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GUIA PARA EXAME PRÁTICO DE KENDO: 1º KYU ATÉ 3º 

DAN

Exames de graduação são rotinas em todas as artes marciais e se tornam pontos de


foco para os treinamentos, e também são filtros avaliadores do conhecimento dos
praticantes. Embora não seja da linha editorial do Espírito Marcial se concentrar em
exames ou campeonatos, é nítido que são elementos vastos em oportunidades para o
desenvolvimento natural das habilidades.
Para tanto o colunista convidado, André Luiz Queroz Sensei (6º dan Renshi), que é
membro oficial de bancas de exame da CBK, preparou um rico e detalhado guia para
exames de graduação para 1º kyu até 3º dan !.
Aviso: Este guia é apenas um material de apoio e não deve ser substituído pelas
orientações do instrutor responsável (Sensei) do examinando.

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Linhas de Instrução Gerais para todas as graduações:
1. TYAKUSŌ (VESTUÁRIO) – o examinando deve ter boa apresentação, e para isso é
importante que seu uniforme – keiko-gi e hakama – tenha caimento adequado e esteja
em boas condições:
– Roupa limpa, e sem odor desagradável! Keiko-gi e hakama não devem apresentar
manchas, rasgos, ou desbotado excessivo (não há problema em utilizar uniformes
tingidos e/ou reparados, se preservada a estética do traje);
– A gola do keiko-gi deve estar bem justa ao pescoço, sem folgas; as mangas do keiko-
gi devem cobrir os cotovelos (conforme revisão dos Regulamentos de Competição e
Arbitragem, vigente a partir de 01.04.2019: Regras subsidiárias, Artigo 3, item 2: “As
mangas do keiko-gi devem ter comprimento suficiente para cobrir os cotovelos”), indo
até metade dos antebraços, de forma que, ao calçar as luvas, pouca ou nenhuma área
descoberta dos braços apareça;
– O cós da hakama deve estar à altura da cintura;
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– As costas do keiko-gi devem estar “esticadas” (sem dobras horizontais ou verticais ao
longo das costas), evidenciando a coluna ereta;
– O koshi-ita (placa do quadril) da hakama deve estar justo às costas, evidenciando a
postura ereta;
– A bainha da hakama deve cobrir os tornozelos, sendo adequado que a parte de trás
esteja um pouco mais alta que a frente (de modo a deixar vem livres os calcanhares);

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– As cores usuais de keiko-gi e hakama são azul-escuro ou branco (eventualmente,
preto). Embora não haja proibição de uniformes de outras cores, não é bem visto. É
aceitável também usar keiko-gi de cor diferente da hakama (por exemplo¸ keiko-
gi branco e hakama azul), observado o descrito acima;
– Não é permitido usar keiko-gi e/ou hakama com personalizações (o próprio nome
e/ou o nome ou emblema do Dōjō pintados ou bordados) que identifiquem o
examinando. Convém que o keiko-gi e hakama a usar no exame não tenham nenhuma
inscrição visível. Caso contrário, será necessário ocultá-la com fita adesiva (o que é
deselegante!).
– Não é adequado o uso de adornos (anéis, brincos, colares, piercings, etc) quando
praticando Kendō, pois podem comprometer a segurança da prática (caso golpes do
oponente atinjam o objeto) e também se recomenda evitar o uso de outras roupas
(camisetas, bermudas) por baixo do keko-gi e da hakama.
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2. SHINAI – é obrigação de todo praticante (!) e mais ainda do examinando certificar-se
que seu shinai esteja em perfeitas condições antes de iniciar qualquer prática , para a
segurança de todos e para evitar interrupções dos combates:
– O shinai deve atender as especificações de tamanho e peso para a faixa etária e
gênero do praticante. Como observação, é preciso mencionar que o uso de nitō (duas
espadas) em exames de graduação é permitido somente para 4º dan em diante.
– Conforme revisão dos Regulamentos de Competição e Arbitragem, vigente a partir
de 01.04.2019: Regras subsidiárias artigo 2: “O shinai, descrito no Artigo ‘3’, será como
segue:

1. O shinai será constituído de 4 peças, sem nenhum objeto estranho em seu


interior (exceto o ‘shin’ dentro da ponteira – ‘saki-gawa’ e o ‘tigiri’ na
ponta da empunhadura – ‘tsuka-gashira’). Não será permitido o uso de
shinai que apresente grande espaçamento entre as peças (as 4 varas de
bambu) ou cuja montagem demonstre evidente comprometimento da
segurança ou seja de diferente formato;
2. As especificações do shinai são conforme quadros a seguir. Entretanto, o
comprimento é o total incluindo os acessórios, e o peso não inclui o tsuba.
A espessura será a do diâmetro mínimo do saki-gawa (diâmetro da
“boca”) e o diâmetro da espada (o diâmetro mínimo das arestas a 8 cm da
ponta do shinai). Além disso, a ponta do shinai será a parte mais estreita
da espada, que ficará mais larga da ponta para o ‘mono-uti’ (parte de
golpe).
Quadro 1: Especificações do Shinai (para ‘Ittō’)

Usuário Ginási Secundári Universitári


o o o, Uso geral
adulto

Unissex <= 114 <= 117 <= 120 cm


cm cm

Masculino >= 440 >= 480 g >= 510 g


g
Feminino >= 400 >= 420 g >= 440 g
g

Masculin Diâmetr >= 25 >= 26 mm >= 26 mm


o o mín. mm
na
ponta

Diâmetr >= 20 >= 21 mm >= 21 mm


o mín. mm
na
espada

Feminino Diâmetr >= 24 >= 25 mm >= 25 mm


o mín. mm
na
ponta

Diâmetr >= 19 >= 20 mm >= 20 mm


o mín. mm
na
espada
– O cordame do shinai (tsuru) deve estar esticado, atando o couro da empunhadura
(tsuka-gawa) à ponteira de couro (saki-gawa);
– O naka-yui (a presilha de couro que prende as 4 ripas de bambu) deve estar atado
firmemente a 1/3 do comprimento da área de “lâmina” (jin) do shinai – da ponta até a
borda do tsuka;
– As peças de couro do shinai (saki-gawa, tsuka-gawa) não podem estar rasgadas ou
furadas, comprometendo a segurança de uso do shinai;
– O shinai não deve apresentar farpas, lascas ou rachaduras;
– Não é permitido o uso de shinai “remendado” com fitas adesivas ou equivalentes;
– Assim como o uniforme, o shinai não deve conter “personalizações” – como desenho
no tsuka – que identifiquem ostensivamente o examinando (mas não há problema em
ter escrito somente o nome do dono na parte central do tsuka, de forma discreta).
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3. BOKUTŌ (*)
– É permitido somente o uso de bokutō do modelo OFICIAL para Kendō-Kata, sem
entalhes, ou desenhos fora do padrão;
Usuário Tipo Comprimento

(Para secundário em diante) Daitō ~ 101.5cm

Shōtō ~ 54.5cm

(Para uso ginasial – ex.: até o 3º ano) Tyūtō ~ 91cm

(Uso infantil) Tyūtō ~ 85cm


Obs: Não se faz competição com bokutō, nem as práticas que utilizam bokutō
envolvem finalização dos golpes (impacto no alvo). Por isso não há especificação de
peso ou comprimento máximos/mínimos para o bokutō. Contudo, convém utilizar
modelos de dimensões adequadas ao próprio porte físico, como na tabela acima
(apenas referência).

– É obrigatório o uso de tsuba, feito de couro ou resina sintética, e é recomendável


que seja um modelo simples, da mesma cor do bokutō, sem “personalizações”;
– É importante que o tsuba esteja firme no lugar. Para isso, deve-se
usar tsuba-dome (“fixador”);
– Nos exames de Kata para 3º dan e acima, é recomendável que a kodachi (espada
curta) fazendo par com a tachi seja de mesma cor/tonalidade;
(*) Nesta matéria não serão abordados os procedimentos com Kendō-Kata ou Bokutō
ni Yoru Kendō Kihon Waza Keiko-Hō.
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4. BŌGU – é obrigação de todo praticante (!) e mais ainda do examinando certificar-se
que seu bōgu esteja em perfeitas condições antes de iniciar qualquer prática , para a
segurança de todos e para evitar interrupções dos combates:
– O bōgu deve estar limpo, sem odores desagradáveis, e sem desgaste excessivo
(como poídos e/ou costuras rasgadas). É recomendável evitar o uso de peças de cores
destoantes do conjunto (por exemplo, kote brancos com o restante azul-escuro);
– Te-nugu’i deve ser afixado acima das sobrancelhas, de forma a não cair sobre os
olhos, e sem pontas sobressaindo para fora do men atrás da cabeça!
– Use te-nugu’i de tamanho adequado à própria cabeça e ao estilo de amarração
(maki-kata) preferido.
– Existem diversas formas de amarrar o te-nugu’i:
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4.1 Men – deve ser devidamente ajustado encaixando o queixo e a testa, de forma que
os olhos estejam à altura da “linha de visada” (monomi), entre as 6ª e 7ª grades
do men-gane (mais espaçadas que as demais grades);

– O himo (cadarço) devidamente passado ao redor do men, com as cordas juntas nas


laterais, sem estarem enroladas nem torcidas;
– É recomendado que o nó do himo esteja nivelado ao monomi; é adequado que o nó
seja no formato de laço (“hana-musubi”);
– As pontas do himo devem estar simétricas, com caimento às costas, e devem medir
no máximo 40 cm.
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4.2 Dō
– Deve ser de tamanho adequado ao praticante, de forma a proteger devidamente
todo o tronco, e amarrado à altura correta (cobrindo a faixa do tare, dita “tare-obi”),
dando liberdade de movimentos:
– Os himo do dō devem ser atados firmemente para não soltar, finalizando os nós com
as pontas com o mesmo comprimento;
– As presilhas do dō (mune-chikawa, – presilhas do peito, e yotsu-chikawa – presilhas
laterais) devem estar em boas condições, sem risco de arrebentar.
Altura excessiva do Do.

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Altura correta do Do.

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4.3 Kote
– Os cordames do kote (kote-himo) devem estar ajustados à largura do braço e pulso,
de forma a dar liberdade de movimentos porém ser que a luva fique folgada em
excesso, e sem que as pontas do cordame fiquem sobressaindo;
– As palmas do kote não devem estar furadas ou rasgadas, a ponto de atrapalhar a
empunhadura do shinai; o acolchoado do punho (kobushi) não deve apresentar furos
ou rasgos, e deve proteger adequadamente as mãos dos impactos do shinai.
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4.4 Tare
– Os laços do tare (tare-himo) devem ser atados firmemente debaixo da “aba” maior
do centro (Ōdare) para que não desatem, e as pontas do nó ocultas debaixo das abas
menores (kotare);

– O tare-himo deve cruzar às costas abaixo do koshi-ita, e não por dentro;


– O número de inscrição do examinando é colocado no tare, seja escrito com giz ou
com tarjas elásticas próprias. As tarjas de numeração devem ser devolvidas à
administração do evento imediatamente ao término dos exames. Para o exame é
necessário retirar o nafuda (zekken) e apagar números de competição ou outras
marcações eventualmente feitas no tare.
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5. SHOSA (MANEIRAS) – o exame começa antes mesmo de entrar em quadra. A
preparação mental e foco são observados já no instante que o examinando se
posiciona para adentar à quadra. Assim, postura, elegância e prontidão são parte do
exame, pois são expressão de reihō, o qual é requisito dos exames de graduação tanto
quanto a técnica exigida para o grau e quanto a observância de tyakusō – o trajar
correto do keiko-gi e hakama e a colocação correta do bōgu.
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5.1 Movimentação em quadra – o examinando deve conhecer os procedimentos do
exame: como entrar na quadra, como sair, o que fazer e (principalmente!) o que não
fazer! Conhecer a etiqueta do Kendō é tão ou mais importante do que saber lutar /
demonstrar a capacidade técnica de conseguir yūkō-datotsu (golpes válidos)
– Conforme a ordem de exame, o examinando deve adentrar à quadra com um passo
decidido com o pé direito, fazer a reverência (ritsurei) ao oponente, e então avançar
em ayumi-ashi exatos 3 (três) passos começando também com o pé direito, até a
respectiva marca de início (as linhas demarcadas no piso contrapostas ao centro da
quadra, demarcado com um “X”), e então postar-se em sonkyo simultaneamente ao
oponente, aguardando o comando pelo ‘Tachi-ai tanto-sha’ (ou simplesmente
‘Tachi-ai’: “supervisor de quadra”) para início da prática (no caso dos exames até 3º
Dan, os examinandos devem executar kiri-kaeshi – uma única vez –, receber
como motodachi a rotina de kiri-kaeshi do outro examinando, e lutar 2 vezes, até o
comando de encerramento – yame! – dado pelo ‘Tachi-ai’ );
– É importante que o examinando não transpareça dúvida sobre o que fazer, ou
quando fazer. Deve, portanto, estar atento às instruções gerais da administração
quanto ao momento de se preparar para o exame prático, bem como onde deverá
permanecer aguardando sua vez. Em caso de interrupção do combate por qualquer
motivo, deve proceder como em shiai: ao comando do ‘Tachi-ai’, guardar a espada
(osame-tō) ainda de pé, e recuar até a borda da quadra, aguardando o reinício do
combate;
– Ao final do exame prático, o ‘Tachi-ai’ sinalizará om o braço estendido e dirá
“sore made!” (“já basta!”, em tradução livre…): os examinandos devem então postar-
se em sonkyo, guardar as espadas, erguer-se e recuar 5 passos até onde entraram na
quadra, para então fazerem a reverência mútua (sōgō rei) e sair da quadra DE COSTAS!
(Importante: não se deve dar as costas para o oponente antes de sair da quadra!).
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5.2 Maai – como dito acima, o procedimento de entrada na quadra e avanço até a
marca de início de combate deve ser executado exatamente em 3 (três) passos
em ayumi-ashi, começando pelo pé direito! O avanço também deve ser feito com os
pés deslizando (suri-ashi). O pé direito deve alcançar a marca de início. Caso o
examinando não alcance essa distância em três passos, ele deve avançar
em okuri-ashi discretamente até a marca, para só então agachar-se em sonkyo (é
muito deselegante ficar “pulando” agachado para corrigir a posição inicial!). O
entendimento de maai (“distância”, em tradução livre) é fundamental para executar
bem as técnicas e para toda a dinâmica do combate. A falta de percepção espacial leva
muitos praticantes inexperientes a não conseguirem golpe válido em seus intentos
(porque seus golpes não são desferidos da distância certa!).
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5.3 Sonkyo – a posição de sonkyo – que consiste em agachar-se dobrando os joelhos e
apoiando as nádegas sobre os calcanhares erguidos, com as pernas abertas em “L”, o
joelho esquerdo a 90º para o lado (na forma atual) –, é parte essencial dos
procedimentos de início e término de combate conforme previsto no reihō do Kendō
japonês. É importante entender seu significado, tanto quanto a forma correta de
postar-se em sonkyo: essa posição é uma expressão de respeito ao oponente! Ao
agachar-se em sonkyo e naquela posição sacar a espada para kamae, não há como
atacar furtivamente. Somente após o comando de “hajime!” é que os praticantes se
erguem e iniciam o combate. Da mesma forma, ao término da prática as espadas são
guardadas também na posição de sonkyo; guardar a espada ainda de pé significa que o
combate está suspenso, mas pode ser reiniciado! Caso o examinando não tenha
condição física de efetuar sonkyo da forma regular, deve comunicar isso previamente à
administração do evento, e proceder a ritualística de início e fim de combate da forma
mais adequada a sua condição;
O ato de agachar em Sonkyo deve ser feito expressando “vigor” (ki-gurai), como
descrito a seguir:
– A coluna deve permanecer ereta, tanto ao agachar-se quanto ao levantar-se, sem
recuar o quadril;

– Deve-se agachar em sonkyo sem apoiar-se com os braços ou a própria espada no


chão;
– Ao sacar a espada, assumir tyūdan-no-kamae em sincronia ao agachar em sonkyo;
– Observar o ritmo do oponente, de forma a ambos agacharem e sacarem as espadas
ao mesmo tempo;

– Pela regra atual, ao iniciar a prática com shinai, as pontas das espadas devem estar
separadas, de cerca de 30 cm (observado que os praticantes estão colocados nas
marcas de início). Porém, quando usando bokutō ou espada de metal, aí sim as pontas
das espadas se cruzarão já em sonkyo, tocando lâmina com lâmina na região
de yokote (a lateral da ponta da espada).
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6. KAMAE – depois dos fundamentos de reihō do Kendō, a primeira coisa a ser
ensinada ao novato em qualquer Dōjō será como segurar a espada e assumir atitude
de combate, kamae! Portanto, mostrar o kamae correto também é fundamental para
o examinando em qualquer grau! E a base de todas as variações de kamae é tyūdan-
no-kamae! Tanto é assim que nos exames até 3º Dan não é admitido que o
examinando use outro kamae que não tyūdan-no-kamae (bem como só é permitido o
uso de Nitō nos exames a partir de 4º Dan)! Assim, é essencial que o examinando
demonstre tyūdan-no-kamae com os fundamentos corretos:
– A ponta da espada nivelada à altura da garganta do oponente, e mirando no meio de
seus olhos (tanto que o nome antigo deste kamae era seigan-no-kamae: literalmente,
“direto aos olhos”);
– A mão esquerda, segurando na ponta do tsuka, à altura do baixo-ventre (mais ou
menos à altura do umbigo…), a de cerca de “um punho” de distância;
– A mão direita, segurando à frente, com a segunda falange do dedo indicador
encostando no tsuba;
– Ambas as mãos segurando o shinai com os dedos mínimos e anelar mais apertados e
os dedos médio e indicador pouco mais frouxos, em uma pegada diagonal no tsuka da
espada;
– A base dos polegares deve estar alinhada à costura do tsuka-gawa (por sinal, quando
se faz força excessiva na pegada da espada, o tsuka-gawa acaba por entortar…!);
-As palmas de ambas as mãos devem voltar para baixo, não sendo visíveis de cima, e o
pulsos de ambas as mãos em curvatura como num “L”;

– Os braços estendidos, mas não retesados, com as axilas fechadas; os ombros


relaxados;

– Todo o corpo relaxado e estendido, exceto o baixo ventre, que deve se manter
contraído! O peso do corpo projetado para a frente do pé direito, à frente, levando o
pé esquerdo, recuado, à peculiar posição do calcanhar erguido;
– Os pés paralelos e voltados para o oponente, na direção do deslocamento. O pé
esquerdo, recuado da distância de um pé, de forma que o dedão esquerdo estará
emparelhado ao calcanhar direito;

– Os pés afastados da distância de dois punhos, até a largura natural dos quadris;

– As pernas esticadas, mas não tensas, em prontidão para impulsionar o corpo;

– O pescoço e a coluna eretos, o queixo pra dentro, e o olhar para frente, no oponente
– nem para baixo nem para cima!

– A atitude de kamae, seja ela qual for, deve ter por intenção “golpear o oponente”!
Portanto, a tradução usual como “guarda” não é a melhor, por denotar um sentido de
postura “defensiva”. Ao contrário, o kamae deve ter por finalidade a ofensiva ao
oponente! E esse sentimento de ofensiva (‘seme’) deve transparecer
do kamae adotado, ou este será mera “pose para fotografia” …
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7. KIAI (KAKE-GOE) – é dito que o golpe para ser válido (‘yūkō-datotsu’) deve
apresentar correta e suficientemente os três aspectos técnicos de “espírito, espada e
corpo em uníssono” (‘ki-ken-tai no itti’). O espírito é expresso pela voz! Portanto, é
fundamental que o examinando vocalize com energia ao início da prática e/ou
combate, usando sua projeção de voz (‘hassei’, ou ‘kake-goe’) para expressar sua
energia (‘kiai’). Tanto assim que o termo ‘kiai’ muitas vezes é confundido com “grito”!
No Kendō, grita-se ao início do combate para intimidar ou mesmo desafiar o oponente;
grita-se no exato instante do golpe desferido, usualmente vocalizando o nome do alvo
golpeado (‘men, ‘kote’, ‘dō’, ‘tsuki’ (*[1])); e, às vezes, grita-se quando em confronto a
curta distância com o oponente, como na situação de ‘tsuba-zeriai’ (o “clinche”, em
que ambos disputam com suas espadas cruzadas tsuba com tsuba). Há que se ter o
cuidado de vocalizar termos neutros, que não tenham conotação ofensiva ou
desrespeitosa. Contudo, a voz deve expressar “energia” e determinação para o
combate! Com um kiai vigoroso, virá uma técnica vigorosa! Da mesma forma, vocalizar
de forma contida, com pouco volume de voz ou inconstante, sinaliza um espírito
hesitante e fraco, distante do ideal para conseguir yūkō-datotsu! Isso merece muita
atenção!
– O kake-goe deve ser “gutural”, procurando “tirar a voz do abdômen”, não da
garganta! O timbre do grito pode ser o que for natural para o praticante (mais agudo,
ou mais grave, tanto faz), mas a voz deve expressar “energia” (ki-haku);
– Ao golpear e passar do oponente, é adequado sustentar kake-goe por alguns
segundos sem decair a voz de imediato – como expressão de Zanshin (!) –, até que se
retome kamae ainda a distância do oponente;
– No caso do kiri-kaeshi, não é adequado vocalizar com “oscilação do timbre” (alto-
baixo, alto-baixo…) durante a rotina de golpes a sayū-men. Convém manter
o kiai elevado do primeiro ao último golpe da prática, e especialmente longo no último
golpe a shōmen!
[1] ‘Tsuki’ significa literalmente “estocada” (consiste em uma estocada perfurante à
garganta) enquanto nos demais golpes vocaliza-se qual o alvo golpeado!
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8. ZANSHIN – o conceito de Zanshin é muitas vezes confundido com os movimentos
executados após desferido um golpe, tenha sido bem sucedido ou não. Esta é uma
visão estreita, que reduz Zanshin a maneiras de retomar kamae com intenção
“defensiva”, para evitar um contra-ataque do oponente… Especialmente no caso de
técnicas de golpe em recuo (‘hiki-waza’) há imaginários de que se deve “fazer Zanhsin”
de formas pré-concebidas… No entanto, Zanshin não deveria ser entendido de forma
tão superficial! Zanshin (literalmente: “restar espírito”), é em verdade o estado de
prontidão, de busca de yūkō-datotsu a todo instante! Ao golpear o oponente e
passar/recuar distanciando-se dele, o “espírito que deve restar” é o de
retomar kamae não para apenas evitar o ataque do oponente, mas para poder golpear
de novo! Se a espada no pós golpe deve ficar assim ou assado, se é pra avançar 3, 4 ou
sei-lá quantos passos, isso é de menor monta! O que importa é, antes de tudo, o
estado de alerta do espírito!
– Como um critério simples de expressão adequada de zanshin, é suficiente lembrar
que não se deve perder o contato visual (me-tsuke) no oponente em momento algum!
Ao desferir um golpe e passar, o momento de virar-se e
retomar tyūdan-no-kamae será naquele instante em que não há mais contato visual, e
é necessário voltar-se para o oponente;
– Outro erro comum do zanshin é avançar com o shinai recuado acima da própria
cabeça após ter golpeado men… Isso acontece devido ao rebote do impacto da espada
no alvo. Mas não é adequado, pois descaracteriza o sentimento de “corte” que deve
haver em todo o golpe! E também, se os braços estiverem erguidos acima da própria
cabeça, o praticante ficará vulnerável à reação mais rude do oponente, que pode
aplicar tai-atari (“esbarrão corpo-a-corpo”) mais alto que o normal e acabar por
derrubá-lo! Um bom critério para evitar isso é controlar o rebote do shinai mantendo
o kensen para frente e em seu campo visual, evitando que a mão esquerda erga além
da altura do peito do oponente.
– Ao recuar após desferir golpes em hiki-waza, o momento de
retomar tyūdan-no-kamae será quando a distância entre os dois não permitir desferir
novo golpe de onde a espada está (é usual trazer a espada para cima
em jōdan-no-kamae ou para o lado esquerdo, como na posição de katsugi-waza,
aproveitando o rebote da espada nos golpes a men ou kote, respectivamente…). Não é
adequado afastar-se do oponente dando as costas ou de lado, mesmo que para
movimentar-se mais rápido! Tal maneirismo é meramente “fugir ao combate”,
aproveitando-se da regra atual que não prevê como válidos golpes desferidos às costas
do oponente ou pelos lados a mais de 45º graus do centro… Embora vejamos isso ser
feito até em campeonatos de alto nível, definitivamente não é algo que se deva imitar.
E em exames de graduação, não é algo admissível.
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Sempre também podemos fazer contrapontos aos ensinamentos do Kendō, a postura
exigida no treino e na competição, com a nossa postura no dia a dia, na vida cotidiana!
Obter graduação de Kendō é certamente uma realização que exige esforço, dedicação,
perseverança, e até sacrifícios (pois o tempo e recursos empenhados nos árduos
treinos de Kendō são o tempo e recursos que não serão disponíveis para outras coisas
em nossas vidas! Temos que estar cientes disso, e dar prioridade àquilo que é
realmente importante!). Portanto, todo o trabalho de preparação para o êxito, na
aprovação em um exame de graduação de Kendō, deve ser replicado em nossas vidas
cotidianas! Mesmo os eventuais insucessos, os exames em que não logramos êxito,
também são um aprendizado importante! Pois a vida humana não é feita só de
alegrias! Temos que estar preparados para lidar também com a frustração, e disso tirar
forças para renovar nossos esforços aquilo que não estava adequado, que não estava
suficiente, e perseverar! Até somar suficiente mérito para alcançar o que se deseja!
Kendō é, antes de tudo, educação! Disciplina para a vida! Enfrentar os problemas de
frente, sem fugir deles, é uma atitude importante na vida também.
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O colunista convidado é André Luiz Queiroz (andre.luiz.d.queiroz@gmail.com), 6º dan


Renshi em Kendo e leciona a arte no dojo Mugen no Rio de janeiro!
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Veja aqui links para informações sobre onde encontrar a academias que ensinam o


VERDADEIRO Kendo e Iaido no nosso país!
#Academias de KENDO no Brasil
#Academias de IAIDO no Brasil
#Quanto Custa treinar KENDO no Brasil?
#Como é o Treino de Kendo?
#Guia para a Prática de Kendo
#Confederação Brasileira de Kendo
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Postado em 21 de Novembro de 2019.

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