no OE2021 é para ser
executado em 2021”
João Oliveira Líder parlamentar do PCP acredita que
é possível ter na lei, no início do Outono, as alterações
à contratação aprovadas há uma semana
Hora da verdade
Maria Lopes e Eunice Lourenço
(Renascença) Daniel Rocha
fotografia
João Oliveira insiste em separar as
águas do Orçamento e da
negociação entre PCP e PS sobre a
lei laboral. Rejeita quaisquer
condicionamentos. Não há data
para se sentar com o Governo e
não diz se vai impor condições
para começar a negociar.
Na semana passada, o PCP levou
a debate e votação propostas
sobre legislação laboral que, na
sua maioria, foram chumbadas.
Não houve diálogo com o PS para
que tivesse um desfecho
diferente?
Essa pergunta tem que ser feita ao
PS: porque é que, apesar de fazer o
discurso sobre os trabalhadores e a
consideração pelos seus direitos,
depois, na prática, quando é
preciso que estes sejam defendidos
e reÇectidos, em relação à lei
laboral, acaba por dar o dito por
não dito? Levámos as propostas a
discussão agora, devido à urgência
que muitos milhares de
trabalhadores estão a atravessar,
relacionadas com os horários de
trabalho, precariedade, reposição
dos dias de férias e despedimentos.
O Governo tem remetido a
reforma laboral para depois do
debate público sobre o Livro
Verde para as Condições do
Trabalho. Porque é que o PCP
não espera?
Porque há um sentido de urgência
que não é compatível com o
adiamento. Estamos com
despedimentos de centenas de
trabalhadores. E poderá haver
muitos mais no Æm do layoff
simpliÆcado em que as empresas
estavam impedidas de despedir. No
Æm do prazo, a situação pode ser
dramática, aproveitando o
pretexto da epidemia de maneira a
reduzir os custos com a mão-de-
-obra. A epidemia também serviu
de pretexto para, em muitos casos,
impor horários de trabalho
desregulados. Estamos perante
uma situação que é quase uma lei
da selva no mundo do trabalho.
Remeter esta questão para
discussão daqui por um ano não
servirá de alguma coisa, muito
menos se isso signiÆcar deixar nas
mãos do grande patronato o direito
de veto às alterações à lei laboral
por via da concertação social.
Para o PCP, deixar na mão da
concertação social é deixar na
mão do patronato? O presidente
do Conselho Económico e Social
(CES), Francisco Assis, já veio
criticar algumas propostas e a
que foi aprovada. Esperava uma
atitude diferente de um
socialista à frente do CES?
Sinceramente, não. Não esperava
uma atitude diferente na opinião,
que não será surpreendente sendo
o presidente do CES quem é e o
militante do PS com as posições
que tem. Não me espanta.
Que foi contra a “geringonça”...
Isso é apenas a opinião mais ligeira
do dr. Francisco Assis. O órgão de
soberania que aprova as leis é a
Assembleia da República e não o
CES e era bom que o seu
presidente tivesse noção do seu
lugar e se pusesse no seu próprio
lugar, não se colocando numa
posição quase de condicionamento
ou de tentativa de determinar o
que a AR decide ou não.
O que acabou de aprovar
também demora: há férias,
autárquicas, Orçamento...
Imagine o que é se nós tivermos
que estar à espera do Livro Verde...
Nós temos noção do calendário
muito apertado que existe. Mas há
todas as condições para que esse
processo legislativo se faça
rapidamente.
Como está o processo legislativo
do teletrabalho?
O PS entendeu que, na
especialidade, era preciso ouvir
este mundo e o outro, consumiu-se
grande parte do tempo a fazer
audições. Mesmo que as votações
venham a ocorrer em Setembro ou
Outubro, é preferível que haja uma
boa alteração à lei para que os
problemas possam ter uma boa
decisão do que atamancar alguma
coisa até ao Ænal de Julho e termos
uma lei que, em vez de resolver os
problemas, limitando e
condicionando o recurso ao
teletrabalho, acabe por o
generalizar.
O teletrabalho não deve ser sequer
possibilidade de regra; deve ser
uma excepção, absolutamente
limitada e muito bem regulada
para garantir que não signiÆca uma
quase escravização dos
trabalhadores.
Jerónimo de Sousa afirmou:
“Nem que o PS aprovasse todas
estas nossas iniciativas, iriam
determinar o nosso
posicionamento em relação a
próximo OE”. O que quer dizer
com isto?
Isso tem vários destinatários: para
os partidos mais à direita que, na
lógica de que “tudo é barganha,
tudo se compra, troca e vende”,
Æzeram o debate a partir do
princípio que aquilo havia de ser
uma moeda de troca com o
Orçamento.
Mas a aprovação podia significar
Substituto de Jerónimo eleito até 2024? Isso está “n
a flexibilidade do PS…
Imagine que o PS aprova aqueles As autárquicas terão influência de órgãos autárquicos possível.
quatro projectos e que em na negociação do OE2022? Fixaram objectivos. Isso
Setembro apresenta um OE com o Eu só vejo uma dimensão: no significa…?
aumento do IRS nos escalões mais calendário. O facto de o Reforço de mandatos, de votos,
baixos... Até podia haver muito boa Governo ter escolhido este e também de maiorias que é
vontade com a aprovação naquela calendário só dificulta a absolutamente essencial para a
matéria, mas aumentar esse IRS é discussão do OE. Sendo as gestão autárquica.
um sinal no sentido oposto. Passa eleições mais para a frente, Mas há concelhos mais
pela cabeça de alguém que o PCP haveria tempo para discutir as importantes do que outros,
se deixasse condicionar no questões, em vez de ser em como Almada ou Setúbal...
posicionamento do OE em função cima do joelho. O 10 de Julgo que a população de
desta votação? As coisas são Outubro, pela perspectiva da Almada há-de estar convencida,
distintas; nós não fazemos vacinação, seria a melhor data, quatro anos depois, de que
barganha com coisas sérias. com maior segurança, e pelo OE precisa de encontrar uma
Então quais são as questões permitia ter antecipadamente gestão autárquica diferente da
relativas aos trabalhadores que mais tempo para ir discutindo, que tem agora e mais parecida
vão pôr no Orçamento do Estado sem ser nos últimos dias antes com a que teve antes. E Setúbal
para 2022? da entrega na AR. foi um dos concelhos onde a
Ainda não temos nenhuma O que é uma vitória para o PCP CDU teve uma maioria reforçada
apreciação feita relativamente ao nas autárquicas? Recuperar nas últimas autárquicas.
OE2022. Nós nunca levámos à Almada? Ser necessário para Onde agora tem que ter uma
discussão do OE questões de uma maioria em Lisboa? cara nova...
alteração à lei laboral com a Nós não fazemos esse tipo de Nova, mas experiente. O André
perspectiva de que é ali o sítio para tiro ao alvo a um concelho ou a Martins é conhecido dos
as tratar. outro. Fixámos objectivos, como setubalenses e deu um
Ao contrário do que o Bloco fez... concorrer ao máximo número contributo muito significativo na
Cada um assume as opções e

na categoria da fantasia”
gestão autárquica para o
resultado dos últimos anos, de
desenvolvimento de Setúbal
Estou confiante que temos boas
condições para construir um
bom resultado autárquico.
Há novos partidos e
independentes e a CDU tem
encolhido paulatinamente o
resultado eleitoral. Admite ser
preciso mudar ou inovar o
discurso autárquico?
Quando fala em encolher
paulatinamente, isso não é bem
verdade; só nas últimas eleições
é que não aconteceu, porque
desde 2001 que nos vínhamos
reforçando. Não temos uma
eleição, mas 308 municipais e
milhares a nível de freguesias.
Há um elemento de confiança
naquilo que a CDU diz e propõe
e se compromete a fazer, porque
as pessoas sabem que é por isso
que nos vamos bater e esse
elemento de confiança é muito
importante para que na política
não se navegue em águas
turvas.
Em 2017 falou-se numa espécie
de pacto de não-agressão com
o PS nas candidaturas. Isso
continua?
Isso em 2017 era especulação;
em 2020 continua a ser pura
especulação.
Também é pura especulação
admitir que o comité central
eleja um novo secretário-geral
antes do próximo congresso,
ao qual Jerónimo de Sousa
chegará com 77 anos?
Essa é até mais do que
especulação. Acho que está já
na categoria da fantasia, mas
não quero ser demasiado
áspero. Isso é uma coisa que não
tem nenhuma adesão a
discussão nenhuma que
tenhamos feito ou a
possibilidade que alguma vez
tenhamos equacionado.
João Oliveira e o PCP querem
que o teletrabalho seja uma
excepção absoluta na lei, para
proteger o trabalhador
caminhos. Nós nunca Æzemos isso.
Tem havido um aumento da
pressão dos partidos à esquerda
para que as medidas do OE sejam
concretizadas. Como tem sido
feito esse acompanhamento?
Com uma pressão grande sobre o
Governo, exigindo informação
sobre aquilo que está inscrito no
OE, sobre o ponto de situação.
E os resultados têm sido
animadores?
Essa caracterização é mais difícil
de fazer. Um resultado animador
só de algumas medidas de
aplicação directa e que não Æcaram
dependentes de regulamentação
do Governo.
Essas eram mais fáceis de
concretizar...
Por isso também deram muito
trabalho, foi preciso deixá-las
escritas, por forma a que
necessitassem pouco de
regulamentação. Por exemplo: os
mais de 300 mil trabalhadores que
nos primeiros meses receberam
salário a 100% em layoff quando
em 2020 tinham tido corte de um
terço. Os aumentos das pensões, a
renovação automática dos
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 13
subsídios de desemprego (que foi
rejeitada no OE2020).
Em que áreas são mais
desanimadores?
O apoio às micro, pequenas e
médias empresas, que tem sido
difícil; o pagamento por conta (em
que o Governo criou um terceiro
tipo de solução que não era o do
OE, nós aprovámos a dispensa de
pagamento e o Governo entendeu
criar a possibilidade de pagamento
em prestações).
Se há tantas falhas, admite
sentar-se à mesa para o OE2022
sem um compromisso do
Governo com um calendário
para que sejam mesmo
concretizadas as medidas em
falta?
Temos insistido na concretização
do OE2021 não só pela importância
política do OE, mas porque são
medidas que resolvem grande
parte dos problemas que o país
tem. Se não forem resolvidos,
vamos fazer a discussão do OE2022
com o país numa situação muito
pior do que aquela que poderia ser
se fossem concretizadas.
Quando começámos a discussão
para o OE2021, fazíamos um retrato
das diÆculdades e, quando
chegámos à votação Ænal, no Æm de
Novembro, a situação no país
tinha-se alterado profundamente,
para pior. SigniÆcou que nesse mês
e meio tivéssemos que fazer muito
mais insistência para que algumas
das soluções que adiantámos desde
o início fossem mesmo inscritas no
OE. Em que pé é que o Governo
parte para uma discussão do
OE2022 se esses problemas
continuarem por resolver porque as
medidas não foram concretizadas?
Essa é a pergunta que lhe
fazemos: com que pé o PCP
parte?
E essa é a pergunta que temos feito
ao Governo: com que perspectiva o
Governo quer começar a fazer essa
discussão? Até agora não houve
nenhuma abordagem às questões
do OE2022.
Quando houver essa abordagem,
qual é o compromisso que vão
exigir ao Governo: “Concretize e
depois falamos”?
Não sei exactamente, ainda não
Æzemos nenhuma apreciação sobre
isso, não deve acontecer nos
próximos dias. Nós nem sequer
queremos dar ao Governo o
pretexto para dizer “não foi feito
agora, mas há-de ser feito em
2022”. Porque isso não será uma
resposta aceitável. Aquilo que Æcou
inscrito em 2021 é para ser
executado em 2021.
A condição para 2022 é a
execução de 2021...
É um elemento imprescindível
para a abordagem do OE2022.
E que outras condições vão
impor?
Não temos nenhuma apreciação
feita sobre aquilo que vamos
levar à discussão do OE2022. Não
temos a perspectiva de que os
problemas que discutimos no
OE2021 estejam ultrapassados e
resolvidos. Há-de haver um
conjunto muito signiÆcativo de
propostas, algumas continuando
propostas anteriores. Há questões
que temos vindo a tratar em
todos os orçamentos: as pensões,
a gratuitidade e investimento
público na criação de novas vagas
de creches.
No SNS, houve um pacote de
quase mil milhões para vários
anos. Vão apostar em aumentar
os recursos para a saúde?
O reforço da estrutura de saúde
pública é absolutamente
essencial. Andamos há mais
de um ano a insistir que a
solução para combater a
epidemia não pode ser fechar as
pessoas em casa. Tem que ser
reforçar as estruturas e as
equipas de saúde pública para
aumentar o rastreio de contacto e
testagem. A partir do momento
em que dispomos de vacinas, a
resposta à epidemia tem que
assentar nessas três componentes
sanitárias — vacinação, rastreio,
testagem — e não insistir em
conÆnamentos e restrições. Não
podemos passar o resto da vida
fechados em casa com as
actividades condicionadas e
fechadas. Temos que deÆnir em
cada área de actividade, da nossa
vida social, económica, cultural e
desportiva, o que é preciso para
que isto funcione em condições
de segurança sanitária e a partir
daí tomar as medidas para as
garantir.
Já falou em medidas
“disparatadas”...
Porque as pessoas já olham para
o que o Governo decide sem base
nenhuma de conÆança ou de
reconhecimento de autoridade e
acerto no que é decidido.
Considera que a saúde pública
desapareceu do espaço
público? Não sente falta da
directora-geral da Saúde?
Não faço disso nariz de santo. Se
a DGS deve dar uma conferência
de imprensa todos os dias ou só
aparecer uma vez por semana ou
por mês, isso é uma questão que
deve ser a própria a avaliar. A
autoridade de saúde tem que
assumir as suas responsabilidades
e tem que ter a preocupação de
comunicar as decisões que toma
com clareza e de maneira a
inspirar conÆança.
O PCP preferiria voltar a ter o
Bloco como parte das
negociações e soluções
orçamentais ou é-vos
indiferente?
Nós não temos preferências
dessas, porque nós discutimos é
com o Governo e o Governo é que
eventualmente pode ter alguma
apreciação a fazer sobre isso.
14 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Política
Fencaça acusa
dirigentes do
PAN de serem
“irracionais”
Luciano Alvarez
Diploma de Lei de Bases
da Caça revela ignorância e
fundamentalismo, reagem
caçadores, que não poupam
o Pessoas-Animais-Natureza
A proposta de Lei de Bases Gerais da
Caça que o PAN apresentou esta
semana no Parlamento conta já com
uma forte oposição da Federação Por-
tuguesa de Caça (Fencaça). Para esta
associação, os dirigentes do partido
revelam ser “ignorantes, fundamen-
talistas e irracionais”.
Jacinto Amaro, presidente da Fen-
caça, aÆrma que o diploma em que o
PAN propõe alterações à Lei de Bases
Gerais da Caça “mostra bem o desco-
nhecimento da realidade do mundo
rural”. “Não percebem que só exis-
tem espécies cinegéticas se houver
algum interesse nelas e se delas se
puder tirar alguma valia. Não perce-
bem que no dia em que os agriculto-
res e os caçadores deixarem de fazer
a gestão desses espaços, a que se cha-
mam ‘zonas de caça’ — que protegem,
que alimentam, que lhes dão água,
melhorando o seu habitat e [defen-
dendo-as] dos incêndios Çorestais —,
as espécies cinegéticas não sobrevi-
vem, nem irão sobreviver outras
espécies que dependem delas”, aÆr-
mou ao PÚBLICO o presidente da
Fencaça. Esta representa a grande
maioria das associações desta activi-
dade, envolvendo cerca de 100 mil
caçadores.
Jacinto Amaro acrescenta que o
PAN “não percebe” que as zonas de
caça “estão implantadas em terrenos
agrícolas e Çorestais e que os proprie-
tários ou são caçadores, ou, não [o]
sendo, terão sempre interesse pela
caça, pois está intrinsecamente ligada
às actividades do campo”. “Será que
o PAN pretende expropriar os proprie-
tários rurais deste país e negar-lhes o
direito de propriedade?”, pergunta.
O presidente da federação diz ainda
que o PAN, “por ser um partido jovem
que não lê a história” da associação,
não sabe “que o Estado já teve sob a
sua responsabilidade a gestão cinegé-
tica do país inteiro, e o que aconteceu
foi que todas as espécies sedentárias
Æcaram à beira da extinção”, e “tam-
bém não sabe que foram os caçadores
que a recuperaram”.
Jacinto Amaro diz esperar que os
partidos, “nomeadamente os tradicio-
nais, façam aquilo que os portugueses
esperam deles e não vendam a alma
ao diabo, como aconteceu com a proi-
bição do tiro ao voo [aos pombos]”.
Deputados vão poder suspender
mandato para tratar da vida pessoal
Maria Lopes
Proibição de exercer cargos
em clubes e federações,
também aprovada, só
vigorará na próxima
legislatura
Depois de sucessivos adiamentos, a
Comissão de Transparência e Estatu-
to dos Deputados votou ontem na
especialidade as propostas para alte-
ração do estatuto que passarão a per-
mitir que os deputados possam sus-
pender o mandato e serem substituí-
dos temporariamente por “motivos
ponderosos de natureza familiar, pes-
soal, proÆssional ou académica”,
como propuseram o PSD e o CDS.
Foi também aprovada a proposta
do PSD para que os deputados sejam
proibidos, a partir da próxima legis-
latura, de integrar, a qualquer título,
órgãos executivos de entidades envol-
vidas em competições desportivas
proÆssionais, incluindo as respectivas
sociedades accionistas” — ou seja,
Æcam abrangidos os clubes e as fede-
rações desportivas.
Esta proposta é menos abrangente
do que a do PAN, que iniciou o pro-
cesso legislativo. O PAN Æzera esta
proposta motivado pela decisão do
Parlamento que permitiu à deputada
Cláudia Cruz Santos (PS) acumular o
mandato com o de presidente do con-
selho de disciplina da Federação Por-
tuguesa de Futebol. Na altura, houve
partidos que admitiram que, do pon-
to de vista jurídico, a acumulação
destas funções era possível, embora
eticamente não fosse aconselhável.
A proposta do PSD foi aprovada
Portugueses gostam das Forças Armadas
Nuno Ribeiro
Os portugueses admitem que a pró-
xima década é de perigos, 69% ante-
vêem mesmo que será mais insegura,
gostam das suas Forças Armadas (FA)
e prezam as alianças internacionais.
Opiniões sedimentadas por memó-
rias recentes, nas quais uma hipoté-
tica guerra civil ou entre Estados está
no sopé das ameaças.
Esta é uma das sínteses possíveis
do inquérito aos portugueses sobre
Defesa Nacional e Forças Armadas,
divulgado ontem pelo Instituto de
Defesa Nacional (IDN). “A população
portuguesa concorda não só com a
realização de missões tipicamente
Substituição de deputados terá novas regras em breve
com os votos a favor do PSD, PCP,
CDS, PAN e BE. Mas fora chumbada
durante meia hora: o BE começou
por se abster, o que levou o presiden-
te Jorge Lacão a anunciar a rejeição,
mas depois, quando já se discutia
outro assunto, José Manuel Pureza
anunciou a correcção. Com a aprova-
ção da versão do PSD, o PAN acabou
por retirar a sua proposta.
Quanto à outra polémica alteração
que volta a permitir que os deputados
sejam substituídos temporariamente
por outros, como era possível até
2006, o PS voltou a Æcar sozinho no
voto contra. A proposta conjunta de
PSD e CDS que permite a suspensão
de mandato por “motivos pondero-
sos de natureza familiar, pessoal,
proÆssional ou académica” foi apro-
vada também pela direita e por BE,
PCP e PAN, apesar do voto contra dos
socialistas. Mas houve unanimidade
militares de combate, mas também
com as que se relacionam com o
apoio às populações”, refere o estudo
do IDN, da Direcção-Geral de Recur-
sos de Defesa Nacional, do Instituto
de Ciências Sociais da Universidade
de Lisboa e do Instituto Português de
Relações Internacionais.
Contudo, só 24% aceitariam parti-
cipar em qualquer circunstância nas
FA contra 31,9% que o recusam. Mais
benigno é outro dado: as missões de
apoio à população são consideradas
positivas por 43,7% dos inquiridos,
uma percentagem que não será alheia
ao apoio que os militares têm dado
no combate à covid-19.
Em nenhum momento está em
NUNO FERREIRA SANTOS
na alínea que passa a permitir aos
deputados serem substituídos por
motivo de doença grave por um
período mínimo de 30 dias e até ao
Æm do motivo justiÆcativo — actual-
mente há um limite de seis meses.
A permissão para a suspensão de
mandato e substituição por outro
candidato seguinte da lista passa a ser
permitida cinco dias após a publica-
ção da lei em Diário da República.
Ficou pelo caminho a outra propos-
ta do PAN para que a suspensão de
mandato e substituição por outro
deputado fosse permitida para os
períodos de campanha eleitoral. Esta
proposta surgiu na sequência do caso
de André Ventura, que pediu para ser
substituído enquanto fosse candidato
presidencial. O PS votou contra e o
PSD absteve-se, pelo que os votos a
favor de BE, PCP, PAN e CDS não
foram suÆcientes.
O ministro João
Gomes Cravinho
esteve na
cerimónia de
apresentação do
estudo sobre as
Forças Armadas
causa o actual serviço militar volun-
tário: 60% consideram que deve man-
ter-se como está.
O estudo mostra que uma das tra-
dicionais reivindicações dos militares
tem eco nos civis: mais de 65% consi-
deram insuÆciente o orçamento da
Defesa. Já 44,9% encaram a dimensão
dos exércitos como insuÆciente versus
42% que a acham adequada. Apenas
Xanana
Gusmão apoia
ex-autarca de
Torres Novas
Margarida Gomes
O empresário António Rodrigues, que
vai encabeçar a lista independente
pelo Movimento P’la Nossa Terra à
presidência Câmara de Torres Novas,
conta com um apoio de peso nestas
eleições: Xanana Gusmão, primeiro
Presidente eleito e ex-primeiro-minis-
tro de Timor-Leste.
O líder histórico timorense aceitou
o convite de António Rodrigues e vai
presidir à comissão de honra do inde-
pendente, que está de regresso à cor-
rida autárquica (foi presidente daque-
la mesma autarquia entre 1994 e 2013)
mantendo a Æliação no PS.
Numa carta que endereçou a Antó-
nio Rodrigues e a que o PÚBLICO teve
acesso, Xanana Gusmão expressa o
seu apoio ao candidato e manifesta o
“prazer” de se juntar ao grupo de
cidadãos independentes que apoia a
candidatura. “Conheço-o, amigo
António Rodrigues, e sei que é um
homem honesto com uma enorme
convicção de servir, como prova a sua
inestimável amizade por Timor-Leste
e a sua preocupação de ajudar a con-
ceber o ‘melhor modelo de município
a instalar’ aqui”, escreve Xanana, que
se tornou amigo do ex-autarca.
António Rodrigues está a realizar
uma tese de doutoramento sobre o
modelo de municipalismo para
Timor-Leste, país de que foi consultor
no âmbito da criação dos municípios,
tema igualmente tratado na sua tese
de mestrado. Está também a escrever
um livro baseado em histórias vividas
na sua passagem por vários países
onde se fala português.
12% a classiÆcam como excessiva.
As ameaças consideradas são feitas
de memórias e episódios recentes.
Nos próximos dez anos, o mais temi-
do é uma grave crise económica mun-
dial (que remonta à situação pós-
2009) e depois as epidemias e as
pandemias (neste caso por pressão
directa dos acontecimentos ligados à
covid-19). Seguem-se a manipulação
da informação, as alterações climáti-
cas e o cibercrime. A mais clássica das
ameaças, a guerra (civil ou entre Esta-
dos) é a última das preocupações.
As respostas foram obtidas entre 7
de Janeiro e 25 de Fevereiro de 2021
no universo das 1509 entrevistas rea-
lizadas.
 Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 15

Ministro diz que toma decisão “face às dúvidas suscitadas” Sociedade

Cabrita suspende reconversão de ala da

prisão de Caxias para instalar imigrantes
Dezenas de ONG consideraram “retrocesso civilizacional” a instalação de imigrantes na ala sul de Caxias,
apesar de desactivada. MAI diz que tem três milhões para melhorar e construir centros de instalação
RUI GAUDÊNCIO

Joana Gorjão Henriques

A oposição pediu explicações, orga-
nizações não-governamentais da
sociedade civil e católicas juntaram-
-se como poucas vezes o Æzeram para
criticar. Quase três semanas depois
disso, o ministro da Administração
Interna, Eduardo Cabrita, recuou no
projecto de reconversão da ala Sul da
prisão de Caxias em centro de insta-
lação temporária de imigrantes e
emitiu um despacho a suspendê-la.
Essa solução está vertida num proto-
colo entre o Serviço de Estrangeiros
e Fronteiras (SEF) e a Direcção-Geral
de Reinserção e Serviços Prisionais
(DGRSP) desde Fevereiro.
Cabrita justiÆcou a opção: “Face às
dúvidas suscitadas”, o Ministério da
Administração Interna (MAI) deter-
minou “a suspensão do projecto de
adaptação” da ala Sul da prisão de
Caxias, que estava desactivada. Escla-
rece que inscreveu no Plano de Recu-
peração e Resiliência (PRR) três
milhões de euros para a construção e
reabilitação de cinco centros de ins-
talação temporária (CIT) e de espaços
equiparados a centros de instalação
temporária (EECIT).
Em despacho interno, refere que,
“na sequência de pedido de esclare-
cimentos ao SEF”, determinou ainda
a criação de uma rede de CIT e EECIT
como “uma prioridade com expressa
consagração” no PRR. E sublinha que Eduardo Cabrita toma a decisão quase três semanas depois de várias ONG virem criticar a opção de instalar imigrantes na ala da cadeia
as condições de instalação e funcio-
namento destes espaços devem ser, condições para alojar os cidadãos de protocolo entre o SEF e a DGRSP: a cretizada, a 1 de Fevereiro, em proto- judicial sobre o seu processo até dois
“desde o início dos projectos, acom- forma distinta de um ambiente pri- Cáritas, a Amnistia Internacional, o colo. Um documento de 1 de Junho meses.
panhadas e monitorizadas” pela Ins- sional”. O mecanismo sublinhou “a Serviço Jesuíta aos Refugiados, a Soli- orçamentou as obras naquele espaço No último relatório, o Mecanismo
pecção-Geral da Administração Inter- necessidade urgente” de abrir novos dariedade Imigrante, a Olho Vivo, num valor de mais de 13.600 euros. Nacional de Prevenção refere que,
na e pela provedora de Justiça. CIT no Centro e no Sul, referindo ain- Casa do Brasil, SOS Racismo, Centro O objectivo era este centro “substi- “de acordo com informação recolhida
Em Portugal continental há um CIT, da “a necessidade urgente de criação Padre Alves Correia ou Obra Católica tuir” as funções do centro do aero- já em 2021 junto do SEF”, há ainda
a Unidade Habitacional de Santo de alternativas viáveis, fora dos aero- para as Migrações expressaram “o porto de Lisboa, onde Ihor Homenyuk um outro protocolo entre o SEF e a
António, no Porto, e três EECIT: no portos, para a eventual colocação de mais veemente repúdio face” a esse morreu, a 12 de Março de 2020, mor- Docapesca para a cedência de espaço
Porto, Lisboa e Faro. Estava a ser cidadãos estrangeiros”. opção e consideraram que “este tra- te pela qual três inspectores do SEF no Porto de Pesca de Vila Real de San-
construído um CIT em Almoçageme tamento constituiria um retrocesso foram condenados em tribunal. to António, onde se prevê a instalação
desde 2018, mas está envolto em pro- ONG exigiram “revogação” civilizacional na forma como o Estado Homenyuk, ucraniano que não pre- de um “hotspot (local que se destina-
blemas jurídicos, como explicou Isto depois de duas dezenas de orga- português trata os direitos humanos, cisava de visto para entrar em Portu- rá à assistência humanitária de pri-
Cabrita no Parlamento, em início de nizações não-governamentais exigi- em particular os das pessoas migran- gal, foi barrado por alegadamente meira linha para a prestação de cui-
Junho. “Temos um conjunto de solu- rem ao Governo “a revogação” do tes, em contradição com o caminho dizer que vinha trabalhar e Æcou deti- dados médicos e alimentação a cida-
ções que estão a ser desenvolvidas na que Portugal tem seguido”. Escreve- do no centro do aeroporto onde Æcam dãos migrantes que desembarquem
ala da zona sul de Caxias e no Algarve, ram: “Migrar não é crime. A falta de cidadãos a quem é barrada a entrada ilegalmente na costa algarvia)”, com
em Vila Real de Santo António e Ministro tinha dito documento não é crime. Como tal, a em Portugal. a colaboração da Cruz Vermelha Por-
Alcoutim”, disse o ministro.
O PÚBLICO não conseguiu saber
ao Parlamento que detenção administrativa de pessoas
migrantes numa prisão é inaceitável,
O CIT do aeroporto de Lisboa foi
alvo de remodelação depois da mor-
tuguesa, e está previsto outro centro
para requerentes de asilo em Alman-
qual será a alternativa à ala Sul de a solução estava a contribui para a estigmatização do te de Homenyuk e deixou de receber cil. “Espera-se que, como indicia o
Caxias. Certo é que até a provedora
de Justiça, no recente relatório anual
ser estudada, migrante e viola gravemente a sua
dignidade.”
requerentes de asilo, tendo agora
capacidade para cerca de 40 pessoas,
seu nome, não seja um outro local de
detenção como os EECIT, mas sim um
do Mecanismo Nacional de Preven- quando já estava A aÆrmação de Cabrita ao Parla- mas é considerado inadequado para espaço de alojamento adicional para
ção, aÆrmou o que dissera ao PÚBLI-
CO: que esta deveria ser “uma solu-
concretizada num mento provocou polémica na altura
porque disse que a solução estava a
albergar os imigrantes a quem é recu-
sada a entrada em Portugal e que
casos em que não haja capacidade de
resposta” do Conselho Português
ção temporária” e “devem ser criadas protocolo ser estudada, quando já estava con- podem ali Æcar a aguardar decisão para os Refugiados, refere.
16 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Sociedade

O ministro
Ana Dias Cordeiro
Na hora de ser ilibado pelo mesmo
Ministério Público que o acusou, o
demitiu por suposta cumplicidade dade
com uma operação da PJM suposta- osta-
mente legal ou ilegal, consoante nte a
versão e visão sobre os factos desteeste

derrubado por ex-ministro José Azeredo Lopes pou-

co ou nada deixou transparecer. Saiu
como entrou, da sala de audiências e
do tribunal, como sempre fez em
julgamento.
“O ex-ministro foi exposto de forma
perfeitamente gratuita e a vida dele
mudou completamente apenas com
rma

Tancos tem nove meses de julgamento: sem reve-

lar estados de alma e sem se furtar às
câmaras por muito que lhe pesasse a
este processo”, diz Luís Cruz Campos,
que representa Lima Santos, investi-
gador da GNR de Loulé e um dos que
pos,
esti-

agora a defesa
sua condição de arguido.
Já o conceituado professor da
Faculdade de Direito e seu advogado
neste processo, Germano Marques da
colaboraram com a PJM na operação ação
para encontrar o armamento.
“Desde o primeiro dia em que pude
ler a acusação, soube que não havia avia

de quem o
Silva, esqueceu por momentos a pose
serena no movimento e impenetrável
no olhar, deixando a sala e o tribunal
com gestos e sorrisos largos.
qualquer fundamento para o acusar”,sar”,
acrescenta. No caso do ex-ministro,stro,
não houve prisão, mas uma viragem gem
num caminho a que só timidamente ente

quis condenar
Nas alegações Ænais do MP, na ter-
ça-feira, o procurador Manuel Nunes
Ferrão declarou que a única coisa a
fazer neste julgamento seria isentar
Azeredo Lopes de uma condenação,
além de dez outros arguidos entre
militares da GNR, um responsável da
Polícia Judiciária Militar (PJM) e seis
Azeredo Lopes demitiu-se antes de ser dos nove homens inicialmente impli-
acusado por crimes ligados à recuperação cados no assalto na noite de 28 de
Junho de 2017. Houve pessoas para
do material de Tancos. Anos depois, o quem foi pedida a absolvição e que
estiveram 15 meses presas preventi-
Ministério Público pede a sua absolvição vamente. Houve um ministro que se
regressará. “Por uma questão de prin-
cípio, só tenho a agradecer a forma rma
como ele esteve lá todos os dias, con-
nosco, com os outros arguidos. Nun-
ca fugiu a dar a cara e isso mostra que
foi solidário com todos nós”, acres-
cres-
centa o advogado.
Atento a tudo o que consta nas
dezenas de volumes deste mediáticoático
processo judicial (como o próprio prio
disse), o representante do MP, Manuel
nuel
Nunes Ferrão, não encontrou forma rma
de subscrever a alegação dos colegas
egas
que haviam promovido a acusação, ção,

Algumas datas-chave de um caso que se arrasta há quase quatro anos

2017
29 de Junho
O Exército revela o
desaparecimento de material de
guerra dos Paióis Nacionais de
Tancos.
2 de Julho
O jornal El Español divulga a lista
do material desaparecido: quase
1500 balas de calibre 9mm,
centenas de granadas de vários
tipos, dezenas de unidades de
explosivo plástico e respectivos
gatilhos, 44 granadas-foguete
antitanque de 66mm...
4 de Julho
O Presidente da República e o
ministro da Defesa, Azeredo
Lopes, visitam os paióis. Marcelo
Rebelo de Sousa afirma que
“tudo tem de ser apurado, doa a
quem doer”. A
Procuradoria-Geral da República
anuncia a abertura de uma
investigação, que fica a cargo da
Polícia Judiciária (PJ) com a
colaboração da PJ Militar (PJM).
18 de Outubro
A PJM anuncia que foi
encontrado o material de
guerra, com a colaboração da
GNR de Loulé, depois de uma
chamada anónima feita para o
piquete da PJM.
2018
22 de Março
O Ministério da Defesa envia ao
Parlamento o relatório do que
conseguiu apurar e remete para a
investigação criminal a “resposta
cabal” ao “quem, quando, porquê
e como” foi perpetrado o furto.
25 de Setembro
A PJ detém o director da PJM,
coronel Luís Vieira (que só será
libertado em Fevereiro de 2019),
mais sete pessoas, incluindo
outros três elementos da PJM, três
da GNR e um suspeito civil,
alegadamente autor do assalto. O
Ministério Público (MP) considera
existirem indícios de que os sete
militares detidos tentaram
impedir que fosse descoberta a
verdade sobre o
desaparecimento do armamento.
E que teria sido feito um acordo
com o alegado assaltante para
que este entregasse o material,
sendo-lhe garantida a liberdade.
1 de Outubro
É detido (e assim permanecerá
até Agosto de 2019) o
ex-porta-voz da PJM major Vasco
Brazão, que chega a Lisboa vindo
da República Centro-Africana,
onde se encontrava em missão.
Durante o interrogatório, terá
revelado que o Ministério da
Defesa fora informado, em
Novembro de 2017, de toda a
operação que tinha sido montada
para recuperar o material
roubado. Brazão e o antigo
director da PJM teriam entregado
ao então chefe de gabinete do
ministro da Defesa,
tenente-general Martins Pereira,
um memorando com os
pormenores. Nesse dia,
noticia-se, Martins Pereira terá
informado Azeredo Lopes por
telefone do encontro. O ministro
nega ter tido conhecimento do
memorando.
12 de Outubro
Azeredo Lopes demite-se do
Governo.
18 de Outubro
Marcelo Rebelo de Sousa exonera
Rovisco Duarte do cargo de chefe
do Estado-Maior do Exército a
pedido deste.
Novembro
Paulo Lemos, mais conhecido por
“Fechaduras”, é constituído
arguido. Foi a este homem que o
principal suspeito do assalto, o
ex-fuzileiro João Paulino, pediu
ajuda para abrir as portas dos
paióis de Tancos. Paulo Lemos
garante que não chegou a
participar na operação e fica em
liberdade. Entretanto, o inquérito
ao roubo e o inquérito ao
aparecimento do material militar
são juntos numa só investigação.
A 14 deste mês toma posse a
comissão parlamentar de
inquérito para apurar
responsabilidades políticas do
caso.
2019
7 de Maio
O primeiro-ministro afirma a sua
“convicção plena” de que
Azeredo Lopes só soube do
memorando da operação da PJM
no dia 12 de Outubro, antes de se
demitir.
14 de Junho
As audições da comissão
parlamentar de inquérito chegam
ao fim. PSD e CDS propõem
alterar o relatório preliminar e
responsabilizar o ex-ministro da
Defesa José Azeredo Lopes. O
relatório é aprovado dias depois
com os votos da esquerda sem
essas alterações.
26 de Setembro
Azeredo Lopes é acusado de
abuso de poder, denegação de
justiça e prevaricação e fica
proibido do exercício de funções.
O ex-director da PJM Luís Vieira é
acusado de associação
criminosa, tráfico e mediação de
armas, falsificação ou
contrafacção de documentos, de
denegação de justiça e
prevaricação e de favorecimento
pessoal praticado por
funcionário. O ex-porta-voz da
PJM Vasco Brazão é acusado de
associação criminosa, tráfico e
mediação de armas, falsificação
ou contrafacção de documentos,
denegação de justiça e
prevaricação e de favorecimento
pessoal praticado por
funcionário. O ex-militar João
Paulino, apontado como
presumível autor do furto de
armas, é acusado de seis crimes,
um dos quais terrorismo. O MP
acusa no total 23 arguidos, entre
os quais seis elementos da PJM e
seis militares da GNR. Azeredo
Lopes considera a acusação
“eminentemente política” e sem
provas e diz que vai pedir a
 Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 17

Sociedade

Nas alegações finais do porque nada

MP, o procurador
declarou que a única coisa
a fazer neste julgamento
seria isentar Azeredo
Lopes de uma condenação
na tinha a apontar para
uma qualquer
qualq responsabilidade cri-
minal do e ex-ministro. Por isso, esta é
uma vitóri
vitória. Com alegria? “A alegria
é muito rel
relativa”, diz Cruz Campos.
Quem, aoa longo dos últimos nove
meses, viu José Azeredo Lopes ao
lado de arg
arguidos com cadastro crimi-
nal — por assaltos,
a detenção ilegal de
armas ou tráÆco
t de droga — entende
“o peso” que
q terá sido para o ex-mi-
nistro e pr
professor universitário.
É o que nota outro dos advogados
dos 23 arg
arguidos deste processo de
Tancos
T ancos que não manifestam qualquer
surpresa p perante o pedido do MP
para o Trib
Tribunal de Santarém absolver
Azeredo L Lopes.
“A persistência”
persis
Es advo
Este advogado, Fernando Cabrita,
salienta “a persistência do ex-ministro
em manter-se
mant sentado, naquele
local”, um banco de réus que parti-
lhouu com assaltantes de armas e
“putativos elementos de uma asso-
“putativ
ciação criminosa”.
“É mu
muito pesado. Merecia pelo
menos um pedido de desculpas.
meno
Do Ministério
M Público, da Polícia
Judiciária”, acrescenta.
Judic
“A
“ minha única surpresa é
de o ter visto ali metido”, diz
o defensor de Bruno Ataíde, amigo do
autor do furto, João Paulino, e que
assumiu com os colegas da GNR o
compromisso de convencer este a
entregar o armamento roubado.
“As provas não existem em relação
a ele”, continua Cabrita. “É uma coisa
que não se faz a ninguém indepen-
dentemente de ser do PS ou do PSD.
Era preciso as instituições respeita-
rem os cidadãos como esperam que
os cidadãos as respeitem”, conclui.
Azeredo Lopes sabia de alguma
coisa, mas de nada com relevância
criminal, aÆrmou o magistrado nas
alegações. Não sabia por exemplo
que haveria um acordo com o assal-
tante João Paulino para entregar o
material — acordo esse que o procu-
rador disse não ter Æcado provado
“com segurança” mas ser plausível,
uma vez que Paulino pretendia Æcar
livre de uma investigação.
No meio do que pode ou não Aze-
redo Lopes ter sabido, existe pelo
menos um documento, alguns telefo-
nemas do então director da PJM,
coronel Luís Vieira e mensagens por
telemóvel para um deputado do PS.
Os telefonemas mais não seriam do
que contactos esporádicos e formais
para manter o ministro sensibilizado
para a PJM não ser afastada da inves-
tigação, declarou o arguido Luís Viei-
ra. O documento foi um papel com a
descrição do que fora feito para recu-
perar o armamento, através da ajuda
de um informador — que a PJM não
associava directamente ao roubo
como suspeito — mas expressamente
referindo que a devolução se faria
sem a Polícia Judiciária saber.
É esse papel que começa por trazer
o ministro para o processo — já depois
de declarações públicas erráticas e
vagas sobre a existência ou não de um
furto e antes de virem a público umas
mensagens (que estavam no proces-
so) que trocou com o deputado Tiago
Barbosa Ribeiro dizendo, satisfeito,
que a recuperação do material estava
para acontecer mas que sobre isso
não poderia dizer mais nada.
Joana Marques Vidal à data procu-
radora-geral da República notou, no
seu depoimento enquanto testemu-
nha no julgamento, que o então
ministro, no dia da descoberta do
armamento, estava eufórico e lhe fez
notar que a recuperação das granadas
e munições era uma boa notícia,
quando a própria via o feito como o
resultado de uma ilegalidade por não
ter sido informada da acção da PJM.
Desse telefonema a Marques Vidal
ao pedido de demissão passou um
ano; e desde então quase três anos.
Para a PJM, manter-se na investiga-
ção seria uma questão de sobrevivên-
cia face à perspectiva de uma reestru-
turação ou mesmo extinção, por
vontade de Joana Marques Vidal. E
também por isso havia interesse polí-
tico. Só assim se explica para os advo-
gados ouvidos pelo PÚBLICO que
tenha sido constituída uma comissão
parlamentar de inquérito sobre um
processo que estava em segredo de
justiça. “O visado era o ex-ministro”,
diz Luís Cruz Campos, que recorda
que a acusação foi saindo “aos pingui-
nhos na comunicação social” em ple-
na campanha para as legislativas de
2019. A comissão Parlamentar de
Inquérito constituiu-se a pedido do
CDS que agora diz que a sua observa-
ção “saiu reforçada”. Telmo Correia
recorda que o discurso do CDS “nun-
ca foi” a existência de um crime, mas
sim “a gravidade política” da situação.
“É crime? Não, mas politicamente foi
muito grave”, insiste. O CDS e o PSD,
defenderam na altura uma responsa-
bilização política do ex-ministro.
Contactados, os restantes partidos
com assento parlamentar e o gabine-
te do primeiro-ministro não comen-
taram a decisão do Ministério Públi-
co. com Liliana Borges

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abertura da instrução. sejam julgados pelos crimes

10 de Outubro
Azeredo Lopes critica o seu
“assassinato no espaço público”.
A procuradora-geral da
República garante à agência Lusa
que o MP “não se pauta por
critérios políticos” e que, no caso
da acusação do processo de
Tancos, foi simplesmente
cumprida a lei.
2020
8 Janeiro
Início da fase de instrução,
dirigida pelo juiz Carlos
Alexandre.
21 Abril
João Paulino assume ter
participado no furto do
armamento e afirma que dois
militares da GNR lhe disseram
que Azeredo Lopes estava
implicado na encenação da
recuperação do material furtado.
4 Maio
O MP pede que os 23 arguidos
pelos quais foram acusados.
2 de Novembro
Arranca o julgamento. Quinze
dias depois o ex-ministro negará
uma vez mais ter concordado
com o alegado plano dos
militares para recuperar
armamento roubado em troca da
impunidade dos ladrões.
26 de Novembro
No seu depoimento por escrito, o
primeiro-ministro diz acreditar
que Azeredo Lopes desconhecia
a alegada encenação na
recuperação das armas e a
investigação paralela da PJ Militar.
2021
13 de Abril
“Alguma vez lhe foi dito que o
ministro da Defesa sabia de
tudo?”, pergunta o juiz a Vasco
Brazão (na foto). “A ideia que ele
[o director-geral da PJM, coronel
Luís Vieira] me transmitia era que
[a operação] era acompanhada
ao mais alto nível. Mas este
acompanhamento era genérico e
não das diligências em si.”

6 de Julho
O MP pede a absolvição de 11
arguidos, entre os quais Azeredo
Lopes, e pede dez anos de prisão
para Paulino.
18 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Sociedade

Aulas presenciais vão continuar a ser

a principal aposta do próximo ano lectivo
Clara Viana
Muitas das medidas
excepcionais aplicadas
nas escolas no ano lectivo
de 2020/2021 vão
continuar em vigor
O regime presencial vai continuar a
ser a “regra” no próximo ano lectivo,
tendo o regime misto e não-presen-
cial um “carácter excepcional e tem-
porário”. É o que determina uma
resolução do Conselho de Ministros
aprovada a 17 de Junho, mas que só
foi divulgada ontem, através da sua
publicação em Diário da República.
Muitas das medidas excepcionais
adoptadas na organização de
2020/2021 vão ser, aliás, replicadas no
próximo ano lectivo, conforme se
pode depreender da resolução publi-
cada ontem. Esta é a decisão que apro-
va o novo plano de aprendizagens que
irá vigorar entre 2021-2023 (Plano
21|23 Escola Mais). E entre as medidas
que acompanham a sua publicação
Ægura a seguinte: “Determinar que se
mantêm em vigor, durante o ano lec-
tivo 2021/2022, com as necessárias
adaptações, os n.ºs 2, 4 a 19 inclusive
e 21 da resolução n.º 53-D/2020, de
20 de Julho”. Precisamente a que esta-
beleceu “medidas excepcionais e
temporárias para a organização do
ano lectivo 2020/2021, no âmbito da
pandemia da doença covid-19”.
Reconhece o executivo que, embo-
ra o regime presencial tenha coexis-
tido, com êxito, com a segunda vaga
da pandemia de covid-19, a terceira
vaga assumiu proporções que exigi-
ram a deÆnição de medidas mais res-
tritivas por parte do Governo, como
a suspensão das actividades educati-
vas e lectivas entre os dias 22 de Janei-
ro e 5 de Fevereiro de 2021, e a retoma
dessas actividades em regime não-
presencial, a partir do dia 8 de Feve-
reiro de 2021”. Esta situação prolon-
gou-se por mais de um mês em todas
as escolas e até ao Ænal do ano lectivo
marcou presença, com dezenas de
turmas enviadas para casa devido a
surtos de covid-19 nos estabelecimen-
tos de ensino.
A 4.ª vaga está agora aí, com o país
a aproximar-se dos quatro mil casos
diários, mas a aposta continuará a ser
a mesma: o ensino presencial como
regra. Quando tal não for possível
para todos, voltará a ser dada “prio-
ridade na frequência de aulas presen-
ciais aos alunos até ao Ænal do 2.º
ciclo e àqueles a quem não seja pos-
sível assegurar o acompanhamento
pelos professores quando se encon-
trem em regime não-presencial”.
As escolas devem também “prestar
um acompanhamento especíÆco às
crianças e jovens em risco ou perigo”,
que foram particularmente afectadas
com o fecho das escolas e o isolamen-
to ditado pela pandemia. Por outro
lado, deverão também manter-se as
novas regras de organização de espa-
ços no interior das escolas, de modo
a impedir ajuntamentos e assegurar
“o cumprimento das orientações das
autoridades de saúde”, o que passa
pela “atribuição, sempre que possí-
vel, de uma única sala ou espaço por
turma”. Igualmente poderá ser alar-
gado o horário de funcionamento das
escolas de modo a que a existência de
aulas seja compatível com as orienta-
ções das autoridades de saúde.
NUNO FERREIRA SANTOS
Goveno diz que horário de Sem réplica posterior Æcam as cin-
funcionamento das escolas co semanas que, no início do ano
poderá ser alargado lectivo anterior, foram dedicadas à
recuperação das aprendizagens. Em
vez desta intervenção pontual come-
çará a ser aplicado um novo plano de
aprendizagens para tentar fazer fren-
te ao que o Governo assume como um
dos maiores danos da pandemia,
“ainda por determinar na sua pleni-
tude”: o inÇigido aos alunos, “desi-
gnadamente ao nível dos custos no
processo de aprendizagem e no de-
[Escolas devem] senvolvimento psicopedagógico e
prestar um motor das crianças e jovens”.
O novo plano, apresentado a 1 de
acompanhamento Junho, também foi publicado ontem
especíÄco às em Diário da República e será Ænan-
ciado, na sua grande parte, por fundos
crianças e jovens comunitários. Serão alocados cerca
em risco ou perigo de 900 milhões de euros para a sua
aplicação, que contará com o reforço
Conselho de Ministros de 3300 professores para apoiar os
alunos com mais diÆculdades.
Prevê-se também a abertura de 50
novas salas da educação pré-escolar,
nos territórios onde não haja oferta
suÆciente para garantir o acesso mais
generalizado a partir dos três anos e
a integração no programa TEIP (Ter-
ritórios Educativos de Intervenção
Prioritária) das escolas com um ele-
vado número de alunos imigrantes.
Este programa prevê, entre outras
medidas, que as escolas tenham pos-
sibilidades de garantir mais recursos
humanos .
Por serem anos escolares onde se
têm revelado mais diÆculdades, o 1.º,
3.º, 5.º, 7.º e 10.º anos de escolarida-
de serão “merecedores de uma espe-
cial atenção”, com a promessa de
serem criados “roteiros de apoio”.
Depois das aulas através da televi-
são lançadas no primeiro ano da pan-
demia, será agora também desenvol-
vida “uma plataforma de livre acesso
[#EstudoEmCasa Apoia] para que os
alunos possam ver dúvidas frequentes
respondidas”, terem explicações
dadas “por especialistas em diferen-
tes áreas, fóruns e webinars para a
discussão em torno de questões recor-
rentes e sugestões que permitam o
acompanhamento pelas famílias”.
Fica também a promessa de que os
alunos do 1.º ano de escolaridade
“serão objecto de sinalização às equi-
pas de saúde local para rastreio visual
e auditivo, sempre que não os tenham
feito nas consultas regulares da medi-
cina familiar”, Isto porque é sabido
que existem diÆculdades na aprendi-
zagem de leitura que “decorrem de
problemas auditivos e/ou visuais que
não são detectados precocemente e
que só se manifestam quando já há
atrasos na aprendizagem”.

Calendário escolar de 2021/2022 prometido para esta semana

Clara Viana
Até amanhã deverá ser conhecido o
calendário escolar que estará em
vigor no próximo ano lectivo.
A garantia foi dada ao PÚBLICO
pelo Ministério da Educação: “É
publicado esta semana em Diário da
República”.
No ano passado, já sob os efeitos
da pandemia, tal aconteceu a 3 de
Julho. Este calendário acabou por
ser alterado em Fevereiro devido ao
agravamento da situação sanitária
e ao encerramento das escolas por
vários dias.
Ficou-se então a saber, por exem-
plo, que o 3.º período iria durar
mais cinco dias do que o previsto
para os alunos do pré-escolar e do
1.º e 2.º ciclos, que só hoje termina-
rão as aulas.
Uma das novidades já anunciadas,
pelo Governo, para o próximo
calendário escolar, será a inclusão
da possibilidade de as escolas orga-
nizarem as aulas por semestres,
desde que os estabelecimentos
escolares pertençam ao mesmo
município, como já acontece, por
exemplo, em Almada, Odivelas e
Amadora.
Em comunicado, divulgado
ontem, a Federação Nacional de Pro-
fessores (Fenprof ) alertou para o
“atraso” na publicação do calendário
escolar e de outros instrumentos de
organização das escolas. “Para um
ano lectivo que será excepcional,
como o de 2021-2022, exigem-se nor-
mas excepcionais e atempadamente
divulgadas sobre calendário escolar,
constituição de turmas, organização
Ministério da
Educação
garante que o
calendário
escolar será
revelado até
amanhã
do ano lectivo (OAL) e, ainda, segu-
rança sanitária. Só que em 7 de Julho
[ontem] ainda nada se conhece”,
escreve a organização liderada por
Mário Nogueira.
Nesta mesma nota, a Fenprof
lamenta também que o Ministério
da Educação não tenha optado
por “normas de carácter excepcio-
nal” para aplicar o novo plano de
recuperação de aprendizagens. Ten-
do, pelo contrário, ignorado “as
propostas que foram apresentadas
por praticamente todos aqueles
que foram consultados, como a
redução do número máximo de alu-
nos por turma ou o reforço do cré-
dito de horas das escolas”, através
do qual estas poderão contratar
mais docentes.
“Em reuniões que têm decorrido
entre responsáveis do ME e direcções
de escolas, quando são colocadas
questões concretas sobre a redução
do número de alunos por turma,
reforço de apoios, reforço do crédito
horário, reforço do número de docen-
tes, a resposta é, invariavelmente, no
sentido de as escolas apresentarem
projectos que serão apreciados para
decisão”, adianta a Fenprof, para fri-
sar de seguida que os estabelecimen-
tos escolares “não podem viver de
decisões casuísticas”.
 Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 19

Projecto tenta mostrar o que o teatro pode fazer pela integração social Local

O projecto tem contribuído para a integração dos alunos estrangeiros

Nestas aulas de teatro, os alunos

podem ser aquilo que quiserem
O projecto Presente! leva oÄcinas de teatro a seis escolas de Lisboa, onde há muito insucesso escolar. Guiados
por artistas do Teatro Nacional D. Maria II, tenta-se mostrar aos alunos que a escola pode ser mais que as aulas
Cristiana Faria Moreira texto
Rui Gaudêncio fotografia
Ronika começa baixinho a soprar
umas palavras, que dali a uns minutos
se haviam de transformar em música.
AÆnal, ao contrário do habitual, hoje
a aula tem a assistência de uns estra-
nhos que ali resolveram aparecer
para perceber o que ali se passa.
Começa timidamente, mas prossegue
a cantoria, andando entre os colegas
estendidos no chão do ginásio da
Escola Básica 2, 3 das Olaias.
Ronika tem 12 anos e está a termi-
nar o 5.º ano. É nepalesa, assim como
grande parte dos colegas que tem
deitados aos seus pés. Para ela, a
quinta-feira é o melhor dia da sema-
na. “Eu adoro estar na escola. Espe-
cialmente às quintas, porque posso
vir para estas aulas de teatro”, diz a
aluna, chegada a Portugal há dois
anos, com os pais.
Ela gosta destas aulas porque ali
pode ser e fazer o que quiser. “Pode-
mos brincar com os nossos amigos. A
professora deixa-nos cantar, dançar.
Ajuda-nos quando estamos a discutir
uns com os outros”, conta Ronika,
num inglês impecável.
AÆnal, que projecto é este? Deram-
-lhe o nome de Presente! e é uma
parceria da Câmara de Lisboa com
artistas do Teatro Nacional D. Maria
II que levam o teatro às escolas onde
existe mais exclusão social e abando-
no escolar. No fundo, é tornar o tea-
tro numa razão para ir à escola.
Quando todos se levantam, partem
para um novo exercício. “Escolham
um par para fazerem o exercício do
espelho”, diz-lhes Teresa Sobral, a
artista que tem a missão de os pôr a
brincar, a pensar e a falar, e com isso
mostrar-lhes que a escola pode ser
um local bom, de onde não devem
desistir. Eles levantam-se, escolhem
o parceiro. O desaÆo é seguirem os
movimentos, como se estivessem
reÇectidos no outro. Num lugar onde
a comunicação verbal nem sempre é
fácil — grande parte dos alunos é
nepalesa, falando apenas inglês ou a
língua materna, havendo ainda por-
tugueses e brasileiros — é o corpo que
lhes mostra caminhos.
“Falam línguas muito diferentes.
Não entendem nada do que estão a
dizer e, no entanto, estão a contrace-
nar”, repara Teresa Sobral. É por isso
que naquela hora e meia semanal, a
actriz tenta mostrar-lhes que eles são
livres de serem o que quiserem.
“Quando venho para esta aula, a
minha vontade é proporcionar-lhes
a maior felicidade que possam ter.
Aproveitando os exercícios de teatro,
de dança e de ioga, conseguir que
eles estejam a brincar. Eles precisam
muito de brincar uns com os outros.
Como eu tenho brasileiros, nepale-
ses e portugueses, é conseguir que
eles se entendam através de uma
linguagem corporal”, continua a
artista.
A primeira coisa que Teresa fez foi
aprender os nomes deles. Gravou-os
a dizerem o seu nome, para que
pudesse depois pronunciá-los da for-
ma mais correcta. “É horrível estar-
mos a chamar-lhes outra coisa que
não é o nome deles.”
Depois, fê-los libertarem-se. Fê-los
ensinar uma dança típica do seu país
para que todos pudessem Æcar a
conhecer um bocadinho das culturas
uns dos outros. Nem sempre foi fácil.
“Havia muita vergonha, alguma diÆ#
culdade de se exporem. Via-se no
olhar o receio de serem julgados.”
Colar os miúdos à escola
Este ano lectivo estiveram envolvi-
dos no Presente! cerca de 80 alu- c
20 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Local Projecto tenta mostrar o que o teatro pode fazer pela integração social
nos, do 5.º e 6.º ano, de seis escolas
identiÆcadas pelo município como
tendo níveis preocupantes de insu-
cesso escolar. Segundo os dados do
portal Infoescolas, do Ministério da
Educação, a taxa de retenção ou
desistência dos alunos do 6.º ano da
Escola Básica das Olaias, no ano lec-
tivo de 2018/2019 (o último para o
qual há dados), era de 15%, contra os
4% registados a nível nacional.
“IdentiÆcámos o 2.º ciclo como
fundamental para o sucesso escolar.
Se os alunos não foram apoiados no
2.º ciclo é onde perdem o comboio
do sucesso escolar. É um ciclo funda-
mental para intervir”, por vezes
esquecido no sistema educativo por-
tuguês, considera o vereador da Edu-
cação, Manuel Grilo, que também é
professor, frisando que este é um pro-
jecto integrado no Programa Munici-
pal de Prevenção e Combate ao Insu-
cesso Escolar Precoce.
O objectivo é, por isso, dar-lhes
outra percepção da escola, mostrar-
lhes que podem ter mais possibili-
dades. “A ideia é criar uma relação
com a própria escola, desbloquear
a gestão das emoções e das capaci-
dades de relacionamento, tanto dos
alunos como das famílias.” Embora
rejeite uma relação causa-efeito,
Manuel Grilo reconhece que estas
são escolas em zonas da cidade
onde há mais carências sócio-eco-
nómicas.
São miúdos que não têm uma vida
fácil. Os pais chegaram a Portugal à
procura de trabalho. Muito Æcou na
terra de origem. É por isso que quan-
do Teresa os põe a falar, as conversas
vão inevitavelmente ter aos avós que
Æcaram para trás. “Eles Æcam com os
olhos cheios de lágrimas. Houve aqui
uns pequeninos que começaram a
chorar quando começamos a falar da
pobreza e dos avós que Æcaram no
Obras urgentes
Na Escola Básica 2,3 das Olaias, a degradação está por toda a parte
João Pedro Pincha
Susana Santos sabe que já não vai
ser ela a usufruir das melhorias por
que agora luta. Só lhe falta um ano
para abandonar a Escola Básica 2,3
das Olaias, em Lisboa, e adivinha-se
trabalho de monta. “A escola está
em grande estado de degradação”,
resume, num encontro com mora-
dores de Marvila onde foi recolher
assinaturas para pedir obras no
estabelecimento.
Em dois dias, apenas com a cola-
boração dos colegas da sua turma
do 8.º ano, convenceram 180 pes-
soas dentro e fora da escola a aderir
ao abaixo-assinado. Vai desÆando as
misérias: “Não temos estores, não
temos cortinas. Há salas que não
No ginásio está um grande cartaz
onde os alunos apontaram
os temas que os preocupam
Nepal. E que os pais estão a trabalhar
muito para ver se conseguem trazer
os avós.”
Nestas aulas, alunos e professora
juntam-se para falar sobre algumas
questões com que se confrontam no
dia-a-dia. “Estivemos a falar aberta-
mente e eles estavam envergonhados
de falar sobre alguns temas. Eu até
lhes disse que a pobreza não era ver-
gonha”, diz a artista.
Alguns alunos, diz Teresa, “vivem
em prédios onde deveria ser proibi-
do viver”. Ela sabe-o porque quando
o conÆnamento começou foi a casa
deles distribuir uns sacos com carto-
linas, lápis de cor, que o Teatro
Nacional providenciou para que ter-
têm pavimento nenhum. Chove
dentro do ginásio.”
Em conversa com o PÚBLICO ocor-
rem-lhe ainda mais problemas. “Às
vezes há ratos a passar de um lado
para o outro”, descreve. As salas de
aula não têm aquecimento, há toma-
das avariadas com os Æos eléctricos
expostos, os campos de desporto no
exterior não têm iluminação, os telha-
dos têm amianto. Fátima Monteiro,
funcionária do bar, também tem algo
a dizer. “Os pavilhões estão mesmo
uma miséria. Vidros partidos, estores
partidos, a máquina de lavar louça
não funciona e a arca não refresca.”
Conclui Susana: “É um bocadinho
injusto não termos as mesmas condi-
ções de colegas de outras escolas.”
A degradação da EB 2,3 das Olaias
minassem trabalhos que já tinham
começado.
No espelho do ginásio está colado
um grande cartaz, onde se juntam as
bandeiras do Brasil, do Nepal e de
Portugal, no qual os alunos aponta-
ram temas que os preocupam. Ana
Beatriz, de 11 anos, que descobriu
nestas aulas que gostava de ser actriz
(mas também juíza para “acabar com
as injustiças do mundo”), escolheu
“acabar com a poluição”. Já Ivanilda,
de 12, escolheu o racismo “porque
ainda existe muito”. Estão lá gravados
também a injustiça com os pobres, o
ódio aos asiáticos, o bullying.
As histórias que vão contando
impressionam. “Há uma miúda que
me disse que há imensa malta portu-
guesa que a insulta, que pensam que
ela é chinesa, dizendo que a culpa do
coronavírus é dela. Pelo facto de
não é novidade. Muito recentemen-
te, já depois de uma concentração
no ano passado, o Sindicato Nacio-
nal dos ProÆssionais da Educação
(SINAPE) lançou um alerta sobre a
situação a que a escola chegou,
reclamando à Câmara de Lisboa
uma intervenção urgente.
Esta foi uma das escolas do segun-
do e terceiro ciclos que passaram
para a gestão do município na
sequência do processo de descen-
tralização de competências. Fernan-
do Medina prometeu que elas
teriam obras, à semelhança do que
aconteceu com as escolas primárias,
porque nelas havia “necessidades
muito signiÆcativas”. O Laboratório
Nacional de Engenharia Civil elabo-
rou um relatório sobre o estado de
serem imigrantes sentem algum racis-
mo lá fora”, conta Teresa Sobral.
“Acho que são felizes aqui”
O professor Paulo Franco, que coor-
dena a actividade na escola, não tem
ainda noção do impacto que estas
aulas terão no aproveitamento esco-
lar. Em relação aos que participaram
no ano passado, diz, todos transita-
ram. “Há alunos que viram os seus
resultados melhorar porque se inte-
ressam mais pela escola. Estes miú-
dos estão empenhados. Está a ser um
projecto muito interessante.”
Além disso, reconhece, tem contri-
buído para a integração dos alunos
estrangeiros. “Estes alunos estão
supervivos, supercomunicativos.” Há
uns anos a comunidade imigrante
Æcava muito fechada entre si, conta o
professor, que foi durante vários anos
conservação dos estabelecimentos,
a câmara lançou empreitadas, mas
há poucas semanas o Tribunal de
Contas rejeitou dar o visto prévio
aos contratos.
O vereador da Educação visitou a
escola recentemente e diz ter veriÆ#
cado “um estado de degradação que
não podemos admitir”. Porém, de
acordo com Manuel Grilo (BE),
“grandes obras de manutenção con-
tinuam sob a alçada do Ministério
Escola necessita
de obras de
requalificação
profunda que o
município diz que
é o Governo que
tem de assumir
o responsável por ensinar português
língua não materna numa escola onde
há mais de uma dezena de nacionali-
dades. Por isso, sabe bem a diÆculda-
de que os professores têm em acom-
panharem estes alunos, em perceber
como lhes podem ensinar. Ronika
reconhece essas diÆculdades. “Há
algumas palavras difíceis em portu-
guês que não entendemos”, diz. Entre
colegas, vão tentando explicar as coi-
sas uns aos outros.
No início do ano, recorda Paulo
Franco, só estavam oito alunos inscri-
tos, quatro que vinham do ano ante-
rior. “Depois apareceram mais três
miúdos do Nepal. E uma semana
depois havia uma série de miúdos
inscritos. Foi um passa-a-palavra”,
diz. “Este é um grupo assíduo e par-
ticipativo. Vamos ver os resultados.”
Para lá dos resultados académicos,
Teresa Sobral nota já diferenças.
“Noto uma evolução neles do ponto
de vista humano, que é o que me inte-
ressa”, observa a artista.
Nesta oÆcina de teatro, eles sabem
que “a única coisa em que não podem
pisar o risco é no respeito pelo outro”.
Eles sentem essa liberdade. É pelo
menos isso que diz Tiago, 11 anos, que
anda no 6.º ano. “Eu aqui mexo-me
muito quando estou a fazer exercício.
E isso permite-me activar o corpo.
Aqui sinto-me mais aliviado. Os cole-
gas [os da turma, não os dali] stres-
sam. São difíceis com os professores
e prejudicam a aula um bocado.”
Neste ginásio das Olaias, numa
escola onde a degradação está por
todo o lado, eles continuam a correr
livres, a atirar-se para o chão, a per-
der-se de riso quando um colega os
apanha a quebrar no jogo da estátua.
Sem discussões. Para o próximo ano
lectivo, Teresa Sobral gostaria de ver
o projecto seguir. “Acho que eles são
felizes aqui.”
da Educação” e “as escolas dispõem
de uma verba anual de 20 mil euros”
para conservação corrente.
No entanto, ao PÚBLICO, o Minis-
tério da Educação frisa que esta é
uma competência dos municípios,
mas que “mobilizará as fontes de
Ænanciamento disponíveis” para
“coadjuvar o esforço e o trabalho
dos executivos municipais”.
Assim sendo, o ministério de
Tiago Brandão Rodrigues esclarece
que a Escola Básica das Olaias
“integra a lista de escolas prioritá-
rias para requaliÆcação e moderni-
zação”, pelo que “terá prioridade
sobre aquelas que não tenham
esta indicação”. No entanto, não
avança qualquer data para obras
nesta escola.
 Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 21

Bruxelas pressiona para correcção da lei anti-LGBTQ+ Mundo

UE avisa a
PATRICK HERTZOG/REUTERS

Hungria de que
usará todos os
instrumentos
Comissão enumera os artigos que a nova
lei viola. Eurodeputados defendem
a suspensão de fundos para Orbán
Sofia Lorena
Perante os aplausos dos eurodeputa-
dos, a presidente da Comissão Euro-
peia, Ursula von der Leyen, reiterou
que a legislação húngara que discri-
mina a população LGBTQ+ é uma
“vergonha”, garantindo que, se o
Governo de Viktor Orbán não recuar,
serão usados “todos os instrumentos
disponíveis” e “todos os poderes ao
alcance [da Comissão], enquanto
guardiã dos tratados”, para defender
os “princípios fundamentais euro-
peus”. No plenário de Estrasburgo,
que debateu o último Conselho Euro-
peu, marcado por um choque frontal
com Orbán, a vice-presidente Vera
Jourová especiÆcou as leis e regras da
União que a lei húngara infringe.
Ao proibir a “representação e pro-
moção de uma identidade de género
diferente do sexo à nascença, da
mudança de sexo e da homossexua-
lidade” a menores de 18 anos, esta lei
“viola a proibição de discriminação
com base no sexo e na orientação
sexual consagrada no artigo 21.º da
Carta” de Direitos Fundamentais da
UE, ao mesmo tempo que “nega às
pessoas o direito à sua liberdade de
expressão”, o direito “à liberdade de
opinião e a liberdade de receber ou
transmitir informações ou ideias”,
aÆrmou Jourová, que tem a pasta dos
“levanta questões sobre a concretiza-
ção do orçamento da UE na Hungria”,
sublinhou Jourová, lembrando em
particular que “os fundos com gestão
partilhada” têm de ser usados “no
respeito” pela Carta de Direitos e que
a Comissão tem a responsabilidade
de “impedir quaisquer formas de dis-
criminação” na execução do conjun-
to do orçamento comunitário.
Os chefes de Estado e de governo
deixaram “muito claro” durante o
Conselho Europeu de 24 de Junho
que apoiam a Comissão nas medidas
que esta quiser tomar, aÆrmou Von
der Leyen. “Quero ser clara: nós
podemos usar estes poderes, inde-
pendentemente do Estado-membro
que estiver a violar a legislação euro-
peia. Desde o início do meu mandato,
lançámos 40 procedimentos de
infracção ligados à protecção do Esta-
do de direito e de outros valores da
UE. Caso seja necessário, seguir-se-ão
outros procedimentos”, assegurou.
Os membros do Parlamento Euro-
peu ouviram e aplaudiram, um dia Von der Leyen disse ontem no
antes de votarem uma resolução de Parlamento Europeu que a lei
condenação da lei húngara, em que húngara é uma “vergonha”
pedem à Comissão para lançar um
processo de infracção por discrimi-
nação contra a Hungria (processo fundos europeus. Agora, os eurode-
esse que a Comissão iniciou com o
pedido de esclarecimentos que seguiu
CE não suspendeu avaliação do plano húngaro putados baseiam-se num relatório de
três académicos em que se conclui
para Budapeste antes de a lei ser pro- que a Comissão tem uma justiÆcação

Valores e Transparência.
Na carta enviada pela Comissão ao
executivo de Budapeste a pedir escla-
recimentos, disse a ex-comissária da
Justiça, também se sublinha que a lei,
entretanto promulgada, “violaria a lei
da UE, incluindo a directiva dos Ser-
viços de Comunicação Social e Audio-
visual” e que algumas da suas “provi-
sões” “violariam com grande proba-
bilidade a directiva sobre o comércio
electrónico”. A avaliação da Comissão
indica ainda que a polémica lei pode
limitar o Tratado sobre o Funciona-
mento da UE no que respeita à “livre
circulação de bens e serviços”, que
são “liberdades fundamentais”.
Para além de violar tratados, direc-
tivas e a Carta de Direitos, o texto
mulgada, tentando evitar que chegas-
se a acontecer). Mas alguns exigiram
mais. “Por favor, mostre-nos acções.
Eu sei que vocês propõem muita coi-
sa, mas há um momento em que
temos de agir”, pediu a Von der Leyen
o co-presidente dos Verdes europeus,
o belga Philippe Lamberts.
E, no mesmo dia em que a Comis-
são desmentiu que o processo de
avaliação do Plano de Recuperação e
Resiliência da Hungria esteja suspen-
so, os eurodeputados da Comissão de
Controlo Orçamental pediam que
fossem congelados os fundos da
União para o país.
Muito antes desta lei, já muitos na
UE estavam alarmados com a forma
como o Governo de Órbán gasta os
A
Comissão Europeia negou
ontem que tenha
suspendido a avaliação do
Plano de Recuperação e
Resiliência entregue pela
Hungria, por causa da
aprovação da lei. “O processo
não foi suspenso. A avaliação
está em curso e ficará completa
a 12 de Julho. Até lá, os
contactos com as autoridades
húngaras prosseguem”,
informou a porta-voz da
Comissão para as matérias
económico-financeiras, Marta
Wieczorek.
A responsável recusou fazer
qualquer comentário sobre o
processo de avaliação, excepto
para desmentir a informação
que circulava no Parlamento
Europeu em Estrasburgo relativa
à suspensão do processo, e
também para recordar que
compete aos técnicos do
executivo verificar se os planos
nacionais submetidos pelos
Estados-membros cumprem os
11 critérios definidos no
regulamento do Mecanismo de
Recuperação e Resiliência,
respeitam o guião das
recomendações específicas por
país do Semestre Europeu e
incluem garantias de controlo e
auditoria das verbas. R.S.
legal para accionar o mecanismo de
Estado de direito e suspender os paga-
mentos. “A falta de uma gestão trans-
parente dos fundos da UE, a falta de
um Ministério Público nacional eÆcaz
e a falta de garantias de independên-
cia judicial mostram que a Hungria já
violou Çagrantemente os princípios
básicos do Estado de direito”, lê-se.
“Queremos o restabelecimento do
Estado de direito [na Hungria]”, disse
ao The Guardian o eurodeputado ale-
mão Daniel Freund, que é membro
da comissão orçamental e encomen-
dou o relatório. Caberia à Comissão
decidir que fundos congelar, de forma
“a punir o Governo” e a proteger os
húngaros, disse, admitindo que a
escolha não seria fácil.
22 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Mundo
Na cimeira de Junho, Biden entregou a Putin uma lista com 16 áreas que os EUA entendem ser intocáveis na ciberguerra entre os dois países
Novo ciberataque nos EUA testa
avisos de Joe Biden à Rússia
Alexandre Martins
Empresa que trabalha
com o Partido Republicano
foi atacada por grupo
de piratas informáticos
com ligações a Moscovo
Três semanas depois de o Presiden-
te dos EUA, Joe Biden, ter traçado
uma linha vermelha para a Rússia
não pisar nos seus ciberataques, um
grupo com ligações ao Kremlin
entrou nos sistemas de uma empre-
sa que gere os computadores do
Partido Republicano. É o segundo
ataque, em poucos dias, de grupos
russos contra alvos norte-america-
nos.
O comité nacional do Partido
Republicano disse que fez uma aná-
lise em conjunto com a Microsoft e
constatou que o ataque não afectou
os seus servidores.
Mas não é certo que o ataque do
grupo Cozy Bear — implicado pelos
serviços secretos dos EUA no roubo
de emails do Partido Democrata em
2016, sob as ordens do Kremlin —
tivesse como alvo os republicanos.
À semelhança de um outro ataque,
em 2020, contra a empresa de
s o f t w a re n o r t e - a m e r i c a n a
SolarWinds — que abriu as portas de
centenas de empresas e nove agên-
cias do Governo dos EUA —, a mais
recente operação foi direccionada à
Synnex Corp., empresa que presta
serviços ao Partido Republicano.
Este tipo de ataque — contra uma
empresa de venda de software e ser-
viços de gestão, que depois infecta
os seus clientes, de forma inadverti-
da, através de actualizações de pro-
gramas — é soÆsticado e recente. E
pode multiplicar os danos potenciais
de um ataque dirigido a uma grande
empresa.
Para além da maior disseminação,
a técnica permite que os atacantes
apontem baterias a empresas peque-
nas e com menos capacidade de
defesa do que gigantes como a Micro-
soft, ou os maiores departamentos
do Governo dos EUA.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri
Peskov, negou o envolvimento russo
no ataque, que foi identiÆcado na
semana passada, mas só foi divulga-
do na terça-feira, pela Boomberg.
“A única coisa que podemos dizer
Trump: “Hitler fez
muitas coisas boas”
N
uma visita a Paris para os
100 anos do fim da I
Guerra Mundial, em 2018,
Donald Trump disse ao
seu chefe de gabinete da
altura, o general John Kelly,
que “Adolf Hitler fez muitas
coisas boas”. O episódio é
contado num livro do
jornalista Michael Bender, do
Wall Street Journal, à venda na
próxima semana. Kelly
“lembrou que países estiveram
nos dois lados do conflito” e
“referiu as atrocidades
cometidas por Hitler”.
Trump elogiou a economia
na Alemanha nazi na década
ntrariou o, e
de 1930. “Kelly contrariou-o,
disse que o povo alemão
teria ficado melhoror na
pobreza do que
submetido ao
genocídio nazi”,
diz Bender.
SHAWN THEW/EPA
é que nada do que tenha acontecido
— e nós não sabemos especiÆcamen-
te o que aconteceu — tem ligação a
Moscovo”, disse Peskov.
A 16 de Junho, Joe Biden e Vladi-
mir Putin encontraram-se em Gene-
bra, na Suíça, a pedido do Presiden-
te dos EUA. No Ænal do encontro,
Biden disse que entregou a Putin
uma lista com 16 áreas que os EUA
entendem ser intocáveis na ciber-
guerra entre os dois países. “Se vio-
larem estas regras, vamos respon-
der”, disse Biden, admitindo que a
resposta pode incluir ataques infor-
máticos contra áreas importantes
na Rússia.
“Biden fez bem em traçar uma
linha vermelha. Mas quando se é um
bandido, a primeira coisa que se faz
é pôr à prova a linha vermelha”, dis-
se James A. Lewis, especialista em
cibersegurança no Centro de Estu-
dos Estratégicos
Estrr e Internacionais,
citado p
pelo New York Times.
O ataa
ataque aconteceu ao mesmo
tempoo de um outro, reivindicado
g
pelo grupo russo REvil, que usou
a mesma técnica para infectar
a empresa de software Kaseya,
ccom sede em Miami.
Violência armada
Governador
de Nova Iorque
declara
emergência
O governador do estado de Nova
Iorque, Andrew Cuomo, declarou a
violência armada como uma emer-
gência, prometendo destinar rapi-
damente fundos e outros recursos
para combater um problema que
classiÆcou como uma “epidemia”.
“Se somos capazes de vencer o
coronavírus, também somos capa-
zes de vencer a violência armada”,
disse Andrew Cuomo numa confe-
rência de imprensa na terça-feira.
“Estamos perante uma nova epide-
mia que também é uma questão de
vida ou morte”, acrescentou o
governador.
O anúncio de Cuomo vem no
seguimento de um fim-de-semana
particularmente violento, que coin-
cidiu com as celebrações do feriado
de 4 de Julho, no qual morreram
pelo menos 150 pessoas em mais de
400 tiroteios registados nos Estados
Unidos.
No caso do estado de Nova Ior-
que, onde os índices de violência
armada aumentaram para níveis
nunca vistos desde há vários anos,
26 pessoas morreram em 21 tiroteios
entre sexta-feira e domingo passa-
do. O número, porém, é inferior ao
apurado no mesmo período de
2020, quando 30 pessoas morreram
em 25 tiroteios, segundo dados do
Departamento de Polícia nova-ior-
quino compilados pela CNN.
O plano de Andrew Cuomo para
enfrentar a emergência, no valor de
139 milhões de dólares (117 milhões
de euros) inclui o cruzamento de
dados entre as várias forças policiais
do estado e o mapeamento dos
locais onde ocorrem os tiroteios,
para além da inibição do acesso a
armas de fogo a pessoas considera-
das como de risco.
Metade do valor dos fundos alo-
cados pelo governador destina-se à
criação de 21 mil empregos, com o
objectivo de tirar das ruas os jovens
em situação de exclusão e risco
extremo, já que a maioria dos inci-
dentes com armas de fogo está liga-
da à actividade de gangs crimino-
sos.
Após o aumento dos tiroteios nos
Estados Unidos nos últimos meses,
o Presidente Joe Biden anunciou
uma série de medidas destinadas a
reduzir a violência com armas de
fogo, nomeadamente um controlo
mais apertado da venda de armas
sem número de série ou sem iden-
tiÆcação, uma promessa feita duran-
te a campanha eleitoral para as pre-
sidenciais de 2020.
 Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 23

Mundo

Presidente do Haiti assassinado Bolsonaro

em casa por grupo armado
Sofia Lorena
Jovenel Moïse foi morto
num ataque durante a
noite. Primeiro-ministro
diz que está assegurada a
“continuidade do Estado”
O Presidente do Haiti, Jovenel Moïse,
foi assassinado durante a noite de
quarta-feira por um grupo armado na
sua residência privada. Os atacantes,
alguns dos quais serão estrangeiros,
deixaram ainda gravemente ferida a
primeira-dama, Martine Moïse.
Em declarações a uma rádio local,
o primeiro-ministro interino, Claude
Joseph, disse que o ataque foi levado
a acabo por um “comando armado”
que incluía estrangeiros — alguns
vídeos divulgados nas redes sociais
mostram os atacantes e é possível
ouvi-los a falar espanhol; numa das
gravações, partilhada pelo jornal
Miami Herald, um dos homens
armados identiÆca o grupo como
enviado pela DEA, o departamento
de combate ao tráÆco de drogas nor-
te-americano, e fá-lo em inglês.
“Eram mercenários”, aÆrma um
alto responsável do Governo, citado
pelo jornal britânico The Guardian.
Residentes ouvidos pelo diário
dizem ter ouvido disparos e visto
homens vestidos de negro a correr
pela vizinhança. Jovenel Moïse vivia
em Pelerin 5, um bairro de Pétion-
ville, subúrbio abastado de Port-au-
Prince considerado seguro.
Descrevendo o homicídio como
um “acto odioso, desumano e bárba-
ro”, Claude Joseph apelou à calma da
população e aÆrmou que a segurança
do país está garantida e que foram
tomadas todas as medidas para asse-
gurar a “continuidade do Estado”.
Missão da OEA
“É um crime horrível”, reagiu Jen
Psaki, porta-voz da Casa Branca.
“Estamos prontos e ao lado [do Haiti]
para fornecer qualquer assistência
que seja necessária.” O Presidente
colombiano, Iván Duque, pediu
entretanto à Organização dos Estados
Americanos (OEA) para enviar
uma missão urgente e assim “prote-
ger a ordem democrática no Haiti”.
Jovenel Moïse governava o Haiti por decreto desde Janeiro de 2020
Claude Joseph está na cheÆa do
Governo desde Abril, quando subs-
tituiu o primeiro-ministro Joseph
Jouthe, que apresentou subitamen-
te a sua demissão. Mas o Presidente
É um crime nomeara o seu substituto na segun-
da-feira, o cirurgião Ariel Henry de
horrível. 71 anos, que anunciou como priori-
Estamos prontos dade para os próximos meses a pre-
paração das eleições.
e ao lado [do Haiti] Embora Henry, o sétimo primei-
para fornecer ro-ministro de Moïse, seja próximo
da oposição, a maior parte dos par-
qualquer tidos que se opunham ao Presiden-
assistência que te rejeitaram a sua nomeação e con-
tinuaram a exigir a saída do chefe de
seja necessária Estado, que acusam de querer ins-
Jen Psaki talar uma ditadura, prolongar ilegal-
Porta-voz da Casa Branca mente o seu mandato e assumir
ORLANDO BARRÍA/EPA
políticas cada vez mais autoritárias,
o que este sempre desmentiu.
Este ataque ocorre no meio de uma
vaga de violência na empobrecida
nação das Caraíbas, a braços com
uma crise profunda exacerbada pela
pandemia de covid-19. Com o país
politicamente dividido e a enfrentar
uma escassez de alimentos, teme-se
a desordem generalizada. As tensões
políticas têm sido acompanhadas de
batalhas entre gangs e entre estes e a
polícia pelo controlo das ruas da capi-
tal, Port-au-Prince.
Moïse, eleito com 600 mil votos
num país de onze milhões — numa
votação anulada por fraude, em 2016,
antes de ser reeleito um ano mais tar-
de —, governava por decreto desde
Janeiro do ano passado, altura em que
dissolveu o Parlamento.
vai nomear
ex-ministro
para o STF
André Mendonça é pastor
presbiteriano e permitiria
cumprir a promessa
de escolher alguém
“terrivelmente evangélico”
O Presidente do Brasil, Jair Bolsona-
ro, aÆrmou numa reunião de minis-
tros do Governo que pretende
nomear o seu ex-ministro da Justiça
e actual advogado geral da União,
André Mendonça, para o Supremo
Tribunal Federal (STF).
Mesmo não tendo sido anunciado
ainda oÆcialmente, um assessor de
Bolsonaro conÆrmou ao site de notí-
cias G1 que essa intenção existe e
que a sua indicação deverá ser feita
antes do juiz Marco Aurélio Mello se
reformar no dia 12 de Julho.
Com esta nomeação, Bolsonaro
cumpre a promessa que tinha feito de
que iria nomear alguém “terrivelmen-
te evangélico” para a mais alta instân-
cia judicial brasileira. André Mendon-
ça, foi criado numa família devota e é
pastor presbiteriano, além de se ter
mostrado até agora um aliado incon-
dicional do Presidente.
Mendonça goza de boa reputação
entre os membros do STF, o que
deixa antever que a sua escolha não
será mal-encarada pelos outros juí-
zes (ministros), no entanto, é pro-
vável que seja confrontado com
alguns entraves no Senado brasilei-
ro, já que são os senadores quem
debate e aprova a nomeação.
Sobretudo, como escreve Bruno
Boghossian na Folha de S. Paulo,
“a preferência por um personagem

Parlamento sueco encarrega primeiro-ministro como André Mendonça indica

Stefan Löfven de formar novo governo
O Parlamento sueco encarregou
ontem Stefan Löfven, cujo governo
tinha derrubado a 21 de Junho, de
voltar a formar governo, no que pode-
rá marcar o Æm de semanas de turbu-
lência política no país.
Ainda não é totalmente certo que
o dirigente de centro-esquerda se
mantenha no cargo, porque precisa
de apoio suÆciente para fazer aprovar
um orçamento, e já disse que se demi-
te se não o conseguir. Muitos comen-
tadores notam, no entanto, que o
antigo dirigente sindical é um bom
negociador e que há boas hipóteses
para aprovar o orçamento.
Stefan Löfven, 63 anos, liderava
um governo de centro-esquerda
após uma eleição (em 2018) que dei-
xou o Parlamento praticamente
dividido e em que a extrema-direita
teve grandes ganhos.
Löfven precisava de evitar que
uma maioria dos 349 deputados
votassem contra si. Conseguiu-o por
dois votos, um deles da oposição.
“Por agora, a crise do governo aca-
bou”, disse Jonas Hinnfors, professor
de Ciência Política da Universidade
de Gotemburgo. “A oposição pode
sentir-se fortalecida por ter consegui-
do mostrar como é frágil a maioria do
governo, por outro lado Æcou eviden-
te que os partidos do centro-direita
não têm uma maioria.”
A crise afectou o centro político,
e os partidos nos extremos — o Par-
tido de Esquerda, ex-comunista, e
os Democratas Suecos, extrema-di-
reita anti-imigração — parecem ter
saído fortalecidos.
A líder do Partido de Esquerda,
Nooshi Dadgostar, tem vindo a subir
nas sondagens desde que retirou
apoio a Löfven, forçando-o a desis-
tir de planos de Çexibilizar o contro-
lo das rendas.
Enquanto isso, os Democratas Sue-
cos, de Jimmie Akesson, ajudaram a
Stefan Löfven já
disse que se
demite se não
reunir apoio
suficiente para
fazer aprovar um
orçamento
fazer cair o Governo, embora só tem-
porariamente, e conseguiram liga-
ções com outros partidos de direita,
que durante anos os excluíram.
Depois de ter perdido a votação a
21 de Junho, Löfven abriu a possibili-
dade de negociações para uma nova
coligação, um processo supervisiona-
do pelo presidente do Parlamento.
Nenhum dos outros partidos conse-
guiu uma coligação com apoio suÆ#
ciente, e por isso Löfven volta ao seu
posto e prepara uma coligação seme-
lhante à do Governo anterior.
Se tivesse perdido a votação, a Sué-
cia poderia ter tido de marcar eleições
antecipadas: seria a primeira vez des-
de 1958. As próximas legislativas serão
em 2022. PÚBLICO com Reuters
que o Presidente quer um jogador
extra no tribunal para fazer acenos
à sua base eleitoral e proteger o
Governo de acções incómodas”,
algo que não agrada a muitos sena-
dores da oposição.
Com 48 anos, natural de Santos,
no litoral de São Paulo, André Men-
donça é formado pela Faculdade de
Direito de Bauru, e completou o
mestrado em Estratégias Anticor-
rupção e Políticas de Integridade e
o doutoramento em Estado de Direi-
to e Governança Global, ambos
na Universidade de Salamanca.
No Governo, a sua passagem
como ministro da Justiça durou
menos de um ano, tendo sido
nomeado para suceder a Sérgio
Moro em Abril de 2020 e saído em
Março de 2021.
Esta será a segunda nomeação de
Bolsonaro para o STF, depois da
escolha de Kassio Nunes Marques
em Outubro de 2020.
24 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Economia Apoios à instalação de funcionários públicos no interior
Mudança para
o interior soma
ajudas de custo
com mais férias
Trabalhadores que recebem ajudas
de custo não têm direito a receber apoio
de 4,77 euros por dia, mas terão mais
dois dias de férias e outros incentivos
Raquel Martins
Os funcionários públicos que se can-
didatem ao programa de incentivos à
Æxação no interior do país que já rece-
bem ajudas de custo não auferem o
incentivo de 4,77 euros por dia, mas
continuam a poder beneÆciar dos
incentivos não-pecuniários previstos
no programa e que incluem um acrés-
cimo de dois dias de férias ou a dis-
pensa por cinco dias para se instala-
rem no concelho de destino. A garan-
tia foi deixada por fonte oÆcial do
Ministério da Modernização do Esta-
do e da Administração Pública
(MMEAP), que ainda considera pre-
maturo fazer um balanço do progra-
ma iniciado na semana passada.
O programa foi lançado em Julho
de 2020, mas só a 29 de Junho de 2021
foi publicada a portaria com a regu-
lamentação dos apoios previstos.
Assim, e de acordo com o diploma,
os trabalhadores com vínculo de
emprego público das carreiras gerais
que pretendam alteração de local de
trabalho para um dos 88 concelhos
do interior identiÆcados pelo Gover-
no como sendo de baixa densidade
demográÆca, terão um incentivo diá-
rio de 4,77 euros e um conjunto de
outros apoios, como o acréscimo de
dois dias de férias, a dispensa de cinco
dias para se instalar ou a possibilidade
de gozar 11 dias de férias seguidos jun-
tamente com o cônjuge. Porém, se o
trabalhador receber ajudas de custo,
o apoio de 4,77 euros não se aplica,
mantendo-se ainda assim os incenti-
vos não-pecuniários.
“O programa tem associado um
conjunto de incentivos, de natureza
pecuniária e não-pecuniária, não
havendo lugar à atribuição do incen-
tivo pecuniário quando haja lugar ao
pagamento de ajudas de custo, nos
termos da legislação aplicável. Mas
mantêm-se todos os outros incenti-
vos”, precisou ao PÚBLICO o minis-
tério de Alexandra Leitão.
O programa abrange as situações
de mobilidade previstas na lei, mas
PAULO RICCA
um dos objectivos do Governo é
incentivar os funcionários públicos a
deslocarem-se para os territórios do
interior em teletrabalho por três anos.
Nesse sentido, os municípios irão dis-
ponibilizar centros de teletrabalho ou
coworking com computadores,
impressoras e Internet. “Caso não
existam, ainda, centros de coworking
nos territórios abrangidos pelo pro-
grama ou, existindo, não tenham
capacidade instalada suÆciente, o
trabalhador realizará o teletrabalho
no seu domicílio ou qualquer outro
local daqueles territórios”, refere.
Em qualquer dos casos, e salvo esti-
pulação em contrário no acordo de
teletrabalho, “presume-se que os ins-
trumentos de trabalho respeitantes a
tecnologias de informação e de comu-
nicação utilizados pelo trabalhador
pertencem ao empregador, que deve
assim assegurar as respectivas insta-
lação e manutenção”, sublinha fonte
oÆcial do gabinete da ministra da
Administração Pública, deixando
claro que caberá ao serviço disponi-
bilizar os equipamentos necessários
ao teletrabalho.
O programa não abrange os traba-
lhadores que se encontrem em tele-
trabalho obrigatório no quadro da
pandemia, mesmo que se tenham
mudado temporariamente para um
dos 88 concelhos. O executivo argu-
menta que, como a adesão ao progra-
ma “implica um período longo de
permanência nos territórios abrangi-
dos, não se aplica necessariamente
ao teletrabalho motivado pela covid-
-19, cuja obrigatoriedade pode sem-
pre ser revertida de acordo com o
evoluir da situação pandémica”.
Na semana passada, os sindicatos
criticaram o Governo por não terem
sido ouvidos sobre este programa e
consideraram o incentivo “ridículo”.
O MMEAP alega que a portaria não foi
discutida com os sindicatos, “por se
tratar de um sistema de incentivo,
como tantos outros, e não de matérias
laborais que sejam objecto de nego-
ciação sindical”. São Pedro do Sul passou a integrar em Junho a rede que já conta com 88 municípios no total
 Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 25

Como funciona o incentivo para trabalhar no interior?

A quem se destina o programa
de incentivos à fixação no
interior?
O programa foi lançado em Julho
de 2020 e destina-se aos
trabalhadores com vínculo de
emprego público integrados em
carreiras gerais (técnicos
superiores, assistentes
operacionais e assistentes
técnicos) que pretendam
mudar-se definitivamente ou
alterar de forma temporária o seu
local de trabalho para um dos 88
concelhos do interior previstos na
Portaria n.º 208/2017. Na semana
passada, foi publicada a Portaria
n,º 135/2021, que estipula o apoio
pecuniário diário de 4,77 euros
para quem adira ao programa.
Que situações de mobilidade
são abrangidas?
São abrangidos os trabalhadores
sujeitos a mobilidade, sem o seu
acordo, para um posto de
trabalho situado a mais de 60
quilómetros de distância da sua
residência, assim como os
trabalhadores em mobilidade por
sua iniciativa ou com o seu
acordo, quando esteja em causa
um posto de trabalho para o qual
tenha havido um concurso
interno que ficou deserto (e não
tenha sido aberto concurso para
candidatos do sector privado nos
três meses seguintes).
O programa também se destina
a quem quiser exercer funções
em regime de teletrabalho?
Sim, o programa abrange os
funcionários públicos que
cheguem a acordo com a
entidade empregadora para
exercerem funções em
teletrabalho a partir dos centros
de coworking localizados no
interior ou a partir de outros
locais nestes territórios. Estes
trabalhadores têm acesso aos
benefícios do programa.
As pessoas que estão em
teletrabalho obrigatório e que
se mudaram temporariamente
para o interior, no quadro do
combate à pandemia, também
podem beneficiar do programa?
Tendo em conta que a adesão ao
programa implica um período
longo de permanência nos
territórios abrangidos, não se
aplica necessariamente ao
teletrabalho motivado pela
covid-19, cuja obrigatoriedade
pode sempre ser revertida.
Os funcionários públicos que já
trabalham num dos concelhos
do interior abrangidos pelo
programa também têm acesso?
Não. O programa abrange
apenas situações de mudança ou
alteração temporária do local de
trabalho para o interior.
Em que consiste o apoio
pecuniário?
Os funcionários públicos que se
desloquem para um dos 88
concelhos do interior abrangidos
pelo programa terão direito ao
pagamento de 4,77 euros por
cada dia efectivo de trabalho —
ou seja, a duplicação do subsídio
de refeição — durante, no
máximo, três anos. Na prática,
este apoio corresponde a cerca
de 105 euros mensais.
Este apoio é acumulável com
ajudas de custo?
Não. De acordo com as regras em
vigor, não há lugar à atribuição
do incentivo pecuniário quando
haja lugar ao pagamento de
ajudas de custo. Os
trabalhadores sujeitos a
ada têm
mobilidade forçada
direito a ajudas de custo e,
derão
por isso, não poderão
entivo.
beneficiar do incentivo.
rdos de
Então, se os acordos
evirem
teletrabalho previrem m
ajudas de custo, o
trabalhador
também não tem direito ao
incentivo?
Se nesse acordo estiverem
previstas ajudas de custo, o
incentivo de 4,77 euros também
não se aplica.
O programa prevê outro tipo de
apoios?
Sim. Prevê um conjunto de
incentivos não-pecuniários como
o aumento da duração do
período de férias em dois dias; a
garantia de transferência escolar
dos filhos; o direito a dispensa de
serviço, até cinco dias úteis, no
período imediatamente anterior
ou posterior ao início de funções;
e o gozo de 11 dias úteis
consecutivos do período de
férias a que legalmente tem
direito, em simultâneo com o
cônjuge ou a pessoa com quem
vive em união de facto.
Quem tiver ajudas de custo
pode beneficiar destes
incentivos não-pecuniários?
Sim. No cas
caso destes apoios
nature não-pecuniária,
de natureza
explicou o Ministério da
M
Mo dern
Modernização do Estado
e da Administração
Ad
Pública (MMEAP),
lidera
liderado por Alexandra
Leit
Leitão (na foto), eles
mantêm-se, mesmo que o
trabalhador receba ajudas de
custo.
A atribuição dos benefícios
depende de algum tempo de
permanência no interior?
Nas mobilidades sem o acordo,
o trabalhador tem de permanecer
no território durante, pelo menos,
um ano e nas situações em que
houve acordo, a mobilidade tem
de ter a duração de, pelo menos,
18 meses. No caso do
teletrabalho, a duração é de três
anos. Caso estes prazos não
sejam respeitados e não haja
razões atendíveis que o
justifiquem, o trabalhador tem de
devolver o incentivo.
Como é que as pessoas podem
candidatar-se ao programa?
Neste momento, os
trabalhadores podem manifestar
o seu interesse ao respectivo
empregador, caso pretendam
trabalhar naqueles territórios,
através quer da figura da
mobilidade, quer do teletrabalho.
Muito em breve será
disponibilizada uma plataforma
que permitirá aos trabalhadores
fazer essa manifestação de
interesse directamente na Bolsa
de Emprego Público (BEP).

Avaliação
“Acabar totalmente com o sistema de quotas não é o caminho”
Raquel Martins
A ministra da Modernização do Esta-
do e da Administração Pública, Ale-
xandra Leitão, admite rever o sistema
de quotas para as notas mais altas
atribuídas aos funcionários públicos
no processo de avaliação, mas afasta
a ideia de acabar totalmente com
estes limites. “Estamos disponíveis
demora dez anos para mudar de
posição remuneratória.
Em resposta ao BE, a ministra reco-
nheceu que o processo de revisão
SIADAP e da tabela remuneratória
única “derrapou” no tempo, mas dis-
se que “o compromisso permanece”.
“É nosso objectivo rever o SIADAP,
no que toca sobretudo à evolução da
progressão, é também importante
Recrutamento e Selecção para a
Administração Pública (Cresap),
Maria Júlia Ladeira, sinalizou no Par-
lamento que há pessoas que estão
há dois, três, quatro e mais anos em
regime de substituição, sem que o
Governo peça a abertura do concur-
so, o que faz com que tenham “van-
tagens competitivas [nos concursos]
porque têm experiência, e conheci-
mento dos serviços”. Noutras situa-
ções, os dirigentes escolhidos nos
concursos acabam por ser os que
estiveram em substituição.
“Se tivermos um mecanismo em
que a Cresap, oÆciosamente, abra o
concurso sempre que passou o prazo
para abrir esse concurso e se isso for
associado a uma redução do prazo
em que o dirigente pode estar em
substituição, não é uma revisão do
modelo, mas são alterações que têm
um alcance muito signiÆcativo”,
adiantou Alexandra Leitão.
PUBLICIDADE

para olhar para as quotas numa lógi-
ca de saber se é mais 1%, 2% ou 3% e
em função do quê, mas acabar total-
mente com o sistema de quotas não
me parece que seja o caminho”, aÆr-
mou, ontem, durante uma audição
na Comissão Parlamentar de Admi-
nistração Pública, Modernização
Administrativa, Descentralização e
Poder Local.
O Sistema Integrado de Avaliação
de Desempenho da Administração
Pública (SIADAP) em vigor prevê
que apenas 25% dos trabalhadores
de cada serviço podem ter as
classiÆcações mais elevadas, uma
solução muito criticada pelos sindi-
catos, por entenderem que as
quotas limitam de forma adminis-
trativa a progressão na carreira,
dado que um trabalhador médio
mexer na tabela remuneratória única
em função daquilo que é o aumento
do salário mínimo”, sublinhou. Circulação Condicionada | A7
Alexandra Leitão atribui o atraso Concessão Norte
ao facto de o Governo estar a ponde-
rar algumas das propostas feitas pelos
sindicatos nas reuniões de Maio, mas Estamos a trabalhar para melhorar a infraestrutura
não se comprometeu com uma data
para retomar as negociações.
Para melhorarmos as condições de circulação na A7, realizaremos uma intervenção
Questionada por Joana Mortágua, de reparação da Passagem Superior 52 ao km 29,6 da A7 entre o Nó de Seide e
do BE, sobre o processo de escolha e o Nó de Ave. Esta intervenção decorrerá entre 6 e 16 de julho, das 21h às 7h, e
nomeação dos dirigentes públicos e
sobre a forma como o executivo tem
implicará alguns condicionamentos de tráfego nos dois sentidos deste local.
tentado contornar o processo, a minis-
Pedimos a sua compreensão para os transtornos causados
tra lembrou que está em curso o pro-
cesso legislativo para alterar o estatuto Os condicionamentos estarão devidamente assinalados no local. Recomendamos
do pessoal dirigente, onde se prevêem que parta com maior antecedência e que circule com maior precaução para chegar
“dois ou três mecanismos que podem
agilizar ou resolver o problema da
ao seu destino em segurança. Para mais informações ligue 229 767 767 (24H) ou
eternização das substituições”. consulte www.ascendi.pt.
Ascendi Norte, Auto Estradas do Norte, S.A.
A presidente da Comissão de
26 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Economia
Quarta vaga faz Portugal perder
novo impulso na retoma europeia
Sérgio Aníbal
e Rita Siza, Bruxelas
Portugal foi um dos dois
únicos países que não viram
as previsões de crescimento
de Bruxelas para este ano
serem melhoradas
Portugal já era um dos países da
União Europeia em que a pandemia
estava a ter um impacto económico
mais negativo, mas o mais recente
aumento no número de casos de
covid-19 no país, e particularmente
em Lisboa, fez agora com que as pre-
visões da Comissão Europeia para a
economia portuguesa até ao Ænal de
2022 passassem a ser mesmo, de
entre todos os países da UE, as que
apontam para um regresso mais
demorado ao nível pré-crise.
Nas previsões de Verão, ontem
apresentadas, a Comissão Europeia
surgiu muito mais optimista do que
há apenas dois meses.
Em Maio, previa um crescimento
económico de 4,2% na União Euro-
peia, e agora projecta uma variação do
PIB de 4,8%. É uma diferença de 0,6
pontos percentuais que o comissário
europeu Paolo Gentiloni classiÆcou
como “a maior revisão em alta” feita
por Bruxelas nas suas previsões “em
mais de dez anos” e que tem diversas
explicações: o desempenho do primei-
ro trimestre, que foi melhor do que se
esperava, o impacto já veriÆcado do
levantamento das medidas de conÆ#
namento, a subida dos indicadores de
conÆança das empresas e das famílias
e a expectativa de que o certiÆcado
digital covid-19 possa reanimar a acti-
vidade turística na União Europeia.
O maior impulso na retoma terá
acontecido, de acordo com as esti-
mativas da Comissão Europeia,
durante o segundo trimestre deste
ano, em que o PIB da zona euro e da
UE terá crescido 1,3%, em vez dos
0,9% antes previstos.
Feitas as contas, o regresso do PIB
da zona euro ao nível anterior à pan-
demia acontecerá já nos últimos três
meses deste ano, em vez de apenas
no início de 2022 como era previsto
anteriormente. E o crescimento
estimado para 2022 também foi
revisto ligeiramente em alta, de
4,3% para 4,4%.
Portugal mais atrasado
Portugal, contudo, passa ao lado de
todo este novo optimismo de Bruxe-
las. A previsão de crescimento da
Comissão Europeia para Portugal
manteve-se em 3,9% para 2021 e 5,1%
em 2022, exactamente os mesmos
STEPHANIE LECOCQ/EPA
Regresso da economia ao nível pré-crise
mais lento em Portugal
PIB (4º trimestre de 2019 = 100)
110
105
100
Zona euro
95
90 Momento do regresso
ao nível pré-pandemia
85 Portugal
80
4.º trim. I II III IV I II III IV I II III IV
2019 2020 2021 2022
Revisão das previsões da Comissão Europeia
Variação do PIB em 2021
Previsão de Maio Previsão de Julho Revisão Paolo Gentiloni, comissário europeu para os Assuntos Económicos
0 1 2 3 4 5 6 7 8
valores que já tinham sido projecta- imprensa de apresentação das pro-
Roménia 2,3 dos no passado mês de Maio. Portugal jecções, foi ainda mais pormenori-
Irlanda 2,6 é, a par da Finlândia, um dos dois zado. Explicando que, em relação à
únicos países em que a estimativa generalidade dos países da União
Hungria 1,3
para este ano não foi revista em alta. Europeia, os números divulgados
Espanha 0,3 Para Portugal, não é esperada uma não consideraram a possibilidade de
0,3 aceleração do crescimento face ao uma quarta vaga pandémica que
França
previsto e isso faz com que, ao con- force os Estados-membros a repor
Eslovénia 0,8 trário do que aconteceu com a gene- restrições ao movimento, no caso de
Malta 1 ralidade dos países da União Euro- Portugal, pelo facto de o ressurgi-
peia, a data em que é esperado o mento de casos ter ocorrido mais
Bélgica 0,9 regresso da economia aos níveis ante- cedo, isso já sucedeu.
Croácia 0,4 riores à crise continue a ser a mesma: “O principal factor que nos levou a
o terceiro trimestre de 2022. ser menos optimistas [em relação a
Itália 0,8
Portugal passa a ser, entre os 24 Portugal] foi por termos observado
Estónia 2,1 países da UE para os quais a Comissão um aumento das infecções, que obri-
0,1 faz previsões de evolução do PIB tri- gou a tomar medidas na área de Lis-
Eslováquia
mestre a trimestre, aquele que chega boa e provocou diÆculdades na vinda
Luxemburgo 0,3 mais tarde ao valor do PIB do quarto de turistas de países estrangeiros”,
Zona euro 0,5 trimestre de 2019. Também é no ter- disse o comissário europeu.
ceiro trimestre de 2022 que Espanha Para já, olhando para os indicado-
Polónia 0,8 e Itália atingem esse objectivo, mas res disponíveis e que se referem na
UE 0,6 alcançando um crescimento do PIB, sua grande maioria apenas ao mês de
face ao nível pré-pandemia, ligeira- Maio, não é ainda possível observar
Bulgária 1,1
mente maior que o português. de forma clara um impacto negativo
Suécia 0,2 Nos últimos três meses de 2022, o do ressurgimento de casos na activi-
Grécia 0,2 PIB projectado para Portugal é ape- dade económica. Em particular, o
nas 0,6% maior do que o anterior à indicador diário de actividade do
Chipre 1,2 pandemia, o valor mais baixo entre Banco de Portugal, que já contém
Portugal 0 todos os países da UE, enquanto no informação até 27 de Junho, não apre-
total da zona euro a diferença é de senta sinais de desaceleração.
Rep. Checa 0,5
2,8% e na UE de 3,3%. No entanto, não só é possível que o
Letónia 0,3 agravamento da situação pandémica
Já na quarta vaga possa pesar negativamente na con-
Lituânia 0,9
A Comissão Europeia deixa claro Æança dos agentes económicos, como,
Áustria 0,4 porque é que Portugal Æcou à mar- em algumas áreas, como a do turismo,
Alemanha 0,2 gem da melhoria realizada nas pro- o impacto é quase inevitável.
jecções económicas. “O ritmo da Em Maio, a chegada de turistas bri-
Países Baixos 1 recuperação foi prejudicado pela tânicos foi beneÆciada pelo facto de
Dinamarca 0,1 reimposição parcial de restrições Portugal ter sido incluído na “lista
temporárias em Junho, que foi verde” daquele país, mas essa decisão
Finlândia 0
desencadeada pelo ressurgimento foi revertida logo em Junho, tornando
Fonte: Comissão Europeia PÚBLICO
das infecções”, diz o relatório. mais sombrias as expectativas de che-
Paolo Gentiloni, na conferência de gada de novos turistas.
 Público ClassiÄcados • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 27

Contratação de Doutorado
Universidade do Minho
(M/F)
ANÚNCIO M/F Unidade de Serviços de Recursos Humanos

Publicita-se a abertura de procedimento de recrutamento Foi publicado no Diário da República nº 130, 2.ª Série, de 07 de julho de
Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a
contratação de um Técnico Superior, na modalidade de Contrato de Trabalho a de pessoal para a NOVA School of Business and 2021, o Aviso n.º 12617/2021 relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-
Termo Resolutivo Incerto, ao abrigo do Código do Trabalho, na Universidade do Economics, aos quais podem candidatar-se indivíduos -96-SGRH/2021 de âmbito internacional, para recrutamento na modalidade
Minho, sob Ref.ª CTTI- 10/21-CEB(1). de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto celebrado ao abrigo do
que reúnam as condições fixadas nos avisos disponíveis Código de Trabalho, de 1 (um) lugar de Doutorado Equiparado a Investi-
REQUISITOS DE ADMISSÃO:
Possuir grau de Doutoramento em Engenharia Biológica ou área científica com no seguinte endereço: gador Auxiliar para o exercício de atividades de investigação científica na
experiência em bioprocessos; https://www2.novasbe.unl.pt/pt/sobre-nos/junte-se-a- área científica de Ciências Médicas com vista ao desenvolvimento da Me-
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 09/07/2021 nova-sbe dicina Personalizada, nomeadamente da Análise e Integração de Dados,
a 15/07/2021. Epidemiologia e Estudos Populacionais em Saúde, no âmbito do Programa
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em Referência NOVASBE.CT208.2021 - 1 Assistente Estratégico de Investigação do Instituto de Biomedicina de Aveiro - iBiMED,
https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais Técnico para exercer funções Área de Docência e (UIDP/04501/2020 – Programático), suportado pela Fundação para a Ciên-
A Diretora de Serviços, Sara Patrícia Costa Rodrigues Investigação da NOVA SBE, em regime de contrato cia e a Tecnologia (FCT), na sua componente de Orçamento de Estado.
individual de trabalho por Tempo Indeterminado. 2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos
TRIBUNAL JUDICIAL TRIBUNAL JUDICIAL do edital antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico:
DA COMARCA DA COMARCA O prazo-limite para submissão das candidaturas é de 6
dias úteis a contar da data da publicação do presente https://www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas.
REPÚBLICA DE FARO DE LISBOA
FEDERATIVA DO BRASIL
Juízo Local Cível de Portimão - Juiz 1 Juízo Local Cível do Seixal - Juiz 1
anúncio. 3 - O prazo de candidaturas é de 15 dias úteis, contados a partir da data da
Processo: 1517/21.9T8PTM Processo: 1636/21.1T8SXL
Consulado-Geral do Brasil em Faro publicação do aviso no Diário da República.
EDITAL DE CASAMENTO ANÚNCIO ANÚNCIO
Acompanhamento de Maior Acompanhamento de Maior Aveiro, em 17 de junho de 2021
Cláudia Angélica Vasques Silva, Cônsul- Requerente: Ministério Público
Geral Adjunta do Brasil em Faro, usando Requerente: Isabel Cristina dos
Beneficiário: Rui Filipe Henriques O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
das atribuições que lhe confere o art.º Santos Pinto Ferreira
18 da Lei de Introdução ao Código Civil, Requerido: Rui Francisco Mar-
faz saber que pretendem casar Murilo Faz-se saber que foi distribuído,
da Rosa de Campos, natural de Nova ques Pinto neste tribunal, o processo de Acom-
Veneza, Santa Catarina, Brasil, nascido
a 12/12/1992, residente e domiciliado
FAZ-SE SABER que foi distribuí-
do neste tribunal, o processo de
panhamento de Maior, em que é
beneficiário Rui Filipe Henriques
Contratação de Doutorado
na Av. das Comunidades Lusíadas, Ed.
Clube Praia da Rocha 3, Torre I, Apto.
671, Portimão, Portugal, Código Postal:
Acompanhamento de Maior em
Ferreira, filho de António José Alfaro
Ferreira e de Maria Elisabete Henri-
NIPC 600 013 758
Tel. (+351) 273 303 200 • Fax 273 325 405 • http://www.ipb.pt
Campus de Santa Apolónia • 5300-253 BRAGANÇA • Portugal
(M/F)
que é requerido Rui Francisco ques Joaquim Ferreira, estado civil:
8500-801, nesta jurisdição consular, filho
Marques Pinto, com domicí- casado (regime desconhecido),
de Jair de Campos e de Clair Mario da
Rosa Campos e Amanda Casagrande, lio: Urbanização do Fojo, Lote nascido em 0710-1976, com o NIF - ANÚNCIO Foi publicado no Diário da República nº 130, 2.ª Série, de 07 de julho de 2021, o Aviso n.º 12616/2021
natural de Criciúma, Santa Catarina, 39.º, 3.º Esquerdo, Portimão, 215949439, titular do BI - 11832250, relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-98-SGRH/2021 de âmbito internacional, para recrutamento na
Brasil, nascida a 16/09/1998, residente
e domiciliada na Av. das Comunidades 8500-000 PORTIMÃO, com vis-
com domicílio na Praceta Leonardo Avisam-se os interessados de que se modalidade de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto celebrado ao abrigo do Código de Trabalho,
Coimbra, n.º 2 – 2.º Dt.º, Cruz de
Lusíadas, Ed. Clube Praia da Rocha 3,
Torre I, Apto. 671, Portimão, Portugal,
ta à determinação de medidas Pau, 2845-000 Amora, com vista a encontra aberto Procedimento Concursal de 2 (dois) lugares de Doutorado de nível inicial para o exercício de atividades de investigação científica na
adequadas. serem definidas medidas de acom-
Código Postal: 8500-801, nesta jurisdição
panhamento adequadas. Comum para a Carreira e Categoria de área científica de Engenharia Civil com vista ao desempenho de atividades de investigação nos domínios
consular, filha de Geraldo Casagrande e N/ Referência: 120804865
de Riscos, Sustentabilidade e Reabilitação na Construção.
de Rose de Oliveira Casagrande Portimão, 29-06-2021 N/ Referência: 407117756 Técnico Superior na modalidade de
Apresentaram os documentos exigidos A Juíza de Direito, Seixal, 06-07-2021 O presente concurso é aberto ao abrigo do contrato programa para apoio ao desenvolvimento
pelo Art.º 1.525 do Código Civil.
Dra. Ana Cláudia Rodrigues A Juíza de Direito, Contrato de Trabalho em Funções Públicas de atividades de I&D, celebrado com a Fundação para a Ciência e Tecnologia e a I&D Riscos e
Se alguém souber de algum impedimento,
Laura Maria Dias Godinho Ribeiro
oponha-o na forma da Lei. Lavrado o Russo Rações
por Tempo Indeterminado aberto pelos Sustentabilidade na Construção (RISCO) e a Universidade de Aveiro, suportado pelo orçamento com a
presente para ser afixado em lugar visível O Oficial de Justiça,
da Chancelaria deste Consulado-Geral. A Oficial de Justiça, Avisos abaixo indicados, publicados em referência UIDP/04450/2020 do Financiamento Plurianual de Unidades de I&D 2020-2023, celebrado, ao
João Pedro Sousa Camacho Elisabete Alves Martins
Isabel Scafura abrigo do n.º 1 do Artigo 45.º do Decreto-Lei n.º 63/2019, de 16 de maio, publicado na I Série do Diário da
Oficial de Registro Civil “ad-hoc” Público, 08/07/2021 Público, 08/07/2021 D.R. n.º 129, II Série, de 6 de julho de 2021,
República sob o n.º 94, que estabelece o regime jurídico das instituições que se dedicam à investigação
cujo prazo termina no dia a 20 de julho. e desenvolvimento e ao abrigo do Regulamento de Avaliação e Financiamento Plurianual de Unidades de
AVISO n.º 12490/2021 I&D, com o n.º 503/2017, de 26 de setembro, publicado na II Série do Diário da República sob o n.º 186.
AVISO n.º 12491/2021 2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do edital antes referido, publicitado no
seguinte endereço eletrónico: https://www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas.
Instituto Politécnico de Bragança 3 - O prazo de candidaturas é de 30 dias úteis, contados a partir da data da publicação do aviso no Diário
MUNICÍPIO DE CORUCHE da República.
CÂMARA MUNICIPAL A Coordenadora dos Recursos Humanos Aveiro, em 17 de junho de 2021
Dr.ª Sandra Cristina Cancelinha O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
Contratação de Pessoal
OFEREÇA Nos termos do aviso de abertura dos
CULTURA Procedimentos Concursais Comuns, para
ocupação de 3 postos de trabalho na
carreira e categoria de Técnico Superior,
na modalidade de Contrato de Trabalho em
Funções Públicas a Termo Resolutivo Incerto,
EDIFÍCIO
DIOGO CÃO
publicados na 2ª Série do Diário República Aviso Aviso
nº. 130 de 07 de julho de 2021, encontram-
se abertas inscrições para admissão aos Procedimento concursal comum para preenchimento de Procedimento concursal comum para preenchimento
DOCA DE ALCÂNTARA
NORTE, LISBOA
mesmos até ao dia 21 de julho de 2021. 1 (um) posto de trabalho da carreira geral de assistente de 1 (um) posto de trabalho da carreira geral de
(JUNTO AO
Habilitações literárias e profissionais exigidas: operacional do mapa de pessoal da Direção-Geral do assistente operacional do mapa de pessoal da Direção-
MUSEU DO ORIENTE) Procedimento com a referência A – Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, para exercer Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, para
Licenciatura em Psicologia Clínica e inscrição funções no Aquivo Distrital de Vila Real. exercer funções no Aquivo Distrital de Beja.
HORÁRIO: em vigor na respetiva Ordem Profissional.
2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H
SÁBADO: 11H – 17H Procedimento com a referência B – Modalidade de vínculo: Procedimento concursal restrito a Modalidade de vínculo: Procedimento concursal restrito a
Licenciatura em Animação Sociocultural. trabalhadores detentores de um vínculo de emprego público trabalhadores detentores de um vínculo de emprego público
Paços do Município de Coruche, por tempo indeterminado. por tempo indeterminado.
07 de julho de 2021 Habilitações literárias exigidas: Escolaridade obrigatória Habilitações literárias exigidas: Escolaridade obrigatória
A Vereadora com competência delegada (aferida segundo a data de nascimento). (aferida segundo a data de nascimento).
INFO: 210 111 010 Dr.ª Célia Maria Arsénio Barroso
Local de trabalho: Arquivo Distrital de Vila Real, Av. Almeida Local de trabalho: Arquivo Distrital de Beja, Avenida Vasco da
Lucena 5, 5000-660 Vila Real. Gama s/n, 7800-397 Beja.
PORTO Publicação em Diário da República: Procedimento concursal Publicação em Diário da República: Procedimento concursal
publicado através do Aviso (extrato) n.º 12582/2021, publicado publicado através do Aviso (extrato) n.º 12581/2021, publicado
DR. JOÃO DE MELO PINTO RIBEIRO no Diário da República, 2.ª Série, n.º 130, 07 de julho de 2021. no Diário da República, 2.ª Série, n.º130, 07 de julho de 2021.
(Médico Pediatra) Prazo de candidatura: 10 (dez) dias úteis contados a partir Prazo de candidatura: 10 (dez) dias úteis contados a partir
da data da publicação integral do Aviso na Bolsa de Emprego da data da publicação integral do Aviso na Bolsa de Emprego
FALECEU Público (BEP). Público (BEP).
A família comunica às pessoas de sua estima que o Local onde se encontra a publicação integral do procedimento: Local onde se encontra a publicação integral do procedimento:
funeral se realiza hoje, quinta-feira dia 8, às 15.00 horas, Bolsa de Emprego Público em www.bep.gov.pt. Bolsa de Emprego Público em www.bep.gov.pt.
da Igreja das Carmelitas (à Rua de Gondarém), onde o
07 de julho de 2021 07 de julho de 2021
corpo está em câmara-ardente, para o crematório de
Matosinhos. Agradece reconhecidamente a quantos O Diretor -Geral, Silvestre de Almeida Lacerda O Diretor -Geral, Silvestre de Almeida Lacerda
tomem parte no funeral, bem como na Missa do 7.º
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única
Dia, que terá lugar terça-feira dia 13, às 19.00 horas, na organização em Portugal, de âmbito nacional, especificamente constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
Igreja acima referida. Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de
Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Porto, 8 de Julho de 2021 Contactos: Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org • Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2, Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.:
21 360 93 00 • Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org • Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do
Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org • Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.
CASA LESSA - Ag. Funerária, Lda. (S. Mamede de Infesta) org • Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL - Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org • Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A,
2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org • Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha, 3810 Aveiro - Tel. 23 494 04 80 - E-mail: geral.aveiro@alzheimeportugal.org
28 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Ciência Fenómenos extremos mais frequentes com a mudança do clima
Portugal pode ter mais
de 85 mil mortes só por
causa do calor em 2100
Estudo publicado ontem na revista The Lancet Planetary
Health analisou mortalidade associada à temperatura, frio e
calor, em 16 países, olhando para o passado e com projecções
para o futuro, apresentando o melhor e no pior dos cenários
Andrea Cunha Freitas
As mortes associadas ao calor em Por-
tugal representaram 0,83% de todos
óbitos entre 1998 e 2012 — ou seja,
mais de 12 mil pessoas. Mas podem
aumentar 1,89% a meio deste século
(entre 2035 e 2064) e mais 4,83% no
Æm do século (entre 2070 e 2099).
Este é o pior dos cenários para Portu-
gal, o que, traduzido em números
absolutos, signiÆcará a meio do sécu-
lo mais de 40 mil mortes só atribuí-
veis ao calor e, no Æm do século, mais
de 85 mil mortes. No melhor cenário,
o calor provocará cerca de 25 mil
mortes a meio e no Ænal do século.
Os cálculos sobre a relação entre a
temperatura e a mortalidade no pas-
sado e no futuro são de uma equipa
de investigadores do Instituto de Bar-
celona para a Saúde Global (ISGlobal),
que analisou os dados de 147 regiões
urbanas e rurais em 16 países da Euro-
pa, olhando para as mortes causadas
tanto pelo calor como pelo frio.
Porém, tal como a maioria dos traba-
lhos com projecções a longo prazo
sobre o clima, este estudo não prevê
os “saltos” assustadores nos termó-
metros que temos visto nos últimos
dias no Canadá, por exemplo.
O inferno na Terra, o Canadá a
cozer, uma onda de calor histórica
que bate todos os recordes, o clima a
fritar o hemisfério norte, os incêndios
sem controlo e capazes de devorar
uma vila inteira no Canadá. Estes são
apenas alguns dos títulos das notícias
dos últimos dias que vêm do outro
lado do oceano atingido por uma
onda de calor sem precedentes, com
os termómetros a passar dos 49 graus
Celsius. Enquanto isso, aqui mesmo
ao lado, uma equipa de cientistas em
Espanha andou a fazer contas à mor-
talidade associada à temperatura, seja
o calor ou o frio, em vários países
europeus (incluindo Portugal) com
projecções até 2099.
O estudo sublinha que hoje, apesar
de tudo, é o frio que está associado a
um maior número de mortes e não o
calor — ou melhor, ainda não é o calor,
dizem os investigadores, que con-
cluem neste trabalho que a viragem
que vai destronar o frio está para bre-
ve. “O aumento da fracção atribuível
ao calor começará a exceder a redu-
ção da fracção atribuível ao frio na
segunda metade do século XXI. Esta
constatação realça a importância de
executar políticas de mitigação. Estas
medidas seriam especialmente bené-
Æcas no Mediterrâneo, onde a elevada
vulnerabilidade ao calor levará a um
desequilíbrio entre a diminuição do
frio e o aumento da mortalidade atri-
buível ao calor”, lê-se no artigo.
Marcos Quijal, investigador do
ISGlobal e um dos principais autores
do trabalho, realça que Portugal é um
dos países em risco. É o 5.º país com
o maior aumento previsto da morta-
lidade atribuível às temperaturas
(inferior a Itália ou Espanha, por
exemplo) até ao Ænal do século (2070-
2099) e no pior dos cenários. Ainda
de acordo com o mais pessimista dos
três cenários de emissões com efeito
de estufa projectados, no período
2070-2099 Portugal pode enfrentar
um aumento da temperatura de 3,78
graus Celsius e um aumento de 1,59%
das mortes atribuíveis às temperatu-
ras (frio e calor). O estudo olhou para
A incidência
deste fenómeno
[aumento da
temperatura]
é desigual, com
os países
icos
mediterrânicos
a serem maisis
vulneráveis
do que os
restantes
Marcos Quijal
Investigador
cinco regiões no nosso mapa: Norte,
Algarve, centro, Lisboa e Alentejo.
Calor ultrapassa o frio
Os cientistas do ISGlobal, um centro
apoiado pela Fundação la Cai-
xa, apresentam vários cenários de
mudanças climáticas. Num caso, pro-
jecta-se um aumento de 1,67 graus
Celsius, noutro de 2,89 graus e, por
Æm, um aumento de 4,54 graus. “No
cenário da mudança mais favorável,
a mortalidade mantém-se relativa-
mente estável até ao Æm do século.
Pelo contrário, no cenário mais pes-
simista, o aumento da mortalidade
iria acontecer já a meio do século”,
constata Marcos Quijal ao PÚBLICO.
EspeciÆcamente sobre Portugal, no
estudo refere-se que os dados entre
1998 e 2012 mostram que um total de
8% de todas as mortes pode ser asso-
ciado à temperatura, frio ou calor. O
frio apresenta-se com o maior peso
desta percentagem, somando 7% da
“culpa” e o calor apenas 0,83%. Mas,
quando espreitamos para o que pode
vir por aí a percentagem das mortes
provocada pelo frio vai caindo e a que
é causada pelo calor vai subindo. Ondas, sintomas e riscos das altas temperaturas
Para o período entre 2035 e 2064,
com um aumento de temperatura
que pode ir de 1,5 a 2,01 graus, os O que é uma onda de calor? Desde o aparecimento de
cientistas apresentam uma variação De acordo com a definição dos cãibras a dores de cabeça e
dos óbitos causados pelo frio em Por- Centros de Controlo e outros sintomas de
tugal que cai 0,34% no melhor dos Prevenção de Doenças (CDC, na desidratação. A exposição ao
cenários e 0,13% no pior. Sobre a mor- sigla em inglês) dos EUA, num calor em excesso pode causar
talidade associada ao calor a percen- episódio de calor extremo ainda dores musculares e em
tagem sobe 0,86% no melhor dos vemos “temperaturas muito casos mais graves, o nosso
cenários, 1,89% no pior. mais quentes e/ou maior corpo pode responder com uma
No Æm do século (entre 2070-2099), humidade do que a média” para transpiração intensa, ritmo
com uma subida da temperatura uma determinada área. Ou seja, cardíaco elevado, náuseas e
entre 1,20 e 3,78 graus projectada o calor extremo no Porto não vómitos, dores de cabeça,
para Portugal, o aumento da quota será o mesmo do de Faro. tonturas, fadiga e, em geral,
do calor é de 0,79% na melhor das Segundo a Organização sensação de mal-estar. Por fim,
hipóteses e de 4,83% na pior. Meteorológica Mundial, uma uma das características de um
Já o frio causará uma redu- onda de calor “ocorre quando caso limite de insolação é uma
ção de mortes de 1,37% no num intervalo de pelo menos disfunção do sistema nervoso
cenário que contempla o
cenári seis dias consecutivos a central que pode deixar uma
menor aumento de tempe- temperatura máxima diária é pessoa confusa e mesmo causar
ratura e de menos 2,73%, se superior em cinco graus Celsius convulsões.
as temperaturas
tempe subirem até ao valor médio diário no período O nosso corpo está preparado
aos 3,7
3,78 graus. de referência”. para vagas de calor?
“T
“Todos os modelos Quais os “sintomas” de um Em princípio, não. Quando os
mo
mostram um aumento calor extremo? períodos de calor extremo
progressivo das tempe-
pro

duram vários dias, os mecanismos
de compensação podem não ser
suficientes para manter o
equilíbrio do organismo. A idade
avançada, doenças cardíacas e
certos medicamentos interferem
com estes mecanismos e fazem
com que alguns indivíduos sejam
mais susceptíveis ao calor. Há
alguma evidência de que nos
adaptamos à medida que a
temperatura aumenta, mas
quando acontecem situações
mais extremas e repentinas o
nosso organismo pode não ter
tempo suficiente para isso. O
aumento da temperatura
ambiente provoca um aumento
da temperatura do corpo, o que
desencadeia mecanismos que
permitem ao corpo perder calor:
a transpiração e a dilatação dos
vasos sanguíneos.
Quando aumenta o risco de
mortalidade associada ao calor?
O ser humano é capaz de tolerar
temperaturas extremas – até 60
graus Celsius – se a exposição
durar apenas minutos.
Tipicamente, a mortalidade
associada ao calor surge
durante ondas de calor de
instalação súbita, com dias
sucessivos de temperaturas
elevadas (acima dos 37 graus
Celsius), acompanhados
também de temperaturas
elevadas no período nocturno,
maior humidade relativa e níveis
elevados de poluição
atmosférica. Quando a nossa
capacidade de adaptação é
ultrapassada, a temperatura do
corpo sobe para valores que
causam alterações nas funções
dos órgãos.
BRUNO SIMÕES CASTANHEIRA
Em Portugal, entre 1998 e 2012,
um total de 8% de todas as
mortes pode ser associado
à temperatura, frio ou calor
raturas e, consequentemente, uma
diminuição da mortalidade atribuível
ao frio e um aumento das mortes atri-
buíveis ao calor”, resume Èrica Mar-
tínez, investigadora do ISGlobal e
co-autora principal do estudo no
comunicado. Este trabalho analisa
apenas um dos múltiplos efeitos das
alterações climáticas na saúde: a mor-
talidade associada às temperaturas.
“Existem outros efeitos directos e
outros indirectos, tais como poluição
atmosférica, incêndios Çorestais ou
transmissão de doenças, que mos-
tram que precisamos de agir imedia-
tamente sobre as alterações climáti-
cas”, reclama Marcos Quijal. De qual-
quer forma, insiste: “Só no cenário
com reduções signiÆcativas nas emis-
sões de gases com efeito de estufa é
que a mortalidade permaneceria
estável.” O cientista destaca que este
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 29
é “o primeiro estudo neste campo de
investigação que se baseia em dados
e modelos epidemiológicos de toda a
população, em vez de se restringir às
populações urbanas”. Nos países ana-
lisados — Áustria, Bélgica, Croácia,
República Checa, Dinamarca, França,
Alemanha, Itália, Luxemburgo,
Holanda, Polónia, Portugal, Eslové-
nia, Espanha, Suíça, e Reino Unido
— incluem-se 147 zonas urbanas e
rurais.
O investigador Marcos Quijal con-
Ærma que “nas últimas décadas o
aquecimento tem ocorrido a um
ritmo mais rápido na Europa do que
em qualquer outro continente” e real-
ça que “a incidência deste fenómeno
é desigual, com os países mediterrâ-
nicos a serem mais vulneráveis do
que os restantes”. A conclusão do
estudo vai dar ao aviso de sempre: é
preciso pôr no terreno políticas de
mitigação para travar as alterações
climáticas e o aquecimento global e é
preciso que seja já.
Cansados de más notícias
Não é preciso ter uma boa memória
para ter noção do perigo que bate à
nossa porta. Os fenómenos que atin-
giram o hemisfério norte nos últimos
dias são suÆcientes. Temos uma onda
de calor, incêndios incontroláveis e,
ao mesmo tempo, alertas sobre a tem-
pestade tropical Elsa, que se aproxi-
ma. Temos ainda bem presente os
relatos e muitos ecos de um Árctico a
derreter a um ritmo alucinante. Pare-
cendo que não, está tudo ligado.
“As pessoas estão cansadas de más
notícias”, reconhece Filipe Duarte do
Santos, geofísico especializado em
alterações climáticas e professor da
Faculdade de Ciências da Universida-
de de Lisboa. Num comentário ao
PÚBLICO, o investigador refere que a
actual situação que se vive no Canadá
representa uma das situações inespe-
radas que os especialistas esperam.
“Temos de ir às razões, às causas. O
que se passa com o aumento do efeito
de estufa é que o sistema climático,
que inclui a atmosfera, os oceanos, a
terra Ærme, a criosfera, as partes gela-
das, tem actualmente muito mais
energia térmica”, explica.
É como se estivéssemos a olhar
para um organismo vivo, uma pessoa
febril. “A atmosfera tem de dissipar
essa energia toda de diferentes for-
mas. Transforma essa energia térmi-
ca em energia cinética e, portanto,
tem tempestades muito mais violen-
tas, processos de evaporação mais
violentos; a precipitação é também
muito mais violenta, depois as ondas
de calor são mais fortes, mas o frio
também pode aumentar, porque se
está muito calor de um lado, depois
Æca frio do outro… O que acontece é
que o Árctico expurga, deita fora,
aquele capacete de ar frio que tinha
no passado e agora, como vai aque-
cendo e expele aquelas massas de ar
frio para cima da Europa ou dos Esta-
dos Unidos, faz contrastes brutais”,
diz Filipe Duarte dos Santos.
A solução, todos sabem, passa por
uma transição para uma energia lim-
pa e renovável. Na segunda-feira, o
Conselho Europeu adoptou uma lei
sobre alterações climáticas que obri-
ga legalmente os 27 membros da
União Europeia a reduzir colectiva-
mente as emissões com efeito de estu-
fa em 55% até 2030 — em relação aos
níveis de 1990 — e a estabelecer uma
economia com emissões zero líquidas
até 2050. Mas falta muita coisa. É pre-
ciso que os países ricos cheguem a
acordo sobre um calendário para aca-
bar com o uso de carvão para produ-
zir energia eléctrica, por exemplo.
As projecções da ONU, entretanto,
sugerem que já será tarde para evitar
o aumento de 1,5 graus Celsius da
temperatura global que tem sido o
objectivo-chave identiÆcado nos acor-
dos climáticos de Paris de 2015. Nos
últimos dias, com os termómetros a
chegar perigosamente quase a 50
graus Celsius no Canadá, muitos cien-
tistas aproveitaram para voltar a exi-
gir uma mudança urgente. Dizem
agora que já não estão preocupados
mas assustados. Ter novos recordes
de temperaturas acontece, mas é pre-
ciso notar que o recorde anterior do
Canadá era de 45 graus e que normal-
mente estes limites são ultrapassados
por meio grau ou um grau. Desta vez,
a fasquia subiu mais de quatro graus
e durante vários dias.
A América do Norte viveu o mês de
Junho mais quente desde que existem
registos, marcado por recordes excep-
cionais no Canadá, anunciou ontem
o Serviço Europeu de Mudanças Cli-
máticas Copérnico (C3S). O passado
Junho foi também o segundo mais
quente na Europa e um dos meses
que à escala mundial registou tempe-
raturas mais elevadas. A onda de calor
atingiu o pico a nordeste do continen-
te europeu e alastrou-se para o Irão,
Paquistão e regiões como o Norte de
África. Os países nórdicos também
registaram temperaturas quase recor-
des durante o último Æm-de-semana,
incluindo máximas de 34 graus Cel-
sius em alguns locais e há quem acre-
dite que este fenómeno está ligado ao
que se passa no Canadá. “É como
puxar uma corda da mesma guitarra.
A perturbação propagou-se”, diz
Michael Reeder, professor de Meteo-
rologia na Universidade de Monash,
na Austrália, citado pelo Guardian.
Não podemos esquecer a lição dos
cientistas que há anos nos dizem que
estes fenómenos extremos serão
cada vez mais frequentes e intensos
— por mais ocupados que estejamos
com uma pandemia que faz Æntas
aos esforços de um mundo inteiro
para a derrotar. O SARS-CoV-2 pôs o
mundo de cabeça para o ar num ins-
tante. Já os efeitos do clima têm a
“desvantagem” de ser uma tragédia
difusa e intermitente. “Estou con-
vencido de que as crianças que nas-
cem agora vão ter um mundo muito
mais complicado”, desabafa Filipe
Duarte dos Santos. Mais complicado
e mais quente.
30 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Cultura Inéditos de artistas portugueses na feira de arte em Madrid

Na ARCOMadrid, o desejo de ver

é mais forte do que o vírus
A participação das galerias portuguesas na ARCOMadrid encontrou uma feira internacional animada
pelo regresso ao físico, ao lugar mundano das obras e da arte. E investiu na apresentação dos artistas
DR

José Marmeleira, em Madrid

“As pessoas estão desejosas de ver
as obras e estar com outras pes-
soas”, diz a galerista Vera Cortês. A
ARCOMadrid, que ontem abriu por-
tas, em pouco mais de duas horas
deixou ver como o entusiasmo de
Vera Cortês é facilmente partilhável.
Há pessoas a percorrer os corredo-
res largos da feira internacional de
arte, a espreitar os stands das gale-
rias, a observar as obras. Andam,
param, conversam. O som que se
ouve é agradável, mundano e huma-
no. O vírus ainda não se foi embora,
mas a arte (e com ela) e o comércio
não se detiveram num impasse
mudo. Que o digam as nove galerias
portuguesas que participam. No
programa geral, a 3+1 Arte Contem-
porânea, Bruno Múrias, Filomena
Soares, Miguel Nabinho, Pedro Cera
e Vera Cortês. No programa Ope-
ning, a Duarte Sequeira (de Braga),
a Uma Lulik, com um projecto de
AnaMary Bilbao, e a Balcony, com
um projecto de Nuno Nunes-Ferrei-
ra. Todas respondem, com optimis-
mo e coragem, a tempos que vão
permanecendo incertos por causa
da pandemia.
De que modo? Mostrando, em
Madrid, obras de artistas portugue-
ses, algumas inéditas. Por exemplo,
Blasting Efects, de Ana Mary Bilbao,
série de trabalhos que, pelo seu apa- Há nove galerias portuguesas a Vera Cortês aÆna pelo mesmo dia- chegam notícias. Pedro Magalhães,
rente cariz pictórico, atraem o olhar participar na edição 2021 da pasão, não esconde optimismo. da galeria Balcony, em Lisboa, anun-
de quem passa. Têm cores, paisa- feira internacional de arte na “Antes do almoço, a feira estava cia a compra e a realização de reser-
gens que serão familiares. E, toda- capital espanhola. Em cima, cheia. Não estão aqui, é verdade, vas, por coleccionadores espanhóis,
via, fazem eco dessa terrível capaci- Jorque Queiroz (representado alguns coleccionadores dos Estados de obras que formam o projecto de
dade que o homem, há quase 100 pela galeria Bruno Múrias); à Unidos ou da América Latina, mas Nuno Nunes-Ferreira. A satisfação do
anos, descobriu: o de se destruir e direita, Nuno Nunes-Ferreira há outros, e são importantes”, apon- galerista é secundada, pouco tempo
ao mundo. Noutra latitude está uma (galeria Balcony) ta. “A arquitectura do espaço está depois, pela de Miguel Rios, da Uma
peça de Henrique Pavão, que o artis- perfeita e todos Æzeram um esforço Lulik: “Vendi 20 peças da AnaMary
ta nunca havia mostrado em contex- sos distintos. É um dos momentos para fazer uma feira com grande Bilbao para uma colecção muito
to expositivo. Trata-se de The Eter- mais interpeladores da participação qualidade. Foi um ano muito difícil, importante”, diz. “As vendas estão a
nity of the City, série de imagens que, portuguesa. “As pessoas estavam embora as galerias, em geral, se acontecer e isso é extremamente
a partir de artefactos do Museu sedentas de voltar ao físico”, comen- tenham conseguido equilibrar. O gratiÆcante. Vim com a expectativa
Nacional de Arqueologia, em Lisboa, ta Jorge Viegas, o director da galeria. online, no início, não funcionou de estar presente, de activar o mer-
lida com o mistério do tempo e da O online não funciona, mesmo em mal, mas as pessoas estavam seden- cado, de participar, aÆrmando que
memória. É uma das propostas da termos comerciais, ao contrário do tas dos lugares físicos. Não estava à é no físico que devemos estar, não
galeria Bruno Múrias que apresenta que muita gente achava”. Ainda é espera de tanta gente”. A galerista no virtual. E, com isso, de ter, obvia-
também obras de António Júlio cedo para fazer uma apreciação do também mostras obras dos artistas mente, um retorno. Acredito na
Duarte, Jorge Queiroz ou Isabel ambiente comercial, mas o galerista que representa, numa selecção importância das feiras, na protecção
Simões, esta com uma notável e iné- deixa um esboço: “O importante heterogénea e cativante: Carlos e na organização que nos garantem.
dita pintura. para as galerias portuguesas [aqui Bunga (com pinturas inéditas), É extremamente importante partici-
Não muito longe, compõe-se, no presentes] é vender aos colecciona- André Romão, Daniel Blaufuks, par na feira, em particular, neste
stand da Galeria 3+1 um diálogo feliz dores não-portugueses. E eu vejo entre outros. momento. Alavanca os artistas por-
entre João Ferro Martins e Nuno aqui muitas pessoas com interesse O destaque dado às obras dos tugueses e atrai-se público, espanhol
Sousa Vieira. Várias obras dos dois e vontade. Isso está a acontecer. Por artistas portugueses é um Æo condu- e estrangeiro, que, de outro modo,
artistas revelam e ocultam contras- isso, as minhas expectativas, como tor desta participação, sem que isso nunca conseguiremos”. O momento
tes e aproximações, ao mesmo tem- creio a dos outros galeristas, são signiÆque, sublinhe-se, qualquer é, portanto, de conÆança, instigada
po que assinalam práticas e univer- boas”. tipo de “isolacionismo”. Entretanto, pelo desejo de ver.

Eis como Jodie Foster ganhou o controle
da sua vida depois da morte de Napoleão
Vasco Câmara, em Cannes
A actriz, 58 anos, recebeu
uma Palma de Honra
para a carreira e deu início
aos espaços abertos à
conversa com o público
Em primeira mão para o mundo, a
triste história do Ænal de Napoleão.
Era um Yorkshire Terrier, despe-
nhou-se das escadas do aeroporto
de Los Angeles. Jodie Foster, que
nunca contara antes essa história
“horrível” e que não encontra expli-
cação para a ter contado agora, 45
anos depois de ela ter acontecido,
coloca-se nos sapatos da criança
que era quando voou para Nice,
França, para a edição que estrearia
Taxi Driver, de Martin Scorsese (e
mais três Ælmes com ela: Bugsy
Malone, de Alan Parker, Echoes of a
Summer, de Don Taylor, The Little
Girl Who Lives Down the Lane, de
Nicolas Gessner). E Jodie lembra-se
de ter sentido que tudo o que acon-
tecesse depois seria sacriÆcial, em
prol de Napoleão.
E assim, e mesmo tendo feito Æl-
mes antes, foi na sequência do
desastre de Napoleão que Jodie Fos-
ter “nasceu”. Aconteceu em Cannes
em 1976, protegida por Travis Bickle
(Robert de Niro), ameaçada por
Sport (Harvey Keitel).
Não imaginamos se dissermos
que a sua divisa do actor como um
“soldado em guerra”, alguém
que faz algo que não é divertido
“mas que é signiÆcativo”, forjou-se
ali. Isto é, aqui. Em Cannes 2021,
Foster, 58 anos, recebeu uma Palma
de Honra especial para a carreira
e foi ontem uma das convidadas
que vieram serenar a cavalgada
de Ælmes da 74.ª edição, protagoni-
zando espaços abertos à conversa
com o público. Depois de Jodie,
virão Marco Bellochio, Bong Joon-
ho, Matt Damon ou Isabelle
Huppert, directamente da Court
d’Honneur de Avignon, onde se
apresentou n’O Cerejal, que Tiago
Rodrigues dirigiu.
A história de Foster com Cannes
começou em 1976. E depois “foi o
destino”. Teve “sorte”. Durante
uma hora, recordou o casting de
Taxi Driver, os testes que teve de
fazer, exigência das autoridades de
LA, para provar que “tinha cons-
ciência” do que estava em causa no
seu papel de prostituta.
Lembrou-se e lembraram-lhe de
coisas “embaraçosas”, como o suces-
so de Freaky Friday (1976, Gary Nel-
son). “Tinha acne”, o corpo adoles-
cente transformava-se, ganhava uma
“corpulência” que a embaraçava, e
ainda lhe puseram uma peruca e
dentes falsos. Mas também a felici-
dade do primeiro Óscar, por Os Acu-
sados ( Jonathan Kaplan, 1988), his-
tória de uma mulher violada num
bar ao som dos incentivos dos seus
frequentadores. Jodie contou as “diÆ#
culdades” enfrentadas para o Ælme
existir, os comentários que o episó-
dio gerava: a vítima estava vestida de
forma provocante, o que podia ela
esperar senão uma violação? Era
“natural”. Esse Ælme, disse, “abriu
Jodie Foster à conversa com o público ontem à tarde em Cannes
Tout c’est Bien Passé
François Ozon passou mas não deixou segredos
É uma pena que Fançois Ozon tenha
deixado fugir as possibilidades da
tensão de um rosto, o de Sophie
Marceau, em Tout c’est Bien Passé.
Sophie que, entre a sua casa e uma
unidade hospitalar de cuidados
intensivos (o pai sofreu um AVC), se
vai mostrando, como acontecia à
Charlotte Rampling de Sous le Sable
(2000), tela em branco onde habi-
tam os segredos de um Ælme.
Isso é apenas o início daquela que
é a segunda entrada francesa
na competição, depois de Annette,
de Leos Carax. Se continuasse
assim, seria outro Ælme e não aque-
le que Ozon fez.
uma conversa importante” para se
chegar ao momento presente, come-
çou a “mudar as coisas”.
Naqueles tempos e em tempos
mais antigos, Foster olhava em
redor nos plateaux de Holywood e
não via mulheres. A não ser a actriz
que fazia de sua mãe e a maquilha-
dora. “Mesmo quando havia chefes
dos estúdios mulheres, elas não
contratavam realizadoras. Pensava-
se que contratar uma mulher era
correr um risco não necessário.”
Alguma coisa mudou, concorda.
Mas não no capítulo das realizado-
Tout c’est Bien Passé tem no seu cen-
tro um “tema”, o da ajuda ao suicídio,
que o realizador vai disfarçando,
ocultando — inclusive, guinando para
a comédia —, pontuando o ecrã com
outras personagens. Nessa (boa)
intenção de fugir ao “Ælme de tema”,
Ozon não se aplicou, por exemplo,
como Stéphane Brizé no belíssimo
Quelques Heures de Printemps (2012),
que destruía o tema e ganhava o Ælme
centrando-se nas rudes relações entre
um Ælho (Vincent Lindon) e a mãe
(Hélène Vincent) que ele conduz à
Suíça para ela ter morte assistida.
Ozon não reduz, multiplica. Não des-
trói o tema, esconde-o. Cria mudan-
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 31
Eu estava com
medo de ti.
‘Eu também’
Jodie Foster e Anthony Hopkins
quase não se falaram na rodagem
de O Silêncio dos Inocentes.
No final, caíram nos braços
um do outro
GONZALO FUENTES/REUTERS
ças de tom, e nessas manobras de
diversão lá se vai a relação entre Mar-
ceau e o pai (André Dussolier, que ela
se compromete a levar à Suíça). E às
tantas as personagens começam a
entrar e sair sem outra razão a não ser
povoar o Ælme. O exemplo p mais g gri-
tante é o da personagem interpre-
tada por, sim, ela mesmo, Charlot-
te Rampling: faz a mãe de Mar-
ceau, é uma escultora e também
ela está doente. É um papelpel
pequeno, mas extrema- a-
mente importante. Por--
que ali se concentra um m N
fora de campo que é
suposto assombrar o Æl-
Cultura
ras. Sobre a paridade de salários não
quer falar. “Há tanta desigualdade
no mundo” que não se quer dedicar
a investigar quantos milhões de
dólares a mais ganha um actor em
relação aos milhões de dólares de
uma actriz.
O segundo Óscar chegou-lhe com
O Silêncio dos Inocentes, com o “gen-
til” Anthony Hopkins. Quase não se
falaram durante a rodagem da
sequência entre os dois, separados
por um vidro. No Ænal, caíram nos
braços um do outro. “Eu estava com
medo de ti.” “Eu também.”
David Fincher (com quem fez
Panic Room, cuja rodagem impediu
os planos de a ter como presidente
do júri de Cannes) e Neil Jordan
foram os cineastas com quem mais
aprendeu. O primeiro porque,
segundo ela, é um técnico insupe-
rável e alguém com uma visão sin-
gular, que, podendo não ser a certa,
“é a dele”. O segundo porque, tam-
bém poeta e romancista, é um adep-
to da stream of consciousness e torna
as rodagens em espaços “completa-
mente abertos”.
Talvez lhe tenha escapado a reve-
lação mais íntima que fez, algo por
trás do francês impecável (aprendi-
do no Lycée Français de Los Ange-
les), do “savoir faire” social e da
clareza com que parece ver tudo.
Foi quando disse que é “muito sen-
sível perante o falhanço”. Pensando
nas suas interpretações mais céle-
bres, justamente essas, dir-se-ia que
incorporou nelas esse fantasma e
que soube ganhar o controle da sua
vida depois de cada obstáculo.
Como na morte de Napoleão.
me, o da relação entre os pais e do
que os levou à separação. Mas é evi-
dente que aquilo que tão magniÆca-
mente funcionava em Sous le Sable e
que se tornou uma “assinatura” de
Rampling, a sua impassibilidade
assustada e assustadora, se mostra
aqui ma
mal gerida, com a gestualida-
de da ac
actriz, a passagem da imo-
bilidad
bilidade à rispidez, o seu medo
(quando olha para o ex-marido
par
paralisado), a sua repulsa
(i
(idem), parecerem calcula-
d
das máquinas de efeitos.
Não vemos onde estão os
eventuais segredos deste
Ælme. V.C., em Cannes
32 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Guia

ímpar
publico.pt/impar
As cartas de amor de Sylvia Plath vão a leilão
São mais de meia centena de objectos que
testemunharam os sentimentos que uniam os
poetas Sylvia Plath e Ted Hughes. O leilão da
Sotheby’s, que decorre entre 9 e 21 deste mês,
inclui, além das cartas, as alianças de casamento,
receitas de família e álbuns de fotografias.

UNSPLASH/SINCERELY MEDIA

“O stalkerware
é um continuum
das formas
de violência
de género”
Quase 54 mil internautas foram
afectados por stalkerware em 2020,
tendo sido registados casos em todos os
Estados-membros da União Europeia
Maria Castanheira
O aumento do uso da Internet e o
avanço tecnológico tornou o mundo
digital uma constante na vida das pes-
soas. Mas, a mescla entre o online e o
offline tem consequências por vezes
negativas — e até perigosas — para os
indivíduos. Um dos fenómenos mais
recentes é o desenvolvimento de fer-
ramentas de stalkerware, criadas com
o propósito de monitorizar a activi-
dade de outros indivíduos.
Os softwares são instalados nos seus
aparelhos, concedendo aos perpetra-
dores acesso a informações como
pesquisas na Internet, emails, men-
sagens, fotograÆas e até localização
geográÆca (através do GPS), microfo-
ne e câmara. A violação de privacida-
de intensiÆca-se pelo facto de estas
ferramentas funcionarem de modo
oculto: depois de instaladas, traba-
lham em segundo plano sem que o
utilizador receba qualquer tipo de
aviso ou tenha ícone no ecrã.
Práticas como esta são uma amea-
ça crescente nos dias de hoje e afec-
tam sobretudo o género feminino,
como frisou a directora executiva da
European Network for the Work with
Perpetrators of Domestic Violence,
Alessandra Pauncz, num fórum dedi-
cado ao tema, que decorreu em
Junho: “É importante olhar para a
ciberviolência e o stalkerware como
um continuum das formas de violên-
cia de género.”
É que, segundo declarações da
coordenadora do programa para a
violência baseada no género do Insti-
tuto Europeu para a Igualdade de
Género, Jurgita Peciuriene, “as
mulheres são mais susceptíveis do
que os homens de serem vítimas de
formas graves de ciberviolência e o
impacte nas suas vidas é muito mais
traumático”.
E, como sublinhou a eurodeputada
Alessandra Moretti, membro da
Comissão dos Direitos das Mulheres
e da Igualdade dos Géneros do Parla-
mento Europeu, este é um problema
que “diz respeito a todos”. Segundo
um estudo publicado este ano pelo
Parlamento Europeu, os custos Ænan-
ceiros da ciberviolência baseada no
género “para os indivíduos e a socie-
dade” situam-se na casa dos milhares
de milhões euros.
Quanto ao número de ocorrências,
a empresa tecnológica especializada
em segurança Kaspersky veriÆcou, a
nível mundial, durante o ano de 2020,
53.870 casos de stalkerware, Æcando
de fora todos aqueles que também
terão sofrido com esta prática, mas
que não usam os seus serviços. A Rús-
sia, o Brasil e os Estados Unidos foram
os países mais afectados globalmente,
enquanto a Alemanha, a Itália e o Rei-
no Unido lideraram na Europa. Por-
tugal sinalizou 127 casos, sendo que
em todos os Estados-membros da
União Europeia foram detectadas
situações deste tipo.
Sobre o decréscimo de incidentes
face ao ano anterior (67.500 casos),
os especialistas consideram que o
resultado poderá ser explicado pelo
conÆnamento geral a que o mundo se
viu obrigado, o que terá reduzido a
necessidade sentida pelos agressores
de controlarem as suas vítimas.
Para Alessandra Paucz, a violência
psicológica e os comportamentos de
Os custos da ciberviolência baseada no género saldam-se em milhares de milhões euros
controlo ganham novos níveis ao
serem realizados através de ferramen-
tas de stalkerware. “O controlo é total,
a sensação de aprisionamento é refor-
çada e as consequências são devasta-
doras, porque os espaços que se tinha
para tentar romper com a situação
são muito reduzidos”, explica.
Criminalizar não chega
Para combater o problema, Alessan-
dra Moretti acredita que as escolas
devem assumir uma posição de van-
guarda. Contudo, esta não é a única
solução, sendo também necessária
acção judicial relativa à prática. “É
incompreensível que não se consiga
obter uma melhor fundamentação
jurídica [para impedir o stalkerwa-
re]”, reclama Alessandra Pauncz.
“Não devia ser acessível ou legal, não
há justiÆcação para isso.”
Actualmente, a regulação desta
actividade constitui um problema.
Em vários países, a produção destes
softwares é legal, recaindo a respon-
sabilidade sobre quem os adquire de
não os utilizar sem o consentimento
dos proprietários dos dispositivos em
que os instala. Assim, ao contrário de
outros programas intrusivos (conhe-
cidos por “malware”), as empresas
tecnológicas que trabalham em segu-
rança e desenvolvem aplicações con-
tra este tipo de acções não podem,
deparando-se com estas ferramentas,
automaticamente removê-las.
Ainda assim, como sublinha a juíza
e membro da Eurojust Cláudia Pina,
as autoridades judiciais necessitam
da cooperação dos prestadores de
serviços online e do sector privado
para a resolução destes casos. A cri-
minalização destas práticas, explica,
não é suÆciente, sendo também
necessárias regulamentações de direi-
to civil e comercial dirigidas à indús-
tria tecnológica, que as possibilita.
Este é, portanto, um problema que
necessita de uma abordagem multi-
disciplinar, defendem os vários espe-
cialistas. Actualmente já existem
organismos como a Coalition Against
Stalkerware e a DeStalk, que unem
informações, ferramentas e especia-
listas. Ou seja, organizações sem Æns
lucrativos, empresas tecnológicas,
programas para perpetradores, ser-
viços de apoio à vítima e autoridades
judiciais são chamados a agir em con-
junto.
No entanto, ainda não é suÆciente,
já que, como frisou Alessandra
Pauncz, é preciso, antes de mais, “tra-
zer de novo o foco da web, que pode
parecer distante, para as pessoas”.
“Há pessoas atrás [da Internet] que
se magoam, que sofrem consequên-
cias.”
Também Cláudia Pina centra a
atenção nos lesados, relembrando
uma frase de Tim Berners-Lee, o fun-
dador da Internet: “O objectivo da
web é servir a humanidade.” E, subli-
nhou a juíza, como “ela não conecta
apenas máquinas, conecta pessoas,
deve ser um lugar seguro para todos”.
“A web não pode ser um canto escuro,
onde os mais vulneráveis estão amea-
çados”, concluiu. Texto editado por
Carla B. Ribeiro

Cinema
Lisboa
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
O Movimento das Coisas M12. 13h50; First
Cow - A Primeira Vaca da América M12.
18h; Annette M14. 15h30, 20h10
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 20h25; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 12h50, 15h20,
17h55 (V.P./2D); Cruella M12. 12h40, 16h,
19h20 (V.O./2D); Viúva Negra M12. 12h30,
13h20, 14h20, 15h40, 16h30, 17h40, 19h,
19h45 (2D) 13h (3D); The Conjuring 3 - A
Obra do Diabo M16. 20h15; Os Flofos:
Viagem no Tempo M6. 13h05, 15h30, 17h40
(V.P./2D); Demon Slayer - Kimetsu No Yaiba
- O Filme: Comboio Infinito M14. 19h40;
Velocidade Furiosa 9 11h10, 12h50, 14h30,
16h20, 17h50, 19h35; O Guarda-Costas e a
Mulher do Assassino M16. 16h35, 19h30;
Stardust - O Nascer de Uma Estrela M14.
14h05, 16h55; The Ice Road: Missão de
Risco M12. 13h15, 16h15, 19h15; Vigarices a
Dobrar M14. 13h55; A Cada Passo Teu M16.
17h05, 19h55
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Bem Bom M14. 14h, 17h, 20h10; Cruella M12.
13h50, 16h40, 19h40 (V.O./2D); Viúva
Negra M12. 13h10, 13h40, 16h, 16h50, 19h,
19h50; Os Flofos: Viagem no Tempo M6.
13h30, 15h40 (V.P./2D); Velocidade Furiosa
9 13h10, 16h20, 19h30; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 17h50, 20h20;
Annette M14. 13h20, 16h20, 19h20
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
Um Lugar Silencioso 2 M14. 20h40; Bem
Bom M14. 12h50, 15h20, 18h, 20h30; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 13h10, 15h30,
18h10 (V.P./2D); Cruella M12. 13h40, 17h (V.
O./2D); Viúva Negra M12. 13h, 15h, 16h,
18h30, 19h10; Velocidade Furiosa 9 13h20,
14h30, 16h20, 18h50, 19h40; O
Guarda-Costas e a Mulher do Assassino
M16. 14h, 17h10, 20h10; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 20h20; Viúva
Negra M12. 13h30, 16h40, 20h (IMAX 3D)
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Bem Bom M14. 15h10, 17h40, 20h20; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 10h45, 13h20,
15h45, 18h05 (V.P./2D); Cruella M12. 16h (V.
O./2D); Viúva Negra M12. 14h, 15h30, 17h,
18h30, 19h10, 20h ; Velocidade Furiosa
9 13h10, 16h25, 19h40 ; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 20h30
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
A Rapariga da Mala M12. 17h30; Outono
Escaldante 15h; PJ Harvey: A Dog Called
Money M12. 13h; O Milagre de Milão M6.
11h; Annette M14. 20h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Bem Bom M14. 11h20, 14h10, 17h10, 19h40,
20h10; Os Croods: Uma Nova Era M6. 11h,
14h05, 16h30 (V.P./2D); Nomadland -
Sobreviver na América 13h35, 16h35; O
Pai M12. 17h55, 20h20; Cruella M12. 10h50,
16h25, 19h35; Viúva Negra M12. 10h40,
13h50, 16h50, 19h20, 19h50; Spirit
Invencível M6. 11h30 (V.P./2D); Miss
Marx M12. 16h45, 19h25; Ao Ritmo de
Washington Heights M12. 14h45; O Espião
Inglês M12. 14h25, 17h05, 19h55; Colectiv -
Um Caso de Corrupção M14. 13h45;
Supernova 14h20, 16h55, 19h45;
Velocidade Furiosa 9 11h10, 13h30, 16h40,
20h; O Último Banho M16. 16h50; Quatro
Dias a Teu Lado M14. 15h, 17h45, 20h15; O
Guarda-Costas e a Mulher do Assassino
M16. 14h35, 19h55; Stardust - O Nascer de
Uma Estrela M14. 14h, 17h15; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 13h40, 16h20, 20h05;
Annette M14. 10h30, 13h55, 19h15
Estreias
A Cada Passo Teu
De Vaughn Stein. Com Casey
Affleck, Michelle Monaghan,
Sam Claflin. EUA. 2021. 105m.
Drama, Thriller. M16.
Quando nada parece funcionar
durante as sessões de terapia de
uma paciente sua, um psiquiatra
tenta uma estratégia pouco
convencional: expor as suas
próprias fragilidades.
Bem Bom
De Patrícia Sequeira. Com João
Vicente, Dinarte de Freitas,
Lia Carvalho, José Mata, Ana
Marta Ferreira, José Raposo,
Ana Padrão, Bárbara Branco,
Carolina Carvalho. POR. 2020.
111m. Drama, Musical,
Biografia. M14.
Realizado por Patrícia Sequeira,
o Ælme narra partes da vida das
Doce, o quarteto feminino que
encantou (e chocou) Portugal
Bem Bom
durante a primeira metade da
década de 1980.
Annette
De Léos Carax. Com Marion
Cotillard, Adam Driver, Simon
Helberg, Rila Fukushima. EUA/
ALE/BEL/JAP/SUI/FRA/MEX.
2021. 139m. Drama, Musical. M14.
Henry e Ann estão apaixonados e
felizes. A sua vida muda
completamente com o nascimento
de Annette, a sua primeira Ælha.
Viúva Negra
De Cate Shortland. Com
Scarlett Johansson, Florence
Pugh, David Harbour, William
Hurt, David Harbour. EUA. 2021.
133m. Acção, Aventura. M12.
Natasha Romanoè, também
conhecida como Viúva Negra,
vê-se implicada numa
conspiração que envolve o seu
passado como espiã russa.
NASH DOES
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 33
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Estr. Caminho Municipal, 1011. T. 16996
Peter Rabbit: Coelho à Solta M6. 12h15,
14h50 (V.P./2D); Bem Bom M14. 12h20, 15h,
17h40, 20h20; Os Croods: Uma Nova Era M6.
12h45, 15h10, 17h50 (V.P./2D); Cruella M12.
12h40, 15h45, 19h50 (V.O./2D); Viúva Negra
M12. 12h30, 14h, 13h30, 15h40, 16h20, 16h40,
18h40, 19h10, 19h50 (2D) 17h (3D); Raya e o
Último Dragão M6. 14h40, 17h30 (V.P./2D);
The Conjuring 3 - A Obra do Diabo M16.
20h10; Os Flofos: Viagem no Tempo M6.
13h40, 16h50 (V.P./2D); Caminho Sem
Retorno M16. 20h15; Velocidade Furiosa 9
12h50, 14h30, 16h10, 18h, 19h40; O Guarda-
Costas e a Mulher do Assassino M16. 15h50,
20h; Stardust - O Nascer de Uma Estrela
M14. 13h20; The Ice Road: Missão de Risco
M12. 19h45; Annette M14. 13h, 19h30; A
Cada Passo Teu M16. 17h20, 19h55; Viúva
Negra M12. 13h10, 16h, 20h (3D 4DX)
Amadora
UCI Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Bem Bom M14. 10h50, 13h30, 16h40, 19h20,
19h50; Os Croods: Uma Nova Era M6. 11h15,
14h, 16h25, 18h50 (V.P./2D); Cruella M12.
13h15, 16h15; Viúva Negra M12. 11h, 14h10,
17h10, 19h40, 20h10; The Conjuring 3 - A
Obra do Diabo M16. 17h; Os Flofos: Viagem
no Tempo M6. 11h30, 14h20, 16h55 (V.P./2D)
Velocidade Furiosa 9 10h40, 13h40, 16h50,
19h30, 20h; O Guarda-Costas e a Mulher do
Assassino M16. 14h15; The Ice Road: Missão
de Risco M12. 13h50, 16h30, 1935
Barreiro
Castello Lopes - Fórum Barreiro
Campo das Cordoarias. T. 212069440
Bem Bom M14. 15h, 17h30, 20h; Os Croods:
Uma Nova Era M6. 13h30, 15h45, 18h, 20h15
(V.P./2D); Viúva Negra M12. 13h45, 16h40,
19h35; Velocidade Furiosa 9 13h15, 16h20,
19h25
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
Alcabideche. T. 16996
Bem Bom M14. 12h30, 15h10, 17h45,
20h20; Os Croods: Uma Nova Era M6.
12h40, 15h, 17h15 (V.P./2D); Cruella M12. 14h,
16h50 (V.O./2D); Viúva Negra M12. 13h,
13h50, 16h, 17h, 19h, 20h; Velocidade
Furiosa 9 13h10, 16h15, 19h20, 19h40; O
Guarda-Costas e a Mulher do
Assassino M16. 19h50; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 14h30, 17h30,
20h10; Viúva Negra M12. 13h30, 16h30,
19h30 (IMAX 3D)
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I. T. 215887311
Bem Bom M14. 15h, 16h, 18h10, 20h20; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 14h45, 16h40,
18h35 (V.P./2D); Viúva Negra M12. 15h,
17h30, 20h; O Homem Que Vendeu a Sua
Pele M12. 20h30; Quatro Dias a Teu Lado
M14. 14h35, 16h35, 18h35, 20h35; Stardust
- O Nascer de Uma Estrela M14. 17h10, 19h20
Carcavelos
Atlântida-Cine
R. Dr. Manuel Arriaga, Centro Comercial
Carcavelos. T. 214565653
O Espião Inglês M12. 15h, 20h15; Annette
M14. 15h, 20h
Sintra
Castello Lopes - Alegro Sintra
Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
Guia
Bem Bom M14. 12h35, 15h, 17h30, 20h; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 13h30, 15h45,
18h, 20h15 (V.P./2D); Viúva Negra M12.
13h15, 13h45, 16h10, 16h40, 19h05, 19h35;
Velocidade Furiosa 9 13h15, 16h20, 19h25;
O Guarda-Costas e a Mulher do Assassino
M16. 14h20, 17h, 19h40; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 14h55, 17h25, 19h55
Leiria
Cineplace - Leiria Shopping
CC Leiria Shopping, IC2. T. 244826516
Bem Bom M14. 16h40, 19h10, 21h45; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 16h10 (V.
P./2D); Viúva Negra M12. 16h, 18h20, 18h50,
21h10, 21h40; Velocidade Furiosa 9 15h20,
16h50, 18h30, 20h30, 21h30; O Último
Banho M16. 19h; The Ice Road: Missão de
Risco M12. 16h30, 21h20
Loures
Cineplace - Loures Shopping
Quinta do Infantado, Loja A003.
Bem Bom M14. 13h10, 15h30, 18h, 20h30;
Os Croods: Uma Nova Era M6. 13h, 14h10,
16h20, 18h30 (V.P./2D); Cruella M12. 17h30
(V.O./2D); Viúva Negra M12. 13h50, 16h30,
17h, 19h30, 20h10; Os Flofos: Viagem no
Tempo M6. 13h05, 15h20 (V.P./2D);
Velocidade Furiosa 9 13h40, 16h50, 20h; O
Último Banho M16. 20h20; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 20h40
Montijo
Cinemas Nos Alegro Montijo
C. C. Alegro Montijo. T. 16996
Bem Bom M14. 12h20, 15h, 17h40, 20h20;
Os Croods: Uma Nova Era M6. 12h55, 15h10,
17h20 (V.P./2D) Cruella M12. 19h30 (V.O./2D)
Viúva Negra M12. 12h40, 13h40, 17h, 19h,
20h (2D) 16h (3D); Os Flofos: Viagem no
Tempo M6. 13h10, 15h25 (V.P./2D);
Velocidade Furiosa 9 13h20, 16h30, 19h40
The Ice Road: Missão de Risco M12. 17h30,
20h10
Odivelas
Cinemas Nos Odivelas Strada
C.C. Strada Shopping. T. 16996
Os Croods: Uma Nova Era M6. 13h, 15h30,
17h50; Viúva Negra M12. 12h50, 13h45,
15h50, 16h45, 19h, 19h50; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 20h20
Oeiras
Cinemas Nos Oeiras Parque
C. C. Oeirashopping. T. 16996
Bem Bom M14. 14h, 17h30, 20h30; Os
Croods: Uma Nova Era M6. 13h30, 16h20
(V.P./2D); Viúva Negra M12. 13h20, 15h,
16h40, 18h20, 20h; Velocidade Furiosa
9 13h10, 16h, 18h45, 19h40; The Ice Road:
Missão de Risco M12. 20h15; Annette M14.
13h40, 17h
Torres Novas
Castello Lopes - TorreShopping
Bairro Nicho - Ponte Nova. T. 249830752
Bem Bom M14. 14h, 16h30, 19h, 21h30;
Viúva Negra M12. 15h15, 18h10, 21h05;
Velocidade Furiosa 9 14h45, 17h50, 20h55
Santarém
Castello Lopes - Santarém
Largo Cândido dos Reis. T. 243309340
Bem Bom M14. 15h, 17h30, 20h; Os Croods:
Uma Nova Era M6. 13h25, 15h40, 18h, 20h15
(V.P./2D); Viúva Negra M12. 13h45, 16h40,
19h35; Velocidade Furiosa 9 13h15, 16h20,
19h25; The Ice Road: Missão de Risco M12.
14h55, 17h25, 19h55
34 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Guia

Lazer Jogos Jogue também online.

Palavras-cruzadas, Totoloto 14 18 19 41 46 4
bridge e sudoku em
1.º Prémio 4.900.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios

TEATRO Cruzadas 11.395 Paulo Freixinho

Quem Matou o Meu Pai?
LISBOA Teatro D. Maria II. De 8/7
a 10/7. Quinta e sexta, às 20h;
sábado, às 19h. M/12. 9€ a 16€
O francês Édouard Louis escreveu
o livro; o encenador belga Ivo van
Hove adaptou-o ao palco. O
resultado está neste espectáculo
da Internationaal Theater
Amsterdam, “um monólogo
pensado expressamente para o
experiente actor Hans Kesting,
que o protagoniza” e centrado na
vida do pai de Louis, na
homofobia presente na sua família
de operários e na exploração e
desigualdade social que destrói
precocemente a vida dos
trabalhadores da indústria pesada,
“com a ajuda determinante do
álcool, único escape em vidas
marcadas pela violência”. Integra
o 38.º Festival de Almada.
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1 - País que sucedeu a Portugal na presidência do Conselho da União
Europeia. 2 - Obstinado. Sociedade Portuguesa de Autores. 3 - Espuma das ondas
do mar. Prefixo (duas vezes). Antes do meio-dia. 4 - Video Assistant Referee. Ponta
aguçada. 5 - Timor-Leste (domínio de Internet). (...) Moïse, Presidente do Haiti,
foi assassinado na sua residência. 6 - Segue um caminho. Regiões. 7 - Antes de Cristo
(abrev.). Reprovar num exame (académico). Prefixo (repetição). 8 - Assembleia de
eclesiásticos convocados pelo seu prelado ou outro superior. Conjunto dos utensílios
de cozinha. 9 - Referir. Instituto Europeu da Igualdade de Género (sigla inglesa).
10 - Repetir. Chega aos ouvidos. 11 - País do Sudoeste Asiático, península da Indochina,
cuja capital é Vienciana. Coisas inúteis (fig.).
VERTICAIS: 1 - Extraterrestre. Difere. 2 - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. (...) Gago,
procuradora-geral da República. 3 - Símbolo da música. Meneio de cabeça em sinal de
aprovação ou consentimento. 4 - Elemento de formação de palavras que exprime a ideia
de ombro. Homem ordinário (popular). 5 - Enrolamento característico das serpentes.
Acrescentar. 6 - Tens a natureza de. Avenida (abrev.). A parte mais grossa e forte da lança.
7 - Distinção. Relações Internacionais. 8 - Setentrião. 9 - Elas. Dispositivo portátil de
armazenamento de dados com ligação USB. «Não há casamento sem choro, nem funeral
sem (...)». 10 - Mais de 100 obras desta artista, feitas ao longo de 60 anos, estão expostas
na Tate Britain (dois nomes juntos). 11 - Glória. Fomentar.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1 - Chocolate. 2 - Libou. Garfa. 3 - Mear. EP. 4 - Eslováquia. 5 - Anah. 6 - Te. Entremez.
7 - Ruh. Aio. 8 - Discordar. 9 - Coloca. Auto. 10 - Ab. Genebra. 11 - Rifa. Ocioso.
VERTICAIS: 1 - Cl. Atracar. 2 - Himeneu. Obi. 3 - Obesa. Hdl. 4 - Coalhe. Ioga. 5 - Ouro. Nasce.
6 - Vaticano. 7 - Ag. Roo. EC. 8 - Tanque. Rabi. 9 - Er. Maduro. 10 - Feixe. Atas. 11 - Sapa. Zero.

A Nossa Cidade
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
LISBOA Teatro do Bairro Alto. Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
De 8/7 a 18/7. Terça a sábado,
às 19h; domingo, às 17h. M/12.
Duração: 2h30. 12€ Dador: Este aponta que nove vazas num contrato Problema 10.564 (Fácil)
Com base no texto Our Town Vul: Ninguém em ouros, ou possivelmente mais, é
(1938) de Thornton Wilder, três um exercício trivial. Portanto, um
companhias lisboetas unem NORTE cabide 50 ou dois por 100 tem muito
esforços e, “num gesto que não Ƅ QJ3 bom aspecto. Mas o nosso herói não
Ɔ Q98732
pode deixar de ser de resistência, Ƈ3 viu a coisa dessa maneira e
desenham uma cidade a várias ƅ Q74 descortinou um plano para cumprir o
mãos para nos vermos nela”. É seu contrato. “Como?”, pergunta o
OESTE ESTE
com a Auéééu-Teatro, Os Ƅ 95 Ƅ 1062 leitor. Pense mais um pouco antes de
Possessos e o Teatro da Cidade ƆK Ɔ AJ105 continuar a ler. Solução 10.562
que chega à cena o retrato de Ƈ KJ98642 Ƈ Q107 Acredite ou não, quando Este jogou a
“Grover’s Corners, cidadezinha ƅ AJ8 ƅ K107 Dama de ouros, o carteador deixou
Æctícia de Nova Inglaterra no SUL fazer! Agora repare no que isso
início do século XX”, povoado de Ƅ AK874 gerou: depois de fazer a vaza, Este
Ɔ 64
temas universais como o Ƈ A5 decidiu jogar o Ás de copas,
quotidiano, o amor ou a morte. ƅ 9632 carcomendo o Rei do seu parceiro, e
jogou outra copa para o corte de

FESTIVAL
MAPS — Mostra de Artes
Performativas de Setúbal
SETÚBAL Vários locais.
De 8/7 a 17/7. Grátis
A terceira edição da iniciativa, que
este ano promove “o encontro
entre a criação artística
contemporânea e o público”, vem
com um total de 27 apresentações
pela cidade. O alinhamento passa,
entre outros momentos, pelo
Bairro das Ideias, onde Paula
Moita estende as mangas de A.
braço.te; e pel’A GráÆca, onde
Samir Noorali expõe Blackest
Dogs, Francisco Camacho dança
uma Viagem Sentimental #Setúbal,
Filipe Pereira mostra Arranjo
Floral e o projecto Branco & Cante
Alentejano abre uma desgarrada
entre o rap e as vozes da tradição.
Oeste Norte Este Sul
passo 1Ƅ
3Ƈ 3Ƅ Todos passam
Leilão: Torneio de pares.
Carteio: Saída: 6Ƈ. Aparece a Dama
de ouros em Este. Qual o seu plano
de jogo?
Solução: As pessoas fazem coisas
perfeitamente inacreditáveis, tudo na
incessante procura pelo top. Este
jogo aconteceu num torneio de
pares recente online, onde estavam
presentes mais de 1000 pares! O que
teria feito para conquistar o seu
“lugar ao sol”?
É fácil identificar sete vazas: cinco
espadas, Ás de ouros e ouro cortado.
Poucas possibilidades para evitar a
perda de três vazas a paus. Por outro
lado, os adversários têm 10 ouros em
linha, as duas honras de topo e mais a
possibilidade de fazer uma terceira
vaza a copas, sem mencionar todas
as cartas intermédias a paus. Tudo
Oeste. Oeste, por seu lado,
convencido que Este tinha o Ás de
ouros, jogou outro ouro. Sul fez o Ás,
entrou no morto através de uma
espada para a Dama, cortou uma
copa e depois jogou Ás de espadas e Problema 10.565 (Difícil)
espada para o Valete para poder
usufruir das copas apuradas! Isso
resultou em três espadas cumpridas,
140 pontos e um top absoluto!
Tudo isto para conseguir conseguir
figurar nos dez primeiros!
Considere o seguinte leilão:
Oeste Norte Este Sul Solução 10.563
1ƅ passo 1Ƅ
passo 2Ɔ passo ?
O que marca com a seguinte mão?
ƄQ10875 ƆJ2ƇQ62 ƅJ93
Resposta: Marque duas espadas.
É forcing, mas não promete uma
nova voz.
 Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 35

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

No Dia dos Meus Anos
TVCine Edition, 22h10
No Dia Dos Meus Anos foi a
contribuição de João Botelho para
a série Os Quatro Elementos,
produzida por Paulo Branco para
a RTP e o canal Arte, em que
participaram também Joaquim
Pinto, João César Monteiro e João
Mário Grilo. O episódio de Botelho
foi dedicado ao elemento Ar.
Construído como um puzzle de
cenas de vários elementos de uma
família desagregada (da qual o pai
está na prisão), evolui pela
acumulação de episódios guiados
pelo olhar da infância, entre os
quais circula uma espécie de
harmonia contida. Discretamente
jubilatório, contém as marcas
maiores de João Botelho, tanto do
ponto de vista plástico como
narrativo.
Uma História de Violência
RTP1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 7
Maravilhas da Nova Gastronomia
12.59 Jornal da Tarde 14.22 Os Nossos
Dias 15.04 7 Maravilhas da
NovaGastronomia 17.28 Factura da
Sorte 17.30 Portugal em Directo 19.07
O Preço Certo 19.55 Direito de Antena
19.59 Telejornal
21.01 Play - Prémios
rémios
da Música
Portuguesa
Terça-feira, 6
RTP1 9,3%
% SÉRIE
Euro 2020
% Aud. Share
TVI 19,7 39,3
RTP2 1,1
A Serra SIC 11,5 26,8 SIC 19,7 Law & Order: Organized Crime
TVCine Action, 22h10
TVI
Amor, Amor SIC 11,3 21,1
Festa é Festa TVI 10,4 27,0 23,9 Estreia do spin-oè de Law & Order e
Law & Order: Special Victims Unit,
Cabo
Jornal da Noite SIC 9,3 19,0
FONTE: CAEM
31,1 que marca o regresso de
Christopher Meloni, como Elliot
Stabler. Mais de dez anos depois,
TVCINE TOP
RTP2 Stabler regressa à Polícia de Nova
16.35 Crown Vic 18.25 O Segredo das Iorque para combater o crime
6.32 Repórter África 7.00 Espaço Zig Bolachas (VP) 20.05 Downhill (2019) organizado, depois de uma perda
Zag 12.00 Chegou a Felicidade 21.30 Unidos Pelo Natal 23.00 Mãe pessoal que o deixou
13.00 Das Pedras Fez Terra: Histórias Fora, Dia Santo em Casa 0.35 V.C. completamente devastado. O
da beira Baixa 13.45 Folha de Sala Andrews’ Heaven 2.05 Divino Amor nosso protagonista terá que se
13.52 A Fé dos Homens 14.25 adaptar a um novo sistema de
Ciclismo: Volta à França 2021 16.48 justiça criminal enquanto lida com
De Lisboa a Estocolmo 17.05 Espaço FOX MOVIES o seu trauma. O elenco conta com
Zig Zag 20.33 As Grandes Mentiras 19.10 Sol Nascente 21.15 A Armadilha Dylan McDermott (Causa Justa),
da História 21.25 Folha de Sala (1999) 23.03 Uma História de Violência Danielle Moné Truitt (Rebel) e
0.35 Pecado Capital 2.18 Não Brinques Tamara Taylor (Agents of SHIELD),
com Estranhos tendo também a participação de
21.30 Jornal 2 Mariska Hargitay, a detective Olivia
Benson de Law & Order: Special
HOLLYWOOD Victims Unit.
22.01 De Gaulle - Prestígio e Intimidade 17.55 A Vida por um Fio 19.35 The

Fox Movies, 23h03
Tom Stall (Viggo Mortensen) vive
calmamente com a mulher
advogada (Maria Bello) e os dois
Ælhos numa pequena e pacata
cidade no Indiana. Mas, uma
noite, a sua idílica existência é
perturbada quando impede um
roubo na sua cafetaria e salva os
seus clientes e amigos matando os
dois criminosos. O acontecimento
atrai de imediato todos os meios
de comunicação social e Tom é
considerado um herói, mas todo
este circo mediático deixa-o
23.42 Euro 2020 - Os Dias do Euro
0.00 SemFronteiras
1.00 Coimbra: História de uma Canção
1.55 Iskander 2.43 De Lisboa a
Estocolmo 2.59 Grande Entrevista:
Fernando Medina
Fighter - Último Round 21.30
Transformers - Retaliação 23.55
22.50 Fevereiross Machete 1.40 Na Sombra da Lei
AXN
18.28 DOC 19.26 The Good Doctor
21.06 X Company 22.53 Código de
0.06 Família à Deriva Honra 0.48 X Company 1.39 S.W.A.T.:
Força de Intervenção
1.47 Euronews
5.47 Água de Mar FOX
17.21 Investigação Criminal: Los Angeles
18.53 Chicago P.D. 20.31 Hawai Força
DOCUMENTÁRIO
Fevereiros
RTP2, 22h50
Um documentário realizado por
Marcio Debellian que tem como
protagonista Maria Bethânia, na
ligação entre dois Fevereiros: o do
Recôncavo baiano, religioso, e o
do Carnaval carioca, entre Santo
Amaro da PuriÆcação da Bahia e o
Rio de Janeiro, com o apogeu da
Mangueira.

desconfortável. É, então, que um
misterioso e ameaçador estranho
chega à cidade. Realizado por
David Cronenberg, o thriller
dramático baseia-se na novela
gráÆca homónima de John Wagner
e Lince Locke. Foi nomeado para
dois Óscares: Melhor Actor
Secundário (William Hurt) e
Melhor Argumento Adaptado
( Josh Olson).
Dead Trigger
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.35 Alô
Portugal 10.10 Casa Feliz 13.00
Primeiro Jornal 14.50 Linha Aberta
com Hernâni Carvalho 16.10 Júlia
18.15 Viver a Vida 18.35 Orgulho e
Paixão 19.15 Quem Quer Namorar com
o Agricultor? - Edição da Tarde
19.57 Jornal da Noite
TVI
6.05 Curious George 6.30 Diário da
Manhã 7.00 Esta Manhã 10.10 Dois às
10 13.00 Jornal da Uma 14.45 A Única
Mulher 16.10 Goucha 18.15 O Amor
Acontece 19.10 Cristina ComVida
19.57 Jornal das 8
Especial 22.15 Taken 23.55 Investigação
Criminal: Los Angeles
DISNEY CHANNEL
17.15 Lab Rats 18.25 Anfibilândia 19.15
Os Green na Cidade Grande 20.00 Casa
da Coruja 20.25 Lab Rats 21.10
Miraculous - As Aventuras de Ladybug
DISCOVERY
17.05 Alasca: A Última Fronteira 19.00
MÚSICA
Play - Prémios da Música
Portuguesa
RTP1, 21h01
A terceira edição dos Play —
Prémios da Música Portuguesa é
transmitida do Coliseu dos
Recreios, em Lisboa. O evento tem
como objectivo premiar o melhor
da música nacional.

Cinemundo, 22h30
Filme de abertura do especial
Quintas de Acção do Outro
Mundo. Num futuro não muito
distante, uma nova estirpe de
vírus assolou o planeta. Milhões
de pessoas foram transformados
em zombies, que se erguem das
tumbas em busca de carne
humana. Os raros sobreviventes
vivem escondidos em locais
remotos, em busca de uma
solução. Num último esforço, as
autoridades resolvem treinar um
grupo de elite para encontrar e
capturar o “elemento zero”, o
primeiro ser humano a ser
contagiado. Um Ælme baseado no
videojogo com o mesmo nome. O
elenco conta com Isaiah
Washington, Autumn Reeser e
Dolph Lundgren.
21.55 Amor Amor
22.35 A Serra
23.30 Quem Quer Namorar com a
Agricultora?
23.40 Tempo de Amar 02.55 Quem
Quer Namorar com o Agricultor?
- Edição da Noite 1.20 Golpe
de Sorte 2.00 Original É a
Cultura 2.55 Volante 3.05 Advnce
3.35 Passadeira Vermelha
Aventura à Flor da Pele 21.00 Chapa e
21.55 Festa É Festa Pintura 22.55 Fast N’ Loud 0.40 Chapa
e Pintura
22.35 Bem Me Quer
HISTÓRIA
16.46 Forjado no Fogo 1.02 O
23.20 Amar Demais Inexplicável
0.05 Mulheres ODISSEIA
17.08 Escola de Orangotangos 17.57 O
Veterinário de Yorkshire 18.42 Resgate
1.15 Diário do Euro na Praia 19.27 caçador de Armas 20.12
Red Arrows: Os Pilotos Acrobáticos
Conquistam a América do Norte 20.56
1.39 Autores - Tiago Torres da Silva Máquinas Contra o Frio Extremo 21.39
Guerreiros do Ar 22.31 Red Arrows: Os
Pilotos Acrobáticos Conquistam a
2.34 Doce Tentação América do Norte 23.15 Pan Am: Cruzar
2.53 Fascínios o Pacífico
INFANTIL
O Segredo das Bolachas (V.P.)
TVCine Top, 18h25
Esta comédia de animação 3D é
inspirada em bolachas em forma de
animais. A história gira à volta de
uma família que tem de usar uma
embalagem dessas bolachas para
impedir que o tio malévolo tome
conta de um circo antigo caído em
desgraça. Estreado em festivais de
animação em 2017, este Ælme, que
começou a ser feito em 2015, só em
2020 chega aos Estados Unidos e à
Europa. É co-realizado por Tony
Bancroft, animador e co-realizador
de Mulan, e Scott Christian Sava,
que trabalhou nos Power Rangers
americanos e também é co-autor
do guião.
 36 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

Guia

Meteorologia
Sem pandemia, PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA

já era complicado.
Viana do Castelo Sexta-feira, 9 Sábado, 10 Domingo, 11
Bragança
14 º
22º
28º
18º 31º 17º 34º 16º 30º
Braga 10º

Com pandemia, 15º

1,8m
Porto
13 º

22 º
26 º
Vila Real

12º
27º
Índice UV
Vento
Humidade
Extremo
Fraco
51%
Índice UV
Vento
Humidade
Extremo
Fraco
44%
Índice UV Extremo
Vento
Humidade
Fraco
52%

tornou-se
13º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 27 º
28º Mauna Loa, Havai Portugal

ainda mais
23º 12º
13 º 12º Partes por milhão
(ppm) na atmosfera Porto Muito
Coimbra Valores por semana Bom
27º Coimbra Bom
Marcelo Rebelo de Sousa 13º Semana de 27 Jun. 418,08
Castelo Branco
Semana de 20 Jun. 418,33 Lisboa Médio
32 º Há um ano 415,76
Leiria 14º Há dez anos 393,59 Évora Fraco
AMANHÃ 15º
23º
Nível de segurança 350
Faro Mau
Em conversa com Maria João Avillez, Nível pré-industrial 280
Santarém
o Presidente da República fala sobre Portalegre
a pandemia, o cansaço e os últimos 32 º
14º 32º
desencontros com António Costa. 15º SOL LUA
Esta é apenas parte de uma longa 10 Jul. 01h17
Lisboa
entrevista ao PÚBLICO 28 º
16º Évora 17 Jul. 10h11

DOMINGO Setúbal
30º 14º
31º
Nascente Poente
24 Jul. 02h37
Nascente Poente
Marcelo Rebelo de Sousa 16º
06h19 21h04 31 Jul. 13h16 04h43 20h09
analisa o legado de António
Guterres e o guterrismo — Beja EUROPA
Sines
a última de uma série de
24º 33º Helsínquia
reflexões sobre os “ismos” 16º 15 º Oslo
Estocolmo
16º Talín
da democracia
1,5m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 27º
20º Bruxelas
22º Faro Praga
18º Paris
Viena Budapeste
18º Genebra
0,8m
Açores Milão

Corvo Roma
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 23º
25º Atenas
21º 1m
São Jorge 25º
23º 20º
1m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
24º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
21º 20º Amesterdão 13 22 Roma 22 33
1,2m Atenas 26 34 Viena 20 36
Ponta Delgada
Berlim 16 22 Bissau 27 32
Sta Maria Bruxelas 13 21 Buenos Aires 14 17
Madeira Bucareste 19 29 Cairo 26 37
Porto Santo Budapeste 23 37 Caracas 21 28
Copenhaga 16 22 Cid. do Cabo 10 16
Madeira
22º 23º 22º 22º Dublin 13 19 Cid. do México 14 22
18º 19º
0,8m 1,8m Estocolmo 15 25 Díli 22 31
Frankfurt 16 24 Hong Kong 26 33
Funchal Genebra 12 20 Jerusalém 22 30
Istambul 23 28 Los Angeles 19 29
Conteúdo reservado MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 16 30 Luanda 20 26
a quem assina o Público Londres 14 21 Nova Deli 29 41
Junte-se a nós e apoie Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 18 30 Nova Iorque 22 30
o bom jornalismo 08h46 1,0 08h21 1,2 08h13 1,1 Milão 17 30 Pequim 22 33
15h03 3,1 14h39 3,1 14h41 3,0 Moscovo 19 30 Praia 23 30
Oslo 13 23 Rio de Janeiro 17 24
21h17 1,0 20h53 1,1 20h44 1,0 Paris 15 23 Riga 20 30
03h23* 3,0 02h59* 3,0 02h59* 2,9 Praga 17 24 Singapura 26 32
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL

PATROCÍNIO
Inglaterra é finalista do
Europeu pela primeira vez
Dinamarca até marcou primeiro, mas acabou derrotada, em Wembley, com um
penálti no prolongamento. Britânicos vão defrontar a Itália na Änal de domingo
Crónica de jogo
Marco Vaza
Wembley, um dos mais míticos está-
dios do futebol mundial. Foi num
recinto com este nome que a Inglater-
ra, país que reclama para si a inven-
ção do futebol moderno, conquistou
o único grande troféu da sua história,
o Mundial em 1966, e passou as déca-
das seguintes a amargar com várias
frustrações. Cinquenta e seis anos
depois, num Wembley diferente, a
selecção inglesa conquistou o direito
de disputar a Ænal do Euro 2020 (no
domingo, no mesmo palco, frente à
Itália), com um triunfo por 2-1 sobre
uma bravíssima Dinamarca, que não
Æcou longe de emular os feitos da
“dinamite dinamarquesa” de 1992.
Não haveria jogo com maior com-
ponente emocional do que este.
Cada uma das equipas tinha o seu
12.º jogador em Wembley, a Inglater-
ra de forma mais literal, a jogar este
Europeu quase sempre em casa, a
Dinamarca a funcionar com o com-
bustível emocional de não ter Chris-
tian Eriksen, fazendo dele o seu foco.
E por estas razões qualquer destas
equipas seria perigosa na luta pelo
direito de disputar a Ænal, com a Itá-
lia, no mesmo relvado.
Com base no seu estilo pragmáti-
co, a Inglaterra tentou ser dominan-
te, mas não conseguiu. Bateu de
frente com uma Dinamarca perfeita-
mente estruturada para este jogo. E,
depois dos primeiros 15 minutos,
foram os nórdicos a trabalhar mais
para o golo, conseguindo largos
períodos em que tinham mais bola,
muito por culpa da dupla Hojbjerg/
Delaney e da omnipresença do
voluntarioso Braithwaite.
Como esta Dinamarca não sabe só
defender, o perigo começou a rondar
a baliza de Jordan Pickford. Aos 25’,
Mikkel Damsgaard teve um primeiro
ensaio, com um belo remate já den-
tro da área. Cinco minutos depois, o
primeiro grande momento do jogo.
Livre à entrada da área e avança
Damsgaard. De pé direito, o jovem
de 21 anos elevou a bola acima da
barreira (e todos saltaram bem alto)
e esta rapidamente caiu e entrou no
espacinho entre o poste e a mão de
Pickford. Mais um grande golo de um
criativo chamado à equipa para com-
pensar a ausência de Eriksen.
A Inglaterra teve o grande mérito
de não Æcar baralhada com o primei-
ro golo sofrido neste Euro 2020. E
não parou enquanto não chegou ao
empate. Primeiro, aos 38’, foi Ster-
ling a obrigar Schmeichel a uma
enorme defesa num remate à quei-
ma-roupa; no minuto seguinte, golo.
Tudo começou num grande passe de
Harry Kane, na direcção de Saka,
que direccionou a bola para Sterling
— antes que este pudesse lá chegar,
foi Kjaer a fazer mais um autogolo
neste Euro (têm sido muitos).
E assim fomos para o intervalo de
um jogo com grande carga emocio-
nal. No reatamento, a Dinamarca
continuou no seu ritmo de controlo,
a conÆar na solidez defensiva (Ves-
tergaard foi enorme) e nos genes do
homem que tinha na baliza, Kasper,
Ælho de Peter. E o guardião do Lei-
cester City fechou autenticamente a
sua baliza na segunda parte, com
uma defesa incrível aos 55’, a um
cabeceamento de Maguire, e outra
menos incrível, aos 73’, a um cruza-
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 37
Euro 2020 Desporto
LAURENCE GRIFFITHS/EPA
Inglaterra 2
Kjaer 39’ (pb), Harry Kane 104’
Dinamarca 1
Damsgaard 30’
Estádio de Wembley, em Londres
Espectadores 64.950
Inglaterra Pickford, Walker, Stones,
Maguire a49’, Luke Shaw, Kalvin
Philips, Rice (Henderson, 95’), Saka
(Grealish, 69’) (Trippier, 106’), Mount
(Foden, 95’), Sterling, Harry Kane.
Treinador Gareth Southgate
Dinamarca Schmeichel, Christensen
(Andersen, 79’), Kjaer, Vestergaard
(Wind, 105’), Stryger (Wass, 67’ a72’),
Hojbjerg, Delaney (Jensen, 88’),
Maehle, Braithwaite, Dolberg
(Norgaard, 67’), Damsgaard (Poulsen,
67’). Treinador Kasper Hjulmand
Árbitro Danny Makkelie (Países Baixos)
VAR Pol van Boekel (Países Baixos)
Positivo/Negativo
Harry Kane
O avançado do Tottenham
foi o epicentro da
reviravolta inglesa. A partir
de terrenos mais recuados,
inventou o passe que
desfez a defesa
dinamarquesa no lance do
primeiro golo e marcou o
golo da vitória na recarga a
um penálti. Nos minutos
finais, ainda geriu com
critério a posse da bola.
mento-remate de Mount. Sterling
Gareth Southgate foi lançando os Forçou um autogolo e
seus criativos a conta-gotas, a come- cavou um penálti. Mais uma
çar por Jack Grealish. Mas o médio grande exibição para o
do Aston Villa pouco acrescentou avançado do City, com
para evitar o prolongamento muito arrancadas imparáveis e
desejado pela Dinamarca e que a diagonais difíceis de travar.
Inglaterra parecia querer evitar. Mas Está a ser um dos melhores
houve mesmo mais 30 minutos em do Europeu.
Wembley e o seleccionador britânico
lá fez entrar Phil Foden. Schmeichel
Porém, foram os que já lá estavam Assinou um punhado de
desde o início que acabaram por grandes defesas para
decidir. Sterling ganhou um penálti manter a Dinamarca no
que não parece nada evidente num jogo durante um longo
lance com Maehle (ainda houve uma período. E ainda defendeu
pausa para o VAR, mas a falta foi rati- um penálti com tremendos
Æcada). Harry Kane, o capitão, avan- reflexos. Só não conseguiu
çou, rematou, Schmeichel defendeu, deter mesmo a recarga.
mas a bola foi ter com o avançado do
Tottenham e ele não falhou na segun-
da tentativa. Pickford
A Dinamarca ainda tinha tempo – O guarda-redes do Everton,
cerca de 15 minutos – para nivelar o um nome muito pouco
jogo, mas já tinha poucas pernas e consensual na
discernimento. A Inglaterra fechou- convocatória inglesa,
se e controlou o que faltava, até à esteve pouco seguro e não
explosão Ænal em Wembley, onde ficou isento de culpas no
não houve distanciamento social que golo da Dinamarca.
resistisse.
38 • Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
Desporto Euro 2020
Guarda-redes com afirmação precoce
A emancipação sem luvas
de Gianluigi Donnarumma
Augusto Bernardino
Sucessor de Buffon foi
decisivo ao parar penálti de
Morata, no Itália-Espanha,
e prepara bofetadada para
calar críticos e polémicas
olémicas
Vaiado pelos próprios tifosi
ifosii no último
jogo da fase de grupos, com o País de
Gales — em que foi substituído
bstituído a um
minuto do Æm —, Gianluigi
anluigi
Donnarumma recolheu u na
primeira meia-Ænal do
pa-
Euro 2020, frente à Espa-
nha, os justos aplausos de
ran-
uma nação à beira da gran-
epois
de erupção, 53 anos depois
peão
do único título de campeão
europeu do currículo.
A relação de amor-ódio
r-ódio
com os fãs do AC Milan, n, que
Donnarumma abandona ona em
deÆnitivo, aos 22 anos,, depois
de oito épocas em Milão, lão, seis
Æssional,
das quais como proÆssional,
não impede o “gigante” e” criado
sob o manto diáfano do Monte
ompostura
Vesúvio de manter a compostura
enquanto bate recordes es de invio-
labilidade, no grande e assalto ao
olimpo dos guarda-redesdes italianos.
stria, jogo em
Foi assim com a Áustria,
que superou a marca do o lendário Dino
Zoè (campeão do mundo ndo em 1982),
ao elevar a fasquia de 1143 para 1168
minutos sem sofrer golos
os pela “nazio-
nale”. Herdeiro natural ral de “Gigi”
olista europeu
Buèon, segundo futebolista
alizações, com
com mais internacionalizações,
176 jogos (recentemente nte superado
pelo espanhol Sergio Ramos),
amos), Donna-
rumma tem consciência ia de que está
ainda a anos-luz dos números
meros do vete-
raníssimo guardião de 43 anos.
Com 1,96 metros de altura e um ar
monástico, Donnarumma ma vai precisar
de apelar a toda a capacidade
cidade de reco-
lhimento emocional paraara enfrentar a
nova vaga de emoçõess a que estará
ualquer outro
mais exposto do que qualquer
jogador da nova e, de certa forma,
revolucionária “squadra azzurra”.
A decisão de mudar-se para Paris,
onde disputará com o costa-riquenho
Keylor Navas a baliza do PSG, enfure-
ceu os seguidores do AC Milan, que
já em 2017 mostraram o seu lado
mais cruel e implacável a “Gigi”,
quando o então titular da baliza
“rossonera”, com apenas 18 anos,
anunciava o desejo de rumar a para-
gens mais bem remuneradas.
Agora, por entre rumores de exa-
mes médicos realizados em plena
Roma, em dia de folga da selecção
italiana, e de um anúncio iminente
da transferência oÆcial para o clube
que também já foi a casa de Gian-
è (há três tem-
luigi Buèon
poradas), Donnarumma
sabe que o espera um papel
crucial na Ænal de Wembley,
onde a conquista do título euro-
peu signiÆcaria a libertação e
emancipação absoluta de um
jovem candidato a melhor guar-
da-redes do planeta na próxi-
ma década.
Ao defender o penálti de
Álvaro Morata, permitin-
do que Jorginho colo-
casse a Itália na
Aos 22 anos, Donnarumma
é um guarda-redes
absolutamente indiscutível
na actual selecção de Itália
Ænal do Campeonato da Europa, Don-
narumma conquistou créditos impor-
tantes para reforçar a carapaça que o
protege desde os tempos de juvenil,
quando era olhado com indisfarçável
desconÆança, não pela destreza, mas
pelo simples facto de ser gritante-
mente mais forte e mais alto do que
todos os jovens da mesma idade.
Olhar de que se livrou quando dei-
xou a humilde comuna
de Castellammare
di Stabia, no golfo
de Nápoles, rumo
à capital da moda,
Milão, para iniciar
uma carreira precoce no futebol.
Aposta do sérvio Sinisa Mihajlovic,
Donnarumma estreou-se na baliza da
equipa principal do AC Milan em 2015,
com 16 anos e oito meses, tornando-
se no mais jovem guarda-redes dos
milaneses. Esse dia chegou na Inter-
national Champ
Champions Cup, frente ao
Real Madrid, jogo decidido nos penál-
tis a favor dos espanhóis, tendo o
guarda-redes italiano
it falhado... na
hora de tirar as luvas
l para assumir o
papel de “matador”.
“matad
Na meia-Ænal, Donnarumma cum-
primentou de forma afável Unai
Simón e limitou-se
limitou- a preencher a bali-
za, sem precisar de recordar a estreia
com os “merengues”.
“meren Ele, que se
impôs na defes
defesa das redes do AC
Milan quando o treinador
t Mihajlovic,
que esteve na im iminência de orientar
o Sporting três anos
a mais tarde, deci-
diu trocar o espanhol
esp Diego López e
projectar o que apelidou
a de “o futuro
do futebol italian
italiano”.
Predição que parece cumprir-se,
sustentada em números e defesas
incomparáveis para a idade de
um predestinado
predestinad que, em duas épo-
cas, somava jjá 100 partidas pelo
AC Milan. AnAntes mesmo, Donna-
rumma de destacava-se como
o guarda-
guarda-redes mais jovem
dos últim
últimos cem anos a defen-
der a baliza
ba da selecção ita-
liana. Isto
Is depois de uma
passage
passagem meteórica pelos
sub-15, ssub-16, sub-17 e sub-
21, sempre
semp a queimar etapas
rumo ao topo.
Apesar
Apesa de todas as con-
quistas individuais, Donna-
rumma destaca o grupo, a
corage e resiliência do
coragem
colectivo, reforçando a cam-
colectiv
panha desta equipa de
Roberto Mancini, imbatível
Robert
desde 2018, há 33 encon-
tros. Números
N que aguar-
dam apenas
ap a cereja no topo
de um bolo
b a que os italianos
querem deitar a luva.
PATROCÍNIO
A fã hipócrita
queria festa
Crónica
Cristiana Faria Moreira
Há dias um amigo perguntava-me o
que mais estranheza me tinha causado
este Europeu. Eu respondi-lhe que
parecia não haver aquela euforia à
volta do que costuma ser uma festa do
futebol. Esta coisa de ter um
euro-itinerante não terá ajudado a que
se fizesse festa como noutros anos.
Mesmo para uma fã hipócrita como
eu, que só liga mais à bola quando as
coisas correm bem para as suas
equipas, há beleza em fazer-se festa em
torno do futebol. Ver as imagens de um
estádio cheio de adeptos, que cantam,
gritam, reclamam, choram.
Neste Europeu, nem sequer tive
hipótese de ver um jogo com a família,
que está a mais de 300 quilómetros de
distância, perdendo os laivos de
impaciência do meu pai que, sendo
mesmo muito irritantes, nos põem a
rir. São esses momentos que acabam
por criar memórias. Memórias que
mexem connosco.
A coisa mais irreverente que fiz neste
Europeu foi ver alguns jogos da
selecção nacional com a malta na
redacção (obrigada, companheiros,
pela animação possível), cada um
sentado à sua secretária. Ou então,
entre textos, ir deitando o olho aos
jogos das outras selecções.
No jogo da capitulação reuni-me
com duas amigas em casa para ver o
jogo. É o mais próximo dessa memória
de festa que terei neste Euro 2020.
Com momentos de saltarmos do sofá,
gritarmos por penáltis que nunca
existiram ou foras-de-jogo que jurámos
não serem possíveis. Gritámos uma
bola no poste, mas também contra o
jogo lento que nos aborrecia.
Há muito de irracional nisto de se
gostar de futebol. Mas é bonito ver as
pessoas a torcerem por um objectivo
comum, os jantares com discussões
apaixonadas. A fã hipócrita fica a
ansiar pelo regresso de uma boa festa
do futebol.
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Wout van Aert brilha no Ventoux e
Pogacar mostra primeiras fraquezas
Diogo Cardoso Oliveira
Mesmo sem ser um
trepador, o belga foi o mais
forte na montanha. Já
Pogacar não perdeu tempo,
mas mostrou debilidades
Wout van Aert ( Jumbo) venceu ontem
a etapa 11 da Volta a França, erguendo
os braços pela quarta vez na corrida
gaulesa. Num terreno que está longe
de ser o seu — é um corredor talhado
para sprints e corridas clássicas —, o
ciclista belga venceu no dia da impo-
nente escalada ao Mont Ventoux. E
ontem fez-se história na prova. A subi-
da ao “ventoso” é um clássico no
Tour, mas é para a fazer uma vez.
Ontem, os ciclistas subiram-no… duas
vezes. Nunca se tinha pedido isto ao
pelotão da Volta a França. Wout van
Aert esteve na fuga do dia e, mesmo
sem ser um trepador, foi mais forte
do que os rivais.
Entre os favoritos ao triunfo no
Tour, o 11.º dia de Volta a França trou-
xe, pela primeira vez, fraquezas de
Tadej Pogacar (Emirates). O ciclista
esloveno, campeão do Tour 2020,
não teve pernas para Jonas Vinge-
gaard ( Jumbo) na segunda subida ao
Ventoux e só não acaba o dia rodeado
de “pontos de interrogação” porque
a vantagem na classiÆcação é ainda
muito confortável e, sobretudo, por-
que na última descida do dia conse-
guiu “caçar” Vingegaard. Há, porém,
alarmes a soar: foi um mau dia? Foi
gestão física de um esloveno tranqui-
lo? Foi o sinal de que haverá quebra
total nas próximas montanhas?
Certo é que Vingegaard proporcio-
nou à umbo um dia de sonho, conse-
guindo subir ao terceiro lugar da
classiÆcação, a 5m32s de Pogacar. Em
queda esteve Ben O’Connor, que des-
ceu do segundo para o quinto lugar
da tabela. Tal equivale a dizer que,
mesmo com estes acontecimentos,
Pogacar ainda termina o dia a alargar
a vantagem na classiÆcação.
Cavendish continua
Ontem, duas subidas ao Ventoux, nos
Alpes, eram, logo à partida, um alar-
me para Mark Cavendish. Tal como
aconteceu com outros sprinters, o
britânico corria o risco de chegar à
meta fora do tempo de controlo e,
com a consequente desqualiÆcação,
perder a possibilidade de alcançar o
recorde de Eddy Merckx. O receio foi,
porém, apenas isso. “Cav” chegou a
horas e continua no Tour.
O Ælme da etapa é relativamente
fácil de contar. Como se esperava,
formou-se uma fuga numerosa, que
chegou a ser de 17 ciclistas. Entre os
aventureiros estavam Alaphilippe,
Van Aert, Elissonde ou Mollema, mas,
na segunda subida ao Ventoux, impe-
rou a força de Wout van Aert.
Mais atrás houve luta entre os tre-
padores. A cerca de 20 quilómetros
do Ænal houve ataque de Vingegaard,
que só foi acompanhado, claro está,
por Tadej Pogacar. Quando tudo
parecia feito para um caminho a dois
até ao Ænal, o esloveno “Æcou a pé”.
Seguiu Vingegaard e Pogacar acabou
por ser alcançado por Urán e Cara-
Wout van Aert (Jumbo-Visma) surpreendeu numa exigente etapa de montanha
Histórias do Tour
Wout van Aert pode. Resta saber se quer
Wout van Aert tem tido duelos tre-
mendos com Mathieu van der Poel e
Julian Alaphilippe. São os três “mons-
tros” do ciclismo actual, que todos
querem ver nas corridas clássicas e
nas etapas de média montanha. São
três atletas diferentes, mas com algo
em comum: são tão bons que conse-
guem destacar-se em “pelouros”
que, em tese, não são os seus.
Mathieu van der Poel, versado em
sprints e clássicas, quer ser medalha-
do olímpico em ciclocrosse. Alaphi-
lippe, puncheur de subidas curtas e
“artista” em clássicas, já se aventu-
Classificação
11.ª Etapa
1.º Wout van Aert (Jumbo) 5h17m43s
2.º Kenny Elissonde (Trek) a 1m14s
3.º Bauke Mollema (Trek) m.t.
(...)
25.º Rúben Guerreiro (EF) a 12m18s
63.º Rui Costa (Emirates) a 24m38s
Geral
1.º Tadej Pogacar (Emirates) 43h44m38s
2.º Rigoberto Uran (EF) a 5m18s
3.º Jonas Vingegaard (Jumbo) a 5m32s
(...)
20.º Rúben Guerreiro (EF) a 47m37s
79.º Rui Costa (Emirates) a 1h43m13s
rou na montanha do Tour — andou
de amarelo em 2019 e fez top 5. Wout
van Aert é, tal como Van der Poel,
um “Ælho do ciclocrosse”, mas pare-
ce estar um degrau acima dos rivais
na arte da versatilidade. É capaz de
sprintar com os melhores, roda a
grande nível no contra-relógio e já
provou no Tour que tem predicados
na montanha: primeiro a “rebocar”
um pelotão inteiro para Primoz
Roglic, em 2020, e ontem a vencer
uma etapa com não uma, mas duas
subidas ao mítico Mont Ventoux.
Está, portanto, aberta a discussão:
Público • Quinta-feira, 8 de Julho de 2021 • 39
paz. Só a descida permitiu que Vin-
gegaard fosse alcançado, mas os
dados eram: a subir, Pogacar “não
teve pernas”.
Para hoje está marcada uma etapa
maioritariamente plana, mas as estra-
das poderão estar expostas ao vento
lateral. Quer isto dizer que será, em
tese, um dia para a luta dos sprints — e
Mark Cavendish pode igualar Merckx
—, mas os favoritos ao triunfo Ænal,
em caso de vento lateral, poderão ser
apanhados em “cortes” no pelotão.
Tadej Pogacar, nem sempre bem
acompanhado pela Emirates, pode
vir a estar vulnerável.
STEPHANE MAHE/REUTERS
pode Wout van Aert tornar-se um
“voltista”? Em tese, pode. A questão
passa, sobretudo, pela preparação e
pelas prioridades, já que é pouco
crível que fazer toda a temporada
das clássicas da Primavera se coadu-
ne com um desempenho de topo na
montanha do Tour ou em qualquer
outra Grande Volta.
A sabedoria popular diz que há
objectivos que não são para quem
quer, mas para quem pode. No caso
de Wout van Aert parece ser outra a
questão: ele pode, mas resta saber
se quer. D.C.O.
Desporto
Shapovalov
e Hurkacz em
estreia nas meias
de um Grand Slam
Pedro Keul
Roger Federer não garante
um regresso ao torneio de
Wimbledon. Djokovic
é o cabeça de cartaz da
próxima eliminatória
Apesar de estar numa rápida ascen-
são e já com dois títulos conquistados
este ano, poucos esperariam que
Hubert Hurkacz derrotasse Roger
Federer em Wimbledon e garantisse
a estreia em meias-finais de um tor-
neio do Grand Slam. Ainda para mais,
o polaco de 24 anos apresentava um
registo em majors bastante modesto:
nunca tinha passado da terceira ron-
da, nem derrotado um top 10. Mas
Hurkacz fez uma exibição irrepreen-
sível diante do seu ídolo de juventude
e tornou-se no segundo polaco a che-
gar tão longe num Grand Slam.
“Obviamente que estava um pouco
nervoso. Defrontar Roger num quar-
to-de-final de um Grand Slam é muito
importante, mas tentei estar o mais
calmo possível”, resumiu Hurkacz
(18.º), depois de derrotar Federer
(8.º), por 6-3, 7-6 (7/4) e 6-0. O polaco
assinou 36 winners e pressionou o
segundo serviço adversário, conver-
tendo cinco de 15 break-points.
Por seu lado, Federer esteve longe
da forma exibida nas rondas anterio-
res, algo explicado pelo facto de che-
gar a Wimbledon com somente oito
encontros realizados após duas ope-
rações ao joelho, em 2020. “Foi um
longo e duro caminho, mas gostei. Foi
sempre a subir, embora devagar. Não
tive recaídas, mas claro que há coisas
que faltam no meu jogo”, frisou o suí-
ço de 39 anos, deixando mais dúvidas
do que certezas quanto a um regresso
a Wimbledon em 2022. “Vamos con-
versar e ver o que posso fazer para ser
mais competitivo. Gostava de jogar o
torneio mais uma vez, mas, na minha
idade, nunca se sabe o que está ao
virar da esquina”.
Na meia-final, o sucessor de Jerzy
Janowicz, primeiro semifinalista pola-
co de um major, em 2013, vai defron-
tar Matteo Berrettini (9.º), que preci-
sou de três horas para derrotar o
amigo canadiano Felix Auger-Aliassi-
me (19.º), por 6-3, 5-7, 7-5 e 6-3.
Igualmente novato em meias-finais
de majors é Denis Shapovalov (12.º)
que se impôs ao russo Karen Khacha-
nov (29.º) ao fim de 3h30m: 6-4, 3-6,
5-7, 6-1 e 6-4. O canadiano terá pela
frente o adversário mais difícil, Novak
Djokovic, que afastou o húngaro Mar-
ton Fucsovics (48.º): 6-3, 6-4 e 6-4.
Quinta-feira, 8 de Julho de 2021

O seu jornal
não acaba aqui.
Um Verão em cheio pedee GA
BR

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SO
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Luís Filipe Vieira ainda é presidente do Benfica?

PEDRO CUNHA/ARQUIVO
detido) constantemente a trocarem
O respeitinho de papéis — às vezes amigos, às
não é bonito vezes sócios, às vezes avalistas, às
vezes accionistas da SAD — era
qualquer coisa vagamente parecida
com normal. Como escrevi neste
jornal em Maio, após essa tarde
inesquecível, “é pura e
mesmo que um achigã a grelhar
numa placa de vitrocerâmica.
Qualquer pessoa vê isso, certo?
Qualquer pessoa, excepto os 23
mil benÆquistas que votaram em
Vieira no passado mês de Outubro.
Se Luís Filipe Vieira tivesse mais
amor ao BenÆca do que à sua pele,

E
João Miguel Tavares
stava-se mesmo a ver —
só que ninguém estava
à espera de ver já
agora. O que
aconteceu esta
quarta-feira em
Portugal foi uma investigação e
uma detenção anunciadas há
muito, mas que poucos
acreditavam — incluindo eu
próprio — que fosse possível
ocorrer enquanto Luís Filipe
Vieira fosse presidente do BenÆca.
Nesse aspecto, o dia foi histórico: a
carta-branca que muitos
presidentes de clubes de futebol
acreditam ter neste país para
actuarem à margem da lei; para
confundirem os seus negócios
empresariais com os negócios dos
clubes; para misturarem a família
e os amigos num pântano de
conÇitos de interesses; e para
depois ainda irem para a frente
das televisões Ængir que é tudo
normal e no pasa nada, chegou ao
Æm.
A gigantesca operação liderada
pelo procurador Rosário Teixeira e
pelo inspector tributário Paulo
Silva — a dupla por trás da Operação
Marquês — vem demonstrar que
não estávamos todos doidos
enquanto ouvíamos Luís Filipe
Vieira no Parlamento a dar
explicações absurdas a propósito
da dívida do Novo Banco, e a tentar
convencer-nos que ter um Ælho
(Tiago Vieira, detido), um
vice-presidente do BenÆca (Nuno
Gaioso Ribeiro, não- -detido) e um
empresário ( José António dos
Santos, “o Rei dos Frangos”,
simplesmente impossível separar o
indivíduo Luís do empresário Filipe
do presidente Vieira”. Agora, todos
eles estão na cadeia. O provérbio
“não há fumo sem fogo” está
desactualizado desde a Revolução
Industrial. Há muito fumo sem
fogo: em fábricas, em Ælmes, em
fogões eléctricos. Donde, Luís
Filipe Vieira, detentor de um lugar
muito apetecível no mundo do
futebol, até poderia — em teoria, e
por generosidade — ser vítima de
uma conspiração, de dois conluios
ou, vá lá, de três cabalas. O
problema é a quantidade: quantas
conspirações, conluios, cabalas e
urdiduras já o vitimizaram até ao
Quantas são as momento? Quantas são as histórias
mal contadas, os actos duvidosos
histórias mal ou as suspeitas fundadas que
contadas, os actos recaíram sobre Luís Filipe Vieira
nos últimos anos?
duvidosos ou as Eis o busílis: a acumulação de
suspeitas fundadas casos conta, e muito. Às vezes há
que recaíram sobre fumo sem fogo, mas 20 ignições no
meio de um pinhal e várias colunas
Vieira nos últimos de fumo a subirem em direcção à
anos? estratosfera não são, digamos, o
já teria apresentado o seu pedido
de demissão da presidência do
clube. Não vai acontecer. O
BenÆca é a sua última bóia de
salvação, e há-de agarrar-se a ela
até não ter mais forças. Uma nova
direcção e uma auditoria profunda
seriam, desconÆo bem, a morte do
artista. A Agência Lusa, citando
uma fonte ligada ao processo,
disse que esta investigação estava
relacionada “com Luís Filipe
Vieira a título individual e não
como presidente do clube”. Boa
piada. Como se fosse possível
distingui-los.
Vamos, com certeza, aprender
muita coisa nos próximos dias.
Mas peço desde já um favor aos
jornalistas: relembrem António
Costa e Fernando Medina que
aceitaram fazer parte da comissão
de honra de Vieira há menos de
um ano. No lugar deles, estaria
hoje a pintar a cara de vergonha.
Jornalista
jmtavares@outlook.com

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