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ifá, o Adivinho: literatura afro-

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brasileira no Canal Futura1

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 8, n. 16, jul./dez. 2009


ifá, the fortune teller: african-
brazilian literature in Futura channel
Sátira P. Machado2
Elizabeth R. Z. Brose3

ReSuMo
Este artigo trata dos suportes para o texto literário Ifá, o Adivinho: livro tradicional e livro animado.
Tanto a publicação da Companhia das Letrinhas como o formato para TV dirigem­se ao leitor e/ou ao
espectador iniciante no tema, que, como a personagem, a gaúcha Preta, poderia dizer: “Eu fiquei lá,
pensando e chupando uva [...]. É assim: para nascer é preciso [...] o lado do pai e o lado da mãe. [...]
Também tenho parentes alemães por parte de minha outra vó, clara, casada com meu avô negro­índio
charrua. Que confusão!” (Lima, 2005, p. 9). Dessa perspectiva infante, foram publicadas em papel
várias histórias sobre a genealogia de Orixás. acessível à televisão e aos computadores via CD, parte
da genealogia foi adaptada para a Série Livros animados, do Canal Futura. as duas materialidades
são discutidas neste artigo.
Palavras-chave: Literatura. Televisão. identidade afro­brasileira.

ABStRAct
This article deals with supports for the literary text Ifá, o Adivinho: traditional and animated book.
Both the publication from Companhia das Letrinhas and the TV animation are intended for readers
and/or viewers that are new to the subject that, like Preta, the woman from the Rio Grande do Sul
Pampas, might say: it stood there, thinking and eating grapes. [...] it’s like that: to be born in this
world you need [...] both the father’s and the mother’s side. [...] i also have German relatives on my
other granny’s side, the white one who married my black­Charrua indian grandfather. What a mess!
(Lima, 2005, p. 9). Based on this childhood viewpoint, some stories were published on paper dealing

1 As autoras agradecem ao Canal Futura o apoio na forma da doação de todo o material que compõe o programa
A Cor da Cultura, o que inclui os livros animados. Artigo recebido em 21-8-09. Aprovado em 24-11-09.
2 Doutoranda em Comunicação pela Universidade do Vale do rio dos sinos (Unisinos). Coordenadora estadual
das Políticas de Igualdade Racial do RS. Este artigo parte de questões e pesquisa para o projeto de tese de Sátira
Machado – autora de Poesia infantil na TV – a experiência do castelo Ra-Tim-Bum, Porto Alegre: Edipucrs – e das
pesquisas sobre literatura africana de elizabeth r. Z. Brose. E-mail: satira.copir@gmail.com
3 Doutora em teoria da Literatura pela pontifícia Universidade Católica do rio grande do sul (pUCrs). Autora do livro
Máscaras de múltiplas faces – publicação de tese sobre obras do escritor angolano pepetela sob orientação da profa.
Dra. regina Zilberman (Ufrgs). Lançou, entre outros, pela editora da pUC-go, os livros: Leitura e literatura: teoria e
prática, escrito com Ms. Ana paula Charão. Atualmente assessora programas de leitura e coordena cursos de formação
de professores em projetos de fomento à leitura. Apoia a CAre Brasil que, em parceria com secretarias de educação e
Cultura e empresas como a Anglo American, incentiva a leitura em diversas regiões do País. E-mail: ebrose@uol.com.br
with the genealogy of Orishas. Accessible on TV and in CD­ROMs, part of that genealogy was adapted
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for the Futura Channel Animated Book Series. Both versions are discussed in this article.
Keywords: Literature. Television. Afrobrasilian identity.
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afro­brasileira no Canal Futura

A televisão interage com a criança brasileira

D
e acordo com o depoimento de Moya (2008, p. 18-19), pioneiro da televisão
brasileira, as origens da televisão no mundo aconteceram no âmbito das ci-
dades, e não, de países, como os cinemas inglês, alemão, italiano, estaduni-
dense e francês. As produções de TV eram locais, e as emissoras não tinham con-
tato umas com as outras. nova iorque, Londres e são paulo foram as primeiras ci-
dades a transmitir programas televisivos, sendo que a tV tupi atingia um raio máxi-
mo de 100 km. Assim, de modo localizado, em 18 de setembro de 1950, era inau-
gurada a tV tupi com o trabalho do desenhista iniciante Álvaro de Moya, que elabo-
rou os letreiros de abertura do Show da Taba.

na década de 50 (século XX), essa televisão que se introduzia nas casas instituiu
uma nova maneira de as crianças interagirem com o mundo e, desde então, muitas
produções culturais audiovisuais foram oferecidas aos telespectadores mirins. Em
1952, a telinha torna-se popular entre meninos e meninas com as transmissões do
programa Teatro Escola de São Paulo, pela Tv Tupi. no programa, Júlio gouveia e
tatiana Belinky reinventam as histórias da obra de Monteiro Lobato. em 1920, Lo-
bato lançou A menina do narizinho arrebitado. (LoBAto, 1920). reeditada com o títu-
lo Narizinho arrebitado, acrescida de uma segunda parte conhecida como O sítio
do pica-pau amarelo, foi relançada em 1921. (LoBAto, 1921). Abordando questões
sociais, políticas, econômicas e culturais nas ações vividas pelas personagens em
uma fazenda, Lobato inclui várias outras histórias à obra até 1944, em livros,
como, por exemplo, Reinações de Narizinho (LoBAto, 1931) e Novas reinações de
Narizinho (LoBAto, 1933). Na tevê, o programa O sítio do pica-pau amarelo foi exibi-
do durante uma década ao vivo, a partir de adaptações teatrais da obra, dramatiza-
das nos estúdios da tV. em 1964, a Tv Cultura, de são paulo mostrou sua versão
de O Sítio. De 1967 a 1969, o programa foi recriado por roteiristas, produtores e
editores, a partir da tecnologia do videoteipe, na Tv Bandeirantes. (MAChADo, 2002).

De 1977 a 1986, uma nova versão, da Tv Globo, foi exportada para vários países e
censurada em Angola, pela representação estereotipada da tia nastácia que lhes
parecia uma escrava. gouvea (2005) destaca que ante a reação das crianças de
Lobato aos seus contos, tia nastácia perdeu o posto de contadora de histórias, re-
assumindo seu lugar de cozinheira, sendo substituída por Dona Benta que, com

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auxílio dos livros, “sabe contar histórias de verdade”. Lajolo (1998), em seu traba-
lho A igura do negro em Monteiro Lobato comenta:

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tia nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena ganha as primeiras
atenções: ela desfruta da afetividade da matriarcal família branca para a qual trabalha
e, ao mesmo tempo, apesar de suas breves mas muito signiicativas incursões pela
sala e varanda, encontra no espaço da cozinha emblema de seu coninamento e de sua
desqualiicação social. Ao longo da obra infantil lobatiana, a exceção ao carinho brincalhão
que a cerca, vem sempre um insulto pela boca da emília, que em momentos de discussão
e desentendimento desrespeita a velha cozinheira, como sucede em algumas passagens
de histórias de tia nastácia: “pois cá comigo – disse emília – só aturo estas histórias como
estudos da ignorância e burrice do povo. prazer não sinto nenhum. não são engraçadas,
não têm humorismo. Parecem-me muito grosseiras e até bárbaras – coisa mesmo de negra
beiçuda, como Tia Nastácia. Não gosto, não gosto, e não gosto! [...] – Bem se vê que é preta
e beiçuda! Não tem a menor ilosoia, esta diaba. Sina é o seu nariz, sabe?” Similares má-
criações têm servido de munição para leituras que tomam o xingamento como manifestação
explícita do racismo de Lobato, questão incômoda, de que os estudiosos do escritor têm
de dar conta. É fora de dúvida que Lobato subscreve preconceitos etnocêntricos e mesmo
racistas. (LAJOLO, 1988, p. 1).

Muitas gerações de brasileiros assistiram a representações da Tia Nastácia através


da atuação de várias atrizes que interpretaram essa personagem negra que ajudou a
cuidar dos netos de Dona Benta na fazenda. em 2001, a tV globo reeditou o progra-
ma com novos argumentos e, em 2005, lançou como novela infantil que esteve no ar
também através do site www.sitio.globo.com, mantendo a personagem tia nastácia.

por outro lado, a apresentadora Xuxa representou enfaticamente o modelo de beleza:


magra de cabelos lisos e loiros na década de 80. Maria das Graças Meneghel passa
a encantar os baixinhos e, já em 1983, Xuxa apresentou o programa Clube da Crian-
ça na Tv Manchete. na Tv Globo, a apresentadora infantil liderou os programas Xou
da Xuxa (de 1986 a 1992), Programa da Xuxa (1993), Xuxa Park (1994), Planeta
Xuxa (1997), Xuxa no Mundo da Imaginação (2003) e mantém o Tv Xuxa, que es-
treou em 2005, disponível em: www.tvxuxa.globo.com. Barreto e silvestri, na pesqui-
sa Relações dialógicas interculturais: brinquedos e gênero, ressaltam:

ter cabelos louros, lisos e compridos expressa a imaginação coletiva sobre o feminino,
tomando como modelo uma estética dominante, etnocêntrica e ideológica, cuja imagem
da mulher europeizada, ou americanizada é enaltecida. A distância entre esta aparência
e a realidade social miscigenada e tropical contribui para que a imagem, da própria
criança, seja desvalorizada, podendo reduzir-lhe a auto-estima, colocando-a em um lugar
inferiorizado. (BArreto, 2007, p. 5).
No ar desde 1994, representando a brasilidade e sem inserções estrangeiras, o
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programa Castelo Rá-Tim-Bum, da Tv Cultura/sp (disponível em: www.tvcultura.
com.br) é uma produção infantil com qualidades técnicas (imagem, som, edição e
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ritmo) e de conteúdo (padrões sociais, econômicos, políticos e culturais) reconheci-


da pelos vários prêmios que recebeu. Na pesquisa Programas educativos de televi-
são para crianças brasileiras: critérios de planejamentos propostos a partir das
análises de Vila sésamo e rá tim Bum, souza (2001) faz uma ressalva:

O episódio “Zula, a menina Azul”, do Castelo, é exemplar no trato do conlito – ou sua


distorção/mascaramento pelos programas brasileiros. nele é desenvolvido o tema
“discriminação”, cuja metáfora é o azul (referência ao racismo com possibilidades mais
amplas de interpretação). os personagens infantis são extremamente cruéis com a menina
diferente, a rejeitam, a isolam. No decorrer da trama, e a partir da energética interferência
de um adulto (penélope, a jornalista), aprendem que foram preconceituosos e passam a
respeitar e a apreciar a diferença cultural. por um lado, o desfecho da trama reforça o
discurso hegemônico sobre a miscigenação racial, denunciada pelos movimentos negros
no país. Por outro, o preconceito racial não é tratado com especiicidade e a vítima do
preconceito é uma personagem de fora da trama, apesar de personagem do núcleo
central ser interpretada por atriz negra (Biba). tal episódio é sintomático da redução da
problemática do racismo feito por brancos que não sofreram este tipo de experiência,
incorporando critérios “politicamente corretos”. Biba é interpretada por uma atriz negra,
mas não há nada na composição da personagem e da trama do Castelo que a caracteriza
como uma criança não-branca. ela nunca sofre nenhum tipo de discriminação, o que é
absolutamente irreal na sociedade brasileira, mesmo nas escolas experimentais. produzida
fundamentalmente por brancos – em geral negros ocupam funções técnicas em televisão
e não interferem na criação e elaboração da mensagem – a produção educativa também
reproduz o mito do racismo cordial. (p. 183-184).

Racismo Cordial, esse foi o nome dado a um caderno especial lançado pela folha
de São Paulo, em 1995. nesse ano, a folha patrocinou uma pesquisa para medir o
grau de preconceito racial dos brasileiros, por ocasião dos 300 anos da morte de
Zumbi dos palmares, assassinado em 1665. em comemoração, o movimento negro
brasileiro reuniu-se na esplanada dos Ministérios, em Brasília, na Marcha Zumbi,
para reivindicar justiça social e o im de tais desigualdades e preconceitos, que
atingem diretamente os afro-brasileiros e a produção educativa brasileira.

novos olhares para a diversidade


A contemporaneidade lança novos olhares sobre a diversidade cultural dos vários
povos do mundo, ganhando notoriedade com pesquisas cientíicas e até políticas
públicas. Tais mudanças têm incitado novos estudos acerca da relação entre mídia,
infância, identidade e cidadania. Essas investigações acolhem recomendações da

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onU como: a Declaração das Nações Unidas para a Eliminação de todas as for-
mas de Discriminação Racial (1963); a Declaração de Genebra sobre os Direitos

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da Criança (1924); a Declaração Internacional dos Direitos da Criança da ONU
(1959); e a Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvi-
mento da Criança (1990). em síntese, os documentos enfatizam que todas as crian-
ças devem ter a oportunidade de encontrar a própria identidade, que sejam prepara-
das para uma vida responsável dentro de uma sociedade livre e que, desde cedo, de-
vam ser incentivadas a participar da vida cultural da sociedade em que vivem.

A inclusão do tema negritude, em contexto que rejeita estereótipos, é encontrada


no livro da antropóloga e escritora gaúcha Lima (2005), em histórias da Preta:

Fazia muito frio. Eu precisava pôr luva, o casaquinho marrom de lã e o gorrinho vermelho
que se espichava num cachecol. toda a manhã era preciso cobrir a pele já rachada pelo
vento frio e seco. o pior era o nariz que grudava gelado no vidro da janela embaçada,
olhando a geada que transformava meu quintal em cristal. [...] eu sou a preta. (p. 5).

essa projeção de uma negritude não estereotipada, como a da personagem preta,


que ouve a tia dizer em um Brasil de inverno frio: “preta, olha o bolo, os pastéis, a
calça-virada, a cuca e os canudinhos que iz para ti!” (p. 8).

A história que rompe com os mesmos rostos, os mesmos gestos, as mesmas dan-
ças e os mesmos calores de um país tropical de narrativas reeditadas, também é
um dos fundamentos atuais para os estudos sobre infância e culturas no Brasil. o
movimento de defesa dos direitos das crianças elaborou a emenda popular deno-
minada “Criança, prioridade nacional”, dando origem ao artigo 227 da Constituição
Federal de 1988, a conhecida Constituição Cidadã. O artigo 227 assegura, entre
outras prioridades, o direito à cultura, antecipando as diretrizes da Convenção In-
ternacional dos Direitos da Infância (1989). A Lei 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente (eCA) é o detalhamento do artigo 227 da
Constituição Federal de 1988 e a tradução brasileira da Convenção Internacional
dos Direitos da Criança. O estatuto valoriza a diversidade e, em 17 anos de existên-
cia, impulsiona a implantação de políticas de inclusão em todo o país.

essa nova ordem mundial leva a um reconhecimento das múltiplas faces da crian-
ça brasileira e da diversidade cultural do Brasil. A pesquisa Produção afro-cultural
para a criança, orientada pela profa. Dra. Leunice Martins de oliveira, da pUCrs,
aponta que, a partir da implementação da Lei 10.639/2003, multiplicaram-se as
produções culturais brasileiras que buscam contemplar a cultura negra. essa regra
vale para a literatura afro-brasileira infanto-juvenil e para as atividades audiovisuais
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das redes televisivas brasileiras.
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afro­brasileira no Canal Futura

Nesse contexto de ruptura e de airmação de uma infância brasileira multicultural,


o livro Ifá, o Adivinho dirige-se a um leitor iniciante, seja ele criança ou não, mas
àquele leitor que começa a conhecer uma das diversas culturas brasileiras: a afro-
descendente.

Sobre a afro-descendência, a personagem Preta que mora em uma região fria do


Brasil, relete “com seus butiás”:

Eu iquei lá, pensando e chupando uva, e ela continuou plantando sementes: Dizem
que sou afro – etiqueta para todos ou tudo o que é parecido com algo ou alguém da
África. [...] Afro tem em todos os países. por exemplo, existem os afro-brasileiros, os afro-
americanos, os afro-cubanos, os afro-franceses. Será que tem afro-sueco? Enim, é o
seguinte: afro vem de se ter origem africana. [...] É assim: para nascer é preciso duas
origens, ou seja, o lado do pai e o lado da mãe. [...] também tenho parentes alemães por
parte de minha outra vó, clara, casada com meu avô negro-índio charrua. Que confusão!
(LiMA, 2005, p. 9).

para ajudar a esclarecer essa confusão na cabeça de muitas crianças brasileiras,


há uma produção literária muito profícua nos últimos anos, no Brasil. o autor pran-
di escreveu de modo lúdico um texto adaptado para crianças sobre sua vasta pes-
quisa como professor de sociologia na Usp e publicada pela Companhia das Le-
tras em 2001: Mitologia dos Orixás. reginaldo é, de certa forma, além de escritor,
o tradutor ou o adaptador de Mitologia dos Orixás para narrativas claras para
crianças. Esse processo de escrita exigiu que o autor escrevesse várias versões do
mesmo texto. As atualizações foram lidas para crianças pela antropóloga e educa-
dora Rosa Maria Bernardo, e as observações contribuíram para a reelaboração do
livro, premiado como melhor reconto em 2003 pela fundação nacional do Livro
infantil e Juvenil.

O trabalho foi sincronizado com as ilustrações de Pedro Rafael, também premiado


pela fundação nacional do Livro infantil e Juvenil “revelação ilustrador”, em 2003.
As ilustrações simulam estampas de tecidos, sugerindo rostos e movimentos que
estão em sincronia com o texto. sem invocar antagonismos, metáforas ou ironias,
as imagens ampliam detalhes da história, apresentando personagens, cenários e
utensílios de adivinhação ou instrumentos musicais.

As várias histórias contidas nessa coletânea, Ifá, o Adivinho, tratam da genealogia


de vários orixás. ifá, a personagem principal, estabelece conexão entre elas, pois,
além de jogar búzios e adivinhar, conta suas histórias. Através do protagonista ifá,

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o leitor saberá mais sobre Iemanjá, os gêmeos Ibejis, entre muitos outros. Algu-
mas dessas histórias escritas e pesquisadas por prandi foram adaptadas para o

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formato televisivo na série Livros Animados, do programa realizado pelo Canal fu-
tura: A Cor da Cultura.

o livro
A coletânea de histórias sobre ifá anuncia antes mesmo do começo da narrativa
que é um conjunto de:

histórias dos deuses


africanos que
vieram para o Brasil
com o escravos. (prAnDi, 2002, p. 1).

o enunciador da obra é, portanto, um conjunto de divindades, cujos mensageiros


são humanos que, supostamente, estão em diálogo com elas. esse é o princípio da
narrativa mítica. o pacto oferecido ao leitor é o de entrar em uma dimensão de lei-
tura do universo do mito, aquele em que a palavra instaura a criação, e o homem
está inserido em um cosmos organizado. greimas (1973) pensa esse modelo de
narrativa mítica como sendo relações actanciais que tecem o texto. Seis questões
mostrariam a matéria-prima dessa malha textual: quem é o destinador da narrati-
va, ou seja, quem torna possível a ação? Quem é o sujeito da ação? o que a ação
pretende conquistar, ou seja, qual é o objeto da narrativa? Quem ou o que se opõe
à ação, ou seja, quais os oponentes do sujeito? Quem ou o que facilita a ação, ou
seja, os auxiliares do sujeito? Qual é o destinatário da ação?

respondendo a essas perguntas, em Ifá, o Adivinho, antes mesmo da primeira his-


tória começar, sabemos que se trata de uma narrativa instauradora de um cosmos,
em que as trocas entre os seres humanos e divindades são dados do nível da reali-
dade da história. o que não sabemos, ainda é: quem são os protagonistas (sujeitos
da ação), seus oponentes, a ação em si e a quem ela se destina. Mas supomos,
pela epígrafe, que os heróis sejam os escravos, que o espaço seja o Brasil e que os
adjuvantes ou auxiliares sejam deuses de outro continente.

o estranho se apresenta: o outro. Ao evocar, já na epígrafe, dois continentes afasta-


dos por um oceano e, ainda, mais com o signiicado do verbo vieram, pressupomos
que as ocorrências localizam-se no Brasil, aqui perto, e que as histórias vêm de ou-
tro lugar, lá de longe. o outro, aquele que habita lá, atrás do grande oceano, se
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apresenta ao leitor.
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afro­brasileira no Canal Futura

A primeira história – O adivinho que escapou da Morte – conta que ifá, protagonis-
ta, joga 16 búzios, seus objetos mágicos e auxiliares, para ajudar as pessoas a se
defenderem da morte. essa antagonista, a Morte, espreita os habitantes de um po-
voado. ela tem pele branca, é feia e escamosa, seu cabelo é sem cor, desgrenhado
e quebradiço. o obstáculo da vida de ifá é a Morte. ela quer enfrentar e eliminar o
adivinho, para que as pessoas se fragilizem.

A ilustração que acompanha esse conteúdo antecipa a ação, mostrando a Morte


em pé, usando cartola, vestes longas, tendo moscas à cabeça, próxima de uma
mulher que lava roupas à beira de um córrego. Debaixo da saia larga da lavadeira,
há um rosto espiando a Morte.

A próxima página expõe o conteúdo dessa imagem: Euá, a bela e misteriosa mu-
lher, reconhece o perseguido, ifá, e o acolhe sob suas vestes. euá mente à Morte
que Ifá havia fugido para dentro da loresta. Euá, a futura mãe de gêmeos,os Ibejis,
protege ifá.

A segunda história: Como Ifá ganhou o cargo de Adivinho, apresenta a personagem


exu, um rapaz muito esperto, auxiliando ifá a ganhar o cargo. olorum, o senhor do
Céu, submeteu ifá a uma prova que consistia em desvendar um enigma: qual pu-
nhado de milho jogado por olorum, um era cru, e o outro, cozido, germinaria. exu,
escondido atrás de umas plantas, viu qual dos punhados era o cru e cochichou
uma outra pergunta a ifá, cuja resposta certa era a mesma que olorum esperava
ouvir: Qual era o caminho para a casa de ifá: o norte ou o sul? norte, respondeu
ifá corretamente às duas perguntas de uma só vez.

e a antologia continua com narrativas encadeadas pela personagem principal, per-


correndo a trajetória em: A fonte que deu de beber aos ilhos gêmeos; O caçador do
povo que enfrentou o pássaro tenebroso; Os gêmeos que izeram a morte dançar; O
ferreiro que não queria ser rei; Por que o rei castigou suas três esposas; A Bela sedu-
tora que conseguia tudo; Como o Adivinho sabe todas as histórias; Então o Senhor
Supremo fez do Adivinho um orixá; No inal, como os Orixás vieram para o Brasil.

Acrescentadas ao elenco de histórias, as seções informativas – Quem são os nos-


sos personagens, os orixás e Nota do autor – explicam ao leitor ou em forma de
glossário ou de texto histórico quem são olorum e demais orixás e como suas histó-
rias chegaram ao Brasil.
olorum disse:

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na vida tudo é repetição.
Aprende as histórias que

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aconteceram no passado
e saberás o que se passa no presente
e tudo o que no futuro ocorrerá. (prAnDi, 2002, p. 45).

O livro inaliza, portanto, com a ideia de totalidade, de coesão e de coerência entre


si dos acontecimentos do mundo. A totalidade dos eventos ocorreria sob a regra da
repetição, lembrando a ideia cíclica da natureza que teria um tempo próprio. tempo
que contém passado, presente e futuro simultaneamente. A narrativa articula a co-
existência dos tempos, pois amplia o presente, tornando-se o futuro previsível atra-
vés da interpretação desse presente.

A narrativa equivale ao todo, em que se inserem de modo harmônico, coeso e coe-


rente cada personagem, cada ação, cada espaço. escrita e ilustração evitam o des-
necessário. se a personagem se esconde debaixo das vestes de euá, a imagem
mostra esse esconderijo: lugar enigmático que também abriga a vida que é gerada
para proteger o povo e a vida dos gêmeos Ibejis. A imagem de muitos signiicados
mostra o espaço de muitos segredos.

Como toda narrativa, Ifá, o Adivinho, organiza no tempo uma sucessão de sujeitos,
verbos, tempos, modos e objetos. o desnecessário não habita as frases e parágra-
fos. Sucinto como uma narrativa enigmática sagrada, as orações apresentam o mí-
nimo de palavras para o máximo de signiicados, por isso, a antologia precisa de
notas explicativas no im. Explicações que pretendem romper com o pacto iccional
e se aliar à realidade, seja à realidade objetiva deste mundo, a histórica, seja a das
crenças.

Assim, a frase: “e com a ajuda de exu, o Mensageiro, que sabia da vida de todo
mundo” (prAnDi, 2002, p. 46) apresenta o planeta como um povoado, que é circuns-
crito, limitado até as fronteiras do que não é esse “todo mundo”. esse mundo dado
na história pode ser conhecido em sua totalidade, pois Exu tem a onisciência dessa
região que é parte e todo ao mesmo tempo.

A mesma pressuposição de que o mundo é pequeno está no fato de ifá ter colecio-
nado histórias de cada problema dos seres humanos, animais e orixás. É possível,
portanto, que cada problema do mundo seja colecionado por um ser humano, que
é capaz de formar um todo com as questões mais importantes de todos os habitan-
tes da terra. o tamanho desse universo, desse conjunto de problemas e de histó-
rias de vida, tem como critério o tamanho da memória de um ser humano. para
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Chartier,4 em Inscrever e Apagar, “a memória, sem livro, característica de uma cul-
tura oral, pôde suprir a ausência do livro”. (ChArtier, 2007, p. 81). Ifá, antes de tudo,
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afro­brasileira no Canal Futura

é um homem que coleciona narrativas sem a materialidade da escrita dos antigos


– em suporte de folhas de palmeira, cascas de árvores, folhas de chumbo, tecidos,
papiros e tabuletas de cera. ifá grava na memória e, assim, soluciona as provas e,
elevado a orixá, passa pela morte sem conhecê-la, ou seja, deixa de ser homem e
participa do grupo dos orixás, usando como instrumento a coleção da totalidade
dos problemas do mundo gravada em sua memória – biblioteca imaterial.

Além de totalidade desse mundo ser do tamanho da memória de um ser humano


especial, o mundo real ainda engloba um outro universo, o do além, que também é
compreensível pelos seres humanos através de narrativas organizadoras. essa to-
talidade nos é dada a compreender por narrativas como as dessa antologia de con-
tos do ifá, escritas por prandi.

Há, porém, na página 50, uma grande ruptura do texto iccional e também do texto
explicativo histórico. os dois modos de narrar – acerca do possível ou do realmente
acontecido – se esgarça e entra em cena um outro discurso: o informativo de uma
realidade supranatural e presente.

O pacto iccional se deu no tom inicial e distanciado da oração: “Vivia num povoado
africano um adivinho chamado ifá [...]”, em que “vivia” coloca o leitor em outra di-
mensão temporal diferente daquela do “agora” e longe de um passado de ações
concluídas. Conclui-se do texto que vivia é diferente de viveu. ifá não viveu e mor-
reu, mas vivia em um tempo de ações que ainda não terminaram.

o trecho “num povoado africano” trata de um outro continente e de um povo cujo


nome o leitor ainda não foi informado qual é. Algo acontece muito longe daqui, na
outra margem do oceano Atlântico e em um tempo não concluído e que não é o
presente.

4 Chartier é diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, e professor especializado em his-
tória das práticas culturais e história da leitura. Chartier publicou no Brasil os livros: história da vida privada, v. 3:
da renascença ao século das Luzes (Companhia das Letras); Cultura escrita, literatura e história (Artmed); formas
do sentido:– cultura escrita: entre distinção e apropriação (Mercado de Letras); Os desaios da escrita (edunesp); A
aventura do livro (edunesp); À beira da falésia (ed. da Universidade); Do palco à página (Casa da palavra); A ordem
dos livros (UnB); história da leitura no mundo ocidental (Ática); Práticas da leitura (estação Liberdade); O poder das
bibliotecas: a memória dos livros no ocidente (sob a direção de M. Baratin e C. Jacob, ed. da UfrJ) e Leituras e
leitores na frança do Antigo Regime (edunesp).
o discurso histórico também conduz o leitor a um tempo passado, como em “os

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africanos trabalhavam para o senhor branco, plantando, colhendo e moendo” (prAn-
Di, 2002, p. 49), em que o tempo está distanciado do tempo da leitura.

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Já a ruptura com a narrativa iccional e a histórica se dá, por exemplo, em

ifá, o Adivinho, é um dos orixás


que habitam o orum e vivem interferindo em nossas vidas.
eles nos ajudam sim, mas exigem nossa atenção para com eles.
Quando estão de bem conosco nos dão tudo de que precisamos.
se estamos em falta com eles, nos castigam. (prAnDi, 2002, p. 50).

o texto passa para a primeira pessoa do plural, e o tempo é o presente. o tempo do


evento narrado e o tempo da leitura são os mesmos. o sujeito plural inclui autor,
narrador e leitor. Essa passagem quebra o pacto da icção e extrapola para a retóri-
ca do texto pedagógico.

Esse detalhe, no im do livro, se visto criticamente pelo professor e mediador da lei-


tura, não diminui a importância e a qualidade das narrativas iccionais e, em espe-
cial, da história Como Ifá ganhou o cargo de adivinho, que trata da origem humana
de ifá e de suas provas para se tornar adivinho.

Livro e televisão: erudição e massa?


Ifá, o Adivinho, essa obra de arte literária sugere um universo de possibilidades de
modo orgânico, ordenado por um narrador e pelo tempo da narrativa. são histórias
escritas com características estéticas e que se apresentam como uma malha, re-
pleta de lacunas, as quais o leitor preencherá com sua leitura de mundo. o texto li-
terário, portanto, diferentemente do discurso pedagógico, constitui-se no limiar do
dito e do não dito, com o qual o leitor interage colorindo os espaços em branco e
transformando, muitas vezes, as pressuposições em airmações.

o livro de reginaldo prandi é uma obra de arte que se transforma em discurso tele-
visivo, tentando subverter os estereótipos que se repetem: os mesmos rostos e sor-
risos, a mesma personagem em situação subalterna, os mesmos dramas e as mes-
mas paródias do escravo, do vilão ou da personagem auxiliar.

no lugar de aliviar o público de produzir pensamentos próprios, a adaptação de Ifá,


o Adivinho constrói ligações lógicas que pressupõem um esforço intelectual que é
evitado pelos meios de comunicação de massa, segundo Adorno e horkheimer.
148
(1985, p. 128). Ifá coloca a criança em contato com mitos de origem do mundo e
com narrativas que organizam o universo e a natureza. há um ser criador de todos
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afro­brasileira no Canal Futura

os orixás, há uma separação entre as águas e a loresta e há modos de interação


entre as pessoas diversas.

nesse contexto de ruptura com o não pensar, com os mesmos rostos e histórias, a
série Livros Animados, destinada a crianças de 5 a 10 anos, tem um propósito edu-
cacional e discute temas como multiculturalismo, identidade, memória e etnia, focali-
zando a cultura negra como formadora da sociedade brasileira e visando a instaurar
um debate em torno da identidade étnica, mais especiicamente, a identidade dos
afro-brasileiros. A produção do programa adapta histórias da literatura infantil brasi-
leira, que tragam a negritude em sua essência, para a linguagem audiovisual da tevê.
A historiadora silva, especialista em livros infantis que tratam da temática afro-brasi-
leira, Lisboa, militante do movimento negro e a fundação nacional do Livro infantil e
Juvenil (fnLiJ) prestaram consultoria para a produção do programa.

A lista das histórias, seus autores e ilustradores


o primeiro episódio da série apresenta duas histórias. O menino Nito (rosA, 1996)
que é a primeira obra literária a ser adaptada para os livros animados, mostra um
menino que chora muito e supera diiculdades. A autoria é de Rosa, e as ilustrações,
de Victor tavares. A segunda história: Menina bonita do laço de ita, de Machado
(2000), com ilustrações de Claudius, apresenta um coelho bem branquinho que faz
de tudo para icar preto como a menina negra, porque quer icar lindo como ela.

no episódio 2, são apresentadas as fábulas A Mosca Trapalhona; Tartaruga e o


Leopardo; A Moça e a Serpente; e O Cassolo e as Abelhas, dos livros Bichos da áfri-
ca 1 e 2 de Barbosa (1987, p. 88) e ilustrações de Ciça Fittipaldi.

Lembranças da África é o tema do episódio 3. nele os livros Capoeira; Maracatu; e


Jongo, de Rosa (2004) e ilustrações de Rosinha Campos, mostram heranças do
continente africano recriadas no Brasil. também nesse episódio, a obra Os reizi-
nhos do Congo, de Pereira (2005) e ilustrações de Graça Lima, mostra festas de
coroamento de reis africanos.

no episódio 4, a apresentadora e as crianças mostram os Contos africanos de Bar-


bosa (2004), com ilustrações de Maurício Veneza, e a obra Como as histórias se
espalham pelo mundo (BArBosA, 2004) que traz um ratinho conhecedor da varieda-

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de de culturas africanas, ilustrado por graça Lima, também de autoria de Barbosa.

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 8, n. 16, jul./dez. 2009


A religiosidade de matriz negro-africana está presente no episódio 5, com a história
do orixá Ifá, o Advinho (prAnDi, 2002). no episódio 6, as obras A botija de ouro (sAn-
tos, 1984), com ilustrações de Zé Flávio, e O presente de Ossanha (sAntos, 2000),
com ilustrações de Maurício Veneza, ambos tratam da religiosidade afro-brasileira.

No episódio 7, os telespectadores conhecem as gêmeas Ana e Ana de godoy


(2003). Essas personagens mostram duas meninas parecidas isicamente, mas
com comportamentos diferentes. As ilustrações são de Fê. O episódio traz ainda: A
pirilampéia e os dois meninos de Tatipurum de santos (1997) história de garotos
que moram em extremos da Terra. As ilustrações são de Walter Ono.

no oitavo episódio, a série apresenta Bruna e a galinha d’Angola, de Almeida


(2000), com ilustrações de Valéria Saraiva. Também participa do episódio a história
Berimbau, de Coelho (1993).

no episódio 9, a história fala de navios que usam a força do vento na obra O ilho
do vento, de Barbosa (2001) e ilustrações de Graça Lima. No último episódio, o dé-
cimo, as adaptações são O menino inesperado e Lili: a rainha das escolhas, de Lu-
cinda (2006), com ilustrações de Graça Lima.

A apresentadora
na série, a apresentadora do programa infantil, Vanessa pascale, interage com
crianças de várias idades e etnias que participam dos episódios. Vanessa Melani
pascale ekpenyong é a primeira mulher negra a protagonizar a apresentação de
um programa infantil de televisão no Brasil. em entrevista, a coordenadora de mo-
bilização comunitária do CAnAL fUtUrA da fundação Roberto Marinho, Ana paula
Brandão declara: A vanessa foi escolhida após um teste de elenco. Queríamos uma
mulher negra, que icaria responsável por brincar, conversar com as crianças, con-
duzir e ler as histórias dos livros no programa.5 Vanessa Melani, como a persona-
gem iccional Preta, do livro de Lima (2005), tem origem plural. Vanessa é ilha de
um nigeriano e de uma brasileira, foi criada pela avó materna e é modelo desde os
13 anos. ficou conhecida ao participar do Reality Show Big Brother Brasil 1, na Tv
Globo e é formada em interpretação, pela escola Cal – Laranjeiras/rJ, tendo parti-
5 entrevista concedida a sátira Machado, em julho de 2007.
cipado de comerciais e também de videoclipes, como, Shank, Dudu Nobre, Wilson
150
Simoninha e Elvis.
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afro­brasileira no Canal Futura

A identidade que se descobre


Ifá, o Adivinho, episódio 5 do segundo DVD dos Livros Animados, discute um univer-
so desconhecido pela maioria das crianças do programa: o das culturas afro-des-
cendentes. Quando perguntadas sobre o que é um orixá, as três primeiras respos-
tas são:

A – os orixás são deuses de outro mundo.


B – eu acho que é um papagaio.
C – essa tá difícil. A outra foi bem mais fácil. essa tá difícil!

Essa afro-descendência cultural, sobre a qual a personagem Preta tanto reletiu en-
quanto chupava uva, não pode ser apenas uma etiqueta, mas o começo de uma
discussão acerca do repertório de histórias que desconhecemos. são também es-
sas histórias que originaram o nosso país, que articularam o nosso mundo, que
chegaram no Brasil com os escravos.

Algumas dessas histórias estão na televisão. Chartier (2004), em entrevista a isa-


bel Lustosa, reitera que admira essa visão complexa acerca da literatura e da tele-
visão no livro La culture du pauvre, de Hoggart. Chartier airma que é imprescindí-
vel hoje um questionamento acerca do antigo consenso de leitores e ouvintes das
produções da indústria cultural por acreditarem sem titubear nas mensagens vei-
culadas e, portanto, viverem submetidos a modelos sociais apresentados nos mass
media. há, para Chartirer, uma relação complexa e ambivalente entre crer e não
crer, aceitar, ou não, a icção.

nesse espaço fronteiriço, a televisão consegue também articular elementos para a


relexão. Ifá, o Adivinho é uma narrativa que instaura a origem do cosmos; que evo-
ca, na epígrafe, dois continentes e, logo depois, descreve ifá com seus 16 búzios a
defender da morte o povoado. essa história inaugura um novo momento.

A mídia mudou muito. Airma ainda Chartier (2004) que, nos anos 60 (século XX),
havia uma rede de televisão que saía do ar às oito e meia da noite. A partir de
1968, além de reações contra autoridades e de formas mais abertas de compor-
tamento, houve um agravamento da comercialização em detrimento da dimensão
cultural. essa mudança ocorreu também com o meio televisivo. Atualmente há

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uma fragmentação quase ininita devido à variedade de canais com programa-
ções para gostos especíicos, e essa fragmentação é uma forma de liberdade e

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 8, n. 16, jul./dez. 2009


de diversiicação.

para Chartier (2004), essas novas tecnologias não devem ser vistas através de
um olhar pessimista. Ao contrário, ele airma que atualmente as pessoas leem
mais do que nos anos 50 (séc. XX), porque o computador não é apenas um novo
veículo, mas, sobretudo, é responsável pela multiplicação da presença do escritor
nas sociedades contemporâneas. escritores, línguas e culturas eclodem para lei-
tores diversiicados.

se, no século XiX, thomas Carlyle, Mathew Arnold, william Morris e frank raymond
Leavis abrem o debate sobre cultura erudita versus popular, o novo cenário leva a
relexões mais amplas sobre a cultura, denotando outras visões sobre o sujeito –
um ser de culturas pluralizadas. no século XX, richard hoggart, raymond williams
e edward p. thompson dão status cientíico à investigação da cultura popular e, em
1964, esse novo campo de pesquisa é institucionalizado no Centre for Contempo-
rany Cultural Studies (CCCS), na Universidade de Birmingham. Várias gerações de
pesquisadores passam a considerar os estudos culturais, denotando a natureza di-
versa e polêmica das teorias emergentes.

stuart hall, afro-jamaicano que migrou para a inglaterra e coordenou o CCCs, publi-
ca The television discourse: encoding and decoding (1997). ele aborda a relação
entre receptor e mídia, marcada pela codiicação e decodiicação. Hall incentiva a
realização de veriicações empíricas sobre a recepção, inluenciando a produção
posterior no campo da recepção.

entender o receptor como um ser dinâmico e complexo na era dos meios virtuais,
em que se multiplicam escritos e leituras, é fundamental para a abordagem teórico-
metodológica dos estudos culturais. em seu artigo “A estética do racismo”, Araújo
(2002) salienta que, para entender a construção do imaginário de receptores de te-
levisão latino-americanos, os pesquisadores necessitam compreender etnicamente
o que signiica ser uma família negra, que compreende o mundo e media o que é
produzido pela televisão. As especiicidades da cultura negra são o resultado de po-
líticas culturais da diferença, de lutas em torno da diferença, da produção de novas
identidades e do aparecimento de novos sujeitos no cenário político-cultural.

nesse contexto, o sentido de cultura passa a ter relação com a produção de senti-
dos, deixando de ser apenas recebida, agora considerando o sujeito como um
agente criativo, que pratica cultura. Carregada de intervenções, a região da cultura
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inclui as disputas, os conlitos e os enfrentamentos nas relações de poder. A comu-
nicação é interpretada como um processo simbólico que transforma a realidade, e
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afro­brasileira no Canal Futura

a recepção envolve as reelaborações realizadas pelos sujeitos, inluenciados por


seus grupos sociais. Jacks e escosteguy (2002) ainda destacam que os estudos
brasileiros de recepção têm uma concepção de política de identidade, sendo que a
mídia e a audiência são abordadas de acordo com o lugar dos receptores – classe,
gênero, raça, etnia, idade, contexto, etc. – suas distintas mediações sociais e cultu-
rais, bem como sua postura de reivindicação e resistência.

Ator, história, personagem


A inclusão de Vanessa Melani como educadora dos Livros Animados é uma iniciati-
va que objetiva dar visibilidade aos proissionais afro-descendentes, para a história
e a cultura afro-brasileiras, tanto no currículo escolar brasileiro como em atividades
educacionais ligadas à construção da identidade do país e ao processo de cidada-
nia dos afro-brasileiros.

essa é a visibilidade cultural no mundo que preta, a personagem do livro infanto-ju-


venil histórias da Preta (LiMA, 2005), procura entender ao encadear as questões so-
bre a origem do mundo e a africanidade:

sabe como o mundo foi criado pelos africanos? ou como os africanos foram criados pelo
mundo? ou como a criação criou o mundo africano? ou como muitos africanos criaram
as histórias da criação do mundo? foi de conto em conto que se criou a criação. (LiMA,
2005, p. 14).

No debate iccional de Preta, nas adivinhações de Ifá e na relexão sobre as ações


airmativas no Brasil, há uma discussão comum: a identidade afro-brasileira e,
consequentemente, a identidade do Brasil. A mídia participa dessa discussão,
que envolve disputas, conlitos e enfrentamentos entre os cidadãos. Concluindo:
os veículos de comunicação não sabem lidar com a diferença, ao trabalhar com o
binômio informação/educação no marco conceitual do projeto A COR DA CULTURA.
sant’Anna argumenta:

A desqualiicação de sua identidade cultural – marcada pela herança que a origem africana
lhe confere – e a freqüente culpabilização por sua situação econômico-social degradada
são fenômenos que geram, entre outros constrangimentos, baixa auto-estima. E, de
outro lado, esconde a riqueza de parcela importante da sua cultura, história e identidade
brasileiras. (2005, p. 7).
Ao longo dos últimos anos, o papel polêmico exercido pela Tv Globo na visibilidade

153
dada às questões de cidadania e de identidade no Brasil tem sido criticado pelos
afro-brasileiros. oliveira e pavan (2004) apresentaram uma análise da novela Da

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 8, n. 16, jul./dez. 2009


Cor do Pecado, protagonizada por taís Araújo na rede globo, no XXVii interCoM.
Ao descrever as estratégias e os movimentos das personagens, enumeram possibi-
lidades de relações raciais e as consequências das identiicações veiculadas na
trama, como: a) ao assumir a identidade racial negra e partir para a confrontação,
há uma desqualiicação da imagem das personagens através da punição ou do iso-
lamento; b) a postura abertamente racista, de segregação e abuso de poder, leva à
desvalorização moral da imagem das personagens, a vitórias pontuais, mas numa
perspectiva de derrota; c) a postura de passividade e de vitimização é assumida
pela heroína da história; d) a postura de preconceito velado, mas com possibilida-
des de abertura, denota tolerância; e) a postura de solidariedade é reforçada por
normas morais pretensamente universais. Apesar dessas projeções, na avaliação
dos pesquisadores, a personagem preta reforçou no público a ideia de uma beleza
negra. em entrevista concedida por taís Araújo à Marie Claire (oLiVeirA; pAVAn, 2004),
a atriz comenta sobre essa personagem de televisão:

A preta é aceita também pelas crianças. fico feliz de ver menininhas loirinhas de olhos
azuis passando por mim na rua gritando: “Preta, Preta, você é linda!” Quem sabe a gente
não vai criando uma geração de crianças bacanas que podem olhar um negro e admirá-lo.
Na minha infância, eu só tinha a Xuxa para admirar por falta de uma referência negra na
tevê. (oLiVeirA; pAVAn, 2004, p. 13).

paradoxalmente, ao receber a ideia original da concepção de um projeto educativo


de valorização da cultura negra, a Tv Globo acolhe e encaminha tal demanda do
movimento social à fundação Roberto Marinho. Com implicações a partir da produ-
ção, o projeto é realizado pelo CAnAL fUtUrA e parceiros. em entrevista, a coordena-
dora do projeto A COR DA CULTURA na Tv CULTURA, Ana paula Brandão confessa:

Constituímos um Comitê Gestor com um representante de cada parceiro, e neste fórum


decidíamos todos os passos do projeto. sabíamos que ele seria importante e que era
uma ação inédita. obviamente que ocorreram momentos de muita confusão! o tema é
complexo, difícil. Foram negociações. E toda negociação pressupõe avanços e recuos.
Mas todos nós queríamos a mesma coisa: sensibilizar o brasileiro para a causa dos afro-
brasileiros.6

Ao veicular o projeto, o CANAL fUTURA passa a ser um cenário de airmação da identi-


dade negra. Assim, pesquisas dessa natureza justiicam-se, porque, no contexto es-
colar, coexiste a pluralidade de produção de sentidos, que resulta em diferentes

6 entrevista inédita concedida à sátira pereira Machado, em julho de 2007.


formas de construção de processos de cidadania relacionados à cultura afro-brasi-
154
leira entre as crianças e professores de diferentes etnias.
machado, Sátira P. – Brose, Elizabeth R. Z. Ifá, o Adivinho: literatura afro­brasileira no Canal Futura

racismo midiático
Ao conceituar o racismo midiático, Sodré (1998) analisa o papel da mídia em produzir e
reproduzir racismo. sodré enumera quatro fatores que efetivam sua análise: 1) a nega-
ção, quando a mídia tenta negar a existência de racismo, apesar de noticiar casos de
violações lagrantes; 2) o recalcamento, quando a história do negro ou no Brasil ou nas
Américas não é divulgada de forma positiva na mídia; 3) a estigmatização, quando a
mídia cria estereótipos que levam à discriminação; e 4) a indiferença proissional, quan-
do a desvalorização – proissional e cultural – do comunicador negro atinge a mídia.

Como Ifá ganhou o cargo de Adivinho apresenta a personagem exu como um rapaz
que auxilia ifá na prova para o cargo de Adivinho. Desse modo, o tratamento tenta
superar a negação do racismo e projeta a história para a visibilidade, divulgando
ideias não discriminatórias. Além disso, a história é contada pela apresentadora do
programa, o que signiica valorizar a proissional. Nilma Lino Gomes entende essa
valorização da identidade negra como uma construção social, histórica, cultural e
plural oriunda do grupo étnico-racial e das relações possíveis entre o sujeito consi-
go mesmo e com os outros. Acredita que construir uma identidade negra positiva
na sociedade brasileira, que ensina os negros que, para serem aceitos é preciso
negarem-se, é um desaio para todos os brasileiros.

problematizando a análise das categorias em A difícil tarefa de deinir quem é ne-


gro no Brasil, o antropólogo Munanga (2004) considera a identidade do negro bra-
sileiro uma questão complexa, uma vez que o movimento social qualiica como ne-
gra qualquer pessoa dessa aparência (incluindo pardos e pretos), tornando o con-
ceito ideológico-político. A pluralidade das identidades dos afro-brasileiros tem ori-
gem nas etnias que vieram da África para o Brasil, desde o período colonial. Do
imenso continente africano, vieram alguns povos da região de Angola e do Congo
(Benguelas, Caçanjes, Cambindas, rebolos, Muxicongos – os Bantos); outros, da
guiné (fulas, Mandingas, haussás, falupes, Banhuns – os Minas); muitos, da Cos-
ta do Ouro ou de Gana, da Costa da Mina e do Daomé (Fantis, Ashantis, Euês, Fons,
egbás – os Jejes, Iorubanos, Nagôs); e outros tantos, do sudão (haussás, tapas,
Mandingas – os Malês). todos trouxeram uma diversidade de valores, crenças, cos-
tumes e línguas, que, em contato com etnias asiáticas, europeias e americanas,
moldaram a rica brasilidade na América Latina.
Como uma boa narrativa literária, Ifá, o Adivinho, organiza essa heterogeneidade

155
de pensamentos, de línguas, de visões de mundo, de traduções, de adaptações. O
texto prioriza um herói, e suas ações são desencadeadas em um tempo distante e

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 8, n. 16, jul./dez. 2009


não concluído e em um espaço atrás do oceano, espaço imaginário que habita,
identiica e constrói o Brasil. As informações excessivas são descartadas – quem
sabe? – para outros textos, outras narrativas, outros livros animados, com histórias
que abarquem um mundo do tamanho da memória da humanidade.

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