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EM PARCERIA COM

ROXANA PEREIRA FERNANDES


DE SOUSA

FLUIDOS
DE
PERFURAÇÃO
TREINAMENTO
BETAEQ
M ÓDUL O 10
Efeitos am bien tais da Per fu r ação
e dos Fl u idos de Per fu r ação
Trabalhar com fluidos de perfuração pode ser perigoso. Alguns produtos de fluidos
de perfuração emitem vapores nocivos ou perigosos que podem atingir níveis que
excedem os limites máximos de exposição segura recomendados a curto ou longo prazo
(ASME, 2005).

Vários desses produtos dos fluidos de perfuração, salmouras, agentes de limpeza,


solventes e bases oleosas, normalmente encontrados nas sondas de perfuração, são
irritantes ou, até mesmo, perigosos para os tecidos do corpo (ASME, 2005) e para o
ambiente.

O grau em que um material é considerado tóxico é determinado pelo perigo relativo


representado ou pelo risco exorbitante de danos à saúde ou ao meio ambiente. Duas
grandes preocupações são abordadas no descarte de fluidos de perfuração (ALMOCO
PRODUCTION COMPANY, 1994):

- Resposta letal a curto prazo a organismos ou alteração do ecossistema; e

- Acumulação de compostos orgânicos e metais que contribuem para os efeitos tóxicos


nos organismos ou viajam pela cadeia alimentar através da bioacumulação.

A bioacumulação nada mais é que o processo de absorção de substâncias (ou


compostos químicos) pelo organismo. Este processo pode ocorrer de forma direta ou
indireta. No primeiro caso, as substâncias são absorvidas a partir do meio ambiente (solo,
sedimento, água), e no segundo, pela ingestão de alimentos que contém essas
substâncias (MONTONE, 2018).

Materiais identificados como perigosos se referem à reatividade com outros


compostos químicos e representam um risco não razoável para a saúde, segurança e
propriedade quando transportados no comércio. A toxicidade, por outro lado, se refere ao
efeito causado por um produto químico ou efluente em uma população teste de
organismos (ALMOCO PRODUCTION COMPANY, 1994).

O fluido de perfuração possui diferentes graus de toxicidade. Ao longo dos anos, a


preocupação com o descarte e a contaminação do meio ambiente pelos fluidos de
perfuração vêm crescendo e, com isso, novas leis vêm surgindo para restringir o descarte
e a formulação destes fluidos. Um dos fluidos mais afetados por estas leis, são os fluidos
de perfuração base óleo, que possuem alto grau de toxicidade.

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Alguns aditivos de fluidos de perfuração são considerados tóxicos, como vários
metais comerciais, zinco, cromo, chumbo, mercúrio, cádmio, níquel, amianto e vários
compostos de fenol (ALMOCO PRODUCTION COMPANY, 1994).

Hidrocarbonetos aromáticos estão entre os mais tóxicos aos organismos marinhos e à


destruição dos solos e lençóis freáticos. Outros produtos hidrocarbonetos incluem:
derivados de asfalto, espumas/antiespumantes, tensoativos, emulsionantes e inibidores
de corrosão. Bactericidas e biocidas são bastante tóxicos também (ALMOCO PRODUCTION
COMPANY, 1994).

Ao longo dos anos, a indústria de petróleo passou por transformações para torna-la
menos agressiva ambientalmente, e os fluidos de perfuração sentiram essa
transformação diretamente, através de mudanças constantes nas suas formulações e na
proibição de uso de alguns constituintes.

Embora a maior parte dos constituintes dos fluidos de perfuração sejam


relativamente benigna, alguns outros materiais são inaceitáveis ambientalmente e,
portanto, sujeitos a controle ou proibição total (CAENN, DARLEY e GRAY, 2011).

Os resíduos de perfuração que não são perigosos são chamados NOW


(Nonhazardous Oilfield Wastes ? resíduos não perigosos de campos de petróleo). Os
outros produtos químicos utilizados nos fluidos de perfuração podem ser classificados em
(CAENN, DARLEY e GRAY, 2011):

- Perigosos: soda cáustica, ácidos;

- Tóxicos: óleo diesel, bactericidas, alguns materiais catiônicos;

- Inflamáveis: óleos, álcoois.

Apesar da quantidade desses materiais utilizadas nos fluidos de perfuração ser


pequena, é necessário um controle para acompanhar e garantir que eles sejam tratados e
descartados corretamente (CAENN, DARLEY e GRAY, 2011).

Prevenir a poluição e minimizar os impactos ambientais de maneira econômica, são


as principais tarefas que confrontam a indústria nos dias de hoje (BAKER HUGHES, 1995).

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O maior volume de resíduos produzido na perfuração de um poço são os cascalhos.
Se o fluido de perfuração utilizado for base água doce, o descarte dos cascalhos, do fluido
associado aos cascalhos e do excesso de fluido não é problema. Os produtos químicos
que porventura sejam perigosos, podem ser tratados ou neutralizados a níveis aceitáveis
de descarte. Porém, deve-se levar em consideração os custos de manuseio e transporte
desses resíduos sólidos e fluidos, que representa uma porcentagem significativa da
perfuração e, no caso de operações offshore, o custo de transporte até a terra pode ser
proibitivo (CAENN, DARLEY e GRAY, 2011).

Se o fluido for não aquoso (NAFs), o número de componentes tóxicos é bem maior,
consequentemente, existem muito mais regras e regulações especificando o manuseio e
descarte corretos dos cascalhos e do excesso de fluido. Por exemplo, no Golfo do México,
as regulações atuais limitam as descargas da seguinte forma (CAENN, DARLEY e GRAY,
2011):

· Lim it ações ger ais da descar ga em of f sh or e

- Fluido base óleo ? proibida;

- Fluido de base sintética ? permitida após testes de toxicidade;

- Fluidos genéricos ? sujeitos a um limite de toxicidade de 30.000 ppm;

- Aditivos ? listas aprovadas;

- Óleo livre ? descarga proibida;

- Óleo nos cascalhos ? proibida descarga de diesel, proibido óleo livre;

- Outros ? são proibidos fenóis halogenados e cromatos; uso mínimo de surfactantes,


dispersantes e detergentes.

· Lim it es par a descar ga of f sh or e de NAFs

- Proibida descarga integral do fluido;

- Proibido óleo livre a partir dos cascalhos;

- Proibido óleo da formação nos cascalhos;

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- Fluido base nos cascalhos < 8,0% em peso para base éster, < 6,9% para base olefina;

- Teor máximo de poliaromáticos de 10 ppm;

Para reduzir os custos com o descarte de resíduos, é necessário a elaboração de um


programa de perfuração. Além disso, é fundamental um plano para o tratamento e
descarte dos cascalhos e excesso de fluidos (CAENN, DARLEY e GRAY, 2011).

O programa de fluido de perfuração deve abordar questões ambientais relacionadas com


a descarga de fluido de perfuração, bem como produtos e sólidos removidos. Muitas
operações de perfuração têm estratégias prontas para recuperação de fluidos de
perfuração e estabelecem algumas diretrizes gerais para o descarte de materiais
classificados como resíduos (ASME, 2005).

Abaixo estão listados alguns dos principais fatores que devem ser considerados no
planejamento do programa de perfuração (CAENN, DARLEY e GRAY, 2011):

- O tamanho e a profundidade do poço, para minimizar os sólidos gerados;

- O tipo de fluido de perfuração;

- Os equipamentos de controle de sólidos.

Dentre as opções para descarte dos rejeitos de cascalhos da perfuração e do


excesso de fluidos de perfuração, sejam eles base água ou não aquosos, destacam-se o
próprio local, a biorremediação, a cobertura, o espalhamento, o aterramento, a
recuperação e a reinjeção (CAENN, DARLEY e GRAY, 2011):

- Deixar n o local os resíduos significa colocar estes em um tanque de reserva ou no


fundo do mar e deixar no local.

- A bior r em ediação implica em tratar os resíduos oleosos deixados no local com alguma
técnica de biorremediação. Este processo é feito com a utilização de plantas ou
microrganismos para remoção ou redução das concentrações de substâncias poluentes
dos ambientes em que se encontram.

- Além de deixar no local, os resíduos podem ser transportados até um aterro e cober t os
com algum tipo de material benigno.

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- Estes resíduos também podem ser biodegradados por landfarming e espalh ados em
uma camada fina, para evaporação da água. No caso dos resíduos oleosos, o tratamento é
feito por biorremediação.

- Outra técnica é o at er r am en t o, utilizada principalmente para resíduos onshore, em que


os resíduos são enterrados no local ou em outros locais apropriados.

- Por fim, tanto os cascalhos quanto os resíduos de fluidos de perfuração podem ser
transformados em uma pasta e injetados em um poço adequado de descarte em terra ou
em uma plataforma offshore, sendo assim, r ecu per ados e r ein jet ados.

Inicialmente, quando os cascalhos dos fluidos não aquosos são descarregados no


oceano, ocorre uma deposição inicial, decorrente das correntes, da profundidade da água,
do volume e da densidade desses cascalhos. O tempo que estes passarão no fundo do
mar está relacionado com o transporte e ressuspensão deles, além da biodegradação do
fluido base. Os efeitos biológicos que a deposição destes cascalhos gera no fundo do mar
está relacionado a diversos fatores, como o soterramento físico, a toxicidade do fluido de
perfuração e a anoxia (falta de oxigênio) induzida pela sedimentação dos fluidos de
perfuração (CAENN, DARLEY e GRAY, 2011).

A seleção e engenharia do fluido podem reduzir o potencial impacto ambiental de


um fluido de perfuração. No caso de um derramamento, os custos de recuperação e
descarte, bem como os problemas de poluição associados são grandemente reduzidos
pela seleção e controle adequados dos fluidos (ALMOCO PRODUCTION COMPANY, 1994).

Ext r a: Notícia sobre derramamento de fluido de perfuração na Baía de Guanabara, em


Ponta D'Areia, Niterói:
https://www.marinha.mil.br/sinopse/vazamento-de-oleo-contamina-baia-ha-mais-de-dois-meses

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REFERÊNCIAS
ALMOCO PRODUCTION COMPANY. Dr illin g Flu ids M an u al. 1994.

ASME Shale Shaker Committee. Dr illin g Flu ids Pr ocessin g Han dbook . GPP, 2005.

BAKER HUGHES INTEQ. Dr illin g En gin eer in g Wor k book . A dist r ibu t ed lear n in g cou r se.
EUA, 1995.

CAENN, R.; DARLEY, H. C. H.; GRAY, G. R. Flu idos de Per f u r ação e Com plet ação -
Com posição e Pr opr iedades - Série Engenharia de Petróleo. 6ª. ed. Elsevier, 2011.

MONTONE, R. C. Bioacu m u lação e Biom agn if icação. Instituto Oceanográfico. Disponível


em: <http://www.io.usp.br/index.php/oceanos/textos/antartida/31-portugues/publicacoes/

series-divulgacao/poluicao/811-bioacumulacao-e-biomagnificacao>. Acesso em 07 de
outubro de 2018.

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