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Ficha de Leitura

“Como água para chocolate” de autoria de Laura Esquivel é um romance mexicano que retrata
a história de uma jovem, Tita, que vive, no início do século XX, uma história de amor proibido
com Pedro, o futuro marido da sua irmã mais velha. A obra possui 12 capítulos, nomeados com
os meses do ano, de janeiro a dezembro, cada qual com uma receita, a qual está associada a
um certo acontecimento. Totalizam-se, assim, 12 receitas tradicionais mexicanas para cada
mês do ano. Uma curiosidade sobre o livro é que “como água para chocolate”, o título da
obra, é uma expressão típica mexicana. No México, o chocolate quente é confecionado com
água quente e não com leite, e, para tal, é necessário que a água esteja a ferver. Assim, a
expressão significa "estar a ferver de raiva", ou de alguma outra emoção forte, como o amor
ou a paixão.

Na capa do livro está representada uma mão a segurar o que aparenta ser uma colher de pau,
a misturar algo numa panela, a partir da qual está a sair vapor. Poderá ser chocolate quente,
fazendo uma referência ao título da obra. No fundo da imagem vê-se um clarão de luz
amarelada, pelo que é esta a cor que predomina na imagem, juntamente com o castanho, o
que, mais uma vez, poderá remeter para o título do livro. Na minha perspetiva, apesar de
gostar da ligação sutil da capa com o título, considero que a capa é demasiado enfadonha e
monótona. Os tons utilizados carregam a obra, fazendo parecer que esta é mais maçante e
pesada do que aquilo que esta é na realidade. Sendo assim, o que me cativou para a escolha
da obra foi a primeira frase. Fiquei intrigada com a maneira como o livro começou, visto que
parecia ser parte das indicações de uma receita, o que não é algo usual.

O livro, por se inserir no realismo mágico, traz um grande carisma à história de amor: desde o
bebé que chora dentro do ventre materno, passando pelos sentimentos que são
“transmitidos” para a comida (pelo que é usual para os restantes personagens sentirem o
desgosto ou a paixão de Tita quando comem os pratos confecionados), até às aparições de
fantasmas. Além do mais, considero que o romance é de uma grande delicadeza e leveza,
possuindo, ao mesmo tempo, um grande erotismo que está presente em toda a história. Em
todos os momentos, a atração e paixão entre Tita e Pedro estão presentes e, mesmo que os
dois não se toquem (por proibição da mãe Elena), o calor irradiado é facilmente sentido pelos
leitores. Além do mais, é clara a crítica social feita aos costumes da época e à mente
retrógrada de alguns dos personagens, em especial da Mamã Elena, podendo-se dizer, até,
que se trata de um romance feminista (também pelo predomínio de intervenientes do sexo
feminino), o que aprecio bastante. No geral, acho o livro um romance bastante leve e de fácil
leitura, bastante engraçado e de emoções muitos fortes, sendo impossível não sentirmos
aquilo que é retratado no momento.

A passagem que mais me cativou foi a seguinte: “Se por causa de uma emoção forte se
acenderem todos os fósforos que temos dentro de nós de uma só vez, dá-se um brilho tão
forte que ilumina para além do que podemos ver normalmente e então perante os nossos
olhos aparece um túnel esplendoroso que nos mostra o caminho que esquecemos no
momento de nascer e que nos chama a reencontrar a nossa origem divina perdida. A alma
deseja reintegrar-se no local de onde vem, deixando o corpo inerte”. Penso que esta metáfora
é uma ótima maneira de tentar descrever a paixão e a química sentidos por dois seres
humanos, racionais e emocionais. Relaciona um momento de clímax e êxtase com o
nascimento e com a morte. Talvez seja exagerado, mas acho interessante o facto de um
pequeno momento parecer ser tão forte como todas as emoções de uma vida, tão significante
quanto a mesma, tanto que desejamos imortalizá-lo para toda a eternidade.

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