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no Brasil:
GISELA SWETLANA ORTRIWANO
fragmentos de
história
GISELA SWETLANA
ORTRIWANO
é jornalista, professora
de Radiojornalismo na
ECA-USP e autora de
A Informação no Rádio
(Summus).
gsortriw@usp.br
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muito, até o rádio começar a entender
que, para usar todo seu potencial,
precisava se organizar; só então, o
rádio disparou em termos de produção,
de qualidade de programação e,
principalmente, de informação”
(Walter Sampaio).
jornalismo esteve presente no rádio des-
de as primeiras experiências de explora-
80 anos de rádio
O neira geral, são inauguradas transmitin-
80
tos fatos, dados e personagens. Ou seja: muitas outras
histórias possíveis.
DIREITO (3)
gurando o certamen foi, assim, ouvido no
recinto da Exposição, em Nictheroy,
Petropolis e São Paulo, graças à instalação
de uma possante transmissora no Corcova- Edgard Roquette-Pinto já experimen-
do e de aparelhos de transmissão e recep- tava o jornalismo radiofônico mesmo an-
ção, nos logares acima”. tes de inaugurar a Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro, a 20 de abril de 1923, data que
Encerrando a nota, o jornal carioca com- marca a instalação efetiva e definitiva da
pletava: radiodifusão no Brasil (as transmissões re-
gulares começaram a 1o de maio).
“Desse serviço se encarregaram a Rio de
Janeiro and São Paulo Telephone Company, “Tendo acompanhado as irradiações da
a Westinghouse International Co. e a Westinghouse Eletric no Morro do Corco-
Western Electric Company. À noite, no vado, durante a Exposição do Centenário
recinto da Exposição, em frente ao posto da Independência, Roquette-Pinto incorpo-
de Telephone Público, por meio do rou-se àqueles que se encantaram com o
telephone auto-falante, a multidão teve uma novo meio de difusão. Do encanto passou
sensação inédita. A ópera Guarany, de à prática, montando em 1922, com o cien-
Carlos Gomes, que estava sendo cantada tista Henrique Morize, um pequeno trans-
no Theatro Municipal, foi alli, distincta- missor experimental, com o qual pôs-se a
mente ouvida bem como os applausos aos irradiar, pela sua voz, notícias do dia e
artistas. Egual cousa succedeu nas cidades música erudita destacada de sua coleção de
acima”. discos” (4).
profundidade, alcance e qualidade. Nele o tinua na página x”, ou então “… como se 9 Azeni Passos, “Rádio, o Meio
mais Eficaz da Comunicação
Mestre distribuía fartamente informações, pode ver na foto ao lado”, etc. Tentando de Massa, Completa 57 Anos
de Vida”, in Diário Popular,
como devem ser consideradas em seu sen- evitar os riscos que esse procedimento re- 25/10/1979.
tido. Não era um relato, puro e simples dos presentava e solucionar o problema, “pas-
10 Mario Ferraz Sampaio, op.
acontecimentos; era a notícia comentada, sou-se a utilizar o recurso de recortar as cit., p. 144.
tacada em todo o episódio da Revolução de lismo esportivo já existia desde o come- 22 Idem, ibidem.
32. Carvalho afirma que antes dessa época ço da década de 30 irradiando partidas de 23 Sobre o assunto, existem vários
artigos em jornais e revistas. Um
já havia iniciado uma programação futebol, corridas automobilísticas, boxe resumo do processo pode ser
jornalística regular: “Em 23 de fevereiro e outros esportes. Nicolau Tuma é consi- encontrado no site da Rádio
Eldorado de São Paulo que li-
de 1932 a Record lançava seu primeiro derado o pioneiro entre os locutores es- dera a campanha: http://
portivos: narrou a primeira partida de www.radioeldoradoam.com.
jornal falado, em combinação com os Diá- br/html/vozbrasil.asp (aces-
rios Associados. Quem o inaugurou foi futebol que o rádio transmitiu, a 19 de sado em 16/11/2002).
Assis Chauteaubriand […] que estava eu- julho de 1931, através da Rádio Educa- 24 Sobre essa primeira cobertura
de um campeonato mundial de
fórico no dia da inauguração e tornou-se dora Paulista. O “Speaker Metralhado- futebol diretamente da Europa,
um entusiasta do radiojornalismo” (20). ra”, como Tuma ficou conhecido na épo- detalhes em: Gisela Swetlana
Ortriwano, “França 1938, III
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, ca por transmitir falando muito rapida- Copa do Mundo: o Rádio Bra-
sileiro Estava Lá”, in Revista
lenda do rádio brasileiro, foi inaugurada a mente, também foi uma das atrações Comunicações & Artes, São
12 de setembro de 1936. “A Rádio Nacio- importantes na Rádio Record em seus Paulo, ECA-USP, n. 34, 2o
quadrimestre 1998, pp. 5-16.
nal foi fundada em 1936, mas viveu em primeiros anos. Em 1938 Gagliano Neto O texto também pode ser en-
crise até 1939. Só não deixou de funcionar narrava, diretamente da França, os Jogos contrado em: http://bocc.ubi.
pt/pag/ortriwano-gisela-
porque três de seus fundadores – Celso Gui- da Copa do Mundo (24). copa1938.html
ESTRATÉGICA
ar a primeira edição do ‘Repórter Esso’, na
voz do locutor Romeu Fernandes: ‘Alô, alô,
aqui fala o repórter Esso, criação radiofô-
Durante a Primeira Guerra Mundial o nica da Esso Brasileira de Petróleo e seus
rádio engatinhava como processo de trans- revendedores…’” (28).
missão e, mesmo assim, foi submetido a A McCann Erickson veio para o Brasil
severo controle, inibindo, quase paralisan- em 1935 e Armando de Moraes Sarmento
do seu desenvolvimento. Na época, foi foi o primeiro brasileiro a dirigir uma agên-
basicamente utilizado para fins de comuni- cia de publicidade americana. Em 1941,
cações militares. Emil Farhat, na época já reconhecido como
O rádio foi uma arma estratégica da Se- jornalista, foi para a McCann, da qual aca-
gunda Guerra. As orientações ideológicas bou por tornar-se presidente. É dele o rela-
e as notícias do front precisavam ser to: “Aconteceu uma coincidência curiosa:
divulgadas com a maior rapidez possível. essa agência, na ocasião, estava às voltas
Os jornais impressos, assim como os cine- com o plano de lançamento de um progra-
jornais, não dispunham da agilidade e al- ma noticioso, que viria a chamar-se Repór-
25 Mario Fanucchi, entrevista em cance que começaram a ser requeridos pela ter Esso, e foi aí então que o noviço de
25/5/1998.
nova realidade e o rádio passou a ser enca- propaganda ofereceu, entre outras suges-
26 Jimmy Garcia Camargo, op.
cit., p. 19. rado como um meio essencialmente infor- tões de slogans e textos de anúncios, um
27 Walter Sampaio, op. cit., p. mativo. “A Segunda Guerra Mundial faz que se tornaria a bandeira daquele noticio-
20. do rádio seu instrumento. As notícias suce- so: o primeiro a dar as últimas” (29). E
28 Sérgio Fonseca, Vera Magyar, dem-se a cada minuto, multiplicam-se os Farhat, falando de si próprio, complementa:
op. cit., p. 48.
sistemas informativos, a audiência exige “Mais tarde, ainda durante a guerra, aquele
29 Ricardo Ramos, Do Reclame à
Comunicação – Pequena His- cada vez mais e mais notícias dos diferen- mesmo redator da agência, talvez influen-
tória da Propaganda no Brasil, tes fronts” (26). ciado por seus antigos conhecimentos jurí-
4a ed., São Paulo, Atual, 1987,
p. 59. O aperfeiçoamento dos equipamentos e dicos, criou outro slogan: ‘Repórter Esso,
O RADIOJORNALISMO
do elaborar a notícia de forma a atender as
características do meio radiofônico e não
PÓS-TELEVISÃO
do jornalismo impresso. “O ‘Repórter Esso’
abrindo fronteiras, o ‘Grande Jornal Fala-
do Tupi’ buscando todas as nossas frontei-
ras, levando informações, reportagens e co- A forte concorrência da televisão co-
mentários até então inacessíveis aos brasi- meça a ser sentida pelo rádio a partir dos 45 José Coelho Sobrinho (org.),
Flagrante de uma Época, São
leiros de todos os rincões, começavam a anos 50, iniciando um longo processo de Paulo, ECA-USP, s/d.,
definir o embrião do radiojornalismo na- busca por caminhos que lhe permitam so- (mimeo.).
cional…” (47). breviver. O rádio enfrentou a nova realida- 46 Reynaldo C. Tavares, op. cit.,
p. 153.
Muitos foram os programas importan- de da segunda metade do século passado
47 Walter Sampaio, op. cit., p.
tes na história do nosso radiojornalismo. buscando alternativas. A televisão, inau- 22.
No período da manhã é preciso ressaltar o gurada no Brasil em 18 de setembro de 1950, 48 Moacyr Castro, “Sai do Ar o
Matutino Tupi, também criado por definitivamente, ocupou o primeiro plano Matutino Tupi; sem Anunciar o
Próprio Fim”, in O Estado de
Coripheu de Azevedo Marques, que foi ao entre os meios de comunicação, levando S. Paulo, 6/2/1977.
disc-jóquei e o desenvolvimento de pro- pre, é nessa fase que o jornalismo é regula- 52 William H. Honan, “El Nuevo
Sonido de la Radio”, in Lluís
gramações de interesse limitado a deter- mentado, tornando-se obrigatório na pro- Bassets (ed.), De las Ondas
gramação. O Código Brasileiro de Tele- Rojas a las Radios Libres, Bar-
minadas faixas de público. Em algumas celona, Gustavo Gili, 1981,
emissoras a especialização foi tão radical comunicações, instituído pela Lei n. 4.117, pp. 97-113.
que os programas de curta ou média dura- de 27 de agosto de 1962, determina, em seu 53 Idem, ibidem, pp. 102-4.
É NOTÍCIA NA REDE!
bosa, coordenador do Grupo SET/Abert
(Associação Brasileira de Rádio e Televi-
são) de Rádio Digital. Por enquanto, per-
Algumas tendências se delinearam. Às sistem dúvidas e problemas. Quando o pro-
vezes meras reinterpretações do rádio de cesso de digitalização estiver implantado,
sempre; outras, possibilidades que surgi- o rádio vai deixar de ser somente som para
61 “Este Jovem Senhor, o Rádio”, ram não apenas com a evolução tecnológica ser áudio, imagem e dados.
in Portal Imprensa (http://
www.uol.com.br/imprensa) mas também com o momento social, com “A grande contribuição que o rádio di-