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brasileira no Canal Futura1
ReSuMo
Este artigo trata dos suportes para o texto literário Ifá, o Adivinho: livro tradicional e livro animado.
Tanto a publicação da Companhia das Letrinhas como o formato para TV dirigemse ao leitor e/ou ao
espectador iniciante no tema, que, como a personagem, a gaúcha Preta, poderia dizer: “Eu fiquei lá,
pensando e chupando uva [...]. É assim: para nascer é preciso [...] o lado do pai e o lado da mãe. [...]
Também tenho parentes alemães por parte de minha outra vó, clara, casada com meu avô negroíndio
charrua. Que confusão!” (Lima, 2005, p. 9). Dessa perspectiva infante, foram publicadas em papel
várias histórias sobre a genealogia de Orixás. acessível à televisão e aos computadores via CD, parte
da genealogia foi adaptada para a Série Livros animados, do Canal Futura. as duas materialidades
são discutidas neste artigo.
Palavras-chave: Literatura. Televisão. identidade afrobrasileira.
ABStRAct
This article deals with supports for the literary text Ifá, o Adivinho: traditional and animated book.
Both the publication from Companhia das Letrinhas and the TV animation are intended for readers
and/or viewers that are new to the subject that, like Preta, the woman from the Rio Grande do Sul
Pampas, might say: it stood there, thinking and eating grapes. [...] it’s like that: to be born in this
world you need [...] both the father’s and the mother’s side. [...] i also have German relatives on my
other granny’s side, the white one who married my blackCharrua indian grandfather. What a mess!
(Lima, 2005, p. 9). Based on this childhood viewpoint, some stories were published on paper dealing
1 As autoras agradecem ao Canal Futura o apoio na forma da doação de todo o material que compõe o programa
A Cor da Cultura, o que inclui os livros animados. Artigo recebido em 21-8-09. Aprovado em 24-11-09.
2 Doutoranda em Comunicação pela Universidade do Vale do rio dos sinos (Unisinos). Coordenadora estadual
das Políticas de Igualdade Racial do RS. Este artigo parte de questões e pesquisa para o projeto de tese de Sátira
Machado – autora de Poesia infantil na TV – a experiência do castelo Ra-Tim-Bum, Porto Alegre: Edipucrs – e das
pesquisas sobre literatura africana de elizabeth r. Z. Brose. E-mail: satira.copir@gmail.com
3 Doutora em teoria da Literatura pela pontifícia Universidade Católica do rio grande do sul (pUCrs). Autora do livro
Máscaras de múltiplas faces – publicação de tese sobre obras do escritor angolano pepetela sob orientação da profa.
Dra. regina Zilberman (Ufrgs). Lançou, entre outros, pela editora da pUC-go, os livros: Leitura e literatura: teoria e
prática, escrito com Ms. Ana paula Charão. Atualmente assessora programas de leitura e coordena cursos de formação
de professores em projetos de fomento à leitura. Apoia a CAre Brasil que, em parceria com secretarias de educação e
Cultura e empresas como a Anglo American, incentiva a leitura em diversas regiões do País. E-mail: ebrose@uol.com.br
with the genealogy of Orishas. Accessible on TV and in CDROMs, part of that genealogy was adapted
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for the Futura Channel Animated Book Series. Both versions are discussed in this article.
Keywords: Literature. Television. Afrobrasilian identity.
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afrobrasileira no Canal Futura
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e acordo com o depoimento de Moya (2008, p. 18-19), pioneiro da televisão
brasileira, as origens da televisão no mundo aconteceram no âmbito das ci-
dades, e não, de países, como os cinemas inglês, alemão, italiano, estaduni-
dense e francês. As produções de TV eram locais, e as emissoras não tinham con-
tato umas com as outras. nova iorque, Londres e são paulo foram as primeiras ci-
dades a transmitir programas televisivos, sendo que a tV tupi atingia um raio máxi-
mo de 100 km. Assim, de modo localizado, em 18 de setembro de 1950, era inau-
gurada a tV tupi com o trabalho do desenhista iniciante Álvaro de Moya, que elabo-
rou os letreiros de abertura do Show da Taba.
na década de 50 (século XX), essa televisão que se introduzia nas casas instituiu
uma nova maneira de as crianças interagirem com o mundo e, desde então, muitas
produções culturais audiovisuais foram oferecidas aos telespectadores mirins. Em
1952, a telinha torna-se popular entre meninos e meninas com as transmissões do
programa Teatro Escola de São Paulo, pela Tv Tupi. no programa, Júlio gouveia e
tatiana Belinky reinventam as histórias da obra de Monteiro Lobato. em 1920, Lo-
bato lançou A menina do narizinho arrebitado. (LoBAto, 1920). reeditada com o títu-
lo Narizinho arrebitado, acrescida de uma segunda parte conhecida como O sítio
do pica-pau amarelo, foi relançada em 1921. (LoBAto, 1921). Abordando questões
sociais, políticas, econômicas e culturais nas ações vividas pelas personagens em
uma fazenda, Lobato inclui várias outras histórias à obra até 1944, em livros,
como, por exemplo, Reinações de Narizinho (LoBAto, 1931) e Novas reinações de
Narizinho (LoBAto, 1933). Na tevê, o programa O sítio do pica-pau amarelo foi exibi-
do durante uma década ao vivo, a partir de adaptações teatrais da obra, dramatiza-
das nos estúdios da tV. em 1964, a Tv Cultura, de são paulo mostrou sua versão
de O Sítio. De 1967 a 1969, o programa foi recriado por roteiristas, produtores e
editores, a partir da tecnologia do videoteipe, na Tv Bandeirantes. (MAChADo, 2002).
De 1977 a 1986, uma nova versão, da Tv Globo, foi exportada para vários países e
censurada em Angola, pela representação estereotipada da tia nastácia que lhes
parecia uma escrava. gouvea (2005) destaca que ante a reação das crianças de
Lobato aos seus contos, tia nastácia perdeu o posto de contadora de histórias, re-
assumindo seu lugar de cozinheira, sendo substituída por Dona Benta que, com
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auxílio dos livros, “sabe contar histórias de verdade”. Lajolo (1998), em seu traba-
lho A igura do negro em Monteiro Lobato comenta:
ter cabelos louros, lisos e compridos expressa a imaginação coletiva sobre o feminino,
tomando como modelo uma estética dominante, etnocêntrica e ideológica, cuja imagem
da mulher europeizada, ou americanizada é enaltecida. A distância entre esta aparência
e a realidade social miscigenada e tropical contribui para que a imagem, da própria
criança, seja desvalorizada, podendo reduzir-lhe a auto-estima, colocando-a em um lugar
inferiorizado. (BArreto, 2007, p. 5).
No ar desde 1994, representando a brasilidade e sem inserções estrangeiras, o
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programa Castelo Rá-Tim-Bum, da Tv Cultura/sp (disponível em: www.tvcultura.
com.br) é uma produção infantil com qualidades técnicas (imagem, som, edição e
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afrobrasileira no Canal Futura
Racismo Cordial, esse foi o nome dado a um caderno especial lançado pela folha
de São Paulo, em 1995. nesse ano, a folha patrocinou uma pesquisa para medir o
grau de preconceito racial dos brasileiros, por ocasião dos 300 anos da morte de
Zumbi dos palmares, assassinado em 1665. em comemoração, o movimento negro
brasileiro reuniu-se na esplanada dos Ministérios, em Brasília, na Marcha Zumbi,
para reivindicar justiça social e o im de tais desigualdades e preconceitos, que
atingem diretamente os afro-brasileiros e a produção educativa brasileira.
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onU como: a Declaração das Nações Unidas para a Eliminação de todas as for-
mas de Discriminação Racial (1963); a Declaração de Genebra sobre os Direitos
Fazia muito frio. Eu precisava pôr luva, o casaquinho marrom de lã e o gorrinho vermelho
que se espichava num cachecol. toda a manhã era preciso cobrir a pele já rachada pelo
vento frio e seco. o pior era o nariz que grudava gelado no vidro da janela embaçada,
olhando a geada que transformava meu quintal em cristal. [...] eu sou a preta. (p. 5).
A história que rompe com os mesmos rostos, os mesmos gestos, as mesmas dan-
ças e os mesmos calores de um país tropical de narrativas reeditadas, também é
um dos fundamentos atuais para os estudos sobre infância e culturas no Brasil. o
movimento de defesa dos direitos das crianças elaborou a emenda popular deno-
minada “Criança, prioridade nacional”, dando origem ao artigo 227 da Constituição
Federal de 1988, a conhecida Constituição Cidadã. O artigo 227 assegura, entre
outras prioridades, o direito à cultura, antecipando as diretrizes da Convenção In-
ternacional dos Direitos da Infância (1989). A Lei 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente (eCA) é o detalhamento do artigo 227 da
Constituição Federal de 1988 e a tradução brasileira da Convenção Internacional
dos Direitos da Criança. O estatuto valoriza a diversidade e, em 17 anos de existên-
cia, impulsiona a implantação de políticas de inclusão em todo o país.
essa nova ordem mundial leva a um reconhecimento das múltiplas faces da crian-
ça brasileira e da diversidade cultural do Brasil. A pesquisa Produção afro-cultural
para a criança, orientada pela profa. Dra. Leunice Martins de oliveira, da pUCrs,
aponta que, a partir da implementação da Lei 10.639/2003, multiplicaram-se as
produções culturais brasileiras que buscam contemplar a cultura negra. essa regra
vale para a literatura afro-brasileira infanto-juvenil e para as atividades audiovisuais
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das redes televisivas brasileiras.
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afrobrasileira no Canal Futura
Eu iquei lá, pensando e chupando uva, e ela continuou plantando sementes: Dizem
que sou afro – etiqueta para todos ou tudo o que é parecido com algo ou alguém da
África. [...] Afro tem em todos os países. por exemplo, existem os afro-brasileiros, os afro-
americanos, os afro-cubanos, os afro-franceses. Será que tem afro-sueco? Enim, é o
seguinte: afro vem de se ter origem africana. [...] É assim: para nascer é preciso duas
origens, ou seja, o lado do pai e o lado da mãe. [...] também tenho parentes alemães por
parte de minha outra vó, clara, casada com meu avô negro-índio charrua. Que confusão!
(LiMA, 2005, p. 9).
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o leitor saberá mais sobre Iemanjá, os gêmeos Ibejis, entre muitos outros. Algu-
mas dessas histórias escritas e pesquisadas por prandi foram adaptadas para o
o livro
A coletânea de histórias sobre ifá anuncia antes mesmo do começo da narrativa
que é um conjunto de:
A primeira história – O adivinho que escapou da Morte – conta que ifá, protagonis-
ta, joga 16 búzios, seus objetos mágicos e auxiliares, para ajudar as pessoas a se
defenderem da morte. essa antagonista, a Morte, espreita os habitantes de um po-
voado. ela tem pele branca, é feia e escamosa, seu cabelo é sem cor, desgrenhado
e quebradiço. o obstáculo da vida de ifá é a Morte. ela quer enfrentar e eliminar o
adivinho, para que as pessoas se fragilizem.
A próxima página expõe o conteúdo dessa imagem: Euá, a bela e misteriosa mu-
lher, reconhece o perseguido, ifá, e o acolhe sob suas vestes. euá mente à Morte
que Ifá havia fugido para dentro da loresta. Euá, a futura mãe de gêmeos,os Ibejis,
protege ifá.
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na vida tudo é repetição.
Aprende as histórias que
Como toda narrativa, Ifá, o Adivinho, organiza no tempo uma sucessão de sujeitos,
verbos, tempos, modos e objetos. o desnecessário não habita as frases e parágra-
fos. Sucinto como uma narrativa enigmática sagrada, as orações apresentam o mí-
nimo de palavras para o máximo de signiicados, por isso, a antologia precisa de
notas explicativas no im. Explicações que pretendem romper com o pacto iccional
e se aliar à realidade, seja à realidade objetiva deste mundo, a histórica, seja a das
crenças.
Assim, a frase: “e com a ajuda de exu, o Mensageiro, que sabia da vida de todo
mundo” (prAnDi, 2002, p. 46) apresenta o planeta como um povoado, que é circuns-
crito, limitado até as fronteiras do que não é esse “todo mundo”. esse mundo dado
na história pode ser conhecido em sua totalidade, pois Exu tem a onisciência dessa
região que é parte e todo ao mesmo tempo.
A mesma pressuposição de que o mundo é pequeno está no fato de ifá ter colecio-
nado histórias de cada problema dos seres humanos, animais e orixás. É possível,
portanto, que cada problema do mundo seja colecionado por um ser humano, que
é capaz de formar um todo com as questões mais importantes de todos os habitan-
tes da terra. o tamanho desse universo, desse conjunto de problemas e de histó-
rias de vida, tem como critério o tamanho da memória de um ser humano. para
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Chartier,4 em Inscrever e Apagar, “a memória, sem livro, característica de uma cul-
tura oral, pôde suprir a ausência do livro”. (ChArtier, 2007, p. 81). Ifá, antes de tudo,
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afrobrasileira no Canal Futura
Há, porém, na página 50, uma grande ruptura do texto iccional e também do texto
explicativo histórico. os dois modos de narrar – acerca do possível ou do realmente
acontecido – se esgarça e entra em cena um outro discurso: o informativo de uma
realidade supranatural e presente.
O pacto iccional se deu no tom inicial e distanciado da oração: “Vivia num povoado
africano um adivinho chamado ifá [...]”, em que “vivia” coloca o leitor em outra di-
mensão temporal diferente daquela do “agora” e longe de um passado de ações
concluídas. Conclui-se do texto que vivia é diferente de viveu. ifá não viveu e mor-
reu, mas vivia em um tempo de ações que ainda não terminaram.
4 Chartier é diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, e professor especializado em his-
tória das práticas culturais e história da leitura. Chartier publicou no Brasil os livros: história da vida privada, v. 3:
da renascença ao século das Luzes (Companhia das Letras); Cultura escrita, literatura e história (Artmed); formas
do sentido:– cultura escrita: entre distinção e apropriação (Mercado de Letras); Os desaios da escrita (edunesp); A
aventura do livro (edunesp); À beira da falésia (ed. da Universidade); Do palco à página (Casa da palavra); A ordem
dos livros (UnB); história da leitura no mundo ocidental (Ática); Práticas da leitura (estação Liberdade); O poder das
bibliotecas: a memória dos livros no ocidente (sob a direção de M. Baratin e C. Jacob, ed. da UfrJ) e Leituras e
leitores na frança do Antigo Regime (edunesp).
o discurso histórico também conduz o leitor a um tempo passado, como em “os
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africanos trabalhavam para o senhor branco, plantando, colhendo e moendo” (prAn-
Di, 2002, p. 49), em que o tempo está distanciado do tempo da leitura.
o livro de reginaldo prandi é uma obra de arte que se transforma em discurso tele-
visivo, tentando subverter os estereótipos que se repetem: os mesmos rostos e sor-
risos, a mesma personagem em situação subalterna, os mesmos dramas e as mes-
mas paródias do escravo, do vilão ou da personagem auxiliar.
nesse contexto de ruptura com o não pensar, com os mesmos rostos e histórias, a
série Livros Animados, destinada a crianças de 5 a 10 anos, tem um propósito edu-
cacional e discute temas como multiculturalismo, identidade, memória e etnia, focali-
zando a cultura negra como formadora da sociedade brasileira e visando a instaurar
um debate em torno da identidade étnica, mais especiicamente, a identidade dos
afro-brasileiros. A produção do programa adapta histórias da literatura infantil brasi-
leira, que tragam a negritude em sua essência, para a linguagem audiovisual da tevê.
A historiadora silva, especialista em livros infantis que tratam da temática afro-brasi-
leira, Lisboa, militante do movimento negro e a fundação nacional do Livro infantil e
Juvenil (fnLiJ) prestaram consultoria para a produção do programa.
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de de culturas africanas, ilustrado por graça Lima, também de autoria de Barbosa.
no episódio 9, a história fala de navios que usam a força do vento na obra O ilho
do vento, de Barbosa (2001) e ilustrações de Graça Lima. No último episódio, o dé-
cimo, as adaptações são O menino inesperado e Lili: a rainha das escolhas, de Lu-
cinda (2006), com ilustrações de Graça Lima.
A apresentadora
na série, a apresentadora do programa infantil, Vanessa pascale, interage com
crianças de várias idades e etnias que participam dos episódios. Vanessa Melani
pascale ekpenyong é a primeira mulher negra a protagonizar a apresentação de
um programa infantil de televisão no Brasil. em entrevista, a coordenadora de mo-
bilização comunitária do CAnAL fUtUrA da fundação Roberto Marinho, Ana paula
Brandão declara: A vanessa foi escolhida após um teste de elenco. Queríamos uma
mulher negra, que icaria responsável por brincar, conversar com as crianças, con-
duzir e ler as histórias dos livros no programa.5 Vanessa Melani, como a persona-
gem iccional Preta, do livro de Lima (2005), tem origem plural. Vanessa é ilha de
um nigeriano e de uma brasileira, foi criada pela avó materna e é modelo desde os
13 anos. ficou conhecida ao participar do Reality Show Big Brother Brasil 1, na Tv
Globo e é formada em interpretação, pela escola Cal – Laranjeiras/rJ, tendo parti-
5 entrevista concedida a sátira Machado, em julho de 2007.
cipado de comerciais e também de videoclipes, como, Shank, Dudu Nobre, Wilson
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Simoninha e Elvis.
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afrobrasileira no Canal Futura
Essa afro-descendência cultural, sobre a qual a personagem Preta tanto reletiu en-
quanto chupava uva, não pode ser apenas uma etiqueta, mas o começo de uma
discussão acerca do repertório de histórias que desconhecemos. são também es-
sas histórias que originaram o nosso país, que articularam o nosso mundo, que
chegaram no Brasil com os escravos.
A mídia mudou muito. Airma ainda Chartier (2004) que, nos anos 60 (século XX),
havia uma rede de televisão que saía do ar às oito e meia da noite. A partir de
1968, além de reações contra autoridades e de formas mais abertas de compor-
tamento, houve um agravamento da comercialização em detrimento da dimensão
cultural. essa mudança ocorreu também com o meio televisivo. Atualmente há
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uma fragmentação quase ininita devido à variedade de canais com programa-
ções para gostos especíicos, e essa fragmentação é uma forma de liberdade e
para Chartier (2004), essas novas tecnologias não devem ser vistas através de
um olhar pessimista. Ao contrário, ele airma que atualmente as pessoas leem
mais do que nos anos 50 (séc. XX), porque o computador não é apenas um novo
veículo, mas, sobretudo, é responsável pela multiplicação da presença do escritor
nas sociedades contemporâneas. escritores, línguas e culturas eclodem para lei-
tores diversiicados.
se, no século XiX, thomas Carlyle, Mathew Arnold, william Morris e frank raymond
Leavis abrem o debate sobre cultura erudita versus popular, o novo cenário leva a
relexões mais amplas sobre a cultura, denotando outras visões sobre o sujeito –
um ser de culturas pluralizadas. no século XX, richard hoggart, raymond williams
e edward p. thompson dão status cientíico à investigação da cultura popular e, em
1964, esse novo campo de pesquisa é institucionalizado no Centre for Contempo-
rany Cultural Studies (CCCS), na Universidade de Birmingham. Várias gerações de
pesquisadores passam a considerar os estudos culturais, denotando a natureza di-
versa e polêmica das teorias emergentes.
stuart hall, afro-jamaicano que migrou para a inglaterra e coordenou o CCCs, publi-
ca The television discourse: encoding and decoding (1997). ele aborda a relação
entre receptor e mídia, marcada pela codiicação e decodiicação. Hall incentiva a
realização de veriicações empíricas sobre a recepção, inluenciando a produção
posterior no campo da recepção.
entender o receptor como um ser dinâmico e complexo na era dos meios virtuais,
em que se multiplicam escritos e leituras, é fundamental para a abordagem teórico-
metodológica dos estudos culturais. em seu artigo “A estética do racismo”, Araújo
(2002) salienta que, para entender a construção do imaginário de receptores de te-
levisão latino-americanos, os pesquisadores necessitam compreender etnicamente
o que signiica ser uma família negra, que compreende o mundo e media o que é
produzido pela televisão. As especiicidades da cultura negra são o resultado de po-
líticas culturais da diferença, de lutas em torno da diferença, da produção de novas
identidades e do aparecimento de novos sujeitos no cenário político-cultural.
nesse contexto, o sentido de cultura passa a ter relação com a produção de senti-
dos, deixando de ser apenas recebida, agora considerando o sujeito como um
agente criativo, que pratica cultura. Carregada de intervenções, a região da cultura
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inclui as disputas, os conlitos e os enfrentamentos nas relações de poder. A comu-
nicação é interpretada como um processo simbólico que transforma a realidade, e
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afrobrasileira no Canal Futura
sabe como o mundo foi criado pelos africanos? ou como os africanos foram criados pelo
mundo? ou como a criação criou o mundo africano? ou como muitos africanos criaram
as histórias da criação do mundo? foi de conto em conto que se criou a criação. (LiMA,
2005, p. 14).
A desqualiicação de sua identidade cultural – marcada pela herança que a origem africana
lhe confere – e a freqüente culpabilização por sua situação econômico-social degradada
são fenômenos que geram, entre outros constrangimentos, baixa auto-estima. E, de
outro lado, esconde a riqueza de parcela importante da sua cultura, história e identidade
brasileiras. (2005, p. 7).
Ao longo dos últimos anos, o papel polêmico exercido pela Tv Globo na visibilidade
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dada às questões de cidadania e de identidade no Brasil tem sido criticado pelos
afro-brasileiros. oliveira e pavan (2004) apresentaram uma análise da novela Da
A preta é aceita também pelas crianças. fico feliz de ver menininhas loirinhas de olhos
azuis passando por mim na rua gritando: “Preta, Preta, você é linda!” Quem sabe a gente
não vai criando uma geração de crianças bacanas que podem olhar um negro e admirá-lo.
Na minha infância, eu só tinha a Xuxa para admirar por falta de uma referência negra na
tevê. (oLiVeirA; pAVAn, 2004, p. 13).
racismo midiático
Ao conceituar o racismo midiático, Sodré (1998) analisa o papel da mídia em produzir e
reproduzir racismo. sodré enumera quatro fatores que efetivam sua análise: 1) a nega-
ção, quando a mídia tenta negar a existência de racismo, apesar de noticiar casos de
violações lagrantes; 2) o recalcamento, quando a história do negro ou no Brasil ou nas
Américas não é divulgada de forma positiva na mídia; 3) a estigmatização, quando a
mídia cria estereótipos que levam à discriminação; e 4) a indiferença proissional, quan-
do a desvalorização – proissional e cultural – do comunicador negro atinge a mídia.
Como Ifá ganhou o cargo de Adivinho apresenta a personagem exu como um rapaz
que auxilia ifá na prova para o cargo de Adivinho. Desse modo, o tratamento tenta
superar a negação do racismo e projeta a história para a visibilidade, divulgando
ideias não discriminatórias. Além disso, a história é contada pela apresentadora do
programa, o que signiica valorizar a proissional. Nilma Lino Gomes entende essa
valorização da identidade negra como uma construção social, histórica, cultural e
plural oriunda do grupo étnico-racial e das relações possíveis entre o sujeito consi-
go mesmo e com os outros. Acredita que construir uma identidade negra positiva
na sociedade brasileira, que ensina os negros que, para serem aceitos é preciso
negarem-se, é um desaio para todos os brasileiros.
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de pensamentos, de línguas, de visões de mundo, de traduções, de adaptações. O
texto prioriza um herói, e suas ações são desencadeadas em um tempo distante e
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