Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
04.19
www.sbnpbrasil.com.br
Neuropsicologia
do Amor
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp)
03
Sumário
05 REVISÃO HISTÓRICA
O amor romântico por uma perspectiva científica
13 REVISÃO ATUAL
Neuropsicologia e amor: o que a psicologia social construiu e
como podemos atuar no desenvolvimento científico do enamo-
ramento
19 RELATO DE PESQUISA
A paixão do paciente: as implicações clínicas do amor
22 ENTREVISTA
REVISÃO HISTÓRICA
Ainda não está claro quais os fatores que influenciam para que o relacio-
namento siga um curso específico, apesar de sabermos que nem todas
as relações conseguem evoluir até a fase do amor companheiro, sen-
do que muitos relacionamentos terminam durante as fases anteriores.
Como foi descrito anteriormente pela teoria do “Four-year itch” (Co-
ceira dos quatro anos) proposta por Fisher (1992), esse acontecimento
geralmente se relaciona com o final da fase do amor passional, o que in-
dica uma fragilidade nesse período dos relacionamentos, haja vista que
quando temos índices baixos de intimidade e de paixão, o compromisso
precisa estar aumentado entre os pares para que consigam passar pela
fase. Alguns casais indicam que alguns relacionamentos podem nunca
evoluir para o amor companheiro, permanecendo nas fases anteriores
por períodos maiores (De Boer, Buel, & Horst, 2012).
Referências
Aron, A., Fisher, H. E., Strong, G. (2009). Romantic Love. The Cambridge Handbook of
Personal Relationships, 595–614. doi:10.1017/cbo9780511606632.033
De Boer, A., van Buel, E. M., Ter Horst, G. J. (2012). Love is more than just a kiss: a
neurobiological perspective on love and affection. Neuroscience, 201, 114–124.
doi:10.1016/j.neuroscience.2011.11.017
Fisher H. E. (1992). Anatomy of love: the natural history of monogamy, adultery and
divorce, p 432. New York: WW Norton & Co.
Fisher, H. E., Aron, A., Brown, L. L. (2006). Romantic love: a mammalian brain system
for mate choice. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Scien-
ces, 361(1476), 2173–2186. doi:10.1098/rstb.2006.1938
Hatfield, E., Rapson, R. L. (2002). Passionate love and sexual desire: Cross-cultural
and historical perspectives. In A. Vangelisti, H. T. Reis, & M. A. Fitzpatrick (Eds.) Sta-
bility and change in relationships. Cambridge, England: Cambridge University Press,
306-324
Hatfield, E., Rapson, R. L. (2005). Passionate Love, Sexual Desire, and Mate Selection:
Cross-Cultural and Historical Perspectives.
Hatfield, E., Rapson, R. L. (2007). Passionate love and sexual desire: Multidisciplinary
perspectives. In J. P. Forgas (Ed.). Personal Relationships: Cognitive, Affective, and
Motivational Processes. 10th Sydney Symposium of Social Psychology. Sydney, Aus-
tralia.
Lemieux, R., Hale, J. L. (2000). Intimacy, Passion, and Commitment among Married
Individuals: Further Testing of the Triangular Theory of Love. Psychological Reports,
87(3), 941–948. doi:10.2466/pr0.2000.87.3.941
Madey, S. F., Rodgers, L. (2009). The effect of attachment and Sternberg’s Triangular
Theory of Love on relationship satisfaction. Individual Differences Research, 7(2), 76-
84.
modelo dos cinco grandes fatores. Psico-USF, Belo Horizonte, v. 16, n. 1, p.97-105.
Shaver, P., Schwartz, J., Kirson, D., O’Connor, C. (1987). Emotion knowledge: Further
exploration of a prototype approach. Journal of Personality and Social Psychology,
52(6), 1061–1086. doi:10.1037/0022-3514.52.6.1061
Soares, L. S. (2018). “Olha o que o amor me faz”: Relação entre amor apaixonado e
impulsividade em adolescentes com e sem Transtorno de Déficit de Atenção/Hipera-
tividade. 57 f. Tese (Mestrado) - Faculdade de Medicina, Pós Graduação em Medicina
Molecular, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018.
Starka, L. (2007). Endocrine factors of pair bonding. Prague Med Rep 108(4):297–
305.
REVISÃO ATUAL
Neuropsicologia e Amor:
o que a psicologia social
construiu e como podemos
atuar no desenvolvimento
científico do enamoramento
Erika Pelegrino
A Teoria dos Estilos de Amor de John Alan Lee, baseia-se numa pers-
pectiva da concepção tipológica do Amor de Hendrick & Dicke, que fa-
ziam uma leitura do amor, sendo este associado às crenças e atitudes
da pessoa. A teoria forma uma taxonomia dos estilos de amor, os clas-
sificando em três estilos primários e três estilos secundários, respecti-
vamente: Eros, que valoriza o físico e sexual para ação conjugal; Ludus,
que lida com o relacionamento sem um comprometimento e Storge, for-
mado num companheirismo, que combinados formam Mania, um estilo
mais intenso de amor; Pragma, um nível mais racional de ler a relação;
e Ágape, um amor altruístico de doação excessiva ao outro (Andrade e
Garcia, 2014). Assim, a teoria entende que o amor é aprendido e que os
estilos de amor, na verdade, traduzem a diversidade humana de como
amar (.Martins-Silva, Trindade e Silva, 2013). Essa abre, também, a
possibilidade do tipo de amor ser ajustado de acordo com as relações
presentes, isto é, o amor passaria por questões políticas, ideológicas,
históricas e, em cada par, estabeleceria-se uma função e um sentido
(Cerqueira & Da Rocha, 2018).
Em outras palavras, estabelecemos apego com uma figura que nos ofe-
rece respostas, fortalecendo, ou não, um sentimento de segurança, o
qual interfere nas relações construídas a partir de então. Inicialmente,
entre pais e filhos e estendendo-se a todas as relações o comporta-
mento de apego descreve o que a pessoa faz para criar e manter proxi-
midade com o outro. Para tal, pode-se ter quando adulto, formado pelas
experiências anteriores um apego seguro, um apego ansioso ou ambi-
valente, ou evitativo, em que o primeiro gera uma capacidade de aceitar
e apoiar o outro independente das falhas, o segundo gera o medo da
intimidade, oscilações emocionais e ciúmes e o último acrescenta aos
problemas do anterior a obsessão e grande atração sexual (Cerqueira &
Da Rocha, 2018).
Referências
de Andrade, A. L., Garcia, A., (2014). Escala de crenças sobre amor romântico: indi-
cadores de validade e precisão. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30(1), 63-71. https://
dx.doi.org/10.1590/S0102-37722014000100008
George, D., Luo, S., Webb, J., Pugh, J., Martinez, A., Foulston, J. (2015). Couple si-
milarity on stimulus characteristics and marital satisfaction.Personality and Individual
Differences.86 (6), 126-131.https://doi.org/10.1016/j.paid.2015.06.005
Lavner, J. A., Karney, B. R., Bradbury, T. N. (2016) Does Couples Communication Pre-
dict Marital Satisfaction, or Does Marital Satisfaction Predict Communication ? Journal
of Marriage and Family :79 (1), 131-146. https://doi-org.ez83.periodicos.capes.gov.
br/10.1111/jomf.12334
Martins-Silva, P. de O., Trindade, Z. A., da Silva, J. A. (2013). Theories about love in the
field of Social Psychology. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(1), 16-31. https://dx.doi.
org/10.1590/S1414-98932013000100003
Meier, A. (2015). Review of Wired for love. [Review of the book Wired for love. S. Ta-
tkìn]. Counselling and Spirituality / Counseling et spiritualité, 34(1), 146-149.
RELATO DE PESQUISA
A Paixão do Paciente: as
implicações clínicas do amor
Thales Vianna Coutinho
Porém, o que poucas pessoas sabem é que não apenas a arte se aven-
turou a desvendar os mistérios do amor, mas a ciência também, inclu-
sive, adotando tecnologias bastante sofisticadas, como a ressonância
magnética funcional (que permite avaliar em laboratório, de maneira
não invasiva, o padrão de atividade neural em tempo real). Aliás, o mais
interessante é que, com base nessas descobertas científicas modernas,
é possível pensar até mesmo na valorização do amor em contextos clí-
nicos! Ou seja, estar em um relacionamento amoroso de qualidade com
alguém, independente da orientação sexual, pode trazer alguns benefí-
cios importantes para os pacientes.
Não sei se vocês concordam comigo mas, diante disso, ouso dizer que
as possibilidades clínicas do relacionamento amoroso de qualidade são
tão incríveis quanto as românticas histórias da ficção!
Referências
Kawamichi, H., Sugawara, S. K., Hamano, Y. H., Makita, K., Matsunaga, M., Tanabe, H.
C., ... & Sadato, N. (2016). Being in a romantic relationship is associated with reduced
gray matter density in striatum and increased subjective happiness. Frontiers in Psy-
chology, 7.
Song, H., Zou, Z., Kou, J., Liu, Y., Yang, L., Zilverstand, A., ... & Zhang, X. (2015). Love-
-related changes in the brain: a resting-state functional magnetic resonance imaging
study. Frontiers in human neuroscience, 9.
Song, S., Zou, Z., Song, H., Wang, Y., Uquillas, F. D. O., Wang, H., & Chen, H. (2016). Ro-
mantic love is associated with enhanced inhibitory control in an emotional stop-signal
task. Frontiers in psychology, 7.
Xu, X., Wang, J., Aron, A., Lei, W., Westmaas, J. L., & Weng, X. (2012). Intense passio-
nate love attenuates cigarette cue-reactivity in nicotine-deprived smokers: An fMRI
study. PloS one, 7(7), e42235.
ENTREVISTA
sas colabora muito, uma vez que tais relações naturalmente demandam
desse tipo de estratégia. Além disso, o ambiente ao qual cada par do
casal é submetido é um dado importante para manutenção desse par.
Por isso, quando temos, no século XXI, esse conceito aplicado aos ca-
sais, agrega-se muito à pesquisa e à parte prática de terapia de casais,
porque se individualmente as terapias já trabalham isso, em casais po-
de-se identificar e treinar os estilos necessários de enfrentamento, de
forma a melhorar a convivência e a relação amorosa.
Sim, elas ainda são importantes para pesquisa e para a prática em psi-
cologia, mesmo com a questão cultural e com o trabalho de um proces-
so de validação, mesmo com questões de direitos autorais e monetárias
(que são agravadas pelo real ser uma moeda fraca frente ao dólar e ao
euro) e mesmo com a necessidade de lucro para a realidade comercial.
Na pesquisa, não temos os mesmos custos de quando se comercializa
instrumentos, principalmente pois a autorização de adaptação dos ins-
trumentos originais é relativamente rápida e não onerosa. Nesse campo
de relacionamento de casais, ainda não incorporamos muito a cultura
da mensuração e, mesmo com a Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC) sendo herdeira da quantificação, os consultórios não usam mui-
to isso. Uma vez em que não há mercado, o interesse em se adaptar
tais instrumentos se acaba. Seria mais fácil se criássemos instrumentos
novos? De novo, o interesse do mercado é um fator necessário. Faz-se
necessário esse mercado, mas, nessa área, os instrumentos brasileiros
continuam sendo escassos, assim como a procura por eles.