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J. P. Coelho
A Mensagem poderá ser vista como uma epopeia, porque parte de um núcleo histórico, mas a sua
formulação, sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a
acção dos heróis só adquire pleno significado dentro de uma referência mitológica. Aqui, serão só
eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos
significativos. Assim, sua estrutura será dada pelo que, noutra linguagem, se poderá chamar os
esquemas ideológicos, ou as ideias-força desse povo: regresso ao paraíso, realização do impossível,
espera do Messias… Raízes do desenvolvimento dessa entidade colectiva.
Assim, a estrutura da Mensagem, sendo a de um mito, numa teoria cíclica, a das Idades, transfigura
e repete a história de uma pátria como o mito de um nascimento, vida e morte de um mundo; morte
que será seguida de um renascimento. Desenvolvendo-a como uma idade completa, de sentido
cósmico e dando-lhe a forma simbólica tripartida - Brasão, Mar Português, O Encoberto. Que se
poderá traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias
latentes, ou a morte: essa que conterá já em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo
que se anuncia - o Quinto Império. Assim, a terceira parte é toda ela um fim, uma desintegração;
mas também toda ela cheia de avisos, prenhe de pressentimentos, de forças latentes prestes a virem
à Luz: depois da Noite, e Tormenta, vem a Calma e a Antemanhã; estes são os Tempos.
Que mutação houve e que auscultou o poeta, na
alma do seu povo? À era dos heróis, daqueles que
percorrendo, sozinhos e únicos, o caminho da
realização pessoal e colectiva, levando-a até ao
fim através de perigos sem conta, se teria
sucedido uma era de desistência e anulação
pessoal, em que a esperança e a obra de
realização, de salvamento, se transfere e projecta
num super-eu nacional - o Desejado. É ele que
trará a regeneração do povo; que pela sua aparição
instaurará o tempo novo.
Depois da degenerescência do tempo antigo, Alcácer Quibir contará o fim de um ciclo de uma
pátria, tal como o de um mundo, por um dilúvio, pela sua força renovadora e purificadora.
A vinda do Encoberto marcará o fim da história. Os cinco impérios são irreversíveis. Alcácer-
Quibir é um acontecimento de valor religioso. E aí a morte de D. Sebastião assumirá o sentido da
morte redentora de um deus.
Essa intrínseca identificação do poeta com a nação toma aqui no profetismo a forma do que assume
em si, na sua pessoa, única e mortal, o destino de um ser colectivo, em todo o transcurso da sua
existência.
Dalila L. P. da Costa