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Aula Português

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Introdução e conclusão
Dissertação: início e fechamento
Uma boa redação é o resultado de um conjunto har- obra viola o direito de privacidade do cidadão? ”, muitos
mônico de períodos, de parágrafos e, principalmente, elaborariam um parágrafo introdutório que não passaria
do desenvolvimento de uma sequência de ideias. Após da citação do tema da proposta de redação, como no
conhecermos diversas formas de organizar a argumen- (mal) exemplo a seguir.
tação dissertativa, trabalharemos, nesta aula, formas
de incrementar o início (introdução) e o fechamento Ultimamente, a polêmica da autorização prévia
(conclusão) do texto. para a publicação de biografias provocou o debate
Utilizemos, como referência, o tema da publicação entre quem defende a liberdade de expressão e os que
de biografias não consentidas. A partir dessa temática, preservam o direito à privacidade do cidadão.
vejamos formas possíveis de como organizar uma intro-
dução e uma conclusão. Um parágrafo assim fica notoriamente empobrecido,
pois falta uma explicação mínima do que será discutido
(PUC – PR) A polêmica sobre a publicação de bio- no texto. É fundamental que o início da redação apre-
grafias de pessoas relevantes sem necessidade de sente o tema, promovendo para o leitor uma contextu-
sua autorização encontra resistência em setores das alização que o leve a entender o que será exposto no
classes artística e política que se opõem a ter suas texto.
histórias de vida expostas. O assunto é controverso Vamos, a partir da mesma proposta de redação,
e envolve diversidade de opiniões, pontos de vista observar algumas sugestões de como fazer uma intro-
e ressalvas. dução. Antes disso, vale afirmar que uma boa introdução
anuncia o que será mostrado no texto. Logo, ela de-
A partir da leitura dos textos da coletânea apresen- pende diretamente do posicionamento e da estratégia
tada e de seu conhecimento prévio relacionado ao argumentativa adotada na redação. Colocaremos, aqui,
assunto, redija um texto dissertativo-argumentativo cinco exemplos, entre outros possíveis, de introdução.
contendo, no mínimo, 20 linhas e, no máximo, 25.

No texto, apresente seu ponto de vista sobre a 1. Ênfase na explicação do


seguinte questão: a publicação de biografia sem
autorização prévia do biografado encontra res-
tema que será discutido
paldo no direito de liberdade de expressão ou,
nesse caso, a obra viola o direito de privacidade A polêmica da necessidade de uma autorização
prévia para a publicação de uma biografia promo-
do cidadão?
ve um debate sobre qual direito deve prevalecer:
preservar a privacidade do indivíduo ou garantir
Parágrafo de introdução o interesse social do direito à informação. Con-
tudo, após tantas lutas para que o país conquis-
Para uma proposta como “a publicação de biografia tasse a liberdade de expressão, é um retrocesso
sem autorização prévia do biografado encontra respal- que biografias passem a ser proibidas em favor de
do no direito de liberdade de expressão ou, nesse caso, a interesses particulares.

1
2. Tomar por base uma citação Parágrafo de conclusão
A conclusão, como já sabemos, é o fechamento do
Para o jornalista e historiador inglês Jonathan
Fenby, as biografias fazem parte do direito que a texto dissertativo. O planejamento desse parágrafo se
sociedade tem de saber sobre o presente e o passa- dá a partir da ideia de que esse não é o espaço para o
do. Tomando por base esse raciocínio, não é correto acréscimo de um argumento novo. Afinal, os argumen-
admitir que o trabalho do biógrafo seja submetido tos já foram analisados na segunda parte do texto e, por
à aprovação do sujeito biografado, mesmo que isso isso, a inserção de argumentos novos neste momento
seja em nome da manutenção da privacidade deste. pode ser interpretado como incoerência estrutural.
Basicamente, ele é constituído da reiteração do po-
3. Contextualização a partir sicionamento defendido no texto e de um comentário
final. A partir dessa base, é possível incrementar esse
de um fato histórico ou parágrafo.
de uma notícia recente
Sugestões de conclusão
Um grupo de artistas ligados à música brasi-
leira, intitulado “Procure Saber”, composto por
nomes importantes como Caetano Veloso e Chico
1. Conclusão resumitiva
Buarque, causou polêmica por defender restrições Consiste em retomar, de forma resumida, a tese e
quanto à publicação de biografias. Essa atitude os argumentos desenvolvidos ao longo do texto. Leia o
é legítima, pois o interesse público pela vida do exemplo a seguir e compare-o com a primeira sugestão
biografado não deve desrespeitar a privacidade de de introdução.
quem, mais que uma pessoa pública, é um ser hu-
mano com direito a preservar a própria história. Em vista disso tudo, deve-se entender que o
direito da sociedade à informação não deve sofrer
restrições baseadas em interesses particulares. Des-
4. Menção aos argumentos sa forma, a censura a biografias simboliza um gra-
que serão trabalhados ve atraso cultural, incoerente com as características
que devem prevalecer num país em que, depois de
no desenvolvimento décadas de autoritarismo, os valores democráticos
ainda estão em processo de consolidação.
As controvérsias a respeito da restrição às bio-
grafias trazem consigo o debate sobre o que deve
ser priorizado na construção da memória social: in- 2. Retomada de uma citação
teresses individuais do biografado ou o respeito ao Ao se fazer uma citação, especialmente na abertura
direito que a sociedade tem à informação. Embora do texto, é importante que a ideia nela presente seja
exista quem defenda a privacidade dos biografa- retomada ao longo da redação. Leia o exemplo a seguir
dos, é inadmissível nesses tempos modernos essa
e compare-o com a segunda sugestão de introdução.
limitação às biografias, por se tratar de censura, um
desrespeito grave à História recente do Brasil.
Portanto, em meio a esses interesses diversos,
não deve haver dúvidas de que o país precisa op-
5. Exposição de uma tese contrária tar primeiramente pelo direito que privilegia a co-
letividade, principalmente no que tange o acesso
para a contra-argumentação à cultura e à informação. Por isso, a correta afir-
mação do historiador Fenby faz todo o sentido,
Os opositores da restrição às biografias argu- pois a sociedade tem direito de conhecer seu pre-
mentam em nome da liberdade de expressão, en- sente e seu passado, e as biografias podem contri-
tendendo que o direito coletivo deve prevalecer buir muito para isso. Essa é a razão pela qual elas
sobre interesses pessoais. Contudo, essa postura jamais deveriam ser censuradas em favor de um
desconsidera um direito que garante a harmonia suposto direito particular.
social: a inviolabilidade da honra e da imagem
dos cidadãos. Assim, as biografias não consenti-
das ferem um princípio constitucional, além de 3. Conclusão avaliativa
oficializar o espúrio trabalho de quem vive de Essa é uma conclusão baseada em uma afirmação
promover o escândalo e a calúnia. contundente, categórica, sobre o tema da redação.

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Aula 13

no Brasil”, apresentando propostas de intervenção que


Diante do exposto, essa polêmica mostra que, respeite os direitos humanos. Selecione, organize e re-
no Brasil, infelizmente, há muito que amadurecer
para a conquista efetiva da liberdade de expressão. lacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
Para isso, é preciso inibir, desde já, quaisquer res- para defesa de seu ponto de vista.
quícios de autoritarismo e de censura, como a au-
torização prévia para a elaboração de biografias. Só
assim o país permanecerá consolidando a demo-
Textos Motivadores
cracia e o livre acesso ao conhecimento. TEXTO I

CAPÍTULO IV
4. Conclusão-solução DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Recomendada para propostas que pedem uma
Art. 27. A educação constitui direito da
proposta de intervenção (solução) a respeito de uma pessoa com deficiencia, assegurados sistema
problemática indicada no tema da redação. educaconal inclusivo em todos os níveis e
aprendizado ao longo de toda a vida, de forma
Por fim, após tantas décadas de regime ditatorial, a alcançar o máximo desenvolvimento possível
o Brasil precisa rejeitar decisões puramente unilate- de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais,
rais que ferem o acesso à informação. Assim, a me- intelectuais e sociais, segundo suas características,
lhor forma de conciliar interesses divergentes quanto interesses e necessidades de aprendizagem.
à publicação de biografias é o Congresso Nacional Parágrafo único. É dever do Estado, da família,
aperfeiçoar a legislação referente a esse fato. Isso deve da comunidade escolar e da sociedade assegurar
ocorrer de forma que se garanta a liberdade de pes- educação de qulidade à pessoa com deficiência,
quisa e publicação de trabalhos consistentes, bem colocando-a salvo de toda forma de violência,
como o direito à restrição e ao devido ressarcimento negligência e discriminação.
aos que forem vítimas de obras difamatórias. É ga- Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar,
rantindo trabalhos sérios e preservando a honra dos criar, desenvolver, implementar, incentivar,
cidadãos que se constrói uma sociedade livre e justa. acompanhar e avaliar: [...]
IV – oferta de educação bilíngue, em Libras
como primeira língua e na modalidade escrita da
5. Conclusão-síntese língua portuguesa como segunda língua, em esco-
las e classes bilíngues e em escolas inclusivas; [...]
É uma forma recomendada para a argumentação
XII – oferta de ensino da Libras, do Sistema
dialética, pois, depois da exposição de argumentos con-
Braille e de uso de recursos de tecnologia assistiva,
trários, torna-se fundamental a afirmação de qual deles de forma a ampliar habilidades funcionais
fundamenta a tese do texto. Leia o exemplo a seguir e dos estudantes, promovendo sua autonomia e
compare-o com a quinta sugestão de introdução. participação.
BRASIL. Lei nº. 13.146, de 6 de julho de 2015. Disponível em: www.
planalto.gov.br. Acesso em: 9 jun. 2017 (fragmento)
Assim, apesar de a liberdade de expressão ser
um direito importante, uma sociedade verdadei-
ramente democrática também se dá a partir do TEXTO II
direito que qualquer cidadão deve ter de poder
preservar a honra de sua imagem pública. Afinal, Matrículas de Surdos na Educação Básica -
é a partir do respeito ao cidadão que se começa a Educação Especial Total (em milhar)
formação de uma sociedade estável, e jamais por
meio de uma legislação que chancela o sensacio-
nalismo e a calúnia.

ANÁLISE DE PROPOSTA
DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com
base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija texto dissertativo-argumentativo em
modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre Fonte: Inep.
o tema “Desafios para a formação educacional de surdos

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TEXTO III
Em primeiro lugar, cabe pontuar que as ins-
tituições de ensino apresentam, em sua maioria,
um sistema pouco inclusivo. Embora a Lei Bra-
sileira de Inclusão (LBI) atenda a Convenção do
Direito da Pessoa com Deficiência, realizada em
2006 pela ONU, sua finalidade encontra obstácu-
los, seja na estrutura escolar vigente, seja na falta
de preparo do corpo docente. Prova disso são as
escolas regulares e as universidades que não se
adequaram à comunicação em Libras, bem como
Disponível em: http://servicos.prt4.mpt.mp.br. exames avaliatórios que não garantem tal acessi-
Acesso em: 3 jun. 2017 (adaptado). bilidade. Nesse sentido, os surdos recebem uma
educação frágil, desigual e excludente.
TEXTO IV Além disso, a ineficiente integração no âmbi-
to escolar/acadêmico resulta em efeitos fora dele.
No Brasil, os surdos só começaram a ter aces- Conforme afirmou Aristóteles, é preciso tratar
so à educação durante o Império, no governo de igualmente os iguais e desigualmente os desiguais,
Dom Pedro II, que criou a primeira escola de edu- na medida exata de suas desigualdades. Contudo,
cação de meninos surdos, em 26 de setembro de a instrução aristotélica não é vista na prática, uma
1857, na antiga capital do País, o Rio de Janeiro. vez que o mercado de trabalho oferece poucas
Hoje, no lugar da escola funciona o Instituto Na- oportunidades, ainda que o deficiente auditivo
cional de Educação de Surdos (Ines). Por isso, a tenha concluído o ensino superior. Paralelamente
data foi escolhida como Dia do Surdo. a isso, o comportamento contemporâneo, o qual
Contudo, foi somente em 2002, por meio da prioriza o individualismo e a competição, intensi-
sanção da Lei nº. 10.436, que a Língua Brasilei- fica a exclusão visto que a deficiência em questão
ra de Sinais (Libras) foi reconhecida como língua é alvo de uma visão equivocada de incapacidade
ofical no País. A legislação determinou também funcional. Desse modo, as implicações de uma
que devem ser garantidas, porparte do poder educação que não se adapta às diferenças são vi-
público em geral e empresas concessionárias de síveis.
serviços públicos, formas institucionalizadas de Diante do exposto, faz-se necessária uma com-
apoiar o uso e difusão da Libras como meio de
plementação nas instituições sociais secundárias
comunicação objetiva.
Disponível em: www.brasil.gov.br. Acesso em: 9 jun. 2017 (adaptado)
a fim de promover uma formação educacional
coerente com as leis e as resoluções. Para tanto,
o Ministério da Educação deve impor diretrizes
Exemplo de redação de um projeto pedagógico inclusivo, como a obri-
gatoriedade de aulas de Libras na graduação de
professores, bem como cursos para os formados.
Após a Segunda Guerra Mundial, a ONU pro-
mulgou a Declaração Universal dos Direitos Hu- Ademais, o Estado, através do corpo legislativo,
manos, a qual assegura, em plano internacional, deve propor incentivos fiscais às grandes empre-
a igualdade e a dignidade da pessoa humana. sas que instituírem um percentual proporcional
Entretanto, no Brasil, há falhas na aplicação do na contratação de pessoas com alguma restrição
princípio da isonomia no que tange à inclusão de física, incluindo a auditiva. Assim, os direitos bá-
pessoas com deficiência auditiva. Consequente- sicos inerentes à vida e à liberdade, consagrados
mente, a formação educacional é comprometida, na Carta Magna, poderão ser cumpridos.
o que pressupõe uma análise acerca dos entraves
Extraído de <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/
que englobam esta problemática. enem/guia_participante/2018/manual_de_redacao_
do_enem_2018.pdf >. Acesso em: 29/09/2018

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Testes
Assimilação Instrução: Texto para a próxima ques-
tão.
Instrução: Textos para a próxima questão.
Texto I O vírus zika segue sua
escalada. Ele é suspeito de
Humor não é bullying causar boa parte dos casos
Natalia Klein
de microcefalia em bebês no
Não existe nada mais fácil do que sacanear quem já é frequen- Brasil desde outubro de 2015,
temente sacaneado. É tiro certo, todos vão achar graça. 1Mas aí não segundo o levantamento mais
estamos falando de humor. O nome disso é bullying. recente do Ministério da Saú-
de. No dia 17 de janeiro, a Or-
[...] 2Recentemente, dei uma entrevista em que me perguntaram ganização Pan-Americana da
sobre os limites do humor. Por uma infelicidade, publicaram apenas Saúde na região, declarou que
um trecho da minha resposta, em que eu digo que “não posso mais países, praticamente toda a
fazer piadas com anão, negros, homossexuais”. América Latina, já detectaram
3
É importante deixar claro que eu disse sim essa frase pavorosa. casos de infecção pelo vírus. O
Mas em um contexto muito mais amplo. O que eu expliquei – ou, invasor chegou até a América
pelo menos, tentei explicar – é que não se pode fazer piadas envol- do Norte. Durante a última
vendo assuntos polêmicos sem correr o risco de ser tachado de pre- semana, apareceram notifi-
conceituoso. Mas fingir que o preconceito não existe é infinitamente cações de casos nos Estados
pior. Unidos. Foram duas gestantes
Não sou a favor de fazer graça de quem já tem que lidar diaria- em Illinois, outra com suspei-
mente com a intolerância. 4Sou a favor de se fazer piada da intole- ta de zika na Califórnia e três
rância em si. Em colocar na mesa os nossos podres para que a gente pessoas diagnosticadas na Fló-
lembre que eles existem. rida. Esses casos se somam aos
(Fonte: http: //www.adoravelpsicose.com.br/2011/10/humor-
primeiros registrados no início
nao-e-bullying.html Acessado em: 27/08/2015) do mês: uma mulher no Texas
e um bebê que nasceu com
Texto II microcefalia no Havaí. [...]
Um novo estudo, elaborado
por um grupo internacional
de pesquisadores, sugere que
é questão de tempo até que o
vírus comece a se disseminar
dentro dos Estados Unidos e,
possivelmente, da Europa. [...]
BUSCATO, Marcela. Época, 25 de
janeiro de 2016, p. 42 (fragmento).
Fonte: https://www.facebook.com/tirasarmandinho?ref=ts. Acessado em 13/10/2015

13.01. (COLÉGIO PEDRO II – RJ) – Assinale a alternativa que contém a frase do 13.02. (USF – SP) – Ao descrever a
texto de Natalia Klein que diz de outro modo a mesma mensagem do terceiro crescente trajetória do vírus zika, por
quadrinho da tirinha. meio de dados oficiais, a produtora do
a) “Recentemente, dei uma entrevista em que me perguntaram sobre os limites texto tem por objetivo:
do humor.” (ref. 2) a) Informar a população sobre a gra-
b) “Mas aí não estamos falando de humor. O nome disso é bullying.” (ref. 1) vidade do vírus.
c) “É importante deixar claro que eu disse sim essa frase pavorosa.” (ref. 3) b) Ressaltar o fato de que o vírus pre-
d) “Sou a favor de se fazer piada da intolerância em si.” (ref. 4) fere os trópicos para se disseminar.
c) Enfatizar o fato de que o vírus é uma
ameaça global.
d) Alertar sobre a expansão do vírus
pela Europa.

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Instrução: Texto para a próxima questão.
ameaçam bater. São barulhentas e não fortes. O
forte é aquele que ousa e se aventura em situações
Fracos e medíocres novas, porque tem a convicção íntima de que, se
Até que enfim a neurociência brasileira passa fracassar, terá forças interiores para se recuperar.
por uma polêmica que não foi deslanchada por Ninguém pode ter certeza de que seu empre-
Miguel Nicolelis. endimento – sentimental, profissional, social  –
Já estava ficando monótono. será bem-sucedido. Temos medo da novidade jus-
Suzana Herculano-Houzel, neurocientista tamente por causa disso. O fraco não ousará, pois
e colunista desta Folha, vai trocar de emprego. a simples ideia do fracasso já lhe provoca uma dor
Deixa a Universidade Federal do Rio de Janeiro insuportável. O forte ousará porque tem a sen-
(UFRJ) e parte para a Vanderbilt, no Tennessee, sação íntima de que é capaz de aguentar o revés.
Estados Unidos. O forte é aquele que monta no cavalo porque
Faz muito bem. Embora a Vanderbilt não apa- sabe que, se cair, terá forças para se levantar. O
reça entre as cem mais prestigiadas no ranking de fraco encontrará uma desculpa – em geral, acu-
reputação compilado pela Times Higher Educa- sando uma outra pessoa – para não montar no
tion (THE), na classificação de universidades glo- cavalo. Fará gestos e pose de corajoso, mas, na
bais ela está em 87o. lugar. verdade, é exatamente o contrário. Buscará tantas
A UFRJ figura no grupo colocado entre a 501a. certezas prévias de que não irá cair do cavalo que,
e a 600a. posição. caso chegue a tê-las, o cavalo já terá ido embora
há muito tempo. O forte é o que parece ser o fra-
A mudança de endereço, no entanto, deflagrou co: é quieto, discreto, não grita e é o ousado. Faz
controvérsia fratricida numa rede social. Suzana o que ninguém esperava que ele fizesse.
estaria “capitulando”, apontou-lhe o dedo Rober-
GIKOVATE, F. Disponível em: <http://flaviogikovate.com.br/uma-pessoa-
to Lent, da mesma universidade fluminense. verdadeiramenteforte/# more-540>. Acesso em: 01 out. 2016.
Folha de S. Paulo, Cotidiano, 9/5/16, p. 4.

13.04. (UEMG) – A relação entre a tese do texto e os argu-


13.03. (FPP – PR) – O sentido das palavras empregadas em mentos apresentados pelo autor para sustentar seu ponto
um texto depende, em grande medida, do contexto em que de vista é caracterizada pela
aparecem. No texto em questão, o emprego de “capitulando” a) contraposição entre os significados de força e fraqueza.
revela que o colega da cientista b) valorização do fracasso e das frustrações da vida.
a) vê com bons olhos a transferência da pesquisadora pela c) distinção entre a ousadia e o medo da novidade.
posição internacional da UFRJ.
d) depreciação de indivíduos considerados fortes.
b) opõe-se à transferência da cientista pela pesquisa desen-
volvida por ela.
c) deflagrou uma polêmica sem que o neurocientista Miguel Aperfeiçoamento
Nicolelis saiba.
d) reprovou a ação da cientista devido a não extensão da Instrução: Leia o texto abaixo para responder às questões
condição ao outros colegas. 13.05 a 13.07.
e) considera que a cientista se rendeu à condição oferecida
para pesquisa. De currais e caricaturas
[...]
Instrução: Texto para a próxima questão. Nada mais coerente, portanto, do que criar-
mos um movimento em busca de indenização,
Uma pessoa verdadeiramente forte certo? Errado. O exemplo anterior [sobre a per-
A gente costuma ouvir que uma pessoa é forte, seguição aos alemães no Brasil no período da Se-
que tem gênio forte, quando ela reage com gran- gunda Guerra] serve apenas para mostrar que as
de violência em situações que a desagradam. Ou coisas não são tão simples quanto parecem. Nos
seja, a pessoa de temperamento forte só está bem anos 1940, os japoneses que viviam no Brasil so-
e calma quando tudo acontece exatamente de freram ainda mais que os alemães.
acordo com a vontade dela. Nos outros casos, sua O mesmo pode ser dito de judeus, árabes, po-
reação é explosiva e o estouro costuma provocar loneses e italianos. Não foram apenas os índios
o medo nas pessoas que a cercam. e os negros que padeceram nas garras de um
As pessoas que não toleram frustrações, dores Estado imaturo e elitizado como o nosso, ainda
e contrariedades são as fracas e não as fortes. Fa- que tenham padecido numa escala maior e mais
zem muito barulho, gritam, fazem escândalos e documentada. Se procurarmos nos livros certos,

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descobriremos que todos os grupos étnicos, reli- conceitos ancestrais, precisamos é de educação
giosos e sexuais teriam direito a alguma forma de igualitária e multicultural para todos. Conhecer a
reparação. cultura daqueles que consideramos diferentes é a
Pois é aí que reside o problema. melhor maneira de nos aceitarmos coletivamente,
e não apenas de nos “tolerarmos”. A “guetificação”
Se você acredita que desencavar rancores
não é boa para ninguém. Se insistirmos nisso, aca-
contribui para o amadurecimento do país, está
baremos voltando aos currais de arame farpado.
guiando por uma contramão arriscada, da qual é
sempre difícil retornar. Em vez de resolverem as TENFEN, Maicon. Revista Veja. Edição 2499, de 12 de
outubro de 2016. p. 62-63. Fragmento adaptado.
demandas das quais se originaram, as iniciativas
de reparação histórica e as admoestações politica-
mente corretas que as acompanham têm o poder 13.05. (ACAFE – SC) – Sobre o texto, é correto afirmar:
de complicar ainda mais a situação. Normalmente a) O resgate dos ressentimentos históricos é um totem dos
transformam-se em bandeiras de políticos irres- crimes étnico-religiosos do passado, entre os quais o
ponsáveis que querem ver o circo pegar fogo para machismo, o racismo e a homofobia.
se dar bem nas urnas. As consequências são evi-
dentes: mais do que polarizada, a sociedade bra- b) As leis que visam ao combate da descriminalização dos
sileira está “guetificada”, e não apenas por razões preconceitos não garantem uma educação totalitária para
étnicas ou político-partidárias. todas as minorias.
Das igrejas que lutam contra a descriminali- c) Com fins eleitoreiros, políticos irresponsáveis apropriam-
zação do aborto aos coletivos feministas sediados -se das iniciativas de reparação histórica e das admoesta-
em universidades, das ações dos grupos LGBT às ções politicamente corretas que as acompanham.
bancadas conservadoras que cunharam a expres- d) As caricaturas servem para representar os estereótipos
são “heterofobia”, parece que todo mundo quer da sociedade complexa em que vivemos, apesar da
vestir a capa do Supercidadão e sair voando para intolerância religiosa.
salvar o planeta. De repente começamos a nos ver
como membros de clãs que sentem a obrigação 13.06. (ACAFE – SC) – Assinale a alternativa que melhor
de erigir totens para impor nossa verdade à vizi- resume o texto.
nhança. Quem discorda é “ignorante” e por isso a) As demandas de reparação histórica estão na raiz de todos
merece a fogueira. Nunca é demais lembrar que os males das sociedades modernas, por duas razões: de
a ascensão dos movimentos de autoafirmação mi- um lado colocam-se as igrejas e os políticos, que elaboram
noritária foi uma das maiores vitórias do nosso leis arbitrárias; de outro, as minorias, que querem impor,
tempo, mas – muita calma nessa hora – a radica- na base do grito e do patrulhamento ideológico, o resgate
lização de palavras de ordem e o resgate forçado de seus ressentimentos. Todavia, ambos erram porque
de ressentimentos transformaram essa conquista não consideram a possibilidade da educação igualitária
numa faca de dois gumes. e multicultural.
Vivemos num período tão complexo que tal- b) De uma forma ou de outra, todos pertencemos a um clã
vez seja impossível encontrar alguém que possa se político, religioso, étnico-racial ou sexual. A partir desse
definir sem ressalvas. Diante da confusão, apelar lugar, construímos estereótipos que sustentam nossos
para o estereótipo tornou-se a saída mais cômoda. pontos de vista, para o bem ou para o mal. Quem discorda
De todas as caricaturas que passaram a simboli- merece a morte. O melhor exemplo dessa guetização é o
zar as mazelas da humanidade, o Homem Branco movimento feminista, que luta contra o aborto.
Ocidental parece ser a mais recorrente, como se
todos os homens brancos, sem exceção, fossem c) O crescimento dos movimentos de autoafirmação das
racistas, machistas e homofóbicos. Se você per- minorias é responsável pela concepção político-partidária
tence a esse grupo, já deve ter sido silenciado em de que todos os grupos étnicos, religiosos e sexuais têm
algum debate por aí. Não importa sua opinião, direito a alguma forma de reparação. Nesse contexto, ser
se é a favor ou contra, pois já foi tachado como o um Homem Branco Ocidental representa um pecado
machista do grupo e ponto-final. Em compensa- original, que precisa ser combatido, pois não existem
ção, a caricatura que se costuma desenhar como outros meios de eliminar os preconceitos.
resposta também não deixa de ser injusta: a femi- d) Os movimentos de reparação histórica e as exigências do
nista furibunda que pensa pouco e grita muito é politicamente correto estão nos levando a um processo
outro dos estereótipos que criamos para empo- inteiramente novo – a guetificação. Quem discorda so-
brecer o debate. fre patrulhamento, é silenciado. Embora a ascensão e a
Ninguém gosta de receber lições de moral por autoafirmação das minorias seja uma grande conquista
aquilo que é. Por isso, antes de leis arbitrárias ela- atual, a radicalização em favor da reparação histórica não
boradas por “iluminados” e impostas a uma po- é o melhor caminho. O que precisamos é de educação
pulação que ainda não teve tempo de digerir pre- igualitária e multicultural.

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13.07. (ACAFE – SC) – Assinale a pergunta que pode ser
corretamente respondida com base no texto. passar da quantia ou ficar aquém dela era algo
a) Por que “as iniciativas de reparação histórica e as admoes- que beneficiaria o participante às custas de seu
companheiro, ou que beneficiaria o companheiro
tações politicamente corretas que as acompanham têm
às custas do participante ou ainda que beneficia-
o poder de complicar ainda mais a situação”?
ria um dos dois sem prejuízo para o outro. Com
b) Quais são as iniciativas político-partidárias que impedem este jogo, os cientistas observaram que as peque-
a polarização da sociedade brasileira? nas desonestidades para obter um ganho às custas
c) É possível identificar, no período em que vivemos, os do parceiro aumentavam progressivamente.
totens que merecem ser queimados na fogueira da Além disso, parte dos participantes teve sua
discórdia? atividade cerebral medida através de ressonância
d) Em que região do Brasil, as ações de resgate dos ressen- magnética funcional. Assim, foi observado que
timentos étnico-raciais e sexuais estão mais salientes? a resposta da amídala, uma região do cérebro
na qual se processam as reações emocionais, era
Instrução: Texto para as questões 13.08 a 13.10. mais intensa na primeira vez que os participantes
enganavam seus companheiros. Essa reação, no
Mentiras fazem com que o cérebro se entanto, ia se atenuando nas fases posteriores do
adapte à desonestidade com o tempo jogo, e os autores eram capazes de prever o nível
Estudo diz que a reação emocional negativa de de desonestidade de um indivíduo a partir da re-
atos desonestos diminui conforme a frequência dução da atividade na amídala na prova anterior.
“Em conjunto, nossos resultados revelam um
Os seres humanos, ou pelo menos a maioria mecanismo biológico por trás da escalada de
deles, contam com mecanismos biológicos que di- desonestidade”, apontam os autores do estudo.
ficultam os comportamentos desonestos. Quando “Os resultados mostram os possíveis perigos de
mentimos, experimentamos vários tipos de excita- cometer pequenos atos desonestos, perigos que
ção emocional que fazem com que nos sintamos se observam com frequência em âmbitos que vão
mal. Essas reações podem ser medidas e são a base desde a política aos negócios ou à força da lei”.
dos detectores de mentiras. Alguns pesquisadores Por fim, eles concluem que esse conhecimento
demonstraram até que é possível derrubar com fár- sobre o funcionamento dessa ladeira escorregadia
macos as barreiras fisiológicas contra a transgres- da desonestidade pode ajudar a melhorar as polí-
são. Em uma experiência com estudantes, foi ob- ticas para evitar a corrupção.
servado que quando tomavam um medicamento Texto adaptado de: <http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/24/
simpaticolítico, que bloqueia os sinais associados ciencia/1477320874_626628.html>. Acesso em: 25 out. 2016.
com o comportamento desonesto, tinham o dobro
de probabilidade de enganar outra pessoa durante
um exame do que aqueles que tomaram placebo. 13.08. (UFJF – MG) – Com relação aos resultados a que o
Um bom número de análises mostrou que a estudo chegou, pode-se afirmar que
resposta a um estímulo que provoca uma emoção a) a desonestidade está mais presente entre aqueles que
enfraquece com o tempo. A repulsa que pode pro- atuam na política.
vocar a violência ou a ilusão da paixão perde inten- b) a desonestidade pode ser medida por sistemas bioquí-
sidade quando são experimentadas muitas vezes. micos complexos.
Um grupo de pesquisadores da University College c) os testes que medem a capacidade de mentir provocam
London comprovou que isso também ocorre com atitudes desonestas.
as sensações associadas a burlar as normas morais, d) os testes que visam estudar práticas desonestas contri-
um fenômeno que poderia explicar como se pode buem para evitar corrupção.
chegar a cometer atos desonestos graves a partir
de outros que, a princípio, parecem irrelevantes. e) os gestos desonestos levam as pessoas a aceitar progres-
sivamente a corrupção.
Em um artigo publicado na revista Nature, os
autores colocaram à prova os participantes de vá- 13.09. (UFJF – MG) – Segundo o texto acima, é correto
rios experimentos que tinham a oportunidade de afirmar que, na experiência apresentada na revista Nature,
mentir para obter benefícios pessoais à custa de os participantes do estudo
outros. Os voluntários, 80 pessoas entre 18 e 65 a) mentiam mais cada vez que tomavam placebo.
anos, deviam estimar, junto a um companheiro
que não viam, a quantidade de dinheiro conti- b) mostraram-se progressivamente mais desonestos.
da em um recipiente. Foram apresentadas várias c) foram, preferencialmente, políticos e empresários.
situações. Na primeira, os indivíduos deviam se d) sentiam-se mal a cada situação em que precisavam burlar
aproximar ao máximo do valor real para que os as regras.
dois se beneficiassem. Em outras fases do jogo, e) utilizaram medicamentos farmacológicos para se sub-
meterem à pesquisa.
8 Extensivo Terceirão
Aula 13

13.10. (UFJF – MG) – Qual das opções a seguir tem relação 13.12. (EBMSP – BA) – A campanha institucional sugere ações
mais direta com o título do texto? cotidianas que melhoram a qualidade de vida das pessoas.
a) “Quando mentimos, experimentamos vários tipos de ex- Na estruturação do texto, identifica-se o uso
citação emocional que fazem com que nos sintamos mal.” a) dos dois-pontos, com o objetivo de introduzir uma expli-
b) “Os voluntários, 80 pessoas entre 18 e 65 anos, deviam cação para que o locutário saiba qual o principal objetivo
estimar, junto a um companheiro que não viam, a quan- da publicidade em foco.
tidade de dinheiro contida em um recipiente.” b) do modo imperativo, para convencer o leitor a, sempre
c) “Em conjunto, nossos resultados revelam um mecanismo que necessário, utilizar os serviços da instituição respon-
biológico por trás da escalada de desonestidade.” sável pela divulgação da conduta indicada.
d) “Com este jogo, os cientistas observaram que as peque- c) de um recurso linguístico e gráfico para destacar o benefí-
nas desonestidades para obter um ganho às custas do cio da intensidade de certas características humanas, caso
parceiro aumentavam progressivamente.” já se adote o estilo de vida sinalizado pelo interlocutor.
e) “Por fim, eles concluem que esse conhecimento sobre o d) da forma verbal “Seja”, que introduz atributos próprios do
funcionamento dessa ladeira escorregadia da desones- gênero feminino, e cujo sujeito implícito também aparece
tidade pode ajudar a melhorar as políticas para evitar a relacionado com a figura que ilustra a peça publicitária.
corrupção.” e) da ambiguidade gerada por “Cultive”, que, nesse contexto,
possibilita que a ação expressa se efetue tanto no sentido
Aprofundamento conotativo quanto no denotativo.

Instrução: Texto para a próxima questão.


13.11. (UFJF – MG) – Releia:
As páginas reproduzidas a seguir fazem parte de publicação
Além disso, parte dos participantes teve sua do Instituto A gente transforma. Seus componentes apresen-
atividade cerebral medida através de ressonância tam-se assim:“Nós somos um movimento que nasceu a partir de
magnética funcional. um impulso, uma inquietação e entendimento da necessidade
de valorização do ser humano e seus saberes legítimos ances-
Assim, foi observado que a resposta da amí-
trais, como ferramenta de transformação e liberdade.” Usam o
dala, uma região do cérebro na qual se processam
design como ferramenta para expor a alma brasileira, a partir
as reações emocionais, era mais intensa na pri-
meira vez que os participantes enganavam seus do mergulho na cultura dos povos que formam o nosso país.
companheiros. Observe com cuidado o conjunto abaixo reproduzido.

Os termos em destaque, nos trechos acima, estabelecem


relação de:
a) complementação e de conclusão de raciocínio.
b) continuidade e de inversão de raciocínio.
c) conclusão e de adição de informação.
d) complementação e de causalidade.
e) causalidade e de conclusão.

Instrução: Texto para a próxima questão.

Ancestralidade
Quando o antigo bogoió foi encontrado na
casa de dona Chica, em 2012, as artesãs perce-
beram que o futuro estava no passado. Ou me-
lhor, que o futuro estava no conhecimento, na
ancestralidade, na cultura, na fé e na resistência
representada pelo artesanato. O artesanato tem o
espírito da resistência e da rebeldia. Não há peças
iguais em Várzea Queimada. Elas carregam a per-
sonalidade de seus autores. O antigo e o novo se
misturam na Toca das Possibilidades.
ESTILO DE VIDA. Disponível em: <http://molotovpropaganda.
com.br/wp-content>. Acesso em: 9 jul. 2016. Aqui, não há limites para a criatividade.
(Instituto A gente transforma: Várzea Queimada. p. 8, 9 e 15)

Português 4C 9
13.13. (PUCCAMP – SP) – Sobre o que se tem no texto,
afirma-se com correção: pareça mais com a sofisticada carioca Capitu do
que com qualquer das Inocências, ou Moreninhas
a) Palavras de sentido oposto, que normalmente se exclui-
do romantismo de sua época.
riam, estão combinadas, para reforçar a expressão, em
as artesãs perceberam que o futuro estava no passado. Benzinho, pela mão feiticeira de seu criador li-
terário, que, aliás, colheu o modelo na vida real,
b) A expressão Ou melhor introduz uma retificação, visto passa ao longo do romance sem que o autor se
que a palavra futuro, usada na frase anterior, não foi aprofunde em qualquer análise psicológica da pas-
empregada em seu sentido próprio. sagem de uma condição de vítima inocente à de
c) As formas verbais empregadas para expressar as ações, uma representante típica, embora inconsciente, de
em foi encontrado e perceberam, impedem que essas um fenômeno sociológico, o da ascensão social,
sejam entendidas como concomitantes. que, ao contrário do tipo habitual da mulher nor-
d) Se, em lugar do verbo “haver”, em Não há peças iguais em destina, coloca inteiramente de lado as razões do
coração ou da sensualidade para se dirigir exclusi-
Várzea Queimada, tivesse sido empregado “existir”, este vamente pela razão. E pelo raciocínio rigorosamen-
verbo deveria também ser usado no singular, para que te interesseiro de promoção social ou de influência
fosse mantida a correção gramatical. exterior. Quando, pela primeira vez, se entrega a
e) No contexto em que a palavra Aqui foi empregada, ela um quase desconhecido, é levada exclusivamente
deve ser entendida como reportando aos centros produ- por uma frase eventual de sua mãe, que lhe con-
tores de artesanato no Brasil. fidenciara a vontade de ter um neto. Pela segunda
vez, o que a levou a fazer o mesmo foi simplesmen-
Instrução: Texto para a próxima questão. te a ambição de casar com um vizinho rico.
O texto abaixo consta como prefácio da 2a. edição do romance Em ambos os casos, absoluta ausência de sen-
Janelas Fechadas, do maranhense Josué Montello, publicado timento passional e, no fundo, preocupações de
pela primeira vez em 1941. Foi escrito por Tristão de Athayde tipo masculino mais que feminino. Não é a pre-
(Alceu Amoroso Lima), que compõe uma crítica na qual ocupação feminista de emancipação de seu sexo,
mas a passividade em face de um desejo materno
desenvolve ideias originais, como uma aproximação entre
e o impulso masculino de ambição social.
Benzinho, protagonista do romance de Montello, e Capitu.
Aliás, na criação da personagem central dessa
jovem Capitu nordestina, tocava Josué Montello
Uma Capitu Nordestina em um fenômeno típico das sociedades modernas:
Cada novo livro de Josué Montello é um acon- a confusão ou o desencontro entre os sexos, em sua
tecimento em nossas letras. Sua fecundidade lite- respectiva natureza biológica e psicológica. Já Aris-
rária, aliás [...], nunca se fez com sacrifício de seu tóteles verificava haver homens de alma feminina e
esmero na expressão verbal. Pelo contrário, esse vice-versa. Assim como não há, entre as várias ida-
esmero atingiu seu alto grau de perfeição com des do ser humano, limites claros e positivos, assim
Aleluia, mas de forma alguma se esgotou na sua também não existe, entre os sexos, uma psicologia
busca de concisão, outra meta constante em sua respectivamente incompatível. O que é preciso é
estilística pessoal. Ainda agora, o que o levou a não confundir o desencontro de psicologias com
reeditar esse quase primeiro livro de sua “matu- a confusão, ou antes, a inversão das psicologias.
ridade literária”, como ele próprio assinalou, foi Uma coisa é um homem de alma feminina e outra
a preocupação estritamente estilística e não es- um homem efeminado. Naqueles, o que vemos é o
trutural, junto ao cuidado de preservar o tipo de predomínio de certas qualidades, que normalmen-
sua personagem central, a jovem Benzinho, e o te distinguem a alma feminina, sem que, entretan-
ambiente maranhense de todos os seus romances. to, essa troca perturbe seus valores máximos.
Aliás, se a paisagem maranhense desse ro- Introdução. ATHAYDE, Tristão de. In: MONTELLO,
mance nada tem a ver com a rude paisagem ti- Josué. Romances e novelas. v. 1. p. 109-111.

picamente nordestina dos romances de um José


Lins do Rego ou de um José Américo, o caráter
da jovem Maria de Lourdes Silva, apelidada Ben- 13.14. (UECE) – A partir dos anos 20, com os estudos de-
zinho desde a infância, nada tem a ver com o tipo senvolvidos por Bakhtin e seu grupo, a língua passou a ser
genuíno das jovens nordestinas, como aliás dos vista como um fenômeno social e os enunciados passaram
homens da região, onde a firmeza de caráter é a a ser considerados como uma grande rede responsiva: cada
expressão mais representativa do temperamento enunciado responde a enunciado anterior e, ao mesmo
nordestino, pela supremacia dos valores morais tempo, espera resposta de um outro enunciado posterior.
sobre os valores eróticos e sobretudo hedonísti- Há outros discursos dialógicos mais ou menos explícitos no
cos. Sendo esse romance dos seus vinte anos uma texto Uma Capitu nordestina. O leitor atento pode identificá-
tentativa quase subconsciente de reação antirro- -los com certa facilidade. Dentre os exemplos apresentados
mântica, não é de espantar que essa adolescente
dos subúrbios de São Luís, o bairro do Anil, se a seguir, assinale o que NÃO pode ser classificado como
dialógico.

10 Extensivo Terceirão
Aula 13

a) O poeta ecoa a voz do crítico sobre a “confusão ou o Instrução: Texto para a próxima questão.
desencontro entre os sexos, em sua respectiva natureza
biológica e psicológica”. De ficção e realidade: diálogo possível
b) O crítico ecoa a voz de Aristóteles, o grande filósofo da – Literatura é fuga do real, cara! Veja o Brasil
antiguidade grega. que temos: propina, tráfico de influência, dela-
c) A atitude discursiva entre Benzinho, o crítico e os roman- ções, politicalha, trapaças...
ces de Josué Montello.
– Quem disse que a Literatura não tem os pés
d) A voz de Tristão de Athayde, que analisa o livro de Josué fincados na realidade? Para o momento brasileiro,
Montello, representa um dos metadiscursos da crítica valem os versos: “Começa o mundo enfim pela ig-
especializada. Todo discurso crítico é metalinguístico, o norância,/ e tem qualquer dos bens por natureza”.
que implica diálogo.
– Que bens? A rifa das licitações? O propinoduto?
Instrução: Texto para a próxima questão. – É isso mesmo, cara! Diferente do fantasma ro-
mântico, parece que o dinheiro virou uma “febre que
Parece quase impossível existir algo tão com- nunca descansa,/ O delírio que te há de matar!...”.
plexo como o cérebro humano. Um neurocientis- – O que nós temos é uma safra de corruptos e
ta dedica anos de estudo apenas para se familiari- corrompidos.
zar com as principais regiões deste órgão, e não é – Verdade! Sujeito assim safado mereceria
para menos – são bilhões de células e trilhões de “ser das gentes o espectro execrado”. O tal “Ouro
conexões. Por trás da fascinante estrutura neural, branco! Ouro preto! Ouro podre” corrompeu
encontram-se funções bastante simples em seu muito político. “De cada ribeirão trepidante e de
objetivo. O cérebro existe para que possamos per- cada recosto/ de montanha, o metal rolou na cas-
ceber o mundo e saber como reagir. É comum tra- calhada/ Para o fausto d’El-Rei”. Que vergonha!
tarmos a consciência como uma atividade passiva,
mas não é bem assim – consciência requer metas, – É! Mas, certamente, esse não é o “Ouro na-
expectativas, capacidade de filtrar informações. tivo que na ganga impura/ A bruta mina entre os
cascalhos vela...”.
Se a mente lhe parece um espaço ativo, preen-
chido com mais coisas do que costuma aparecer em – Sei lá! O que mais nos reserva a Lava-Jato?
uma massa de circuitos, então você está certo ou – Veja só, cara! Ouvindo os noticiários, tenho
certa. Você é a expressão física de uma história de a impressão que o assalto do vampiro tem mais
desenvolvimento social muito maior do que ima- equidade:
ginou. Seu cérebro é uma delicada entidade num “– Cê vem com a gente. É uma loja. Nós rou-
constante frenesi de produção de conhecimento. A bamos e dividimos o dinheiro. Em partes iguais”.
riqueza de suas vias reflete a riqueza de nossa vida.
– Então, ainda há o que cantar neste país?
Adaptado de Como o cérebro funciona, de John McCrone
– Claro! Vai o legado das Olimpíadas e das Para-
limpíadas: “Entre o laboratório de erros/ e o labirin-
13.15. (MACK – SP) – Assinale a alternativa correta. to de surpresas,/ canta o conhecimento do limite,/
a) A função expressiva evidencia-se como predominante no a madura experiência a brotar da rota esperança”.
texto, marcada inclusive pelo uso reiterado da primeira
pessoa.
13.16. (UNIOESTE – PR) – Com base na leitura do texto,
b) O texto está elaborado em torno da função referencial,
assinale a alternativa INCORRETA.
uma vez que a transmissão objetiva de um conteúdo é o
interesse principal do autor. a) O tom paródico do texto ironiza a corrupção presente na
atual política brasileira.
c) Como todo texto científico, a exposição que se faz sobre
o cérebro humano é estruturada em torno do uso pre- b) O texto ampara-se na relação existente entre literatura
dominante da função fática. e realidade.
d) O destaque que se dá, no texto, para o uso expressivo da c) O “assalto do vampiro”, no texto, faz referência ao conto
língua e seus recursos conotativos permite evidenciar a “O grande assalto”.
função poética como predominante. d) O “assalto do vampiro” remete ao escritor Dalton Trevisan,
e) A utilização de outros tipos de linguagem, além da verbal, alcunhado, literariamente, de “O vampiro de Curitiba”.
permite que se reconheça no texto como predominante e) De acordo com os versos finais de Manuel Bandeira, o
uma função argumentativa. “laboratório de erros” da política impede “a rota esperança”.

Português 4C 11
13.17. (PUCPR) – Considere o excerto a seguir. a vida e a cidade, construída em uma antiga fábrica
– uma antiga usina de energia nazista –, todo tipo
É um hábito humano – muito humano – cul- de figura da noite se encontra, em uma festa fan-
par e punir os mensageiros pelo conteúdo odioso tástica alucinada que deseja não terminar jamais.
da mensagem de que são portadores – nesse caso, À luz da vida tecno avançada, as ideias tradi-
das enigmáticas, inescrutáveis, assustadoras e cionais de dia e de noite se revelam mais frágeis,
corretamente abominadas forças globais que sus- bem mais insólitas do que a vida cotidiana sob o
peitamos (com boas razões) serem responsáveis regime da produção nos leva a crer. Para alguns, o
pelo perturbador e humilhante sentido de incer- mundo do dia se tornará definitivamente vazio e
teza existencial que devasta e destrói nossa con- apenas a noite excitada e veloz vai concentrar em
fiança, ao mesmo tempo que solapa nossas ambi- si o valor do que é vivo.
ções, nossos sonhos e planos de vida. E embora Naquela boate, como em muitas outras, tudo se
quase nada possamos fazer para controlar as es- encerra apenas quando o efeito prolongado e siste-
quivas e remotas forças da globalização, podemos mático da droga se encerra. Como uma pausa para
pelo menos desviar a raiva que nos provocaram e respirar, às vezes tendo passado muitos dias entre
continuam a provocar, e despejar nossa ira, alter- uma jornada de diversão e sua suspensão momen-
tânea. Para muitos, apenas pelo tempo mínimo da
nadamente, sobre seus produtos, ao nosso lado e
reposição das forças até a próxima jornada, exte-
ao nosso alcance. Isso, claro, não vai chegar nem nuante, sem fim, pela política imaginária da noite.
perto das raízes do problema, mas pode aliviar,
ao menos por algum tempo, a humilhação pro- E, ainda mais. Para outros tantos, o próprio
vocada por nossa impotência e incapacidade de efeito da droga sob a pulsação infinita da música
resistir à debilitante precariedade de nosso lugar eletrônica, experiência programática e enfeitiça-
da, não deveria se encerrar jamais: estes estariam
no mundo.
destinados ao projeto de dissolução na pulsação
BAUMAN, Z. Estranhos à nossa porta. Trad.: Carlos Alberto sem eu da música tecno, seja a dissolução do espí-
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2017, p. 21-22.
rito, em uma infantilização sem fim para os emba-
tes materiais da vida, seja a dissolução do corpo,
O autor do texto apresenta o hábito que os humanos têm ambos igualmente reais.
de culpar e punir o mensageiro por causa do conteúdo da De fato, após uma noite de vida tecno, é forte a
mensagem que conduzem. Para tanto, fundamenta seu experiência radical de vazio que se torna o espírito
ponto de vista do dia. A energia foi imensamente gasta à noite. Foi
a) nos mecanismos de apagamento das consequências das devastada, tornando o dia vazio de objeto, porém
ações globais. vivo. Vivo no vazio, muito bem articulado à busca
b) na percepção do panorama gerado pelas forças da glo- pelo excedente absoluto de mais tarde, à noite.
balização. A música do tempo infinito, 2012. Adaptado.

c) na precariedade de nosso lugar no mundo diante da


crueza de nossa ira. 13.18. (FAMERP – SP) – “Para alguns, o mundo do dia se
d) no exemplo de como lidamos com os produtos da glo- tornará definitivamente vazio e apenas a noite excitada e
balização. veloz vai concentrar em si o valor do que é vivo.” (2o. parágrafo)
e) na humilhação provocada por nossa impotência diante Considerado em seu contexto, o trecho sugere que
das incertezas. a) as ruas perto da boate ficam vazias durante as noites
Instrução: Leia o texto de Tales Ab’Sáber para responder à porque todos estão dentro da casa.
questão 13.18. b) os conceitos de dia e de noite, ligados ao mundo natural,
podem ser relativizados pelas construções humanas,
como a boate.
Há em Berlim uma casa que nunca fecha.
Aquela noite que não termina jamais pode de fato c) é possível distinguir dia e noite, mesmo num ambiente
começar a qualquer momento do dia, às sete da fechado como a boate.
manhã ou ainda às dez. Lá todos os tempos se es- d) há frequentadores da boate que consideram que tudo o
tendem e noite e dia se transformam em outra coi- que é externo à casa não tem qualquer valor.
sa. Naquela imensa boate que pretende expandir o e) algumas pessoas preferem entrar na boate apenas duran-
seu plano de existência, seu tempo infinito, sobre te a noite, ainda que a casa fique aberta o tempo todo.

12 Extensivo Terceirão
Aula 13

Desafio
Instrução: Texto para a próxima questão.

O Supremo Tribunal Federal deu, na semana passada, importante contribuição para o aprimoramento
das medidas provisórias no Brasil. Ao analisar um caso específico, decidiu que, a partir de agora, o Congresso
não poderá mais embutir nesse instrumento legislativo artigos que nada tenham a ver com o tema original
da norma.
A prática era conhecida e recorrente, mas nem por isso menos absurda. Seus apelidos indicam o quanto
tinha de bizarro. Na versão mais fraca, “jabutis” – que só conseguem subir na árvore com a ajuda de alguém.
Na menos contida, “contrabando legislativo”.
Folha de S. Paulo. Editorial, 19 out. 2015. (excerto).

13.19. (USF – SP) – Com base na leitura do texto e nos indícios oferecidos pelo vocabulário empregado, explique a que se
referem os “jabutis” ou o “contrabando legislativo”.

Instrução: Texto para a próxima questão.

Nosso manifesto
Produzimos os eventos que a gente gostaria de ir. Geramos o conteúdo que a gente gostaria de consumir.
Construímos os lugares que a gente gostaria de frequentar. Criamos os produtos que a gente gostaria de
comprar. Investimos nos negócios que a gente gostaria de participar. Aproximamos as pessoas com quem a
gente gostaria de conviver. Conectamos as marcas que a gente gostaria de trabalhar. Simples assim.
Meca Journal, n. 12, julho.2017

13.20. (FGV – RJ) – Para obter ênfase na mensagem, o redator desse texto emprega, de modo reiterado, um determinado
recurso expressivo. Identifique-o e justifique.

Português 4C 13
Produção de textos
Proposta 01
(FCR – PR) – Leia o trecho a seguir, de crônica de Antonio Prata publicada no Jornal Folha de São Paulo em 18/08/19:

Majipack em Paramaribo
A capital do Suriname é Paramaribo. A mitocôndria é a organela celular responsável pela respiração. Me-
tonímia é a parte pelo todo. A área do círculo é Pi r². Os fenícios eram grandes navegadores. Eis aí algumas
coisas que aprendi durante os 11 anos cumpridos (e compridos) em regime semiaberto, das sete e quinze
da madrugada à uma e meia da tarde, nos cafundós da década de 90. Não, tô fazendo piada às custas da
realidade: estudar não foi uma condenação, frequentei ótimos colégios e sou grato aos professores por me
ensinarem o que é uma célula, um poema, por me ajudarem a compreender o que está à minha volta, a 3.000
km ou 3.000 anos de mim.
Uma vez, largado na areia, comecei a especular com uns amigos sobre a distância da ilha à nossa frente.
Como a praia era um semicírculo, sabíamos a sua extensão por conta do meu aplicativo de corrida e a ilha
estava bem entre as duas pontas, no centro do círculo, usamos os conhecimentos de Pitágoras para calcular a
distância. Naquele dia me senti extremamente grato às minhas professoras de geometria. (E ainda mais grato
ao Pitágoras, que chegou àquelas conclusões sem professoras de geometria nem o sistema de GPS).
Embora deva muito à escola, tenho algumas críticas à grade curricular. Parece-me questionável que o nú-
mero atômico do tungstênio seja mais importante do que saber trocar um pneu e, por mais que eu concorde
que é bacana ter uma noção básica do sistema de vassalagem na alta Idade Média, não valeria a pena incluir
no currículo algumas lições sobre como lidar com um pé na bunda?
Sugestão para um dia letivo no primeiro colegial. Literatura: modernismo. Culinária: arroz branco. Ma-
temática: logaritmo. Sobrevivência urbana: troca de pneus em carros Ford (com ênfase no cadeado em caso
de estepe externo). História: feudalismo. Comunicação interpessoal: os cunhados e as festas de fim de ano.
Tenho pensado nestes assuntos há uma semana, desde que tive, pelas ondas do rádio, uma das maiores
revelações dos meus 41 anos sobre a terra. O responsável pela iluminação chama-se Rusty Marcellini. Apesar
deste nome de mágico em desenho animado, Rusty é um simpático erudito da culinária e o que ele me ensi-
nou despretensiosamente, no meio da tarde, numa entrada na CBN, é que se guardarmos o rolo de Majipack
na geladeira fica bem mais fácil de desenrolar. (Atenção, sonoplastia: gongo).
Eu guardei o rolo de PVC na geladeira. Horas depois, ele se soltou quase como papel higiênico. Não
escondeu sua ponta, não rasgou, não se comportou como aquele durex gigante possuído por um exu sarcás-
tico cujo maior prazer é acabar com a paciência e a felicidade de inocentes seres humanos que só queriam
guardar meia maçã pra mais tarde.

Redija um texto de opinião (tipo argumentativo), avaliando as críticas e a proposta de diversificação do currículo de Antonio
Prata no texto-base.
Seu texto deverá:
• contextualizar o tema;
• identificar aspectos positivos e aspectos negativos do currículo escolar em sua relação com as demandas do cotidiano;
• apresentar um posicionamento fundamentado, em diálogo com as críticas do autor;
• apresentar os elementos formais e discursivos característicos de um texto argumentativo;
• ter no mínimo 12 e no máximo 15 linhas.

14 Extensivo Terceirão
Aula 13

Proposta 02
(EPCAR – MG) – Com base no seu conhecimento de mundo, escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre
o seguinte questionamento: Como a cultura de rua pode ser utilizada para melhorar a vida na sociedade?
Orientações:
• A redação deverá conter no mínimo 100 (cem) palavras, considerando-se palavras todas aquelas pertencentes às classes
gramaticais da Língua Portuguesa.
• Recomenda-se que a redação seja escrita em letra cursiva legível. Caso seja utilizada letra de forma (caixa alta), as letras
maiúsculas deverão receber o devido realce.
• Utilize caneta de tinta preta ou azul.
• Dê um título a sua redação.

Português 4C 15
Proposta 03
(PUCPR) – Considere os textos 1, 2 e 3 apresentados a seguir como motivadores para a sua produção de texto dissertativo-
-argumentativo.
Texto 1

Medicina do futuro: as tendências para a saúde


Portal Telemedicina – 15/07/2019

A Inteligência Artificial (IA) é uma parte da ciência da computação que desenvolve dispositivos e estru-
turas capazes de simular algumas características humanas. Notadamente relacionada à inteligência, esses
protótipos são capazes de executar funções cognitivas tais como mensurar, executar, tomar decisões e resol-
ver problemas. Isso é feito por redes neurais artificiais para o aprendizado das máquinas (machine learning).
Os computadores de hoje são capazes de armazenar e processar um enorme repertório de dados. Com o
desenvolvimento da Inteligência Artificial, eles agora também têm habilidade de aprender continuamente a
partir das informações que analisam: cruzam dados e determinam as melhores respostas em inúmeros casos.
Em exames transmitidos via telemedicina é possível usar o aprendizado das máquinas para fazer a triagem e
colocar as urgências em primeiro lugar da fila de análise, e pela leitura que já fez de outros exames, o com-
putador auxilia na emissão de laudos mais precisos.
Disponível em: < http://portaltelemedicina.com.br/blog/medicina-do-futuro-tendencias-para-area-da-saude/>. Acesso em: 05/08/2019.

Texto 2

Tecnologia acessível impulsiona surgimento de produtos inovadores — e também dos perigosos


Jornal Gazeta do Povo – 11/08/2019

As mesmas técnicas e componentes que geram dispositivos inteligentes úteis e benéficos à humanidade,
podem criar armas perigosas. Lidar com essa dicotomia é um grande desafio. [...]
Às vezes, novos sistemas de inteligência artificial também exibem comportamentos estranhos e inespera-
dos, porque a maneira como eles aprendem, a partir de grandes quantidades de dados, ainda não é comple-
tamente entendida. Isso os torna vulneráveis à manipulação; a visão algorítmica do computador de hoje, por
exemplo, pode ser enganada para ver coisas que não existem.
“Isso pode se tornar um problema porque esses sistemas vêm sendo amplamente implantados. A comu-
nidade precisa estar à frente dessa questão”, explica Miles Brundage, pesquisador do Instituto Futuro da
Humanidade, da Universidade de Oxford.
Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/economia/nova-economia/tecnologia-acessivel-impulsiona-surgimento-de-
produtos-inovadores--etambem-dos-perigosos-cqn0h5nljg1h0kg968h97i101/>. Acesso em: 10/08/2019. (Texto adaptado).

16 Extensivo Terceirão
Aula 13

Texto 3

Inteligência Artificial e Medicina


Revista Brasileira de Educação Médica

Ao mesmo tempo em que se discutem problemas na relação médico-paciente e a deficiência do exame clínico
na atenção médica, que torna o diagnóstico clínico mais dependente de exames complementares, enfatiza-se cada
vez mais a importância do computador em medicina e na saúde pública. Isto se dá seja pela adoção de sistemas de
apoio à decisão clínica, seja pelo uso integrado de novas tecnologias, incluindo as tecnologias vestíveis/corporais
(wearable devices), seja pelo armazenamento de grandes volumes de dados de saúde de pacientes e da população.
A capacidade de armazenamento e processamento de dados aumentou exponencialmente ao longo dos
recentes anos, criando o conceito de big data. A Inteligência Artificial processa esses dados por meio de al-
goritmos, que tendem a se aperfeiçoar pelo seu próprio funcionamento (self learning) e a propor hipóteses
diagnósticas cada vez mais precisas. Sistemas computadorizados de apoio à decisão clínica, processando
dados de pacientes, têm indicado diagnósticos com elevado nível de acurácia.
Mas se o computador fornece o know-what, caberá ao médico discutir o problema de saúde e suas pos-
síveis soluções com o paciente, indicando o know-why do seu caso. Isto requer uma contínua preocupação
com a qualidade da educação médica, enfatizando o conhecimento da fisiopatologia dos processos orgânicos
e o desenvolvimento das habilidades de ouvir, examinar e orientar um paciente e, consequentemente, propor
um diagnóstico e um tratamento de seu problema de saúde, acompanhando sua evolução.
LOBO, Luiz Carlos. Inteligência Artificial e Medicina. Rev. bras. educ. med. [online]. 2017, vol.41, n.2, pp.185-
193. ISSN 01005502. http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v41n2esp. (Texto adaptado).

Tome como referência os textos motivadores lidos, bem como os conhecimentos construídos ao longo da sua formação como
estudante e cidadão, e escreva um texto dissertativo-argumentativo, de modo a refletir sobre o seguinte tema:
Medicina e Inteligência Artificial: avanços e desafios
Ao elaborar o seu texto, você deve:
• respeitar a proposta de produção de texto dissertativo-argumentativo;
• posicionar-se quanto à temática, apresentando, no mínimo, dois argumentos para sustentar seu ponto de vista; – elaborar
uma conclusão;
Sua redação será anulada se você:
• reproduzir partes dos textos da coletânea sem finalidade discursiva;
• fugir ao recorte temático ou não escrever um texto dissertativo-argumentativo; – apresentar letra ilegível, impropérios,
desenhos ou qualquer forma de identificação no texto.

Português 4C 17
Gabarito
13.01. b 13.12. c legislativo”) da inclusão de artigos nada
13.02. c 13.13. a condizentes com o tema principal das
13.03. e 13.14. c medidas provisórias.
13.04. a 13.15. b 13.20 O recurso expressivo usado de maneira
13.05. c 13.16. e reiterada é o da repetição, como se veri-
13.06. d 13.17. d fica as palavras “a gente”, “gostaria”, verbos
13.07. a 13.18. d na primeira pessoa do plural do pretéri-
13.08. e 13.19. O vocabulário empregado no texto se to perfeito e as estruturas frasais. Todos
13.09. b deve ao caráter sorrateiro (no caso dos os períodos têm uma mesma estrutura:
13.10. c “jabutis”) e até mesmo ilegal e antide- uma oração principal e uma adjetiva.
13.11. a mocrático (daí a expressão “contrabando

18 Extensivo Terceirão
Português
Aula 14 4C 1B
Dissertação: modelo ENEM

Redação no ENEM As cinco competências


Apesar de o Exame Nacional acontecer tradicional- A redação será avaliada com base em cinco grandes
mente nos meses finais do ano, geralmente em outubro critérios. Cada um deles compõe até 200 pontos, que,
ou novembro, aproveitemos que já estamos nestas somados, podem atingir a nota máxima da prova (1000
últimas aulas trabalhando o texto dissertativo-argu- pontos).
mentativo para conhecermos a forma como esse gênero
textual é cobrado no maior exame nacional. Assim, vista
com bastante antecedência, será possível, aos interes- Demonstrar domínio da norma
sados nessa prova, praticar a redação de acordo com as COMPETÊNCIA 1
padrão da língua escrita.
suas respectivas regras.
Naturalmente, esta aula tem como base as orienta- Compreender a proposta de redação
ções divulgadas pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e aplicar conceitos das várias áreas
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão estatal COMPETÊNCIA 2 de conhecimento, para desenvolver o
que coordena o Exame. tema dentro dos limites estruturais do
texto dissertativo-argumentativo.

Tipo de texto Selecionar, relacionar, organizar


e interpretar informações, fatos,
O programa do Exame esclarece que será cobrado o COMPETÊNCIA 3
opiniões e argumentos em defesa de
texto dissertativo-argumentativo, a modalidade textual um ponto de vista.
que estamos estudando nestas seis últimas aulas. Como
já sabemos, trata-se de uma redação em que se pede Demonstrar conhecimento dos
posicionamento e argumentação a respeito de um COMPETÊNCIA 4 mecanismos linguísticos necessários
tema proposto. O tema será de ordem social, científica, para a construção da argumentação.
cultural ou política.
Sendo assim, as formas de organização argumen- Elaborar proposta de intervenção para
tativa estudadas nas aulas de 10 a 14 servem também COMPETÊNCIA 5 o problema abordado, respeitando os
como estratégia de estruturação textual nessa prova. direitos humanos.
Porém, é preciso ressaltar que, um fator, que é opcional
na composição dissertativa, no ENEM é obrigatório: a
elaboração de propostas de intervenção para o proble- Competência 1
ma proposto no tema.
Dessa forma, o planejamento da redação terá que
Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita
considerar os seguintes itens:
O primeiro critério irá avaliar o domínio da norma
TEMA padrão da Língua Portuguesa. Naturalmente, espera-se,
na redação, que os inscritos nesse exame se expressem
por meio de uma linguagem formal, de acordo com as
TESE
prescrições gramaticais.
Dessa maneira, além do cuidado com a construção
ARGUMENTOS de frases e períodos bem estruturados, é necessário
também atenção para que não se cometam desvios
gramaticais, tais como:
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Português 4C 19
• Convenções da escrita: acentuação, ortografia, bem definido: ajudá-lo a validar seu ponto de vista.
separação silábica, uso do hífen e uso de letras Isso significa que essas informações devem estar
maiúsculas e minúsculas. articuladas à discussão desenvolvida em sua reda-
• Gramaticais: concordância verbal e nominal, flexão ção. Informações soltas no texto, por mais variadas
de nomes e verbos, pontuação, regência verbal e e interessantes, perdem sua relevância quando não
nominal e colocação pronominal. associadas à defesa do ponto de vista desenvolvido
em seu texto.
• Escolha de registro: adequação à modalidade for-
mal, isto é, ausência de uso de registro informal e/ou • Mantenha-se dentro dos limites do tema proposto,
de marcas de oralidade. tomando cuidado para não se afastar do seu foco.
Esse é um dos principais problemas identificados nas
• Escolha vocabular: emprego de vocabulário preciso,
redações. Nesse caso, duas situações podem ocorrer:
o que significa que as palavras selecionadas são usa-
fuga total ou tangenciamento ao tema.
das em seu sentido correto e apropriadas para o texto.

Competência 2 Competência 3

Compreender a proposta de redação e aplicar Selecionar, relacionar, organizar e interpretar


conceitos das várias áreas de conhecimento, informações, fatos, opiniões e argumentos
para desenvolver o tema dentro dos limites em defesa de um ponto de vista
estruturais do texto dissertativo-argumentativo
O terceiro aspecto da avaliação irá verificar a qua-
O segundo critério avalia a capacidade de escrita lidade argumentativa do texto. Em especial, a seleção
de acordo com as convenções gerais do texto disserta- dos argumentos e a coerência deles em relação à tese
tivo-argumentativo. De forma especial, a forma como defendida. Para esta competência, observe as seguintes
a redação se mantém dentro do tema proposto, bem recomendações do INEP:
como a afirmação de posicionamento a respeito do • Reúna todas as ideias que lhe ocorrerem sobre o
tema. Por isso, é importante que a redação não fuja do tema e depois selecione as que forem pertinentes
tema, nem total, nem parcialmente. Assim como se deve para a defesa do seu ponto de vista, procurando
evitar que o texto tenha caráter mais informativo que organizá-las em uma estrutura coerente para usá-las
argumentativo. no desenvolvimento do seu texto.
De acordo com as instruções do INEP, são funda- • Verifique se informações, fatos, opiniões e argumen-
mentais algumas orientações para que esse critério seja tos selecionados são pertinentes para a defesa do
atendido plenamente: seu ponto de vista.
• Leia com atenção a proposta da redação e os textos • Na organização das ideias selecionadas para serem
motivadores, para compreender bem o que está abordadas em seu texto, procure definir uma ordem
sendo solicitado. que possibilite ao leitor acompanhar o seu raciocínio
• Evite ficar preso às ideias desenvolvidas nos textos facilmente, o que significa que a progressão textual
motivadores, porque foram apresentadas apenas deve ser fluente e articulada com o projeto do texto.
para despertar uma reflexão sobre o tema. • Examine, com atenção, a introdução e a conclusão
• Não copie trechos dos textos motivadores. Lembre-se para ver se há coerência entre o início e o fim e ob-
de que eles foram apresentados apenas para desper- serve se o desenvolvimento de seu texto apresenta
tar seus conhecimentos sobre o tema. Além disso, a argumentos que convergem para o ponto de vista
recorrência de cópia é avaliada negativamente e fará que você está defendendo.
com que seu texto tenha uma pontuação mais baixa.
• Reflita sobre o tema proposto para definir qual será Competência 4
o foco da discussão, isto é, para decidir como abor-
dá-lo, qual será o ponto de vista adotado e como Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísti-
defendê-lo. cos necessários para a construção da argumentação
• Utilize informações de várias áreas do conhecimento,
demonstrando que você está atualizado em relação Este critério consiste na avaliação do encadeamento
ao que acontece no mundo. Essas informações das ideias presentes no texto. Mais que uma enumeração
devem ser usadas de modo produtivo no seu texto, de argumentos, é fundamental que a redação apresente
evidenciando que elas servem a um propósito muito uma linha de raciocínio de forma a demonstrar que, no

20 Extensivo Terceirão
Aula 14

texto, há uma relação lógica entre as frases e parágrafos.


Essa relação se chama coesão textual.
Análise de redação
Assim, torna-se fundamental o domínio de recursos (ENEM 2017)
linguísticos que estabelecem relações lógicas: preposi-
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes
ções, conjunções, advérbios e locuções adverbiais; subs-
e com base nos conhecimentos construídos ao longo
tituição de palavras já utilizadas no texto por pronomes
de sua formação, redija um texto dissertativo-argumen-
pessoais, possessivos e demonstrativos, advérbios que
tativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o
indicam localização.
tema Desafios para a formação educacional de surdos
no Brasil, apresentando proposta de intervenção que
Competência 5 respeite os direitos humanos. Selecione, organize e re-
lacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
Elaborar proposta de intervenção para o problema para defesa de seu ponto de vista.
abordado, respeitando os direitos humanos
Exemplo de redação
Na redação do ENEM, é obrigatória apresentação de
uma proposta de intervenção para o problema colocado Na antiga Esparta, crianças com deficiência eram
no tema da questão. Assim, a dissertação argumentativa assassinadas, pois não poderiam ser guerreiras,
não se limita apenas à defesa de um posicionamento. profissão mais valorizada na época. Na contempo-
Além disso, é necessário propor soluções, concretas e raneidade, tal barbárie não ocorre mais, porém há
grandes dificuldades para garantir aos deficientes
exequíveis, que possam melhorar o quadro problemáti-
– em especial os surdos – o acesso à educação, de-
co discutido ao longo da escrita. Lembre-se de que essa vido ao preconceito ainda existente na sociedade e
proposta jamais deve ferir valores ligados à cidadania, à falta de atenção do Estado à questão.
liberdade, solidariedade e diversidade cultural, sob pena
Inicialmente, um entrave é a mentalidade re-
de a redação correr o risco de ser anulada por desrespei- trógrada de parte da população, que age como se
tar tal critério. os deficientes auditivos fossem incapazes de es-
tudar e, posteriormente, exercer uma profissão.
Fatores que podem De fato, tal atitude se relaciona ao conceito de
banalidade do mal, trazido pela socióloga Han-
anular uma redação nah Arendt: quando uma atitude agressiva ocorre
constantemente, as pessoas param de vê-la como
De acordo com as recomendações do INEP, uma errada. Um exemplo disso é a discriminação con-
redação poderá receber nota ZERO, caso cometa as tra os surdos nas escolas e faculdades – seja por
seguintes falhas: olhares maldosos ou pela falta de recursos para
• fuga total ao tema; garantir seu aprendizado. Nessa situação, o medo
do preconceito, que pode ser praticado mesmo
• não obediência à estrutura dissertativo-argumenta- pelos educadores, possivelmente leva à desistên-
tiva; cia do estudo, mantendo o deficiente à margem
• extensão de até sete linhas; dos seus direitos – fato que é tão grave e exclu-
• cópia integral de texto(s) motivador(es) da proposta dente quanto os homicídios praticados em Espar-
ta, apenas mais dissimulado.
de redação e/ou de textos motivadores apresenta-
dos no caderno de questões; Outro desafio enfrentado pelos portadores de
deficiência auditiva é a inobservância estatal, uma
• impropérios, desenhos e outras formas propositais vez que o governo nem sempre cobra das institui-
de anulação; ções de ensino a existência de aulas especializadas
• parte deliberadamente desconectada do tema para esse grupo – ministradas em Libras – além
proposto; da avaliação do português escrito como segunda
língua. De acordo com Habermas, incluir não é
• assinatura, nome, apelido ou rubrica fora do local
só trazer para perto, mas também respeitar e cres-
devidamente designado para a assinatura do parti- cer junto com o outro. A frase do filósofo alemão
cipante; mostra que, enquanto o Estado e a escola não ga-
• texto integralmente em língua estrangeira; rantirem direitos iguais na educação dos surdos
• folha de redação em branco, mesmo que haja texto – com respeito por parte dos professores e cole-
escrito na folha de rascunho. gas – tal minoria ainda estará sofrendo práticas
discriminatórias.

Português 4C 21
Destarte, para que as pessoas com deficiência na audição consigam o acesso pleno ao sistema educacional,
é preciso que o Ministério da Educação, em parceria com as instituições de ensino, promova cursos de Libras
para os professores, por meio de oficinas de especialização à noite – horário livre para a maioria dos profis-
sionais – de maneira a garantir que as escolas e universidades possam ter turmas para surdos, facilitando o
acesso desse grupo ao estudo. Em adição, o Estado deve divulgar propagandas institucionais ratificando a
importância do respeito aos deficientes auditivos, com postagens nas redes sociais, para que a discriminação
dessa minoria seja reduzida, levando à maior inclusão.
INEP. Redação no ENEM 2018: guia do participante.

Testes
mais humana. As bases materiais do período atual
Assimilação são, entre outras, a unicidade da técnica, a con-
vergência dos momentos e o conhecimento do
Instrução: Texto para a próxima questão. planeta. É nessas bases técnicas que o grande ca-
pital se apoia para construir a globalização per-
Vivemos num mundo confuso e confusamente versa de que falamos acima. Mas essas mesmas
percebido. De fato, se desejamos escapar à crença bases técnicas poderão servir a outros objetivos,
de que esse mundo assim apresentado é verda- se forem postas a serviço de outros fundamentos
deiro, e não queremos admitir a permanência de sociais e políticos.
sua percepção enganosa, devemos considerar a MILTON SANTOS
Adaptado de Por uma outra globalização: do pensamento único
existência de pelo menos três mundos num só. O à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2004.
primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-
-lo: a globalização como fábula. O segundo seria 14.01. (UERJ) – A partir desse mito e do encurtamento das
o mundo tal como ele é: a globalização como per- distâncias – para aqueles que realmente podem viajar – tam-
versidade. E o terceiro, o mundo como ele pode bém se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. (ref. 1)
ser: uma outra globalização. O comentário introduzido entre travessões apresenta um
Este mundo globalizado, visto como fábula, ponto de vista do autor que se sustenta em um elemento
constrói como verdade um certo número de fan- subentendido.
tasias. Fala-se, por exemplo, em aldeia global para Esse elemento está associado à existência, na sociedade, de:
fazer crer que a difusão instantânea de notícias re-
almente informa as pessoas. 1A partir desse mito a) valores familiares
e do encurtamento das distâncias – para aqueles b) apelos publicitários
que realmente podem viajar – também se difunde c) diversidade cultural
a noção de tempo e espaço contraídos. É como se d) desigualdade econômica
o mundo houvesse se tornado, para todos, ao al-
cance da mão. Um mercado avassalador dito glo- Instrução: Texto para a próxima questão.
bal é apresentado como capaz de homogeneizar o
planeta quando, na verdade, as diferenças locais Violência à saúde
são aprofundadas. O mundo se torna menos uni-
Mauro Gomes Aranha de Lima
do, tornando também mais distante o sonho de Jornal do Cremesp, agosto de 2016
uma cidadania de fato universal. Enquanto isso, o
O aumento da violência contra médicos e en-
culto ao consumo é estimulado.
fermeiros finalmente passou a ser encarado como
Na verdade, para a maior parte da humani- questão de Estado. Graças às denúncias do Cre-
dade, a globalização está se impondo como uma mesp [Conselho Regional de Medicina do Estado
fábrica de perversidades. O desemprego crescente de São Paulo] e do Coren-SP [Conselho Regional
torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes de Enfermagem de São Paulo], a Secretaria de Se-
médias perdem em qualidade de vida. O salário gurança Pública de São Paulo (SSP-SP) mantém
médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se agora um grupo de trabalho que se debruça na
generalizam em todos os continentes. Novas en- busca de soluções para o problema.
fermidades se instalam e velhas doenças, suposta-
Em recente reunião, o secretário adjunto da
mente extirpadas, fazem seu retorno triunfal.
SSP-SP, Sérgio Sobrane, comprometeu-se a to-
Todavia, podemos pensar na construção de mar providências. A Secretaria de Saúde (SES-SP)
um outro mundo, mediante uma globalização também participou dos debates que culminaram

22 Extensivo Terceirão
Aula 14

14.02. (Fac. Albert Einstein – SP) – No terceiro parágrafo, a


com proposta do Cremesp e do Coren de um pro- proposta da SSP-SP implica
tocolo para orientar profissionais da Saúde a lidar a) construir proposta interventiva inicial para posterior aper-
com situações em que o usuário/familiar se mos-
feiçoamento e adoção em maiores proporções.
tre agressivo ou ameaçador.
b) promover debate para discutir as providências que podem
Simultaneamente, a SSP-SP preparará um pi-
enfrentar a violência contra profissionais da saúde.
loto de intervenção baseado em registros de ame-
aças ou de truculência na Capital. Se bem sucedi- c) discutir com os profissionais da saúde quais seriam as
do, será multiplicado ao restante do Estado. melhores ações interventivas.
São medidas oportunas e as levaremos em d) intervir retroativamente com base nos registros de ame-
frente. Contudo, tal empenho não será o bastante. aças ou de truculência a que foram submetidos médicos
A violência emerge de raízes profundas: governos e enfermeiros.
negligenciam a saúde dos cidadãos, motivo pelo
Instrução: Texto para a próxima questão.
qual a rede pública padece de graves problemas
no acesso ou continuidade da atenção; hospitais
sucateados e sob o contingenciamento de leitos Norma e padrão
e serviços; postos de saúde e Estratégia Saúde da Uma das comparações que os estudiosos de
Família com equipes incompletas para a efetiva- variação linguística mais gostam de utilizar é a da
ção de metas integrativas biopsicossociais. língua com a vestimenta. Esta, como sabemos, é
O brasileiro é contribuinte assíduo e pontual, bastante variada, indo da mais formal (longo e
arca com uma das mais altas tributações do mun- smoking) à mais informal (biquíni e sunga, ou
do, e, em demandas por saúde, o que recebe é o camisola e pijama). A ideia dos que fazem essa
caos e a indiferença. comparação é a seguinte: não existem, a rigor,
Resignam-se, muitos. Todavia, há os que não formas linguísticas erradas, existem formas lin-
suportam a indignidade. Sentem-se humilhados. guísticas inadequadas. Como as roupas: assim
Reagem, exaltam-se. Eis que chegamos ao extre- como ninguém vai à praia de smoking ou de lon-
mo. Em pesquisa encomendada pelo Cremesp, go, também ninguém casa de biquíni e de sunga,
em 2015, com amostra de médicos, tomaram co- ou de camisola e de pijama (sem negar que estas
nhecimento ou foram vítimas de violência. Ouvi- sejam vestimentas, e adequadas!), assim ninguém
mos também os pacientes: dos entrevistados atri- diz “me dá esse troço aí” num banquete público e
buíram a razão das agressões a problemas como formal nem “faça-me o obséquio de passar-me o
demora para serem atendidos, estresse, muitos sal” numa situação de intimidade familiar.
pacientes para poucos médicos, consultas rápidas Os gramáticos e os sociolinguistas, cada um
e superficiais. com seu viés, costumam dizer que o padrão lin-
Ser médico é condição e escolha. Escolhemos guístico é usado pelas pessoas representativas de
a compreensão científica do mecanismo humano, uma sociedade. Os gramáticos dizem isso, mas
revertida em benefício do ser que sofre. Vocação, acabam não analisando o padrão, 1nem recomen-
chamado, desafio, e o apelo da dor em outrem, a dando-o de fato. Recomendam uma norma, uma
nos exigirem fôlego, serenidade e dedicação. Esta- norma ideal. Vou dar uns exemplos: se o padrão é
mos todos, médicos e pacientes, em situação. Há o usado pelos figurões, então deveriam ser consi-
que se cultivar entre nós uma cultura de paz. E derados padrões o verbo “ter” no lugar de “haver”;
um compromisso mútuo de tarefas mínimas. a regência de “preferir x do que y”, em vez de
“preferir x a y”; o uso do anacoluto (A inflação,
Aos pacientes, cabe-lhes o cultivo de uma per- ela estará dominada quando...); a posição enclí-
cepção mais refletida de que, em meio à preca- tica dos pronomes átonos. O que não significa
riedade posta por governos cínicos, o Estado não proibir as mais conservadoras. Algumas dessas
é o médico. Este é apenas o servidor visível, por formas “novas” aparecem em muitíssimo boa li-
detrás do qual está aquele que se omite. teratura, em autores absolutamente consagrados,
Aos médicos, a compreensão de que os pa- que poderiam servir de base para que os gramáti-
cientes, além de suas enfermidades, sofrem injus- cos liberassem seu uso – para os que necessitam
tiças e agravos sociais. da licença dos outros.
A tolerância não é exatamente um dom, uma 2
Vejam-se esses versos de Murilo Mendes:
graça, ou natural pendor. É esforço deliberado, “Desse lado tem meu corpo / tem o sonho / tem a
marco estrutural do processo civilizador. minha namorada na janela / tem as ruas gritando
Tarefas e esforços compartilhados: a solução de luzes e movimentos / tem meu amor tão lento
da violência está mais dentro do que fora de nós. / tem o mundo batendo na minha memória / tem
In: Jornal do Cremesp. Órgão Oficial do Conselho Regional de Medicina
o caminho pro trabalho. Do outro lado tem outras
do Estado de São Paulo. Nº 339, agosto 2016. [Adaptado] vidas vivendo da minha vida / tem pensamentos

Português 4C 23
sérios me esperando na sala de visitas / tem minha mandiocal também inventariado. Mas a farinha
noiva definitiva me esperando com flores na mão / não exigia somente a prensa – pedia, também, ra-
tem a morte, as colunas da ordem e da desordem.”. ladores, cochos de lavagem e forno ou fogão. Era
Faltou ao poeta acrescentar: tem uns gramáti- normal, então, a casa de fazer farinha, no quintal,
cos do tempo da onça / de antes do tempo em que ao lado dos telheiros e próxima à cozinha.
se começou a andar pra frente. Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc.

Não vou citar Drummond de Andrade, com seu


por demais conhecido “Tinha uma pedra no meio do
14.04. (FUVEST – SP) – Traduz corretamente uma relação
caminho...”, nem o Chico Buarque de “Tem dias que
a gente se sente / como quem partiu ou morreu...”. espacial expressa no texto o que se encontra em:
a) A prensa é paralela aos tipitis.
Mas acho que vou citar “Pronominais”, do
glorioso Oswald de Andrade: Dê-me um cigarro / b) A casa de fazer farinha é adjacente aos telheiros.
Diz a gramática / Do professor e do aluno / E do c) As duas camarinhas são transversais à cozinha.
mulato sabido / Mas o bom negro e o bom branco d) O alpendre é perpendicular às zonas de serviço.
/ Da nação brasileira / Dizem todos os dias / Deixa e) O mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do sítio.
disso camarada / Me dá um cigarro.
Quero insistir: 3ao contrário do que se poderia Aperfeiçoamento
pensar (e vários disseram), não sou anarquista,
defensor do tudo pode, ou do vale tudo. Nem es-
14.05. (UNICAMP – SP) – No dia 21 de setembro de 2015,
tou dizendo que “Nós vai” é igual a “Tem muito
filho que obedece os pais”. O que estou fazendo é Sérgio Rodrigues, crítico literário, comentou que apontar no
cobrar coerência, um pouquinho só: 4se o padrão título do filme Que horas ela volta? um erro de português
vem da fala dos bacanas, se os mais bacanas são os “revela visão curta sobre como a língua funciona”. E justifica:
poetas consagrados, por que, antes das dez, numa
aula de literatura, podemos curtir seu estilo e em “O título do filme, tirado da fala de um perso-
outra aula, depois das onze, 5dizemos aos alunos nagem, está em registro coloquial. Que ano você
e aos demais interessados: viram o Drummond, o nasceu? Que série você estuda? e frases do gênero
Murilo, o Machado, o Guimarães Rosa? Que cria- são familiares a todos os brasileiros, mesmo com
tividade!!! Mas vocês não podem fazer como eles. alto grau de escolaridade. Será preciso reafirmar
POSSENTI, Sírio. A cor da língua e outras croniquinhas de linguística.
a esta altura do século 21 que obras de arte têm
Campinas: Mercado de Letras, 2001. p. 111-112. (Adaptado). liberdade para transgressões muito maiores? Pre-
tender que uma obra de ficção tenha o mesmo
grau de formalidade de um editorial de jornal ou
14.03. (UEG –GO) – Em razão das características do gênero relatório de firma revela um jeito autoritário de
textual, o autor busca imprimir ao seu texto um tom mais compreender o funcionamento não só da língua,
informal e próximo do uso cotidiano da língua. mas da arte também.”
Essa escolha estilística pode ser exemplificada pelo uso da (Adaptado do blog Melhor Dizendo. Post completo disponível
seguinte construção: em http://www.melhordizendo.com/a-que-horas-ela-volta-em-
que-ano-estamos-mesmo/. Acessado em: 08/06/2016.)
a) “... nem recomendando-o de fato” (ref. 1).
b) “... ao contrário do que se poderia pensar...” (ref. 3). Entre os excertos de estudiosos da linguagem reproduzidos a
c) “Vejam-se esses versos de Murilo Mendes...” (ref. 2). seguir, assinale aquele que corrobora os comentários do post.
d) “... se o padrão vem da fala dos bacanas...” (ref. 4). a) Numa sociedade estruturada de maneira complexa a
e) “... dizemos aos alunos e aos demais interessados...” (ref. 5). linguagem de um dado grupo social reflete-o tão bem
como suas outras formas de comportamento. (MATTOSO
Instrução: Texto para a próxima questão. CÂMARA JR., Joaquim. História da Linguística. Petrópolis,
Rio de Janeiro: Vozes, 1975.)
A adoção do cardápio indígena introduziu nas b) A linguagem exigida, especialmente nas aulas de língua
cozinhas e zonas de serviço das moradas brasilei- portuguesa, corresponde a um modelo próprio das clas-
ras equipamentos desconhecidos no Reino. Insta- ses dominantes e das categorias sociais a elas vinculadas.
lou nos alpendres roceiros a prensa de espremer (CAMACHO, Roberto Gomes. O sistema escolar e o ensino
mandioca ralada para farinha. Nos inventários da língua portuguesa. Alfa, São Paulo, 29, p. 1-7, 1985.)
paulistas é comum a menção de tal fato. No in-
ventário de Pedro Nunes, por exemplo, efetuado c) Não existe nenhuma justificativa ética, política, pedagó-
em 1623, fala-se num sítio nas bandas do Ipiran- gica ou científica para continuar condenando como erros
ga “com seu alpendre e duas camarinhas no dito os usos linguísticos que estão firmados no português
alpendre com a prensa no dito sítio” que deveria brasileiro. (BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso:
comprimir nos tipitis toda a massa proveniente do por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo:
Editorial, 2007.)
24 Extensivo Terceirão
Aula 14

d) Aquele que aprendeu a refletir sobre a linguagem é capaz


de compreender uma gramática – que nada mais é do Roland Barthes, escritor francês, costumava
que o resultado de uma (longa) reflexão sobre a língua. dizer que a linguagem sempre diz o que diz e
(GERALDI, João Wanderley. Linguagem e ensino: exercí- ainda diz o que não diz. Por exemplo, ao citar o
nome de Barthes, estou, além de dizer o que ele
cios de militância e divulgação. Campinas, SP: Mercado
disse, dizendo que eu o li, que sou um leitor cul-
das Letras; Associação de Leitura do Brasil, 1996.)
to. Esse tema do que passa por meio de, indireta-
Instrução: Texto para as questões 14.06 a 14.08. mente, era importante para Barthes. Ele adorava o
caso da brincadeira de passar o anel, onde o que
está em jogo é tanto o roçar das mãos quanto o
Resisti a entrar para o Facebook e, mesmo destino do objeto. Pois bem, fui percebendo que
quando já fazia parte de sua rede, minha opinião a escrita nas redes sociais é uma forma de roçar as
sobre ela não era das melhores: fragmentação da mãos, tanto quanto de saber, afinal, onde foi parar
percepção, e portanto da capacidade cognitiva; o anel. O indireto dessa escrita, o que por meio
intensificação do narcisismo exibicionista da cul- dela se diz, é uma pura abertura ao outro.
tura contemporânea; império do senso comum;
FRANCISCO BOSCO
indistinção entre o público e o privado. Não sei se Adaptado de Alta ajuda. Rio de Janeiro: Foz, 2012.
fui eu quem mudou, se foram meus “amigos” ou
se foi a própria rede, mas, hoje, sem que os traços
14.06. (UERJ) – agora compreendo e utilizo a rede social
acima tenham deixado de existir, nenhum deles,
nem mesmo todos eles em conjunto me parecem como a televisão do século XXI, com diferenças e vantagens
decisivos, ao menos na minha experiência: 1agora sobre a TV tradicional. (ref. 1)
compreendo e utilizo a rede social como a tele- Os termos sublinhados designam mídias distintas para o
visão do século XXI, com diferenças e vantagens autor.
sobre a TV tradicional. Uma vantagem que ele destaca da primeira sobre a segunda é:
A internet, as tecnologias wiki de interação a) regulação do acesso pelo governo
e as redes sociais têm uma dimensão, para usar b) sofisticação de recursos tecnológicos
a expressão do escritor Andrew Keen, de “culto c) heterogeneidade dos públicos alcançados
do amador”, mas tal dimensão convive com o seu
oposto, que é essa crítica da mídia tradicional pela d) desenvolvimento de conteúdo pelo usuário
nova mídia, cujos agentes muitas vezes nada têm 14.07. (UERJ) – No primeiro parágrafo, o autor introduz uma
de amadores. Assim, a metatelevisão do Facebook
discussão a respeito das redes sociais.
opera tanto selecionando conteúdo da TV tradi-
cional como submetendo-o à crítica. E faz circular Essa introdução está organizada a partir do seguinte pro-
ainda informações que a TV, por motivos diver- cedimento:
sos, suprime. Alguns acontecimentos recentes, no a) crítica de ideias contraditórias
Brasil e no mundo, tiveram coberturas nas redes b) valorização de experiência coletiva
sociais melhores que nos canais tradicionais. A c) exposição de deslocamento de opinião
divergência é uma virtude democrática, e as redes d) simulação de proximidade com o leitor
sociais têm contribuído para isso (e para derrubar
ditaduras onde não há democracia). 14.08. (UERJ) – Além disso, a publicização da intimidade
A publicização da intimidade, sem nenhuma não significa necessariamente autopromoção do eu. Ela
transfiguração que lhe confira o estatuto de in- pode ativar uma dimensão importante da comunicação
teresse público, é muito presente na rede. Deve- humana. (ref. 2)
-se lembrar, entretanto, que redes sociais não são O valor da frase sublinhada, em relação àquela que a ante-
exatamente um espaço público, mas um espaço cede, pode ser caracterizado como:
privado ampliado ou uma espécie nova e híbrida
de espaço público-privado. Seja como for, aqui a) opositivo b) conclusivo
também é o usuário que decide sobre o registro c) explicativo d) conformativo
em que prevalecerá sua experiência. E não se deve
exagerar no tom crítico a essa dimensão; o regis- Instrução: Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do his-
tro imaginário, narcisista, de promoção do eu é toriador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982),
humano, demasiadamente humano, e até certo para responder às questões 10.09. e 10.10.
ponto necessário. Deve-se apenas relativizá-lo;
ora, essa relativização vigora igualmente nas redes A tentativa de implantação da cultura europeia
sociais. 2Além disso, a publicização da intimidade em extenso território, dotado de condições natu-
não significa necessariamente autopromoção do rais, se não adversas, largamente estranhas à sua
eu. Ela pode ativar uma dimensão importante da tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasi-
comunicação humana. leira, o fato dominante e mais rico em consequên-

Português 4C 25
cias. Trazendo de países distantes nossas formas de devem os espanhóis e portugueses muito de sua
convívio, nossas instituições, nossas ideias, e tim- originalidade nacional. [...]
brando em manter tudo isso em ambiente muitas É dela que resulta largamente a singular tibie-
vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns za das formas de organização, de todas as asso-
desterrados em nossa terra. Podemos construir ciações que impliquem solidariedade e ordenação
obras excelentes, enriquecer nossa humanidade entre esses povos. Em terra onde todos são barões
de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição não é possível acordo coletivo durável, a não ser
o tipo de civilização que representamos: o certo por uma força exterior respeitável e temida.
é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa
Raízes do Brasil, 2000.
preguiça parece participar de um sistema de evo-
lução próprio de outro clima e de outra paisagem.
Assim, antes de perguntar até que ponto po- 14.09. (UNIFESP) – O Dicionário Houaiss de língua portugue-
derá alcançar bom êxito a tentativa, caberia ave- sa define “elipse” como “supressão, num enunciado, de um
riguar até onde temos podido representar aquelas termo que pode ser facilmente subentendido pelo contexto
formas de convívio, instituições e ideias de que linguístico”. Verifica-se a ocorrência desse recurso em:
somos herdeiros. a) “A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcâ-
É significativa, em primeiro lugar, a circuns- nicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um dos
tância de termos recebido a herança através de territórios-ponte pelos quais a Europa se comunica com
uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, os outros mundos” (3o. parágrafo)
com a Rússia e os países balcânicos (e em certo b) “Em terra onde todos são barões não é possível acordo
sentido também a Inglaterra), um dos territórios- coletivo durável” (7o. parágrafo)
-ponte pelos quais a Europa se comunica com os
c) “Precisamente a comparação entre elas e as da Europa
outros mundos. Assim, eles constituem uma zona
de além-Pireneus faz ressaltar uma característica bem
fronteiriça, de transição, menos carregada, em al-
guns casos, desse europeísmo que, não obstante, peculiar à gente da península Ibérica” (6o. parágrafo)
mantêm como um patrimônio necessário. d) “Foi a partir da época dos grandes descobrimentos ma-
Foi a partir da época dos grandes descobri- rítimos que os dois países entraram mais decididamente
mentos marítimos que os dois países entraram no coro europeu” (4o. parágrafo)
mais decididamente no coro europeu. Esse ingres- e) “o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa
so tardio deveria repercutir intensamente em seus preguiça parece participar de um sistema de evolução
destinos, determinando muitos aspectos peculia- próprio de outro clima e de outra paisagem” (1o. parágrafo)
res de sua história e de sua formação espiritual.
Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desen- 14.10. (UNIFESP) – Em “A Espanha e Portugal são, com a
volveria, em alguns sentidos, quase à margem das Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a
congêneres europeias, e sem delas receber qual- Inglaterra), um dos territórios-ponte pelos quais a Europa se
quer incitamento que já não trouxesse em germe. comunica com os outros mundos.” (3o. parágrafo), o pronome
Quais os fundamentos em que assentam de destacado refere-se a
preferência as formas de vida social nessa região a) “Europa”.
indecisa entre a Europa e a África, que se estende b) “Rússia e os países balcânicos”.
dos Pireneus a Gibraltar? Como explicar muitas c) “Espanha e Portugal”.
daquelas formas, sem recorrer a indicações mais d) “territórios-ponte”.
ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a e) “mundos”.
uma estrita objetividade?
Precisamente a comparação entre elas e as
da Europa de além-Pireneus faz ressaltar uma Aprofundamento
característica bem peculiar à gente da península
Ibérica, uma característica que ela está longe de Instrução: Texto para a próxima questão.
partilhar, pelo menos na mesma intensidade, com
qualquer de seus vizinhos do continente. É que A CONDIÇÃO HUMANA
nenhum desses vizinhos soube desenvolver a tal A Vita Activa e a Condição Humana
extremo essa cultura da personalidade, que pare-
ce constituir o traço mais decisivo na evolução da Com a expressão vita activa, pretendo desig-
gente hispânica, desde tempos imemoriais. Pode nar três atividades humanas fundamentais: labor,
dizer-se, realmente, que pela importância particu- trabalho e ação. Trata-se de atividades fundamen-
lar que atribuem ao valor próprio da pessoa hu- tais porque a cada uma delas corresponde uma
mana, à autonomia de cada um dos homens em das condições básicas mediante as quais a vida foi
relação aos semelhantes no tempo e no espaço, dada ao homem na Terra.

26 Extensivo Terceirão
Aula 14

O labor é a atividade que corresponde ao pro- bilidade à futilidade da vida mortal e ao caráter
cesso biológico do corpo humano, cujos cres- efêmero do corpo humano. A ação, na medida
cimento espontâneo, metabolismo e eventual em que se empenha em fundar e preservar cor-
declínio têm a ver com as necessidades vitais pro- pos políticos, cria a condição para a lembrança,
duzidas e introduzidas pelo labor no processo da ou seja, para a história. O labor e o trabalho, bem
vida. A condição humana do labor é a própria vida. como a ação, têm também raízes na natalidade,
O trabalho é a atividade correspondente ao ar- na medida em que sua tarefa é produzir e preser-
tificialismo da existência humana, existência esta var o mundo para o constante influxo de recém-
não necessariamente contida no eterno ciclo vital -chegados que vêm a este mundo na qualidade de
da espécie, e cuja mortalidade não é compensada estranhos, além de prevê-los e levá-los em conta.
por este último. O trabalho produz um mundo Não obstante, das três atividades, a ação é a mais
“artificial” de coisas, nitidamente diferente de intimamente relacionada com a condição humana
qualquer ambiente natural. Dentro de suas fron- da natalidade; o novo começo inerente a cada nas-
teiras habita cada vida individual, embora esse cimento pode fazer-se sentir no mundo somente
mundo se destine a sobreviver e a transcender to- porque o recém-chegado possui a capacidade de
das as vidas individuais. A condição humana do iniciar algo novo, isto é, de agir. Neste sentido de
trabalho é a mundanidade. iniciativa, todas as atividades humanas possuem
1 um elemento de ação e, portanto, de natalidade.
A ação, única atividade que se exerce direta- 3
Além disto, como a ação é a atividade política
mente entre os homens sem a mediação das coisas por excelência, a natalidade, e não a mortalidade,
ou da matéria, corresponde à condição humana da pode constituir a categoria central do pensamento
pluralidade, ao fato de que homens, e não o Ho- político, em contraposição ao pensamento meta-
mem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos físico.
os aspectos da condição humana têm alguma rela-
ção com a política; mas esta pluralidade é especi- A condição humana compreende algo mais
ficamente a condição – não apenas a conditio sine que as condições nas quais a vida foi dada ao ho-
qua non, mas a conditio per quam – de toda a vida mem. Os homens são seres condicionados: tudo
aquilo com o qual eles entram em contato torna-se
política. Assim, o idioma dos romanos – talvez o
imediatamente uma condição de sua existência.
povo mais político que conhecemos – empregava
O mundo no qual transcorre a vita activa consiste
como sinônimas as expressões “viver” e “estar en-
em coisas produzidas pelas atividades humanas;
tre os homens” (inter homines esse), ou “morrer” e
mas, constantemente, as coisas que devem sua
“deixar de estar entre os homens” (inter homines
existência exclusivamente aos homens também
esse desinere). Mas, em sua forma mais elemen-
condicionam os seus autores humanos. Além das
tar, a condição humana da ação está implícita até
condições nas quais a vida é dada ao homem na
mesmo em Gênesis (macho e fêmea Ele os criou),
Terra e, até certo ponto, a partir delas, os homens
se entendermos que esta versão da criação do ho-
constantemente criam as suas próprias condições
mem diverge, em princípio, da outra segundo a
que, a despeito de sua variabilidade e sua origem
qual Deus originalmente criou o Homem (adam)
humana, possuem a mesma força condicionante
– a ele, e não a eles, de sorte que a pluralidade das coisas naturais. O que quer que toque a vida
dos seres humanos vem a ser o resultado da multi- humana ou entre em duradoura relação com ela,
plicação. A ação seria um luxo desnecessário, uma assume imediatamente o caráter de condição da
caprichosa interferência com as leis gerais do com- existência humana. É por isso que os homens, in-
portamento, se os homens não passassem de repe- dependentemente do que façam, são sempre se-
tições interminavelmente reproduzíveis do mesmo res condicionados. Tudo o que espontaneamente
modelo, todas dotadas da mesma natureza e essên- adentra o mundo humano, ou para ele é trazido
cia, tão previsíveis quanto a natureza e a essência pelo esforço humano, torna-se parte da condição
de qualquer outra coisa. 2A pluralidade é a condi- humana. O impacto da realidade do mundo sobre
ção da ação humana pelo fato de sermos todos os a existência humana é sentido e recebido como
mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja força condicionante. A objetividade do mundo –
exatamente igual a qualquer pessoa que tenha exis- o seu caráter de coisa ou objeto – e a condição
tido, exista ou venha a existir. humana complementam-se uma à outra; por ser
As três atividades e suas respectivas condições uma existência condicionada, a existência huma-
têm íntima relação com as condições mais gerais na seria impossível sem as coisas, e estas seriam
da existência humana: o nascimento e a morte, a um amontoado de artigos incoerentes, um não
natalidade e a mortalidade. O labor assegura não mundo, se esses artigos não fossem condicionan-
apenas a sobrevivência do indivíduo, mas a vida tes da existência humana.
da espécie. O trabalho e seu produto, o artefato ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Tradução de Roberto Raposo:
humano, emprestam certa permanência e dura- Editora da Universidade de São Paulo, 1981. pp. 15-17 (texto adaptado).

Português 4C 27
5
Quando se analisa o pensamento político pós-clássico, mui- Instrução: Texto para a próxima questão.
to se pode aprender verificando-se qual das duas versões bí-
blicas da criação é citada. Assim, é típico da diferença entre os Limites da manipulação genética
ensinamentos de Jesus de Nazareth e de Paulo o fato de que
Nos últimos anos, a possibilidade de manipu-
Jesus, discutindo a relação entre marido e mulher, refere-se a lação genética de seres humanos se tornou tecni-
Gênesis 1:27 “Não tendes lido que quem criou o homem des- camente real, o que levou à publicação de vários
de o princípio fê-los macho e fêmea” (Mateus 19:4), enquanto manifestos da comunidade científica internacio-
Paulo, em ocasião semelhante, insiste em que a mulher foi nal contra o uso da técnica em embriões, óvu-
criada “do homem” e, portanto, “para o homem”, embora em los e espermatozoides humanos. Não aceitamos
seguida atenue um pouco a dependência: “nem o varão é alterações genéticas que possam ser transmitidas
sem mulher, nem a mulher sem o varão” (1 Cor.11:8-12). A às próximas gerações. Apesar disso, cientistas
diferença indica muito mais que uma atitude diferente em chineses publicaram um trabalho descrevendo a
relação ao papel da mulher. Para Jesus, a fé era intimamente criação de embriões humanos geneticamente mo-
relacionada com a ação; para Paulo, a fé relacionava-se, antes dificados! Abrimos a Caixa de Pandora?
de mais nada, com a salvação. Especialmente interessante a Ainda não. Os pesquisadores chineses só tes-
este respeito é Agostinho (De civitate Dei xii.21), que não só taram o quão segura a técnica é de fato em embri-
desconsidera inteiramente o que é dito em Gênesis 1:27, mas ões humanos – afinal, se um dia pudéssemos, por
vê a diferença entre o homem e o animal no fato de ter sido exemplo, corrigir a mutação no gene do câncer
o homem criado unum ac singulum, enquanto se ordenou de mama, interromperíamos a herança genética
aos animais que “passassem a existir vários de uma só vez” familiar e os filhos não correriam o risco de her-
(plura simul iussit existere). Para Agostinho, a história da dar a doença.
criação constitui boa oportunidade para salientar-se o caráter Se temos algo a ganhar com a técnica, não vale
de espécie da vida animal, em oposição à singularidade da a pena testá-la? Sim, mas existe uma linha muito tê-
existência humana. nue entre ousadia e irresponsabilidade, e o desen-
volvimento científico não pode cruzá-la. Assim, para
14.11. (IME – RJ) – Leia atentamente os trechos de A con- ficar do lado de cá dessa fronteira, foram usados em-
dição humana que foram recortados abaixo: briões defeituosos de fertilização in vitro. Neles fo-
I. A ação, única atividade que se exerce diretamente entre ram injetadas pequenas moléculas construídas para
os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, consertar um gene que, quando “mutado”, causa
corresponde à condição humana da pluralidade, ao uma forma grave de anemia. Dos 54 embriões ana-
fato de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e lisados, somente quatro tinham o gene corrigido...
habitam o mundo (referência 1); Além disso, eles também tinham alterações genéti-
II. A pluralidade é a condição da ação humana pelo fato cas em outros locais não planejados do genoma – ou
de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que seja, a tal molécula muitas vezes erra o seu alvo...
ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa que Em resumo, o trabalho demonstrou que a
tenha existido, exista ou venha a existir (referência 2); técnica de edição de genoma é ineficiente e in-
III. Além disto, como a ação é a atividade política por exce- segura para se utilizar em embriões humanos –
lência, a natalidade, e não a mortalidade, pode constituir exatamente o que a comunidade científica previa
a categoria central do pensamento político, em contrapo- e questionava, com o objetivo de que esse proce-
dimento não fosse feito em embriões humanos.
sição ao pensamento metafísico (referência 3).
O que não significa que as pesquisas nesse
Dentre as opções abaixo, uma está em desacordo com as
sentido devam ser interrompidas. Se tivéssemos
ideias destacadas acima. Aponte-a.
proibido as pesquisas em transplante cardíaco em
a) A marca da pluralidade entre os homens é anunciada 1968, quando 80% dos pacientes transplantados
como um dos alvos principais para o pensamento a ser morriam, nunca teríamos tornado esse procedi-
desenvolvido pela filósofa Hannah Arendt na obra aqui mento uma realidade que hoje em dia salva mui-
destacada. tas vidas. Cientistas seguirão aprimorando a téc-
b) A individualidade é garantida apesar da pluralidade. nica para torná-la mais eficiente e segura. Porém,
c) A expressão “atividade política” que aparece no texto é essas pesquisas devem ser conduzidas de forma
uma referência direta à política partidária que reconhe- absolutamente ética – aliás, todas as pesquisas
cemos nas sociedades ocidentais. devem ser conduzidas assim; mas, quando envol-
vem embriões humanos, mais ainda.
d) Os três períodos destacados do texto revelam preocu-
pações com questões relacionadas à ação e à alteridade. E enquanto nós, cientistas, resolvemos os as-
e) O período destacado em III anuncia a predisposição da pectos técnicos, conclamamos legistas, psicólo-
gos, sociólogos e a população em geral para dis-
autora em discutir inquietações filosóficas dando ênfase
cutir as vantagens e os riscos de usar a tecnologia
ao nascimento e não à morte.
de edição do genoma em seres humanos. Para

28 Extensivo Terceirão
Aula 14

pesquisar ou para evitar doenças como câncer e Quando a internet começou a se popularizar, nos
Alzheimer? Sim. E para que o bebê nasça com anos 1990, ela era uma obra aberta, com poucas
olhos azuis, mais inteligente, mais alto? Não. Em certezas e muitas apostas erradas, sabemos hoje.
que situações permitiremos sua aplicação? Uma das crenças anunciava um mundo virtual
Um cenário que, há 15 anos, era ficção cientí- povoado exclusivamente de amadorismo e pira-
taria. Era assim há vinte anos. Pela rede circu-
fica agora é tão real que devemos discuti-lo urgen-
lavam pencas de filmes roubados, misturados a
temente. No Brasil, já estamos precavidos: a Lei de pornografia e a um ou outro arquivo particular
Biossegurança de 2005 proíbe “engenharia gené- de gatinhos adoráveis. Acreditava-se que a úni-
tica em célula germinal humana, zigoto humano ca forma de achar conteúdo de qualidade seria
e embrião humano”. Talvez um dia tenhamos que ligando a televisão, indo ao cinema ou alugando
rever o texto para considerar casos específicos em um VHS, objeto tão ancestral quanto a pedra las-
que essa engenharia genética possa ser feita. Mas, cada. Cortemos para o presente. Sim, há vídeos
por enquanto, estamos protegidos – que orgulho! de gatos, pornografia e pirataria. Mas a rede nos
PEREIRA, L. O Globo. Opinião. 12 maio 2015. Disponível em: trouxe também o iTunes, o Netflix, o Spotify e,
<https://oglobo.globo.com/opiniao/limites-da-manipulacao- com eles, conteúdo de excelência – e legalizado.
genetica-16125529>. Acesso em: 20 jun. 2017. Adaptado. 3
O que ocorreu entre o amadorismo dos anos 90
e o profissionalismo a que chegamos? A peça-cha-
ve foi o avanço acelerado da tecnologia atrelada à
14.12. (FMP – SC) – Depois de defender que as experiências
internet. É o alicerce do mundo on demand (sob
em manipulação genética não sejam interrompidas, tendo demanda), onde todos podem ver o que quise-
em vista a comparação com as pesquisas em transplante car- rem, onde estiverem e na hora que escolherem.
díaco, no século passado, o texto desenvolve a ideia de que
VILICIC, Filipe; BEER, Raquel; NERI, Gabriela. Tá caindo música
a) os pesquisadores chineses foram cuidadosos ao realizar do céu... Veja, 6 de maio de 2015, p. 80-87 (fragmento)
pesquisa com embriões defeituosos para desenvolver
testes de engenharia genética.
b) a técnica de edição de genoma é ineficiente e insegura 14.13. (UFU – MG) – De acordo com as ideias desenvolvidas
para ser utilizada em embriões humanos, conforme de- no texto, assinale a alternativa INCORRETA.
fende a comunidade científica. a) No segundo parágrafo, a sequência narrativa cumpre a
c) a comunidade científica internacional já publicou vários função de sustentar a tese defendida pelo produtor do
manifestos contra o uso da técnica da manipulação ge- texto.
nética em embriões, óvulos e espermatozoides humanos. b) A pergunta “O que ocorreu entre o amadorismo dos
d) a correção da mutação no gene do câncer de mama anos 1990 e o profissionalismo a que chegamos?” (ref. 3)
poderia evitar a transmissão familiar de modo a impedir introduz uma opinião a respeito do assunto que já vinha
que a doença se manifeste nos descendentes. sendo tratado.
e) a engenharia genética em célula germinal humana, zigoto c) O item lexical “daí” (ref. 2) cumpre a função de estabelecer
humano e embrião humano já foi proibida em nosso país relação de explicação com o que lhe antecede.
a partir de uma lei da década passada. d) Em “A história dessa aventura tecnológica é jovem demais
para ser tão espetacular, daí seu fascínio.” (ref. 1) infere-se
Instrução: Texto para a próxima questão. que espetacular não é um termo geralmente empregado
para qualificar o que é jovem demais.
As nuvens, por onde pisamos distraídos, qua-
se tocando nos astros, sempre foram um lugar 14.14. (UNICAMP – SP) – Leia com atenção o texto abaixo.
para não estar – à exceção dos poetas, dos nefe-
libatas e dos aviões. Das nuvens, hoje, é de onde Nunca conheci quem tivesse sido tão
não devemos descer, porque nelas está tudo, mas feliz como nas redes sociais
tudo mesmo – as mais belas canções, os livros, (...) Eu tenho inveja de mim no Instagram.
as séries de televisão, os filmes, os softwares, o
(…) Eu queria ser feliz como eu sou no Ins-
dinheiro no banco. Nuvem – ou cloud, em in-
glês – é o nome que se dá ao conjunto de potentes tagram.
servidores remotos que armazenam todo o conte- Eu queria ter certeza, como eu tenho no Face-
údo digital à mão. A velocidade de processamento book, sobre as minhas posições políticas.
de dados associada ao aumento exponencial da E no Twitter, bem, no Twitter eu não sou tão
capacidade de guardar informações mudou para feliz nem certa e é por isso que de longe essa ga-
sempre o modo como produzimos e consumimos nha como rede social de mi corazón.
os alimentos para a alma, para, aí sim, termos o
direito de caminhar nas nuvens. E quanto mais eu me sinto angustiada (quem
1 nunca?), mais eu entro no Instagram e vejo a foto
A história dessa aventura tecnológica é jovem das pessoas superfelizes. E mais angustiada eu
demais para ser tão espetacular, 2daí seu fascínio.

Português 4C 29
14.15. (UNICAMP – SP) – Leia o texto abaixo.
fico. Por mais que eu saiba que aquela felicidade
é de mentira.
Em sua versão benigna, a valorização da ma-
Outro dia uma editora de moda que faz muito landragem corresponde ao elogio da criatividade
sucesso no Instagram escreveu em uma legenda: adaptativa e da predominância da especificidade
“até que estou bem depois de tomar um stillnox
das circunstâncias e das relações pessoais sobre a
e um rivotril.” (!!!!! Gente!) Mas ufa, ela assumiu.
Até então, seus seguidores talvez pudessem achar frieza reducionista e generalizante da lei. Em sua
que ela era uma super-heroína que nunca tinha versão maximalista e maligna, porém, a valorização
levado porrada (nem conhecido quem tivesse to- da malandragem equivale à negação dos princípios
mado). Ela viaja de um lado para o outro, acorda elementares de justiça, como a igualdade perante
cedo, mas tem uma decoração linda na mesa, via- a lei, e ao descrédito das instituições democráticas.
ja de país em país. Trabalha loucamente. Mas ela (Adaptado de Luiz Eduardo Soares, Uma interpretação do Brasil
sempre está disposta e apaixonada pelo que faz. para contextualizar a violência, em C. A. Messeder Pereira,
Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 23-46.)
Escuta! Quanta mentira! Nenhuma de nós está
apaixonada o tempo todo pelo que faz. Eu, hoje, es-
Considerando as posições expressas no texto em relação à
crevi esse texto com muito esforço. Eu, hoje, estou
achando que eu escrevo mal e que perdi o jeito para valorização da malandragem, é correto afirmar que:
a coisa. Quem nunca? Quem nunca muitas vezes? a) O verbo “equivale” relaciona a valorização da malandra-
Quem estamos querendo enganar? A gente. Mas gem à negação da justiça, da igualdade perante a lei e
tem vezes, como agora, em que não dá. Eu que- das instituições democráticas.
ria muito voltar no tempo quando as redes sociais b) Entre os pares de termos “benigna/maligna” e “maxima-
não existiam só para lembrar como era… Às vezes lista/reducionista” estabelece-se no texto uma relação
eu acho que, com todas as vantagens da vida em semântica de equivalência.
rede…, talvez a gente se sentisse melhor. Sério. “Es- c) O elogio da malandragem reside na valorização da cria-
tou farto de semideuses. Onde é que há gente nesse
tividade adaptativa e da sensibilidade em contraposição
mundo?”, grita o Fernando Pessoa lá do túmulo.
à fria aplicação da lei.
(Adaptado de Nina Lemos, disponível em http://revistatpm.uol.
com.br/blogs/berlimmandaavisar/2015/07/13/nunca-conheci- d) O articulador discursivo “porém” introduz um argumento
quemtivesse-sido-tao-feliz-como-nas-redes-sociais.html.) que se contrapõe à proposta de valorização da malan-
dragem.
Considerando os recursos linguísticos e discursivos presentes
na configuração do texto, é correto afirmar que: 14.16. (PUC – RS) – Responda à questão abaixo com base
a) “Nunca conheci quem tivesse sido tão feliz como nas na leitura dos textos 1, 2, 3 e 4.
redes sociais / Eu tenho inveja de mim no Instagram” é Texto 1
um enunciado que se espelha nos versos “Nunca conheci
quem tivesse levado porrada / Todos os meus conhecidos Para quase todos os brasileiros, o último 20
têm sido campeões em tudo”, do Poema em Linha Reta, de julho não passou de mais um dia comum. É
de Fernando Pessoa, por meio do recurso ao paralelismo uma pena que seja assim, pois o dia deveria ser
de estruturas sintáticas. reverenciado por todos nós, brasileiros, como
b) No texto de Nina Lemos, alguns recursos linguísticos e uma das grandes datas da nossa história. Poucos
discursivos são mobilizados de modo a promover um sabem, mas nesse dia comemora-se o aniversário
tipo particular de interação entre o produtor do texto e do maior e mais consagrado cientista brasileiro de
seus leitores por meio de diálogos entre personagens, todos os tempos. Há 130 anos nascia Alberto San-
tos Dumont (1873-1932), um mineiro que ousou
pontuação com funções estilisticamente diversas, um
voar como os pássaros e teve o desplante de reali-
léxico de natureza coloquial e perguntas retóricas.
zar seu sonho aos olhos de todo o mundo. Nada
c) Baseado no Poema em Linha Reta de Fernando Pessoa, o de voos secretos, numa praia deserta da Carolina
texto de Nina Lemos apresenta argumentos para conven- do Norte, sem documentação imparcial, como
cer seus leitores de que ela tem uma vida difícil em relação fizeram os irmãos Wright. Não. Santos Dumont
à de outras pessoas felizes que conhece pelo Instagram, “matou a cobra”, repetidamente, para o delírio do
e de que é possível mostrar a essas pessoas que a vida povo de Paris, que testemunhou a audácia, a co-
não é tão boa quanto parece. ragem e o jeitinho brasileiro de fazer ciência.
d) O texto de Nina Lemos apresenta uma organização textual Adaptado de: NICOLELIS, Miguel A.L. É preciso sonhar grande.
e sintática típica da esfera jornalística, que se caracteriza Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/
Galileu/0,6993,ECT611130-1726,00.html. Publicado
pelo uso de marcas de oralidade como o recurso a em 2003 e acessado em 09 set. 2015.
sequências de diálogos (“Quem estamos querendo
enganar? A gente.”), o uso de marcadores discursivos
(“bem”, “sério”) e de enunciados inseridos (“quem nunca?”).

30 Extensivo Terceirão
Aula 14

Texto 2 Texto 4

Dois caminhos se abriram diante do paulista As transformações que têm ocorrido na so-
Marcus Smolka em 2007, quando ele concluiu ciedade contemporânea, em especial a partir dos
o pós-doutorado no Ludwig Institute for Cancer anos 70, vêm propiciando mudanças nas relações
Research, em San Diego (EUA). científicas estabelecidas com o ambiente interna-
Um deles era retornar ao Brasil e associar-se a cional. Um evento norteador das transformações
um centro de pesquisa dotado de espectrômetro societais e decisivo para essas mudanças foi a
de massa, um equipamento novo, que ele domi- globalização, que possui fortes evidências do en-
nava como poucos. Nesse caso, trabalharia como trosamento entre ciência e sociedade e introduz
uma espécie de operador da máquina, rodando a dinâmica de produção do conhecimento, com
os trabalhos de outros cientistas. Nas horas va- efeitos no ensino superior sobretudo, realçando
gas, poderia usá-la para dar continuidade a suas a importância da internacionalização nas funções
próprias pesquisas. A outra opção era aceitar um de transmitir e produzir conhecimento.
convite da Universidade Cornell, no Estado de Universidade, ciência, inovação e sociedade. 36o.
Nova York. Por essa proposta, ganharia um labo- Encontro Anual da ANPOCS. (Texto adaptado)

ratório e teria um espectrômetro só para si, aos 33


anos de idade. Assinale a alternativa correta sobre a relação entre os textos.
Para Smolka, nenhuma das duas opções era a a) Os textos 1 e 2 descrevem experiências pioneiras de
ideal. O que ele queria mesmo era voltar ao Bra- cientistas brasileiros no exterior.
sil e ter um espectrômetro. Mas a proposta que b) Tanto o texto 1 quanto o texto 2 seguem a ordem crono-
apresentou ao Fundo de Amparo à Pesquisa de lógica dos fatos apresentados.
São Paulo (Fapesp) esbarrou no custo do equipa- c) O texto 3 serve como argumento para corroborar uma
mento, da ordem de US$ 1 milhão. O brasileiro afirmação feita no texto 2.
acabou escolhendo Cornell.
d) O texto 4 apresenta uma explicação científica para a “fuga
Smolka é hoje parte de uma expressiva comu- de cérebros” referida no texto 2.
nidade de cientistas brasileiros que estão radica- e) Os quatro textos versam sobre o mesmo tema.
dos no Exterior, produzindo pesquisa de ponta
e ajudando a mudar os rumos do conhecimento. 14.17.   (PUC – RS) – A leitura do texto 1 NÃO  permite
Tradicionalmente encarado como fuga de cére- concluir que
bros, o fenômeno é, na verdade, uma tendência a) os voos dos irmãos Wright foram documentados. 
global.
b) Santos Dumont voou mais de uma vez nos céus de Paris.
Adaptado de: Histórias de cientistas brasileiros ajudam a explicar o fenômeno
da exportação de cérebros. Zero Hora, Planeta Ciência. 24/7/2015 c) muitos brasileiros ignoram a data de nascimento de
Santos Dumont.
Texto 3 d) o dia 20 de julho deveria ser tratado como uma das
Gráfico com dados referentes aos países com mais cientistas grandes datas da nossa história. 
no exterior. e) Santos Dumont é, aos olhos dos brasileiros, o mais con-
sagrado cientista de todos os tempos.

Adaptado de: Histórias de cientistas brasileiros ajudam a explicar o fenômeno da


exportação de cérebros. Zero Hora, Planeta Ciência. 24/7/2015

Português 4C 31
14.18. (PUCPR) – No texto, os parênteses contendo reticências indicam que um segmento foi eliminado. Analise as frases das
alternativas para verificar qual delas contém a frase que se encaixa no texto e assinale a alternativa CORRETA.

O MUNDO NAS COSTAS


Ministério do Turismo quer aumentar hospedagem nos albergues do país incentivando mochileiros

Nada de carregador de malas, hotel bacana, fartos cafés da manhã ou almoços em restaurantes de renome.
A ideia é conhecer lugares e culturas diferentes de forma mais descontraída e econômica. (...) De olho nesse
tipo de viajante, que em sua maioria tem entre 20 e 30 anos, o Ministério de Turismo vai apoiar uma campa-
nha de incentivo aos mochileiros criada pela Federação Brasileira de Albergues da Juventude. A federação, por
sua vez, pretende ampliar a rede de hospedagem no país para ver o número de usuários anuais pular de 100
mil para 500 mil no curto prazo. “Queremos ter estabelecimentos para esse público em todos os Estados e
criar essa cultura de viagem na cabeça dos brasileiros”, afirma José Roberto de Oliveira, da Secretaria Nacional
de Políticas do Turismo.
PONCE, M. H. BURIM, S. A. FLORISSI, S. Bem-vindo à língua portuguesa no mundo da comunicação. 8. ed. São Paulo: SBS, 2013. p. 173.

a) Colocar tudo dentro de uma mochila e sair por aí, é o que os bem jovens gostam sempre de fazer.
b) A regra dos mochileiros é sair por aí sem pensar nas consequências.
c) Sair só com uma mochila por aí é o que mochileiros querem sempre fazer.
d) Sair por aí sem preocupações é o que sempre querem fazer.
e) Essa é a regra número um de quem decide colocar tudo dentro de uma mochila e sair por aí.

Desafio
Instrução: Texto para a próxima questão.

André Dahmer, Malvados.

14.19. (FGV – RJ) – Que semelhança há entre recorrer a um “poço dos desejos” e se servir de uma rede social tal como apon-
tado na tirinha? Explique.

32 Extensivo Terceirão
Aula 14

Instrução: Texto para a próxima questão.

Não dá para acreditar, mas Donald Trump também é cultura. Nenhuma outra figura pública tem incen-
tivado mais a leitura e compra de livros em Trumpolândia do que ele. E não são xaropadas de autoajuda, in-
trigas de espionagem e futricas sobre celebridades, mas obras de comprovada qualidade e urgente serventia,
cujas vendas se multiplicaram depois e por causa de sua eleição.
Entre os mais vendidos na Amazon e também em livrarias físicas, nas últimas semanas, figuram três
clássicas distopias – 1984 (de George Orwell), O Complô Contra a América (de Philip Roth) e It Can’t Ha-
ppen Here (de Sinclair Lewis) – acompanhadas de um histórico ensaio que, por vias indiretas, as contextu-
aliza: Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt. O pesadelo futurista de Orwell e as análises de Arendt,
ambos já com quase 70 anos de circulação e ininterrupta renovação de leitores, são best-sellers recorrentes
em períodos de perplexidade e surto autoritário como o que a América atravessa.
(...)
Sérgio Augusto, O Estado de S. Paulo. 18/02/2017.

14.20. (FGV – RJ) – Tendo em vista o contexto, é possível, a partir do texto,


a) inferir se a frase “Donald Trump também é cultura” deve ser entendida como elogio ou como ironia? Justifique sua resposta.

b) deduzir o sentido atribuído ao neologismo “Trumpolândia”? Justifique sua resposta.

c) Para um leitor que desconheça o conteúdo do livro 1984, de George Orwell, é possível saber, com base no texto de S.
Augusto, por que essa obra é uma distopia? Justifique sua resposta.

Produção de textos
Proposta 01
Leia o seguinte texto:

Uma mulher maltratada durante 47 longos anos tem o direito de se vingar do marido, que além disso
abusava das filhas, disparando-lhe friamente três tiros pelas costas? Os maus-tratos são atenuantes do crime?
O retrato de Jacqueline Sauvage, uma humilde mulher que prende os cabelos brancos com um laço, tornou-
-se um símbolo na França. Por trás dessa foto está a compaixão, mas sobretudo o debate. O que ela fez não
seria um ato de legítima defesa? Não. A Justiça não o considera assim, tendo nas mãos as leis francesas. Por
que não mudá-las? Por que não introduzir como atenuante a síndrome da mulher maltratada? 36 legislado-
ras são a favor de revisar a lei.

Português 4C 33
O julgamento de Jacqueline Sauvage e a condenação, confirmada em segunda instância, comoveram a
sociedade francesa. Amparada pelas filhas, essa mulher que completou os 69 anos na prisão não oculta seu
crime. Naquele dia de setembro de 2012, ela dormia a sesta quando seu marido a despertou gritando e a
ameaçou pela enésima vez, exigindo que preparasse a comida. Quando o homem abandonou o quarto, ela
se levantou com uma determinação incomum. “Nesse momento, tive uma luz no cérebro”, contou aos juízes.
“Peguei a carabina do quarto e a carreguei. Ele estava lá embaixo, no terraço, sentado de costas. Então me
aproximei e atirei, atirei, fechando os olhos. Só hesitei no terceiro disparo”.
No povoado de Selle-sur-le-Bied, na região de Loiret, centro da França, a personalidade violenta de Nor-
bert Marot era bem conhecida. Ele dava medo nos vizinhos, mas sobretudo na família: sua esposa, casada
aos 18 anos e submetida ao seu domínio, seu filho Pascal (também alvo dos golpes) e duas de suas filhas,
das quais abusava. Jacqueline Sauvage afirmou no tribunal que apanhava de Norbert em média três vezes
por semana e que ignorava que, ao empunhar a carabina, seu filho Pascal, que havia fugido de casa, tinha
acabado de se suicidar.
Sauvage foi parar no plantão médico por causa dos golpes (quatro vezes nos últimos cinco anos de con-
vivência), mas nunca denunciou formalmente o marido. Esse dado a prejudicou, além do fato de que não
disparou quando estava no calor da emoção, em plena surra. Na França, a legítima defesa se fundamenta na
concomitância do ato da agressão, assim como na proporcionalidade da resposta. Sauvage foi condenada a
10 anos de prisão.
Mas uma parte importante da sociedade francesa não parece disposta a aceitar o veredito. O movimento
a favor de Sauvage é de tamanha magnitude que reuniu quase 400.000 assinaturas pedindo o indulto. O
[então] presidente francês, François Hollande, teve que receber a família no início do ano e conceder um
indulto parcial, que não serviu para colocá-la automaticamente em liberdade. “Tenho medo de que ela não
aguente na prisão até 2018”, diz sua advogada, Nathalie Tomasini. O recurso apresentado, que será analisado
em 24 de novembro, talvez consiga sua liberdade, mas a França quer ir mais longe e inserir na legislação
atenuantes para as mulheres maltratadas.
Essa legislatura termina em apenas seis meses. É provável que o projeto de lei apresentado em março fi-
que para outro momento, mas a ideia já se instalou na Assembleia Nacional. Trata-se de considerar como ate-
nuante a síndrome da mulher maltratada, como ocorreu no Canadá. A síndrome é a incapacidade da pessoa
de sair por si só da situação. Por causa dela, tantas maltratadas não denunciam seus agressores, paralisadas
pelo medo e a dominação do outro. São incapazes de reagir, enterradas pela depressão e a falta de autoestima.
“A França deve reconhecer o feminicídio e aplicar a presunção de legítima defesa no caso de uma mulher
maltratada, já que essa mulher está em perigo de morte iminente”, diz Raphaëlle Rémy-Leleu, porta-voz do Osez
le Féminisme!, um dos coletivos que mais batalham por esse assunto. “Sauvage só estava decepcionada com
sua vida familiar”, rebateu durante o julgamento a advogada da família da vítima, Célile Hernry-Weissgerber.
A campanha de apoio a Sauvage arrastou políticos de todas as ideologias, dos esquerdistas Daniel Cohn-
-Bendit e Jean-Luc Mélenchon até a candidata da direita Nathalie Kosciusko-Morizet (visitou-a na prisão) e
a prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo. O caso serviu para que a sociedade francesa entenda um pouco
mais o fenômeno da violência de gênero, do qual não se fala com frequência num país onde matam mais de
130 mulheres por ano e mais de 200.000 sofrem o mesmo calvário de Sauvage.

(CUCRG – PR) – Elabore uma resposta às perguntas formuladas no início desse texto. Você deve contextualizar o fato e justificar
o ponto de vista assumido. Seu texto deverá ter no mínimo 10 e no máximo 12 linhas.

34 Extensivo Terceirão
Aula 14

Proposta 02
Leia o seguinte texto:

A lei da anistia é irrevogável. Reabertura do tema não tem chance de êxito no STF
Em 31 de março de 1964, as Forças Armadas brasileiras derrubaram o governo Jango. Diversos partidos
apoiaram a intervenção militar, e os mais importantes jornais brasileiros (Folha de S. Paulo, O Estado de S.
Paulo, O Globo e outros) aplaudiram o movimento, considerando-o necessário para preservar as instituições.
Surgiu, à época, prolongando-se até 1971, uma ação guerrilheira contra o regime militar. Muitos de seus
participantes pretendiam instalar uma ditadura semelhante à cubana no país. Houve violência, de lado a
lado, com torturas e mortes por parte das autoridades e atos terroristas por parte dos opositores, inocentes
civis tendo sido sacrificados nesse embate. Quando a rebelião armada perdeu força e os jornais foram censu-
rados, as vozes que passaram a ser ouvidas, na luta pela redemocratização brasileira, foram as dos advogados.
Liderados pela figura maiúscula de Raymundo Faoro (1925-2003), não só conseguiram gradativamente pa-
vimentar o caminho para a redemocratização sem sangue como trazer para a vida pública aqueles opositores
à mão armada, que mataram, segundo dados oficiais, 129 civis e militares no período.
A lei da anistia de nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, redigida por Raymundo Faoro, colocou uma pá de
cal naquelas lutas fratricidas, anistiando guerrilheiros e autoridades. Permitiu que o Brasil, de 1979 a 1985,
caminhasse para a democracia, finalmente consolidada.
Ao ser levantada a tese de que teria a lei que ser revista, a partir da eleição do presidente Lula, o Supremo
Tribunal Federal decidiu que ela era irrevogável. O governo de então, em que grande parte dos opositores ao
regime militar assumiu cargos de relevância, estabeleceu uma Comissão denominada “da Verdade”, para apu-
ração dos crimes do período. Da verdade parcial, pois os crimes dos guerrilheiros não foram apurados. Preten-
deram, seus membros, a revogação da lei da anistia, sob o argumento de ser imprescritível o crime de tortura.
Parece-me que a pretendida reabertura do tema à luz de um relatório da CIA continua, do ponto de vista jurídi-
co, a não ter a menor possibilidade de êxito junto ao Supremo, em face da clareza da Carta sobre a matéria e das
decisões daquela Corte, que continua respeitando o disposto na Constituição, em seu artigo 5º, inciso XXXVI,
cuja dicção é a seguinte: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”
Ives Gandra da Silva Martins, Advogado e professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, Folha de S. Paulo, 19.05.2018. Adaptado.

Civilização ou barbárie. País deve rever passado e julgar agentes da repressão


“Tive os meus filhos sequestrados e levados para sala de tortura, na Operação Bandeirante. [Ela] com
cinco anos e [Ele] com quatro anos de idade. [...] Inclusive, eu sofri uma violência, ou várias violências
sexuais. Toda nossa tortura era feita [com] as mulheres nuas. [...] E os meus filhos me viram dessa forma.”
(Depoimento de vítima da repressão prestado em 2013 à CNV e à CV-ALESP). Situações de horror como
esta se multiplicam ao longo do relatório da CNV (Comissão Nacional da Verdade), concluído em 2014 e
que registra a prática de execuções, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e tortura durante a
ditadura militar, que se prolongou no Brasil de 1964 a 1985.
Ao apurar essas graves violações de direitos humanos, a CNV concluiu que “elas foram o resultado de
uma ação generalizada e sistemática do Estado brasileiro”. “Na ditadura militar, a repressão e a eliminação de
opositores se converteram em política de Estado, concebida e implementada a partir de decisões emanadas
da Presidência da República e dos ministérios militares.” Diante da abundância de provas, a CNV indicou,
entre as recomendações do relatório, a “determinação, pelos órgãos competentes, da responsabilidade jurí-
dica – criminal, civil e administrativa – dos agentes públicos que deram causa às graves violações de direitos
humanos ocorridas no período investigado pela CNV.

Português 4C 35
A CNV “considerou que a extensão da anistia a esses agentes públicos é incompatível com o direito bra-
sileiro e a ordem jurídica internacional, pois tais ilícitos, dadas a escala e a sistematicidade com que foram
cometidos, constituem crimes contra a humanidade, imprescritíveis e não passíveis de anistia”. A medida de
julgamento dos agentes públicos envolvidos na repressão já havia sido determinada ao Estado brasileiro por
meio de decisão de 2010 da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
O fundamental é que a civilização prevaleça sobre a barbárie e o Brasil deixe a condição vergonhosa de
ser a única exceção entre os países da América Latina – que, olhando de frente para o seu passado, julgaram
os agentes da repressão, promovendo a justiça e a democracia.
José Carlos Dias, Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro, Pedro Dallari e Rosa Cardoso. Ex-integrantes
da Comissão Nacional da Verdade. Folha de S. Paulo, 19.05.2018. Adaptado.

(FGV) – Um documento do governo americano (CIA) recentemente (2018) localizado pelo professor da FGV Matias Spektor
revelou que assassinatos de opositores da ditadura militar no Brasil (1964-1985) eram autorizados pelo próprio presidente
da república na época, Ernesto Geisel. A divulgação desse documento reacendeu o debate a respeito da legitimidade da
chamada lei da anistia (1979), que anistiou da mesma forma tanto os crimes atribuídos aos opositores do regime quanto os
atribuídos aos agentes do Estado, encarregados da repressão. Esse debate, que nunca se extinguira, continua vivo e aparece
nos dois textos acima reproduzidos, nos quais se manifestam pontos de vista opostos quanto à necessidade de se rever a dita
lei da anistia, de modo a permitir a responsabilização dos referidos agentes do Estado que praticaram graves infrações aos
direitos humanos. Com base nas ideias neles apresentadas, bem como em outras informações que você julgue importantes,
redija uma dissertação em prosa sobre o tema: A lei da anistia deve ser revista?

36 Extensivo Terceirão
Aula 14

Proposta 03
Leia o texto a seguir:

EPÍLOGO
Vocês, melhor aprenderem a ver, em vez de apenas
Arregalar os olhos, e a agir, em vez de somente falar.
Uma coisa dessas quase chegou a governar o mundo!
Os povos conseguiram dominá-la, mas ainda
É muito cedo para sair cantando vitória:
O ventre que gerou a coisa imunda continua fértil!
Bertolt Brecht

(FGV) – Esse texto é o epílogo, muito célebre, da peça teatral A resistível ascensão de Arturo Ui, no qual o dramaturgo se
dirige aos espectadores. Escrita nos anos de 1940 e revista durante a década de 1950, a peça tem como referências históricas
a ascensão do nazifacismo na Europa e a Segunda Guerra Mundial. Assim, a “coisa” que “quase chegou a governar o mundo”,
de que fala o texto, remete ao projeto nazifacista de dominação, do qual são parte inseparável, além da mencionada guerra
mundial, também os programas de perseguição e de extermínio de minorias étnico-religiosas, de dissidentes políticos e
de minorias sexuais, entre outros grupos. Essa conjugação característica de violência e preconceito, gangsterismo e terror,
regressão e barbárie é que o autor designou como “a coisa imunda”.

Português 4C 37
Com base no estímulo do texto, bem como em outras informações que você considere pertinentes, redija uma dissertação
em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema – “O ventre que gerou a coisa imunda continua fértil!”:
essa afirmação ainda é válida em nossos dias?

38 Extensivo Terceirão
Aula 14

Gabarito
14.01. d 14.14. b 14.20. a) É possível inferir que se trata de ironia
14.02. a 14.15. d do autor, tanto pela frase que inicia o
14.03. d 14.16. c texto (“Não dá para acreditar”) quanto
14.04. b 14.17. e pela relação estabelecida entre Trump
14.05. c 14.18. e e as causas dos fatos negativos trata-
14.06. d 14.19. Assim como as pessoas fazem pedidos dos nos livros citados.
14.07. c atirando uma pedra ou uma moeda b) Sim. “Trumpolândia” significa “país
14.08. c no poço dos desejos sem precisar fazer (terra) de Trump”.
14.09. c qualquer esforço para realizá-los, tam- c) O livro cujo título mais se relaciona
14.10. a bém, nas redes sociais, manifestam-se com o conceito de “distopia” é Origens
14.11. c criticando o que há de errado no mun- do totalitarismo, de Hannah Arendt. O
14.12. e do, mas nada fazem para melhorá-lo. autor do texto relaciona Trump com
14.13. b as causas do totalitarismo.

Português 4C 39
Português
Aula 15 4C
Resumo I

• Interpretação de poemas.
Gêneros textuais nas • Comparação de textos.
provas de redação • Continuação de texto.
Muitos vestibulares, recentemente, buscam a elabo-
ração de propostas de redação que fujam dos modelos Textos de informação:
tradicionais, como a narração e a dissertação argumen-
tativa. Por isso, outros gêneros textuais vêm sendo resumo
cobrados em provas que procuram seguir um caminho Nesses vestibulares que cobram diversos tipos de
mais moderno. textos na prova de redação, o resumo é um dos gêneros
Dessa forma, a preparação para as provas de redação mais frequentes. E há uma razão para isso: o fato de o
exige o domínio de vários tipos de textos, que, de forma resumo ser um dos melhores exercícios para avaliar a ca-
didática, podemos classificar da seguinte forma: pacidade de o vestibulando ler e compreender um texto,
a ponto de poder assimilar sua ideia geral e reescrevê-la
1. Textos de informação de forma sucinta em um novo texto.
Chamemos, assim, os tipos de textos em que apenas
se reescreve a ideia geral de um outro texto. Por se tratar O que é um resumo?
de uma reescrita, em redações desse tipo não cabem Como já vimos, trata-se do exercício de recontar, de
comentários pessoais, nem qualquer tipo de opinião. forma concisa, a ideia geral de outro texto. Atenção para a
São exemplos de textos essencialmente informativos: importância da palavra “recontar”, pois ela significa muito
• Resumo. quanto ao entendimento do que se deve fazer durante a
• Transposição de discurso. elaboração desse tipo de redação: nesse caso, “recontar”
quer dizer que você deve fazer um novo texto, com nova
• Notícia.
estrutura, e não a mera cópia de frases.
• Leitura de gráficos.

2. Textos de opinião Como fazer um resumo


Nesse caso, trata-se do texto cuja finalidade é a 1. Leitura do texto-base
expressão de um ponto de vista, um posicionamento a Um bom resumo começa pelo entendimento do
respeito do tema. Em redações desse tipo, o tema não texto-base. Por isso, não vá escrevendo a redação à
pode ser apenas exposto; é preciso discuti-lo, expressan- medida que se lê. A melhor dica é a leitura atenta, na
do a respeito dele uma opinião, bem como defendê-la qual, primeiramente, você irá se familiarizar, tomar
por meio de argumentos. conhecimento do que se diz no texto em questão. Após
• Texto de opinião. uma segunda leitura, já será possível identificar a ideia
• Artigo de opinião. geral presente nele. Como sugestão, monte um esque-
• Carta de opinião. ma, no qual você organizará itens importantes para a
composição do resumo, tais como:
• Título do texto.
3. Textos de interpretação
• Autor.
Outra categoria de redações é a das propostas cuja
• Fonte de publicação.
resolução depende da interpretação dos textos-base.
Nesses casos, a redação consiste em expor uma leitura • Qual é o tema do texto?
interpretativa coerente de um outro texto. • O que esse autor disse no texto a respeito desse
• Interpretação de tiras e charges. tema?
40 Extensivo Terceirão
Aula 15

• Qual é o tema do texto?: procure saber a respeito


2. Escrita do resumo de que se escreve no texto-base. Se se tratar de
a) Referenciação um texto informativo, identifique sobre o que o
É fundamental colocar, no início do resumo, uma autor está informando; se for o caso de um texto
referência ao texto-base, mesmo que isso não venha de opinião, identifique sobre o que o autor está
indicado nos comandos da questão. Afinal, você emitindo um posicionamento.
não é o autor do texto original e deve dar o devido • O que esse autor disse no texto a respeito desse
crédito a ele. tema?: se a primeira pergunta procurava saber o
A referenciação serve para que você identifique para tema, agora é preciso buscar o conteúdo expres-
o leitor qual é o texto que está resumido na sua re- so no texto. Para isso, não se apegue à sequência
dação e, especialmente, quem é o autor dessa ideia de parágrafos, até porque um resumo deve ser
e em qual veículo de comunicação ela foi publicada. feito da ideia geral do texto, e não a partir de
Para isso, procure informar o título, o autor, a fonte um roteiro “parágrafo a parágrafo”. Procure ver,
de publicação e o tema do texto. se for texto informativo, o que o autor destaca
b) A ideia geral do texto a respeito desse tema; se for texto opinativo,
identifique qual é o posicionamento do autor e
Durante a leitura, é importante buscar o entendi-
os argumentos utilizados para defendê-lo.
mento da ideia geral colocada no texto. Para isso,
lembremos os dois tópicos finais do roteiro de leitura
proposto anteriormente:

Análise de redação
Como exemplo, analisemos uma proposta de resumo do vestibular UFPR. Embora se trate de uma questão antiga,
é um bom exemplo para começarmos o exercício da leitura e da escrita do resumo.

(UFPR) Faça um resumo, de até 10 linhas, do texto abaixo.


Catedrais em busca do desconhecido
Marcelo Gleiser

A história da humanidade é pontuada pela construção de monumentos que visam estabelecer uma ponte
entre o nosso mundo e outros. Os egípcios criaram as pirâmides, mausoléus que asseguravam a continuidade
da vida após a morte, ligando nosso mundo ao do além. Com olhos modernos, podemos até ver as pirâmi-
des como uma espécie de espaçonave que levava as múmias em seus sarcófagos até sua destinação final, o
outro mundo. Ao nos depararmos com a grandiosidade das pirâmides, logo perguntamos: “Como teria sido
possível construir tais monumentos sem tecnologias avançadas?”
Na Idade Média, as belíssimas catedrais góticas também funcionavam como um veículo de transporte de
nossa esfera para a esfera divina. A verticalidade da arquitetura gótica induzia as pessoas a olhar para o alto
com respeito e temor, em um rito de passagem entre o nosso mundo, com suas atribulações, e o paraíso
medieval cristão, com sua promessa de uma vida eterna e livre de transtornos.
Nos séculos 15 e 16, nossos monumentos de exploração de novos mundos ganharam uma nova dimen-
são: a capacidade de nos transportar fisicamente, e não só espiritualmente, aos nossos objetivos finais. Sim-
bolicamente, as caravelas representavam uma peregrinação espiritual, uma ponte entre o nosso mundo e o
mundo do além, se bem que, na prática, os objetivos econômicos eram mais óbvios. A exploração de novos
mundos, espirituais ou não, sempre representou um passaporte para uma nova vida, com todas as promessas
e expectativas de liberdade e conforto que fazem parte de qualquer peregrinação.
Após buscarmos a comunhão com Deus por meio de nossas catedrais e a promessa de paraísos terrestres
em nossas caravelas, neste final de milênio nos lançamos ao espaço, nossa nova fronteira. Nossas catedrais
são as espaçonaves, as pontes entre o nosso mundo e esse vasto Universo do qual fazemos parte.
No dia 4 de dezembro de 98, a espaçonave americana Endeavour iniciou sua missão mais importante: sua
carga era o segundo módulo de construção da Estação Espacial Internacional (ISS), um dos projetos de en-
genharia mais ambiciosos de todos os tempos. Transportado pela Endeavour, o módulo americano, chamado
Unidade, uniu-se ao módulo russo Zaria (Aurora), que já estava em órbita.

Português 4C 41
Quando terminada, em 2004, a Estação Espacial terá uma área equivalente a um campo de futebol, com
um volume de cerca de dois Boeing-747. Essa catedral flutuante está sendo construída por 16 países e terá
um custo total em torno de US$60 bilhões. Um projeto dessa grandeza e custo não pode evitar um número
infinito de complicações técnicas, financeiras e políticas. Críticos afirmam que essa quantidade absurda de
dinheiro poderia ter sido dividida entre inúmeros projetos menores, que provavelmente produziriam resul-
tados científicos muito mais relevantes do que os experimentos que serão realizados na ISS.
A Estação Espacial poderá alojar uma tripulação de sete astronautas, cuja função incluirá não só expe-
riências científicas, mas também o planejamento de expedições tripuladas para a Lua e para Marte, no início
do próximo século. Tal como suas nobres antecessoras, ela será nossa ponte para outros mundos, nosso
instrumento de exploração de novas realidades e aspirações. Posso até imaginar arqueólogos do século 23
indagando, maravilhados, como um instrumento dessa grandiosidade foi construído com a rudimentar tec-
nologia do século 20.
(Folha de S. Paulo - 13/12/98)

Exemplos de resumo
Texto 01: Não configura resumo

O ser humano é um eterno incansável na sua busca por novas descobertas. Vivemos procurando expli-
cações e sentidos num quase “confronto” milenar entre o material e o espiritual, entre a satisfação física e a
busca espiritual.
A medida que avançamos tecnologicamente, procuramos alçar “voos” mais altos, tanto em um quanto
em outro lado; mas em certos setores cada vez gastamos “mais” para descobrir “menos”. Assim somos nós;
incansáveis insatisfeitos.

Texto 02: abaixo da média

Na história da humanidade encontramos monumentos que visam estabelecer uma ponte entre o nosso
mundo e outros. Após nos depararmos com as pirâmides, que para os Egípcios asseguravam a continuidade
da vida após a morte, buscar a espiritualidade nas catedrais e confiar em promessas de paraísos terrestres
com as caravelas, nos lançamos neste final de século ao espaço em busca de conquistar novas fronteiras. A
construção da Estação Espacial com certeza também será uma ponte para novos mundos.

Texto 03: Bom exemplo

No texto “Catedrais em busca do desconhecido”, Marcelo Gleiser comenta que a construção de monu-
mentos que estabelecem pontes entre o nosso mundo e outros sempre fez parte da história da humani-
dade. O Antigo Egito com suas gigantescas pirâmides e a arquitetura gótica da Idade Média, como meios
de “transporte espirituais” nos causam indagações sobre como foram construídas. No século 15, com a
invenção da caravela o homem passa a se transportar fisicamente, buscando novos mundos. Finalmente,
nos dias de hoje nos lançamos ao espaço, a nova fronteira. No dia 4 de dezembro de 98, a espaçonave
americana Endeavour foi lançada ao espaço para continuar a construção da Estação Espacial Internacio-
nal. O primeiro passo foi dado para que no futuro, venham a perguntar como algo tão grandioso poderia
ter sido feito no século 20.

42 Extensivo Terceirão
Aula 15

Testes
Precisamente a comparação entre elas e as
Assimilação da Europa de além-Pireneus faz ressaltar uma
característica bem peculiar à gente da península
Instrução: Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do his- Ibérica, uma característica que ela está longe de
toriador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), partilhar, pelo menos na mesma intensidade, com
para responder às questões 15.01 a 15.03. qualquer de seus vizinhos do continente. É que
nenhum desses vizinhos soube desenvolver a tal
A tentativa de implantação da cultura europeia extremo essa cultura da personalidade, que pare-
em extenso território, dotado de condições natu- ce constituir o traço mais decisivo na evolução da
rais, se não adversas, largamente estranhas à sua gente hispânica, desde tempos imemoriais. Pode
tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasi- dizer-se, realmente, que pela importância particu-
leira, o fato dominante e mais rico em consequên- lar que atribuem ao valor próprio da pessoa hu-
cias. Trazendo de países distantes nossas formas de mana, à autonomia de cada um dos homens em
convívio, nossas instituições, nossas ideias, e tim- relação aos semelhantes no tempo e no espaço,
brando em manter tudo isso em ambiente muitas devem os espanhóis e portugueses muito de sua
vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns originalidade nacional. [...]
desterrados em nossa terra. Podemos construir
obras excelentes, enriquecer nossa humanidade É dela que resulta largamente a singular tibie-
de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição za das formas de organização, de todas as asso-
o tipo de civilização que representamos: o certo ciações que impliquem solidariedade e ordenação
é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa entre esses povos. Em terra onde todos são barões
preguiça parece participar de um sistema de evo- não é possível acordo coletivo durável, a não ser
lução próprio de outro clima e de outra paisagem. por uma força exterior respeitável e temida.
Assim, antes de perguntar até que ponto po- Raízes do Brasil, 2000.

derá alcançar bom êxito a tentativa, caberia ave-


riguar até onde temos podido representar aquelas
15.01. (UNIFESP) – No primeiro parágrafo, o autor recorre a
formas de convívio, instituições e ideias de que
somos herdeiros. uma construção paradoxal em:
a) “condições naturais, se não adversas, largamente estra-
É significativa, em primeiro lugar, a circuns-
tância de termos recebido a herança através de nhas à sua tradição milenar”.
uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, b) “somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra”.
com a Rússia e os países balcânicos (e em certo c) “timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas
sentido também a Inglaterra), um dos territórios- vezes desfavorável e hostil”.
-ponte pelos quais a Europa se comunica com os d) “enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e
outros mundos. Assim, eles constituem uma zona imprevistos”.
fronteiriça, de transição, menos carregada, em al-
e) “o fato dominante e mais rico em consequências”.
guns casos, desse europeísmo que, não obstante,
mantêm como um patrimônio necessário. 15.02. (UNIFESP) – Em “É dela que resulta largamente a
Foi a partir da época dos grandes descobri- singular tibieza das formas de organização, de todas as as-
mentos marítimos que os dois países entraram sociações que impliquem solidariedade e ordenação entre
mais decididamente no coro europeu. Esse ingres- esses povos.” (7o. parágrafo), o termo destacado pode ser
so tardio deveria repercutir intensamente em seus substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por
destinos, determinando muitos aspectos peculia-
res de sua história e de sua formação espiritual. a) constância. b) firmeza.
Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desen- c) estranheza. d) combinação.
volveria, em alguns sentidos, quase à margem das e) fraqueza.
congêneres europeias, e sem delas receber qual-
quer incitamento que já não trouxesse em germe. 15.03. (UNIFESP) – Em “Assim, eles constituem uma zona
Quais os fundamentos em que assentam de fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos,
preferência as formas de vida social nessa região desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um
indecisa entre a Europa e a África, que se estende patrimônio necessário.” (3o. parágrafo), a expressão destacada
dos Pireneus a Gibraltar? Como explicar muitas pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por
daquelas formas, sem recorrer a indicações mais a) contudo. b) além disso.
ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a c) assim sendo. d) portanto.
uma estrita objetividade? e) ainda bem.
Português 4C 43
Instrução: Texto para a próxima questão.
República, Michel Temer (PMDB), Cármen Lúcia
considerou que a maior autoridade presente era
A situação favorável, do ponto de vista das “Sua Excelência, o povo” – e, por isso, saudou an-
oportunidades de trabalho, que existia na região tes de todos o “cidadão brasileiro”.
cafeeira, valeu aos antigos escravos liberados sa-
Partisse de outrem, o gesto talvez pudesse
lários relativamente elevados. Com efeito, tudo
ser considerado mero populismo; vindo da nova
indica que na região do café a abolição provocou presidente do STF, guarda coerência com outras
efetivamente uma redistribuição da renda em fa- iniciativas de valor simbólico semelhante, como
vor da mão de obra. Sem embargo, essa melhora abrir mão de carro oficial com motorista ou dis-
na remuneração real do trabalho parece haver tido pensar a festa em sua própria posse.
efeitos antes negativos que positivos sobre a utili-
zação dos fatores. (...) O homem formado desse Como se pudesse haver dúvidas a respeito
sistema social está totalmente desaparelhado para disso, Cármen Lúcia deixa clara a intenção de,
no próximo biênio, conduzir o STF com a mes-
responder aos estímulos econômicos. Quase não
ma austeridade que pauta sua conduta pessoal.
possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acu-
“Privilégios são incompatíveis com a República”,
mulação de riqueza lhe é praticamente estranha.
disse a esta Folha no ano passado.
Demais, seu rudimentar desenvolvimento mental
limita extremamente suas “necessidades”. Sendo o É de imaginar, assim, que a nova presidente
trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o de fato reveja uma das principais bandeiras da
bem inalcançável, a elevação de seu salário acima agenda corporativista de seu antecessor, Ricardo
de suas necessidades – que estão definidas pelo Lewandowski: o indefensável aumento salarial
nível de subsistência de um escravo – determina para os ministros do Supremo.
de imediato uma forte preferência pelo ócio. Dessa Não há de ser esse o único contraste entre as
forma, uma das consequências diretas da abolição, gestões. Espera-se que Cármen Lúcia moralize os
nas regiões em mais rápido desenvolvimento, foi gastos com diárias de viagens oficiais no STF, am-
reduzir-se o grau de utilização da força de trabalho. plie a transparência e a previsibilidade das deci-
sões do Judiciário e, acima de tudo, resgate o pa-
Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil.
pel disciplinar do Conselho Nacional de Justiça,
esvaziado sob a batuta de Lewandowski.
15.04. (ESPM – SP) – Segundo o autor: Desfrutando de sólida reputação no meio ju-
a) A situação favorável fez o negro, uma vez ocupado fora rídico, a ministra suscita altas expectativas ainda
do regime escravocrata, preferir o ócio. por outro motivo: ela relatou o processo do ex-
-deputado federal Natan Donadon, condenado
b) A preferência pelo ócio deriva diretamente da condição
por desvio de dinheiro público e primeiro políti-
de trabalhador assalariado em país latino-americano. co a ter sua prisão determinada pelo STF desde a
c) O repertório de necessidade do escravo era limitado pelo promulgação da Constituição de 1988.
nível de subsistência a que a região cafeeira o condenava. Daí por que o ministro Celso de Mello se sen-
d) O negro, não dispondo de hábitos de vida familiar, não tiu à vontade para, antes do discurso de Cármen
se interessava em acumular capital. Lúcia, proferir palavras duríssimas contra “os mar-
e) Não houve utilização de fatores, quando se tratou de ginais da República, cuja atuação criminosa tem o
provocar redistribuição de renda na economia cafeeira. efeito deletério de subverter a dignidade da função
política e da própria atividade governamental”.
No plenário do Supremo, diversos figurões
Aperfeiçoamento da política investigados ou processados por cri-
mes contra o patrimônio público apenas ouviam,
Instrução: Texto para as questões 15.05. e 15.06. constrangidos. Que o recado da gestão Cármen
Lúcia possa ir além do plano simbólico.
Recado dado ao STF
15.05. (PUC – SP) – Ao final do editorial, a “Gestão Cármen
Editorial
Folha de S.Paulo, 13 set. 2016 Lúcia” refere-se
Poucas vezes a posse de um presidente do Su- a) ao tempo destinado às mudanças necessárias para in-
premo Tribunal Federal se revestiu de tanto sim- vestigar os que cometeram crimes contra o patrimônio
bolismo quanto a de Cármen Lúcia, cuja chegada público.
ao comando do órgão de cúpula do Judiciário se b) ao período de dois anos que tem o mandato de presi-
consumou nesta segunda-feira (12). dente do STJ.
Em uma cerimônia simples, a ministra que- c) ao período de investigação a que será submetido o pre-
brou o protocolo já no início de seu discurso. Em sidente anterior do STJ.
vez de cumprimentar primeiro o presidente da
d) à etapa antecedente à posse da ministra do STJ.

44 Extensivo Terceirão
Aula 15

15.06. (PUC – SP) – Pela leitura do texto, infere-se que a


expressão “mero populismo”, empregada no terceiro pará- lha ideológica”, apanágio de seu próprio processo
grafo, significa de individuação, que condiciona sua maneira de
interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao
a) prática de quem simula defender interesses das pessoas
entramos em contato com o mundo exterior, cons-
com menos recursos econômicos, de modo a conquistar-
truímos representações sobre a realidade. Cada um
-lhes aceitação e simpatia. de nós forma juízos de valor a respeito dos vários
b) comportamento subserviente daqueles que se propõem âmbitos do real, seus personagens, acontecimentos
a exercer influência sobre as atitudes de pessoas de todas e fenômenos e, consequentemente, acreditamos
as classes sociais. que esses juízos correspondem à “verdade”. [...]
c) modo de os partidos políticos estabelecerem relação dire- [...] A mídia é apenas um, entre vários quadros
ta com a população carente, a fim de obterem mais apoio. ou grupos de referência, aos quais um indivíduo
d) forma como as massas populares se sentem diante do recorre como argumento para formular suas opi-
autoritarismo exercido pelas classes mais favorecidas. niões. Nesse sentido, competem com os veículos
de comunicação como quadros ou grupos de re-
Instrução: Texto para as questões 15.07. a 15.09. ferência fatores subjetivos/psicológicos (história
familiar, trajetória pessoal, predisposição intelec-
A mídia realmente tem o poder tual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau
de manipular as pessoas? de instrução, etnia, religião) e o ambiente infor-
Por Francisco Fernandes Ladeira
macional (associação comunitária, trabalho, igre-
ja). “Os vários tipos de receptor situam-se numa
À primeira vista, a resposta para a pergunta complexa rede de referências em que a comuni-
que intitula este artigo parece simples e óbvia: cação interpessoal e a midiática se completam e
sim, a mídia é um poderoso instrumento de mani-
modificam”, afirmou a cientista social Alessandra
pulação. A ideia de que o frágil cidadão comum é
Aldé em seu livro A construção da política: de-
impotente frente aos gigantescos e poderosos con-
mocracia, cidadania e meios de comunicação de
glomerados da comunicação é bastante atrativa
massa. Evidentemente, o peso de cada quadro de
intelectualmente. Influentes nomes, como Adorno
referência tende a variar de acordo com a realida-
e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar
de individual. Seguindo essa linha de raciocínio,
análises mais sistemáticas sobre o tema, concluí-
no original estudo Muito Além do Jardim Botâni-
ram que os meios de comunicação em larga escala
co, Carlos Eduardo Lins da Silva constatou como
moldavam e direcionavam as opiniões de seus re-
telespectadores do Jornal Nacional acionam seus
ceptores. Segundo eles, o rádio torna todos os ou-
mecanismos de defesa, individuais ou coletivos,
vintes iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos
para filtrar as informações veiculadas, traduzin-
idênticos programas das várias estações. No livro
do-as segundo seus próprios valores. “A síntese
Televisão e Consciência de Classe, Sarah Chucid
e as conclusões que um telespectador vai realizar
Da Viá afirma que o vídeo apresenta um conjunto
depois de assistir a um telejornal não podem ser
de imagens trabalhadas, cuja apreensão é momen-
antecipadas por ninguém; nem por quem produ-
tânea, de forma a persuadir rápida e transitoria-
ziu o telejornal, nem por quem assistiu ao mesmo
mente o grande público. Por sua vez, o psicólogo
tempo que aquele telespectador”, inferiu Carlos
social Gustav Le Bon considerava que, nas massas,
o indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um Eduardo.
autômato sem vontade e os juízos aceitos pelas Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-
questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-as-pessoas/.
multidões seriam sempre impostos e nunca dis- (Publicado em 14/04/2015, na edição 846. Acesso em 13/07/2016.)
cutidos. Assim, fomentou-se a concepção de que
a mídia seria capaz de manipular incondicional-
mente uma audiência submissa, passiva e acrítica. 15.07. (ITA – SP) – De acordo com o ponto de vista do autor,
Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos I. fatores subjetivos/psicológicos são os mais influentes na
duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de formação das opiniões e superam até mesmo a incondi-
proposições imediatistas e aparentemente fáceis. cional influência midiática.
As relações entre mídia e público são demasiada- II. a homogeneidade dos programas de rádio e de televisão
mente complexas, vão muito além de uma sim- é a responsável pela manipulação midiática das opiniões.
ples análise behaviorista de estímulo/resposta. As III. é impossível determinar como o indivíduo interpretará
mensagens transmitidas pelos grandes veículos de as informações veiculadas por um telejornal.
comunicação não são recebidas automaticamente
e da mesma maneira por todos os indivíduos. Na Está(ão) correta(s) apenas
maioria das vezes, o discurso midiático perde seu a) I e II. b) I e III.
significado original na controversa relação emissor/ c) II. d) II e III.
receptor. Cada indivíduo está envolto em uma “bo- e) III.

Português 4C 45
15.08. (ITA – SP) – O autor do texto
a) acredita que a mídia controla e manipula todos os cida- Os vídeos ilusórios são exemplos de um fenô-
dãos, independentemente de sua condição socioeconô- meno que vem se tornando cada vez mais comum
mica e cultural. em quase todas as matérias importantes que tratam
de acontecimentos violentos e que ocorrem rapida-
b) mostra o poder absoluto da mídia de deturpar a realidade mente. Reportagens falsas ou ilusórias espalham-se
dos fatos, tornando os cidadãos alienados e passivos. rapidamente pelas redes sociais e são acessadas por
c) mostra ao leitor que a mídia tem total poder de influenciar organizações jornalísticas respeitáveis, confundin-
o seu público, principalmente pelas redes sociais. do ainda mais um quadro já incrivelmente confuso.
d) prova a tese de que a mídia manipula os leitores, respal- A disseminação e divulgação de falsas infor-
dando-se em importantes estudiosos da cultura de massa. mações não têm nada de novo, mas a internet tor-
e) sustenta a ideia de que a mídia é apenas um dos fatores nou mais fácil plantar matérias e provas falsas e
que interferem na construção da opinião dos indivíduos. ilusórias, que serão amplamente compartilhadas
pelo Twitter e pelo Facebook.
15.09. (ITA – SP) – Com relação às estratégias argumentati-
vas utilizadas no texto, é correto afirmar que o autor Alastair Reid, editor administrativo do site
First Draft, que é uma coalizão de organizações
a) vale-se da pergunta retórica do título, respondida afirma-
que se especializam em checar informações e
tivamente por ele mesmo.
conta com o apoio do Google, disse que parte do
b) apresenta apenas posicionamentos de estudiosos que problema é que qualquer pessoa que publique em
são idênticos aos seus. plataformas como o Facebook tem a capacidade
c) vale-se do uso das aspas nos quatro momentos para se de atingir uma audiência tão ampla quanto aque-
distanciar daquilo que é dito. las que são atingidas por uma organização jorna-
d) utiliza a primeira pessoa do plural para se aproximar do lística. “Pode tratar-se de alguém tentando desviar
leitor e o persuadir sobre seu ponto de vista. propositalmente a pauta jornalística por motivos
e) apresenta com total imparcialidade pontos de vista di- políticos, ou muitas vezes são apenas pessoas que
versos sobre a manipulação da mídia. querem os números, os cliques e os compartilha-
mentos porque querem fazer parte da conversa
Instrução: Texto para a próxima questão. ou da validade da informação”, disse ele. “Eles
não têm quaisquer padrões de ética, mas têm o
Vídeos falsos confundem o mesmo tipo de distribuição.”
público e a imprensa Nesse meio tempo, a rápida divulgação das
Por Jasper Jackson, tradução de Jo Amado. notícias online e a concorrência com as redes so-
Cerca de duas horas depois da divulgação dos ciais também aumentaram a pressão sobre as or-
atentados de terça-feira (22/03) em Bruxelas, apa- ganizações jornalísticas para serem as primeiras a
receu um vídeo no YouTube, sob a alegação de que divulgar cada avanço, ao mesmo tempo em que
seriam imagens do circuito fechado de televisão eliminam alguns dos obstáculos que permitem
(CCTV), mostrando uma explosão no aeroporto informações equivocadas.
Zaventem, da cidade. As imagens rapidamente se Uma página na web não só pode ser atuali-
espalharam pelas redes sociais e foram divulgadas zada de maneira a eliminar qualquer vestígio de
por alguns dos principais sites de notícias. Depois uma mensagem falsa, mas, quando muitas pes-
desse, surgiu outro vídeo, supostamente mostran- soas apenas se limitam a registrar qual o website
do uma explosão na estação de metrô Maelbeek, em que estão lendo uma reportagem, a ameaça
próxima ao Parlamento Europeu, e ainda um ou- à reputação é significativamente menor que no
tro, alegando ser do aeroporto. jornal impresso. Em muitos casos, um fragmento
Entretanto, nenhum dos vídeos era o que alega- de informação, uma fotografia ou um vídeo são
va ser. Os três vídeos eram gravações de 2011, dois simplesmente bons demais para checar.
de um atentado ao aeroporto Domodedovo, de Alastair Reid disse: “Agora talvez haja mais
Moscou, e um de uma bomba que explodiu numa pressão junto a algumas organizações para agirem
estação de metrô de Minsk, capital da Belarus. rapidamente, para clicar, para ser a primeira… E
As imagens distorcidas dos clipes do circuito fe- há, evidentemente, uma pressão comercial para
chado de televisão foram convertidas de cor em pre- ter aquele vídeo fantástico, aquela foto fantástica,
to e branco, horizontalmente invertidas, novamente para ser de maior interesse jornalístico, mais com-
etiquetadas e postadas como se tivessem surgido dos partilhável e tudo isso pode se sobrepor ao desejo
acontecimentos do dia. Embora a conta do YouTube de ser certo.”
que compartilhou as imagens com falsos objetivos
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/terrorismo/videos-
tenha sido rapidamente tirada do ar, outros veículos falsos-confundem-o-publico-e-a-imprensa/. (Publicado originalmente
as reproduziram dizendo que eram de Bruxelas. no jornal The Guardian em 23/3/2016. Acesso em 30/03/2016.)

46 Extensivo Terceirão
Aula 15

15.10. (ITA – SP) – Marque a opção que NÃO constitui causa que, muitas vezes, ferem as leis).” Segundo essa
de divulgação de informações falsas na internet por orga- teoria, quanto mais a população se incomoda
nizações jornalísticas respeitáveis, de acordo com o texto. e quanto mais a mídia divulga as ações des-
a) A rapidez com que as informações são divulgadas online. ses grupos, mais eles se tornam populares e
b) A pressão para serem as primeiras a divulgar as novidades. engajados. Os defensores da máxima dizem
que ela deveria valer também para a Justiça. Há
c) A concorrência com as redes sociais. quem defenda que a ideia de que, à medida que
d) A credibilidade despertada pela boa qualidade das as autoridades perseguem esses grupos (gangues
imagens falsas. virtuais), mais malucos se dispõem a desafiá-las,
e) A impossibilidade de retirada de algo já veiculado. devido à sensação de impunidade inerente ao
anonimato na rede. Mas, sejam eles alimentados
ou não, muitos desses baderneiros virtuais estão
Aprofundamento cometendo crimes no mundo real. [...]
FERRARI, Bruno. In: Época, 25 de janeiro de 2016, p. 69 (fragmento adaptado).
15.11. (PUCPR) – A parte final do texto a seguir foi retira-
da, como indicado pelas reticências. Analise as frases que
seguem e marque a alternativa que apresenta o desfecho Com o objetivo de introduzir o tema do texto, o autor cita
mais coerente para o final do texto. uma máxima da internet e, na sequência, explicita-a. O pro-
cesso constitutivo dessa explicação baseia-se em uma relação
Presidente ou presidenta? a) demonstrada e aceita como verdade para o que será
defendido.
Se quisesse seguir a lei com um rigor, digamos,
ortodoxo para seus hábitos, o brasileiro teria de b) derivada de outras já comprovadas anteriormente.
oficialmente referir-se a Dilma Rousseff como “pre- c) presumida como real no domínio de sua aplicação.
sidenta”. Sim, a Lei Federal 2.749, de 1956, do se- d) consensual e necessária para a aceitação do que será
nador Mozart Lago (1889-1974), determina o uso postulado.
oficial da forma feminina para designar cargos pú-
blicos ocupados por mulheres. Era letra morta. Até Instrução: Texto para a próxima questão.
o país escolher sua primeira mulher à Presidência
da República. Criada num pós-guerra em que os É possível fazer educação de
países incorporaram direitos em resposta a movi- qualidade sem escola
mentos sociais, a lei condiciona o uso flexionado ao
É possível fazer educação embaixo de um pé
que for admitido pela gramática. O que daria vez à
de manga? Não só é, como já acontece em 20
forma “presidente”. O problema é que não há con-
cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e
senso linguístico que justifique opção contrária à
Moçambique.
lei. Em novembro, muitos professores, gramáticos
e dicionaristas se apressaram em dizer que tanto Decepcionado com o processo de “ensina-
“a presidente” como “presidenta” são legítimas. (...) gem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão
do cargo de professor da UFOP (Universidade Fe-
Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/62/presidente-
ou-presidenta-248988-1.asp>. Acesso em: maio 2015. deral de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD
(Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).
I. Mas número equivalente tomou “presidenta” como neo- Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório
logismo avesso ao sistema da língua. da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e
II. Mas o termo “presidenta” tornou-se completamente giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças
aceito na língua. e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um
lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do apren-
III. Mas número equivalente tomou “presidenta” como o
der com o outro. Todos são educadores, porque
neologismo mais aceito no sistema da língua. estão preocupados com a aprendizagem. É uma
a) Somente I e II são coerentes para o final do texto. construção coletiva”, explica.
b) Somente II é coerente para o final do texto. O educador diz que a roda constrói consen-
c) Somente III é coerente para o final do texto. sos. “Porque todo processo eletivo é um processo
d) Somente II e III são coerentes para o final do texto. de exclusão, e tudo que exclui não é educativo.
e) Somente I é coerente para o final do texto. Uma escola que seleciona não educa, porque ex-
cluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que
15.12. (UFU – MG) – Leia o texto a seguir: leva todos os meninos a aprenderem. E todos po-
dem aprender, só que cada um no seu ritmo, não
[...] Há uma velha máxima no universo da in- podemos uniformizar.”
ternet que diz: “Não alimente os trolls (aqueles Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu
que praticam a trolagem – brincadeiras ofensivas dicionário de terminologias educacionais, todas

Português 4C 47
calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do Instrução: Texto para a próxima questão.
abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do
sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provo- A ARMA DA PROPAGANDA
cada depois que um garoto perguntou: “Tião, como
O governo Médici não se limitou à repressão.
faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para
Distinguiu claramente entre um setor significativo,
ele colocar questões de sexualidade na roda.
mas minoritário da sociedade, adversário do regime,
Para resolver a falência da educação, Tião in- e a massa da população que vivia um dia a dia de
ventou uma UTI educacional, em que “mães cuida- alguma esperança nesses anos de prosperidade eco-
doras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” nômica. A repressão acabou com o primeiro setor,
(biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfa- enquanto a propaganda encarregou-se de, pelo me-
betização. E ainda colocou em uso termos como nos, neutralizar gradualmente o segundo. Para al-
“empodimento”, após várias vezes ser questionado cançar este último objetivo, o governo contou com
pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” o grande avanço das telecomunicações no país, após
Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”. 1964. As facilidades de crédito pessoal permitiram
Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a a expansão do número de residências que possuí-
escola do futuro não existirá e que ela será substi- am televisão: em 1960, apenas 95% das residências
tuída por espaços de aprendizagem com todas as urbanas tinham televisão; em 1970, a porcentagem
ferramentas possíveis e necessárias para os estu- chegava a 40%.; Por essa época, beneficiada pelo
dantes aprenderem. apoio do governo, de quem se transformou em por-
ta-voz, a TV Globo expandiu-se até se tornar rede
“Educação se faz com bons educadores, e o nacional e alcançar praticamente o controle do se-
modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá tor. A propaganda governamental passou a ter um
sinais de falência. Não precisamos de sala, precisa- canal de expressão como nunca existira na história
mos de gente. Não precisamos de prédio, precisa- do país. A promoção do “Brasil grande potência” foi
mos de espaços de aprendizado. Não precisamos realizada a partir da Assessoria Especial de Relações
de livros, precisamos ter todos os instrumentos Públicas (AERP), criada no governo Costa e Silva,
possíveis que levem o menino a aprender.” mas que não chegou a ter importância nesse gover-
Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e ci- no. Foi a época do “Ninguém segura este país”, da
tando Ariano Suassuna para dizer que “terceira marchinha Prá Frente, Brasil, que embalou a grande
idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970.
diz se sentir “privilegiado” de viver o que já viveu Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado.
e acreditar na utopia de não haver mais nenhu-
ma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma
política de governo, nem de terceiro setor, é uma 15.14. (FUVEST – SP) – A estratégia de dominação em-
questão ética”, pontua. pregada pelo governo Médici, tal como descrita no texto,
(Qsocial, 09/12/2014. Disponível em http://www.cpcd.org.br/
assemelha-se, sobretudo, à seguinte recomendação feita
portfolio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.) ao príncipe – ou ao governante – por um célebre pensador
da política:
a) “Deve o príncipe fazer-se temer, de maneira que, se não
15.13. (UNICAMP – SP) – Em relação ao trecho “E ainda se fizer amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser
colocou em uso termos como ‘empodimento’, após várias ao mesmo tempo temido e não odiado”.
vezes ser questionado pelas comunidades: ‘Pode [fazer tal b) “O mal que se tiver que fazer, deve o príncipe fazê-lo de
coisa], Tião?’ Seguida da resposta certeira: ‘Pode, pode tudo’”, uma só vez; o bem, deve fazê-lo aos poucos (...)”.
é correto afirmar: c) “Não se pode deixar ao tempo o encargo de resolver
a) A expressão “Seguida da resposta certeira” indica a elipse todas as coisas, pois o tempo tudo leva adiante e pode
de uma outra expressão. transformar o bem em mal e o mal em bem”.
b) A criação da palavra “empodimento” é resultado de um d) “Engana-se quem acredita que novos benefícios podem
processo: sufixação. fazer as grandes personagens esquecerem as antigas
c) A repetição do verbo no enunciado “Pode, pode tudo” injúrias (...)”.
exemplifica o estilo reiterativo do texto. e) “Deve o príncipe, sobretudo, não tocar na propriedade
d) O discurso direto presente no trecho tem a função de dar alheia, porque os homens esquecem mais depressa a
voz às comunidades. morte do pai que a perda do patrimônio”.

48 Extensivo Terceirão
Aula 15

Instrução: Texto para a próxima questão. I. O primeiro enunciado da historinha de Hemingway – “Ven-
do sapatinho de bebê”expressa uma atividade normal, de-
“Unde Malum” senvolvida por muitas pessoas: vender sapatinho de bebê.
Os sapatinhos sem meias, a roupa encharca- II. O segundo enunciado – “Nunca usado” – causa estranha-
da, o rosto suavemente deitado sobre a areia da mento, uma vez que não se costuma vender sapatinhos
praia em Bodrum, na Turquia. Aylan Shenu, o re- de bebê usados. Sendo isso verdade, não haveria neces-
fugiado sírio de 3 anos, parecia adormecido, em sidade de fazer essa observação.
uma daquelas imagens de desconcertante inocên- III. O acréscimo da informação “Nunca usado” abre para o
cia que só uma criança subitamente vencida pelo leitor a expectativa de que algo de mau, ou pelo menos
cansaço é capaz de produzir. A sensação boa dura desagradável, aconteceu à criança.
pouco. Logo se percebe que Aylan está morto. Está correto o que se diz em
Seu corpo inerte foi jogado na areia pelas ondas
a) I, II e III. b) I e II somente.
do Mediterrâneo. A legenda da foto informa que
Aylan morreu afogado com a mãe, Rehan, e o ir- c) II e III somente. d) I e III somente.
mão de 5 anos, Galip, quando o barco precário
Instrução: Leia o texto abaixo e responda à questão 15.16.
que os transportava afundou. Só Abdullah, o pai
do menino, sobreviveu. Como dezenas de milha-
res de outros sírios vêm fazendo em desespero, os Onde há maior engajamento das pessoas no
Shenu lançaram-se ao mar para fugir da guerra trabalho? Para responder essa pergunta, a consul-
civil insana que arrasa o seu país. toria Marcus Buckingham Company fez uma pes-
quisa em 13 países, entrevistando cerca de mil pes-
As cenas do corpo de Aylan na areia – e, em soas de várias empresas em cada um. Os Estados
outra foto, carregado nos braços por um poli- Unidos e a China estão empatados em primeiro
cial turco – foram fortes demais mesmo para um lugar (com 19% de engajamento total cada), o que
mundo anestesiado por desgraças que chegam não chega a ser uma surpresa diante da potência
sem parar a bilhões de pessoas instantaneamente de suas economias. Mas aí começam as novidades:
pela internet. A mente humana só tem a fé e a em segundo lugar está a Índia, com 17%, e em ter-
arte para não perder a razão diante de imagens ceiro, o Brasil, com 16% de engajamento, acima de
como as de Aylan. Santo Agostinho, um portento países como a Inglaterra, o Canadá, a Alemanha,
da inteligência cristã, nunca conseguiu conciliar a Itália e a França. Solicitou-se aos entrevistados
a ideia de um Deus onipotente, soberanamente hierarquizar oito afirmações básicas, como “no tra-
bom, com a existência do mal no mundo. Sua in- balho, sei claramente o que esperam de mim” ou
dagação em latim “Unde malum” (“De onde vem “serei reconhecido se fizer um bom trabalho”. Para
o mal?”) atravessa os séculos sem resposta intei- os autores, a diferença de engajamento em cada
ramente satisfatória. No poema com esse título, o país seria explicada de acordo com o grau de con-
polonês Czeslaw Milosz, ganhador do Nobel de fiança que o entrevistado teria sobre a utilização de
literatura em 1980, responde que o bem e o mal suas capacidades pessoais no trabalho. Mas há nu-
só existem no homem – e se a espécie humana ances: no Brasil, assim como na França, Canadá e
deixar de existir eles também desaparecerão. Argentina, a afirmação “meus colegas me apoiam”
recebeu também grande destaque, enquanto na In-
“El pie del niño aún no sabe que es pie” – as- glaterra e na Índia se valoriza mais o fato de ter
sim o poeta chileno Pablo Neruda descreveu sua colegas que compartilhem os mesmos valores.
perplexidade metafísica ante os mistérios da ca-
(Adaptado de: NOGUEIRA, P. E. A preguiça é mito?
minhada humana. O escritor americano Ernest Época Negócios. ago. 2015. n.102. p. 21.)
Hemingway famosamente venceu os amigos em
uma disputa literária para ver quem conseguiria
comover os demais com a história mais curta: 15.16. (UEL – PR) – Com base no trecho “Solicitou-se aos
1
“Vendo sapatinho de bebê. Nunca usado”. Pen- entrevistados hierarquizar oito afirmações básicas”, assinale
dendo solto dos braços do policial turco em Bo- a alternativa que apresenta a sua correta reescrita.
drum, os pezinhos de Aylan, dentro dos sapatos a) A hierarquia de oito afirmações básicas foi solicitada aos
sem serventia, ainda não sabiam que eram pés. entrevistados.
Isso é que mais dói. b) Hierarquizar oito afirmações básicas foi a solicitação dos
(Carta ao Leitor. Veja. 9/09/2015. p. 12) entrevistados.
c) Oito afirmações básicas foram solicitadas aos entrevista-
15.15. (UECE) – “Vendo sapatinho de bebê. Nunca usado” dos hierarquizados.
(referência 1). Essa pequena história comoveu os amigos do d) Solicitaram a hierarquia dos entrevistados através de oito
escritor americano Ernest Hemingway, e o autor desta carta afirmações básicas.
ao leitor ilustrou o seu texto com essa pequena história. e) Solicitou-se hierarquizar os entrevistados com oito afir-
Atente ao que se diz sobre essa pequena narrativa. mações básicas.

Português 4C 49
Instrução: Leia o texto a seguir para responder às questões
15.17 e 15.18. estamos acostumados: inverter o padrão e organi-
zar nosso pensamento não mais a partir daquele
em que o ‘indivíduo’ está no centro, mas segundo
Um leitor de La Repubblica perguntou o que uma ordem alternativa centrada em práticas éticas
podemos fazer para escapar da situação alarmante e estéticas que privilegiem a relação e o contexto”.
em que nos encontramos depois da crise do cré-
dito e como evitar suas consequências possivel- Trata-se, sem dúvida, de uma possibilidade
mente catastróficas. remota (inverossímil ou pretensiosa, diriam al-
guns), que exige um período prolongado, tor-
Essas são perguntas que nos fazemos todos os tuoso e muitas vezes doloroso de autocrítica e
dias; afinal, não foi só o sistema bancário e a bolsa reajuste. Nascemos e crescemos numa sociedade
de valores que sofreram duros e sucessivos gol- completamente “individualizada”, na qual a au-
pes – nossa confiança nas estratégias de vida, nos tonomia, a autossuficiência e o egocentrismo do
modos de agir, nos padrões de sucesso e no ideal indivíduo eram axiomas que não exigiam provas
de felicidade que, dia após dia, nos últimos anos, (nem as admitiam), e que dava pouco espaço, se é
nos disseram que valia a pena seguir também foi que dava, à discussão. Só que mudar nossa visão
abalada e perdeu parte considerável de sua auto- de mundo e assumir uma compreensão adequada
ridade e poder de atração. Nossos ídolos, versões do lugar e do papel que temos na sociedade não
líquido-modernas do bezerro de ouro bíblico, é fácil nem se faz de um dia para o outro. No
derreteram ao mesmo tempo que a confiança na entanto, essa mudança parece ser imperativa, na
economia! verdade, inevitável.
Pensando em retrospecto, os anos anteriores BAUMAN, Zygmunt. Como escapar da crise? In: 44 Cartas do Mundo Líquido
à crise do crédito parecem ter sido tempos tran- Moderno. Tradução Vera Pereira. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 161-165.
quilos e alegres do tipo “aproveite agora, pague Tradução de: 44 Letters from the Liquid Modern World. Adaptado.

depois”; uma época em que nós agíamos com a


certeza de que haveria riqueza suficiente e até
15.17. (UEFS – BA) – Considerando-se a linha de raciocínio
maior no dia seguinte, anulando qualquer preo-
cupação com o crescimento das dívidas de hoje, utilizada pela voz autoral para desenvolver suas ideias, é
desde que fizéssemos o que se exigia para aderir correto afirmar, quanto aos parágrafos, que o
aos “caras mais inteligentes da turma” e seguir seu a) primeiro introduz o tema através da narração de um
exemplo. Naqueles dias que ficaram para trás, o contexto particular vivenciado pelo próprio locutor, que
exercício de subir montanhas cada vez mais altas já apresenta sua tese sobre a situação-problema então
e ter acesso a paisagens cada vez mais arrebatado- configurada.
ras, eclipsar as grandiosas montanhas de ontem b) segundo evidencia as consequências e as soluções para
com o perfil das colinas de hoje e aplainar as co- a realidade descrita no parágrafo anterior, apresentando
linas de ontem na gentil ondulação das planícies uma analogia entre o ideal atual de felicidade e uma
de hoje parecia durar para sempre. imagem bíblica.
Uma possível reação à crise econômica atual é c) terceiro é construído a partir de fatos passados que ex-
o que Mark Furlong denominou de “militarização pressam valores que divergem ideologicamente daqueles
do eu”. É o que vão fazer, sem dúvida, os produ- vigentes no contexto social contemporâneo.
tores e comerciantes interessados em capitalizar d) quarto explicita a conduta de alguns segmentos sociais
a catástrofe transformando-a em lucro acionário, diante da depressão pós-crise dominante na sociedade,
como de hábito. A indústria farmacêutica já está que é criticada pela voz autoral, por pretender tirar pro-
em plena atividade, tentando invadir, conquistar veito da situação.
e colonizar a nova “terra virgem” da depressão
pós-crise a fim de vender sua “nova geração” de e) quinto revela a contradição do próprio enunciador do
smart drugs, começando por semear, cultivar e discurso, que defende ideias consideradas inconciliáveis
fazer crescer as novas ilusões que tendem a pro- por falta de fundamentação lógica.
pulsionar a demanda. Já estamos ouvindo falar
15.18. (UEFS – BA) – A interpretação dos aspectos temáticos
de drogas fantásticas que prometem “melhorar
tudo”, memória, humor, potência sexual e a ener- do texto de Zygmunt Bauman está correta em
gia de quem as ingere com regularidade, propor- a) A crise financeira que se estabeleceu na contemporanei-
cionando assim total controle sobre a construção dade é o resultado de uma depressão social causado por
do próprio ego e sua preponderância sobre o ego referenciais de uma cultura individualista e hedonista.
de outros. b) Os problemas que consomem o homem contemporâneo
Contudo há outra possibilidade. Existe a op- surgiram como consequência de um passado voltado para
ção de tentar chegar às raízes do problema atual e a desconfiança no próprio homem e a sua incapacidade
(como sugeriu Furlong) “fazer o contrário do que de cooperação mútua.

50 Extensivo Terceirão
Aula 15

c) As incertezas relacionadas com a economia atual vêm


atreladas ao desmoronamento de valores que alimentam Pelo contrário, significa maior valorização!
um modo de viver e ver o mundo pautado na conquista Valor de transitoriedade é valor de raridade no
da felicidade a qualquer custo, no presente. tempo. A limitação da possibilidade da fruição
aumenta a sua preciosidade. É incompreensível,
d) A solução mais adequada e eficaz para os problemas que afirmei, que a ideia da transitoriedade do belo
são vivenciados pelos indivíduos atualmente é a cura deva perturbar a alegria que ele nos proporciona.
da depressão pós-crise, por meio de medicamentos de Quanto à beleza da natureza, ela sempre volta de-
última geração que garantem a qualidade de vida das pois que é destruída pelo inverno, e esse retorno
pessoas. bem pode ser considerado eterno, em relação ao
e) A ideologia pregada pela sociedade líquido-moderna é in- nosso tempo de vida. Vemos desaparecer a beleza
compatível com a proposta de intervenção do enunciador, do rosto e do corpo humanos no curso de nossa
o que torna impossível a resolução da crise econômica e vida, mas essa brevidade lhes acrescenta mais um
existencial por meio de atitudes de autocrítica e reajuste encanto. Se existir uma flor que floresça apenas
da maneira de pensar e agir. uma noite, ela não nos parecerá menos formosa
por isso. Tampouco posso compreender por que
a beleza e a perfeição de uma obra de arte ou de
Desafio uma realização intelectual deveriam ser deprecia-
das por sua limitação no tempo. Talvez chegue o
Instrução: Texto para as questão 15.19 e 15.20. dia em que os quadros e estátuas que hoje admi-
Leia o trecho do ensaio “A transitoriedade”, de Sigmund Freud ramos se reduzam a pó, ou que nos suceda uma
(1856-1939), para responder às questões a seguir. raça de homens que não mais entenda as obras de
nossos poetas e pensadores, ou que sobrevenha
uma era geológica em que os seres vivos deixem
Algum tempo atrás, fiz um passeio por uma
de existir sobre a Terra; mas se o valor de tudo
rica paisagem num dia de verão, em companhia
quanto é belo e perfeito é determinado somente
de um poeta jovem, mas já famoso. O poeta ad-
por seu significado para a nossa vida emocional,
mirava a beleza do cenário que nos rodeava, po-
não precisa sobreviver a ela, e portanto independe
rém não se alegrava com ela. Era incomodado
da duração absoluta.
pelo pensamento de que toda aquela beleza es-
tava condenada à extinção, pois desapareceria no (Introdução ao narcisismo, 2010. Adaptado.)

inverno, e assim também toda a beleza humana e


tudo de belo e nobre que os homens criaram ou
15.19. (UNESP – SP) – Explique sucintamente a diferença
poderiam criar. Tudo o mais que, de outro modo,
entre a visão de Freud e a visão do jovem poeta sobre a
ele teria amado e admirado, lhe parecia despojado
de valor pela transitoriedade que era o destino de transitoriedade do belo.
tudo.
Sabemos que tal preocupação com a fragilida-
de do que é belo e perfeito pode dar origem a
duas diferentes tendências na psique. Uma con-
duz ao doloroso cansaço do mundo mostrado
pelo jovem poeta; a outra, à rebelião contra o fato
constatado. Não, não é possível que todas essas
maravilhas da natureza e da arte, do nosso mun-
do de sentimentos e do mundo lá fora, venham
realmente a se desfazer. Seria uma insensatez e
uma blasfêmia acreditar nisso. Essas coisas têm
de poder subsistir de alguma forma, subtraídas às
influências destruidoras.
15.20. (UNESP – SP) – Identifique os referentes dos prono-
Ocorre que essa exigência de imortalidade é mes sublinhados no primeiro e no quarto parágrafos.
tão claramente um produto de nossos desejos que
não pode reivindicar valor de realidade. Também
o que é doloroso pode ser verdadeiro. Eu não
pude me decidir a refutar a transitoriedade uni-
versal, nem obter uma exceção para o belo e o
perfeito. Mas contestei a visão do poeta pessimis-
ta, de que a transitoriedade do belo implica sua
desvalorização.

Português 4C 51
Produção de textos
Proposta 01
(FCR – PR) – Leia os excertos a seguir, extraídos do artigo do cancerologista e escritor Drauzio Varella, publicado no Jornal
Folha de São Paulo em 17/03/19:

Doentes saudáveis
Quanto mais velho fico, menos medicamentos prescrevo. Xaropes, vitaminas, antibióticos para qualquer
dor de garganta causam mais efeitos indesejáveis do que benefícios. Quando se trata de receitar aqueles de uso
diário pelo resto da vida, então, penso dez vezes. [...] Veja o caso do diabetes, prezada leitora, epidemia mun-
dial que afeta pelo menos 14 milhões de brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Diabetes, que adota os
seguintes critérios para o diagnóstico da doença: glicemia de jejum maior ou igual a 126 mg/dL, ou hemoglobi-
na glicada maior ou igual a 6,5%, ou glicemia acima de 200 a qualquer hora do dia, acompanhada de sintomas.
Assim, glicemia de jejum entre 100 mg e 125 mg ou hemoglobina glicada entre 5,7% e 6,5% ficariam numa
situação intermediária, classificada pela American Diabetes Association (ADA), a partir de 2009, como pré-
-diabetes – nomenclatura não aceita por várias sociedades médicas nem pela Organização Mundial da Saúde.
O termo pré-diabetes sempre me incomodou. Dá a impressão de que ao atingir essa faixa de glicemia, a
pessoa já não é saudável, está condenada a desenvolver a doença. Não é o que as evidências demonstram,
no entanto. Segundo o Center for Diseases Control, dos Estados Unidos, menos de 2% desses casos evoluem
para diabetes, anualmente; portanto, menos de 20% nos dez anos seguintes. [...] A estimativa é de que a ado-
ção do critério atual para definir pré-diabetes põe nessa condição de 70 a 80 milhões de americanos e perto
de 1 bilhão de adultos ao redor do mundo. Segundo a ADA, como os programas dirigidos à perda de peso e
mudanças no estilo de vida apresentam resultados medíocres, investir neles é “jogar dinheiro no fogo”. A al-
ternativa seria adotar o tratamento medicamentoso. Dessa maneira, foi armado o cenário para considerar do-
entes pessoas assintomáticas que poderiam assim permanecer por décadas, eventualmente pela vida inteira.
Sempre atenta às oportunidades mercadológicas, a indústria farmacêutica está desenvolvendo pelo menos dez
classes de drogas para tratamento do pré-diabetes, algumas das quais já são prescritas, mesmo sem a aprovação
formal das agências reguladoras. Empresas que desenvolvem equipamentos para a medição da glicemia investem
em monitores eletrônicos ligados ao celular, mais cômodos, precisos e bem mais caros do que as tradicionais
picadas na ponta dos dedos. Já há especialistas que consideram o monitoramento diário da glicemia indicado
para todos os adultos. Companhias que produzem alimentos dietéticos, suplementos nutricionais e adoçantes ar-
tificiais pressionam pela aprovação de seus produtos e investem na publicidade dirigida a esse nicho do mercado.
Desse modo, o rótulo pré-diabetes torna pacientes pessoas sem nenhuma doença, que enfrentarão a an-
siedade e os custos de acompanhamento médico, exames laboratoriais, monitores de glicemia e suplementos
dietéticos que apregoam resultados jamais comprovados.

Redija um resumo do texto em no mínimo 8 e no máximo 12 linhas.


Seu texto deverá:
• mencionar autoria, local e data de publicação do artigo;
• identificar a tese e os argumentos defendidos pelo autor;
• evitar a mera justaposição de trechos do texto original.

52 Extensivo Terceirão
Aula 15

Proposta 02
(UFPR) – Leia o texto a seguir, do jornalista francês Thomas Pietrois-Chabassier, traduzido pelo jornalista Inácio Araújo e pu-
blicado no site UOL Cinema, acerca do personagem Harry Potter, de J. K. Rowling.

O insuportável Harry Potter


A revista francesa Les Inrockuptibles não está entre aquelas que fazem do último filme de “Harry Potter” um
sucesso. Em sua carta de 20/7, Thomas Pietrois-Chabassier expõe sua crítica ao personagem de J. K. Rowling.
Mesmo para os fãs do jovem aprendiz de feiticeiro, me parece que será interessante conhecer o seu inverso.
Por isso, eu fiz a tradução da carta de Pietrois-Chabassier, ali, em cima da perna, mas acho que o total
está fiel ao sentido:
“Personagem inodoro, incolor e sem gosto, Harry Potter é um adolescente sem grande interesse, um
rapaz intelectualmente banal em um universo extraordinário. Seus únicos traços de caráter são qualidades
de idiota: bravura e suscetibilidade. Ele só não fica nervoso quando fala de seus pais. Suas forças são inatas
e tudo o que Harry Potter adquire deve a seus protetores, que são seus amigos ou seus professores. O que
o torna excepcional (sua vitória sobre Voldemort, quando bebê, sua cicatriz, seu lado “eu sou o eleito”) ele
deve apenas a sua mãe. E é aí que se situa toda a questão da criatura de J. K. Rowling.
Em cada filme (muito fiel aos livros), os personagens que ele encontra pela primeira vez têm sempre a mes-
ma frase: “Então você é Harry Potter. Você parece com seu pai. Só os olhos que não, os olhos são da sua mãe”.
Mas Harry Potter não apenas tem os olhos de sua mãe, como é os olhos de sua mãe. Ele é um ponto de
vista neutro, uma porta de entrada nesse mundo fabuloso, uma verdadeira câmera viva, levando, como pro-
va, essa capa de invisibilidade que ele veste todo o tempo ou esses óculos redondos que se tornaram o símbo-
lo do personagem, convertendo-o num par de olhos e lhe oferecendo o ponto de vista onisciente do narrador.
Obra maternal, a saga Harry Potter é sobretudo maternalista, vampirisando a figura do filho até em
seus pesadelos, para não fazer dele senão um garotinho sabido, respeitador das regras, bom aluno, bom em
esportes. Ele só é subversivo quando tem autorização do diretor. Harry Potter é zeloso da memória de sua
mãe e virgem. Seu coração bate por uma garota tão enfadonha quanto ele, que ele beija só no final do último
episódio, com 18 anos, e com quem se casará. As peripécias que enfrenta surgem ao acaso, para transformá-
-lo em herói, em líder apesar dele.
Harry Potter é o filho de plástico sonhado por J. K. Rowling, o filho sem paixão nem falhas, seu orgulho,
o antipunk, o bom filhinho de mamãe. É por isso que nós nunca gostaremos dele”.
Thomas Pietrois-Chabassier
(Texto disponível em <https://inacio-a.blogosfera.uol.com.br/2011/07/22/o-insuportavel-harry-potter/>. Acesso em 02/10/2018. Adaptado.)

Faça um resumo desse texto de no mínimo 8 e no máximo 12 linhas, respeitando as características do gênero discursivo
solicitado.

Português 4C 53
Proposta 03
(UFRGS) – Considere o texto abaixo, da escritora Martha Medeiros, publicado no Jornal Zero Hora, em 12/08/2017.

Pai da pátria
O termo vem do latim pater patriae e simboliza o papel de determinada personalidade na formação da
unidade nacional e de sua independência.
O nosso Pai da Pátria não é um, mas dois: Dom Pedro I e José Bonifácio. Cada nação tem o seu, que serve
de modelo de heroísmo e dignidade.
O Pai da Pátria está acima de nós, como numa família tradicional. Não em valor, que valorosos somos
todos, mas em representatividade. O Pai da Pátria poderia, inclusive, ser o epíteto de todo chefe do executi-
vo, não fosse, especialmente no nosso caso, uma piada. Há pesquisas sérias sobre a importância de se ter um
pai reconhecido em certidão. O Brasil, de forma simbólica, tem os dois já citados, mas, na prática, é como
se fôssemos filhos de um pai fantasma, que não nos deu o senso de inclusão familiar, de responsabilidade e
de orgulho, deixando-nos à deriva.
Quem me dera ser crédula, confiante. Do tipo que admite estarmos em meio a uma crise medonha, mas
que dela brotará um Estado maior, melhor. Já fui assim otimista, mas o tempo passou e me cobrou alguma
lucidez e coragem para encarar a realidade. Agora não me é mais dada a alternativa de embarcar num faz
de conta, acreditar em devaneios: o fato é que sempre estivemos irreversivelmente lascados, pois desde que
essa história começou (1500), foi um tropeço atrás de outro, um país descoberto por engano, por causa de
uns ventos inesperados que conduziram as caravelas para outro destino que não a Índia e foram parar aqui
sem querer, e quem dá importância ao que foi sem querer? Descuidos não são levados a sério, nunca fomos e
jamais seremos a primeira opção nem pra nós mesmos. O Brasil é um acidente de percurso do qual se tenta
tirar alguma vantagem para que o engano de rota não resulte em total perda de tempo.
Se você discorda, se ainda acredita que um dia seremos um país íntegro, digno, consistente, me declaro
invejosa da sua fé. Sou uma ratazana descrente que não abandona o navio porque tem parentes no convés,
apenas por isso.
Sorte a minha, e provavelmente a sua, de que colecionamos algumas vitórias particulares: amigos fiéis,
o gosto pela música, amar e ser amado, gozar de boa saúde, poder ir ao cinema de vez em quando, não ter
vergonha do passado e acreditar-se merecedor de um banho de sol, de um banho de mar, de um banho de
chuva, essas trivialidades naturais que mantêm o corpo e a alma azeitados. A vida vale a pena em sua simpli-
cidade, aquela que ainda comove, pois rara.
Mas não nos gabemos, pois ainda que nossa família nuclear e nossa trajetória pessoal não nos envergo-
nhem, somos todos habitantes de uma pátria órfã.
Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/marthamedeiros/noticia/2017/08/pai-da-patria-9867095.html>. Acesso em: 09 out. 2017.

Como é possível ver, o texto de Martha Medeiros é enriquecido por vários recursos que permitem à autora formular o seu
ponto de vista de maneira muito clara. Há metáforas, ironias, argumentos e exemplos, entre outros recursos; e tudo está a
serviço das ideias defendidas no conjunto do texto.
Após a leitura, você, certamente, construiu uma opinião sobre o que diz a autora.
Você pode ter concordado integralmente com o texto ou apenas parcialmente; pode ter discordado integralmente ou
apenas parcialmente.
54 Extensivo Terceirão
Aula 15

É assim mesmo!
Muitas vezes, lemos um texto e concordamos integralmente com ele, pois suas ideias coincidem com o que pensamos a
respeito daquele assunto; outras vezes, concordamos apenas parcialmente com os argumentos apresentados, porque há
pontos dos quais discordamos.
O contrário também é possível. Podemos discordar integralmente das ideias expressas em um texto, porque temos um
entendimento completamente diferente a respeito daquele assunto; por vezes, enfim, podemos discordar apenas parcial-
mente, pois há pontos com os quais concordamos.
Os leitores sabem que é sempre assim, e os autores também sabem. O mais importante, porém, é reconhecer que o debate
deve ser feito com tolerância e ética.
Assim, a partir da leitura do texto de Martha Medeiros e das observações feitas acima, elabore um texto dissertativo que
apresente o seu ponto de vista acerca das ideias da autora sobre o Brasil.
Considere que o seu texto pode ser lido pela autora, logo ele terá de conter a sua opinião, de maneira bem fundamentada,
com argumentos que sustentem o seu ponto de vista, para que a autora entenda claramente o posicionamento adotado.
Em resumo, em seu texto, você deve se posicionar a respeito das ideias da autora sobre o Brasil: contestá-las parcial
ou integralmente; aprová-las parcial ou integralmente.

Português 4C 55
Gabarito
15.01. b 15.13. a e a perfeição apenas adquirem significado
15.02. e 15.14. b pelas emoções que suscitam momenta-
15.03. a 15.15. a neamente em cada um, sem necessidade,
15.04. d 15.16. a portanto, de duração absoluta.
15.05. b 15.17. d 15.20. No primeiro parágrafo, o pronome “lhe”
15.06. a 15.18. c estabelece relação anafórica com o pro-
15.07. e 15.19. Enquanto que para o jovem poeta a transi- nome “ele”, ligado por sua vez a “um po-
15.08. e toriedade do belo desvalorizava a fruição eta jovem” mencionado no início do pa-
15.09. d do momento vivido, ou seja, de tudo o rágrafo. No segundo, o pronome “lhes”
15.10. e que ele ama e admira, para Freud isso im- refere-se a ‘beleza da natureza” e “beleza
15.11. e plicava maior valorização, já que a beleza do rosto e do corpo humanos”.
15.12. c

56 Extensivo Terceirão
Português
Aula 16 4C 1B
Resumo II

Análise de redação
Nesta aula, por meio da análise de textos escritos em prova recente (UFPR 2017 / 18), reforçaremos as caracterís-
ticas do resumo. Gradativamente, essas redações estão na seguinte ordem de avaliação, de acordo com a correção da
banca NC / UFPR: insuficiente, médio e muito bom. Além disso, utilizemos esses textos, também, para a observação de
algumas qualidades que valorizam uma redação: os acabamentos coesivos.
Leia o texto abaixo.

Em final de 2014, uma aluna de pós-doutorado da Universidade de Yale-EUA, a astrônoma americana


Tabetha Boyajian, identificou flutuações inexplicáveis no brilho de uma estrela monitorada pelo telescópio es-
pacial caça-planetas Kepler, da Nasa. As flutuações em nada lembravam o que se vê quando um planeta passa
entre a estrela e o telescópio.
Das mais de 150 mil estrelas observadas pelo Kepler, apenas uma – a estrela de Boyajian (EdB) – exibia uma
curva de luz que desafia a lógica. O gráfico do brilho da estrela ao longo do tempo é chamado de curva de luz.
O que acontece é que a curva da EdB mostrava depressões similares a trânsitos aparentemente aleatórios, sendo
que algumas duravam horas e outras persistiam por dias ou semanas.
A EdB ainda guardaria mais surpresas. Outro astrônomo americano, Bradley Schaefer, afirmou que o brilho
do astro tinha diminuído em mais de 15% no último século. A afirmação gerou polêmica, porque uma queda
no brilho durante várias décadas parece quase impossível. O brilho das estrelas segue quase constante por
bilhões de anos depois de seu nascimento e só sofre mudanças rápidas pouco antes de a estrela morrer. E as
mudanças “rápidas” ocorrem numa escala temporal de milhões (ou bilhões) de anos, sendo acompanhadas de
marcadores claros que não se veem na EdB. Segundo várias outras medidas, a estrela está na meia-idade. Não
há evidências de que seja uma estrela variável, que pulsa num ritmo regular.
Precisamos explicar então dois fenômenos incompreensíveis relacionados à EdB: depressões profundas e ir-
regulares com duração de dias ou semanas e um escurecimento ao longo de pelo menos quatro anos (e possivel-
mente por todo o século passado). Embora os astrônomos prefiram uma única explicação para os dois fenôme-
nos, se cada um é difícil de explicar, imagine como é difícil explicar os dois juntos. Alguns cenários propostos:
Disco de gás e poeira
As depressões irregulares e a redução de brilho da EdB por longos períodos são observadas em outras situa-
ções – em estrelas muito jovens, com planetas ainda em formação. Elas são rodeadas por discos de ar e poeira
aquecidos pela luz da estrela que, no processo de formarem planetas, geram caroços, anéis e arcos. Nos discos
observados de lado, esses aspectos podem reduzir a luz da estrela por curtos períodos, e discos ondulantes po-
dem bloquear quantidades crescentes do brilho da estrela por décadas e séculos. Mas a estrela é de meia-idade,
não jovem, e não parece conter nenhum disco.
Buracos negros
Alguns membros do projeto em Yale sugerem que um buraco negro poderia estar envolvido. Ou seja, um
buraco negro de uma massa estelar numa órbita próxima em torno da EdB poderia bloquear a luz da estrela.
Mas essa hipótese é falha, porque o buraco negro arrastaria a estrela para um lado e para o outro, criando um
movimento oscilante detectável, algo que a equipe buscou e não achou.
Megaestruturas alienígenas
Uma sociedade alienígena teria construído uma quantidade absurda de painéis coletores de energia solar
com uma grande variedade de tamanhos e órbitas em torno da estrela. O efeito combinado dos painéis menores
do enxame seria bloquear parte da luz da estrela como uma tela translúcida.
[...]

Português 4C 57
Até que se obtenham mais medidas com outros equipamentos e mais análises de outras equipes, nossas
especulações sobre a EdB serão limitadas apenas por nossa imaginação e uma saudável dose de física. Como
acontece com os melhores quebra-cabeças da natureza, a jornada até chegarmos à verdade que está por trás
dessa estrela enigmática está longe de acabar.
(Kimberly Cartier e Jason Wright, Scientific American – Brasil, no. 174, junho 2017, p. 46 a 49. Adaptado)
(UFPR) Elabore um resumo do texto acima que contemple as peculiaridades da estrela EdB, as explicações científicas
para esse comportamento e o posicionamento da revista.
Seu texto deve:
• ter de 12 a 15 linhas;
• respeitar as características de um resumo;
• ser elaborado com suas próprias palavras.

Exemplos de redação Para explicar, Cartier e Wright recorreram a as-


trônomos que levantaram 3 situações. A 1ª. supõe
Exemplo 01 que, embora na meia-idade e não possua discos
de gás e poeira, as depressões são associadas às
Kimberly Cartier e Jason Wright, em texto para estrelas jovens, que possuem os discos. A 2ª. não é
a Scientific American Brasil, de junho de 2017, possível ocorrer, pois atribui-se a buracos negros,
apresentam um astro peculiar. Chamada de es- mas a estrela não os possui ao seu redor. A 3ª. en-
trela de Boyajian ou EdB, esse astro possui uma volve captação de energia solar por alienígenas,
curva de luz (gráfico da luminosidade conforme com as placas ofuscando seu brilho. Os autores
o tempo) que mostra mudanças de brilho sem dizem que a explicação definitiva está longe de
explicação, conforme observado pela astrônoma ser descoberta.
Tabetha Boyajian.
Além disso, de acordo com o astrônomo
Bradley Schaefer, o brilho da estrela diminuiu cerca Exemplo 03
de 15% no último século, algo que acontece ape-
nas perto da morte do astro e demora milhões de No texto, publicado em junho de 2017 na
anos – longe do caso da EdB. Para explicar o fenô- “Scientific American”, Kimberly Cartier e Jason
meno, cientistas sugeriram várias hipóteses, de dis- Wright expõem possíveis explicações para o com-
cos de poeira e buracos negros, até painéis de ener- portamento peculiar da estrela de Boyajian (EdB),
gia solar construídos por uma avançada sociedade identificado pela astrônoma americana Tabetha
alienígena. Apesar das variadas teorias, a Scientific Boyajian. Esta observou curvas de luz da EdB que
American Brasil entende que não é possível opinar desafiam a lógica. Além disso, o astrônomo ame-
sobre as possíveis causas desse fenômeno. ricano Bradley Schaefer afirmou que houve uma
diminuição do brilho da estrela no último século,
o que gerou grande polêmica. Afinal, trata-se de
Exemplo 02 um fenômeno que parece quase impossível.
Os autores desse artigo apontam três possibilida-
O texto de Kimberly Cartier e Jason Wright, des para tentarem explicar as depressões profundas
publicado na Scientific American, conta a histó- e irregulares e o escurecimento do astro. A primei-
ria da descoberta de uma estrela que apresenta ra é a possível existência de disco de gás e poeira,
características diferentes dos outros astros. Dois o que pode reduzir a luz e gerar arcos, porém, se-
astrônomos americanos, Tabetha Boyajian e gundo os autores, a estrela não parece apresentar
Bradley Schaefer, observaram dois comportamen- nenhum disco. Outra especulação é a influência
tos anormais da estrela de Boyajian (EdB), moni- de buracos negros, mas os autores alegam que essa
torada pelo telescópio Kepler da NASA. Essa es- hipótese não é válida, pois esse fato criaria um mo-
trela apresentava flutuações desconhecidas, com vimento oscilante que seria detectável pelos estu-
uma curva de luz (gráfico de seu brilho ao longo diosos, o que não ocorreu. Possíveis megaestruturas
dos anos) de duração variável entre dias e sema- alienígenas também foram citadas – painéis cole-
nas e que, no último século, seu brilho reduziu tores de energia solar. Todavia, o artigo revela que
em 15%. Segundo os autores, a estrela está na essas especulações sobre a EdB ficarão limitadas à
meia-idade, o que parece quase impossível, pois imaginação e uma dose de física, até que surjam
o brilho de uma estrela permanece constante até novas conclusões feitas por novas análises e outros
perto de sua morte. equipamentos.

58 Extensivo Terceirão
Aula 16

Testes
Assimilação terrupta operação de troca e circulação globais.
Em seus excessos empresariais, o projeto é uma
Instrução: Leia o excerto do livro 24/7: capitalismo tardio e expressão hiperbólica de uma intolerância institu-
os fins do sono de Jonathan Crary para responder às ques- cional a tudo que obscureça ou impeça uma situa-
tões) 16.01 e 16.02. ção de visibilidade instrumentalizada e constante.
(24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, 2014. Adaptado.)

No fim dos anos 1990, um consórcio espacial


russo-europeu anunciou que construiria e lançaria 16.01. (UNIFESP) – Considerando as pretensões do projeto,
satélites que refletiriam a luz do Sol para a Terra. o slogan do consórcio “Luz do dia a noite toda” mostra-se
O esquema previa colocar em órbita uma cadeia
a) absurdo.
de satélites, sincronizados com o Sol, a uma al-
titude de quilômetros, cada um deles equipado b) contraditório.
com refletores parabólicos retráteis, da espessura c) ambíguo.
de uma folha de papel. Quando completamente d) apropriado.
abertos, cada satélite-espelho, com duzentos me- e) irônico.
tros de diâmetro, teria a capacidade de iluminar
uma área da Terra de quilômetros quadrados, com 16.02. (UNIFESP) – Em relação ao projeto, a postura do
uma luminosidade quase cem vezes maior do que autor é de
a da Lua. Em princípio, o projeto visava fornecer a) indiferença.
iluminação para a exploração industrial de recur- b) imparcialidade.
sos naturais em regiões remotas com longas noites
c) neutralidade.
polares, na Sibéria e no leste da Rússia, permitin-
do atividade ao ar livre, noite e dia. Mas o consór- d) apoio.
cio acabou expandindo seus planos para a possi- e) oposição.
bilidade de oferecer iluminação noturna a regiões
metropolitanas inteiras. Calculando que se reduzi- Instrução: Leia o texto a seguir e responda 16.03 e 16.04.
riam os custos de energia da iluminação elétrica,
o slogan da empresa era “Luz do dia a noite toda”. O promotor de justiça Alexandre Couto Jo-
A oposição ao projeto surgiu de imediato e de ppert foi afastado temporariamente da banca
diversas frentes. Astrônomos temeram os efeitos examinadora de um concurso para o Ministério
nefastos da observação espacial a partir da Terra. Público do Estado do Rio de Janeiro e será alvo de
Cientistas e ambientalistas apontaram consequ- uma investigação da própria Promotoria. Exami-
ências fisiológicas prejudiciais tanto aos animais nador de Direito Penal, durante uma prova oral,
quanto aos humanos, uma vez que a ausência de ele narrou um caso hipotético de estupro coletivo
alternância regular entre dia e noite interromperia e disse que o criminoso que praticou a conjunção
vários padrões metabólicos, inclusive o sono. As- carnal “ficou com a melhor parte, dependendo da
sociações culturais e humanitárias também pro- vítima”. A prova é aberta ao público e algumas
testaram, alegando que o céu noturno é um bem pessoas gravaram a afirmação do promotor. “Um
comum ao qual toda a humanidade tem direito, e (criminoso) segura, outro aponta a arma, outro
que desfrutar da escuridão da noite e observar as guarnece a porta da casa, outro mantém a con-
estrelas é um direito humano básico que nenhu- junção – ficou com a melhor parte, dependendo
ma empresa pode eliminar. De qualquer modo, da vítima – mantém a conjunção carnal e o ou-
direito ou privilégio, ele já está sendo violado tro fica com o carro ligado pra assegurar a fuga”,
para mais da metade da população do planeta, em narrou o promotor. Divulgada em redes sociais, a
cidades que estão permanentemente envoltas na afirmação causou revolta. Muitas pessoas acusam
penumbra da poluição e na intensa iluminação. o promotor de difundir a cultura do estupro. Em
Defensores do projeto, todavia, afirmaram que nota, o procurador-geral de Justiça do Estado do
tal tecnologia diminuiria o uso noturno de eletri- Rio de Janeiro, Marfan Martins Vieira, informou
cidade e que a perda da noite e de sua escuridão ter instaurado inquérito para apurar a conduta
seria um preço razoável, considerando-se a redu- do promotor, além de afastá-lo da banca exami-
ção do consumo global de energia. Seja como for, nadora “até a conclusão da apuração dos fatos”.
esse empreendimento, ao fim inviável, ilustra o Autor de livros jurídicos, Joppert atua na Assesso-
imaginário contemporâneo, para o qual um esta- ria de Atribuição Originária em Matéria Criminal
do de iluminação contínua é inseparável da inin- do Ministério Público, setor subordinado à Sub-

Português 4C 59
procuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Insti- tiva, no entanto, foi muitas vezes recusada pela
tucionais e Judiciais. O promotor divulgou nota própria literatura, que em diversas ocasiões va-
em que afirma ter sido mal interpretado, já que leu-se de elementos e pensamentos matemáticos
se referia ao ponto de vista do criminoso. “Ao me como forma de melhor explorar sua potenciali-
referir ao fato do executor do ato sexual coercitivo dade e de amplificar suas possibilidades criativas.
ter ficado com a melhor parte”, estava tratando da A utilização da matemática no campo literário
“opinião hipotética do próprio praticante daquele se dá por meio das diversas estruturas e rigores,
odioso crime contra a dignidade sexual”. mas também através da apresentação, reflexão e
Adaptado de: GRELLET, F. Polêmica sobre estupro afasta transformação em matéria narrativa de problemas
promotor. Folha de Londrina. 24 jun. 2016. Geral. p. 7. de ordem lógica. Nenhuma leitura é única: o texto,
por si só, não diz nada; ele só vai produzir sentido
no momento em que há a recepção por parte do
16.03. (UEL – PR) – Assinale a alternativa que apresenta,
leitor. A matemática pode, também, potencializar
corretamente, um fato confirmado pelo texto.
o texto, tornando ainda mais amplo o seu campo
a) A gravação do caso narrado pelo promotor está asso- de leituras possíveis a partir de regras ou restrições.
ciada à repercussão, nas redes sociais, da absolvição dos
Muitas passagens de Alice no País das Maravi-
estupradores.
lhas e Alice através do espelho, de Lewis Carroll,
b) A má interpretação do texto do promotor é atribuída ao estão repletas de enigmas e problemas que até
praticante do crime de estupro. os dias de hoje permitem aos leitores múltiplas
c) As redes sociais contribuíram para o afastamento do interpretações. Edgar Allan Poe é outro escritor
promotor da banca examinadora do concurso. a construir personagens que utilizam exaustiva-
d) Alexandre Couto Joppert foi vítima de gravações ilícitas mente a lógica matemática como instrumento
que constituíam estratégias do inquérito sobre sua atu- para a resolução dos enigmas propostos.
ação como promotor. Explorar as relações entre literatura e matemá-
e) O caso hipotético narrado pelo promotor reduz o impacto tica é resgatar o romantismo grego da possibilida-
da cultura do estupro, pois leva a interpretar o crime como de do encontro de todas as ciências. É fazer uma
uma artimanha da vítima. viagem pelo mundo das letras e dos números, da
literatura comparada e das ficções e romances de
16.04. (UEL – PR) – Com base no texto, assinale a alternativa diversos autores que beberam (e continuarão be-
correta. bendo) de diversas e potenciais fontes científicas,
a) Ao somar o termo “hipotético” à expressão “estupro co- poéticas e matemáticas.
letivo”, o produtor do texto emite uma opinião negativa <http://tinyurl.com/h9z7jot > Acesso em: 17.08.2016. Adaptado.
sobre o assunto.
b) A expressão “estupro coletivo” revela a subjetividade do
produtor do texto, pois se distancia do episódio narrado 16.05. (FATEC – SP) – Segundo o texto, pode-se afirmar que
pelo promotor. a) a separação entre Literatura e Matemática tem origem
no romantismo grego.
c) O termo “coletivo” revela uma espécie de preconceito
sexista contra a vítima do crime. b) a separação entre Literatura e Matemática é necessária,
pois a lógica só está presente em uma delas.
d) De acordo com a repercussão ruim do caso, o termo
“coletivo” foi empregado inadequadamente, visto que c) a relação entre Literatura e Matemática prejudica os
apresenta um tom pejorativo. leitores, por apresentar problemas e enigmas.
e) A expressão “opinião hipotética” é um recurso utilizado d) a relação entre Literatura e Matemática só é possível
pelo promotor para se eximir de avaliação comprome- quando as letras e os números são vistos como símbolos
tedora sobre o crime. opostos.
e) a relação entre Literatura e Matemática faz com que as
produções artísticas se apresentem de maneira integrada
Aperfeiçoamento e produtiva.

Instrução: Leia o texto de Jacques Fux para responder à Instrução: Leia o texto abaixo para responder à questão
questão 16.05. 16.06.

Literatura e Matemática Pedestre, a medida de todas as coisas


Letras e números costumam ser vistos como Na palestra que fiz mês passado no seminário
símbolos opostos, correspondentes a sistemas de A Mobilidade a Pé e o Futuro do Recife, organi-
pensamento e linguagens completamente diferen- zado pelo INTG – Instituto da Gestão e apoia-
tes e, muitas vezes, incomunicáveis. Essa perspec- do pelo Cesar, pela Urbana/PE e pela Fiepe, tive

60 Extensivo Terceirão
Aula 16

b) No trecho: “O planejamento urbano tradicional, o que


oportunidade de falar sobre a importância crucial se aprende na escola e amiúde se aplica por aí” (3o. pa-
do pedestre para o urbanismo contemporâneo. rágrafo), o termo destacado representa uma retomada
Esse seminário regional foi um desdobramento de “na escola”.
no Recife do seminário internacional Cidades A
Pé, realizado em São Paulo no mês de novembro c) No trecho: “Se isso fosse feito, com certeza, não teríamos
do ano passado. muitas das atrocidades que suportamos nas cidades
brasileiras andando por elas…” (3o. parágrafo), o autor
Disse que, embora graduado em Arquitetura e
obriga o leitor a relacionar o segmento sublinhado com
Urbanismo pela UFPE, só fui entender o que con-
os parágrafos anteriores, nos quais algumas atrocidades
sidero vital na questão urbana atual depois que
andei milhares de quilômetros no Recife. Depois, foram listadas.
portanto, que, na prática, me “pós-graduei” pelos d) No trecho: “Que o digam Jan Gerl [...] e Jeff Speck [...]” (4o.
pés. O essencial do que aprendi foi que se o pe- parágrafo), o termo destacado indica o complemento do
destre se sente mal no solo é porque o urbanismo verbo ‘dizer’ e se refere às afirmações feitas pelo autor, nos
é ruim e o planejamento urbano, se houve, falhou. períodos imediatamente anteriores, no texto.
O planejamento urbano tradicional, o que se e) Para compreender o segmento destacado no trecho: “Que
aprende na escola e amiúde se aplica por aí, começa o digam as cidades da Europa e, já, muitas dos EUA, além
olhando o espaço pelo satélite (ainda mais agora com de praticamente todas as capitais latino-americanas…” (4o.
a proliferação das tecnologias de internet…), depois parágrafo), o leitor deve completar a seguinte informação
“desce” para o mapa, para a planta, para o detalhe e que está implícita: “muitas pessoas dos EUA”.
termina por não chegar ao nível do chão, de quem
está andando na rua. Depois de gastar muita sola Instrução: Texto para a próxima questão.
de sapato por aí, defendo que haja uma inversão de
sentido, que o planejamento comece pelo chão, por A televisão
onde anda o pedestre e, aí, vá “subindo” até chegar (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Belloto)
ao satélite. Se isso fosse feito, com certeza, não terí-
amos muitas das atrocidades que suportamos nas A televisão
cidades brasileiras andando por elas… Me deixou burro
Na Grécia antiga, a filosofia pré-socrática de- Muito burro demais
fendia que “o homem é a medida de todas as coi- Oh! Oh! Oh!
sas”. Na cidade, a medida de todas as coisas, sem Agora todas coisas
a menor sombra de dúvida, é o pedestre! Não en- Que eu penso
tender isso é ficar na contramão da história con- Me parecem iguais
temporânea do urbanismo. Que o digam Jan Gerl Oh! Oh! Oh!
com seu consagrado livro “Cidade para as Pesso-
as” e Jeff Speck com o seu excelente livro “Cidade O sorvete me deixou gripado
Caminhável”. Que o digam as cidades da Europa Pelo resto da vida
e, já, muitas dos EUA, além de praticamente todas E agora toda noite
as capitais latino-americanas… Quando deito
Já existem, inclusive, um conceito e um conjun- É boa noite, querida
to de indicadores que ajudam a materializar essa
tendência. Trata-se, o conceito, do Walkability e o Oh! Cride, fala pra mãe
conjunto de indicadores, do Walk Score que me- Que eu nunca li num livro
dem o quanto “caminhável” é determinado local, Que o espirro
bairro ou cidade. Temos que seguir por aí. Afinal, Fosse um vírus sem cura
como repete aquele complemento de comercial de Vê se me entende
rádio e TV, independente do meio de transporte Pelo menos uma vez
que utilizemos, “na cidade, todos somos pedestres”. Criatura!
Francisco Cunha. In: Revista Algomais, ano 11,
n. 124, julho de 2016, p. 50. Adaptado. Oh! Cride, fala pra mãe!
A mãe diz pra eu fazer
Alguma coisa
16.06. (UPE – PE) – Considerando os recursos utilizados Mas eu não faço nada
para assegurar a coesão e a coerência do texto “Pedestre, a Oh! Oh! Oh!
medida de todas as coisas”, assinale a alternativa CORRETA. A luz do sol me incomoda
a) A opção por iniciar o segundo parágrafo por “Disse que...” Então deixa
se configura como um equívoco nos elos coesivos do A cortina fechada
texto, pois nele não são fornecidas informações que Oh! Oh! Oh!
contextualizem a ação de ‘dizer’.
Português 4C 61
e) “Oh! Cride, fala pra mãe
É que a televisão
Que tudo que a antena captar
Me deixou burro
Muito burro demais Meu coração captura”.
E agora eu vivo
Instrução: Leia o texto a seguir e responda 16.08 a 16.10.
Dentro dessa jaula
Junto dos animais
Pratique o apego. Não seja descartável
Oh! Cride, fala pra mãe Rebeca Bedone
Que tudo que a antena captar
Meu coração captura Nunca se falou e escreveu tanto sobre ser fe-
Vê se me entende liz sozinho. Eu mesma já abordei este assunto al-
Pelo menos uma vez gumas vezes e continuo acreditando que é bem
Criatura! melhor estar só do que mal acompanhada. Entre-
Oh! Cride, fala pra mãe! tanto, vivemos atualmente uma “cultura do de-
Titãs. Televisão. Lp. Gravadora WEA, 1985. sapego” que tem colocado a pessoa na defensiva
antes mesmo de ela iniciar uma paquera ou uma
nova amizade. Estão confundindo independência
16.07. (UFJF – MG) – Leia o texto abaixo e responda: emocional com desapego.
Ser independente emocionalmente é estar
O mito ou “Alegoria” da caverna é uma das bem consigo mesmo, sozinho, como unidade,
passagens mais clássicas da história da Filoso- pois não é preciso outra pessoa para se sentir
fia, sendo parte constituinte do livro VI de “A completo. Em outras palavras, é não ser depen-
República” onde Platão discute sobre teoria do dente da aprovação alheia para a própria felicida-
conhecimento, linguagem e educação na forma- de nem sentir ciúmes do amigo ou do parceiro o
ção do Estado ideal. A narrativa expressa drama- tempo todo. Entretanto, ter independência emo-
ticamente a imagem de prisioneiros que desde o cional não significa abdicar da união sentimental
nascimento são acorrentados no interior de uma com alguém. É possível estar com o outro – com
caverna de modo que olhem somente para uma mimos, declarações de carinho e até mesmo con-
parede iluminada por uma fogueira. Essa ilumina tato diário – sem ser dependente dele.
um palco onde estátuas dos seres como homem,
planta, animais etc. são manipuladas, como que Desapego é o não apego, ou seja, é desligar-se
representando o cotidiano desses seres. No en- de algo ou alguém. Abrir mão de objetos e bens
tanto, as sombras das estátuas são projetadas na materiais é um desprendimento sadio e demons-
parede, sendo a única imagem que aqueles pri- tra evolução espiritual. Mas ao se cultuar o desa-
sioneiros conseguem enxergar. Com o correr do pego sentimental (“não vou demonstrar a minha
tempo, os homens dão nomes a essas sombras (tal afeição para não parecer fraco”, “se ele não me
como nós damos às coisas) e também à regulari- procura, também não irei procurá-lo”, “não pre-
dade de aparições destas. ciso de ninguém” e “vou demorar para responder
a mensagem para deixá-lo esperando”), criam-se,
Fonte: Disponível em http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/
mito-caverna-platao.htm. Acessado em 18/10/2016.
desde o início de qualquer relação afetiva, laços
sentimentais frágeis.
A passagem do texto I que melhor se articula com a ideia Parece que a onda agora é se esforçar cada
central do “mito da caverna” é: vez menos para estar ao lado de alguém na esfera
sentimental. Talvez por insegurança, talvez para
a) “A televisão evitar qualquer tipo de sofrimento. Acontece que
Me deixou burro amar não é sofrer. A gente sofre depois que o amor
Muito burro demais”. acaba. Mas enquanto ele existe, é um sentimento
b) “Que eu nunca li num livro tão honesto que somos capazes de respeitar a in-
Que o espirro dependência emocional do outro sem romper os
Fosse um vírus sem cura”. vínculos afetivos com ele.
c) “A mãe diz pra eu fazer Após o término de uma relação que não deu
certo, é normal o distanciamento, ou seja, o en-
Alguma coisa
cerramento daquela etapa da vida. Mas quem
Mas eu não faço nada”. inicia um relacionamento pensando “vou ficar na
d) “A luz do sol me incomoda minha para não me apegar muito” já está termi-
Então deixa nando antes mesmo de começar.
A cortina fechada”.

62 Extensivo Terceirão
Aula 16

Os relacionamentos superficiais são fruto des-


sa nova “cultura do desapego”: falta contato físi- Aprofundamento
co e sobra frieza emocional. A qualquer contra-
tempo na relação, desiste-se da pessoa e parte-se Instrução: Texto para a próxima questão.
para outra. Troca-se de namorado como se troca Este material publicitário foi criado com o propósito de
de roupa. Evita-se a amizade. Criam-se relaciona- sensibilizar as pessoas e de despertar nelas uma atitude de
mentos descartáveis. Pessoas descartáveis. Sorri- conscientização no que refere à violência contra a criança.
sos descartáveis. Gente descrente. Zack Magiezi
resume, em outras palavras, essa falta de ligação
com o outro: “No século 21, só os corajosos sa-
bem dizer: preciso de você”.
Está sobrando gente desapegada e está fal-
tando abraço apertado, beijo molhado e carinho
no peito. Tem muito grito de individualismo (ou
seja, de independência egoísta) para pouco silên-
cio compartilhado. As pessoas se comunicam via
cosmos com suas parafernálias tecnológicas e se
esquecem da simplicidade do olho no olho.
É natural desapegar-se do que não te faz bem
ou daquilo que te traz infelicidade, mas não é
saudável levar uma vida desapegada das pessoas.
Os desapegados renunciam aos seus sentimentos.
Eles até podem ser felizes sozinhos, mas nunca
aprenderão como é bom estar junto de outra pes-
soa.
Disponível em: <http://www.revistabula.com/7559-pratique-o-
apego-nao-seja-descartavel/>. Acesso em: 31 out. 2016.

16.08. (UFJF – MG) – A autora usou expressões coloquiais


para:
a) revelar que acredita nas relações amorosas.
b) argumentar em favor de uma atitude desapegada. Disponível em: <https://temporalcerebral.com.br/melhores-campanhas-
publicitarias-2017-1/>. Adaptado. Acesso em: 11 ago. 2018)
c) retratar uma situação cotidiana e muito corriqueira.
d) defender vínculos mais fortes entre as pessoas.
16.11. (UPF – RS) – As figuras de linguagem e de pensamen-
e) tornar seu texto mais próximo do leitor. to são recursos ou estratégias que podem ser aplicados ao
16.09. (UFJF – MG) – Segundo o texto, é característica da texto. Tendo por base a campanha publicitária apresentada e
pessoa emocionalmente independente: os enunciados “Cintos são para serem vestidos, não temidos”
e “Não há desculpas para os maus-tratos contra as crianças”,
a) ter ciúme do parceiro.
é correto o que se afirma em:
b) viver sempre sozinho.
a) A referência aos “maus-tratos contra as crianças” e a utili-
c) não depender do outro. zação de uma cinta para associar essa ideia à de um cão
d) não se preocupar com o outro. feroz constitui uma prosopopeia, ou personificação, que
e) não ser carinhoso com o outro. consiste na atribuição de características humanas a seres
irracionais ou coisas inanimadas.
16.10. (UFJF – MG) – No trecho: “Criam-se relacionamentos
b) A oposição entre os verbos “vestir” (“vestidos”) e “temer”
descartáveis. Pessoas descartáveis. Sorrisos descartáveis.”, a
(“temidos”) constitui um paradoxo, que coloca em circu-
repetição da palavra “descartáveis” tem como efeito principal
lação ideias contrárias entre si.
a) provocar o riso.
c) O uso da palavra “desculpa” caracteriza uma ironia, pois
b) enfatizar uma ideia. está expressando uma ideia diferente ou contrária àquela
c) indicar uma progressão. originalmente posta, uma vez que a campanha não faz
d) ironizar os apaixonados. referência à ação de desculpar-se ou de ser perdoado.
e) criticar os relacionamentos. d) A utilização da imagem do cão constitui uma comparação,
eis que compara elementos diferentes que apresentam
uma característica em comum: o cão e a violência contra
as crianças.

Português 4C 63
e) O uso da expressão “maus-tratos” pode ser considerado c) Diferenças linguísticas em outros países, como Angola,
um eufemismo, pois, dada a natureza forte da publici- Moçambique, Cabo Verde, Timor Leste e São Tomé e
dade, essa escolha suaviza um discurso mais chocante, Príncipe, são tão pequenas que não chegam a caracterizar
que poderia ter palavras como “agressões” ou “violência”. línguas diferentes.
d) As alterações linguísticas entre Portugal e Brasil ocorrem
Instrução: Texto para a próxima questão. principalmente, por serem mais verificáveis, no campo
da escrita.
“É Brasileiro, já passou de Português...” e) O signo linguístico não necessita, para sua existência, de
A ideia de uma língua única, que não se altera, um caráter motivado.
é um mito, pois a heterogeneidade social e cultu-
ral implica a heterogeneidade linguística. Instrução: Texto para a próxima questão.
(...)
Embora Brasil Espaço seguro
e Portugal tenham Em algumas universida-
ersida-
uma língua comum, des norte-americanas,
nas,
é nítido a qualquer as autoridades cria--
falante do portu- ram áreas especiais,
guês que existem demarcadas com
diferenças entre o o selo safe space
português falado (espaço seguro). O
nos dois países – “espaço seguro” não
claro que elas também existem com relação aos se resume, como se
demais países de língua portuguesa. (...) Essas pode imaginar, a umama
diferenças são tão grandes que podemos afirmar área onde jovens podemdem
que no Brasil se fala uma língua diferente da de brincar com tranquilida-
lida-
Portugal, que os linguistas denominaram de por- de, livres de drogas, assaltos ou outros aciden-
tuguês brasileiro. Isso é tão evidente que, se você tes. O conceito recebeu um upgrade e passou a
observar um processador de textos, o Word, por abranger o trânsito de ideias e palavras no debate
exemplo, na ferramenta idiomas há as opções universitário.
português e português brasileiro ou português O “espaço seguro” destina-se, em princípio, a
(Brasil). Por quê? Como são línguas diferentes, o garantir a determinadas minorias uma abertura
corretor automático do processador precisa saber “inclusiva”, com o objetivo de evitar ofensas ou
em que “língua” está sendo escrito o documento, “sentimentos odiosos”. É um espaço regido pela
pois o português europeu e o brasileiro seguem nova agenda dos direitos humanos. Incorpora-
regras diferentes. do à pauta da política estudantil, tornou-se um
Quando ouvimos um habitante de Portugal fa- expediente para evitar que certos assuntos po-
lando, percebemos imediatamente um uso diverso lêmicos sejam debatidos. A universidade fecha
da língua. A diferença mais perceptível é de ordem portas a determinadas avaliações, consideradas
fonológica, ou seja, na maneira de produzir os sons “inseguras” e abre outras a certas ideias e compor-
da língua. Identificamos rapidamente que ele fala tamentos tidos como direitos intocáveis.
português, porém com “sotaque ou acento lusita- Em linhas gerais, o objetivo dos criadores des-
no”. Se atentarmos com mais cuidado, percebere- se espaço é vedar a homofobia, a transfobia, a mi-
mos, entretanto, que as diferenças não são apenas soginia*, o racismo, o classismo, o machismo ou
de ordem fonológica. Há também diferenças sin- qualquer outra forma de discriminação definida
táticas (poucas) e lexicais. Um mesmo conceito é como lesiva ao estado psicológico alheio. Na prá-
designado por significantes diferentes, o que prova tica, qualquer um que se diga ofendido por esta
o caráter imotivado do signo linguístico. (...) ou aquela expressão acaba por encerrar o debate
(Ernani Terra, Revista Língua Portuguesa, adaptado, julho/2018) antes mesmo de começá-lo, mesmo que a avalia-
ção alheia seja dotada de racionalidade argumen-
tativa. Cabe notar que a lógica da ofensa é uma
16.12. (ESPM – SP) – O autor defende que: via de mão única. É a mão dos novos ditames pre-
a) Há diferenças linguísticas tão grandes, com regras tensamente éticos: como “não se pode ameaçar”
também tão diferentes, que se constatam duas línguas a segurança emocional alheia, então não se pode
diversas: o português de Portugal e o português europeu. fazer qualquer observação crítica válida que fira
b) Diferenças de ordem fonológica ocorrem quando um as emoções alheias. Tenho de imaginar quais são
mesmo significado é designado por significantes dife- as opções ideológicas e morais do outro e evitar
rentes. qualquer comentário que possa ferir os direitos

64 Extensivo Terceirão
Aula 16

16.13. (FEMPAR – PR) – Considere as frases a seguir.


dessas opções. Pela lógica, o mesmo caberia ao 1. Incorporado à pauta da política estudantil, o “espaço
outro em relação a mim mesmo. Mas não é bem seguro” tornou-se um expediente para evitar que as-
isso que acontece.
suntos polêmicos sejam debatidos, mesmo que haja
Se um estudante se queixa de uma “ameaça” argumentos consistentes para o contraditório.
real e imediata à sua “segurança” no ambiente
2. A universidade fecha portas a determinadas avaliações,
acadêmico, ele está, implicitamente, a reclamar
consideradas “inseguras”, e abre outras a certas ideias e
da “ameaça” de um discurso contrário, indeseja-
do, e a solicitar, por via dos “espaços seguros”, comportamentos tidos como direitos intocáveis.
uma espécie de sanção contra as moléstias emo- 3. Cabe notar que a lógica da ofensa é uma via de mão
cionais suscitadas por ideias tidas como ofensivas. única. É a mão dos novos ditames pretensamente éticos:
Alguém chega e diz que “a família, como união como “não se pode ameaçar” a segurança emocional
socialmente consagrada de um homem, uma mu- alheia, então não se pode fazer qualquer crítica válida
lher e seus filhos, é um fenômeno universal, pre- que fira as emoções alheias.
sente em todo e qualquer tipo de sociedade”. No 4. A sequência será adaptar essas obras, e eliminar trechos
“espaço seguro” um outro se sente ofendido e dá ou significados que possam ofender os parâmetros
a resposta: “sua noção de família é homofóbica, dos “espaços seguros” da atualidade, a fim de que elas
reacionária, discriminatória contra as minorias, tornem-se seguras e conformes?
ofensiva a meus conceitos”. Ponto final na discus- 5. Chegará uma hora em que a minoria discordante será
são. Se o outro se sentiu ofendido, saia do espaço apontada como “minoria sem direitos”, a ser excluída
seguro, que não é seguro para ele. pela maioria das outras minorias licenciadas com direitos
Qual será o passo seguinte? Advertir em certos especiais pela nova ideologia.
livros que o conteúdo da obra é potencialmen-
Os itens que se seguem estão relacionados, respectivamente,
te ofensivo, por trazer risco de uma experiência
às frases acima. Avalie as afirmativas.
negativa ao leitor? Criar o índex de leituras proi-
bidas ou tarjadas como ofensivas? A divina co- ( ) Outra redação com o mesmo sentido: Embora haja ar-
média, de Dante, por disseminar o moralismo e gumentos consistentes para o contraditório, o “espaço
o preconceito; Caçadas de Pedrinho, de Lobato, seguro” foi incorporado à pauta da política estudantil
por ser racista; Orgulho e preconceito, de Austen, como forma de evitar que assuntos polêmicos sejam
por fomentar o patriarcalismo e a família heteros- debatidos.
sexual; Ilíada, por retratar a misoginia* homérica. ( ) Outra redação correta, com o mesmo sentido: Por fe-
A sequência será adaptar essas obras e eliminar char portas a determinadas avaliações, consideradas
trechos ou significados que possam ofender os “inseguras”, a universidade abre outras a certas ideias
parâmetros dos “espaços seguros” da atualidade, e comportamentos tidos como direitos intocáveis.
a fim de que elas se tornem seguras e conformes? ( ) Outra versão correta, com o mesmo sentido: Cabe no-
tar que a lógica da ofensa não é recíproca; é a das no-
Noutra época, quem desafiava a censura era vas imposições pretensamente éticas. Como “não se
tido como rebelde e herói. Hoje é visto como um pode ameaçar” a segurança emocional alheia, não se
intolerante, que não aceita aquilo que a nova pode fazer qualquer crítica válida que fira as emoções
cartilha biônica determina que seja obrigatoria- alheias.
mente aceito, independentemente das questões ( ) Uma redação correta: A sequência será adaptar essas
de valor envolvidas. Chegará uma hora em que a obras, eliminando trechos ou conotações que possam
minoria discordante será apontada pelo “grande ofender os critérios dos “espaços seguros” da atualida-
irmão” como “minoria sem direitos”, a ser exclu- de, para torná-las conformes e seguras?
ída pela maioria das outras minorias licenciadas ( ) Outra redação correta, com o mesmo sentido: Chega-
com direitos especiais pela nova ideologia. Aos rá a hora da minoria discordante ser apontada como
novos excluídos só restarão duas opções: ou o si- “minoria sem direitos” que deve ser excluída pela
lêncio ou a vida em “espaços inseguros” – zonas maioria licenciada com direitos especiais pela nova
marginais onde as ideias possam ser apreciadas ideologia.
pela coerência e pela solidez, não pelos subjeti-
vismos de quem não quer ter suas preferências
questionadas.
(*) misoginia: o desprezo contra as mulheres
ou aspectos do universo feminino.

(Adaptado de: FERNANDES, André Gonçalves.


Correio Popular, p. A2, 6 maio 2015)

Português 4C 65
Instrução: Texto para a próxima questão.

Como é usual no desenvolvimento de novas tecnologias, os 1drones também brotaram de centros milita-
res. Mas no Exército eles têm outro nome: veículos aéreos não tripulados (os 2vants). São aeronaves autôno-
mas, guiadas a distância por pilotos ou que navegam sozinhas, e que podem medir de poucos centímetros a
dezenas de metros de comprimento. No começo dos anos 2000, passaram a ser utilizadas regularmente em
missões do governo americano, e gradualmente substituem pilotos no campo de batalha. Se em 2009 3% da
tropa da Força Aérea dos Estados Unidos guiava os vants, agora a parcela é de ao menos 10%, e há queixas
de que não é o suficiente. E se no início eles substituíam soldados em tarefas arriscadas, agora solucionam até
dilemas morais típicos de situações de guerra, e que antes só humanos conseguiam resolver. Às 3máquinas
foram atribuídas decisões deontológicas. Quando foram concebidos, os vants eram totalmente guiados por
um controle remoto. Tudo que a 4máquina fazia era responder aos comandos de um humano. Mas cada vez
mais o homem se mostra dispensável. Os drones militares da década de 2010 contam com softwares dota-
dos de algoritmos capazes de não só guiá-los, mas de identificar alvos e decidir se é preciso abatê-los. Um
ex-operador de 5drones militares dos Estados Unidos revelou recentemente que as 6aeronaves rastreavam,
sozinhas, o celular de um inimigo e indicavam se era necessário executá-lo, mesmo que ele não fosse o dono
do 7aparelho, e com risco real de matar civis ao redor. Israel também divulgou a realização de testes com
um programa que fará com que drones solucionem dilemas éticos. Exemplo: se o dano colateral, a morte de
civis, for matematicamente mais prejudicial do que a execução de um alvo de menor relevância, a máquina
cancela o ataque. Fórmulas matemáticas, em vez de humanos, podem passar a reger o campo de batalha.
THOMAS, Jennifer Ann. Veja, 14 de fevereiro, 2015, p. 173. (Fragmento)

16.14. (UFU – MG) – No fragmento, uma das relações de coesão se estabelece por meio de
a) meronímia, o termo drones (ref. 1) constitui uma parte de vants (ref. 2).
b) hiperonímia, a relação existente entre um termo mais genérico, máquinas (ref. 3) e um mais específico, drones (ref. 5).
c) catáfora, o termo aeronaves (ref. 6) substitui o termo máquina (ref. 4).
d) anáfora, o termo drones (ref. 1) aponta para o termo aparelho (ref. 7).

16.15. (UFU – MG) – Assinale a alternativa cujo termo em negrito exprime um fato que NÃO pertence a um tempo deter-
minado.
a) Em 2014, uma tendência se consolidou: produtos digitais estão cada vez mais sendo vendidos do mesmo jeito que a
maioria das churrascarias serve carne: em sistemas de rodízio. Mas isso não quer dizer que o modelo esteja decidido.
(Superinteressante, ed. 34, fev. 2015, p. 20)
b) As inovações dão fôlego à civilização: quando um novo passo da ciência origina um produto disruptor, surgem mercados
que alimentam a economia. (Veja, 3 dez. 2014)
c) Especialistas têm desenvolvido treinos que ajudam a restaurar o equilíbrio. A reabilitação vestibular, por exemplo, envol-
ve atividades para os olhos e a cabeça que buscam estimular o cérebro a lidar com sinais distorcidos que vêm da orelha
interna. (Mente e Cérebro, Ano XXI, n. 265, p.31)
d) A busca por inovar, uma capacidade (até onde se sabe) exclusiva do Homo Sapiens, é o motor das engrenagens da civilização.
Inovações, sempre nascidas para solucionar necessidades pulsantes da humanidade, levam a transformações definitivas
no modo como produzimos e dão início a mudanças profundas nas relações humanas. (Veja, 3 dez. 2014)

Instrução: Texto para a próxima questão.

Quando se fala em ciência, é fundamental levar em conta a imparcialidade e o olhar objetivo; porém,
todo pesquisador está inserido em um contexto cultural e afetivo; aquilo que o profissional viveu, bem como
suas características pessoais, pode trazer perspectivas novas e valiosas para a observação e a compreensão de
um objeto ou fenômeno.
Revista Mente e Cérebro, Ano XXI, n. 265, p. 56 (Fragmento).

16.16. (UFU – MG) – Em relação à proposição em negrito, é INCORRETO afirmar que sua função é
a) apresentar um evento real, para que a proposição que lhe sucede seja tida como consequência necessária.
b) acrescentar informações adicionais ao que se quer priorizar como informação principal.
c) marcar uma condição que, uma vez preenchida, tornará aceitável o conteúdo que lhe sucede.
d) expressar um tempo posterior ao que se afirma na proposição que lhe sucede.
66 Extensivo Terceirão
Aula 16

Instrução: Texto para a próxima questão. Texto 2

As redes sociais permitem que qualquer pes- É melhor que o sujeito comece a ler através
soa se torne uma formadora de opinião, quando, de uma adaptação bem feita de um clássico do
em verdade, o melhor seria promover indivídu- que seja obrigado a ler um texto ilegível e incom-
os formadores de cultura e de conhecimento. O preensível segundo a linguagem e os parâmetros
psiquiatra espanhol Enrique Rojas (1949) postu- culturais atuais. Depois que leu a adaptação, ele
la que “estamos cada vez mais bem informados, pode pegar o gosto, entrar no processo de leitura e
mas essa minuciosa e milimétrica informação não eventualmente se interessar por ler o Machadão no
é formativa: nunca vem acompanhada de certos original. Agora, dar uma machadada em um mole-
tons positivos que ajudam a se enriquecer inte- que que tem PS3, Xbox, 1000 canais a cabo e toda
riormente, a ser mais completo, mais sólido; em a internet à disposição é simplesmente burrice.
uma palavra, mais humano – com mais critério, (Ronaldo Bressane. http://entretenimento.uol.com.br)
melhor.
BITTENCOURT, Renato Nunes. Filosofia, ciência & Texto 3
vida, n. 98, set. 2014 p. 55 (Fragmento).

Não defenderia, jamais, que Secco [autora da


16.17. (UFU – MG) – De acordo com o texto, assinale a adaptação] fosse impedida de realizar seu projeto,
alternativa INCORRETA. mas não me parece que a proposta devesse me-
a) Na proposição que se inicia com “quando, em verdade”, o recer apoio do Ministério da Cultura e ser reali-
autor lança mão de estratégia para contrapor um argu- zada com a ajuda de leis que, afinal, transferem
mento mais contundente. impostos para a cultura. Trata-se, na melhor das
b) O trecho “mas essa minuciosa e milimétrica informação hipóteses, de ingenuidade; na pior, de excesso de
não é formativa” constitui-se como uma asserção passível “sagacidade”. Não será a adulteração de obras,
para torná-las supostamente mais legíveis por ig-
de ser rotulada como falsa.
norantes, que irá resolver o problema do acesso a
c) A presença dos dois-pontos no texto tem por função textos literários históricos – mesmo porque, adul-
introduzir uma explicação e um argumento, fundamen- terados, já terão deixado de ser o que eram.
tando a opinião de Rojas.
(Marcos Augusto Gonçalves. http://www.folha.uol.com.br)
d) O trecho “As redes sociais permitem que qualquer pessoa
se torne uma formadora de opinião [...]” constitui-se como
uma proposição provocadora de um questionamento 16.18. (UNIFESP) – Em relação à questão da facilitação das
quanto à sua legitimidade, suscitando o desejo de defesa obras machadianas, a leitura comparativa dos textos deixa
de uma tese. claro que eles
a) mantêm alguns pontos de concordância, havendo em 3
Instrução: Para responder à questão 16.18., leia as opiniões uma clara evidência de que se deve coibir essa iniciativa.
em relação ao projeto de adaptação que visa facilitar obras b) externam uma visão bastante romantizada, o que se pode
de Machado de Assis. confirmar com a defesa que 2 faz do alcance do projeto.
Texto 1 c) expressam o mesmo ponto de vista, o que pode ser
confirmado em 3 pela anuência ao apoio do Ministério
Isso é um assassinato e eu endosso. A autora da Cultura.
[da adaptação] quer que a Academia se manifeste. d) divergem quanto ao apoio financeiro, defendido clara-
Para ela, vai ser a glória. Mas vários acadêmicos mente em 2, velado em 3 e negado veementemente em 1.
se manifestaram. Eu me manifestei. Há temas em e) apresentam posicionamentos diferentes, sendo que 1
que a instituição não pode se baratear. Essa mu-
expressa sua ideia de contrariedade de forma bastante
lher quer que nós tenhamos essa discussão como
radical.
se ela estivesse propondo a ressurreição eterna de
Machado de Assis, como se ele dependesse dela.
Confio na vigilância da sociedade. Vamos para a
rua protestar.
(Nélida Piñon. http://entretenimento.uol.com.br)

Português 4C 67
Desafio
16.19. (UNICAMP – SP) – Texto para a próxima questão:

Alguém já escreveu que a internet é um instrumento democrático. Tomada ao pé da letra, essa afirmação
é falsa. Eu gostaria de corrigi-la, acrescentando: a internet é um instrumento potencialmente democrático.
Para fazer uma pesquisa navegando na web, precisamos saber como dominar os instrumentos do conhe-
cimento: em outras palavras, precisamos dispor de um privilégio cultural que é ligado ao privilégio social.
As escolas precisam da internet, mas a internet precisa de uma escola onde o ensino real acontece. A in-
ternet não apenas faz referência aos livros, mas pressupõe livros. A leitura fragmentada em palavras e frases
isoladas do contexto integral sempre foi parte da leitura de cada um, mas o livro é o instrumento que nos
ensina a dominar a extraordinária velocidade da internet – para ser capaz de usá-la, você precisa aprender a
“ler devagar”.
Não consigo imaginar que alguém possa aprender sozinho, sem modelos, a prática profundamente arti-
ficial da leitura lenta. Daí a internet pressupor não apenas os livros, mas também aqueles que ensinam a ler
livros – ou seja, professores em carne e osso.
(Adaptado de “Carlo Ginzburg: a internet é um instrumento potencialmente democrático”. Disponível em http://www.fronteiras.com/artigos/
carlo-ginzburg-ainternet-nao-apenas-remete-aos-livros-como-tambem-pressupoe-livros-1427135419. Acessado em 02/09/2018.)

a) De que argumentos o autor se vale para refutar a afirmação de que a internet é um instrumento democrático?

b) Explique por que a internet pressupõe “professores em carne e osso” e livros.

16.20. (FUVEST – SP) – Leia o texto.

Tio Ben cravou pouco antes de falecer: “grandes poderes nunca vêm sozinhos”. E não há responsabilidade
maior do que tirar a vida de alguém. Isso, no entanto, não significa que super-heróis tenham a ficha comple-
tamente limpa. Na verdade, uma olhada mais atenta nos filmes sobre os personagens confirma uma teoria
não tão inocente – a grande maioria deles é homicida.
Foi pensando nisso que um usuário do Reddit, identificado como T0M95, resolveu planilhar os assassi-
natos que acontecem nos filmes da Marvel. Nos 20 longas, que saíram nos últimos 10 anos, foram 65 mortes
– e 20 delas deixaram sangue nas mãos dos mocinhos.

68 Extensivo Terceirão
Aula 16

Vale dizer que o usuário contabilizou apenas mortes relevantes à história: só entraram na planilha vítimas
que tinham, pelo menos, nome antes de baterem as botas. Nada de figurantes ou bonecos criados em com-
putação gráfica só para dar volume a uma tragédia. Ficaram de fora, por exemplo, as centenas que morreram
durante a batalha de Wakanda, em “Vingadores: Guerra Infinita”, ou a cena de “Guardiões da Galáxia” que
se consagrou como o maior massacre da história do cinema.
https://super.abril.com.br/cultura/quantos_assassinatos_cada_heroi_e_vilao_da_marvel_cometeu_nos_cinemas. Adaptado.

a) Qual o sentido das palavras “cravou” e “planilhar” destacadas no texto e qual o efeito que elas produzem?

b) Substitua os dois-pontos do trecho “Vale dizer que o usuário contabilizou apenas mortes relevantes à história: só entraram
na planilha vítimas que tinham, pelo menos, nome antes de baterem as botas” por uma conjunção e indique qual a relação
de sentido estabelecida por ela.

Produção de textos
Proposta 01
16.21. (UFPR) – Leia o texto abaixo.

Em final de 2014, uma aluna de pós-doutorado da Universidade de Yale-EUA, a astrônoma americana


Tabetha Boyajian, identificou flutuações inexplicáveis no brilho de uma estrela monitorada pelo telescópio
espacial caça-planetas Kepler, da Nasa. As flutuações em nada lembravam o que se vê quando um planeta
passa entre a estrela e o telescópio.
Das mais de 150 mil estrelas observadas pelo Kepler, apenas uma – a estrela de Boyajian (EdB) – exibia
uma curva de luz que desafia a lógica. O gráfico do brilho da estrela ao longo do tempo é chamado de curva
de luz. O que acontece é que a curva da EdB mostrava depressões similares a trânsitos aparentemente alea-
tórios, sendo que algumas duravam horas e outras persistiam por dias ou semanas.
A EdB ainda guardaria mais surpresas. Outro astrônomo americano, Bradley Schaefer, afirmou que o bri-
lho do astro tinha diminuído em mais de 15% no último século. A afirmação gerou polêmica, porque uma
queda no brilho durante várias décadas parece quase impossível. O brilho das estrelas segue quase constante
por bilhões de anos depois de seu nascimento e só sofre mudanças rápidas pouco antes de a estrela morrer.
E as mudanças “rápidas” ocorrem numa escala temporal de milhões (ou bilhões) de anos, sendo acompa-

Português 4C 69
nhadas de marcadores claros que não se veem na EdB. Segundo várias outras medidas, a estrela está na meia-
-idade. Não há evidências de que seja uma estrela variável, que pulsa num ritmo regular.
Precisamos explicar então dois fenômenos incompreensíveis relacionados à EdB: depressões profundas
e irregulares com duração de dias ou semanas e um escurecimento ao longo de pelo menos quatro anos (e
possivelmente por todo o século passado). Embora os astrônomos prefiram uma única explicação para os
dois fenômenos, se cada um é difícil de explicar, imagine como é difícil explicar os dois juntos. Alguns ce-
nários propostos:
Disco de gás e poeira
As depressões irregulares e a redução de brilho da EdB por longos períodos são observadas em outras
situações – em estrelas muito jovens, com planetas ainda em formação. Elas são rodeadas por discos de ar
e poeira aquecidos pela luz da estrela que, no processo de formarem planetas, geram caroços, anéis e arcos.
Nos discos observados de lado, esses aspectos podem reduzir a luz da estrela por curtos períodos, e discos
ondulantes podem bloquear quantidades crescentes do brilho da estrela por décadas e séculos. Mas a estrela
é de meia-idade, não jovem, e não parece conter nenhum disco.
Buracos negros
Alguns membros do projeto em Yale sugerem que um buraco negro poderia estar envolvido. Ou seja, um
buraco negro de uma massa estelar numa órbita próxima em torno da EdB poderia bloquear a luz da estrela.
Mas essa hipótese é falha, porque o buraco negro arrastaria a estrela para um lado e para o outro, criando um
movimento oscilante detectável, algo que a equipe buscou e não achou.
Megaestruturas alienígenas
Uma sociedade alienígena teria construído uma quantidade absurda de painéis coletores de energia solar
com uma grande variedade de tamanhos e órbitas em torno da estrela. O efeito combinado dos painéis me-
nores do enxame seria bloquear parte da luz da estrela como uma tela translúcida.
[...]
Até que se obtenham mais medidas com outros equipamentos e mais análises de outras equipes, nossas
especulações sobre a EdB serão limitadas apenas por nossa imaginação e uma saudável dose de física. Como
acontece com os melhores quebra-cabeças da natureza, a jornada até chegarmos à verdade que está por trás
dessa estrela enigmática está longe de acabar.
(Kimberly Cartier e Jason Wright, Scientific American – Brasil, no. 174, junho 2017, p. 46 a 49. Adaptado)

Elabore um resumo do texto acima que contemple as peculiaridades da estrela EdB, as explicações científicas para esse
comportamento e o posicionamento da revista.

70 Extensivo Terceirão
Aula 16

Proposta 02
(PUCPR) – Leia o artigo de opinião apresentado a seguir e elabore um resumo. Planeje o texto selecionando as informações
mais relevantes.

Poluição do ar deveria virar caso de polícia


Evangelina Vormittag*

Nesta terça-feira, 25 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou os dados mais recentes
dos efeitos mortíferos da poluição de ar no mundo. Os dados são chocantes: sete milhões de pessoas mor-
reram por contaminação do ar em 2012. Isto significa que uma em cada oito mortes no mundo é resultante
da exposição ao ar contaminado. Esses dados mais que dobram as estimativas e comprovam que a poluição
do ar é líder ambiental para riscos em saúde e morte. O que pede medidas emergenciais de controle efetivo
desse mal e seus efeitos para saúde.
Em relação às mortes provocadas pela poluição do ambiente externo, por fontes móveis (veículos) e fixas
(ex. indústrias), contabilizou-se 3,6 milhões de mortes – os números crescem assustadoramente –, 30% a
mais do que ano anterior.
Inúmeras são as publicações científicas e na mídia sobre a gravidade da poluição do ar externo para a
saúde no mundo. Uma delas, por exemplo, foi a classificação do poluente material particulado e o ar conta-
minado como substâncias cancerígenas do Grupo 1, pela OMS. (...) Embora seja vasto o conhecimento sobre
tão relevante tema, infelizmente nos deparamos com um dos piores padrões de qualidade de ar do mundo e
o mínimo de políticas públicas responsáveis para salvaguardar os cidadãos brasileiros. Em que planeta vivem
nossos governantes?
As mortes relacionadas à poluição do ar em geral são devidas às doenças cardiovasculares, infarto do
coração e derrame cerebral, pneumonias, DPOC e câncer do pulmão.
Pouco se divulga esse assunto, mas as restantes 3,3 milhões de mortes decorreram da contaminação do ar
intradomiciliar, a poluição do ar provocada dentro dos domicílios. Cerca de 3 bilhões de pessoas cozinham e
aquecem suas casas com fogões e lareiras que utilizam a queima de biomassa, como madeira, esterco animal,
resíduos vegetais e carvão. A fumaça e o poluente material particulado podem atingir níveis até 100 vezes
maiores que o aceitável dentro das casas. Há áreas do Nordeste que chegam a ter fogões a lenha em mais de
60% das casas, além de muito comuns em regiões rurais.
As mulheres e as crianças são a população mais afetada, pois passam mais tempo em seus lares. É a quarta
causa de mortalidade em crianças em países em desenvolvimento, estando à sua frente apenas desnutrição,
sexo inseguro, falta de água potável e saneamento. (...) Há evidências de que a poluição intradomiciliar au-
mente o risco de importantes problemas de saúde em crianças e adultos.
Os alardes já estão sendo feitos há muito tempo e as informações são precisas. É preciso deixar a popu-
lação a par deste imenso problema ambiental e de saúde pública que vivemos: o inimigo invisível, inodoro e
insípido que é a poluição do ar. O que os olhos não veem, o coração não sente. É preciso deixar a população
a par do descaso e desinteresse dos governantes; muito pouco tem sido realizado e a doses são ínfimas.
*Evangelina Vormittag é Doutora em Medicina pela FMUSP e Diretora Presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade.

Artigo publicado na Revista Cidadania e Meio Ambiente, edição 51, 2014. Disponível em: <http://www.saudeesustentabilidade.
org.br/coluna/poluicao-do-ar-deveria-virar-caso-de-policia/> Acesso: 15 de jun. 2016.

Português 4C 71
Proposta 03
(FGV – RJ) – Textos para a próxima questão.
Texto 1

Criada pela Controladoria-Geral da União (CGU), a Campanha “Pequenas Corrupções – Diga Não” tem
como objetivo principal conscientizar os cidadãos para a necessidade de combater atitudes antiéticas – ou até
mesmo ilegais –, que costumam ser culturalmente aceitas e ter a gravidade ignorada ou minimizada.
As peças publicitárias buscam chamar a atenção e promover a reflexão sobre práticas comuns no dia a dia
dos brasileiros, como falsificar carteirinha de estudante; roubar TV a cabo; comprar produtos piratas; furar
fila; tentar subornar o guarda de trânsito para evitar multas; entre outras. As imagens da campanha foram
inicialmente divulgadas nas redes sociais da CGU, em junho de 2013. Numa segunda etapa, em fevereiro de
2014, a campanha alcançou 10 milhões de usuários no Facebook.
(“Diga Não: Campanha Pequenas Corrupções”. www.cgu.gov.br, sem data. Adaptado)

Texto 2

Quando dizem que a corrupção é sistêmica, não estão se referindo somente à corrupção generalizada no gover-
no, mas sim em toda a sociedade. São milhares os exemplos de pequenas corrupções com que a sociedade brasilei-
ra se defronta. Estima-se, por exemplo, que a corrupção pública seja responsável por desviar R$ 80 bilhões do seu
verdadeiro propósito. Por outro lado, a sonegação de tributos, que não é do trabalhador assalariado, compromete
cerca de R$ 400 bilhões a R$ 500 bilhões por ano, o que representa aproximadamente 10% do PIB brasileiro.
A corrupção não é somente obter proveitos indébitos, que envolvem suborno ou pagamentos ilícitos. Na
sua forma mais ampla, a corrupção é a degradação de um bem ou de um costume social, ou seja, utilizá-
-los de forma inferior àquela para a qual foram idealizados. Indistintamente, as pequenas corrupções são
consideradas normais e legítimas por parte significativa da sociedade brasileira. E, por serem culturalmente
aceitas por uma parcela, não haveria motivos para serem condenadas ou combatidas. Se o objetivo de um
país é evoluir culturalmente, economicamente e socialmente, todo e qualquer tipo de corrupção deve ser
combatido, independentemente de sua origem ou grandeza.
(“A grande corrupção e as pequenas corrupções”. Rodolfo Coelho Prates. www.gazetadopovo.com.br, 30.03.2015. Adaptado)

Texto 3

O combate à corrupção tem aparecido como uma das principais bandeiras nesta novíssima história da
República que brasileiros começam a escrever. Se, por um lado, o pedido por honestidade toma as ruas des-
de a pressão pela aprovação da Lei da Ficha Limpa, em 2010, e, mais intensamente, a partir dos protestos
de junho de 2013, por outro, cidadãos ainda encontram dificuldade de vencer seus próprios vícios. É raro
encontrar alguém que nunca tenha cometido pequenas corrupções no cotidiano. Esses comportamentos não
deslegitimam o grito contra a corrupção e estão longe de ser a origem dos roubos aos cofres do governo, mas
também atropelam o interesse público e mostram que o problema vai muito além dos três poderes.
“A corrupção tem dois significados: algo que se quebra e se degrada. Ela quebra o princípio da confiança,
que permite a cada um de nós viver em sociedade. Também degrada o que é público”, explica a professora do
Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Heloísa Starling. “A corrupção
não se dá só na relação com o Estado, mas também com a sociedade”, afirma o professor de ética e filosofia
política da Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro.
(“Cidadãos pedem combate à corrupção, mas cedem nas pequenas atitudes do dia a dia”. www.em.com.br, 22.03.2015)

72 Extensivo Terceirão
Aula 16

Com base em seus conhecimentos e nos textos apresentados, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da
língua portuguesa, sobre o tema: As pequenas corrupções na sociedade brasileira são causa ou consequência das
grandes corrupções?

Português 4C 73
Gabarito
16.01. d abastados, que podem frequentar real por professores capacitados.
16.02. e escolas de qualidade com professores 16.20. a) No contexto, a palavra “cravou” ad-
16.03. c capacitados para ensinarem a domi- quire sentido de “afirmou”, “disse com
16.04. e nar os instrumentos do conhecimen- veemência”, conferindo ênfase ao que
16.05. e to e de pesquisa, inclusive da própria foi dito pelo personagem. Já “plani-
16.06. d internet. O fato de esses instrumentos lhar” apresenta noção semântica de
16.07. d não estarem à disposição da grande “registrar de forma organizada”, “enu-
16.08. e maioria da população brasileira é, as- merar”, “catalogar”, acompanhando o
16.09. c sim, argumento sólido para que o au- tipo de linguagem do site de  mídia
16.10. b tor afirme que a internet é um instru- social Reddit em que os usuários po-
16.11. a mento potencialmente democrático, dem divulgar ligações para conteúdo
16.12. e ou seja, existe como potencialidade, na Web.
16.13. F – F – V – V – F não como realidade. b) As conjunções pois e porque substi-
16.14. b b) Segundo o autor, para que o usuário tuem os dois pontos do período, já
16.15. a possa usufruir de todos os benefí- que o segundo segmento estabelece
16.16. d cios proporcionados pela internet é relação de explicação com o primeiro:
16.17. b necessário que ele domine também “Vale dizer que o usuário contabilizou
16.18. e a leitura de livros impressos, o que apenas mortes relevantes à história,
16.19. a) Carlo Ginzburg refuta a ideia de que a não pode ser ensinado em ambien- pois (porque) só entraram na plani-
internet é um instrumento democráti- te virtual dominado pela velocidade lha vítimas que tinham, pelo menos,
co, já que, para usufruir das vantagens e proliferação de informações. Essa nome antes de baterem as botas”.
que ela oferece, é preciso que o usu- aprendizagem de leitura, que Carlo
ário seja portador de privilégios cultu- Ginzburg designa de “ler devagar”, só
rais inerentes aos grupos sociais mais pode ser feita em ambiente e espaço

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