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A UTILIZAÇÃO DO RECURSO AUDIOVISUAL NO ENSINO DE HISTÓRIA:

METODOLOGIAS NO FILME OS VISITANTES (1993)1

Claudio Santos Pinto Guimarães2


E. M. E. F. São Francisco - Tupandi-RS
cspg009@guimagolfe.com.br

A utilização de filmes em sala de aula não é um procedimento novo. Com o


auxílio de um vídeocassete ou DVD plugados numa televisão é possível aproveitar (se
esse for o objetivo do professor) várias aulas de História para discutir e analisar
determinados períodos históricos utilizando esse recurso. Mas, como os professores
utilizam esse recurso? Em quais momentos das aulas são organizadas sessões utilizando
o audiovisual? Existem períodos anteriores ou posteriores à exibição para a discussão
do que vai ser ou do que foi visto? Será que a produção é apresentada como ilustração
dos acontecimentos já estudados? Esta pesquisa visa relacionar o Ensino de História e o
Cinema trazendo propostas de análise para a sua utilização em sala de aula.
Nessa perspectiva foram delineadas tais problemáticas: de que maneira a
utilização do recurso audiovisual pode auxiliar no ensino de História beneficiando o
entendimento e a aprendizagem dos alunos? Quais os cuidados que se deve ter ao
introduzir/utilizar o material audiovisual para os alunos? A partir dessas
problemáticas, foi elaborado o objetivo principal da pesquisa: propor uma metodologia
de ensino para a utilização de filmes nas aulas de História. Nesta pesquisa o filme Os
Visitantes3, visto como fonte histórica, foi analisado e a seleção de cenas visou
organizar um material didático para ser usado pelos professores de História da Escola
Básica.

1
Este artigo é fruto do Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização - O Ensino da Geografia e da
História – Saberes e Fazeres na Contemporaneidade, pela Faculdade de Educação (FACED) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O orientador foi o Prof. Dr. Nilton Müllet Pereira.
2
Graduado em Licenciatura em História e especialista em Educação, ambos pela UFRGS, é professor na
Escola Municipal de Ens. Fund. São Francisco – Tupandi - RS. Participou, na condição de bolsista, do
Grupo de Estudo História, Cinema e Ensino, em 2006 e 2007, sob orientação dos Professores Doutores
Fernando Seffner e Nilton Müllet Pereira, da FACED - UFRGS.
3
O filme Os Visitantes (Les Visiteurs - Ils sont pas nés dhier!), de 1993, foi dirigido por Jean-Marie Poiré
e produzido na França. Contém um elenco de atores e atrizes franceses possuindo uma segunda parte,
realizado em 1998, aqui não analisada, mas que dá sequência ao primeiro, com o título Os Visitantes da
Idade Média (Les Couloirs du Temps), conhecido como Os Visitantes 2 (Les Visiteurs II). É interessante
registrar a produção de uma versão estadunidense para essa mesma comédia: Os Visitantes na América
(Just Visiting), de 2001.
ALGUMAS QUESTÕES TEÓRICAS

As temáticas referentes às três áreas aqui interligadas foram fundamentais para


esse trabalho: Ensino, História e Cinema. Um dos aspectos mais importantes foi
articular as representações produzidas pelos filmes, criadas por indivíduos do final do
século XX, para discutir e entender o modo de pensar e de agir dos medievais. De
acordo com a utilização do conceito representação, de Roger Chartier4, os personagens
e os cenários, por exemplo, carregam consigo representações de uma época e, além
disso, pode-se perceber as manifestações do grupo que produziu a película. O filme é
uma fonte histórica, mas o que este traz é uma representação, uma construção, um
discurso. Desse modo, é possível, por meio da análise do filme como representação,
compreender as representações tanto da própria realidade da época na qual o filme foi
produzido, quanto das representações sobre a realidade à qual o filme faz referência.
Uma das intenções de lançamento do filme Os Visitantes foi homenagear os duzentos
anos da Revolução Francesa (1789), fato histórico que é lembrado no filme fazendo um
contraponto entre a Idade Média e a época Contemporânea.
Os filmes são documentos que mexem com a memória/imaginação dos
espectadores, fazendo com que estes, ao visualizarem as imagens, recorram a estas para
lembrarem da História como algo verídico. O estudo de Miriam Rossini nos elucida que
a imagem cinematográfica produz o efeito de real, no qual não podemos confundir com
a representação que se tem sobre uma época (1999, p. 123). O real, como a autora
registra, é inatingível na sua totalidade, mas pode-se chegar nele através das
representações que se constroem pelos discursos. As imagens devem ser apreciadas
cheias de situações e relações sociais permitindo ligações com o mundo de hoje, sendo
úteis para gerar debates em sala de aula.

A IDADE MÉDIA E O CINEMA: REPRESENTAÇÕES NO FILME OS


VISITANTES

4
Ver as obras de Roger Chartier: A História Cultural: entre Práticas e Representações. Rio de Janeiro:
Beltrand Brasil, 1990 e El presente del pasado: escritura de la historia, historia de lo escrito.
Universidad Iberoamericana - Departamento de historia, 2005.
O período histórico conhecido como Idade Média foi criado, recebendo este
nome e possíveis datações de início e fim, posteriormente. Assim sendo, muitas
características e referências foram dadas a este período, de acordo com a
necessidade/momento das sociedades que dela descendeu, seja para diferenciá-las,
afirmarem-se ou aproximá-las. No entanto, muitos destes grupos sociais criaram um
prejulgamento, ou um preconceito, das sociedades medievais, estereotipando e
generalizando algumas das suas características, não a compreendendo com os olhos dela
mesma. Essa última preocupação só irá modificar quando a função do historiador
voltou-se à compreensão das sociedades do passado. Mesmo assim os sinais
preconceituosos dos períodos anteriores não desapareceram, sendo possível identificá-
los em obras literárias, produções audiovisuais e artigos historiográficos. Caricaturas,
estereótipos, generalidades são comuns em desenhos e filmes, sendo que muitas pessoas
não associam/veem a Idade Média de uma outra maneira. Toda a complexidade destes
mil anos de história fica reduzida a algumas simples caracterizações.
A análise da película, propostas nesta pesquisa, resgatou algumas das
características citadas acima, mostrando que as associações dos pensamentos
renascentista, iluminista e romântico ainda estão presentes. O filme Os Visitantes é
portador de determinadas representações sobre a Idade Média. Como o filme gera
representação sobre a Baixa Idade Média5, período que envolve os séculos XI ao XVI,
abrangendo o que denominamos de Feudalismo, foram escolhidas temáticas e
selecionadas cenas que tomam como base o fato de promoverem o debate, gerando
questionamentos e novas propostas de conhecimentos. As categorias escolhidas
aproximaram as temáticas selecionadas sendo estas o tempo, a religiosidade e as fontes
históricas. Por serem abrangentes, várias cenas podem circular entre elas.
De modo geral, o tempo é uma categoria importante, devido à relação entre um
passado e o presente. Em Os Visitantes três períodos históricos são representados: a
Baixa Idade Média, a Revolução Francesa e a França Contemporânea. A religiosidade é
um fator que está presente em todos os períodos. Sendo amplo, torna possível o trabalho
com a mitologia dos antigos, o “mundo” muçulmano e o cristianismo medieval (os
5
Conforme Hilário Franco Júnior, em seu livro A Idade Média: Nascimento do Ocidente, o período da
Idade Média se divide em quatro partes com características distintas entre si: a Primeira Idade Média
(séculos IV a VIII), a Alta Idade Média (séculos VIII a X), a Idade Média Central (séculos XI a XIII) e a
Baixa Idade Média (séculos XIV a XVI). Para a divisão deste período levou em consideração apenas a
classificação Alta e Baixa Idade Média de uso comum nos livros didáticos das escolas.
elementos heréticos, as cruzadas e o Tribunal do Santo Ofício). Algumas fontes
históricas aparecem nos filmes e podem gerar alguns questionamentos interessantes.
Objetos mais tradicionais são elencados, como o castelo, o anel do conde, os livros
manuscritos, as vestimentas..., e o trabalho com o conceito de fontes primárias deve ser
retomado; mas existem também referências às fontes secundárias como, por exemplo, a
enciclopédia “que tem de tudo” de acordo com uma das cenas de Os Visitantes.

PENSANDO A METODOLOGIA E O ROTEIRO

O propósito de levar um filme para sala de aula varia de acordo com o


entendimento de História do próprio professor. De acordo com a História Cultural, as
preocupações teóricas, já destacadas nesta pesquisa, e com o processo de produção do
cinema propõe-se a utilização do filme em sala de aula acompanhado de análise da
produção fílmica e das temáticas envolvidas. A divulgação e a leitura atenta da ficha
técnica com os alunos num primeiro momento demonstra a época e o local de produção,
a equipe envolvida na elaboração do filme, além dos atores e atrizes, que podem até ser
conhecidos dos discentes. Essa apresentação aproxima a época de produção do filme
dos alunos e, junto com uma discussão de “olhar o passado” através da visão de uma
equipe de profissionais, direciona o pensamento à pluralidade.
O planejamento é fundamental para utilizar o filme em sala de aula. A escolha
do filme deve seguir um propósito, seja na análise de um conteúdo ou de um fato
histórico ocorrido numa época passada, ou na discussão da sociedade atual. Para cada
um destes objetivos/propósitos é interessante utilizar o filme de maneira diferente. O
uso de determinadas cenas tende a ser uma opção adequada para a sala de aula. A
apresentação de todo o filme é indicada sempre que for possível. Recomenda-se sua
visualização por completa, tanto para um trabalho específico, como uma investigação ao
longo da trama, quanto para analisar a sociedade atual.6 Enfatiza-se que, neste último
caso, as nuanças envolvendo ações dos personagens, cenários e interpretações são
melhores observadas dentro do contexto de produção da obra como um todo. Para que

6
Algumas cenas, em determinados filmes, podem, muito bem, captar representações sobre a sociedade
atual, não precisando passar para os alunos todo o filme. Os professores devem perceber essa
possibilidade.
isso seja melhor aplicado, uma pesquisa mais aprofundada sobre o diretor,
patrocinadores, entre outros, devem ser realizadas.
Observa-se que o uso das cenas dos filmes em geral deve vir acompanhado de
algumas instruções: antecedendo a cena, cabe apresentar uma introdução do contexto a
ser trabalhado, ligando a cena ao propósito da aula e, após a exibição, é interessante
oferecer uma proposta de atividade aos discentes. Essas instruções possibilitam
trabalhar com uma ou várias cenas, ficando estas independentes dos filmes de onde
foram retiradas. A composição de um roteiro, a seleção e a montagem das cenas e o
direcionamento das propostas de atividades fazem surgir um vídeo original, com um
novo contexto e intenção, voltados para um determinado público e assinado pelo
professor de História. Este, por sua vez, torna-se produtor, diretor e autor de um
material didático a ser utilizado em sala de aula.
Neste artigo, será priorizado um exemplo de cada categoria. Para efetuar a
análise foi importante, primeiramente, fazer uma rápida descrição das cenas (estas
foram nomeadas) para traçar uma contextualização histórica e depois propor uma
maneira de trabalhar com o recurso audiovisual. As cenas veem acompanhadas do
roteiro, uma maneira didática para introduzir as discussões aos discentes.

Categoria TEMPO

O nobre é representado tendo noção do tempo de seu nascimento enquanto seu


servo, Jacquasse, desconhece esse detalhe: “Sou Godefroy, o Forte, eu nasci no ano
1079 de nosso Senhor./ Eu sou Jacquouille, de Fripouille, seu vassalo, não sei minha
data de nascimento” (1h12’). Uma possível explicação para atribuir ao nobre o
conhecimento sobre o tempo em que vive é para que este tenha uma sensibilidade a
ponto de identificar que houve, ao longo do filme, um deslocamento para uma outra
época. Historicamente o conde não deveria saber que estava na Idade Média, já que esta
denominação foi dada no período posterior (Renascimento). Essa concepção de
passagem do tempo é algo moderno.7 O esforço dos homens em controlar o tempo,
observando a natureza, os ciclos, o dia e a noite, organizando e dividindo em anos, dias,

7
Ver RUST, Leandro Duarte. Jacques Le Goff e as representações do tempo na Idade Média. In. Revista
de História e Estudos Culturais. Número 5, Ano V, n Abril, Maio e Junho de 2008. Retirado da internet
no site http://www.revistafenix.pro.br/vol15JDuarte.php . Acessado no dia 6 de janeiro de 2010.
semanas, horas… é fruto da questão cultural das sociedades. É importante entender a
possibilidade de existirem, numa sociedade, diversas maneiras de organizar, perceber e de
usar o tempo como, por exemplo, o tempo da Igreja e o tempo do mercador8. Le Goff
observa que junto “à história estão intimamente conectados dois progressos essenciais: a
definição de pontos de partida cronológicos (fundação de Roma, era cristã, hégira e assim
por diante) e a busca de uma periodização, a criação de unidades iguais, mensuráveis, de
tempo: dia de vinte e quatro horas, século, etc” (1990, p. 09). Domesticar o tempo é algo
importante, e uma cena que nos remete a isto, no filme Os Visitantes, ocorre na hora do
jantar, quando o servo Jacquouille fica admirado com a possibilidade de manusear o
tempo, na perspectiva do dia e da noite, acendendo e apagando a luz da sala, repetindo
as palavras dia e noite (48’34’’).
De acordo com a temática Percepção da passagem do tempo e visualizando com
os alunos algumas cenas selecionadas do filme Os Visitantes o objetivo para o ensino de
História parte em analisar os diferentes modos de vida e as marcações das passagens do
tempo. O roteiro encontra-se organizado com os seguintes tópicos:
a) Introdução: Ao observarem a natureza, as sociedades antigas se orientavam de
acordo com os astros (sol e lua). Organizar e dividir o tempo nunca foi algo natural, mas
fruto cultural das sociedades, dos choques entre as camadas sociais, de ações de
legitimação do poder... O camponês, os religiosos, o mercador e o estudante, por
exemplo, dividiam/organizavam seu tempo de acordo com as suas tarefas.
b) Cenas: visualização das cenas:
Os Visitantes – Cavaleiro - 2’52’’ a 6’, Jantar - 48’14’’ a 49’23’’, Dentista - 30’56’’ a
31’53’’
c) Atividade: De acordo com as suas observações e com o seu conhecimento, como o
nobre medieval, os monges, o dentista na França e você, aluno do Ensino
Fundamental/Médio, controlam e dividem a passagem do tempo? Quais marcações
foram e são utilizadas para dividir o tempo, durante o dia e a noite?
As cenas apresentadas introduzem uma série de discussões em sala de aula sobre
o tempo. Relacionar tempo, espaço e sociedades é uma obrigação do historiador e do
professor de História, assinalando então suas fontes, contextos e análises. Outras
questões e temáticas poderiam ser escolhidas para propor discussões. Conceitos como

8
Ver LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa: Editorial Estampa, 1995.
tempo, espaço, calendário cíclico, calendário linear, História, classe social… devem ser
trabalhados. Ao trabalhar com as marcações/organização do tempo, é possível enfatizar
também, as diferentes perspectivas nas camadas de uma determinada época, no caso, o
medievo. As atividades buscam contemplar o tempo mais próximo do aluno, para que
este, através de suas experiências e conhecimentos, possa refletir sobre o mundo em que
vive.

Categoria RELIGIOSIDADE

A temática religiosidade foi pensada por ser abrangente o suficiente e abarcar


vários assuntos. Um destes é o paganismo. Em Os Visitantes, a floresta é o abrigo da
feiticeira. Os únicos a temê-la são o servo e o religioso, mostrando que o nobre e os
cavaleiros que os acompanham não têm medo dessas superstições. Seu casebre, que tem
uma fonte d’água na frente, é o lugar dos rituais. Outros símbolos pagãos como o fogo,
a caveira, ervas, dizeres mágicos e o ato de beber uma mistura são remetidos a esta
cerimônia. A representação da Idade Média neste filme é totalmente rural, sendo
esquecido o ambiente das cidades, importantes centros comerciais e sociais para a
época. Isso contrasta com os conhecimentos referentes aos séculos XI e XII, que são
lembrados pelo crescimento do comércio e das cidades.9 Essas últimas diversificaram
suas atividades e como conseqüência adquiriram atrativos que levaram as suas
ocupações. As trocas de saberes, o uso de tecnologias no campo, as novas técnicas na
arquitetura e a eclosão das universidades modificaram as questões sociais e culturais da
época.
É importante registrar que, historicamente, os cavaleiros, os camponeses e
trabalhadores das pequenas cidades, utilizam as florestas/os bosques de formas
diferentes: o lugar da caçada e da aventura, o lugar da fonte de riqueza, usado para
engordar os animais, cortar madeira e colher as frutas silvestres... além de servir como
região de fronteira e esconder os perigos imaginários (lendas e contos) e/ou reais (LE
GOFF, 1999, p. 108). A representação de um espaço totalmente rural nos transmite a
ideia de um período mais rude, com poucas inovações, onde a passagem do tempo é

9
Ver Jacques Le Goff. Renascimento urbano e nascimento do intelectual no século XII. In: Os
intelectuais na Idade Média. Rio de Janeiro, RJ: Estúdios Cor, 1973.
marcada através da observação da natureza. Duas visões podem ser observadas: a
primeira por representar um período de atraso, lembrando os idealizadores dessa teoria
nos séculos XVI, XVII e XVIII e, a segunda, por nos remeter a uma visão romântica,
marcada no século XIX, na qual a criação de uma Idade Média que servisse aos seus
interesses foi idealizada. Nesse sentido, há Idade Média mais bucólica, voltada para o
campo, trazendo batalhas neste espaço contra inimigos (os ingleses, por exemplo, como
aparece no início do filme), na luta pela construção e consolidação do estado francês, no
caso.10
De acordo com a temática Paganismo e Heresia e visualizando com os alunos
algumas cenas selecionadas do filme Os Visitantes o objetivo para o ensino de História
parte em discutir as práticas e as crenças religiosas durante a Idade Média, identificando
também a influência da Igreja Católica no cenário medieval. O roteiro encontra-se
organizado com os seguintes tópicos:
a) Introdução: A Igreja Católica foi uma instituição muito forte durante a Idade Média.
Sua presença nas sociedades ocidentais influenciou reis (Francos, Portugal…),
reorganizou o calendário, interferiu nas Universidades, além de ser identificada como a
“detentora do saber” (já que era responsável pelo ensino e muito dos seus membros
serem letrados) e de possuir vastos territórios na Europa. Mesmo que seus ensinamentos
tenham atingido muitos fiéis, algumas manifestações dissidentes e cultos antigos
existiram, fazendo com que a Igreja Católica os combatesse fortemente.
b) Cena: visualização das cenas:
Os Visitantes – Feiticeira - 6’ a 12’25’’, Mago Eusaebius - 13’50’’ a 17’34’’
c) Atividade: De acordo com as cenas do filme, quais personagens eram considerados
hereges para a Igreja Católica e por quê? Como eles foram ou seriam punidos? Pesquise
alguns atos de heresia ou grupos de hereges durante o medievo e apresente em sala de
aula. No mundo de hoje, existem hereges para a Igreja Católica? Em caso afirmativo,
como são feitas as punições para estas pessoas?
Quando se trata da questão religiosa no período medieval, muitos são os
assuntos que surgem. Devido às escolhas, foram enfatizadas algumas situações
religiosas, para contestar a ideia da exclusividade das interpretações e manifestações da
Igreja Católica. Outros assuntos poderiam ser abordados; dentro desta categoria, o papel

10
Lembrar François Guizot, que defendia as origens francesas na Idade Média.
do monge na sociedade, as diferenciações entre as ordens religiosas, as doações da
Igreja feitas aos necessitados, o dízimo, a religiosidade atualmente… Alguns conceitos
importantes a serem trabalhados: monoteísmo, politeísmo, cruzadas, fanatismo
religioso, heresia, paganismo, escolástica, o outro… A preocupação com a
temporalidade dos alunos continua a ser um elemento importante, aproximando a
temática ao mundo em que eles vivem.

Categoria FONTES HISTÓRICAS

A temática fontes históricas foi pensada para introjetar em sala de aula


discussões sobre a diversidade de documentos que podem ser utilizados pelo professor.
Ao longo do filme, como já foi mencionado, aparecem diversos tipos de documentos
históricos, como por exemplo – álbum da família Montmirail, castelo, objetos, retrato
de 19 anos do Conde, anel, livro de feitiçaria, masmorra “intacta”, moedas, livros...
Ocorrerá a seguir, a escolha de cenas e a análise teórica/histórica destas.
Uma cena selecionada no filme Os Visitantes aborda o diálogo sobre a
enciclopédia Larousse. Godefroy, no meio da noite, acorda Beatrice para escutar dela o
que havia acontecido durante o período de seu deslocamento no tempo, ou seja, desde o
rei francês Luis, o Gordo, 1123, até o período vigente, 1992. Beatrice aparece na sala
com a enciclopédia Larousse, dizendo que esta é muito completa. Porém, Godefroy não
encontra seu nome, nem seus atos nas batalhas em que luta ao lado do rei francês. A
repercussão dada à família Montmirail aparece somente na Revolução Francesa. Um
familiar, pertencente à nobreza, é citado pela sua atitude a favor da Revolução, cabendo
o registro na enciclopédia talvez por ser algo estranho, ou inusitado.
As seleções de fatos históricos feitas pelos pesquisadores e as suas interpretações
trazem à tona acontecimentos que representam escolhas de determinadas pessoas.
Assim, ao estudar a questão dos registros e da memória, aquilo que aparece e como
aparece ganha tanta importância para nós, quanto o que falta, o que não foi selecionado.
Os monumentos, os objetos a que se têm acesso devido às seleções/escolhas feitas pelas
sociedades, vão ser, muitas vezes, novamente selecionadas e estudadas pelos
historiadores, tornando assim documentos. Essa explicação da seleção e uso das fontes
históricas conduz ao encontro das ideias de Le Goff, afirmando que “a visão de um
mesmo passado muda segundo as épocas e que o historiador está submetido ao tempo
em que vive” percebendo que “o interesse do passado está em esclarecer o presente; o
passado é atingido a partir do presente (método regressivo de Bloch)” (1990, p. 13 e
14).
A enciclopédia é um manual, na qual muitas pessoas recorrem para estudar o
que aconteceu no passado. Essa afirmação merece cuidados, pois temos que ter em
mente, no mínimo, todo esse processo de seleção de documentos efetuados pelos
autores e de como estes representam os períodos históricos para explicar o presente. As
escolhas vão selecionar o que aparece – de acordo com a importância de alguém – e o
como aparece – a ênfase, o inusitado... – mostrando a intenção do(s) autor(es). Assim, é
importante trabalhar com as fontes, de qualquer época e estilo, tendo em mente que é
“um produto da sociedade que a fabricou segundo as relações de forças que aí detinham
poder” (LE GOFF, 1990, p. 545). E mais: o documento, por ter chegado até nos, passou
por uma relação com as sociedades que vieram depois dele, que o manipulou, mesmo
pelo silêncio. O documento monumento “resulta do esforço das sociedades históricas
para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si
próprias” (LE GOFF, 1990, p. 548).
No caso dos objetos/fontes primárias do filme Os Visitantes - o castelo, o anel,
os quadros, entre outros - permaneceram durante vários períodos como forma de
preservar a história e o status de uma camada social, muitas vezes com grandes
influências na questão política. Do servo, ou seja, das camadas menos abastadas, não
aparece nenhum registro de fonte histórica ligado a ele. A Revolução Francesa se torna
um marco importante para a sociedade atual, e alguns de seus episódios são lembrados,
ao contrário das ações do nobre medieval, que acabam sendo esquecidas.
De acordo com a temática Fontes Secundárias e visualizando com os alunos
algumas cenas selecionadas do filme Os Visitantes o objetivo para o ensino de História
parte em estabelecer o que é fonte secundária, discutir sua produção e duração nas
épocas posteriores. O roteiro encontra-se organizado com os seguintes tópicos:
a) Introdução: Os homens, voluntária e involuntariamente, produzem documentos
históricos, porém existem seleções da própria e das futuras sociedades determinando,
numa luta entre os diferentes grupos sociais, o que vai ser lembrado e o que vai ser
esquecido.
b) Cena: visualização das cenas:
Os Visitantes – Enciclopédia - 59’56’’ a 1h01’09’’, Anel do conde - 1h02’18’’ a
1h07’11’’, Quadros e Masmorra - 1h08’58’’ a 1h10’03’’, Masmorra intacta - 1h18’24’’
a 1h20’25’’
c) Atividade: Porque não há referência à vida de Godefroy na Enciclopédia Larousse?
Será que encontramos tudo que aconteceu em todas as sociedades nas enciclopédias,
estas com seus vários volumes de livros impressos, hoje disponibilizados em versões
digitais, através de CDs e DVDs, e/ou nas coleções de livros didáticos de História?
Porque que isso não acontece? O que leva algumas pessoas ou determinados fatos
ficarem registrados numa enciclopédia, num livro, num caderno, num blog… Será que
isso também serve para a cultura material e imaterial {os conjuntos arquitetônicos
(edifícios, monumentos…), as tradições que perduraram das heranças das nossas
bisavós, por exemplo, e que não foram escritas…}?
As aulas de Histórias devem colocar os discentes em contato com diversas
fontes primárias. As propostas a seguir devem propiciar o conhecimento de uma vasta
gama de documentos, escritos e imagéticos, sendo importante a leitura e a análise destes
materiais. Os conceitos indicados a serem trabalhados em sala de aula, aumentando o
conhecimento dos alunos são: fontes históricas, fonte primária, fonte secundária,
memória, patrimônio histórico, memória, cultura material, cultura imaterial… As
escolhas realizadas para compor o roteiro sobre as fontes históricas direcionaram-me a
aproximar os documentos dos discentes e, assim, inserir o debate sobre o agente/ser
histórico (participante e construtor da História).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fazer uso do recurso audiovisual nas aulas de História, tornando-a mais


dinâmica, a indicação é iniciar com questionamentos, provocações, desafios... apoiando-
se nas cenas de um ou mais filmes, organizando as discussões para partir do
hoje/momento contemporâneo (com a produção da película e suas questões mais
teóricas, envolvendo a História e o Cinema) e atingir o período histórico a ser estudado,
representado nas cenas (conteúdo da História). Essa ferramenta didática fará o link com
outros materiais, de escolha do professor, para tratar com conceitos históricos
importantes. Os alunos devem estar cientes que o filme é uma representação de um
local, de uma sociedade, de um modo de vida, de uma época… e o estudo que eles irão
fazer, servirá para compreender uma sociedade diferente, reconhecendo que esse outro
não pensava igual e nem agia do mesmo modo que os deles. As aprendizagens
significativas alcançadas pelos discentes serão possíveis com os entendimentos dos
processos históricos, resultando nas relações com o mundo de hoje. Muitos destes são
fundamentais para dar ao aluno um conhecimento das explicações das possíveis
situações enfrentadas no seu tempo. Temas e conceitos associados com a questão do
tempo e de sua construção e organização, das fontes históricas e de sua seleção e
perduração, da representação das sociedades e dos acontecimentos do passado e do
presente... são fatores que devem estar presentes em qualquer utilização dos recurso
didático.
Outro fator que propicia aprendizagens significativas é o trabalho mais dinâmico
obtido com o recurso audiovisual. Este é um material de grande proximidade dos
discentes. Vídeos e cenas são gravadas, executadas, editadas e repassadas com o auxílio
de um computador e de um celular, com uma câmera e a tecnologia bluetooth, sendo
colocados em sites de vídeos específicos para este fim, com grande facilidade. O
professor atento a isso deve propor atividades ligadas à criação, pelos alunos, de cenas
que representem acontecimentos de períodos históricos.
A pesquisa atentou-se em promover a relação entre debates da História e do
Cinema, criando uma metodologia que permitisse levar alguns desses elementos para
sala de aula. O professor de História, ao utilizar um filme ou cenas deste, possibilitará,
através dos debates sobre os conceitos, fazer os discentes possuírem as ferramentas
básicas para compreender e, se for o caso, criticar e transformar o mundo em que vivem.
Após o discente perceber alguns pontos mais específicos sobre a produção dos filmes
históricos na escola, ele ampliará seus conhecimentos, aguçando seus sentidos frente ao
mundo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SCHMITT, Jean-Claude. Verbete Clérigos e Leigos. In: LE GOFF, Jacques e
SCHMITT, Jean-Claude (Coords.) Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru,
SP: EDUSP, São Paulo, SP: Imprensa Oficial do Estado, 2002.

FICHA TÉCNICA DE OS VISITANTES

Título Original: Les Visiteurs: Ils ne sont pas nés d'hier


Direção: Jean-Marie Poiré
Atores principais: Christian Clavier, Jean Reno, Valérie Lemercier
Roteiro: Christian Clavier Jean-Marie Poiré
Música: Éric Lévi (Era), Felix Mendelssohn-Bartholdy
Decoração: Hugues Tissandier
Direção de Arte: Bertrand Seitz
Edição: Catherine Kelber
Efeitos Especiais: Duboi
Figurino: Catherine Leterrier
Fotografia: Jean-Yves Le Mener
Montagem: Catherine Kelber
Produção: Alain Terzian
Estúdio: Alpilles Productions, Amigo Productions, France 3 Cinéma, Gaumont
International e Le StudioCanal+
Distribuidora:.Gaumont International/Miramax Films
Gênero: Comédia
Duração: 107 minutos
Ano de Lançamento: 27 janeiro 1993.
Língua Original: Francês
País de Origem: França

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