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Para o homo religiosus, tudo pode ser ou sagrado ou profano. Existe a presença divina, ou
não. Aquilo que existe fora dos limites previamente considerados sagrados, sem a presença do
divino, é profano.
Aquilo fora do divino é um espaço de caos, habitado por seres fantásticos que, no mito
original, são vencidos e subjugados, para que se efetue sua sacralização e ordenação. Mas, as
características que tornam o caos inóspito para o europeu, se vencidas, o levariam ao inverso e
complemento do caos: o cosmos, o mundo bem ordenado, divinizado. Ele seria então agente da
criação desse novo mundo.
O homem se orienta por esse desejo de ultrapassar a condição humana, recuperar a condição
divina. Por isso ele cria e se volta para o centro, funda seu cosmos. Por isso também ele imagina “o
outro”, o obstáculo à sua posse, como a serpente.
Jacob de Varazze, em A Lenda Durea: o tempo do homem se divide entre o do desvio (queda
do paraíso?), o da peregrinação (remissão), e o da reconciliação final. O homem está numa jornada
em direção ao paraíso, ao centro e “o outro” espreita o homem, se esforça para desviá-lo da
salvação.
O mundo físico não tem, para o cristão medieval, seu aspecto concreto, porque ele olha com
os olhos do espírito, e não do corpo. O mundo terreno é apenas uma etapa.
Cartografias Ecumênica (T/O) e Hemisférica; os mapas mais como imagem do que como
instrumento. O mundo visto sob uma lente espiritual e mística. Imago Mundi.
Haviam teorias sobre o outro mundo, o quarto continente, que seriam habitados por
“antípodas”. Poderia ser um “cosmos”, ou o “caos”.
O oceano racionalizado, subjugado e preso nas malhas de uma teia que o homem construíra.
Colombo se considerava detentor de uma “verdade revelada”, sua viagem à índia era pra ele
um milagre evidente.
Ele via sinais vistos na viagem com olhos voltados pro mundo espiritual: os via como sinais
de Deus, ou reconhecia nele avisos dados por grandes filósofos ou teólogos.
Sobre o “Theatri Orbis Terrarum”: “Em posição diametralmente oposta à Europa, como
“antípoda”, está a América, colocada aos seus pés (da Europa), submissa. Em posição reclinada,
quase deitada, é sem dúvida uma figura ambígua. Embora bem proporcionada e com longos
cabelos, a sua feminilidade é contrabalanceada por um discreto ar viril, conferido pelas armas que
empunha e, sobretudo, pelo toucado à feição de um capacete. A figura sugere uma disponbilidade
sexual expressa pela sua posição reclinada. A ambiguidade de sua figura sugere, ainda, a de uma
Amazona e, associada ao hábito monstruoso da antropofagia – indicado pela cabeça da vítima em
sua mão – condena-a, inexoravelmente, a transgressão do Levítico e a uma destruição justificada”