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Análise funcional de um caso clínico

A análise funcional de um desempenho de laboratório é mais complexa do que


parece à primeira vista. Dediquemo-nos, então, a uma tarefa mais ousada:
utilizar os princípios da análise do comportamento para descrever o
comportamento humano. Apresentamos a seguir um resumo do caso:
Marcos é um homem de 25 anos que trabalha em um tribunal e mora com os
pais. Marcos é formado em direito e faz uma especialização em sua área. Faz
musculação em uma academia três vezes por semana e joga futebol aos
sábados. Veio à terapia queixando-se estar em uma "sinuca de bico". Marcos
namora Paula (24 anos) há quatro anos. Eles se conheceram na faculdade.
Relata que sua namorada é muito ciumenta, possessiva e agressiva. Além disso,
no último ano do namoro, ela tem cobrado constantemente "um compromisso
mais sério", isto é, que se casem, ou pelo que menos fiquem noivos. Marcos
relata não querer mais continuar com o relacionamento, desejando "escapar " do
casamento a qualquer custo. Entretanto, não consegue romper com Paula,
relatando as seguintes razões: "Não quero quebrar minha coerência. Você sabe,
no início do namoro, apaixonado, a gente fala cada coisa que depois se
arrepende. Então, eu falei que a amaria para sempre, que ela era a mulher da
minha vida, que queria casar com ela, etc. Como é que agora, de uma hora para
outra, viro e digo que não a amo mais e que quero terminar? Além disso, eu sei
que não, mas há vezes que eu penso que ela vai morrer ou fazer alguma besteira
se eu terminar. Ela é tão nervosa e tão dependente de mim, que eu não sei não".

Marcos, desde que começou a paquerar com 16 anos nunca ficara solteiro.
Sempre "emendava" um relacionamento em outro e, em geral, traia sua
namorada do momento com a próxima namorada. Os poucos amigos de Marcos
estão todos comprometidos e ele não tem com quem sair caso fique sozinho.
Marcos se diz muito tímido para fazer amigos, apesar de ter uma excelente
fluência verbal e conseguir falar sobre diversos assuntos. Marcos não parece ter
problemas para conseguir parceiras, uma vez que sempre manteve casos fora
do relacionamento. Entretanto, relatou que, desde criança, se achou inferior aos
outros. Achava-se feio, sem graça, muito magro, cabeio ruim, etc. Toda situação
de conquista o fazia se sentir melhor. Relatava que, se alguém queria ficar com
ele, então só aí, ele sentia que tinha valor. E, de fato, no início da adolescência,
suas investidas amorosas não foram bem-sucedidas.
Apesar de não relatar sentir culpa pelas traições, queria mais liberdade para viver
esses casos: "Eu pegaria muito mais mulher se não estivesse encoleirado".
Algumas das mulheres que conheceu ao trair sua namorada eram muito
interessantes, e ele as perdeu por estar namorando. Para conseguir manter sua
infidelidade, Marcos inventa todo tipo de desculpa para sair sozinho. Costuma
deixar sua namorada em casa cedo para sair com outras mulheres depois. É
obsessivo com o celular, nunca o deixa "dando sopa" para que Paula não
comece a mexer no aparelho. Além disso, está sempre apagando as chamadas
e as mensagens do celular. Só leva suas amantes para locais onde não possa
ser identificado por ninguém.

Marcos também relata que gostaria de passar mais tempo com seus amigos,
mas como Paula exige muito sua presença, ele não consegue vê-los com a
frequência que gostaria. Marcos relata que adora encontrar seus amigos e contar
seus casos de infidelidade. Seus amigos riem muito das suas histórias e
chamam-no de "canalha, calhorda, garanhão, pegador, com mel, etc.". Quando
confrontado em relação às consequências em curto e em longo prazo de seus
comportamentos, Marcos começa a chorar, dizendo que é "um monstro mesmo".
Fica repetindo isso até que a terapeuta mude de assunto.

Já elogiou a aparência e as roupas da terapeuta algumas vezes, puxando


assuntos cotidianos com ela. Em toda sessão, leva um chocolate ou um doce
para a terapeuta. Além disso, em uma sessão, Marcos emitiu as seguintes falas:
"Se minha namorada fosse como você assim, uma mulher controlada, decidida
e compreensiva, eu gostaria muito mais dela” e “Pô, se eu encontrasse você num
bar, certamente eu ia dar uma cantada em você". Marcos também fala de si
mesmo em muitas sessões de forma sedutora (olhares e expressões corporais),
como se estivesse se vangloriando das mulheres que conquista.

Marcos explica sua infidelidade dizendo que se sente um homem melhor ao trair.
Aprendeu a admirar homens assim. Seu pai traia sua mãe com frequência e
contava seus casos para os filhos homens dizendo: "Eu sei que é errado, mas
homem é assim mesmo. Se pintar uma gostosa você vai dar para trás?". Marcos
e seus irmãos gargalhavam quando o pai contava essas histórias. Marcos
também fala com um sorriso maroto que trai porque sua namorada briga demais
com ele, é como se fosse uma forma de se vingar de sua agressividade. Outra
razão apontada por Marcos foi a de que "precisava experimentar outras pessoas"
para testar o seu amor por Paula: "Só chifro para eu ver se é dela mesmo que
eu gosto". Apesar da conivência com o pai, Marcos tem uma forte relação de
afeto com a mãe, que parece muito com a namorada do ponto de vista
comportamental: controladora, possessiva e agressiva. Relatou trocar “amor" por
"mãe" e "mãe" por "amor" com muita frequência. Apresenta um padrão
comportamental de submissão com a mãe e com a namorada, sendo agressivo
de tempos em tempos.

1) Encontre os comportamentos disfuncionais de Marcos no texto.


2) Analise esse comportamento utilizando a tríplice contingência (S ---R ---
C):
a) S – O que acontece antes do comportamento (qual o contexto ou
evento antecedente ou estímulo).
b) C – Qual a consequência do comportamento para Marcos? O
comportamento aumenta (reforço) ou diminui (extinção ou punição) a
frequência após a consequência? O que está reforçando, extinguindo
ou punindo o comportamento?

REFERÊNCIA:

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do


comportamento. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. P. 155.

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