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Promoção da saúde

e prevenção das
DST/HIV/Aids
na adolescência
Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia

Ministro da Educação
José Mendonça Bezerra Filho

Universidade Federal do Ceará - UFC

Reitor
Prof. Henry de Holanda Campos

Vice-Reitor
Prof. Custódio Luís Silva de Almeida

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação


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Joaquim Melo de Albuquerque

Conselho Editorial
Presidente
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Conselheiros
Prof.ª Angela Maria R. Mota Gutiérrez
Prof. Ítalo Gurgel
Prof. José Edmar da Silva Ribeiro
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro
Fabiane do Amaral Gubert
(Organizadoras)

Promoção da saúde
e prevenção das
DST/HIV/Aids
na adolescência

Fortaleza
2017
Promoção da saúde e prevenção das DST/HIV/Aids na adolescência
Copyright © 2017 by Patrícia Neyva da Costa Pinheiro, Fabiane do Amaral Gubert
(Organizadoras)

Todos os direitos reservados


Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Av. da Universidade, 2932, fundos – Benfica – Fortaleza – Ceará

Coordenação editorial
Ivanaldo Maciel de Lima

Revisão de texto
Adriano Santiago

Normalização bibliográfica
Marilzete Melo Nascimento

Programação visual
Sandro Vasconcellos / Thiago Nogueira

Diagramação
Sandro Vasconcellos

Capa
Heron Cruz

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Bibliotecária Marilzete Melo Nascimento CRB 3/1135

P965 Promoção da saúde e prevenção das DST/HIV/Aids na adolescência / Patrícia Neyva da


Costa Pinheiro, Fabiane do Amaral Gubert (Organizadoras). - Fortaleza: Imprensa
Universitária, 2017.

368 p. : il. ; 21 cm.

ISBN: 978-85-7485-306-2

1. Enfermagem. 2. Saúde do adolescente. 3. Doenças sexualmente transmissíveis.
I. Pinheiro, Patrícia Neyva da Costa, org. II. Gubert, Fabiane do Amaral, org. III. Título.

CDD 610.73
AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Ceará – UFC, em especial à Pró-


Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, pela iniciativa da emissão do
Edital no 04/2014, Programa de Auxílio à Publicação de Livros, e pela
presteza e atenção que nos foi dada a todo momento, fato que nos mo-
tivou a construção e finalização deste livro;
À direção da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem
(FFOE) e aos docentes dos diferentes departamentos, que contribuíram
direta e indiretamente para alcançarmos nosso objetivo;
Ao Departamento de Enfermagem e ao Curso de Pós-Graduação
em Enfermagem da UFC, pelo incentivo e apoio, em todas as etapas,
para conseguirmos elaborar, finalizar e encaminhar todas as documen-
tações e pendências no seu devido tempo;
Aos integrantes e ex-integrantes do Projeto de Extensão Aids:
educação e prevenção, do Departamento de Enfermagem da UFC que,
ao longo de muitas caminhadas, compartilharam conosco momentos de
pesquisa, ensino e extensão e que são grandes incentivadores para a
confecção desta obra;
À professora Graziela Teixeira Barroso (In memoriam), pelos en-
sinamentos, incentivos e exemplo, tendo em vista que foi coordenadora
do Projeto Aids: educação e prevenção, por muitos anos, e nos possibi-
litou dar continuidade as suas atividades, bem como nos orientou a ar-
ticular pesquisa, ensino e extensão na nossa prática docente;
À professora Neiva Francenely da Cunha Vieira, pela parceria nas
atividades do Projeto Aids: educação e prevenção, nas disciplinas de gra-
duação e pós-graduação e nas atividades de ensino, pesquisa e extensão;
Aos alunos e ex-alunos do Mestrado e Doutorado em Enfermagem
da UFC que, de forma brilhante, desenvolveram suas pesquisas envol-
vendo os adolescentes e, com isso, contribuíram, de forma significa-
tiva, encabeçando seus capítulos;
Aos adolescentes, principal fonte inspiradora dos diferentes con-
textos e cenários, que participaram das nossas atividades de pesquisa,
ensino de extensão;
Aos professores e alunos da disciplina Enfermagem no Processo
de Cuidar do Adolescente, que foi cenário de muitas discussões sobre as
temáticas aqui presentes;
A todos os professores e alunos, que contribuíram direta e indire-
tamente com essa produção;
À Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC), pelo aporte
financeiro para a editoração deste trabalho;
A Imprensa Universitária da UFC, pelo trabalho prestimoso na
correção e editoração eletrônica deste livro.
SUMÁRIO

PREFÁCIO
Betina Hörner Schlindwein Meirelles..................................................13

PRIMEIRAS PALAVRAS
Profa. Dra. Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ...................................15

INTRODUÇÃO
As organizadoras ................................................................................17

PARTE I
ASPECTOS ENVOLVENDO A PROMOÇÃO DA SAÚDE
DO ADOLESCENTE: concepções e cenário para prevenção
das DST/HIV/Aids.............................................................................21

PANORAMA ATUAL DAS DST/HIV/Aids ENTRE


ADOLESCENTES: avanços e desafios
Renata Karina Reis; Elizabete Santos Melo; Elucir Gir ....................23

CONHECENDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS


PARA ATENÇÃO À SAÚDE DOS ADOLESCENTES COM
ENFOQUE NAS AÇÕES DE PREVENÇÃO DAS DST/Aids
Adna de Araújo Silva; Ligia Fernandes Scopacasa; Fabiane do
Amaral Gubert; Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ........................... 31

TECNOLOGIAS E ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS PARA


PREVENÇÃO DE HIV/Aids JUNTO A ADOLESCENTES
Ana Cristina Pereira de Jesus Costa; Joyce Mazza Nunes Aragão;
Fabiane do Amaral Gubert; Neiva Francenely Cunha Vieira;
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ..................................................... 43
DESIGN DA INFORMAÇÃO, ARTEFATOS INFORMACIONAIS
E ADOLESCÊNCIA: prevenção das DST/Aids nas escolas
Ranielder Fábio de Freitas; Hans da Nóbrega Waechter;
Solange Galvão Coutinho; Fabiele do Amaral Beck; Fabiane do
Amaral Gubert ................................................................................... 55

FÉ E RELIGIOSIDADE: influências nos comportamentos


e escolhas na vida sexual e afetiva
Adriana Gomes Nogueira Ferreira; Neiva Francenely Cunha
Vieira; Fabiane do Amaral Gubert; Marcos Venícios de Oliveira
Lopes, Andrea Soares Rocha da Silva; José Antonio Trasferetti;
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ......................................................71

AUTOESTIMA, AUTOCUIDADO E VALORIZAÇÃO:


elementos importantes para a prevenção de DST/Aids na adolescência
Thábyta Silva de Araújo; Queliane Gomes da Silva Carvalho;
Rita Andréa Pereira de Oliveira; Suhelen Nunes Tavares; Neiva
Francenely Cunha Vieira; Fabiane do Amaral Gubert; Patrícia
Neyva da Costa Pinheiro ................................................................... 87

SAÚDE AMBIENTAL E ADOLESCENTES: perspectivas


do cuidado
Eveline Pinheiro Beserra; Maria Dalva Santos Alves, Neiva
Francenely Cunha Vieira; Mariana Cavalcante Martins,
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro; Fabiane do Amaral Gubert ......101

SAÚDE MENTAL: conquistas e desafios para a saúde


do adolescente
Álissan Karine Lima Martins; Joyce Wadna Rodrigues de Souza;
Ananeide Fernandes Vieira; Wandenko Gouveia Costa;
Ângela Maria Alves e Souza; Neiva Francenely Cunha Vieira;
Fabiane do Amaral Gubert; Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ......111

ENFERMEIRO NO CONTEXTO ESCOLAR: papel importante


em meio a muitos desafios
Ligia Fernandes Scopacasa; Adna de Araújo Silva; Marcos
Venícios de Oliveira Lopes, Andrea Soares Rocha da Silva;
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro; Fabiane do Amaral Gubert ......125

DOAÇÃO DE SANGUE E COMPORTAMENTO SAUDÁVEL


DE SAÚDE: uma realidade na fase da adolescência
Queliane Gomes da Silva Carvalho; Thábyta Silva de Araújo;
Stella Maia Barbosa; Kauanne Brandão Silva; Maria Eduarda
Magalhães Araújo; Neiva Francenely Cunha Vieira; Fabiane do
Amaral Gubert; Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ..........................139

PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA: fundamentais


para uma vida saudável e para a prevenção de DST/Aids
Maria Isis Freire de Aguiar; Paulo Henrique Alexandre de Paula;
Fernanda Lima Aragão Dias; Marli Teresinha Gimenez Galvão;
Léa Maria Moura Barroso Diógenes; Fabiane do Amaral Gubert;
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ....................................................155

EMPOWERMENT E AUTONOMIA: pensamento crítico e


atitudes na prevenção das DST/Aids
Anny Giselly Milhome da Costa Farre; Patrícia Neyva da Costa
Pinheiro; Estela Maria Leite Meirelles Monteiro; Lays Hervércia
Silveira de Farias; Clarice da Silva Neves; Rayssa Matos Teixeira;
Fabiane do Amaral Gubert; Neiva Francenely da Cunha Vieira ......171

PARTE II
DISCUTINDO AS SITUAÇÕES DE RISCO E
VULNERABILIDADE ENVOLVENDO O ADOLESCENTE
NO CONTEXTO DAS DST/HIV/Aids ............................................183

RESILIÊNCIA E FATORES DE PROTEÇÃO: aspectos importantes na


vida dos adolescentes e para a prevenção de DST/ HIV/Aids
Rayssa Matos Teixeira; Patrícia Neyva da Costa Pinheiro;
Fabiane do Amaral Gubert; Kelanne Lima da Silva; Maria Isabelly
Fernandes da Costa; Jaislâny de Sousa Mesquita; Izaildo Tavares
Luna; Adna de Araújo Silva ..............................................................185
ELEMENTOS DA VULNERABILIDADE SOCIAL:
adolescência e vírus da imunodeficiência humana
Silvana Santiago da Rocha; Jailson Alberto Rodrigues;
Maria Augusta Rocha Bezerra; Karla Nayalle de Souza Rocha;
Ulisses Umbelino dos Anjos; Jordana de Almeida Nogueira .......... 201

CRENÇAS E VALORES DE ADOLESCENTES VÍTIMAS


DE VIOLÊNCIA SEXUAL: prevenção das DST/Aids
Kelanne Lima da Silva; Patrícia Neyva da Costa Pinheiro; Neiva
Francenely da Cunha Vieira; Eliany Nazaré Oliveira; Fabiane do
Amaral Gubert ................................................................................. 221

COMPORTAMENTOS SEXUAIS DE RISCO E


ATIVIDADE FÍSICA: adolescentes escolares cearenses
Ricardo Hugo Gonzalez; Márcia Maria Tavares Machado ............. 233

COCAÍNA/CRACK: o uso e sua relação com a infecção


pelo HIV/Aids em adolescentes
Agnes Caroline Souza Pinto; Fabiane do Amaral Gubert;
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ................................................... 247

BULLYING: uma violência evidente no contexto escolar


Luiza Luana de Araújo Lira Bezerra; Ilvana Lima Verde Gomes;
Mirna Albuquerque Frota; Fabiane do Amaral Gubert; Patrícia
Neyva da Costa Pinheiro ................................................................. 265

AMBIENTE DE RUA: risco e vulnerabilidade do adolescente


às DST/HIV/Aids
Izaildo Tavares Luna; Michel Platinir Ferreira da Silva; Maria Lúcia
Duarte Pereira; Maria Dalva Santos Alves; Maria Suêuda Costa;
Neiva Francenely da Cunha Vieira; Leilane Barbosa de Sousa;
Fabiane do Amaral Gubert; Patrícia Neyva da Costa Pinheiro ..... 279

POPULAÇÕES ESPECIAIS: importância da prevenção de


DST/Aids e das escolhas conscientes
Giselly Oseni Barbosa Oliveira; Aline Tomaz de Carvalho;
Antonia Ferreira Alves Sampaio; Cristiana Brasil de Almeida
Rebouças; Lorita Marlena Freitag Pagliuca ................................... 297

AMBIENTE, RISCOS E VULNERABILIDADES: adolescente,


família, escola e sociedade em meio ao contexto da DST/Aids
Nara Sibério Pinho Silveira; Carlos Colares Maia; Fabiane do
Amaral Gubert; Neiva Francenely Cunha Vieira; Patrícia Neyva
da Costa Pinheiro ............................................................................ 315

ADOLESCÊNCIA E O VIVER COM HIV/Aids: vulnerabilidades


e promoção da saúde
Maria da Graça Corso da Motta; Nair Regina Ritter Ribeiro; Aline
Cammarano Ribeiro; Clarissa Bohrer da Silva; Manuela Caroline
da Silva; Paula Manoela Batista Poletto ....................................... 331

ORGANIZADORAS / COLABORADORAS ............................. 347

OS AUTORES ................................................................................ 349


PREFÁCIO

A Organização Mundial da Saúde define a adolescência como


o período entre os 10 aos 19 anos de idade e a juventude até 24 anos,
compreendendo que é nessa fase que o indivíduo abandona os inte-
resses da infância e se insere na vida adulta, adquirindo responsabili-
dade sobre a sua vida e, consequentemente, sobre a sua saúde.
A adolescência é um momento de vida no qual se processam di-
versas transformações sociais, emocionais, corporais/físicas e cognitivas
e, também, um período de crescimento e desenvolvimento humano.
Representa, muitas vezes, um período de crise, no qual o adolescente
tenta se integrar a uma sociedade diante de um enorme leque de possibi-
lidades e opções que quer explorar e experimentar. Algumas das trans-
formações e dificuldades que os jovens enfrentam, principalmente rela-
cionados à sexualidade e ao uso e abuso de drogas psicoativas, aumentam
as chances de os adolescentes adquirirem a infecção por HIV, fazendo-se
necessário programas de prevenção e controle neste sentido.
Diante de algumas características comportamentais, que fazem
com que os jovens sejam propensos à infecção pelo HIV, destaca-se a
sexualidade na adolescência, pois geralmente a atividade sexual se
inicia nesta fase de vida. Apenas metade dos jovens relata uso de pre-
servativo nas relações sexuais, seja como uma prova de amor e fideli-
dade do casal, ou pelo abuso de álcool e outras drogas que levam à
prática do sexo inseguro.
Assim, o cuidado com a saúde do adolescente em seu processo
de viver frente às diversas transformações deste período, associado ao
risco de infecção pelo HIV/Aids, provocam um desafio aos programas
de prevenção e controle. O problema tem se intensificado nos últimos
anos, diante dos dados epidemiológicos que mostram um perfil de “ju-
venização” da epidemia, com o consequente aumento da demanda de
cuidados pelos profissionais de saúde.
14 Estudos da Pós-Graduação

São inúmeros os prejuízos advindos pela aids que impactam na


qualidade de vida dos adolescentes, podendo passar por sucessivas perdas
relativas ao convívio familiar, bem como relacionados a sua própria vida.
Adolescentes que convivem com HIV/Aids, seja por transmissão via ho-
rizontal ou vertical, enfrentam dificuldades físicas, mas também sociais,
frente ao preconceito, o estigma da doença e o medo do incerto.
O cuidado de enfermagem com o adolescente deve enfocar ações
preventivas com relação ao HIV/Aids, potencializando ações educa-
tivas, fortalecendo a autoestima e o autocuidado no combate à discrimi-
nação e defesa das pessoas, bem como no fortalecimento de políticas
públicas a pessoas que vivem com HIV/Aids. Deve levar em conside-
ração os vários processos de vulnerabilidade, necessidades e agravos a
que estes adolescentes e os distintos grupos a que pertencem estão su-
jeitos, sempre considerando a sua complexidade. Isto significa não
perder de vista a diversidade humana e, consequentemente, a própria
adolescência, construída em meio a processos sociais e históricos, pro-
jetando a atenção a sua saúde a partir de uma referência mais ampla,
que considere a dinâmica das relações, gerações, ambientes, culturas e
sexualidades, dentre outros.
Neste sentido, este livro apresenta conteúdos teóricos e temas
relevantes para a prática cotidiana dos profissionais de saúde, discu-
tindo alguns destes desafios do cuidado ao adolescente na perspectiva
de promoção da saúde e qualidade de vida frente à complexidade da
adolescência e à prevenção do HIV/Aids.

Dra. Betina Hörner Schlindwein Meirelles


Professora Associada do Departamento de Enfermagem e do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina
PRIMEIRAS PALAVRAS

A dolescência, como muitos sabem, é considerada uma fase de


transição entre a infância e a vida adulta, repleta de significados e mo-
dificações de cunho físico, psíquico e social. Falar desta fase é falar de
conflitos, riscos e vulnerabilidades em virtude das muitas mudanças e
estímulos por que o ser humano passa, mas também é falar de supera-
ções e conquistas, pois é também uma fase repleta de encantamentos e
descobertas pela vida.
Promover a saúde do adolescente em vários contextos é papel da
família, escola, comunidade e do próprio adolescente. Entretanto,
muitas vezes não se sabe como trabalhar positivamente essa fase. É
necessário, além de amor, conhecimentos sobre os aspectos importantes
que envolvem a adolescência e a promoção da saúde nos vários cená-
rios e contextos, principalmente quando implica a sexualidade e o com-
portamento sexual seguro, bem como a expressão de sentimentos e
afetos. É preciso entender o compromisso consigo e com o outro de
forma respeitosa, amorosa e ética, assim como as formas desrespei-
tosas, aéticas e sem amor.
É fundamental a construção positiva da autoimagem dos adoles-
centes para que ele venha a se cuidar, se amar e se prevenir das doenças
e agravos à saúde. É importante conhecer as DST/HIV/Aids e suas pos-
sibilidades de risco e vulnerabilidades na vida dos adolescentes para
que venhamos evitar ou minimizar o risco de infecção. Tendo em vista
a grande probabilidade da infecção pelo HIV, ainda na adolescência,
seja pela imaturidade ou falta de conscientização, é fundamental que a
prevenção aconteça de forma intensificada e nos vários cenários e con-
textos, valorizando as diversas adolescências.
A enfermagem, como profissão do cuidar, vem atuando, de forma
pontual, com ações junto às escolas e aos programas governamentais,
as quais nem sempre são bem-sucedidas. Entretanto, é necessário que
16 Estudos da Pós-Graduação

não só a enfermagem, como todos os profissionais da saúde, voltem o


seu olhar para o adolescente, pois não se pode salvar a criança e per-
dê-la na sua segunda década de vida; não se pode deixar de cuidar
desses adolescentes que precisam tomar as decisões mais importantes
de sua vida. Portanto, o conhecimento e a aproximação dos profissio-
nais da saúde com o adolescente podem contribuir para uma adoles-
cência mais saudável.
Pensando a interdisciplinaridade e a intersetorialidade nas ações
voltadas ao adolescente, acreditamos que podemos trabalhar em prol de
uma adolescência mais saudável e com menos riscos e vulnerabilidades.

Profa. Dra. Patrícia Neyva da Costa Pinheiro


INTRODUÇÃO

E ste livro surgiu como forma de dar visibilidade às dissertações,


teses, experiências de extensão universitária, oriundas do Pro­grama de
Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, no
âmbito da Linha de Pesquisa Enfermagem e Educação em Saúde.
O Programa de Pós-Graduação em Enfermagem possui como
Área de Concentração: Enfermagem na Promoção da Saúde, na qual se
estuda a atuação da Enfermagem na promoção da saúde em indivíduos,
grupos e comunidades. Investiga políticas, práticas, processos e re-
cursos de ordem institucional e governamental. Analisa as condições de
vida da população no processo saúde-doença, os conhecimentos, ati-
tudes, estratégias e comportamentos de cuidado. Favorece a transfor-
mação de políticas e práticas na promoção da saúde.
No atual estágio, o Programa vem evoluindo e evidenciando po-
tencial que se expressa em diversos aspectos do processo acadêmico,
com produção significativa em periódicos nacionais e internacionais.
O Programa busca desenvolver estudos de modo a ampliar e gerar co-
nhecimentos para o desenvolvimento técnico-científico, político-so-
cial, epistemológico e metodológico do trabalho de enfermagem, com-
prometido com uma prática social transformadora e voltada para a
melhoria de qualidade de vida, no plano do cuidado individual e cole-
tivo, atendendo-se à complexidade das desigualdades e das necessi-
dades regionais.
Assim, a Linha de Pesquisa Enfermagem e Educação em Saúde,
por meio do Grupo de Pesquisa FAMEPE – Família, Ensino, Pesquisa
e Extensão e de outros projetos de pesquisa e extensão, disciplinas de
graduação em enfermagem na área do adolescente, ministradas desde a
graduação, pensou em uma coletânea de capítulos que desse vazão às
inúmeras pesquisas desenvolvidas no contexto da prevenção das DST/
Aids na adolescência.
18 Estudos da Pós-Graduação

Neste contexto, o Projeto de Pesquisa e Extensão da Universidade


Federal do Ceará, Projeto AIDS: Educação e Prevenção, há mais de 20
anos tem atuado junto ao público adolescente e jovem por meio de
atividades de extensão universitária, dissertações e teses, além de
prover cooperação e intercâmbio entre instituições no nordeste brasi-
leiro (MA, PE, PI).
O Projeto AIDS tem como preocupação o fato de que os alunos
de graduação e pós-graduação vivenciam o território vivo junto ao ado-
lescente, e acredita que as experiências junto a essa população forta-
leçam a formação técnica e científica dos profissionais de saúde, incen-
tivando o uso do método científico e de evidências para a tomada de
decisões e para a gestão do processo de trabalho e do cuidado para a
prevenção de DST/Aids na adolescência.
Assim, considerando essas experiências vivas, as influências dos
fatores ambientais, culturais, sociais e econômicos, junto aos adoles-
centes, foram riquíssimas e o papel do enfermeiro e dos profissionais de
saúde é proporcionar uma passagem bem-sucedida nesta etapa de vida,
considerando todas essas peculiaridades do viver adolescente, em espe-
cial a prevenção das DST/HIV/Aids.
O grande desafio para a formação como um todo e, especial-
mente, a formação em saúde, está na perspectiva de se desenvolver a
autonomia individual em íntima coalizão com o coletivo, buscando
compreender todos os determinantes sociais que influenciam o cuidar
em saúde. A educação deve ser capaz de desencadear uma visão
abrangente do todo, além de possibilitar a construção de redes de mu-
danças sociais, com a consequente expansão da consciência indivi-
dual e coletiva.
Neste livro estão reunidos alguns estudos de práticas centradas,
principalmente em diferentes cenários da prevenção das DST/HIV/
Aids na adolescência. Trata-se, portanto, de um livro que reúne os
produtos gerados em um trajeto de construção de pesquisas e experi-
ências de alunos, enfermeiros e professores, levando em consideração
o protagonismo dos alunos no intuito de corrigir problemas ou com-
preender processos que permeiem a saúde do adolescente no contexto
das DST/Aids.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 19

O livro foi pensado em dois eixos principais:

Parte I – Aspectos envolvendo a promoção da saúde do adoles-


cente: concepções e cenário para prevenção das DST/HIV/Aids: es-
tudos que tinham como direcionamento a promoção da saúde do ado-
lescente, envolvendo uma perspectiva filosófica do cuidado em
diferentes áreas: políticas públicas, religião, saúde mental, tecnologias
e estratégias de prevenção, empowerment, saúde ambiental e autoes-
tima, entre outros temas pertinentes à adolescência.
Parte II – Discutindo as situações de risco e vulnerabilidade
envolvendo o adolescente no contexto das DST/HIV/Aids: estudos que
se preocuparam com temáticas que envolvem as principais vulnerabili-
dades do adolescente no cenário atual, tendo como situações: bullying,
violência, ambiente de rua, além de outros riscos que pudessem en-
volver a saúde do adolescente, não se esquecendo do panorama das
DST/HIV/Aids.
Convidamos os leitores a conhecer este livro que conta, em 22
capítulos, a trajetória de profissionais e futuros profissionais, suas his-
tórias e suas contribuições.

As organizadoras

Parte I

ASPECTOS ENVOLVENDO A
PROMOÇÃO DA SAÚDE DO
ADOLESCENTE: concepções e
cenário para prevenção das
DST/HIV/Aids
PANORAMA ATUAL DAS DST/HIV/AIDS
ENTRE ADOLESCENTES
Avanços e desafios

Renata Karina Reis


Elizabete Santos Melo
Elucir Gir

A adolescência é uma das transições críticas da vida nas quais


ocorrem importantes mudanças biológicas e psicossociais, podendo
afetar todos os aspectos da vida dos adolescentes. O significado atri-
buído a esta transição é variado em diferentes culturas e contextos, mas
em todos os lugares ela significa a passagem da infância para a idade
adulta.1 Nas últimas décadas, a globalização e a ênfase pelo consu-
mismo têm influenciado a mudança de valores, modificando o compor-
tamento das pessoas, principalmente dos jovens.2
O Brasil é um país com importante diversidade e disparidades
regionais, étnicas, culturais e socioeconômicas, que reúne uma plurali-
dade de possibilidades, expectativas, experiências, significados e desa-
fios para a garantia do direito de ser adolescente.
Concorda-se com outros autores que os adolescentes não são vul-
neráveis em si,3 pois, embora a adolescência tenha características pró-
prias, ela é vivenciada pelo sujeito de forma singular de acordo com o
contexto social e cultural no qual está inserido.4 Por outro lado, é neste
período da vida que se vivencia uma série de eventos os quais podem
torná-los vulneráveis frente às doenças sexualmente transmissíveis
24 Estudos da Pós-Graduação

(DST), tais como o início da vida sexual e a experimentação do álcool


e outras drogas, os quais, somados à necessidade de afirmação grupal
de explorar o novo e experimentar riscos,5 podem levá-los a comporta-
mentos de risco muitas vezes influenciados pelo meio social em que o
adolescente está inserido.6
Os dados epidemiológicos atuais apontam para um panorama
preocupante frente às situações de vulnerabilidade tanto individual
quanto social e programática dos adolescentes. De acordo com o Fundo
das Nações Unidades para a Infância (Unicef), quando se compara a
situação dos adolescentes com os demais segmentos etários, observa-se
que eles formam um grupo que sofre mais fortemente o impacto de
vulnerabilidades, como a pobreza, a violência, a exploração sexual, a
baixa escolaridade, a exploração do trabalho, a gravidez, as DST/Aids,
o abuso de drogas e a privação da convivência familiar e comunitária.7
Quanto às DST e ao vírus da imunodeficiência humana (HIV), sabe-se
que este é um fenômeno global, configurando-se como um dos mais
importantes problemas de saúde pública na atualidade.
Entretanto, a faixa etária em que ocorre o maior número de casos de
aids, em ambos os sexos, é de 25 a 49 anos. Porém, a parcela da população
que atualmente demanda maior preocupação está entre os mais jovens.
De acordo com a United Nations Programme on HIV/Aids –
Unaids, em 2013 havia 2,1 milhões de adolescentes no mundo vivendo
com o HIV/Aids. A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana é
hoje a principal causa de morte entre os adolescentes (com idade entre
10 - 19 anos) na África e a segunda causa mais comum de morte entre
adolescentes no mundo.1
Assim, dois terços das novas infecções ocorrem entre meninas,
evidenciando as iniquidades relacionadas ao gênero, à violência do par-
ceiro íntimo e a fatores de maior vulnerabilidade das adolescentes do
sexo feminino. De fato, em alguns países da África Subsaariana (in-
cluindo Camarões, Côte d’Ivoire, Guiné e Suazilândia), as meninas de
15 - 19 anos têm cinco vezes mais probabilidade de serem infectadas do
que os meninos. 1
No Brasil, existem 17.498 mil adolescentes de 10 a 19 anos vi-
vendo com o HIV/Aids e a faixa etária entre 13 e 19 anos é a única que
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 25

já apresentou maior número de casos de aids entre as meninas, enquanto,


de maneira geral, a proporção é de dezesseis casos em homens para dez
em mulheres. No período de 1998 a 2011 foi observada uma inversão,
com dez casos em meninas para oito em meninos.8 Porém, nos anos de
2012 e 2013, o número de casos voltou a ser maior em meninos:

Gráfico 1 – Casos de aids notificados no Sinan, segundo faixa etária, sexo e ano
de diagnóstico

Fonte: Brasil (2014).

As experiências sexuais dos adolescentes têm início cada vez


mais cedo e a precocidade está associada ao sexo desprotegido e ao
maior número de parceiros ao longo da vida.4, 9
No âmbito nacional, um estudo realizado com alunos do 9o ano
do Ensino Fundamental de todas as capitais brasileiras, incluindo o
Distrito Federal, apontou que a iniciação sexual de adolescentes do
sexo masculino é mais precoce do que a observada para o sexo femi-
nino; cerca de 40% dos meninos entre 13 e 15 anos já tiveram relação
sexual, enquanto entre as meninas da mesma idade a taxa é de 18,3%.4
A precocidade da iniciação sexual pode trazer consequências ne-
gativas para a saúde como a aquisição de DST e gravidez indesejada, o
que se configura como um desafio para a família, escola, educadores e
profissionais de saúde. Fatores do contexto familiar e da escola podem
26 Estudos da Pós-Graduação

ser protetores para o comportamento sexual de risco.4 A educação se-


xual continuada desde a infância – afirmando-se o direito à informação
e o acesso a insumos, incluindo preservativos e contraceptivos – dis-
pensa a discussão sobre o adiamento da iniciação sexual, que surge
como consequência dos conhecimentos adquiridos pelos jovens10 por
meio do desenvolvimento de sua autonomia e empoderamento.
Apesar destes importantes desafios, é relevante destacar que
enormes avanços no âmbito da prevenção das DST/HIV/Aids ocor-
reram nas últimas décadas, referente ao acesso às informações sobre
doenças sexualmente transmissíveis e aids nas escolas, traduzindo4
maior acesso ao preservativo, bem como o desenvolvimento de polí-
ticas públicas para a promoção da saúde sexual e prevenção das DST/
HIV/Aids nas escolas.11
Apesar de maior conhecimento sobre as formas de prevenção, na
prática, nem sempre isto se traduz em comportamento preventivo, pois
ainda é observado baixo uso do preservativo na primeira relação sexual
e nas relações subsequentes.12
Quanto ao uso do preservativo pelos adolescentes, dos 28,7%
que declararam relação sexual alguma vez na vida, 75,3% referiram ter
usado preservativo na última vez. Desse total, identificam-se dife-
renças entre meninas e meninos, pois 77,1% foram do sexo masculino
e 71,8% do sexo feminino.4 A não utilização da camisinha não está
relacionada com a falta de conhecimento sobre o método e sua impor-
tância para o sexo seguro, e tampouco com a dificuldade de acesso,
mas com o senso de invulnerabilidade próprio do adolescente influen-
ciado pelo prazer momentâneo.12
Particularmente, entre mulheres e meninas adolescentes, o uso
do preservativo masculino tem taxas mais baixas de adesão,4 visto que
o mesmo é um método controlado pelos homens no qual exige a nego-
ciação para o uso.
Os padrões socioculturais do contexto brasileiro que culminam
nas desigualdades de gênero implicam menor autonomia das mulheres
em relação aos homens e influenciam o comportamento feminino que
ainda se encontra vinculado e subalterno, em relação ao masculino, le-
vando a não utilização do preservativo, principalmente nas relações que
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 27

envolvem afeto, levando a sensação de proteção.5 Além disso, a dificul-


dade de comunicação com pais e professores sobre sexualidade e sexo
seguro pode se constituir em barreiras para a prevenção das infecções
sexualmente transmissíveis.
Tal dado aponta para a necessidade de educação sexual para os
adolescentes de modo que possam vivenciar a sexualidade de maneira
positiva. Nos Estados Unidos tem sido utilizada a combinação de pro-
gramas clínicos de aconselhamento e comunitários para o desenvolvi-
mento integral da juventude, influenciando os valores e a cultura local,
focalizados claramente na sexualidade ou não.10 Assim, está sendo
aberto um canal de comunicação para que esses adolescentes possam
expor suas dúvidas, medos e angústias.
Diante deste quadro, a meta da Unaids é reduzir novas infec-
ções e mortes relacionas a aids entre adolescentes em 75% e 65%,
respectivamente, até 2030. Para tal, é necessária a implementação de
políticas públicas efetivas que lancem um olhar diferenciado para os
adolescentes, a fim de superar as vulnerabilidades e desigualdades
que afetam o desenvolvimento pleno dos adolescentes. No Brasil,
essas estratégias devem considerar a complexidade dos fenômenos
que afetam os adolescentes e serem capazes de oferecer respostas ino-
vadoras e multissetoriais.7
No campo da saúde é fundamental o desenvolvimento de re-
cursos para a proteção dos adolescentes, extrapolando estratégias de
“prescrição” de comportamentos corretos, mas que criem oportuni-
dades para a reflexão e diálogo.5
O enfermeiro, por se encontrar em uma posição privilegiada na
interação com os indivíduos devido a sua atuação em diversos cenários
dos serviços de saúde, tais como nas unidades de saúde da família, no
contexto escolar, dentre outros, tem papel fundamental e a oportuni-
dade de implementar estratégias educativas com vistas à promoção da
saúde.13 Na sua práxis ele tem desenvolvido metodologias emancipató-
rias, dialogais, autônomas e participativas, favorecendo o protagonismo
dos adolescentes para as decisões sobre sua saúde.14
Portanto, apesar dos desafios, o enfermeiro tem papel importante
para a efetivação e implementação das políticas públicas universais
28 Estudos da Pós-Graduação

para todos os adolescentes, e também de políticas específicas voltadas


para essa fase especial da vida e para as diferentes condições de se viver
as adolescências que existem no Brasil.

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PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 29

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CONHECENDO AS POLÍTICAS PÚBLICAS
VOLTADAS PARA ATENÇÃO À SAÚDE DOS
ADOLESCENTES COM ENFOQUE NAS AÇÕES DE
PREVENÇÃO DAS DST/AIDS
Adna de Araújo Silva
Ligia Fernandes Scopacasa
Fabiane do Amaral Gubert
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

R ealizando-se uma retrospectiva quanto às políticas públicas


voltadas para atenção à saúde dos adolescentes em nosso país, verifi-
ca-se que elas surgiram, sobretudo, a partir do ano de 1988, com a pro-
mulgação de uma nova Constituição Federal da República, que garante
a todos o direito à saúde.
Constata-se que, em sua maioria, as políticas públicas foram im-
plementadas por meio de projetos e/ou programas que costumam foca-
lizar eixos considerados estruturantes para a manutenção da saúde dos
adolescentes, como: saúde sexual e reprodutiva, prevenção de violên-
cias e promoção da cultura de paz, participação juvenil, acompanha-
mento de seu crescimento e desenvolvimento, orientação nutricional,
imunizações, atividades educativas, identificação e tratamento de
agravos e doenças prevalentes, conforme descrito a seguir.

Principais ações do governo brasileiro voltadas à


atenção à saúde do adolescente
Realizando-se a análise nas publicações do Ministério da Saúde
e tendo como referência o ano de 1988, verifica-se que o primeiro pro-
32 Estudos da Pós-Graduação

grama instituído pelo Ministério da Saúde, estando voltado para pro-


moção da saúde do adolescente, norteado pelos princípios do SUS, foi
o Programa de Saúde do Adolescente (Prosad), oficializado em 1988 e
tendo suas bases programáticas publicadas ao final de 1989 pela por-
taria no 980/GM de 21/12/1989.
O Prosad estabeleceu como missão a promoção da saúde, a iden-
tificação de grupos de risco, a detecção precoce dos agravos, o trata-
mento adequado e a reabilitação para adolescentes (10 - 19 anos)  e jo-
vens (20 - 24 anos) de ambos os sexos, tendo por eixo central as ações
com caráter de integralidade, enfoque preventivo e educativo, ou seja,
estratégias preventivas e curativas de forma articulada, realizadas por
meio de equipe multiprofissional, intersetorial e interinstitucional,
através de sistema de referência e contrarreferência nas várias instân-
cias operacionais do Sistema Único de Saúde (SUS).1
Desse modo, considerando a frequência e a gravidade dos pro-
blemas que surgem na adolescência, o Prosad priorizou um conjunto de
ações de promoção da saúde, diagnóstico precoce, tratamento e recupe-
ração nas seguintes áreas básicas: crescimento e desenvolvimento;
saúde bucal; saúde mental; sexualidade e saúde reprodutiva, incluindo
prevenção de gravidez e de DST; saúde do escolar adolescente; pre-
venção de acidentes; abordagem da violência e maus tratos; trabalho,
cultura, esporte e lazer.1
Apesar de abrangente, autores consideram as propostas do pro-
grama como ações simplistas e reducionistas, ao estarem estruturadas
nos tradicionais “pacotes de saúde” ofertados à população, levando,
com isso, aos adolescentes e jovens a permanência à margem da
atenção à saúde.2
Contudo, para outros estudiosos na área, torna-se inegável a
importante contribuição que a Constituição Federal (1988) e o
Prosad (1989), alicerçado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
– ECA (1990), trouxeram para a atenção à saúde deste grupo, ofere-
cendo subsídios para melhoria da assistência à saúde prestada a esta
parcela da população, sendo uma evolução em termos de implemen-
tação de políticas de proteção e assistência a crianças e adolescentes
no nosso país.3
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 33

De fato, o ECA (lei no 8.069/1990) é reconhecido internacional-


mente como um dos mais avançados diplomas legais dedicados à ga-
rantia dos direitos da população infanto-juvenil, trazendo como um dos
seus principais deveres o desenvolvimento de políticas públicas vol-
tadas à proteção integral da saúde de crianças e adolescentes, em re-
gime de absoluta prioridade.4
Entretanto, vale a pena ressaltar que o Prosad enfrentou/enfrenta
inúmeros desafios, quais sejam: a garantia da prioridade para o atendi-
mento dos adolescentes nas unidades de saúde; a adequação dos ser-
viços de saúde para favorecer a captação e adesão dos adolescentes,
priorizando as atividades de grupo e a promoção de saúde; o fortaleci-
mento e a integração entre os profissionais dos diferentes programas e
setores das unidades; o estabelecimento de parcerias com outros setores
e a implantação de projetos integrados; o incentivo à participação dos
adolescentes nos serviços e nas atividades de promoção de saúde na
comunidade e da parceria com grupos organizados de jovens na comu-
nidade; a provisão de treinamento e educação continuada para os pro-
fissionais e a implementação de avaliação permanente.5
Com a implementação do Prosad, publicações do Ministério da
Saúde foram sendo lançadas, a fim de subsidiar as ações nessa área,
como a publicação de Saúde e desenvolvimento da juventude brasi-
leira: construindo uma agenda nacional (1999), que trouxe a discussão
de temas importantes, como: os direitos assegurados no ECA; o desafio
da proteção da saúde sexual e reprodutiva, da prevenção do tabagismo,
álcool e outras drogas e da prevenção de homicídios e suicídios, bem
como enfatizando a importância da participação e do envolvimento de
adolescentes e jovens para o sucesso dessas iniciativas, e da construção
de uma agenda nacional em prol da saúde e do desenvolvimento da ju-
ventude, da qual deveriam participar o governo e toda a sociedade.
Outro aspecto importante das políticas públicas voltadas para a
promoção da saúde do adolescente, desenvolvido em nosso país, é a
orientação dos programas e projetos para redução dos comportamentos
de risco desta população, considerando que a adolescência é uma fase
de transformações profundas no corpo, na mente e na forma de relacio-
namento social do indivíduo, e que estas mudanças, próprias desse pe-
34 Estudos da Pós-Graduação

ríodo, podem incorrer em comportamentos de risco por muitos jovens e


adolescentes.6
Para tanto, o Ministério da Saúde demonstra o entendimento de
que, para que esse período da vida possa ser saudável, faz-se neces-
sária a ação do Estado, visando à redução de riscos aos quais esse
segmento populacional encontra-se mais exposto, como a gravidez
precoce, as DST, a aids, o uso de drogas, os acidentes e as diferentes
formas de violência. Também corrobora o entendimento de que ne-
nhuma organização é capaz de, isoladamente, realizar todas as inter-
venções necessárias para promover a saúde e o desenvolvimento de
adolescentes e jovens.
Logo, o Ministério da Saúde lançou os projetos dos Adolescentes
Promotores de Saúde e Protagonismo Juvenil, ao buscar a formação de
jovens e adolescentes para atuarem como agentes multiplicadores em
prol da melhoria das condições sociais de suas comunidades, bem como
de sua própria vida.
Por intermédio da Área de Saúde do Adolescente e do Jovem,
da Secretaria de Políticas de Saúde, em trabalho conjunto com a
Secretaria de Estado da Assistência Social, no âmbito do Programa
“Agentes Jovens de Desenvolvimento Social e Humano”, buscou-se
formar/capacitar jovens de todo o país para atuarem como agentes
transformadores de suas realidades em suas comunidades, contri-
buindo para a promoção da qualidade de vida deles e o próprio desen-
volvimento do país.6
Em seguida, fomentou a discussão sobre o Protagonismo
Juvenil, por meio de oficinas de capacitação de equipes multiprofissio-
nais, estimulando e incentivando a proposta da atuação construtiva e
proativa de adolescentes e jovens, no seu território, ao envolver-se
com as questões da própria adolescência/juventude, assim como com
as questões sociais do mundo, da comunidade, do planeta, atuando lo-
calmente, seja em casa, na escola, na comunidade, contribuindo para
assegurar os seus direitos e a resolução de problemas da sua comuni-
dade e da sua escola.7
Oportuno destacar que autores trazem uma importante reflexão
nesta área, que tal política pública, baseada no protagonismo juvenil e
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 35

na formação de adolescentes promotores de saúde não tem capacitado


jovens e adolescentes para serem multiplicadores de ações classifi-
cadas como de promoção da saúde, mas de ações que estão centradas
na prevenção dos agravos prevalentes nessa população. Além disso,
destacam que tais ações muitas vezes não são implementadas pelos
profissionais de saúde, sendo então transferidas aos adolescentes como
responsáveis por elas.2
Por conseguinte, baseado nas diretrizes da Política Nacional de
Atenção à Saúde Integral de Adolescentes e Jovens, iniciada em 2004,
a área de saúde do adolescente e do jovem do Ministério da Saúde prio-
rizou ações voltadas à estruturação e ao aprimoramento da rede de
saúde, como a organização de serviços de atenção à saúde de adoles-
centes e jovens nos estados e municípios, intensificando a importância
de um serviço de saúde organizado, a fim de garantir o acesso de ado-
lescentes e jovens a ações de promoção à saúde, prevenção, atenção a
agravos e doenças, bem como reabilitação, respeitando os princípios
organizativos e operacionais do SUS.8
Assim sendo, a introdução da Política Nacional de Atenção à
Saúde Integral de Adolescentes e Jovens em nosso país traz uma nova
linha de reflexão da atenção à saúde do adolescente, principalmente por
evidenciar a integralidade da atenção em consonância com os princí-
pios do SUS, o que pressupõe o atendimento integral com prioridade
para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais,
e a organização de serviços para execução dessas práticas de saúde,
destacando a importância da promoção da saúde e a necessidade de
estabelecer processos de trabalho intersetoriais e interdisciplinares.9
Com isso, os estudiosos no tema destacam a importância da im-
plantação da Política de Atenção Integral à Saúde dos Adolescentes e
Jovens no Brasil, afirmando que tal política rompe com a constituição
de um programa específico para a atenção à saúde dos adolescentes,
inserindo, assim, os adolescentes e jovens nas ações de rotina dos ser-
viços de saúde.10
Nesse contexto, em 2005, o manual Saúde integral de adoles-
centes e jovens: orientações para a organização de serviços de saúde
foi lançado, tendo como objetivo fornecer orientações básicas para
36 Estudos da Pós-Graduação

nortear a implantação e/ou a implementação de ações e serviços de


saúde que atendam adolescentes e jovens de forma integral, resolutiva
e participativa, trazendo importantes orientações quanto aos princípios
e às diretrizes do atendimento a adolescentes e jovens, o diagnóstico e
planejamento das atividades de promoção e atenção à saúde, além dos
recursos humanos, estrutura física, equipamentos, instrumentos, in-
sumos básicos, acolhimento e captação de adolescentes e jovens para as
unidades de saúde.
Outras publicações relevantes para o desenvolvimento do tra-
balho com adolescentes e jovens foram lançadas pelo Ministério da
Saúde. Elas enfatizaram, sobretudo, os direitos assegurados de adoles-
centes e jovens a uma atenção integral à saúde, levantando importantes
discussões sobre as questões legais e éticas no atendimento destes, bem
como a importância de profissionais e gestores desenvolverem e possu-
írem competências e habilidades para o trabalho com esse grupo.11, 12
Assim, ao longo dos últimos anos, a fim de consolidar as polí-
ticas públicas na área da saúde do adolescente, continuou-se a focalizar
ações voltadas para a atenção integral à saúde dos adolescentes em
eixos considerados estruturantes, como: saúde sexual e reprodutiva,
prevenção de violências e promoção da cultura de paz, participação ju-
venil, acompanhamento de seu crescimento e desenvolvimento, orien-
tação nutricional, imunizações, atividades educativas, identificação e
tratamento de agravos e doenças prevalentes.
Especificamente na área da imunização, vale a pena ressaltar que
se priorizou a vacinação contra a hepatite B para este público, ao lançar
a campanha de vacinação contra a hepatite B para crianças e adoles-
centes menores de 20 anos com o slogan: Vacine-se. Não deixe a hepa-
tite B invadir sua vida.

Principais projetos do governo brasileiro voltados à


prevenção de DST/Aids em adolescentes

Com relação à saúde sexual e reprodutiva, o Ministério da Saúde


lançou, em 2006, uma importante publicação denominada: Marco teó-
rico e referencial: saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes e
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 37

jovens, documento que agrega e discute os marcos legais nacionais e


internacionais sobre saúde sexual e saúde reprodutiva, bem como a ga-
rantia dos direitos de jovens e adolescentes. O objetivo do documento é
oferecer subsídios teórico-políticos, normativos e programáticos que
orientem a implementação de ações voltadas à saúde sexual e à saúde
reprodutiva para esse público.13
Também nessa área, em parceria com o Ministério da Educação,
o Ministério da Saúde lançou, em 2003, o projeto SPE, tendo como
objetivo central a promoção da saúde sexual e reprodutiva, visando re-
duzir a vulnerabilidade de adolescentes e jovens às DST, à infecção
pelo HIV, à aids e à gravidez não planejada, por meio do desenvolvi-
mento articulado de ações no âmbito das escolas e das unidades básicas
de saúde.14
Entretanto, em 2007, o Ministério da Saúde inseriu o SPE em um
novo e importante programa, o PSE. Este foi instituído pelo presidente
da República, por meio do Decreto no 6.286, de 5 de dezembro de
2007,15 sendo resultante do trabalho integrado entre o Ministério da
Saúde e o da Educação, com a finalidade de contribuir para a formação
integral dos estudantes da rede pública de Educação Básica, por meio
de ações de prevenção, promoção e atenção à saúde.16

Seus principais objetivos são:


I – promover a saúde e a cultura de paz, reforçando a prevenção de
agravos à saúde;
II – articular as ações da rede pública de saúde com as ações da rede
pública de Educação Básica, de forma a ampliar o alcance e o impacto
de suas ações relativas aos estudantes e suas famílias, otimizando a
utilização dos espaços, equipamentos e recursos disponíveis;
III – contribuir para a constituição de condições para a formação inte-
gral de educandos;
IV – contribuir para a construção de sistema de atenção social, com
foco na promoção da cidadania e nos direitos humanos;
V – fortalecer o enfrentamento das vulnerabilidades, no campo da
saúde, que possam comprometer o pleno desenvolvimento escolar;
38 Estudos da Pós-Graduação

VI – promover a comunicação entre escolas e unidades de saúde,


assegurando a troca de informações sobre as condições de saúde
dos estudantes;
VII – fortalecer a participação comunitária nas políticas de Educação
Básica e saúde nos três níveis de governo.17
É importante ressaltar que o programa prevê ações de prevenção, pro-
moção e atenção à saúde, estando em conformidade com os princípios
e diretrizes do SUS. Além disso, está estruturado em quatro blocos,
sendo o tempo de execução de cada um planejado pela equipe da ESF,
ponderando o ano letivo e o Projeto Político Pedagógico (PPP) da es-
cola. São estes:
I – Avaliação das condições de saúde: atendimentos nutricionais, odon-
tológicos, oftalmológicos, auditivos, clínicos e psicossociais, com en-
foque na prevenção de doenças virais e cardíacas, além do adequado
tratamento, quando necessário;
II – Promoção da saúde e prevenção: informação de qualidade e incen-
tivo à adoção de práticas de alimentação saudável e de atividades fí-
sicas, conscientização da responsabilidade e das consequências do uso
de álcool e outras drogas e do uso da violência, além da educação para
a saúde sexual e reprodutiva, com enfoque à prevenção da aids, hepa-
tites virais e outras DST;
III – Educação permanente dos profissionais da área: cursos de saúde
voltados para profissionais da educação e treinamento das equipes de
saúde, além da qualificação dos jovens para disseminar as informações
entre outros jovens e crianças;
IV – Monitoramento e avaliação da saúde dos estudantes: atenção às
estatísticas do estado de saúde dos jovens beneficiados com o encarte
Saúde no Censo Escolar, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, o
Sistema de Monitoramento do Projeto SPE e a Pesquisa Nacional do
Perfil Nutricional e Consumo Alimentar dos Escolares.17

Desse modo, as equipes da ESF deverão atuar nas escolas de sua


área territorial adscrita, a fim de promover as ações propostas pelo pro-
grama, avaliando as condições de saúde dos educandos, bem como propor-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 39

cionando o atendimento à saúde ao longo do ano letivo, de acordo com as


necessidades locais de saúde identificadas.
Assim, o PSE apresenta-se como estratégia de integração das po-
líticas setoriais, propondo novo desenho da política de educação e saúde
que busca: tratar a saúde e educação integrais como parte de uma for-
mação ampla para a cidadania e o usufruto pleno dos direitos humanos;
permitir a progressiva ampliação das ações executadas pelos sistemas
de saúde e educação com vistas à atenção integral à saúde de crianças,
adolescentes e jovens e à educação em saúde; e promover a articulação
de saberes, a participação de alunos, pais, comunidade escolar e socie-
dade em geral na construção e no controle social da política.17
Por fim, é importante destacar que, em 2009, o Ministério da
Saúde lançou a Caderneta de Saúde do Adolescente com o objetivo de
monitorar a saúde destes jovens e de facilitar as ações educativas vol-
tadas para este segmento, sendo implantada prioritariamente nos muni-
cípios inseridos no PSE. Esta caderneta aborda, de forma lúdica e com
linguagem acessível, temas variados como direitos e deveres do jovem
com incentivo à cidadania, aspectos em relação ao autocuidado nas
áreas de odontologia, higiene pessoal, crescimento e desenvolvimento,
vacinação, além da abordagem sobre DST/Aids.18

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TECNOLOGIAS E ESTRATÉGIAS
PARA PREVENÇÃO DO HIV/AIDS
JUNTO A ADOLESCENTES

Ana Cristina Pereira de Jesus Costa


Joyce Mazza Nunes Aragão
Fabiane do Amaral Gubert
Neiva Francenely Cunha Vieira
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

D esde o início da epidemia HIV/Aids, a prevenção tem sido


uma questão fundamental para programas e políticas de controle dessas
infecções. À época inicial da infecção, o grande desconhecimento sobre
HIV/Aids e sua distribuição levavam a um número reduzido de subsí-
dios para a elaboração de estratégias preventivas. Neste contexto, ob-
servou-se a ocorrência de mudanças significativas, como, por exemplo,
o aumento do nível de conhecimento sobre as infecções, as suas mani-
festações orgânicas e o seu perfil epidemiológico.1
Apesar dos avanços no tratamento e no acréscimo do conheci-
mento sobre HIV/Aids nos últimos vinte anos, a importância da pre-
venção ainda guarda profunda relevância na atualidade, tendo em vista
que esses avanços não foram suficientes para modificar significativa-
mente os determinantes de vulnerabilidade ao HIV/Aids em determi-
nados grupos populacionais.2
A literatura mostra que a disseminação da epidemia e seu im-
pacto são diferenciados nas populações, por isso identificar e reco-
nhecer as diferenças e especificidades desse processo é imprescindível
44 Estudos da Pós-Graduação

no planejamento e na implementação de políticas e programas voltados


para o atendimento dos grupos mais vulneráveis à exposição ao HIV.3
Entre os adolescentes e jovens, o HIV/Aids é uma grande ameaça
à sobrevivência. De acordo com os dados do Programa Conjunto das
Nações Unidas (Unaids), 1/3 dos 40 milhões de pessoas infectadas pelo
HIV no mundo tem menos de 24 anos, sendo que metade das novas
infecções registradas todos os anos acontece entre os jovens; 2/3 desse
total estão concentrados entre meninas de 15 a 24 anos. No Brasil, o
HIV/Aids tem uma dinâmica diferente quando se trata dos adolescentes
e jovens. Na população geral, a maior parte dos casos de HIV/Aids
ocorre entre homens e na faixa etária de 13 a 19 anos, e a maior parte
dos registros da doença está entre as adolescentes mulheres.4
Sabe-se que é na adolescência que a sexualidade, presente em
toda a trajetória de vida do ser humano, busca sua afirmação, mas o que
se percebe é que o desenvolvimento da sexualidade, entretanto, nem
sempre é acompanhado de um amadurecimento afetivo e cognitivo. O
despertar da sexualidade, a curiosidade pelas drogas, bem como a ne-
cessidade de afirmação grupal, somado à falta de conhecimento e a não
adesão aos métodos contraceptivos, torna a adolescência uma etapa de
extrema vulnerabilidade a riscos como as DST/HIV/Aids, além da gra-
videz indesejada.
Estudo que incluiu pessoas de 16 a 24 anos, moradores de São
Paulo (SP) e Recife (PE), constatou que todos os entrevistados reve-
laram maior conhecimento a respeito da aids do que em relação às DST,
ainda que básico.3 Em Fortaleza (CE), o conhecimento de adolescentes
sobre aids foi satisfatório em diversos aspectos, entretanto algumas
questões técnicas sobre a causalidade e transmissão do HIV equivo-
cados ainda persistem, mesmo com o esclarecimento das pessoas e a
disseminação de ações preventivas na sociedade.5 Isso demonstra que
ainda há muito caminho a ser percorrido.
À proporção que se avança na reabilitação da saúde de pessoas
vivendo com HIV/Aids, observa-se decréscimo nas atitudes preven-
tivas da população. Se, por um lado, os avanços no tratamento repre-
sentam conquista para o controle da epidemia, tanto no que se refere à
assistência quanto à prevenção, por outro lado as possibilidades de
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 45

transmissão do HIV através de relações sexuais, gravidez, uso de subs-


tâncias injetáveis e hemoderivados poderão elevar proporcionalmente.
Neste sentido, considerando que o controle da epidemia HIV/Aids de-
pende da eficácia dos antirretrovirais e de assistência de qualidade,
também é importante considerar que esse controle depende da cons-
trução de uma cultura preventiva universal, sustentável e versátil para
as pessoas.1
Essa realidade aponta novos significados sociais construídos
sobre a infecção pelo HIV e a aids, que trazem desafios para pesquisa-
dores, ativistas e estudiosos na identificação de novas representações e
simbolismos para estratégias de prevenção na nova dinâmica epidemio-
lógica que as infecções podem assumir.6 Traduzindo, para a prevenção
de HIV/Aids, apresentam-se novos cenários, sujeitos, valores e novas
experiências, enfatizando ainda mais a necessidade de intensificação e
renovação das tecnologias e estratégias.
Apesar dos avanços na área das respostas tecnocientíficas à epi-
demia, acredita-se que é possível que os avanços na direção preventiva
ocorram no sentido de reinventar criticamente os desafios na prevenção
ao HIV/Aids,6 especialmente entre os adolescentes.

Tecnologias e Estratégias na Prevenção ao HIV/Aids


junto a adolescentes

A política de prevenção para o controle de infecções por HIV/


Aids, implementada pelo Programa Nacional de DST/Aids no Brasil,
na década de 1980, possuía como pressuposto o desenvolvimento de
abordagens e metodologias dirigidas à avaliação e à percepção do risco,
sobretudo do comportamento de risco de grupos específicos.7 Desta
forma, algumas limitações nas abordagens de prevenção foram identifi-
cadas, tais como situações de estigma e discriminação e, portanto, a
necessidade de reformular a teoria e a prática das estratégias de tal
modo que incorporem referenciais diversos, aplicados em diferentes
contextos para a prevenção.
O conceito de vulnerabilidade de Mann,8 e desenvolvido no
Brasil a partir dos estudos de Ayres e colaboradores,9 reacende a preo-
46 Estudos da Pós-Graduação

cupação de focar no indivíduo a elaboração das ações de prevenção ao


HIV/Aids, já sinalizando para a importância de articular as ações com
as dimensões sociais e programáticas. Este referencial teórico exige que
as estratégias sejam baseadas em distintas características e demandas de
grupos populacionais específicos, assim como nos contextos em que
estão inseridos, considerando as situações de pobreza, de violência, as
relações de gênero etc.10
Essa premissa é de especial atenção na assistência ao adoles-
cente, haja vista ser um grupo populacional que sofre mais fortemente
o impacto de vulnerabilidades como a pobreza, a violência, a explo-
ração sexual e do trabalho, a baixa escolaridade, a gravidez, as DST/
HIV/Aids, o abuso de drogas e a privação da convivência familiar e
comunitária. O simples fato de ser adolescente faz com que determi-
nadas situações de vulnerabilidade incidam mais fortemente sobre ele,
se os comparamos a outros grupos da população no país.4
Esta dimensão de nortear as estratégias preventivas segundo a
condição de vulnerabilidade amplia e evidencia caminhos para a com-
preensão dos contextos que tornam claras as diferentes formas de expo-
sição ao HIV/Aids, assim como a proteção de cada indivíduo ou grupo.
A política nacional de prevenção à aids tem elaborado estratégias que
possibilitam a construção de uma resposta abrangente através da aproxi-
mação e articulação intersetorial também com a sociedade e movimentos
sociais11 e do incentivo à construção de estratégias preventivas inova-
doras, relacionadas a múltiplos contextos que podem tanto proteger
como expor indivíduos e comunidades da infecção pelo HIV/Aids.7
Além disso, a incorporação da dimensão vulnerabilidade tanto na
produção de conhecimento quanto nas práticas de prevenção ainda é
um desafio enquanto uma proposta contra-hegemônica no modo de
pensar e fazer prevenção.12 A exemplo, tem-se os projetos de prevenção
de HIV/Aids, implementados na educação entre pares, visando à apro-
ximação de populações específicas de difícil acesso pelos profissionais
e serviços de saúde. Esta também é uma estratégia que pode ser utili-
zada para atuação junto a adolescentes.
As estratégias realizadas na educação entre pares podem ter en-
foques variados na prevenção do HIV/Aids com temas sobre orientação
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 47

sexual, identidade de gênero, estilos de vida etc. Considerando que


existem grupos mais vulneráveis à infecção pelo HIV/Aids, há necessi-
dade de propor estratégias e tecnologias de prevenção apropriadas a
esses contextos específicos, como no caso dos adolescentes.13
No Brasil, a educação entre pares é incentivada pelos Ministérios
da Saúde e Educação, especialmente para adolescentes inseridos na es-
cola, ao desenvolvimento de ações de formação para promoção da
saúde sexual e saúde reprodutiva, a partir do fortalecimento do debate e
da participação juvenil. É um processo de ensino e aprendizagem em
que adolescentes e jovens atuam como facilitadores (as) de ações e ati-
vidades com e para os pares, sendo os responsáveis tanto pela troca de
informações quanto pela coordenação de atividades junto a seus pares.
As razões para se optar pela educação entre pares junto aos ado-
lescentes são muitas. Eles podem conversar horizontalmente com seus
pares sobre diferentes assuntos como sexualidade, saúde sexual e repro-
dutiva, HIV e aids, tendo como base a própria comunidade onde vivem,
pois conhecem a realidade dos (as) outros (as) adolescentes, promo-
vendo atividades mais próximas do seu contexto.14
Na realidade da prevenção às DST/Aids, a estratégia de educação
por pares tem sido compreendida e disseminada por diversos seg-
mentos, como iniciativas governamentais e não governamentais, com
diferentes metodologias, significados e justificativas.15 O Programa
Nacional de DST/Aids vem, desde 1996, indicando essa estratégia
como uma das possibilidades de intervenção no campo da prevenção.8
Por conseguinte, a educação em saúde é conceituada como uma
pluralidade de ações voltadas à promoção da saúde, que utiliza recursos
didáticos adequados como estratégias e tecnologias educativas, de tal
modo que contribuam para a transformação dos indivíduos, ampliando
a capacidade de compreensão e autonomia da importância de aderir as
práticas saudáveis.16
Tecnologias são saberes imprescindíveis para o desenvolvi-
mento do trabalho em saúde,17 mas é o cuidado que aponta e deter-
mina que tipos de tecnologias são necessários em cada situação,
quando podemos utilizar diversas tecnologias: tecnologia dura (ins-
trumentos e equipamentos); leve-dura (conhecimentos estruturados,
48 Estudos da Pós-Graduação

como modelos e teorias); e leves (estabelecimento de relações, como


o vínculo e o acolhimento).18
Para o êxito das práticas educativas é crucial o uso de tecnologias
leves, que estimulam a participação dos sujeitos e a reflexão da reali-
dade local, valorizando o contexto cultural. Devem ser planejadas e
executadas de acordo com a necessidade de cada realidade, com obje-
tivos claros que levem a metas estabelecidas.19
Nessa premissa, destacam-se as tecnologias educativas como con-
junto de conhecimentos que se aplicam a uma atividade educativa, par-
tindo da realidade do ser humano, valorizando sua experiência, seu con-
texto de vida e suas expectativas frente ao processo saúde-doença.19 Entre
as muitas e variadas formas de tecnologia educativa destacam-se pales-
tras, exposições dialogadas, vídeos, jogos, relato de experiências ou con-
versas formais e informais, dinâmicas de grupo, dramatizações etc. Essa
concepção de tecnologia educativa foi a utilizada neste estudo.
Os profissionais de saúde precisam reconhecer que o adolescente
precisa de uma atenção especial e integral e que a prática educativa
envolve diversas tecnologias que sejam adaptadas culturalmente nos
diferentes setores sociais em que se encontram os adolescentes, como a
família, a escola, os abrigos e os serviços de saúde na prevenção de
DST/HIV/Aids, aproximando os serviços de saúde do cotidiano dos
adolescentes, favorecendo a construção de um conceito ampliado de
saúde e motivando sua participação ativa no processo de construção
desse conhecimento, especialmente sobre saúde sexual e reprodutiva na
prevenção das DST/HIV/Aids.
É evidente a necessidade de ado­ção de práticas educativas junto
a adolescentes de caráter dialógico, capazes de promover a ativa parti-
cipação desses sujeitos para que se sintam protagonistas, corresponsá-
veis por sua saúde e melhoria de sua qualidade de vida.20

Implicações do cuidado de enfermagem

A tecnologia educativa, alicerçada na Metodologia da Assistência


de Enfermagem, pode auxiliar o enfermeiro a desenvolver práticas edu-
cativas em grupos, respeitando a singularidade de cada ser humano,
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 49

experiências e necessidades vivenciadas no processo de saúde-do-


ença.19 Explora recursos que vão ao encontro dos significados culturais
reconhecidos e valorizados no contexto dos sujeitos, por isso, cada vez
mais são realizadas, na prática educativa, atividades lúdicas como te-
atro, música, jogos, dentre outras manifestações artísticas e culturais,
especialmente junto a adolescentes.
Na atuação de enfermeiros, várias experiências têm sido desen-
volvidas no sentido da construção compartilhada do conhecimento para
a prevenção das DST/HIV/Aids, principalmente junto a adolescentes
escolares. Exemplo disso são as oficinas de educação em saúde, que
contribuem para a ampliação do conhecimento de adolescentes em vá-
rios aspectos relacionados à sexualidade, gravidez e DST/HIV/Aids, na
medida em que favorece as discussões, a troca de experiências pessoais
e do grupo, partindo da realidade para a reflexão e o debate de suas
próprias práticas.21
Jogos educativos também são tecnologias que contribuem para a
assimilação de questões relacionadas à prevenção de DST/HIV/Aids,
mediante a união entre informação, discussão, reflexão, interação e par-
ticipação grupal, em que os adolescentes esclarecem suas dúvidas sobre
sexualidade e prevenção de DST/HIV/Aids, interagindo com eles pró-
prios de maneira descontraída, facilitando a participação de todos na
aprendizagem.22
Na atualidade, as mídias sociais na Internet (Facebook, Orkut,
Google+ etc) também constituem outra tecnologia que pode ser utili-
zada pelos enfermeiros na prevenção das DST/HIV/Aids, haja vista que
os adolescentes já estão inseridos e familiarizados com esses ambientes
de interação on-line. O profissional de saúde pode lançar mão dessa
tecnologia para promover o debate e o compartilhamento de informa-
ções entre os jovens, favorecendo a construção compartilhada de co-
nhecimento, conforme já foi demonstrado que é uma prática exitosa
entre esse público jovem, especialmente os escolares.23, 24
Na prevenção do HIV/Aids, para melhor desenvolver as ações
educativas, é necessário conhecer as características dos sujeitos, sobre-
tudo no âmbito sexual, além do modo como elas se modificam ao longo
do tempo.11 Assim, a atuação da Equipe de Saúde da Família e da
50 Estudos da Pós-Graduação

Enfermagem, especificamente, é imprescindível na execução de estra-


tégias de promoção da saúde/educação em saúde, por estarem mais pró-
ximos das famílias, dos adolescentes e dos contextos que as envolvem.
Ampliar o conhecimento sobre DST/HIV/Aids é de grande rele-
vância para o combate à pandemia, constituindo-se o pontapé inicial para
ter atitudes saudáveis, rompendo com a cadeia epidemiológica da do-
ença. Desse modo, o enfermeiro, ao estimular atividades de educação em
saúde, seja nos serviços de saúde, no reduto escolar, comunitário, digital
ou em grupos, entre jovens, estará combatendo a ascensão da aids.
Entretanto, para a prevenção às DST/HIV/Aids junto a adoles-
centes, são necessárias intervenções mais incisivas que ampliem não
apenas a informação e prevenção por meio de campanhas públicas ou
atuando de forma intersetorial. É imprescindível que essa atuação con-
tribua para o empoderamento dos sujeitos, estimulando a mudança de
comportamento, envolvendo também questões de gênero, que assumem
uma relevância no atual quadro da epidemia da aids, justificando sua
inclusão nos programas e políticas de saúde no Brasil. As tecnologias
educativas facilitam esse processo.
Mesmo diante dos avanços obtidos, o desenvolvimento de tecno-
logias e estratégias efetivas direcionadas à prevenção das DST/HIV/
Aids junto a adolescentes ainda se constitui um grande desafio para os
profissionais de saúde.

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de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2013.
DESIGN DA INFORMAÇÃO, ARTEFATOS
INFORMACIONAIS E ADOLESCÊNCIA
Prevenção das DST/Aids nas escolas

Ranielder Fábio de Freitas


Hans da Nóbrega Waechter
Solange Galvão Coutinho
Fabiele do Amaral Beck
Fabiane do Amaral Gubert

A adolescência, do ponto de vista social, é caracterizada pela


busca de independência e seu término depende dos grupos sociais, da
cultura e de outros determinantes. Ao vivenciar a etapa da puberdade,
os adolescentes necessitam adaptar-se às novas dimensões e experi-
mentar, com atenção, as novas sensações para integrá-las no seu coti-
diano.1 O enfoque de risco, em particular na adolescência, aparece for-
temente associado a repertórios expressos por gravidez não planejada,
aborto, risco ao contrair o HIV e outras DST, uso e abuso de drogas lí-
citas e ilícitas, risco de morte frente à violência.
Neste contexto, várias profissões, além da área de saúde, com
enfoques variados, destacando-se o designer, têm produzido cuidados e
tecnologias de educação específicas para a adolescência visando à pre-
venção de situações de risco e vulnerabilidade. O Design da Informação,
área que vem atuando ao longo dos anos como mediador entre áreas da
saúde, da sociedade e da pedagogia, tem como enfoque a adaptação de
conteúdos verbo-visuais com objetivo de melhorar a eficiência da infor-
mação e, por consequência, a qualidade de vida das pessoas em dife-
rentes cenários, contribuindo para a educação em saúde.
56 Estudos da Pós-Graduação

Diante das considerações, o designer reconhece que a escola é o


ambiente em que o adolescente vivencia a maioria das sensações e
experiências e, por isso, é um espaço a ser valorizado quando falamos
de materiais educativos. A escola oferece a possibilidade de educar por
meio da construção de conhecimentos resultantes do confronto dos di-
ferentes saberes: aqueles contidos nos conhecimentos científicos vei-
culados pelas diferentes disciplinas; aqueles trazidos pelos alunos e
seus familiares e que expressam crenças e valores culturais próprios;
os divulgados pelos meios de comunicação, muitas vezes fragmen-
tados e desconexos, mas que devem ser levados em conta por exer-
cerem forte influência sociocultural; e aqueles trazidos pelos profes-
sores, constituídos ao longo de sua experiência, resultante de vivências
pessoais e profissionais, envolvendo crenças e se expressando em ati-
tudes e comportamentos.2
Estes saberes são essenciais para a formação do adolescente
como cidadão sensível e responsável em relação a suas atitudes e prá-
ticas confrontadas com suas vulnerabilidades. Tais vulnerabilidades são
consideradas como a chance de exposição das pessoas ao adoecimento,
resultante de um conjunto de aspectos não apenas individuais, mas
também coletivos, contextuais que acarretam maior suscetibilidade às
doenças, agravos e situações de vida e, de modo inseparável, maior ou
menor disponibilidade de recursos de todas as ordens para se proteger
de ambos.3 Nesse sentido, o indivíduo não prescinde do coletivo; há
relação intrínseca entre os mesmos.
Desta forma, o componente individual na adolescência pode ser
atribuído à baixa autoestima, relacionando-se ao fato de que o indi-
víduo deixa de perceber motivos para cuidar de si. Em outro aspecto, a
maior vulnerabilidade pode estar relacionada com a autoestima ele-
vada, com uma sensação de onipotência, na qual ele poderá adotar
certas atitudes que criarão situações de exposição e risco, por exemplo,
como o uso indiscriminado de bebidas alcoólicas (situação associada
também à baixa autoestima), consumo de drogas ilícitas e displicência
nas práticas sexuais.4
Com isso, o componente individual da vulnerabilidade também
se refere ao grau e à qualidade da informação que os indivíduos dis-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 57

põem sobre o problema, à capacidade de elaborar essas informações e


incorporá-la a seu repertório cotidiano de preocupações e, finalmente,
ao interesse às possibilidades efetivas de transformar essas preocupa-
ções em práticas protegidas e protetoras.5 Assim, o designer tem papel
fundamental na medida em que trabalha articulado aos profissionais da
área de saúde, pois ele pode, a partir deste repertório cultural e necessi-
dades de saúde, propor materiais educativos adequados às mensagens
que esta área deseja emitir para seus usuários.
No tocante aos comportamentos saudáveis frente ao risco das do-
enças, hoje os adolescentes dispõem, na escola, de uma gama de tecno-
logias, apoiadas e instrumentalizadas por artefatos diversos, tal como
os impressos, que lhes permitem uma aproximação do olhar da pre-
venção e suas vivências pessoais.
Sob essa perspectiva, o Ministério da Saúde (MS), através da
Coordenação Nacional de DST/Aids (CN-DST/Aids) e suas coordena-
ções municipais, utilizam-se do ambiente escolar como locus para pro-
moção da saúde no contexto da prevenção às DST/Aids, promovendo
estratégias de Informação, Educação e Comunicação (IEC) e apoiando
projetos e programas inerentes à temática abordada em destaque por
meio de artefatos informacionais impressos.
No que se propõe o MS à concretização de seus objetivos, ex-
põe-se a importância da utilização de princípios que guiem a elaboração
de Sistemas Informacionais (SIs) eficazes para adolescentes, no am-
biente escolar, destacando-se o Designer da Informação (InfoDesigner)
como agente configurador do conteúdo informacional desses materiais.
Frente ao enunciado, a presente reflexão objetiva elucidar possí-
veis articulações do Design da Informação, Comunicação e Saúde vol-
tadas a adolescentes nas escolas, considerando a pluralidade cultural do
Brasil com enfoque na prevenção às DST/Aids.

Produtos da Informação em parceria com estratégias


de prevenção às DST/Aids nas escolas

O sistema educacional, inserido no processo de transformação


da realidade econômica, política e histórico-cultural, corresponde
58 Estudos da Pós-Graduação

uma parcela significativa de responsabilidade na formação integral de


sujeitos de direitos. Trata-se de um espaço institucional privilegiado
para a convivência social e o estabelecimento de relações intersubje-
tivas favoráveis à promoção da saúde, incluindo a prevenção das
DST/Aids e a construção de resposta social aos desafios colocados
para a sociedade.
No Brasil, essa compreensão influenciou o (repensar e a forma-
lização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei no
9.394, de 20 de dezembro de 1996), na qual a educação sexual é pre-
vista como um dos temas transversais a serem incluídos nos Parâmetros
Curriculares Nacional – PCN, em todas as áreas do conhecimento – do
Ensino Fundamental ao Ensino Médio. Nos PCNs, ao tratar do tema
“orientação sexual”, define-se a sexualidade como “algo inerente à
vida e à saúde, que se expressa desde cedo no ser humano” e como
tema a ser discutido e orientado no cotidiano da escola.6
A efetiva implantação desses temas, na perspectiva dos di-
reitos sexuais e dos direitos reprodutivos e da ação intersetorial,
exige articulação dos agentes das políticas de saúde e educação e
constituem-se em apoio fundamental para a implementação das polí-
ticas de saúde em âmbito nacional. As ações devem ser realizadas de
forma contínua e articulada com o projeto pedagógico de cada es-
cola, respeitando as diferenças e necessidades de cada um dos esta-
belecimentos de ensino participantes.
Propõe-se que a orientação sexual oferecida pela escola aborde,
com as crianças e os adolescentes, as repercussões das mensagens
transmitidas pela mídia, pela família e pelas demais instituições da
sociedade. Trata-se de preencher lacunas nas informações que a criança
e o adolescente já possuem e, principalmente, criar a possibilidade de
formar opinião a respeito do que lhes é ou foi apresentado.
A fim de atingir os objetivos propostos pelos PCNs, o tema trans-
versal da orientação sexual deve impregnar toda a área educativa do
Ensino Fundamental e ser tratado por diversas áreas do conhecimento.
O trabalho de orientação sexual deve, portanto, ocorrer de duas formas:
dentro da programação, por meio de conteúdos transversalizados nas
diferentes áreas do currículo; e como extraprogramação, sempre que
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 59

surgirem questões relacionadas ao tema, devendo ser tratado ao longo


de todos os ciclos de escolarização.
Sendo assim, a educação em saúde para prevenção da aids e ou-
tras DST “abrange aspectos que envolvem a aprendizagem sobre a do-
ença, seus efeitos e o restabelecimento da saúde, e os que são relacio-
nados com os fatores sociais que afetam a saúde, baseados na
participação da população em seu cotidiano.7 É neste momento que se
faz primordial a inclusão das chamadas Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC) aliadas a produtos informacionais para prevenção
às DST/Aids.
Uma evidência da internalização desses materiais através dos
PCNs nas escolas é a grande produção bibliográfica tanto de livros di-
dáticos, folders, jogos educativos, álbuns seriados, cartazes voltados
para crianças e adolescentes, quanto de livros voltados para orientação
de professores de Ensino Médio que tratam dos PCN e, mais especifi-
camente, dos temas transversais.8
Na perspectiva de fortalecer as práticas de orientação à prevenção
em andamento nas escolas, o Ministério da Saúde lançou, em 2003, o
Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) e, em 2006, o Programa
Saúde na Escola, com vistas a reduzir a vulnerabilidade dos adolescentes
e jovens em diversas áreas, incluindo as doenças sexualmente transmis-
síveis à infecção pelo HIV e a gravidez não planejada, com ênfase na
promoção da saúde, por meio de ações educomunicativas de prevenção
e ampliação dessa população ao uso do preservativo masculino.
O SPE, por exemplo, mais específico na temática, integra a saú-
de-educação e privilegia a escola como espaço para articulação das po-
líticas voltadas para adolescentes e jovens, mediante a participação dos
sujeitos desse processo (estudantes, famílias, profissionais da educação
e da saúde) e oferece a formação continuada de professores e profissio-
nais de saúde em sexualidade, vulnerabilidade e prevenção das DST/
Aids e de jovens multiplicadores para atuarem junto aos seus pares.
O programa acima citado também se utiliza de artefatos im-
pressos, que se mostram essenciais como instrumentos de ações de IEC
frente às doenças, embora também sejam utilizados materiais audiovi-
suais como proposta complementar.
60 Estudos da Pós-Graduação

Design da Informação para a prevenção das DST/Aids

Diante das declarações anteriores, os programas de prevenção


têm como um de seus objetivos o aumento da efetividade de ações de
prevenção por meio de tecnologias estratégicas, apoiadas pela utilização
de instrumentos comunicacionais ou por técnicas desenvolvidas como
apoio ao enfretamento das DST/Aids, as chamadas ações de IEC.8
Com isso, a escola mostra-se como palco de circulação de reper-
tórios midiáticos repletos de sentidos e significados. Excluindo os ma-
teriais inerentes à educação no currículo escolar, existem artefatos di-
versos que estampam as paredes das salas de aula, murais e outros
ambientes, dividindo a atenção com os já enunciados informativos de-
dicados à socialização de informações sobre cuidados às DST/Aids.
Familiarizados com uma grande absorção de informação devido
à circunstância da era contemporânea, os adolescentes, vivendo em seu
período de descobertas na busca da formação de sua persona e, conse-
quentemente, de seu repertório, é um dos principais captadores das
mensagens mediadas pelos mais diversos instrumentos de comunicação
dessa nova condição.
Todavia, a circulação desses materiais informativos, em especial
os impressos, pode dar-se também de maneira externa aos programados
pelos PCNs (por meio dos temas transversais) e outros programas de
prevenção do governo federal, tais como Programa Saúde e Prevenção
nas Escolas, desde 2003, e, mais atualmente, com o Programa Saúde na
Escola. Além disso, é comum o envolvimento de ONGs e outras enti-
dades no desenvolvimento e distribuição de produtos por vezes alheios
à Coordenação Nacional de DST/Aids e suas coordenações em níveis
regionais (municípios).
Nessa perspectiva, é imensurável a quantidade de impressos
sobre o tema e dubitável sua eficácia. No tocante aos direcionados para
a adolescência, a discussão da temática DST/Aids e seu uso na escola
muitas vezes são empregados a partir de um modelo “hegemônico” e
frequentemente se chocam com as expectativas dos receptores.
Desta forma, é mister a participação de um profissional na confi-
guração desses materiais, capaz de gerir com excelência seu conteúdo
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 61

informacional, tal como o InfoDesigner. Entende-se, assim, que sua


produção deve estar sempre apta a manter um diálogo claro e objetivo
com seu público de forma a mantê-lo interessado sobre o assunto, po-
dendo ser visto como fonte de informação confiável e complementar,
pois, como os autores pontuam9 que, embora o quantitativo das mensa-
gens presentes hoje seja fácil e abundante, isso não garante a formação
e o crescimento do indivíduo, colaborando, inclusive, para o seu esgo-
tamento mental, devido aos constantes e, muitas vezes, compulsórios
estímulos aos quais as pessoas são cotidianamente submetidas.
O designer da informação pode garantir acessibilidade informa-
cional com eficácia a uma quantidade maior de pessoas, adequando o
repertório verbal e pictórico do conteúdo com a realidade do público a
que se destina a peça gráfica, colaborando, assim, com os profissionais
da área da saúde. O propósito comunicacional de um sistema informa-
cional pode atingir seu ápice de compreensibilidade sem reducionismos,
com a mediação do designer da informação.10
Vale ressaltar que, embora dotado de conhecimentos que o per-
mitem a otimização espacial e visual dos elementos gráficos de uma
composição, o designer da informação, sempre que possível, deve ter a
integração com o usuário final em algumas fases do processo de confi-
guração, tal como uma parceria com profissionais pertencentes à Saúde,
neste caso, para revalidar o que se pretende alcançar com os objetivos
do informativo.
Contudo, é importante visualizar o contexto cultural como de
fundamental importância para configuração de mensagens, uma vez
que, em cada meio social, as palavras e gestos dos sujeitos são do-
tados de significados simbólicos, estabelecendo uma relação dinâ-
mica entre o sujeito e a cultura. Isto significa que, na produção de
conhecimento na área da saúde e da educação, há a necessidade de se
seguir um referencial que contemple o contexto histórico-cultural,
pois os sujeitos constituem-se nas e pelas relações sociais através da
apropriação das significações de suas ações e interrelações nos con-
textos em que estão inseridos.11
Ressalta-se ainda que o processo de ensino-aprendizagem de re-
pertórios imagéticos no universo escolar tem a mediação direta dos
62 Estudos da Pós-Graduação

professores. Assim, os obstáculos classificados como transtornos, dis-


túrbios ou dificuldades podem ser superados mediante o uso de dife-
rentes estratégias, considerando-se o contexto em que esse sujeito está
inserido. Portanto, identificar esses contextos é primordial para a dinâ-
mica das ações educativas e preventivas, em especial acerca das DST/
Aids, bem como o papel das variáveis gênero, classe social, raça/etnia,
nível de cidadania e, principalmente, a compreensão da problemática
da adolescência.
Assim, a escola oportuniza que o adolescente vivencie momentos
que o trarão auxílio na sua formação como cidadão crítico-reflexivo e o
conhecimento oriundo do processo de ensino-aprendizagem formal é
potencialmente fortalecido com novas abordagens e estratégias infor-
macionais na área de prevenção às DST/HIV/Aids.

Design da Informação, comunicação e saúde

Preocupada com a qualidade dos informativos fornecidos não só


nas escolas, mas de forma generalizada, a CN-DST/Aids lança, em
1998, o Guia para Produção e Uso de Materiais (GPUM) (Brasil,
1998b), que objetiva a orientação do uso dos princípios da comuni-
cação para elaboração destes; ainda é comum, em determinadas situa-
ções, os jovens serem vistos como meros depósitos de conhecimento –
recipientes nos quais as fontes geradoras (onde são elaborados os
materiais) depositam suas informações do que devem fazer, em vez de
serem reconhecidos como cidadãos críticos.12
Desta forma, o observador deve se identificar com os ‘persona-
gens’ representados nas figuras para que as ações desempenhadas por
eles nas representações se tornem relevantes e não gerem interpretações
polissêmicas, tal como a Figura 1.13 Para o adolescente que se encontra
em um processo de formação psicológica, tais figuras muitas vezes não
alcançam o seu objetivo quanto às mensagens educativas.
Portanto, deve-se compreender o contexto em que a informação
visual está inserida para não torná-lo ambíguo. Uma imagem pode
conter sentido equivocado se isolada do seu contexto ou sem um texto
que lhe dê suporte. Para isso, o processo de criação, mediado pelo de-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 63

signer com parceria dos profissionais de saúde, tem a oportunidade de


criar materiais educomunicativos mais focalizados que conseguem al-
cançar o propósito da prevenção.

Figura 1 – Cartaz Aids e DST: Melhor Viver sem Ter

Fonte: Coordenação Municipal de DST/Aids de Recife – PE.

Baseando-se nisso, o Guia, antes citado, parte de três pressu-


postos: (1) a comunicação desempenha uma função essencial nas ações
de educação para a saúde; (2) não é fácil alcançar eficácia e efetividade
na comunicação em saúde; e (3) a maioria dos técnicos e profissionais
que trabalham em educação para saúde não possui formação básica em
comunicação social.14
Os direcionamentos contidos no Guia para os elaboradores têm
como objetivo um aumento na compreensibilidade do conteúdo dos im-
pressos e melhor interpretação da mensagem acerca da temática pelo
público que as consome, fazendo-os internalizar conhecimentos pre-
ventivos de risco por meio de produtos educomunicativos. Acerca deste
64 Estudos da Pós-Graduação

aspecto é preciso resgatar a relevância da relação e familiaridade do


leitor com a informação gráfica, a qual é fundamental na compreensão
da mensagem, principalmente quando direcionada a um público com
pouca experiência com a comunicação pictórica.15 Assim, nas Figuras 2
e 3, tem-se um exemplo de produto informacional bem estruturado e
contextualizado à realidade dos adolescentes com base nos princípios
do design da informação e comunicação:

Figura 2 – HQ: Ficar ou não ficar? Volume 4 – SPE

Fonte: Coordenação Nacional de DST/Aids.


PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 65

Figura 3 – HQ: Ficar ou não ficar? Volume 4 – SPE

Fonte: Coordenação Nacional de DST/Aids.

Outro ponto é relativo às imagens com muitos elementos grá-


ficos ‘não essenciais’; no sentido informacional, podem também se
configurar de forma polissêmica, ou seja, passível de várias interpreta-
ções. No entanto, não basta haver presença de representações humanas
em uma peça gráfica para garantir a atenção e o interesse do leitor.16
Com isso, o processo de desenvolvimento e circulação de repertórios
midiáticos na escola é de grande relevância, principalmente pela abran-
gência ao público e sua influência sobre o cotidiano da sociedade e da
saúde. Assim, esses produtos informacionais também conferem visibi-
lidade aos acontecimentos e informações, reduzindo barreiras espa-
ciais e temporais, possibilitando novas abordagens, além da interação
face a face.17
66 Estudos da Pós-Graduação

Contribuições do designer para a prevenção das DST/Aids

Frente às observações, a escola é considerada como um ambiente


para prática e troca de saberes acerca da temática abordada e por isso é
espaço de referências muito importante para crianças e adolescentes no
processo de sua formação como cidadãos crítico-reflexivos. Devido a
essa dinâmica cultural, que se desenvolve cada vez mais em seu âmbito
com experiências significativas da vivência comunitária, as políticas de
saúde têm se aproximado de outras áreas do conhecimento, como o
design, para garantir a produção de materiais educativos eficazes na
transmissão de seus conteúdos informativos.
Tanto os PCNs, com seus temas transversais, como os programas
para prevenção às DST/Aids implementados na escola são estratégias
que devem estar em constante reavaliação e ressignificação, acompa-
nhando as tendências dos jovens em meio à sociedade que se trans-
forma de tempos em tempos. Para isso, os profissionais envolvidos no
processo de cuidado, o qual inclui a educação em saúde, devem se
atentar para a necessidade de estratégias intersetoriais, além da saúde,
para alcançar melhorias na qualidade de vida e saúde.
No que se refere aos produtos informacionais distribuídos e utili-
zados nas escolas, principalmente os externos à esfera governamental,
é necessário um olhar especial para contemplar seus objetivos e instru-
mentos criados pela CN-DST/Aids, por vezes pouco conhecidos, os
quais devem ser vistos como referência para processos de criação e
validação de materiais educativos. Atualmente, a CN-DST/Aids ofe-
rece diretrizes para a elaboração destes materiais, no entanto é preciso
reavaliação da sua estrutura sistemática, pois, em geral, os materiais
educomunicativos devem ser criados por uma equipe interdisciplinar
dotada de conhecimentos oriundos de áreas como saúde, comunicação
e design. Mesmo assim, o alcance dos resultados produzidos por eles
[os materiais] no público ainda é pouco conhecido, sejam eles de aferi-
ções qualitativas ou quantitativas.
Assim, acredita-se que tais materiais voltados para os adoles-
centes escolares devem contemplar a linguagem e o interesse dos en-
volvidos e não apenas explorar fatores de risco, ou aspectos individuais
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 67

e biológicos, no caso das DST/Aids, desvinculando-os da prevenção do


coletivo e do universo social, político, econômico e cultural dos adoles-
centes. É possível, desta forma, estreitar o vínculo entre o ‘saber’ e o
‘praticar’, dispondo de informações eficazes para promoção de com-
portamentos saudáveis na prevenção às DST/Aids e/ou na socialização
de informações para as pessoas vivendo com estas doenças, incluindo,
neste processo, parcerias entre as áreas da saúde e do design.

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PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 69

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Enferm., Porto Alegre, v. 36, n. 1, jan./mar. 2015.
FÉ E RELIGIOSIDADE
Influências nos comportamentos e
escolhas na vida sexual e afetiva

Adriana Gomes Nogueira Ferreira


Neiva Francenely Cunha Vieira
Fabiane do Amaral Gubert
Marcos Venícios de Oliveira Lopes
Andrea Soares Rocha da Silva
José Antonio Trasferetti
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

D iversos são os aspectos que influenciam comportamentos e


escolhas da vida sexual e afetiva, entretanto abordá-los sob a perspec-
tiva da fé, religiosidade e espiritualidade é desafiador e necessário,
tendo em vista serem pouco contemplados de forma associada. Para
discorrer sobre esses aspectos, inicialmente se faz necessário compre-
ender o significado de religiosidade e espiritualidade, inclusive diferen-
ciando uma da outra.
Destaca-se que não existe consenso na literatura sobre o conceito
de espiritualidade, sendo muitas vezes associada diretamente à prática
de uma religião, entretanto estas são diferentes. A religiosidade refe-
re-se ao grau de participação ou adesão às crenças e práticas de um
sistema religioso, já espiritualidade é mais amplo, é vista como um pro-
cesso dinâmico, pessoal e experiencial, que procura a atribuição e sig-
nificado no sentido da existência, podendo coexistir ou não na prática
de um credo religioso.1, 2
72 Estudos da Pós-Graduação

Nesse contexto, espiritual não implica acreditar num ser su-


premo, ou em vida depois desta; não significa religioso, pois os que se
denominam ateus também têm preocupações espirituais como qualquer
outra pessoa.3 Já a fé faz parte das religiões tradicionais e da busca pes-
soal pela religiosidade e está vinculada à força espiritual e à busca em
acreditar num sentido maior.4
Estudos indicam que religiosidade tende a retardar o início da vida
sexual.5 Bento XVI reconhece que exprimir o contexto da sexologia,
também do ponto de vista pastoral, teológico e conceitual atual e da pes-
quisa antropológica é uma grande tarefa a qual a Igreja precisa dedicar-se
mais e melhor.6 No Brasil, as inter-relações entre religião e comporta-
mento sexual ainda são pouco exploradas na literatura científica e, de
acordo com autores, mais estudos nesta direção são necessários.7
Ao relacionar sexualidade e Igreja observa-se a necessidade de
destacar a adolescência, fase em que são experimentadas diversas
modificações psicológicas, fisiológicas e sociais, e que o fato de os
adolescentes estarem envolvidos em atividades de igreja não os pro-
tegem de iniciarem uma vida sexual precocemente, sendo este um
tema difícil de ser discutido entre familiares e amigos, na escola, e
silenciado na Igreja.7, 9

A compreensão da sexualidade e afetividade no


contexto religioso

Sexualidade é a parte do processo evolutivo do desenvolvimento


humano considerada como um dos aspectos fundamentais do desen-
volvimento psicossocial na adolescência.8 Para o evangelho da sexua-
lidade, ela é compreendida como uma energia que Deus colocou à dis-
posição do ser humano para que ele, ao ir se conhecendo, se
comunicando e se amando, transforme-se em verdadeira pessoa. É
também uma grande oportunidade oferecida por Deus para conhecê-lo
e amá-lo, conhecendo e amando a si próprio e aos outros; e de co-
nhecer e amar a si próprio e aos outros, conhecendo e amando a Deus.
Este é o evangelho da sexualidade. Apesar de toda a ambiguidade que
ela carrega consigo, pode se transformar no que eleva os seres hu-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 73

manos a viverem de acordo com o projeto de Deus.10 O alvo final da


sexualidade humana é sempre o mesmo: o ‘amor-ágape’, que é o amor
que se entrega totalmente, se doa inteiramente, é sempre fiel, sem inte-
resse, perdoa. É o amor de Deus.11
Neste contexto, sexualidade faz parte do anúncio central do
Evangelho de que Deus nos ama e nos criou para o amor; por meio dela
é possível experimentar o significado do amor como seres humanos e
algo do próprio amor de Deus.10 Desta forma, a sexualidade não pode
ser deixada em segundo plano, pois é ela que melhor revela como se dá
o milagre da vida.12
Ainda sobre a sexualidade e os sentimentos sexuais, estes podem
ser expressos e ditados pela cultura que pode ser sexualmente repres-
siva ou permissiva. A cultura sexualmente repressiva suprime todas as
manifestações de sentimentos sexuais dos adolescentes e limita a ex-
pressão da sexualidade. A cultura sexualmente permissiva é tolerante à
sexualidade, tem aplicações livres de proibições formais e a atividade
sexual entre adolescentes antes do casamento é a norma; o sexo é con-
siderado uma parte normal e valorizada da vida. Este tipo de abordagem
é aquele com a qual flerta a sociedade americana, contudo não é total-
mente aceita.13
Nesse contexto, abordar questões relacionadas à sexualidade,
além do conceito reducionista de sexo, é de extrema importância e re-
quer sensibilidade por parte do educador, visto que despertarão senti-
mentos nunca antes sentidos. A sexualidade não pode ser reduzida a
genitalidade, consumo, impulsos e modismos. A esse respeito, a moral
católica defende uma espiritualidade da vida, conscientizando as pes-
soas para uma educação afetivo-sexual integrada.14
Ao se tratar de genitalidade, aponta-se a necessidade de se falar
de sexo, inclusive publicamente, de uma maneira que não seja ordenada
em função do lícito e do ilícito; cumpre falar do sexo como algo que não
se deve simplesmente condenar ou tolerar, mas gerir, regular para o
bem de todos. O sexo não apenas se julga; administra-se.15
Para o desenvolvimento da sexualidade do adolescente, a fa-
mília exerce papel essencial, ligado à transmissão da vida humana;
original e primário, em relação ao dever de educar, pela unicidade da
74 Estudos da Pós-Graduação

relação de amor que subsiste entre pais e filhos, como também insubs-
tituível e inalienável.16
O papel de destaque da família para o adolescente é reconhecido,
pois é nela que são construídos valores, princípios e comportamentos
que caracterizam as formas de enfrentamento e de resolução de pro-
blemas individuais e coletivos. É no convívio familiar que questões re-
lacionadas à sexualidade são melhores debatidas, considerando-se va-
lores, atitudes, crenças religiosas e culturais.17
Autores enfatizam a uniformização do discurso entre família,
cultura e sociedade, destacando que, quando uma sociedade é mono-
cultural, não há conflito entre cultura e sociedade. No entanto, quando
uma sociedade é multicultural, as mensagens para os adolescentes
sobre sexualidade podem ser confusas. A exemplo, existe conflito
sobre a abordagem da sexualidade entre famílias, culturas e sociedade,
particularmente no que é representado através da mídia. Deste modo,
mensagens claras sobre a definição de papéis e comportamentos acei-
táveis da
​​ família e da cultura podem ajudar a minimizar esta confusão.
O fato é que muitos pais abdicam de seu papel neste esforço, deixando
seus filhos abertos à influência da cultura da sociedade, como visto
através da mídia.13
O dever de educar sexualmente os filhos é um desafio, em vir-
tude das comunicações sociais e da pornografia inspirada em critérios
comerciais que deformam a sensibilidade dos adolescentes. A este res-
peito, é necessário que os pais tenham duplo cuidado: educação preven-
tiva e crítica em relação aos filhos e ação corajosa de denúncia junto às
autoridades. Os pais, individualmente ou associados entre si, têm o di-
reito e o dever de promover o bem dos filhos e de exigir das autoridades
leis que previnam e reprimam a exploração da sensibilidade das crianças
e dos adolescentes.18
A sexualidade é um componente fundamental da personalidade,
um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com os outros, de
sentir, de expressar e de viver o amor humano, e, enquanto modalidade
de se relacionar e de se abrir aos outros, tem como fim intrínseco o
amor, mais precisamente o amor como doação e acolhimento, como
dar e receber.18
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 75

Na ausência da família, a escola torna-se uma opção ao adoles-


cente no enfrentamento dos conflitos e na facilitação do desenvolvi-
mento próprio da faixa etária, conforme demonstrado por autores19
quando afirmam que investir na promoção da saúde sexual e reprodu-
tiva do adolescente significa, com certeza, investir propriamente em
educação formal. Para assegurar esta educação, as escolas precisam
estar preparadas para recebê-los com suas necessidades, reconhecendo
a complexidade do momento vivido e a importância de preencher as
lacunas deixadas pela família, norteando-os e auxiliando-os em suas
dificuldades, conflitos e enfrentamentos.
No entanto, a escola muitas vezes oferece uma educação direcio-
nada apenas ao uso do preservativo. Em estudo realizado, adolescentes
referiram que, ao tratar o tema de prevenção ao HIV na escola, os edu-
cadores abordavam apenas o uso do preservativo,20 corroborando com
autores21 que afirmam que para abordar prevenção se faz necessário o
desdobramento da sexualidade. A educação sexual, no sentido amplo,
deve ser realizada por profissionais de saúde aptos a atenderem adoles-
centes e famílias e auxiliarem os educadores numa atitude educativa
voltada para a sexualidade do adolescente.

Como o adolescente católico pode vivenciar sua


sexualidade e afetividade

Bento XVI afirma que o respeito pela pessoa é absolutamente


fundamental e decisivo. Refere que, do ponto de vista teológico, a evo-
lução gerou a sexualidade, tendo em mira a reprodução. Acrescenta que
o sentido da sexualidade é conduzir o homem e a mulher um para o
outro e, com isso, assegurar progênie à humanidade, crianças, futuro.
Esta é a íntima determinação que está na natureza. E a isto se deve per-
manecer fiel, mesmo que não agrade aos tempos atuais.6
Comumente, ao chegar à adolescência, a pessoa flerta com al-
guém como manifestação de seu desenvolvimento evolutivo e das
novas necessidades afetivas sexuais. A primeira paixão é uma das
grandes experiências da vida, que acontece, geralmente, à primeira
vista; é um amor repentino que encanta e seduz. Em geral, o adoles-
76 Estudos da Pós-Graduação

cente se apaixona pelo outro (a), cuja história e interioridade pratica-


mente desconhece, pois o que o atrai são os traços físicos e o tempera-
mento aparente. Posteriormente, a paixão amadurece, à medida que
cresce o conhecimento real do outro; então a pessoa entra na fase do
namoro, que é muito profundo, feliz e mais sossegado. O conhecimento
interpessoal aumenta a confiança e a liberdade dissipa temores e evita
ciúmes irracionais.22
Neste contexto destaca-se uma nova forma de viver essas rela-
ções, divergindo do que o cristianismo ensina, ou seja, não é preciso
casar para oferecer o corpo um ao outro; não dependem de calendário
para serem um só corpo e uma só alma. De repente, eles percebem que
já é hora de se entregar e não veem nada de impuro nisso; aqui entra em
cena também a carência e a presença de diálogo. Contudo, esta não é
uma visão cristã da sexualidade, mas uma visão assumida por jovens
que, inclusive, frequentam missa e reunião da Igreja.23
Nessas experiências sexuais, nada veem de impuro, no entanto a
coisa parece uma irresponsabilidade premeditada de quem deseja os
direitos e não as consequências. Mas este comportamento não é debo-
chado, como almejam alguns que condenam tal visão da sexualidade;
tem regras de conduta, mesmo não sendo cristã. Por exemplo: a maioria
dos rapazes e moças afirmam, com tranquilidade, que mantêm, com
pureza e respeito, relações sexuais. Por pureza e respeito entendem
como nunca forçar o outro e nenhum dos dois ser obrigado a ter rela-
ções em um momento em que não sinta vontade.23
Como consequências das decisões pautadas na necessidade de
viver a sexualidade intensamente, podem ser acometidos por DST/HIV/
Aids e gravidez indesejada, fatos que podem contribuir para a evasão
escolar e desestrutura familiar; enfim, condições que podem irromper
com os encantamentos próprios da adolescência e que deveriam ser vi-
vidos numa perspectiva verdadeira de aprendizagem e preparo para
adentrar na vida adulta.
Apesar de reconhecer que ninguém está em condições de realizar
melhor a educação moral no campo da sexualidade do que os pais, de-
vidamente preparados,18 os profissionais de educação e enfermagem
precisam contribuir com seu preparo, ao mesmo tempo em que prepara
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 77

também os adolescentes para enfrentarem a diversidade de sentimentos


que os assolam, de modo a assegurar uma adolescência saudável, vi-
vendo uma sexualidade que seja enriquecedora no processo de amadu-
recimento para a vida adulta.
Do ponto de vista teológico, pode-se dizer que a evolução gerou
a sexualidade, tendo em mira a reprodução, e que o respeito pela pessoa
é absolutamente fundamental e decisivo. O Pai criou o ser humano,
homem e mulher, para que, unidos no amor, se tornassem os continua-
dores da criação humana, procriando, gerando, reproduzindo a es-
pécie.24 No entanto, para ser procriador, existe o que denomina Projeto
Divino da Sexualidade, no qual o Pai concebeu a sexualidade e a geni-
talidade, mútua atração e prazer da atração e da sexualidade. A este
projeto deve-se permanecer fiel, mesmo que este não seja o comporta-
mento esperado nos tempos atuais, vivendo, assim, de forma harmo-
niosa, a sexualidade.25
A sexualidade é uma riqueza de toda a pessoa (corpo, sentimento
e alma) e manifesta o seu significado íntimo ao levá-la ao dom de si no
amor. Ela marca a maneira como cada ser humano aprende a relacio-
nar-se consigo e com os outros e alcança um equilíbrio emocional
que lhe permita manifestar seus sentimentos, dar e receber afeto.8
Deste modo, para viver harmoniosamente a sexualidade, é im-
portante que se compreenda a beleza do mistério do amor homem-mu-
lher e todas as transformações próprias desta fase da vida, buscando
descobrir o sentido real da sexualidade e da genitalidade e do prazer
sexual, direcionando as emoções, os sentimentos e os conflitos de modo
a “organizar a desordem” na vida do adolescente.25
Quando falta este “direcionamento” e “organização” na sexua-
lidade do adolescente, acontecem coisas desagradáveis como: gravidez
indesejada, infidelidade, abortos, DST/HIV/Aids, comprometendo,
muitas vezes, toda a vida do jovem.
Para tanto é necessário resgatar o que Deus revela no Livro do
Gênesis como plano para a humanidade:

Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e seme-


lhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos
78 Estudos da Pós-Graduação

céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra e sobre


todos os répteis que se arrastam na terra. Deus criou o homem
à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a
mulher. Deus os abençoou dizendo: Frutificai, disse ele, e multi-
plicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes
do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se
arrastam sobre a terra (26,Gn 1,26-28).

A esta passagem bíblica denomina-se Projeto Divino da


Procriação, demonstrando quão maravilhosa é a proposta de Deus para
a sexualidade,24 de acordo com o demonstrado na Figura 1.

Figura 1 - Projeto Divino da Sexualidade24

Deus pai é o criador

O ser humano é o
procriador

A sexualidade: masculino e feminino

A Genitalidade: os órgãos genitais

A mútua atração entre homem


e mulher

A relação sexual entre homem


e mulher

O prazer genital nas relações genitais

Fonte: Pedrini (2003).

Inicialmente, Deus, que é Pai e Criador de todas as coisas, criou


o homem e a mulher sua imagem e semelhança26, Cf Gn 1, 26. Assim, Ele
quis que também o ser humano fosse criador do ser humano para a mul-
tiplicação da espécie humana, quando tem o poder de gerar outro ser
humano. E como Deus deu ao ser humano a “ordem e o poder” de pro-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 79

criar, deu-lhe também as possibilidades para a procriação, criando a


sexualidade humana, que é diferente de genitalidade.
A genitalidade está relacionada aos órgãos genitais e ao corpo
humano; ao corpo é feita uma analogia com a teologia, ou seja, um jeito
de estudar Deus, em que tudo está articulado harmoniosamente.11
Biblicamente, o corpo se apresenta como um sinal de uma realidade
maior destinado a ser templo de Deus e a participar da glória da ressur-
reição. E é exatamente através deste corpo espiritual que se poderá
compreender melhor o sentido teológico da própria sexualidade.10
Quanto à mútua atração entre homens e mulheres, refere-se ao
interesse natural que existe no profundo do ser humano, que impulsiona
o coração do homem para o da mulher, e vice-versa, a fim de que se
atraiam mutuamente, queiram se unir e formar um casal.24, 25
O impulso sexual não é, em si mesmo, ruim. Na verdade, foi o
jeito que Deus fez, orientou e encaminhou para o encontro com outra
pessoa. O desejo sexual pode fornecer espaço para o autêntico amor se
desenvolver; pode ser um começo, mas jamais deve ser o fim, pois o
amor vai além de uma química do corpo.24, 25
A relação sexual entre o homem e a mulher é concretizada no ato
sexual, que é o gesto que representa a união pelos órgãos genitais. Está
no projeto divino de Deus para a procriação como finalidade primeira,
mas também tem a função de concretizar a “comunhão de amor” entre
o casal. As relações sexuais sempre deveriam nascer do amor, do desejo
de amar e de manifestar amor; deste modo, a relação sexual é aben-
çoada por Deus.24, 25
 O prazer das relações genitais acontece para que o casal goste de
usar a genitalidade, procure a relação sexual. Deus Pai criou e inseriu o
prazer sexual, o gozo genital, a satisfação sexual ligada ao ato sexual
genital, colocou no uso da genitalidade um prazer característico e in-
tenso de grande agrado ao ser humano.24, 25
Deus criou o prazer para que o homem e a mulher, unidos em
matrimônio, busquem, procurem, queiram gozar do prazer e, assim,
realizem relações sexuais, possibilitando a procriação, sendo este um
“atrativo” para o casal. O gozo é também uma “recompensa” para o
casal que, querendo colaborar com Deus na procriação, tenham rela-
80 Estudos da Pós-Graduação

ções com muito prazer. Um casal tem todo direito de buscar e gozar
do prazer genital, independente da possibilidade de aquela relação
gerar vida.24, 25 
Desta forma, tudo o que envolve a sexualidade humana foi criado
por Deus para assegurar o projeto divino da procriação humana.

Comportamentos e escolhas na vida sexual e afetiva

Ao abordar questões relacionadas à sexualidade no contexto re-


ligioso é necessário lembrar que ela não é somente um símbolo do
pecado, mas que foi confiada por Deus como um dom precioso,
através do qual se pode chegar à comunhão com os outros e com o
próprio Deus.10
Convém lembrar também que não se deve fazer ou aceitar o
mal para que dele se dê origem a algo bom; no entanto, muitas vezes
é preciso aceitar um mal menor para impedir um maior. Sobre o mal
menor a Carta Encíclica Humanae Vitae destaca que, se é lícito al-
gumas vezes tolerar o mal menor para evitar um mal maior, ou pro-
mover um bem superior, nunca é lícito, nem sequer por razões gravís-
simas, fazer o mal para que daí provenha o bem, mesmo se for
praticado com intenção de salvaguardar ou promover bens indivi-
duais, familiares ou sociais.12
Considerando que, na área da sexualidade, a Igreja costuma ter
intuições muito profundas, mas que nem sempre consegue expressá-las
adequadamente,10 é importante abordar sua vivência de forma ade-
quada, procurando não enfatizar o pecado, mas sim a riqueza do dom
que é a sexualidade.
Comportamentos relacionados à vivência sexual e afetiva ultra-
passam as questões biológicas. A esse respeito o teólogo Antonio
Moser destaca a importância de uma educação para o amor, ou seja,
a harmonia da sexualidade passa pelo amor, no qual é necessário acen-
tuar o compromisso; assumir o outro na alteridade, o que significa
respeitar as pessoas, culturas, convicções e assim por diante; cultivar
a fidelidade, que significa atenção ao outro, seus desejos, sentimentos,
constância, persistência no propósito de elevar seu crescimento na
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 81

busca de objetivos comuns, não apenas na vida sexual, mas em todo


convívio diário; desenvolver o senso de responsabilidade social, já
que, por mais íntimo que seja o relacionamento entre duas pessoas, ele
envolve parentes e amigos e, de alguma forma, toda a sociedade. Por
fim, promover a vida em todos os seus desdobramentos, evitando
enfatizar a “cultura de morte”, pois a perda da reverência perante a
vida é sempre a negação da sexualidade que, por definição, é promo-
tora da vida do amor.10, 12
Sobre o namoro, em especial o namoro cristão, é necessário des-
tacar que este é um tempo de experiências e vivências de amor entre um
homem e uma mulher; em geral, os jovens decidem fazer uma “cami-
nhada” de conhecimento um do outro para saberem se tem todas as
condições de unir suas vidas para sempre.24
Todo casal de namorado deve manter uma vida afetiva harmoniosa
e jamais ultrapassar os limites de afetividade e entrar na genitalidade.
Para isso, é preciso que o casal dialogue abertamente sobre suas manifes-
tações afetivas, a fim de que não haja prejuízo moral. Evitar o sexo no
namoro, para que este não os torne cegos pelas paixões carnais.24
Deus concedeu a missão de amar ao criar os homens; e amar é
criar um caminho de liberdade. Enquanto seres sexuados, o homem e a
mulher precisam um do outro para afirmarem suas identidades femi-
ninas e masculinas. Neste contexto, Deus criou o homem para ser um
presente para a mulher, e esta para ser um presente para o homem e
juntos seguirem a Deus.11
No plano de Deus, o sexo é a manifestação do amor conjugal,
uma verdadeira liturgia do amor para o casal, cuja finalidade é procria-
tiva e unitiva. No entanto, o namoro não é o momento adequado para a
vivência desta experiência, e sim, no casamento. “A mulher não pode
dispor do seu corpo: ele pertence ao seu marido. E também o marido
não pode dispor do seu corpo: ele pertence a sua esposa”. 26,1Cor 7, 4
O sexo é belo e puro quando vivido segundo a Lei de Deus; todos
nós viemos ao mundo por ele. Se ele fosse sujo, a criança recém-nas-
cida não seria tão bela e inocente. A relação sexual genital consumada é
a forma de relacionamento mais marcante e mais profundo entre um
homem e uma mulher.24
82 Estudos da Pós-Graduação

Neste sentido, a melhor proposta para o namoro é uma vida de


castidade, pois é a melhor preparação para o casamento. Saber aguardar
o momento do casamento para viver a vida sexual é exercitar o autocon-
trole das paixões e saber ser fiel na vida conjugal. Também os noivos
não estão aptos ainda para a vida sexual.27

O Catecismo da Igreja Católica diz:

Os noivos são convidados a viver a castidade na continência.


Nessa provação, eles verão uma descoberta do respeito
mútuo, uma aprendizagem da fidelidade e da esperança de se
receberem ambos da parte de Deus. Reservarão para o tempo
do matrimônio as manifestações de ternura específicas do
amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na cas-
tidade.27: 608

Em estudo realizado, adolescentes apresentam dificuldades em


conversar sobre assuntos relacionados à sexualidade e suas consequên-
cias; referiram que seus familiares sentem vergonha de abordar o tema,
que a escola menciona apenas o uso do preservativo, enquanto a Igreja
propõe a castidade e a fidelidade como importantes ferramentas para a
vivência da sexualidade de forma saudável.9
Sobre a virtude da castidade, esta é definida como a força interior
para se viver a sexualidade, de acordo com o sentido cristão e com os
ensinamentos de Jesus. Castidade é a força interior que lhe possibilita
conduzir uma vida sexual sadia, canalizar todas as energias vitais se-
xuais de acordo com seu estado de vida.24
Existe a castidade pré-matrimonial e a matrimonial. A castidade
pré-matrimonial é a maneira pela qual o casal jovem vive a sexualidade
de forma bela e cristã, vencendo as seduções do mundo erotizado, cana-
lizando as energias sexuais para o ideal maior de um matrimônio feliz,
mantendo a virgindade, ou, se perdida, vivendo a sexualidade bem
orientada para os ideais cristãos. A castidade matrimonial é a força in-
terior que possibilita aos casais viverem a sexualidade de forma sadia,
bela, santa, gratificante, intensa, exuberante, sempre no sentido cristão
da sexualidade matrimonial.25
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 83

Sugestões e implicações para a saúde do adolescente e


para o cuidado de enfermagem

Identificar nos adolescentes suas necessidades de conhecimento


é o primeiro passo para efetivar práticas educativas que promovam a
saúde sexual e afetiva. Entretanto, abordar somente sobre o uso de pre-
servativo, apesar de necessário, não é suficiente para a adoção de com-
portamentos sexuais seguros. Neste contexto, urge ultrapassar esse
modo de trabalhar as questões que envolvem a sexualidade e refletir
sobre as relações com o outro e consigo mesmo e sobre a preservação
dos valores da família. Assim, a religião poderá ser parceira na adoção
de comportamentos sexuais saudáveis e na superação de situações de
vulnerabilidade.28
Abordar comportamentos e escolhas na vida sexual e afetiva na
adolescência já é desafiador e, ao associar tais aspectos com a fé e a
religiosidade, torna-se mais complexo; no entanto, profissionais de
saúde e da Igreja devem auxiliar educadores e pais quanto à orientação
de adolescentes na maneira como vão vivenciar sua sexualidade, ado-
tando uma visão cristã de modo a proteger não somente contra doenças,
como acontece na maioria dos programas de prevenção, mas numa
perspectiva ampla de cuidado, respeito e amor consigo e com o outro.
Não é possível mais silenciar diante deste tema; adolescentes
cristãos precisam ser orientados e acompanhados com informação cor-
reta, sem preconceitos, que transmitam segurança e, acima de tudo, for-
taleçam a fé na vivência de sua sexualidade. Não permitir um discurso
moralista, vazio, que impulsiona a ideia de pecado e culpa deve ser o
objetivo das práticas educativas direcionadas a educadores, familiares e
adolescentes, de modo que a vivência da sexualidade e afetividade não
seja motivo de sofrimento como gravidez indesejada, aborto, DST/
HIV/Aids e negação dos desejos; ao contrário, seja motivo de alegrias
e realizações para o adolescente.
É necessário incluir nos discursos religiosos aspectos relacio-
nados à sexualidade e, consequentemente, a assunto que dela se des-
dobra, proporcionando uma reflexão crítica para que os adolescentes
possam, com autonomia, realizar escolhas conscientemente.28
84 Estudos da Pós-Graduação

Assim, profissionais de saúde, juntamente com a Igreja, devem


oferecer uma educação sexual ampla, em que a sexualidade possa ser
vivida sem culpa e o respeito aos ensinamentos de Deus possam ser
considerados um caminho para a felicidade e não um discurso moralista
que se distancia da realidade de jovens cristãos.
O cuidado de enfermagem não deve estar voltado apenas para os
aspectos biológicos; é preciso assegurar o cuidado holístico, obser-
vando o adolescente como alguém com crenças e valores singulares,
conhecendo e respeitando sua religiosidade, principalmente ao se tratar
de aspecto da vida sexual e afetiva pela proximidade com a ideia de
pecado, exclusão e castigo. Destaca-se, portanto, a necessidade de re-
pensar as intervenções junto aos adolescentes católicos, a partir da
criação de novos saberes que favoreçam sua formação e, assim, contri-
buir com sua autonomia diante da vida sexual e afetiva.9

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86 Estudos da Pós-Graduação

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AUTOESTIMA, AUTOCUIDADO E VALORIZAÇÃO
Elementos importantes para a prevenção
de DST/Aids na adolescência

Thábyta Silva de Araújo


Queliane Gomes da Silva Carvalho
Rita Andréa Pereira de Oliveira
Suhelen Nunes Tavares
Neiva Francenely Cunha Vieira
Fabiane do Amaral Gubert
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

A autoestima é uma avaliação que o indivíduo faz de si mesmo,


observando valores, amizades e o que lhe traz importância.1 Além disso,
está relacionada ao nível de consideração ou de respeito que o ser hu-
mano tem de si.2 Também pode ser definida como o somatório de va-
lores que uma pessoa atribui a si mesma, influenciada por fatores afe-
tivos, emocionais e sociais. Portanto, a autoestima de um indivíduo é
também resultado das relações que ele estabelece ao longo de toda a
vida, levando a avaliação geral que o adolescente faz do que ele signi-
fica para as pessoas com quem convive e, assim, formular seu autocon-
ceito.3 É um indicativo de bem-estar mental, sendo também compreen-
dida como um conjunto de conduta e percepção de si mesmo que cada
indivíduo possui.4
Na adolescência, a insatisfação com a imagem corporal e a
vivência em uma cultura de valorização exagerada por padrões de
beleza, que incluem fortemente a magreza, pode contribuir para que
88 Estudos da Pós-Graduação

esta população aja conforme a imposição midiática, perdendo-se na


busca pela própria identidade. Com isso, acreditam que, modifi-
cando o aspecto físico, conquistarão autoestima e aceitação em
algum grupo.5, 6
A autoestima de uma pessoa depende do sentimento de valor e da
importância que ela tem em relação a si própria. Quem possui uma ele-
vada autoestima confia em seus atos e percepções e acaba agindo com
mais confiança diante das situações e frente a outras pessoas; já quem
tem baixa autoestima se enxerga inferior e imprópria.7
Nesse sentido, a autoestima de um indivíduo influencia positiva-
mente na percepção de saúde e num comportamento saudável, além de
influenciar na relação sujeito-mundo. Dessa forma, possibilita também
o desenvolvimento da independência do sujeito em relação aos obje-
tivos a serem alcançados, como o autocuidado de si.8
Já o autocuidado é o desenvolvimento de atividades realizadas
pelo próprio indivíduo para manter a vida, a saúde e o bem-estar. Os
pressupostos universais para o alcance da manutenção da integridade e
do funcionamento do corpo humano, em geral, estão presentes nas fases
do ciclo vital.9
Para o alcance do autocuidado em qualquer indivíduo é essencial
que os profissionais da saúde conheçam as crenças seguidas por ele,
além de levá-lo a refletir acerca da decisão da forma como aprendem a
se cuidar (componente cognitivo), sobre se cuidar (componente afetivo)
e passar a se cuidar (componente comportamental).10
Algumas situações de déficit no autocuidado que podem levar
indivíduos ao risco ou à vulnerabilidade para adquirir DST/HIV são
relatadas por profissionais da saúde na literatura, como gestantes/puér-
peras portadoras de HIV/Aids que não percebiam a importância do seu
papel ativo no processo de saúde ou doença.11
A valorização refere-se à habilidade constante de adequação, de
versatilidade e de controle de suas prestabilidades diante de projetos
momentâneos.12 Destarte, significa atingir não somete os objetivos tra-
çados previamente, mas, prioritariamente, ultrapassá-los, destacando-se
e diferenciando-se de outas pessoas. Alcançar o sucesso consiste em
ousar, vencer e se expor, para que distingam sua peculiaridade.12
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 89

Diante desse contexto, o adolescente é o indivíduo mais vulne-


rável às mudanças, principalmente às relativas ao seu corpo, a sua per-
cepção de imagem diante de amigos, familiares e da própria sociedade.
Por isso, estão constantemente preocupados com o peso, com a procura
de um corpo ideal, e a não aceitação desse corpo pode levá-los a senti-
rem-se excluídos da sociedade.13
Assim, a promoção da saúde consiste em um conjunto de estraté-
gias em que o foco principal está em melhorar a qualidade de vida no
âmbito individual e coletivo.14 Dessa forma, faz-se necessária uma dis-
cussão acerca da autoestima, do autocuidado e da valorização na pre-
venção das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/Aids).

Implicações da autoestima, do autocuidado e da


valorização na prevenção de DST/Aids na adolescência

Em sua concepção, o adolescente tem uma visão de corpo idea-


lizada e perfeita, porém quanto mais seu corpo se distancia dessa
imagem ideal maior a possibilidade de um conflito, que muitas vezes
acaba comprometendo sua autoestima, pois as mudanças que ocorrem
no corpo dos adolescentes nessa fase da vida podem gerar desequilí-
brio e insegurança.15
A autoestima e a sexualidade mantêm estreita relação, assim o
amor próprio é um fator indispensável para o indivíduo perseverar nos
projetos de vida, pois todo planejamento é fundamentado em boas rela-
ções e isto só pode ocorrer se houver apreço próprio.7
A vulnerabilidade na adolescência aumenta devido a condutas,
muitas vezes impensadas, e até mesmo em decorrência da baixa autoes-
tima. A maioria dos jovens, nas relações sexuais, não usam métodos
contraceptivos eficazes que previnam a gravidez e as DST. Dessa
forma, o aumento de informações acerca das DST e a sensibilização ao
uso de preservativos juntamente com atividades educativas que pro-
movam o aumento da autoestima e o bem-estar entre os adolescentes é
de extrema importância na prevenção de DST/HIV.7
O autocuidado faz parte de um dos principais objetivos da assis-
tência de Enfermagem, pois possibilita o incentivo e a participação efe-
90 Estudos da Pós-Graduação

tiva do paciente no tratamento. Assim, o cliente compartilha com o en-


fermeiro a responsabilidade na implementação do cuidado e nos
resultados, tornando-se responsável pela promoção da própria saúde.16
A incidência das DST está, atualmente, progredindo para ele-
vados números, tendo como possíveis causas a baixa condição socioe-
conômica, os aspectos culturais e as poucas informações confiáveis
acerca da sexualidade. Nesse contexto, a Educação em Saúde, quando
eficiente, pode ser enérgica e eficaz no combate às DST, uma vez que,
por meio da Educação, o indivíduo pode ser sensibilizado e instruído e,
consequentemente, estar apto a realizar o autocuidado que se interpõe à
adoção de um estilo de vida mais saudável.17
Notou-se que as ações de autocuidado são indispensáveis e
devem implicar a execução de estratégias dirigidas pelo e para o pró-
prio adolescente no espaço em que ele está inserido, com o propósito de
responder as necessidades identificadas, de forma que contribua para a
manutenção da vida, da saúde e do bem-estar desses jovens.16

O papel da família, da escola e da sociedade em meio a


autoestima, o autocuidado, a valorização e a prevenção
de DST/Aids na adolescência

A família, sendo uma importante estrutura social no tocante à


educação dos membros, principalmente em relação à sexualidade, de-
monstrou, em algumas situações, ser incapaz de intervir diante desse
tema com os filhos.18
De fato, a comunicação é um conjunto de ações realizadas com o
objetivo de clarificar uma mensagem; assim, uma adolescente é edu-
cada sexualmente pelos pais desde os primeiros anos de vida através de
atitudes praticadas no dia a dia no que se refere à sexualidade.19
A importância e a valorização da família como apoio nas dúvidas
quanto ao sexo em relação a outros meios de busca de informação,
como internet e amigos, ainda são identificadas como principal refúgio
da rede de apoio na busca por informações mais incompreensíveis.18
Contudo, o diálogo entre família e adolescente acerca da temática
sexualidade ainda é tabu, o que faz com que eles busquem as informa-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 91

ções com amigos, revistas, filmes, televisão e internet e, em menor es-


cala, com professores da escola e profissionais de saúde. Mesmo porque,
muitas vezes, educadores, pais ou responsáveis pelos jovens ou não tem
experiência ou apresentam resistência em falar sobre esse tema.20
As políticas de saúde identificam o ambiente escolar como um
espaço excelente para práticas que promovam a saúde, a prevenção e a
educação para a saúde.21 Dessa forma, a promoção da saúde com base
na escola representa um meio importante para a saúde pública, e o des-
dobramento das ações de intervenção para a promoção de hábitos sau-
dáveis vem sendo reforçado por instituições de âmbito internacional.22
No ambiente escolar, um dos papéis do profissional de enfer-
magem é a construção de projetos de trabalho em conjunto com profis-
sionais da educação, professores, direção e orientação escolar, baseados
em debates sobre o tema “saúde na escola”, buscando integrar os setores
da escola e os profissionais para a promoção da saúde dos escolares.23
Dessa forma, a escola é um ambiente transformador de sujeitos,
em que os adolescentes podem conquistar e compartilhar conheci-
mentos e experiências. É um local ideal para o desenvolvimento de
atividades educativas e discussão de temáticas relacionadas à saúde,
como a promoção da saúde e prevenção de agravos e DST/Aids.
A insatisfação com a autoimagem nos adolescentes, principal-
mente no sexo feminino, coloca-os em situações de vulnerabilidade,
como o uso de cigarro ou drogas, o que influencia na diminuição da au-
toestima, associada a sentimentos de tristeza e discriminação, estimu-
lando ideias suicidas ou a depressão. Assim, faz-se indispensável que
professores, profissionais de saúde e família estejam esclarecidos acerca
da importância do reforço da autoestima, ressaltando e incentivando
qualidades positivas, como manter uma alimentação saudável, estimular
a prática de exercícios físicos e encorajar um bom convívio social.24

Promoção da saúde e sua relação com a autoestima e o


autocuidado e da valorização e prevenção de DST/Aids

O termo saúde por anos esteve vinculado ao controle de morbi-


dade e mortalidade, contudo, com o avanço científico voltado para es-
92 Estudos da Pós-Graduação

tudos na área da saúde, constatou-se que estar saudável envolve pre-


venir, proteger e promover a saúde, que são essenciais na busca por
uma melhor qualidade de vida.25
Ao longo de mais de 20 anos, as conferências mundiais de pro-
moção da saúde referiram-na como um conjunto de estratégias com
foco principal em uma melhor qualidade de vida no âmbito individual
e coletivo.26
Um documento que reconhece as vulnerabilidades dos jovens e
enfoca a garantia de acesso universal e igualitário aos serviços de pro-
moção, proteção e recuperação da saúde é a Política Nacional de
Atenção à Saúde Integral de Adolescentes e Jovens, que contém dire-
trizes direcionadas à sensibilização de gestores para um olhar integral e
sistemático do indivíduo, apontando estratégias na busca pelo desen-
volvimento de comportamentos saudáveis e pela responsabilização da
sociedade e das famílias através da construção das decisões e escolhas
dos adolescentes.26
Direcionar a promoção da saúde ao público adolescente envolve
torná-lo ativo no ambiente de convívio e na própria sociedade e buscar
a cidadania em vez de ser mais um usuário dos programas governamen-
tais e sociais.26
O avanço ao cuidado à saúde dos adolescentes se amplia a partir
do momento que engloba o cotidiano desses indivíduos, valorizando
suas interações, crenças, valores, culturas e seu próprio imaginário,
sem esquecer de observar as diversidades do contexto no qual o jovem
está inserido.27
Dessa forma, é essencial observar a percepção de saúde que o
adolescente tem de si, a qual está relacionada, na maioria das vezes, às
relações afetivo-emocionais, proporcionadas pelas mudanças biopsi-
cossociais decorrentes da adolescência.28
O adolescente, quando não envolvido diretamente no processo
saúde-doença e na promoção de sua saúde, tende a se expor às vulnera-
bilidades resultantes do uso excessivo de álcool e drogas, da violência,
de doenças sexualmente transmissíveis e aids, da mortalidade materna,
da saúde sexual e reprodutiva, do início e estabilidade de doenças crô-
nicas, comprometendo a adoção de comportamentos saudáveis.26, 27
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 93

Diante desse contexto, a sexualidade, quando exercida de forma


saudável, possibilita experimentar uma atividade sexual consciente, in-
formada, prazerosa e segura, baseada na autoestima, implicando uma
experiência positiva da sexualidade humana e o respeito entre os pares
durante as relações sexuais.29
Quando levado em consideração o conceito de autoestima, é fun-
damental ressaltar que, quando trabalhamos a autoestima, fortalecemos a
ideia de autocuidado, que sugere uma reflexão dos sujeitos sobre seu
modo de agir, de como ele se percebe e, assim, poder cuidar-se, modifi-
car-se, transformar-se de acordo com suas necessidades, visando ao bene-
fício próprio e tendo o propósito de manter a saúde, o bem-estar e a vida.30
Para que o trabalho envolvendo as questões de autocuidado,
sexualidade e prevenção de DST/Aids tenha um melhor resultado, é
imprescindível a abordagem da temática autoestima, pois o seu res-
gate contribui para a promoção do bem-estar e chama a atenção para
a importância da autoprevenção, além de contribuir para reflexões
sobre a necessidade do empoderamento frente à promoção da saúde
sexual e reprodutiva.30
Diante disso, para que o cuidado voltado ao fortalecimento da
autoestima em favorecimento do despertar da necessidade do autocui-
dado nos indivíduos possa ter eficácia na prevenção das DST, é neces-
sário que haja ações de promoção da saúde voltadas para a informação
e educação, a fim de formar uma consciência individual embasada em
conhecimentos precisos que possam nortear uma atitude individual que
diminua as situações de vulnerabilidade.30

Sugestões e implicações para o adolescente e para o


cuidado e enfermagem

Para o aprimoramento de um cuidado com qualidade é neces-


sário escutar atentamente os adolescentes e desenvolver uma assis-
tência que enalteça as emoções, as condutas e as relações sociais, re-
sultando, dessa forma, indivíduos capacitados para o autocuidado por
receberem atendimento profissional e familiar integral com base na
promoção da saúde.31
94 Estudos da Pós-Graduação

Estimular os jovens sobre a importância do autocuidado pode ser


desenvolvido por meio da formação de pequenos grupos de discussão
com notícias e informações acerca das DST e HIV; além disso, a utili-
zação da caderneta do adolescente propicia a abordagem de diversas
temáticas que permeiam o período da adolescência. Assim, ações e ati-
vidades baseadas nessas estratégias são indispensáveis, com destaque
para o papel dos profissionais e estudantes de saúde e o apoio da socie-
dade civil na promoção, prevenção e incentivo ao autocuidado à saúde
dos adolescentes.32
Metodologias participativas de educação em saúde em interven-
ções de promoção da saúde sexual e reprodutiva proporcionam a des-
mistificação dos temas relacionados à sexualidade, e os adolescentes
tornam-se ativos no processo de construir o conhecimento conjunta-
mente aos facilitadores da atividade.33
É importante motivar ações sob um olhar, na perspectiva de gê-
nero, utilizando recursos lúdicos e dinâmicos, além de envolver ações
intersetoriais para estabelecer uma relação entre o adolescente e os ser-
viços de saúde.33
O desenvolvimento de atividades educativas sobre prevenção
das DST/Aids, através de oficinas baseadas no uso de álbum seriado em
escolas, deve ser revisto quando realizado de forma isolada e pontual,
pois práticas educativas com adolescentes e jovens dessa maneira não
os atinge, não alcançando o objetivo de sensibilizá-los quanto à pro-
moção da saúde e prevenção de agravos.34
Adolescentes envolvidos em igrejas também devem ter atenção
dos profissionais tanto no atendimento em unidade de saúde quanto na
realização de atividades educativas direcionadas a eles, especifica-
mente, pois valores singulares e crenças devem ser considerados priori-
tários, no intuito da construção do conhecimento e aprimoramento das
informações referidas. Dessa maneira, o enfermeiro pode trabalhar te-
máticas da sexualidade através de ações fundamentadas na pedagogia
de Paulo Freire, o Círculo de Cultura, que proporciona a participação
ativa do adolescente nos diálogos.35
Trabalhar a educação sexual com adolescentes requer também do
enfermeiro conhecimento dos processos evolutivos e conflitos que
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 95

regem o período da adolescência, além de não levar consigo precon-


ceitos e prejulgamentos.20
A promoção da saúde com base na escola representa um meio de
grande relevância para a saúde pública, e o desdobramento das ações de
intervenção para a promoção de hábitos saudáveis vem sendo reforçada
por instituições de âmbito internacional.22
A escola é um ambiente propício à realização de atividades educa-
tivas com participação e apoio de familiares e da rede de educação e saúde.
Nesse ambiente, há preocupação da introdução de temas transversais na
grade curricular em que todos devem utilizar a mesma linguagem.20
Uma possibilidade de estratégia eficaz de promoção da saúde di-
recionada ao adolescente é a participação juvenil, momento no qual os
adolescentes e jovens manifestam o desejo de serem escutados e reco-
nhecidos por suas capacidades, o que favorece a autonomia e a autoes-
tima deles na construção do projeto de vida.26
O projeto de vida configura a garantia de um futuro melhor
através da junção do fortalecimento da identidade pessoal e da autoes-
tima do adolescente com a conscientização de responsabilidade em
conquistar melhorias e oportunidades para alcançar o objetivo primor-
dial de desenvolver comportamentos saudáveis, favorecendo um
amanhã promissor.26
Assim, na realização de atividades educativas com o público
adolescente, é essencial que o profissional de enfermagem conheça os
participantes, que os tornem ativos na discussão de um tema, forne-
cendo a palavra e exercendo a escuta qualificada diante dos questiona-
mentos e contradições dessa população. Com isso, o enfermeiro, en-
quanto educador no processo educativo, sensibiliza os jovens na troca
de experiências e nas vivências diárias de cada indivíduo.

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SAÚDE AMBIENTAL E ADOLESCENTES
Perspectivas do cuidado

Eveline Pinheiro Beserra


Maria Dalva Santos Alves
Neiva Francenely Cunha Vieira
Mariana Cavalcante Martins
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro
Fabiane do Amaral Gubert

T oda ação humana reflete sobre a natureza, seja de forma po-


sitiva ou negativa; assim a intensidade desse reflexo é proporcional à
organização social e às atividades econômicas desenvolvidas pelo
homem.1 Pode-se conceituar Saúde Ambiental como a compreensão
dos aspectos da saúde humana, incluindo a qualidade de vida, os quais
são inferidos por fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psico-
lógicos no meio ambiente. Refere-se também à teoria e prática de ava-
liação, correção, controle e prevenção daqueles fatores que, presentes
no ambiente, podem afetar, potencialmente, de forma adversa, a saúde
humana das gerações do presente e do futuro.2
O Ministério da Saúde conceitua Saúde Ambiental como área da
saúde pública que envolve o conhecimento científico e a formulação de
políticas públicas relacionadas à dinâmica de interação entre a saúde
humana e os fatores do meio ambiente natural e antrópico que a deter-
minam, condicionam e influenciam, com vistas a melhorar a qualidade
de vida do indivíduo sob o ponto de vista da sustentabilidade.3
102 Estudos da Pós-Graduação

Outro conceito de Saúde Ambiental encontra-se nos subsídios


para Política Nacional de Saúde Ambiental. Infere que é uma área a ser
trabalhada de forma ampliada e pensada a partir da Reforma Sanitária,
sendo entendida como um processo de transformação da norma legal e
do aparelho institucional em um contexto de democratização que se
articula em prol da promoção e da proteção à saúde dos cidadãos.4
Ampliando-se o conceito de Saúde Ambiental, verifica-se uma
prática social com clara interdependência entre indivíduos e meio am-
biente, sendo necessário consciência de que o desequilíbrio na saúde
ambiental acarreta doenças à população e que este reflete diretamente
na qualidade de vida das pessoas e da comunidade; assim, todas as pes-
soas deverão ter essa discussão em sua formação, a fim de serem cons-
cientes e ativas na conservação do meio ambiente.
O adolescente, neste cenário, pode ser um agente multiplicador e
de diálogo sobre o cuidado ambiental, pois este indivíduo encontra-se
em fase de elaboração de sua identidade em diversas áreas, dentre elas
o autocuidado, o cuidado com o outro e também o cuidado com o meio
ambiente, tornando-se apto a ser ativo na prática social de um meio
ambiente saudável.

Cuidado ambiental

Cuidar de si, do ambiente, do outro, do planeta, da vida. O cui-


dado ambiental abrange muito mais que se pode compreender; trans-
cende o presente e reflete no futuro; o cuidado de si e do outro reflete o
presente e o futuro, logo cuidar é ação necessária de todos. O cuidado
está vinculado a uma atitude dinâmica de compartilhar, dar suporte,
proteção e sustentação, demonstrar zelo por meio da preocupação e en-
tendimento da situação de saúde e de vida dos sujeitos.5
Hoje se verifica a preocupação com a água, pois é um bem não
renovável na sua totalidade, a qualidade do ar, o destino do lixo, fatos
que antes eram vistos como despreocupantes, sendo, atualmente, con-
texto de discussão e reflexão de alternativas resolutivas de sucesso
para a saúde ambiental. Quem nunca pensou que daqui a algumas dé-
cadas não se terá água nas torneiras? A água que, muitas vezes, é des-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 103

prezada quando se lava a louça, toma-se um banho demorado ou


através de um vazamento.
A contaminação pelo lixo dos rios e mares, elementos tóxicos e
outras substâncias nocivas é comum nos dias atuais. A qualidade do ar
que se respira hoje pode ser inferior da que se respirava há 30 anos e de
pior qualidade há algumas décadas. O solo poderá ser contaminado a
ponto de não mais produzir alimentos, destruindo a agricultura e ali-
mentação para a comunidade. Quantas questões refletem a falta de cui-
dado ambiental? Uma ação individual de não jogar lixo na rua e ações
coletivas como campanhas de não contaminação das praias envolvem
conscientização e mudança de comportamento.
Essas práticas habituais podem provocar, entre outras coisas,
contaminação de corpos d’água, assoreamento, enchentes, proliferação
de vetores transmissores de doenças como ratos, baratas e moscas, ge-
rando também a poluição visual, sendo originados dos efeitos decor-
rentes da prática de disposição inadequada de resíduos sólidos.6
Muitas vezes, os seres humanos negligenciam o ambiente e sua
força vital para todos. Basta respirar profundamente e sentir os pulmões
se enchendo de ar, haverá a troca gasosa, as células serão oxigenadas e
os órgãos estarão vivos para realizar as atividades metabólicas. Ao abrir
um livro de fisiologia verifica-se que o corpo é composto em média por
70% de água e que o indivíduo pode até passar dias sem comer e bem
menos sem beber água. Logo, estará entrando em insuficiência renal
aguda, pois os processos metabólicos começarão a sofrer e pode-se cul-
minar no óbito.
Diante da relação intrínseca do ambiente com a vida, a humani-
dade começa a se preocupar com o ambiente, devido ao seu uso sem
medida e imprudência; assim as pessoas percebem que preservar a na-
tureza é preservar sua vida, levando a discussão no cenário político,
jurídico entre outros, sendo cenário de discussão no Brasil nos anos 70,
embora no mundo já se tenha discutido sobre saúde ambiental após a
segunda guerra mundial do século XX (1939-1945).7
A saúde ambiental reflete nos aspectos econômico, produção,
acesso, bem como nos determinantes sociais de Saúde que trazem uma
nova representação sobre si mesma, que busca novos discursos sobre as
104 Estudos da Pós-Graduação

relações homem/sociedade, homem natureza, saúde/sociedade, inda-


gando diversas ciências como as da sociedade, da política, da saúde,
entre outras.8
Logo, em destaque ao ambiente infere a necessidade de uma re-
flexão mais detalhada de sua importância e sua associação com a comu-
nidade. Numa perspectiva reflexiva serão discutidas as atribuições dos
adolescentes no cenário do cuidado ambiental, no cuidado do outro e no
cuidadode si e a contribuição da Enfermagem.
Deve-se empoderar a população quanto a uma situação crítica no
ambiente na qual vive, buscar meios para a defesa de seus direitos cole-
tivos numa perspectiva ativa diante da inércia no que infere os pro-
blemas ambientais.9
O adolescente pode ser mediador na cultura do cuidado com o
ambiente em novas práticas promotoras de saúde, seja na comuni-
dade na qual vive ou na escola ou no grupo ao qual pertence, na dis-
cussão de práticas conscientes de sustentabilidade, já que o adoles-
cente é o futuro da nação e a sociedade os terá, em poucos anos,
como protagonistas. Logo, o adolescente deve refletir sobre práticas
de cuidado ambiental.

Adolescente e cuidado ambiental

O adolescente, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente,


é o indivíduo de 12 a 18 anos que passa por profundas alterações físicas,
psíquicas e comportamentais. O adolescente irá refletir sobre as prá-
ticas cotidianas a partir de sua cultura, da sua família, de seus amigos e
até mesmo de suas impressões da realidade que, muitas vezes, são car-
regadas de emoções e dúvidas.10
As motivações pelas discussões sobre a adolescência vêm au-
mentando devido ao seu impacto no desenvolvimento do indivíduo, da
família e da sociedade, não devendo tratar a adolescência simplesmente
como um período de grandes mudanças, pois não condiz com as atuais
perspectivas teóricas da ciência do desenvolvimento desta fase, porque
envolve exploração e múltiplas oportunidades, que variam em função
dos diferentes contextos sociais e culturais.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 105

Assim, o adolescente possui características de poder de articu-


lação com os pares, amigos vinculados à escola, ao local onde moram,
podendo favorecer ações de benefício coletivo ou individual, exercendo
o protagonismo juvenil.
O protagonismo juvenil consiste na necessidade de desenvolvi-
mento do ser humano completo para além das necessidades da produção,
aberto à diversidade cultural de seu tempo e às responsabilidades so-
ciais, por meio de métodos ativos para que os adolescentes se sintam
responsáveis na sociedade, considerando os direitos humanos.11
São necessárias estratégias que permitam a reflexão dos adoles-
centes sobre seu papel na sociedade. Infelizmente, muitas vezes, focali-
zados nos prazeres, sejam nas drogas ou no início da vida sexual,
deixam de atuar de forma ativa em defesa de uma causa ou de uma
ideia. É importante afirmar que eles protagonizam, diante da sociedade,
como próximo seguimento de população ativa economicamente, mão
de obra futura qualificada, futuros formadores de opinião, sendo seres
de extrema atenção, pois não são tão imaturos como as crianças e tão
pouco maduros como um adulto-jovem ou adulto-adulto.
Os adolescentes são questionadores da realidade e inquietos,
sendo características próprias de seu desenvolvimento, podendo, assim,
ser instigados diante de diferentes realidades, como, por exemplo, seu
papel na saúde ambiental.
Por que sobre o meio ambiente? Inúmeras toneladas de lixo são
geradas diariamente e parte dele será destinada aos lixões de forma ina-
dequada, podendo contaminar os lençóis freáticos; outra parte será lan-
çado ao mar e, atualmente, o impacto ambiental reflete nos nossos dias
e, daqui há 30 anos, quando esse adolescente ficar adulto-maduro, como
ele enfrentará essa realidade de consequências de uma ação individual
egoísta de não cuidar da saúde ambiental?
Despertar no adolescente a reflexão sobre o cuidado ambiental,
cuidado do outro e de si é importante, pois ele está em um período do
desenvolvimento favorável a isso e não terá o pensamento tão forte do
egocentrismo da criança e favorecerá as relações interpessoais, gerando
margem para as reflexões e questionamentos ambientais. Logo, refletir
sobre a saúde ambiental implica refletir sobre o outro, já que as conse-
106 Estudos da Pós-Graduação

quências ambientais não serão somente atingidas no único homem, mas


na coletividade, portanto, cuide do ambiente, cuide do outro e cuide de
si, uma vez que essas questões são integradas, exercitando suas habili-
dades pessoais para o desenvolvimento de ambientes saudáveis, contri-
buindo para o coletivo.
Assim, corroboramos com a afirmativa12 de que o cuidado
abrange dimensões amplas e complexas que vão desde o cuidado de si,
do outro, do meio ambiente, da natureza e do planeta como um todo,
sendo um fenômeno complexo por excelência e necessita cada vez mais
unir e integrar os diferentes aspectos vitais ameaçados.
O cuidado consigo envolve o corpo no ambiente em que está;
implica o cuidado com o outro e com a saúde do ambiente em que ha-
bita, assim as reflexões sobre ambiente devem ser prioritárias junto ao
adolescente, uma vez que seus atos levarão a consequências. Portanto, é
o momento cabível de reflexões sobre o comprometimento ambiental.

Reflexões sobre saúde ambiental, adolescente,


DST e enfermagem

Ao cuidar do ambiente e da integralidade do complexo meio am-


biente estamos nos preocupando com o outro. Esse outro pode ser daqui
há cinco anos ou daqui a décadas, mostrando nossa responsabilidade so-
cial e a preocupação com o desenvolvimento sustentável. Essa reflexão
emerge a reflexão consigo. Como eu devo ter cuidado com o ambiente,
terei cuidado com o outro e comigo. Logo, emergirá o autocuidado.
O adolescente necessita, em sua formação, refletir sobre esses
aspectos, pois muitos são vulneráveis a diferentes situações, seja álcool
e drogas, obesidade, gravidez precoce, DST, violência, acidentes dentre
outros, necessitando de estratégias que contemplem essa integralidade
de riscos, fazendo-os refletir sobre questões coletivas como a saúde am-
biental até convergir no cuidado de si mesmo.
A Figura 1 busca retratar a relação desses três elementos: cuidado
ambiental, cuidado com o outro e cuidado consigo. Considera-se o cui-
dado ambiental mais amplo, que envolve múltiplas ações de compro-
metimento com a geração de resíduos, cuidado com o solo, água e ar e
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 107

que, buscando contemplá-lo, irá, consequentemente, gerar o cuidado


com o outro e o cuidado consigo.

Figura 1 – Associação do cuidado ambiental, cuidado com o outro e


cuidado consigo

Cuidado ambiental

Cuidado com o outro

Cuidado
consigo

Fonte: Elaborada pelas autoras.

A Enfermagem pode se utilizar de diferentes meios para que o


cuidado ambiental possa emergir o cuidado consigo. O cuidado com o
ambiente, no que diz respeito à contaminação do ar por poluentes, acar-
reta problemas respiratórios e dermatológicos. O ambiente e a
Enfermagem são uma associação importante.
Florence Ninghtgale despertou, de forma primitiva, o cuidado
com o ambiente. Na guerra da Crimeia afirmou a importância da lim-
108 Estudos da Pós-Graduação

peza e da luz solar para recuperação dos combatentes enfermos, ob-


tendo resultados expressivos na diminuição de morte com esses cui-
dados. Assim, esse cuidado com o ambiente não era restrito a um
paciente, mas a todos.
As estratégias da Enfermagem com adolescentes sobre a saúde
ambiental devem explorar o espaço escolar, pois é uma área que precisa
de intervenção participativa e intersetorial e o profissional de
Enfermagem pode inserir-se por meio da Promoção da Saúde em prol
do bem-estar ecológico e, consequentemente, humano, favorecendo a
formação de multiplicadores.13
Observa-se que, no espaço escolar, a temática sexualidade é am-
plamente debatida com adolescentes, mesmo assim ela é inesgotável,
uma vez que o início da vida sexual de forma precoce aumenta a possi-
bilidade de múltiplos parceiros, doenças sexualmente transmissíveis,
HIV e uma gravidez indesejada.
Diversos são os pontos de discussão sobre o risco de contágio de
uma DST. Além do desconhecimento, a mídia traz informações que
nem sempre são tão claras a ponto de elucidar suas dúvidas. A escola,
como também a família, às vezes não têm o devido preparo para orientar
sobre essas questões, caracterizando-se um repasse de responsabili-
dades e o adolescente vulnerável.
Envolvido pelo desejo e pela paixão, uma relação hormonal intensa
aventura-se numa relação sexual desprotegida com uma namorada ou na-
morado de anos ou com uma pessoa recém-apresentada. No momento da
relação sexual, o cuidado consigo encontra-se oculto, bem como o cui-
dado com o outro, quando se trata de uma pessoa já contaminada.
A reflexão sobre o cuidado do meio ambiente converge com o
cuidado com o corpo e com o cuidado consigo na prevenção de DST,
pois se trata de uma reflexão para seu bem-estar e para a prevenção de
problemas futuros, logo é uma estratégia de conscientização, não dire-
tamente para DST, nem para uso de drogas, nem violência, mas envolve
o exercício de sua autonomia que o adolescente poderá adotar para
qualquer área de sua vida.
Pode-se dar o exemplo da negociação do uso do preservativo.
Muitos não têm habilidade para negociar seu uso; movidos pelo desejo,
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 109

muitas vezes optam por realizar o ato sem o uso do mesmo, assim a
prática do uso do preservativo é o cuidado consigo e com o outro. Como
elaborar estratégias para essa habilidade?
As reflexões nesse contexto necessitam ser mais intensas, bus-
cando a integralidade do adolescente como um todo, não só para o meio
ambiente ou prevenção de drogas ou DST ou obesidade, mas estratégias
de cuidado que agreguem reflexão do cuidado ambiental, cuidado com
o outro e consigo que refletirá na saúde integral do adolescente para seu
protagonismo juvenil.

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SAÚDE MENTAL
Conquistas e desafios para a saúde do adolescente

Álissan Karine Lima Martins


Joyce Wadna Rodrigues de Souza
Ananeide Fernandes Vieira
Wandenko Gouveia Costa
Ângela Maria Alves e Souza
Fabiane do Amaral Gubert
Neiva Francenely Cunha Vieira
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

A saúde mental é um importante elemento de cuidado a ser


incorporado dentre as práticas de saúde dirigidas ao adolescente quando
considerada a perspectiva de atenção integral no seguimento do ciclo
vital. A atuação em saúde mental deve considerar ações que perpassem
a promoção da saúde mental, avançando no âmbito da prevenção de
agravos, diagnóstico precoce, assistência e reabilitação.
Nota-se a relevância desse aspecto diante dos índices crescentes
de transtornos psiquiátricos dentre essa faixa etária. Estimativas consi-
deram a prevalência de até 20% de ocorrência de transtornos mentais
entre crianças e adolescentes no mundo. Na Inglaterra, a prevalência de
transtornos psiquiátricos na infância é de 10%.1 No Brasil, estudo
aponta taxas de aproximadamente 10% em áreas urbanas de classe
média e em áreas rurais carentes (agricultura de subsistência), seme-
lhantes à população de classe média dos países desenvolvidos.2
Nos adolescentes, os dois sexos são igualmente afetados por
transtornos mentais. As situações prioritárias em saúde mental incluem
112 Estudos da Pós-Graduação

a depressão, o suicídio e a psicose, pelo impacto sobre a morbimortali-


dade.3 Outras situações são os transtornos de ansiedade, os de conduta,
o abuso de substâncias e os transtornos alimentares.
A fim de oportunizar o desenvolvimento saudável, considerado
um momento complexo da vida, a adolescência torna o indivíduo
mais susceptível a situações de conflito, tais como: consumo de álcool
e outras drogas, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não
planejada, prática de delitos assim como relacionamento conturbado
com a família.4
Por saúde mental pode-se compreender como a capacidade que
os indivíduos possuem de lidar no âmbito emocional, comportamental
e psicológico consigo e com o ambiente em que está inserido. Desse
modo, a saúde mental perpassa a noção de doença e aponta para a qua-
lidade de vida desses indivíduos na busca do bem-estar diante das dife-
rentes transformações vivenciadas pelo adolescente.
Nessa perspectiva, o enfermeiro deve incorporar a saúde mental
como uma dimensão integrada às demais dentro do processo de atenção
ao adolescente. Esse cuidado deve acontecer de modo contínuo a fim de
proporcionar um adequado manejo das situações de saúde existentes na
vida, auxiliando-os no movimento até a vida adulta.
Para que a atenção aconteça de modo efetivo, o enfermeiro deve
conhecer as situações de vulnerabilidade dos adolescentes, o relaciona-
mento no âmbito familiar e escolar e o acesso à equipe e à rede de ser-
viços presentes na comunidade. Além disso, deverá investir em tecno-
logias diferenciadas de cuidado que sejam sensíveis às peculiaridades
desse grupo, valorizando o papel da educação em saúde e do empode-
ramento dos sujeitos.

Implicações do ambiente, riscos e vulnerabilidades que


influenciam a saúde mental do adolescente

Para alcançar a maturidade, o adolescente necessita vivenciar ex-


periências que incluem a preocupação com a imagem corporal, a busca
pela identidade e independência além da definição de um comporta-
mento sexual antes não experimentado e que mais à frente lhe permi-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 113

tirão adquirir e exercer tarefas próprias do ser adulto. O enfrentamento


desses processos pode demandar conflitos que representam situações
de sofrimento mental para estes indivíduos.
Aliado a esses aspectos, existem situações de risco que colocam
o adolescente em vulnerabilidade para o adoecimento psíquico, quais
sejam: a vivência de doenças crônicas, o trabalho precoce e/ou nocivo,
os pais com severos transtornos mentais, a ruptura com vínculos fami-
liares, a violência no ambiente doméstico e/ou escolar, a ausência de
recursos e condições de infraestrutura adequados para o desenvolvi-
mento biopsicossocial saudável, a exposição excessiva aos ditames da
mídia para comportamentos padrões de sexualidade, de consumo de
substâncias ou de autoimagem e o envolvimento com situações vio-
lentas ou ilícitas.5
Diante dessas circunstâncias, o adolescente pode apresentar dife-
rentes condutas que refletem algum tipo de sofrimento mental, seja ele
emocional, comportamental ou relacionado à ruptura do padrão de rela-
cionamento consigo mesmo e/ou com os que estão à sua volta, sejam
seus pares ou familiares. São estes: preocupação excessiva com dieta e
exagero na prática de exercícios físicos para atender os moldes de
imagem corporal estabelecidos pela mídia, agressividade, transtornos
de conduta, fuga de casa, exposição precoce e adoção de comporta-
mento sexual de risco para doenças sexualmente transmissíveis, uso e
abuso de drogas e suicídio.
Por trás das escolhas dos adolescentes, além dos aspectos intrín-
secos desta fase, exerce importante papel a influência externa advinda
dos grupos. Neste sentido, a tomada de determinadas decisões tais
como o consumo de drogas ou a adoção de comportamentos de risco é
um dos critérios de aceitação em determinados grupos de pares. Essas
situações podem culminar em sofrimento psíquico e acarretar dificul-
dades para a família e para o adolescente mediante os riscos e consequ-
ências advindos das ações.
Outras condições que geram fragilidade psíquica ao adolescente
incluem a vivência de experiências que limitam a integridade física ou
social, como também o enfrentamento de condições patológicas que
incluem doenças agudas e crônicas.
114 Estudos da Pós-Graduação

Um estudo realizado com adolescentes institucionalizados na ci-


dade Guayaquil, no Equador, revelou, por indicação dos próprios ado-
lescentes, a falta de suporte familiar, como ausência de um dos pais, a
desarmonia no lar, as dificuldades econômicas, o abandono e a solidão.
Esses foram apontados como os principais motivos que os levaram ao
início do uso de drogas, consequentemente à prática de delitos e mais
tarde à institucionalização.6
Foi revelado que a desconstrução dos lares, por qualquer que
sejam as razões, se mostrou como fator preponderante para que estes
apresentassem alterações afetivas, psicológicas, de formação intelec-
tual e começassem a procurar refúgio no uso de drogas e na prática de
atos ilegais.6, 7
Diante desta realidade, os profissionais da saúde e, de modo es-
pecial, o enfermeiro, precisam estar preparados para auxiliar este pú-
blico no enfrentamento das situações conflituosas, através da educação
em saúde. Esta deve acontecer de modo interativo, em que as experiên-
cias vividas pelos adolescentes sejam consideradas para que este se
sinta autônomo, participativo e engajado na mudança das condições
que interferem negativamente sobre a experiência saudável dessa fase.
Outras condições que demandam atenção diferenciada para a
saúde mental dos adolescentes estão associadas a doenças crônicas, à
gravidez e ao uso do álcool e outras drogas, o que requer maior suporte
profissional que contribua no desenvolvimento de mecanismos de en-
frentamento e no esclarecimento das dúvidas sobre situações conflitu-
osas por eles enfrentadas.

O papel da família, da escola e da sociedade em meio à


saúde mental do adolescente

Por estar começando a se estruturar como sujeito perante a socie-


dade, o adolescente necessita de apoio emocional, social e psicológico,
sendo a família a responsável direta por esse suporte. A família deve ser
a base, focando principalmente na busca por acontecimentos, senti-
mentos e melhorias para a saúde mental do adolescente que passa por
mudanças importantes.8
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 115

Assim, o conhecimento da rede familiar é fundamental para a


identificação e priorização das necessidades, por oportunizar uma ação
precoce diante das situações vivenciadas, impactando sobre a saúde
mental do adolescente.
Evidenciando a importância da família em situações de vulnerabi-
lidades psicológicas, estudo realizado com famílias de adolescentes
puérperas identificou as principais mudanças ocorridas na vida familiar,
compreendendo o significado de ter uma adolescente puérpera na fa-
mília e levantando os mecanismos de enfrentamento utilizados por eles.5
O estudo mostra que a gravidez na adolescência é uma fase de
transição não somente física, mas principalmente emocional, envol-
vendo adaptações e mudanças de papéis e responsabilidades com a che-
gada de um novo membro na família. Além disso, o apoio financeiro,
social e, principalmente, emocional que a família oferece é essencial
para a estabilidade da saúde mental das adolescentes puérperas.9
Assim, o enfermeiro tem a incumbência de oferecer apoio à fa-
mília e à adolescente, satisfazendo suas necessidades em saúde, englo-
bando os aspectos biológicos, sociais e psicológicos para o desenvolvi-
mento de mecanismos de enfrentamento e esclarecimento de dúvidas.6
A família não deve estar sozinha no suporte e apoio ao adoles-
cente. É importante destacar a necessidade da parceria e união entre
usuários, familiares e equipes multiprofissionais que atuam nos ser-
viços de saúde, destacando os profissionais da enfermagem por estarem
prestando assistência direta aos atores sociais que mais necessitam dos
serviços substitutivos em saúde mental.
Deste modo, a elaboração e implementação de ações voltadas à
família e adolescentes torna-se uma prática favorável e indispensável
no processo saúde, doença e cuidado.10
A família, os profissionais e a rede de serviços de saúde, como os
Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi), as unidades básicas
da Estratégia Saúde da Família (ESF), os Núcleos de Apoio à Saúde da
Família (NASF), o Programa de Saúde na Escola (PSE) e outros ser-
viços devem trabalhar de forma sistematizada e integrada com o obje-
tivo de garantir uma qualidade na assistência aos seus usuários, neste
caso os adolescentes.
116 Estudos da Pós-Graduação

Tais serviços devem estar embasados na desinstitucionalização


que compreende a reinserção da pessoa em sofrimento mental na socie-
dade. Para isso, os serviços trabalham com equipe multiprofissional,
objetivando a reabilitação psicossocial dos usuários por eles atendidos,
contando com o apoio da sociedade e, principalmente, da família.10
Os cuidadores desenvolvem um fundamental papel na reabili-
tação desses adolescentes, por isso o serviço deve estar atento em en-
volvê-los no tratamento. Nesse contexto, o enfermeiro atua no acolhi-
mento, na construção de vínculo, na escuta terapêutica, na realização da
consulta de enfermagem, na promoção de grupos e na visita domiciliar
com o intuito de orientar a família e o usuário. Com isso, objetiva-se
uma assistência integral que alcance todos os membros envolvidos na
terapêutica do adolescente e minimize o sofrimento.
Estudo realizado com familiares cuidadores de crianças e adoles-
centes usuários de um CAPSi do município de Fortaleza – Ceará des-
creveu a atitude dessas famílias na procura por tratamento da criança/
adolescente em sofrimento psíquico.10 Percebeu-se que a falta de co-
nhecimento sobre a rede de saúde e os transtornos em si representam
uma das dificuldades encontradas pelos familiares na condução do tra-
tamento dos adolescentes, assim como a instabilidade emocional de-
vido à condição de sofrimento psíquico, provocando sensação de inse-
gurança dentro do próprio lar. Evidencia-se, então, a necessidade dos
serviços de saúde se aproximar da família a fim de impactar positiva-
mente nas práticas direcionadas ao adolescente, representando ganhos
nos aspectos de convivência e apoio mútuo destes sujeitos.11
Além da família, a escola constitui-se num ambiente estratégico
para acolhimento do adolescente em suas demandas em saúde mental.
É nesse cenário que o adolescente estará lidando com seus pares na
busca do reconhecimento enquanto indivíduo dotado de desejos, senti-
mentos e opiniões.
O ambiente escolar é um importante espaço no processo de for-
mação dos adolescentes, evidenciando-se enquanto cenário propício
para o desenvolvimento de ações de promoção à saúde mental.
Para isso, deve haver o envolvimento de diversos segmentos para
além do setor da educação e que integrem a assistência social, a saúde,
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 117

o lazer e desporto, a segurança, garantindo um processo favorável de


aprendizado para além do aspecto cognitivo, mas também ligado ao
emocional, ao comportamento e aos relacionamentos do adolescente.
Nesse processo, a família e a comunidade também devem ser
convidadas para a elaboração e participação destes momentos integra-
tivos e reflexivos, fortalecendo as relações e mobilizando as capaci-
dades e potencialidades existentes para o alcance do melhor potencial
de qualidade de vida.12, 13

Prevenção e promoção da saúde no contexto da saúde


mental na adolescência

A educação em saúde é uma ferramenta utilizada para capaci-


tação da comunidade, pautada no processo de mudança comporta-
mental com vistas à adoção de um estilo de vida saudável e realizada
através de estratégias educativas que promovam autonomia dos su-
jeitos envolvidos.14, 15
Neste sentido, a promoção da saúde mental na adolescência pro-
porciona o compartilhamento de conhecimento, saberes e vivências,
levando à sensibilização dos sujeitos sobre temáticas mais presentes
nesta faixa etária que é marcada por mudanças físicas, psíquicas, hor-
monais e comportamentais, devendo ser consideradas na escolha dos
instrumentos pedagógicos a serem utilizados na prática educativa em
saúde mental por profissionais da saúde.16, 17
Ressalta-se, desse modo, a necessidade em se ter profissionais
da saúde inseridos nas escolas de modo que conheçam e interajam
com o público-alvo, a fim de construir saberes e reconstruir práticas,
possibilitando o estabelecimento de uma relação terapêutica funda-
mentada no respeito, na valorização das vivências e nas histórias
dos adolescentes.12
Destaca-se o papel do enfermeiro que tem por competência o
planejamento e desenvolvimento de ações educativas, podendo assim
realizar atividades com a utilização de estratégias que despertem o in-
teresse dos adolescentes em participarem desse processo de comparti-
lhamento de saberes.12
118 Estudos da Pós-Graduação

Com isso, o enfermeiro, junto às instituições de ensino funda-


mental e médio, promove a saúde mental e previne riscos por meio do
desenvolvimento de ações que envolvam o debate e a reflexão sobre as
principais situações de vulnerabilidade na saúde do adolescente.17
As estratégias educativas voltadas à promoção da saúde mental
dos adolescentes constituem-se de táticas que os ajudam na condução
de suas vidas, através da construção de conhecimentos, valores e meca-
nismos de enfrentamento. Com isso, vê-se a importância do desenvol-
vimento de atividades educativas com a participação não somente da
escola, mas também o envolvimento dos profissionais de saúde e da
família neste processo.18
São diversas as estratégias educacionais voltadas à saúde mental
dos adolescentes, desenvolvidas atualmente e encontradas na literatura;
dentre elas podem-se citar as estratégias pedagógicas lúdicas com dinâ-
micas de criatividade e sensibilidade, o desenvolvimento de círculos de
cultura e grupos focais, a promoção de jogos de perguntas e respostas,7
além da elaboração de blogs que abordem conteúdos interessantes ao
grupo, como a sexualidade.16, 18
Ademais, no desenvolvimento dessas estratégias é perceptível o
protagonismo das universidades no desenvolvimento de projetos de ex-
tensão e pesquisa voltados à promoção de educação em saúde nas es-
colas direcionada aos adolescentes.
Dentre estas iniciativas pode-se destacar a desenvolvida em 2007
pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará
(UFC), vinculada ao projeto AIDS – Educação e Prevenção, que pro-
moveu ações de educação em saúde, objetivando a reflexão crítica dos
adolescentes sobre situações de violência e uso abusivo de drogas.16
Este projeto desenvolveu algumas oficinas de grupos focais, es-
tratégia educativa que proporcionou o debate sobre as temáticas, sendo
possível observar a diferença de conhecimento dos adolescentes antes e
depois da implementação das atividades, assim como o esclarecimento
de dúvidas sobre os assuntos.
Em suma, o projeto contribui para a promoção da saúde mental
desse público, pois promoveu a conscientização e sensibilização dos
adolescentes sobre as práticas violentas e o uso abusivo de drogas, po-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 119

dendo prevenir o envolvimento com essas práticas e, consequente-


mente, possíveis danos à saúde desses sujeitos.16
O papel da enfermagem na educação em saúde mental é impres-
cindível, principalmente dentro do cenário da educação fundamental e
média, que é o ambiente onde os adolescentes estão e permanecem por
um bom tempo, favorecendo o desenvolvimento de ações em conjunto
com a família e profissionais da instituição de ensino.
Portanto, fica claro que para o desenvolvimento dessas ações
são necessárias a implementação de estratégias que envolvam os ado-
lescentes e despertem neles o interesse pelas temáticas abordadas.
Com isso, busca-se motivá-los a participarem ativamente do processo
de construção de conhecimento e compartilhamento de vivências e sa-
beres e sensibilizá-los a adotarem hábitos de vida saudáveis física, so-
cial e psiquicamente.

Sugestões e implicações para a saúde mental do


adolescente e para o cuidado de enfermagem

O ser adolescente constitui-se desafio para aqueles que viven-


ciam esta fase, mas também para os diferentes sujeitos que interagem
com esse público, quais sejam: a família, a escola, a comunidade e de-
mais agentes de cuidado.
Nesse sentido, o profissional deve compreender a diferença entre
o processo em que o adolescente explora satisfatoriamente o meio am-
biente e as relações das situações de risco, com impacto negativo sobre
a saúde mental destes indivíduos.
Para isso, o profissional de saúde deve incluir, na avaliação, além
dos aspectos físicos, considerações do comportamento e relaciona-
mento do adolescente com os demais, que incluem: a aparência, o cres-
cimento e desenvolvimento, o estado biológico (incluindo doenças
agudas e crônicas, acidentes e deficiências), o estado emocional, rela-
cionamento e afetividade demonstrada, os aspectos culturais e socioe-
conômicos que podem influenciar no estado mental, a capacidade de
execução de atividades cotidianas, os padrões de enfrentamento, a inte-
ração com a família e com grupos, o comportamento sexual, o uso de
120 Estudos da Pós-Graduação

álcool e outras substâncias, a percepção e metas de saúde, o ambiente


físico, emocional e ecológico em que está inserido e os recursos hu-
manos e rede social de apoio.5
Destaca-se, então, o papel do enfermeiro como agente facilitador
da promoção da saúde e prevenção de danos, focando as dimensões
psíquicas, físicas e sociais, oferecendo uma assistência holística e hu-
manizada aos adolescentes.
A literatura evidencia a importância da participação do enfermeiro
na rede social dos adolescentes acometidos por doenças crônicas, pois
este profissional pode potencializar as possibilidades de enfrentamento
dessa situação, ajudando o adolescente e sua família a identificarem redes
e apoio social a partir do contato com recursos disponíveis.9
Para tanto, isso implica que o enfermeiro promova ações interse-
toriais e multiprofissionais, formando uma grande rede social para que
a melhor utilização dos apoios existentes no contexto de vida do adoles-
cente reforce os mecanismos e as potencialidades de enfrentamento.19
Assim, o cuidado do enfermeiro deve incluir o planejamento de
ações com ênfase sobre a saúde mental do adolescente, trabalhando
sobre a análise das situações de vulnerabilidade e risco, identificando o
impacto dessas sobre o desenvolvimento desses sujeitos e, a partir
disso, direcionando as ações possíveis diante da rede de atenção aces-
sível ao adolescente, à família e à comunidade.20
Apreende-se que a adolescência é uma fase complexa para a qual
se exige um olhar integral sobre as necessidades desse público, agre-
gando a perspectiva biopsicossociocultural. Para além das situações de
transtorno mental, as atuais demandas em saúde mental acompanham
as diversas situações de vulnerabilidades inerentes a este momento da
vida para as quais os profissionais de saúde devem ser conhecedores e
direcionar ações que interfiram sobre a qualidade de vida.
Neste sentido, o enfermeiro deve envolver os adolescentes nos
diferentes serviços e espaços onde eles circulam, quais sejam, escolas,
unidades básicas de saúde, instituições sociais, dentre outras, para prá-
ticas de promoção da saúde mental. Para isso, deverá se utilizar de es-
tratégias que valorizem a escuta e o vínculo e que coloquem os adoles-
centes em lugar de protagonismo diante do enfrentamento das
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 121

circunstâncias de vida, preparando-os para o manejo adequado em par-


ceria com os diferentes agentes da rede social de apoio e que reper-
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PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 123

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ENFERMEIRO NO CONTEXTO ESCOLAR
Papel importante em meio a muitos desafios

Ligia Fernandes Scopacasa


Adna de Araújo Silva
Marcos Venícios de Oliveira Lopes
Andrea Soares Rocha da Silva
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro
Fabiane do Amaral Gubert

A o abordar a terminologia enfermeiro escolar, tem-se a noção


daquele profissional especialista no ambiente da escola. É importante
mencionar que esta especialidade não é realidade no cenário brasileiro,
visto que este campo ainda não é tão bem permeado pelos enfermeiros.
Pode-se pontuar que existe esta categoria profissional no ambiente es-
colar, porém isto se retrata mais ao enfermeiro desenvolvendo ações
nas escolas do que o tão esperado enfermeiro escolar.
No entanto, pontifica-se a necessidade da atuação de enfermeiros
escolares, pois estes são primordiais para alcançar melhorias na quali-
dade de vida e saúde por meio da implementação de práticas de pro-
moção da saúde neste cenário, fato este que será detalhado no decorrer
deste capítulo, juntamente com as ações com enfoque na adolescência.

A promoção da saúde no ambiente escolar

O acompanhamento da saúde de adolescentes no ambiente es-


colar é fundamental, uma vez que esta condição está diretamente rela-
126 Estudos da Pós-Graduação

cionada à manifestação das potencialidades, entre elas a capacidade de


aprender.1 Autores pontuam sobre a necessidade de as escolas possu-
írem profissional de saúde preparado de forma adequada para atuar
nesses cenários.2, 3
Nesse contexto, destaca-se o enfermeiro escolar, que é uma refe-
rência e distingue-se dos demais enfermeiros por ser habilitado para
trabalhar exclusivamente neste ambiente com o propósito de proteger e
melhorar a saúde de crianças e adolescentes.4
Os conceitos de promoção e prevenção, bem como suas práticas,
muitas vezes são utilizados como termos sinônimos, gerando distor-
ções, visto que ambos possuem abordagens diferentes. O enfoque da
promoção da saúde é mais amplo e abrangente, pois visa enfrentar os
macrodeterminantes do processo saúde-doença e busca transformá-los
favoravelmente na direção da saúde, enquanto que a prevenção visa
intervenções orientadas a evita o surgimento de doenças específicas,
reduzindo sua incidência e prevalência na população.5, 6
Os pressupostos da promoção envolvem o fortalecimento da ca-
pacidade individual e coletiva para lidar com a multiplicidade dos con-
dicionantes de saúde. Entretanto, promoção e prevenção podem ser
usadas de maneira complementar e não excludentes, e a população pode
se beneficiar com as ações em ambos os campos.5
Segundo a Carta de Otawa,7 termo de referência fundamental no
desenvolvimento das concepções de promoção da saúde em todo o
mundo, esta pode ser definida como o processo de capacitação da comu-
nidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo
maior participação no controle desse processo8 e está associada a um
conjunto de valores como paz, habitação, educação, alimentação, renda,
ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade.9
Referimos também a uma combinação de estratégias, isto é, a
ações do Estado, da comunidade, de indivíduos, do sistema de saúde e
de parcerias intersetoriais, trabalhando com a ideia de responsabili-
zação múltipla, seja pelos problemas ou pelas soluções.5
A ação intersetorial, na qual o setor de saúde e os demais setores
sociais, como educação e meio ambiente, colaboram para o alcance de
uma meta comum e surge como uma nova possibilidade para resolver
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 127

os problemas que incidem sobre uma população, em um determinado


território, sendo preciso superar as propostas centradas no setor da
saúde, abrindo perspectivas com novas práticas que contenham verda-
deiras ações de interdisciplinaridade e intersetorialidade, permitindo a
transformação da realidade local com melhoria das condições de vida e
de saúde das pessoas.10
Promoção da Saúde, portanto, tem representado uma nova estra-
tégia dentro da saúde e do campo social, envolvendo e fomentando a
responsabilidade dos diferentes setores de governo na condução de pro-
cessos voltados para o “empoderamento” e a autonomia das comunidades
e dos indivíduos e a atuação sobre os determinantes sociais da saúde.11
Nesse contexto, durante os anos de 1990, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) lançou o conceito e a iniciativa das Escolas Promotoras
de Saúde. Tal escola é caracterizada como uma instituição que procura
constantemente um estilo de vida, uma aprendizagem e um trabalho
propício ao desenvolvimento da saúde, sendo que sua principal finali-
dade é contribuir para o desenvolvimento da saúde e da educação dos
alunos e da comunidade na qual se inserem.11
A iniciativa das Escolas Promotoras de Saúde, portanto, procura
fortalecer a capacidade do setor de saúde e de educação para promover
a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida de meninos, meninas, ado-
lescentes, pais, professores e outros membros da comunidade por meio
de suas atividades, incentivando o compromisso desses membros com
ações dirigidas para melhorar a saúde, a qualidade de vida e o desenvol-
vimento local.12
A constituição da Escola Promotora de Saúde foi uma das mais
significativas consequências da introdução do conceito de Promoção da
Saúde na saúde coletiva, entendendo-se que é a escola que tem uma
visão integral do ser humano, que considera as pessoas, em especial as
crianças e adolescentes, dentro dos seus ambientes familiares, comuni-
tários e sociais, promovendo a autonomia, a criatividade e a partici-
pação dos alunos, bem como de toda a comunidade escolar.13
Assim, as políticas de saúde reconhecem o espaço escolar como
privilegiado para práticas promotoras da saúde, preventivo de doenças/
agravos e de educação para saúde de crianças, adolescentes e jovens.14
128 Estudos da Pós-Graduação

Por mais de um século, as escolas têm demonstrado um cenário


adequado para o desenvolvimento de iniciativas de promoção da saúde
e prevenção de doenças, uma vez que existe uma interdependência
entre saúde e aprendizagem. Os alunos necessitam daquela para benefi-
ciarem-se amplamente da escola, enquanto esta é importante para a ma-
nutenção da saúde dos mesmos.15 Assim, a escola é um território privi-
legiado para incorporação de conhecimentos sobre saúde, pois permite
uma educação para saúde consciente, regular e sistemática e uma pre-
paração para a vida.16 Não é somente espaço de aprendizagem teórica,
mas de vivências emocionais e sociais junto aos adolescentes, sendo
um celeiro de muitas possibilidades.
A escola, considerada espaço promotor da saúde, exerce papel
fundamental na formação do cidadão crítico, estimulando a autonomia,
o exercício de direitos e deveres, o controle das condições de saúde e
qualidade de vida, com opção por atitudes mais saudáveis. Distinguimos
das demais instituições por ser aquela que oferece a possibilidade de
educar por meio da construção de conhecimentos resultantes do con-
fronto dos diferentes saberes: aqueles contidos nos conhecimentos
científicos repassados nas diferentes disciplinas; os trazidos pelos
alunos e seus familiares e que expressam crenças e valores culturais
próprios; os divulgados pelos meios de comunicação, muitas vezes
fragmentados e desconexos, mas que devem ser considerados por exer-
cerem considerável influência sociocultural; e aqueles trazidos pelos
professores, constituídos ao longo de sua experiência e resultante de
vivências pessoais e profissionais, envolvendo crenças e se expressando
em atitudes e comportamentos.14
Autores colocam que a escola é um espaço de interação social,
sendo muitas vezes o maior referencial da comunidade, onde poderão
ser utilizados os preceitos da Promoção da Saúde, por meio da Educação
em Saúde, desenvolvendo a consciência crítica e despertando o exer-
cício da cidadania.17
Educação em Saúde, conceito associado ao de Promoção da
Saúde, assume, então, o aspecto de uma educação crítica e transforma-
dora, cuja essência está na melhoria da qualidade de vida e promoção
do homem, entendendo a pessoa como agente promotor desse tipo de
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 129

aprendizagem, proporcionado por uma abordagem socioeducativa que


assegure conhecimento, habilidades e formação da consciência crítica
para tomar uma decisão pessoal com responsabilidade social.18
Assim, o trabalho a ser realizado com os adolescentes no âmbito
escolar precisa ser baseado em uma nova perspectiva da Educação em
Saúde, substituindo o enfoque repressor pelo de orientação aos jovens
e, ainda, criando espaços para discussões que envolvam os pais, bem
como todo o pessoal da escola, a fim de que escola e família, juntas,
encontrem meios para ajudar as crianças e os adolescentes.15, 16
Nesse sentido, a promoção para a saúde em meio escolar deve ser
entendida como um processo em permanente desenvolvimento e, para
que as intervenções preventivas sejam eficazes, devem ser baseadas em
evidência científica, aferidas para o contexto a que se destinam e desen-
volvidas por profissionais com conhecimento e domínio na área,19 uti-
lizando-se de estratégias que integrem saberes interdisciplinares, bem
como da cultura popular.18

Ações do enfermeiro no ambiente escolar

No Brasil, não está claramente definido o papel do enfermeiro


escolar, no entanto as ações nas escolas têm sido amplamente realizadas
por este profissional, propiciando um olhar diferenciado da adoles-
cência.Vários são os estudos que demonstram a importância e o êxito
da realização de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças e
agravos no âmbito escolar. Algumas pesquisas mencionadas nos pró-
ximos parágrafos evidenciam esta realidade.
Dentre as temáticas, o consumo de álcool em países da União
Europeia, por exemplo, destaca as graves consequências do seu uso
para a saúde pública nesses países. Além disso, estudo sobre a avaliação
do fenômeno do consumo de álcool em adolescentes de 12 a 18 anos de
escolas públicas da cidade de Coimbra19 aponta que a maioria dos ado-
lescentes já consumiu bebidas alcoólicas, reforçando a necessidade de
desenvolver precocemente programas de prevenção, sobretudo no pró-
prio ambiente escolar. Para as autoras, a prevenção pode se desenvolver
em diversos contextos e com grupos específicos. Entretanto, no con-
130 Estudos da Pós-Graduação

texto escolar, é possível contemplar, de forma organizada, um grande


número de crianças e adolescentes, nas idades de máximo risco, ini-
ciando o consumo dessas substâncias, o que favoreceu a implemen-
tação de um programa de prevenção de uso/abuso de álcool que, poste-
riormente, foi integrado no currículo escolar.
Pesquisa realizada com 383 adolescentes de 15 a 19 anos de
idade, com o objetivo de identificar com quem os participantes compar-
tilhavam informações sobre sexualidade, observou que 85,9% dos ado-
lescentes já haviam participado alguma vez de grupos educativos sobre
sexualidade na escola, ratificando a importância do ambiente escolar
para promoção da saúde sexual e reprodutiva de adolescentes.20
Ao pesquisarem sobre o estágio de mudança do comportamento
dos pais em relação à comunicação com os filhos adolescentes sobre
sexo/sexualidade e medidas preventivas de HIV/Aids, identificaram
que os pais estavam em distintos estágios de mudança frente à sua par-
ticipação na prevenção para HIV/Aids dos filhos adolescentes, ressal-
tando a dificuldade de abordar sexo/sexualidade, a falta de interesse de
buscar informações sobre os temas ou mesmo o desconhecimento como
obstáculos que impediram aos pais um papel mais proativo na pre-
venção dessa epidemia.21 Com isso, reforçam a importância da criação
de estratégias junto às escolas, famílias e unidades de saúde, a fim de
lhes favorecer uma vida sexual e reprodutiva mais saudável.
Autores relatam o êxito de um programa de atenção integral à
saúde ocular desenvolvido com 600 professores e 22.118 pré-escolares,
constituído por ações educativas, de prevenção, assistência e reabili-
tação, o que pôde contribuir na detecção precoce das alterações visuais
das crianças, por meio da prevenção e da promoção da saúde ocular no
âmbito escolar.10
Assim, a promoção da saúde escolar, baseada em pesquisas e
práticas, tem evoluído durante as últimas décadas, acompanhando as
iniciativas de Promoção da Saúde mundo afora.14
Em estudo sobre riscos e vulnerabilidades relacionados à sexua-
lidade na adolescência, destaca a relevância da união de ações e ideias
de profissionais de saúde e da escola. Para estes, a escola é um ambiente
favorável para prática de Educação em Saúde com adolescentes e a
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 131

parceria entre escola e profissionais de saúde, notadamente o enfer-


meiro, pode contribuir para o “empoderamento” desses indivíduos na
realização de medidas preventivas e, consequentemente, na efetivação
de ações que possibilitem a redução da vulnerabilidade desses adoles-
centes às DST e à gravidez não planejada.22
O processo pedagógico da enfermagem, com ênfase na Educação
em Saúde, encontra-se em evidência, já que atualmente é reconhecido
como estratégia promissora no enfrentamento dos múltiplos problemas
de saúde que afetam as populações e seus contextos sociais, tendo o
enfermeiro destaque, já que é o principal atuante no processo de cuidar
por meio da Educação em Saúde, ao estabelecer uma relação dialógico-
-reflexiva enfermeiro/cliente, em que este último busque conscienti-
zar-se sobre sua situação de saúde-doença e perceba-se como sujeito de
transformação de sua própria vida.23
Com isso, a atuação do enfermeiro enquanto agente promotor de
ações de saúde no cenário escolar assume papel preponderante, já que a
enfermagem, cujo campo de ação vem sendo ampliado dia após dia,
historicamente tem desenvolvido ações de promoção da saúde, de pre-
venção de riscos, de educação, de reabilitação social, tanto nas institui-
ções de saúde, de educação e na própria comunidade.16

O enfermeiro na escola e a sua importância

O trabalho do enfermeiro na escola se reveste da maior impor-


tância, uma vez que a parceria da escola com os enfermeiros, por meio
de métodos diversificados, interativos e construtivos pode auxiliar na
identificação precoce de fatores de risco, minimizar repercussões nega-
tivas na qualidade de vida dos estudantes, bem como promover o desen-
volvimento saudável destes, traduzindo-se em resultados promissores
para este grupo.16
No relato de experiência acerca de programa educativo sobre se-
xualidade e DST realizado com um grupo de adolescentes, destaca-se
como ponto facilitador para a operacionalização das oficinas realizadas
com este grupo e o alcance dos objetivos propostos, o fato do envolvi-
mento contínuo de educadoras e enfermeiros, além do conhecimento
132 Estudos da Pós-Graduação

sobre os temas específicos, gerando credibilidade por parte dos adoles-


centes ao trabalho realizado por estes profissionais.24
Em estudo com adolescentes, também enfatizam a importância
do trabalho do enfermeiro na promoção da saúde, com ênfase nas ações
de Educação em Saúde, destacando que ele é capaz de propiciar ações
para o “empoderamento” dos sujeitos, bem como para o exercício de
uma cidadania solidária.25
Ao avaliarem as estratégias realizadas pelo enfermeiro no am-
biente escolar de um Centro Municipal de Educação Infantil, através do
Projeto de Extensão Aprendendo Saúde na Escola, concluem a impor-
tância da inserção do enfermeiro nesse cenário, contribuindo para pro-
teção e promoção da saúde do escolar. Por meio da atuação deste pro-
fissional, através de atividades individuais e coletivas, assistenciais e
educativas, os enfermeiros contribuíram na diminuição da violência
infantil durante os três anos de atuação na escola.26
Fica evidente, portanto, que o enfermeiro desenvolve importante
papel para o fortalecimento da promoção da saúde, ao realizar ações in-
tersetoriais, sobretudo através da parceria entre saúde e educação. Logo,
é notória a relevância deste profissional no desenvolvimento de ações de
prevenção de doenças e agravos e de Educação em Saúde com crianças,
adolescentes e jovens no contexto escolar, reduzindo riscos e vulnerabi-
lidades o mais precocemente possível, gerando bem-estar individual e
coletivo e promovendo a qualidade de vida e saúde deste grupo.

Ações do enfermeiro escolar nos programas do


governo brasileiro

Nas últimas décadas, alguns programas do governo brasileiro


têm levado em consideração a saúde do adolescente e por este público,
notadamente, não procurar os serviços de saúde, o ambiente escolar foi
o espaço preconizado por tais programas.
No que tange à saúde do adolescente, no âmbito nacional, alguns
programas e projetos foram implementados desde a promulgação da
Constituição Federal, em 1988. Vale ressaltar que o primeiro programa,
lançado pelo Ministério da Saúde, foi o Programa de Saúde do
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 133

Adolescente (Prosad), em 1988, que tinha como intuito realizar ações


de cunho educativo e preventivo, levando em consideração o caráter
multiprofissional, intersetorial e interinstitucional, e tinha como pú­
blico-alvo adolescentes entre 10 e 19 anos de idade.26
Dando continuidade às ações feitas no território nacional, em
2000/2001 foi lançado, pelo Ministério da Saúde, o projeto Adolescentes
Promotores de Saúde e Protagonismo Juvenil, que tinha o intuito de
formar agentes multiplicadores em prol da melhoria das condições pró-
prias e das comunidades, além de reduzir alguns riscos como gravidez
precoce, DST/HIV/Aids, uso de drogas, acidentes e diferentes formas
de violência.27 Salienta-se, ainda, que, em 2001, a vacina contra hepa-
tite B foi ampliada ao público, passando a abranger pessoas com menos
de 20 anos de idade.
No que tange à saúde sexual e reprodutiva, o Ministério da Saúde,
em parceria com o Ministério da Educação, lançou, em 2003, o projeto
Saúde e Prevenção nas Escolas – SPE, tendo como escopo central a
promoção da saúde sexual e reprodutiva, almejando a redução da vul-
nerabilidade de adolescentes e jovens às DST/Aids e à gravidez pre-
coce, por meio da articulação entre o cenário escolar e as unidades bá-
sicas de saúde.28
Logo após, desenvolveu-se a Política Nacional de Atenção à Saúde
Integral de Adolescentes e Jovens, que foi iniciada em 2004, com ações
voltadas ao aperfeiçoamento da rede de saúde, como a organização de
serviços de atenção à saúde de adolescentes e jovens nos estados e muni-
cípios, fortificando a relevância de um serviço de saúde organizado para
garantir o acesso de adolescentes e jovens a ações de promoção da saúde,
prevenção, atenção a agravos e doenças, bem como reabilitação, respei-
tando os princípios organizativos e operacionais do SUS.29
Em 2007, no entanto, o Ministério inseriu o SPE em um novo e
importante programa, o Programa Saúde na Escola – PSE, que tem como
objetivo realizar uma gama de ações de prevenção, promoção e atenção à
saúde de adolescentes e jovens do ensino básico público, com articulação
entre as escolas públicas e a Estratégia de Saúde da Família – ESF.30
Com base no exposto, percebe-se que, desde o início da criação
de projetos/programas que abordam a saúde do adolescente, a temática
134 Estudos da Pós-Graduação

DST/Aids esteve presente de forma direta ou indireta, o que, de qual-


quer modo, mostra que esse tema preocupou e chamou a atenção dos
gestores, pelo menos desde a promulgação da Constituição da
República de 1988.
Diante do exposto, nota-se que o enfermeiro escolar não tem
uma política que o rege fortemente no cenário nacional; o que percebe
é que existem algumas políticas públicas em que o enfermeiro é inse-
rido e acaba desenvolvendo ações na escola. No entanto, esta compe-
tência de enfermeiro escolar não está definida dentro das políticas pú-
blicas do adolescente.
De acordo com o presente capítulo, percebe-se a importância do
enfermeiro escolar; no entanto o papel deste profissional não está con-
solidado no cenário nacional, devendo obter maior espaço dentro das
políticas públicas e sendo um novo campo de atuação aos enfermeiros,
pois, como a adolescência é uma etapa da vida que necessita de um
olhar mais apurado, havendo o enfermeiro escolar, este grupo etário
terá um cuidado mais completo e adequado.

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DOAÇÃO DE SANGUE E
COMPORTAMENTO SAUDÁVEL
Uma realidade na fase da adolescência

Queliane Gomes da Silva Carvalho


Thábyta Silva de Araújo
Stella Maia Barbosa
Kauanne Brandão Silva
Maria Eduarda Magalhães Araújo
Neiva Francenely Cunha Vieira
Fabiane do Amaral Gubert
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

A adolescência é uma fase da vida assinalada por mudanças bio-


lógicas, psicológicas e sociais. Nela os adolescentes buscam suas identi-
dades e são influenciados pelo contexto social e cultural. Este período se
constitui como uma fase de transição do indivíduo, da infância para a
idade adulta, evoluindo de um estado de intensa dependência para uma
condição de autonomia pessoal e de uma condição de necessidade de con-
trole externo para o autocontrole, sendo marcado por mudanças evolutivas
rápidas e intensas nos sistemas biológicos, psicológicos e sociais.1
Diante dessa realidade é preciso que a sociedade valorize o po-
tencial de contribuição do jovem e o apoie, permitindo que seus pensa-
mentos, desejos, ideias e críticas sejam ouvidos. Esta postura pressupõe
a abertura de um espaço para o adolescente exercer sua liberdade e
participar mais ativamente de seu processo de amadurecimento.2
Diversas iniciativas de educação e saúde, apoiadas pelos hemo-
centros brasileiros (Distrito Federal, Sergipe, Santa Catarina, São Paulo,
140 Estudos da Pós-Graduação

Amazonas, entre outros), estão sendo desenvolvidas a fim de instruir e


capacitar crianças e adolescentes a realizarem doações de sangue de
maneira consciente e combater o mito do medo de doar sangue.
O sucesso na ampliação do número de doação de sangue depende
de ações educativas em prol da sua adesão quanto à prática de um estilo de
vida responsável por parte desses potenciais doadores de sangue. A doação
de sangue é um ato voluntário de permitir a retirada do seu próprio sangue
para beneficiar pessoas que dele necessitam; tal ato é reconhecido como
uma ação altruísta de fundamental importância para a sociedade.3
É crescente a demanda por sangue na sociedade e, desta forma, a
fidelização e garantia de sangue com qualidade é uma meta a ser seguida
por todos os bancos de sangue brasileiros. Neste cenário, surge, desde
2011, a ampliação da idade para doação de sangue de 18 para 16 anos,
quando foram incluídos os adolescentes como potenciais doadores de
sangue e o que pode mudar para melhor, em curto, médio e longo prazo,
a qualidade e o quantitativo de doações e bolsas de sangue disponíveis.
Neste capítulo abordaremos a temática doação de sangue no con-
texto da adolescência, perpassando desde o histórico da hemoterapia no
Brasil, a introdução do adolescente no cenário de doação de sangue
para ampliação do número de doações, as ações direcionadas a esse
público, a fim de garantir a qualidade do sangue doado e a conscienti-
zação da importância do ato de doar e o papel do enfermeiro no con-
texto da doação de sangue.

O significado do sangue e sua utilização: aspectos gerais

O sangue sempre possuiu papel de destaque na história da huma-


nidade; representava vida e cura. Muitos séculos se passaram até que
seu papel terapêutico fosse assumido, apesar dos mitos e folclores que
esse tema sempre despertou, principalmente devido ao desconheci-
mento e equívocos sobre a doação de sangue.4
Nas últimas duas décadas houve crescimento considerável da
preocupação com a garantia da segurança transfusional, desencadeada,
principalmente, pelo surgimento da epidemia de aids.5 Paralelamente, o
envelhecimento da população, a violência e os acidentes, associados
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 141

aos avanços técnico-científicos na área médica, trouxeram um aumento


na demanda por transfusões, nem sempre acompanhado por um incre-
mento no número de doadores de sangue, 6 visto que o mesmo é um
elemento indispensável para a manutenção da vida dos indivíduos e sua
perda em grandes quantidades pode ocasionar a morte. O único modo
de consegui-lo, para que ocorra a transfusão, é a partir da doação espon-
tânea de pessoas que procuram os centros de hemoterapia, visto que,
segundo as leis brasileiras, a comercialização de hemocomponentes ou
pagamento de qualquer natureza é proibida.7
A hemoterapia é o tratamento realizado por meio da adminis-
tração de hemocomponentes e/ou hemoderivados obtido através de do-
ação de sangue e trata-se de uma especialidade da área da saúde que
reúne médicos (hemoterapeutas), enfermeiros, bioquímicos, assistentes
sociais, entre outros profissionais da área da saúde.8 O enfermeiro
exerce funções relevantes no atendimento a doadores e/ou a receptores,
buscando disponibilizar serviços e produtos de qualidade, atuar na pro-
dução de hemocomponentes, no atendimento assistencial e no desen-
volvimento do ensino e da pesquisa no setor.9
Apesar do incessante esforço dos grupos que trabalham com cap-
tação e coleta de sangue em nosso país, a OMS relata que somente 1,8%
da população mundial é doadora de sangue, quando o ideal seria de 3 a
5%, o que gera como consequência uma deficiência nos estoques de
sangue para o atendimento da população.10
Por meio da doação de sangue, é possível a extração dos seguintes
componentes sanguíneos: hemácias, plaquetas, plasma e leucócitos. Do
plasma são extraídos os hemoderivados para tratamento de distúrbios da
coagulação, além de matéria prima para a fabricação da cola de fibrina,
utilizada para reduzir ou deter hemorragias em vários tipos de cirurgias
e em tratamento de pessoas com dificuldade de coagulação.

Ações desenvolvidas pelos hemocentros na captação


de doadores

A captação de doadores é o momento em que a doação de sangue


tem seu início em potencial, fazendo-se necessária a criação de estraté-
142 Estudos da Pós-Graduação

gias que incentivem a população a tornar esse gesto parte dos seus há-
bitos e valores de vida. Como a doação não faz parte da vida da maioria
da população, seu planejamento é fundamental para o sucesso da cap-
tação.11 Esse planejamento deve levar em consideração o perfil socioe-
conômico, a faixa etária, a escolaridade, o conhecimento prévio sobre
doação; esses dados subsidiariam a criação de uma estratégia efetiva,
que consegue sensibilizar os potenciais doares à importância do gesto.
Estudos mostram que um bom atendimento, a ampliação de co-
letas, o aumento de oportunidade de coletas e a exposição a mensagens
de altruísmo são fatores que contribuem para a conquista, retenção e
fidelização dos doadores. No mundo, as estratégias educativas são as
mais efetivas, como os vídeos educativos sobre a necessidade da do-
ação de sangue. Uma campanha educativa baseada em um super-herói
que precisa da ajuda dos doadores para salvar vidas motiva o altruísmo
da população e o desejo de ajudar, por exemplo.11
Trabalho de Araújo e colaboradores,12 realizado em Recife, re-
velou que o perfil de doadores que retornaram ao serviço de hemote-
rapia para realização de nova doação (tendendo a se tornar um doador
fidelizado) é, na sua maioria, do sexo masculino, com idade entre 25 e
34 anos, segundo grau completo, casado ou em uma relação estável.
Este estudo possibilitou o reconhecimento da população mais receptiva
à doação de sangue e, desta forma, reforça as melhores estratégias de
captação para essa população. Muitas são as vantagens do recrutamento
de doadores jovens, como, além da saúde global, o seu potencial para
doações vitalícias. Mas há evidências de que as pessoas jovens são, em
geral, aquelas que mais provavelmente praticam comportamentos de
risco associados com infecções transmissíveis por transfusão.13
Os motivos mais comuns para doação é a solicitação por amigos
ou parentes e a iniciativa própria; uma importante parcela dos doadores
de repetição tem histórico de doadores de sangue na família.14
Porém, as estratégias de captação devem ser usadas com mode-
ração e precaução. No Brasil, a doação de sangue remunerada é proi-
bida por lei, mas nos países em que é permitida (sistema misto, com
doadores voluntários e também remunerados), como os Estados Unidos,
Alemanha, Áustria, esse tipo de incentivo costuma atrair candidatos
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 143

que podem pôr em risco à segurança transfusional, sendo assim, ques-


tionável se o aumento de candidatos é favorável nesse aspecto. A su-
gestão da Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial
de Saúde é que incentivos não financeiros sejam usados para atrair os
doadores de primeira vez.15
Estratégias de captação através das mídias sociais também são
opções válidas. O uso de mensagens de texto pelo celular, e-mails, we-
bsites e redes sociais são ferramentas rápidas e apropriadas para di-
fundir informação que motive possíveis doadores. E com visão na fide-
lização dos doadores, mensagens de agradecimento e lembrete da data
da próxima doação seriam formas adequadas de usar a comunicação
eletrônica para melhorar o estoque dos bancos de sangue.16

O adolescente no cenário da doação de sangue:


possibilidades e desafios

Diante da necessária demanda de sangue e por terem uma boa


saúde geral, além do potencial para doações durante toda a vida, ao re-
crutar doadores mais jovens oferecem-se vantagens. Contudo, há sinais
de que são os jovens, geralmente, os mais vulneráveis a comporta-
mentos de risco associados à transmissão de infecções por transfusão13
por estarem experimentando romances e iniciando precocemente sua
vida sexual, expondo-se ao risco de contrair alguma doença relacionada
ao sexo desprotegido como o HIV.17 No Brasil, foram diagnosticados
686.478 casos de infecção por HIV entre 1980 e 2013, dentre os quais
185.887 (27%) foram em adolescentes e jovens de 15 a 29 anos.18
Em 2011, a portaria no 1.353, do Ministério da Saúde, que dis-
cursa sobre o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos,
reduziu a idade mínima necessária para se candidatar à doação, pas-
sando a incluir adolescentes de 16 e 17 anos, desde que com consenti-
mento formal do responsável legal para cada doação.19
No Brasil, 41,8% da população tem idade inferior a 24 anos;
destes, 11% encontram-se na faixa etária de 10 a 19 anos,20 totalizando
cerca de 21 milhões de adolescentes no Brasil, considerando o período
dos 12 aos 18 anos incompletos. O período da adolescência possibilita
144 Estudos da Pós-Graduação

inúmeras mudanças de atitude diante da educação, da cultura, da saúde


e das dinâmicas sociais. 21
Desses 21 milhões, 31% vivem na Região Nordeste e, especifica-
mente no Ceará, existem atualmente em torno de 1,7 milhões de adoles-
centes entre 10 e 19 anos, correspondendo a 16% da população do es-
tado.20 Por ano, cerca de 50 mil candidatos à doação procuram o
Hemocentro de Fortaleza para realizar uma doação; de 2011 a junho de
2014, 2873 adolescentes entre 16 e 17 anos procuraram o serviço, o que
representa cerca de 2% do total de candidatos.22
Apesar da recente redução da idade mínima para doação de
sangue, estudos mostram que, no Brasil, é escassa a quantidade de ado-
lescentes doadores.
Contudo, apesar de escassos, alguns hemocentros brasileiros já
se engajaram em projetos referentes aos “doadores do futuro”, mesmo
antes da implementação da diminuição da idade para doar. Esses pro-
jetos visam à inserção do tema “doação de sangue”, “doação segura” e
incentivos para a adesão precoce e contínua do habito de doar sangue
entre os jovens do ensino fundamental. Neste sentido, hemocentros e
escolas firmam vínculos e parcerias em prol do enriquecimento curri-
cular, com a inserção de temas transversais relacionados à saúde, for-
mação cidadã e conscientização e captação de doadores, quer sejam os
alunos ou seus familiares, produtos da multiplicação da informação
sobre a importância de se doar sangue.
Um exemplo exitoso no Brasil é o Projeto Escola, desenvolvido
pelo Setor de Captação de Doadores do Centro de Hematologia e
Hemoterapia de Santa Catarina – HEMOSC. O projeto surgiu para desmis-
tificar preconceitos e tabus sobre a doação de sangue, sensibilizar e educar
jovens para a doação com o objetivo de “formar futuros doadores” ou mul-
tiplicadores da doação de sangue. Iniciou-se na rede estadual da Grande
Florianópolis, no final de 1996, com a participação de mais de 60.000
alunos de escolas públicas e privadas, até o final de 2005. Tem como ativi-
dade central o desenvolvimento de palestras sobre a doação de sangue,
além de outros desdobramentos pedagógicos. Dessa forma, acredita-se na
sensibilização, conscientização e educação para a saúde, além de contribuir
para a segurança e qualidade do sangue a ser transfundido.23
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 145

Alguns estudos internacionais trazem indicativos de como o


jovem percebe o processo de doação de sangue, seus medos, dúvidas e
sentimentos relativos à motivação para doar.
Uma pesquisa realizada na cidade de Hong Kong com jovens
sobre o comportamento dos doadores de sangue revelou que eles sa-
biam seus tipos sanguíneos, a função do sangue como componente he-
moterápico e quais suas contribuições para salvar vidas. Observou-se,
no estudo, que os doadores eram mais saudáveis (96%) do que os não
doadores (90%) e que estavam menos propensos a ter comportamentos
de risco (95,7%) do que os não doadores (92,7%).24
Estudo norte-americano com estudantes afro-americanas do sexo
feminino revelou que 49% delas já havia doado sangue previamente,
enquanto 51% nunca doou. Em ambos os casos a motivação prevalente
teria sido a conveniência da doação, com 89% entre as doadoras e 82%
nas não doadoras. As jovens que doavam sangue consideravam o pro-
cesso da doação não muito doloroso (82%), acreditavam na segurança
de receber uma transfusão (61%) e estavam mais cientes da necessidade
de doar para contribuir com o estoque local.25
Em estudo realizado com adolescentes de 13 a 21 anos sobre
motivação, obstáculos e estratégias de captação para a doação de
sangue, quando foram questionados sobre o conhecimento acerca da
doação de sangue, obteve-se, de uma escala de cinco pontos, a média de
três pontos para ambos os sexos. A motivação mais prevalente para doar
sangue, em ambos os sexos, foi: “Quando alguém muito importante
para mim estiver em uma situação de emergência” e a questão de salvar
a vida de alguém através da doação. Além disso, a maioria dos adoles-
centes afirmou não conhecer ninguém que doasse sangue.26
Podemos observar, a partir desses dados, que o adolescente
bem informado e consciente doa com mais segurança e pode ser um
multiplicador de ações benéficas ao ato de doar. Uma menor vi-
vência com o tema em questão acaba gerando pouca motivação e
empatia, necessitando de um fator extra para o jovem se motivar a
doar, tais como um exemplo próximo, um ente querido necessitado
ou um ato heroico na eminência da morte de alguém cujo pedido lhe
chegou ao conhecimento.
146 Estudos da Pós-Graduação

Ainda na pesquisa sobre motivação, na pergunta: “Quem seria


capaz de lhe influenciar a doar sangue”? A resposta foi: “um doador”. E
o obstáculo mais citado foi o medo de passar mal durante ou após a
doação, seguido pelo medo de agulhas e o medo do desconhecido.26
O conhecimento insuficiente mostra-se um obstáculo na doação
de sangue por parte do adolescente; uma forma de minimizar esse fator
seria a conscientização da população em geral, incluindo os adoles-
centes, sobre todas as etapas do ato de doar, desmistificando esse pro-
cesso para que todos se sintam dispostos a procurar os hemocentros de
sua região.
A adolescência, apesar de ser uma fase marcada por mudanças e
dilemas, deve ser encarada também como um período de transição e
compreensão sobre atitudes cidadãs e de reconhecimento do seu papel
na sociedade. Desta forma, o ser adolescente deve se beneficiar do co-
nhecimento da importância do ato de doar sangue, atitude altruísta que
pode ser reforçada pela compreensão sobre a necessidade do sangue
para a vida e das etapas e cuidados necessários para se oferecer um
sangue seguro para doação.

Aspectos éticos e legais da doação de sangue e suas


implicações na fase da adolescência

A Constituição Federal brasileira, no artigo 199, parágrafo 4 diz:


“A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a re-
moção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de trans-
plante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e
transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de
comercialização”.
No sentido de regulamentar e executar tais determinações, a
Anvisa, órgão regulamentador dos procedimentos hemoterápicos no
Brasil, tem organizado e acompanhado os procedimentos hemoterá-
picos, mais recentemente, por meio da Resolução RDC 57/2010 e pela
portaria 1.353, de 2011, do Ministério da Saúde.27, 19 Tais legislações
listam inaptidões clínicas, definitivas e temporárias para a doação de
sangue; principais doenças infecciosas associadas à transmissão pelo
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 147

sangue; medicamentos que impedem ou prorrogam a doação de sangue;


cirurgias e sua correlação com a doação de sangue e vacinas, que
também podem causar inaptidão temporária à doação, além de norma-
tizar e padronizar os procedimentos hemoterápicos, incluindo procedi-
mentos de coleta, processamento, testagem, armazenamento, transporte
e utilização, visando garantir a qualidade do sangue.
Pela portaria 1.353 podem ser aceitos candidatos à doação de
sangue com idade de 16 (dezesseis) e 17 (dezessete) anos, com o con-
sentimento formal do responsável legal, para cada doação. Este consen-
timento autoriza o cumprimento de todas as exigências e responsabili-
dades, bem como a realização da triagem clínica. Ressalta-se que
somente o próprio adolescente doador pode receber os resultados da
triagem laboratorial, não sendo permitida a entrega a terceiros, nem aos
seus responsáveis legais. No caso de doadores menores de 16 anos, a
doação também será possível, contanto que se justifique a necessidade,
riscos e benefícios, além da capacidade física do doador.19
Com a ampliação da faixa etária para doação, a expectativa do
governo federal é ampliar o volume de sangue coletado no Brasil que,
atualmente, chega a 3,5 milhões de bolsas por ano. O esforço do Ministério
da Saúde é atingir os padrões recomendados pela Organização Mundial
de Saúde (OMS): cerca de 5,7 milhões de bolsas de sangue por ano.28

Sugestões e considerações sobre as condutas do enfermeiro


no contexto da doação de sangue na adolescência

Diversas práticas rigorosas de seleção de doadores de sangue


foram adotadas nos hemocentros de diversos países da Europa, América
do Norte e América Latina nas últimas décadas, inclusive no Brasil.
Ações realizadas na triagem clínica (questionários e entrevistas) tem o
objetivo de identificar doadores com maior potencial de infecção, com
base em características comportamentais e triagem sorológica, visando
ao decréscimo da transmissão de doenças por transfusão.29 Com re-
lação à captação de doadores de sangue, até o final da década de 80, na
maioria dos centros de hemoterapia, essa atividade era feita de forma
empírica e coercitiva, visando exclusivamente aos estoques de sangue.
148 Estudos da Pós-Graduação

Os profissionais que atuavam na área eram conhecidos como cate-


quistas ou recrutadores, não sendo exigida dos mesmos qualquer forma
de treinamento ou qualificação.30 O importante era trazer candidatos à
doação de sangue para o hemocentro com o objetivo de manter os esto-
ques ideais de hemocomponentes.
Porém, a busca pela qualidade e segurança transfusional mudou
essa realidade, pois o reconhecimento de que o doador consciente é fun-
damental para a segurança transfusional tornou necessária a mudança do
perfil do profissional que buscava e obtinha os candidatos à doação e dos
próprios doadores de sangue. Diante disto, os adolescentes foram vistos
como um público com um ótimo perfil para integrar a população doa-
dora de sangue. A portaria no 1.353, do ano de 2011, ampliou a faixa
etária para a doação de sangue e, com essa inclusão, os enfermeiros
devem promover maior participação dos adolescentes nesse ato de soli-
dariedade e ao mesmo tempo ter a oportunidade de identificar possíveis
situações de riscos comportamentais de saúde. Daí a relevância de co-
nhecer o perfil sociodemográfico dos adolescentes doadores, verificando
os motivos de inaptidão para doação de sangue. Essas informações ser-
virão para um reforço das práticas educativas, a fim de promover a saúde
dos adolescentes no sentido de adotar comportamentos sexuais saudá-
veis e assegurar que o processo de doação seja mais seguro.
Antigamente, o enfermeiro exercia a profissão de forma empí-
rica, porém hoje vivencia uma realidade adaptada à busca de conheci-
mento científico, conquistando espaços diversificados na área da saúde.
Destaca-se a atuação desses profissionais como membro fundamental
da equipe multidisciplinar nos centros de hemoterapia, permitindo-lhes
assumir, dentro da legalidade, novas funções e cargos.31 A expansão dos
limites da prática de enfermagem requer perícia nas habilidades de en-
trevistar, observar, avaliar e realizar exames físicos, executar novas téc-
nicas clínicas, compreender padrões de comportamento, coletar dados,
promover atividades e solucionar problemas.32
Portanto, a triagem clínica consiste de uma entrevista em que o
profissional realiza a anamnese, sendo de extrema relevância o conhe-
cimento dos hábitos e comportamento dos candidatos à doação, a fim
de obter dados para a segurança da saúde do doador e para que não haja
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 149

prejuízo ao receptor. Todos os dados obtidos e a individualidade do


doador devem ser mantidos em sigilo absoluto. Nesse setor, o doador
fica frente a frente com o triagista e é o momento em que o cliente de-
verá sentir segurança para que a entrevista seja clara e com veracidade
das informações. O triagista é responsável por todas as informações
inerentes à doação e os motivos de inaptidão do doador.
Diante disso, observa-se a importância do triagista e captador com
qualificação para essa finalidade. Esses profissionais devem ser capazes
de estabelecer um canal de comunicação compatível com o perfil do can-
didato adolescente à doação, a fim de detectar, através de uma visão ho-
lística, os dados exigidos para aumentar a segurança transfusional.31
Percebe-se, também, a importância dos enfermeiros envolvidos
no recrutamento e seleção dos doadores de sangue que, além de serem
responsáveis em avaliar se o adolescente está apto ou não para realizar
a doação de sangue, também são responsáveis em promover a saúde
desse grupo populacional. Segundo a Resolução do Conselho Federal
de Enfermagem no 306/2006, o enfermeiro tem como competência e
atribuição as atividades de “planejamento, execução, coordenação, su-
pervisão e avaliação dos procedimentos hemoterápicos e de enfer-
magem nas unidades, visando assegurar a qualidade do sangue e hemo-
componentes/hemoderivados coletados e transfundidos”.33
Desta forma, destacamos a educação em saúde como uma ferra-
menta primordial para o trabalho dos enfermeiros com todos os adoles-
centes candidatos à doação de sangue que comparecem aos hemocen-
tros do país com ações específicas de acolhimento, estratégias de
captação de adolescentes doadores de sangue e fidelização ao serviço,
ajudando esse público adolescente a contribuir com os estoques dos
bancos de sangue e aumentando a segurança transfusional.

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PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
Fundamentais para uma vida saudável e
para a prevenção de DST/Aids

Maria Isis Freire de Aguiar


Paulo Henrique Alexandre de Paula
Fernanda Lima Aragão Dias
Marli Teresinha Gimenez Galvão
Léa Maria Moura Barroso Diógenes
Fabiane do Amaral Gubert
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

A s bases conceituais da Promoção da Saúde (PS) foram cons-


truídas ao longo da história a partir de diversos debates e conferências
internacionais, que tiveram como precursores o Relatório de Lalonde,
em 1974, introduzindo o termo Promoção da Saúde, e a Conferência
Internacional de Alma-Ata (1978), com a proposta de Saúde para Todos
no Ano 2000 e a estratégia de Atenção Primária de Saúde.1
A primeira Conferência Internacional de Promoção da Saúde, reali-
zada em Ottawa – Canadá (1986), foi um marco na construção de um novo
paradigma para as políticas de saúde, que traçou os cinco eixos de ação para
a promoção da saúde: construção de políticas públicas saudáveis, criação
de ambientes favoráveis à saúde, reforço da ação comunitária, desenvolvi-
mento de habilidades pessoais e reorientação dos serviços de saúde.2
Em seguida, outras importantes conferências internacionais
aconteceram nos últimos anos, abrindo um espaço de discussão perma-
156 Estudos da Pós-Graduação

nente e elaboração de documentos oficiais nos quais foram formuladas


as bases conceituais e políticas da promoção da saúde em todo o mundo,
incluindo a Declaração de Adelaide (Austrália, 1988); Declaração de
Sundsvall (Suécia, 1991); Declaração de Bogotá (Colômbia, 1992);
Declaração de Jacarta (Indonésia, 1997); Conferência do México (2000)
e Carta de Bangkok (Tailândia, 2005).3
No Brasil, a influência desses debates contribuiu para os movi-
mentos da Reforma Sanitária e a posterior criação e implantação do
Sistema Único de Saúde. Com base nesses princípios, foi criada a
Estratégia de Saúde da Família, o primeiro programa a se inspirar e
operar com preceitos de PS, fundamentando a proposta da Política
Nacional de Promoção da Saúde, elaborada a partir de 2002 e aprovada
pelo Ministério de Saúde, portaria no 687, de 30 de março de 2006.4, 5
Essa proposta surgiu a partir da necessidade da implementação
de diretrizes e ações para a promoção da saúde, como uma das estraté-
gias de produção de saúde, possibilitando que intervenções nesse setor
tenham como objeto os problemas e as necessidades de saúde e seus
determinantes e condicionantes, de modo que a organização da atenção
em saúde envolva as ações e os serviços que operem sobre os efeitos do
adoecer, extrapolando o espaço das unidades e do sistema de saúde,
incidindo sobre as condições de vida e favorecendo a ampliação de es-
colhas saudáveis por parte dos sujeitos e das coletividades.4
Desse modo, a promoção da saúde vem representar um conceito
unificador para aqueles que reconhecem a necessidade de mudanças
nas formas e condições de vida, a fim de promover a saúde. A promoção
dela representa uma estratégia de mediação entre as pessoas e seus am-
bientes, sintetizando escolha pessoal e responsabilidade social em
saúde para criar um futuro mais saudável.6
A Carta de Otawa (1986) traz o conceito de promoção da saúde
ainda aceito na atualidade, definindo-a como um processo de capacitação
das pessoas e da comunidade para aumentar o controle e a melhoria da
sua saúde e a qualidade de vida. Destaca, também, que o completo bem-
-estar físico, mental e social só poderá ser alcançado se o indivíduo ou
grupo for capaz de identificar e realizar aspirações, satisfazer suas neces-
sidades e interagir com o ambiente de forma favorável.7
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 157

A promoção da saúde tem ganhado destaque no campo da saúde


pública não apenas como uma das estratégias de produção de saúde,
atuando nos determinantes do processo saúde-doença, mas como um
instrumento para obtenção da qualidade de vida.
Qualidade de vida (QV) é “uma noção eminentemente humana,
que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida fa-
miliar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial”.8 O
termo abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, expe-
riências e valores de indivíduos e coletividades, envolvendo aspectos
históricos, culturais e sociais, que determinam o padrão de conforto e
bem-estar por uma sociedade.
A qualidade de vida é definida pela Organização Mundial da
Saúde como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no con-
texto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.9
Qualidade de vida também é entendida como a autoestima e o
bem-estar pessoal e inclui uma série de aspectos como a capacidade
funcional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a interação so-
cial, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio
estado de saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade, o estilo de
vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o am-
biente em que se vive.10
Autores diferenciam duas tendências na conceituação do termo
QV: um conceito genérico e outro ligado à saúde. De forma genérica,
QV apresenta uma acepção mais ampla, preterindo fatores individuais
ligados às disfunções ou agravos. Por outro lado, a QV relacionada à
saúde engloba dimensões específicas do estado de saúde, sendo uma
importante medida do impacto da saúde.11
A relação entre as condições objetivas e o estado psicossocial é
imperfeita, sendo indispensável para a promoção da saúde conhecer as
expectativas do sujeito em relação à QV.12 Nesse sentido, além de servir
de parâmetro para avaliação das condições de saúde e repercussões das
doenças e tratamentos na vida das pessoas, a qualidade de vida deve ser
um elemento a ser buscado no âmbito da promoção da saúde da popu-
lação nas diversas fases do ciclo vital.
158 Estudos da Pós-Graduação

No que se refere à qualidade de vida de crianças e adolescentes,


proteção e promoção representam desafios, cuja amplitude e complexi-
dade ultrapassam aqueles que as agências de saúde pública estabelecem
como sendo solução. Isto é importante, do ponto de vista social, por
entendermos que essa população é mais vulnerável, sendo constituída
por indivíduos imaturos, que não têm condições de enfrentarem sozi-
nhos as exigências do ambiente em que habitam.13

Vulnerabilidades da adolescência para DST/Aids e a


relevância da prevenção para a promoção da saúde

A adolescência é uma fase de transição da infância para a vida


adulta. É nessa fase que surge o despertar para a sexualidade e, geral-
mente, quando se inicia a atividade sexual. Em estudo com 91 adoles-
centes escolares do ensino médio da rede pública, na cidade de Umbaúba
– Sergipe, 72,5% afirmaram ter uma vida sexual ativa, sendo o sexo
masculino o de maior percentual.14
Essa iniciação precoce expõe essa faixa etária a uma situação de
extrema vulnerabilidade aos riscos, como uma gravidez indesejada e
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), tornando-se um grupo
prioritário no que concerne às ações de promoção da saúde, visando à
garantia do direito de acesso a informações e educação em saúde sexual
e reprodutiva, bem como a disponibilidade de métodos e recursos que
auxiliem na prevenção contra as DST/Human Immunodeficiency Virus
(HIV) e uma gravidez não planejada.
O início dos anos de 1980 marca a história do Brasil com os pri-
meiros casos de Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) notifi-
cados que surgiram entre os chamados grupos de risco: homossexuais,
usuários de drogas injetáveis e prostitutas.15 Entretanto, ao longo dos anos,
a evolução da epidemia revelou a capacidade de a aids alcançar todos os
que adotassem comportamentos de risco como, por exemplo, pessoas que
praticam relações sexuais desprotegidas sem o uso do preservativo.16
A noção de “risco individual” era bastante expressa na primeira
década da epidemia, noção conformada tanto por comportamentos cul-
turalmente adquiridos, como pela concepção epidemiológica de “grupos
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 159

de risco”. Na década de 90, contudo, a difusão da ideia de que “a aids é


uma epidemia de todos” força a mudança de percepção de “risco indi-
vidual” para uma “vulnerabilidade social”.17
Neste contexto, os adolescentes constituem um grupo que, atu-
almente, vem apresentando grande exposição a situações de riscos,
sejam eles físicos ou psicossociais, sendo a infecção pelo HIV uma
importante forma de se expressar essa vulnerabilidade, pois, com o
aumento da incidência das DST entre os jovens, as chances de adquirir
o HIV aumentaram paralelamente, fazendo com que o perfil epidemio-
lógico da aids tenha uma tendência à heterossexualização e à femini-
zação, especialmente entre mulheres de baixa renda e na faixa etária de
13 a 19 anos.18, 19
Segundo o último boletim epidemiológico, estima-se que 734
mil pessoas vivem com HIV/Aids, no Brasil, no ano de 2014, o que
corresponde a uma prevalência de 0,4%. Na população de 15 a 49 anos,
a prevalência é de 0,6%. Entre os jovens de 17 a 21 anos do sexo mas-
culino, a prevalência estimada, em 2007, foi de 0,12% e 1,2% nos ho-
mens que fazem sexo com outros homens da mesma faixa etária. Outro
dado relevante é que, na razão de sexo entre os mais jovens (13 a 19
anos), existem 30% a mais de homens que mulheres notificadas com
aids (razão de sexo de 13 casos em homens para cada 10 casos em mu-
lheres) no ano de 2013. Ao considerar os indivíduos com 20 anos ou
mais, observa-se que, à medida que aumenta a idade, a razão de sexo
diminui, indicando que há uma participação maior dos homens entre os
mais jovens e uma maior participação das mulheres entre os que pos-
suem idade mais avançada.20
Nas últimas décadas, devido ao aumento da liberdade sexual e ao
aparecimento da aids, entre outros fatores, a adolescência passou a ser
objeto de estudo de vários autores, sendo vista de maneira mais minu-
ciosa. O alto índice da epidemia de HIV/Aids entre adolescentes no
Brasil representa um importante campo de intervenção nos planos de
promoção, prevenção e assistência à saúde sexual e reprodutiva.21
Entende-se como vulnerabilidade social ao HIV/Aids, viven-
ciada pelas mulheres, a inter-relação de fatores distintos como baixa
escolaridade, exposição ao vírus por meio de relações heterossexuais
160 Estudos da Pós-Graduação

com companheiros de união estável, violência baseada em gênero, ex-


pectativa em relação à maternidade e pobreza.22
Por outro lado, destaca-se que adolescentes do sexo masculino
apresentam comportamentos de risco quando demonstram interesse
mais precocemente pelo início da vida sexual ao sofrerem pressão
dos pais e amigos, a fim de provar sua masculinidade. Além disso, os
meninos são mais desinibidos e menos cautelosos quanto às DST/
Aids e gravidez.23
Dessa forma, há que se considerar a vulnerabilidade dos ado-
lescentes às DST/Aids como uma resultante de distintos fatores indi-
viduais e sociais congruentes ao contexto em que se inserem os jo-
vens, devendo-se ter em mente a noção de que o grupo de risco tende
a individualizar e personificar a adversidade vivida, direcionada para
uma questão de conduta, ao passo que a vulnerabilidade social é o
resultado de um processo social relacionado à condição de vida e aos
suportes sociais.23, 24
Estudo desenvolvido em Oregon e Califórnia (EUA) com 2.801
estudantes avaliou a associação entre comportamento de risco (uso do
tabaco, consumo de álcool, uso de drogas ilícitas e comportamento se-
xual de risco) e autopercepção da qualidade de vida, por meio da apli-
cação do Youth Quality of Life Instrument - Surveillance Version
(YQOL-S). Os autores identificaram que os adolescentes que nunca se
envolviam em atividades de risco relataram maior qualidade de vida do
que aqueles que se envolviam ocasional ou frequentemente. Os adoles-
centes que se envolveram em múltiplos comportamentos de risco ti-
veram escores de QV ainda mais baixo do que aqueles que se envol-
veram em apenas um comportamento de risco para a saúde.25
Se vivenciar a fase da adolescência parece uma experiência com-
plexa, quando se soma a isso uma DST, a vivência pode ser ainda mais
desafiadora, podendo interferir na sua rotina familiar e social e trazer
impacto na sua qualidade de vida. No entanto, pesquisas que avaliam a
qualidade de vida de adolescentes com DST/Aids ainda são escassas.
Estudo longitudinal com 179 adolescentes e adultos jovens do
sexo feminino, entre as idades de 15 e 24 anos, portadores de HIV com-
portamentalmente adquirido, de seis clínicas em Nova York, Chicago,
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 161

Los Angeles, Miami e Nova Orleans, demonstrou pontuação média


para o componente de satisfação com a vida atual de 17,5 (intervalo de
8 a 40). O estigma e a depressão foram associados negativamente com
os níveis de qualidade de vida, enquanto jovens com maior apoio social
e aceitação da doença foram significativamente mais propensos a re-
latar maior satisfação com a vida e menor ansiedade relacionada à do-
ença. As participantes expressaram ainda alguma insatisfação com o
impacto que tem o HIV sobre a sua família e com o efeito que tem sobre
a sua vida sexual.26
Nesse sentido, conhecendo os riscos envolvidos no contexto dos
adolescentes frente ao HIV/Aids, pode-se, agora, destacar que a pre-
venção é uma “ferramenta” útil geradora de uma ação antecipada, obje-
tivando interceptar ou anular a evolução de uma doença, podendo ser
realizada em dois períodos: pré-patogênese e patogênese. A prevenção
primária que se faz com a intercepção dos fatores pré-patogênicos in-
clui a promoção da saúde, que consiste na adoção de medidas de ordem
geral, como a educação em saúde e a proteção específica, que abrange
a imunização, a saúde do trabalhador, o uso de preservativos e seringas
descartáveis, entre outros. No que tange à prevenção no período de pa-
togênese, pode-se agir através das seguintes ações: diagnóstico, trata-
mento precoce e limitação da invalidez.27
A qualidade de vida em relação ao jovem com HIV/Aids também
merece atenção, visto que, com os avanços no diagnóstico e tratamento
do HIV/Aids, essa infecção vem se tornando cada vez mais semelhante
às doenças definidas como crônicas e esses avanços geraram um im-
pacto considerável na qualidade de vida dos portadores de HIV/Aids,
diminuindo o temor sobre a iminência da morte e possibilitando a per-
manência de relações sociais, de trabalho, de lazer e de afeto na vida.28

Educação sexual e estratégias para promoção da


saúde em DST/Aids

Apesar da intensa apelação da mídia acerca das questões que en-


volvem a sexualidade e a vida sexual e do volume de informações veicu-
lados na internet, estudos apontam que o conhecimento sobre a temática
162 Estudos da Pós-Graduação

ainda é insuficiente entre os adolescentes, podendo culminar na formu-


lação de conceitos distorcidos e favorecendo comportamentos de risco.
Pesquisa com 27 adolescentes com diferentes formações em se-
xualidade no interior de São Paulo revelou que mais da metade dos
adolescentes não demonstrou conhecimento adequado sobre temas li-
gado à sexualidade, métodos de contracepção e DST/HIV-Aids.29
Outro estudo realizado em 17 escolas da rede pública de ensino
do município de Picos, no estado do Piauí, com alunos do terceiro ano
do ensino médio, focando a problemática do HPV, constatou que a
maioria dos entrevistados não detém conhecimento satisfatório sobre
essa doença e que as escolas em questão não estão correspondendo com
as expectativas que lhe são atribuídas pela sociedade, desenvolvendo
projetos e ações formativas-informativas sobre saúde preventiva, sexu-
alidade e orientação sexual.30
Para conhecer o universo de significados que marca a vida dos
adolescentes, um estudo analisou as produções discursivas de profissio-
nais da atenção básica de saúde e adolescentes sobre gênero e sexuali-
dade, para prevenção de DST/Aids, no semiárido nordestino, e cons-
tatou que há uma necessidade de ações efetivas de educação sexual para
orientar adolescentes, já que eles mantêm concepções machistas, além
de mostrarem desconhecimento sobre maneiras de prevenir as DST/
Aids. Além disso, os profissionais de saúde enfrentam dificuldade de
trabalhar a sexualidade na adolescência, sendo necessário repensar o
discurso biorreducionista e a educação bancária.31
A educação sexual é um tema importante a ser abordado na pro-
moção à saúde, especialmente com adolescentes e jovens. Estudos em
diferentes cenários têm destacado a importância e a efetividade das
ações de promoção e educação em saúde em DST para adolescentes,
utilizando diversas estratégias que são passíveis de aplicação e
reprodutibilidade.
Estudo conduzido em quatro escolas da Carolina do Norte (EUA)
implementou um programa de educação para saúde sexual por pares,
envolvendo 62 estudantes educadores previamente treinados e 678 jo-
vens do ensino médio, durante um semestre do ano letivo. O programa
incluiu cursos, oficinas, observações de atividades, entrevistas em pro-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 163

fundidade e grupos focais. Os resultados demonstraram que os jovens


participantes atribuíram alto valor para a experiência, relatando que a
informação sobre a saúde sexual recebida era nova e importante para
suas vidas e sentiram que aprenderam melhor com seus pares do que
durante instruções de saúde em sala de aula de forma tradicional, incen-
tivando a mudanças de atitudes e intenções de comportamentos em re-
lação à saúde sexual.32
Corroborando com a mesma perspectiva, no que se refere às prá-
ticas de promoção da saúde entre adolescentes, um estudo realizou uma
revisão integrativa evidenciando que a utilização de jogos educativos
estimula discussões e trocas de experiências sobre temas abordados,
proporcionando reflexões sobre o mesmo. Além disso, a execução do
jogo educativo sobre AIDS, realizado em escola por professores, favo-
rece o aumento da participação dos alunos na discussão e interação
diante da temática.33
Estudo exploratório descritivo desenvolvido em uma escola pú-
blica de Fortaleza - CE com 85 adolescentes evidenciou que, após a
realização do jogo educativo e do pós-teste, constatou-se a eficácia da
atividade educativa participativa; os dados demonstraram que a maioria
dos alunos assimilou as questões debatidas pelo grupo durante o jogo
por ter favorecido a execução do processo educativo mediante a união
entre informação, discussão, reflexão, interação e participação grupal,
em que os adolescentes puderam esclarecer suas dúvidas, preencher la-
cunas do conhecimento em relação a questões como sexualidade e pre-
venção de DST e aids e interagir consigo próprios de maneira descon-
traída, facilitando a participação de todos na aprendizagem.34
Existem propostas inovadoras em escolas que podem colaborar na
promoção da saúde de jovens e que são subsídios para a atuação de pro-
fissionais da área de saúde do adolescente; cita-se, como exemplo, um
plantão educativo sobre DST/HIV/Aids com adolescentes de uma escola
pública, que foi avaliado em três etapas. Na primeira, os adolescentes
responderam um instrumento sobre o conhecimento, os comportamentos
e as atitudes frente às DST/HIV/Aids; na segunda etapa, participaram do
plantão educativo e, na terceira, responderam novamente um instru-
mento. Os adolescentes avaliaram o plantão educativo como muito bom
164 Estudos da Pós-Graduação

(77,6%), referiram ter mudado os conhecimentos e os comportamentos


em relação às DST/Aids para melhor (79,6%) e decidiram manter o uso
do preservativo nas relações sexuais. Portanto, o plantão educativo na
escola pode ser considerado uma nova estratégia de educação em saúde,
já que aumentou nos adolescentes o conhecimento e a adesão a compor-
tamentos saudáveis para a prevenção de DST/HIV/Aids.35
No que se refere aos processos de promoção da saúde de adoles-
centes dentro da Estratégia Saúde da Família (ESF), um estudo reali-
zado mostrou que os profissionais fazem associação da promoção da
saúde à prevenção de agravos, sinalizando ainda a redução ao espaço
escolar, a ausência nos serviços de saúde e a importância de parceria
para viabilizar as ações de promoção da saúde ao adolescente. Destacam
que a promoção da saúde para os adolescentes na ESF, vista pelos pro-
fissionais, é considerada incipiente, comprometendo a saúde e a utili-
zação do serviço pela clientela. Entretanto, iniciativas como a imple-
mentação do Programa Saúde na Escola constitui-se em um novo
panorama para a assistência, com qualidade, aos adolescentes, necessi-
tando de movimentos políticos que estimulem o interesse e a partici-
pação dos profissionais da ESF pela promoção da saúde dos jovens que
fazem parte da demanda.36
Pesquisa que objetivou avaliar a atuação de enfermeiros na pre-
venção de DST/Aids com adolescentes no Programa Saúde na Escola
identificou que a maioria dos sujeitos da pesquisa não realizou satisfa-
toriamente as ações preconizadas pelo Ministério da Saúde para o PSE
e, por conseguinte, não alcançou os resultados esperados na linha de
ação Educação para Saúde Sexual, Saúde Reprodutiva e Prevenção das
DST/Aids e de Hepatites Virais.37
Assim, é importante destacar que a prevenção, por meio de estra-
tégias e ações frente ao HIV/Aids voltadas para os diferentes grupos da
população, em especial dos jovens, através da mídia, de materiais edu-
cativos, de espaços nos boletins informativos, das redes sociais, entre
outros, deve ganhar notoriedade no contexto atual no sentido de sensi-
bilizar os principais atores envolvidos. Além disso, a escola, o trabalho,
o ambiente familiar, dentre outros, devem ser cenários de discussão de
assuntos que envolvem a prevenção das DST/Aids, permitindo aos jo-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 165

vens perceber que o risco é uma constante e que as medidas preventivas


continuam sendo as “armas” contra o aumento exponencial da contami-
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EMPOWERMENT E AUTONOMIA
Pensamento crítico e atitudes na
prevenção das DST/Aids

Anny Giselly Milhome da Costa Farre


Patrícia Neyva da Costa Pinheiro
Estela Maria Leite Meirelles Monteiro
Lays Hervércia Silveira de Farias
Clarice da Silva Neves
Rayssa Matos Teixeira
Fabiane do Amaral Gubert
Neiva Francenely da Cunha Vieira

O Brasil apresenta um período de transição de paradigmas na


promoção da saúde do adolescente no sentido em que estratégias tradicio-
nais de aconselhamento, prevenção de doenças e educação em saúde, cen-
tradas em modelos de estilos de vida saudáveis, dão lugar àquelas cen-
tradas nos jovens, em seus contextos sociais, educacionais e culturais.
Durante décadas o país investiu em políticas públicas que am-
pliaram o acesso do jovem à informação, ao preservativo e aos serviços
de detecção precoce das DST, no entanto, no ano de 2014, observou-se
uma tendência significativa de crescimento do HIV/Aids na faixa etária
dos 15 aos 19 anos, principalmente entre as mulheres.1
Outros fatores estão influenciando o panorama da prevenção
das DST/Aids no Brasil, principalmente aqueles relacionados ao
poder de decisão e escolha dos jovens, baseados em uma concepção
de saúde ampliada.
172 Estudos da Pós-Graduação

A prevenção das DST/Aids na adolescência, com enfoque em


uma saúde ampliada, evita as definições do adolescente como um ser
vulnerável e apresenta um indivíduo com potencialidades máximas
para a sociedade, mas que, infelizmente, vivencia situações de risco.
A noção de vulnerabilidade amplia a visão e a compreensão das
experiências de vida dos jovens frente aos riscos e considera os deter-
minantes pessoais, sociais e culturais na prevenção das DST/Aids. A
definição de adolescência como “período de risco” delimita negativa-
mente este período da vida, gerando preconceitos e estereótipos.2
Muitos dos conflitos, frustrações, riscos e vulnerabilidades que
surgem na vida dos adolescentes brasileiros estão associados a estru-
turas familiares fragmentadas, baixa renda, violência urbana e droga-
dição. As condições de vida dos jovens são limitadas pelos contextos
sociais e econômicos, principalmente nos grandes centros urbanos.3
O grande desafio da sociedade contemporânea está em reverter o
caos que se instalou na adolescência urbana, transformar desesperança
em autonomia e impotência em empowerment para gerar mudanças que
influenciem positivamente as escolhas dos adolescentes.
A autonomia pode ser definida como um processo de tomada de
decisão individual ou coletivo, que regula os comportamentos sociais e
envolve dois aspectos: o poder de determinar a própria “lei” e também
o poder ou capacidade de realizar. Autonomia não pode ser confundida
com independência ou autossuficiência, mas uma função volitiva de/
para/com o mundo.4
Já o conceito de empowerment está basicamente relacionado às
palavras “força e poder”, no sentido de “autodeterminação” para a mu-
dança positiva em saúde.5 Alguns glossários de promoção da saúde de-
finem empowerment como “[...] um processo por meio do qual as pessoas
obtêm maior controle sobre decisões e ações que afetam sua saúde”.6, 7
As relações existentes entre autonomia e empowerment são in-
corporadas à enfermagem na prevenção das DST/Aids com adoles-
centes, à medida que o enfermeiro teria o papel de educador em saúde,
possibilitando aos jovens um caminhar entre riscos e vulnerabilidades
existentes, fortalecendo sua capacidade de controle e autodeterminação
e aumentando seu potencial para um futuro saudável.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 173

A educação em saúde é um dos principais componentes do cui-


dado de enfermagem. Os propósitos e benefícios do cuidar tornam-se
os mesmos do educar, na medida em que ambos proporcionam o au-
mento da autonomia das pessoas para autogestão de saúde.8 O enfer-
meiro cuida enquanto educa.

Pensamento crítico em saúde

Na promoção da saúde brasileira, o conceito de empowerment


desenvolveu-se, principalmente, sob a influência do educador Paulo
Freire, com seus pressupostos teóricos sobre autonomia comunitária,
nos quais a saúde seria um processo/resultado de lutas de coletivos
sociais por seus direitos.9
O educador Paulo Freire tornou-se o teórico inspirador de
profissionais da saúde comprometidos com a melhoria das condi-
ções de saúde das comunidades por meio do fortalecimento de prá-
ticas cidadãs questionadoras do status quo, favoráveis ao processo
de conscientização.
O vocábulo “conscientização” foi criado por uma equipe de
professores, dentre eles os filósofos Álvaro Vieira Pinto e Alberto
Guerreiro Ramos, do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, por
volta de 1964, e tornou-se o conceito central das ideias de Paulo Freire
sobre a educação brasileira, sendo difundido por Dom Hélder Câmara
para os idiomas inglês e francês.10
Conscientização é o desenvolvimento crítico da tomada de cons-
ciência por meio de um movimento inesgotável de apreensão da reali-
dade, reflexão e transformação. É um ato de conhecimento de si e do
mundo; é o olhar mais crítico possível da realidade.10, 11
À medida que o homem se movimenta da consciência transitivo-
-ingênua para a crítica, ele amplia seu poder de captação da realidade e
da dialogação. Seus interesses e preocupações expandem-se para o
mundo e ele busca conhecer sua história pregressa para compreender a
atualidade. Sendo assim, a consciência crítica é indagadora, assume
compromissos, participa das mudanças, pois o homem não é; o homem
está sendo. O mundo não é; o mundo está sendo.10, 12
174 Estudos da Pós-Graduação

Neste sentido, observa-se que a definição de conscientização se


funde com a própria concepção de empowerment, demonstrando que
esta palavra, mesmo que ainda não definida oficialmente no Brasil,
possui significados nacionais anteriores à sua utilização no cenário in-
ternacional de saúde.
A educação em saúde assume um papel valioso e central neste
movimento sociológico, pois está inserida exatamente na transição da
visão mágica para a crítica da realidade, ampliando as relações homem-
-homem, homem-família, homem-comunidade e homem-mundo.

Prevenção das DST/Aids na adolescência

O adolescer caracteriza-se por mudanças dinâmicas em todas as


esferas do desenvolvimento humano, ocorrendo intensas transforma-
ções cognitivas, emocionais, sociais, físicas e hormonais. O adolescente
está se inserindo em um mundo novo e desconhecido, no qual o indi-
víduo estabelecerá novas relações consigo mesmo, com a sociedade,
com os familiares e, principalmente, com seus iguais.13 Contudo, a des-
coberta mais carregada de medos, dúvidas e indecisões é o sexo, a vida
sexual, a descoberta dos prazeres antes desconhecidos.
No ano de 2012, 2,1 milhões de adolescentes (10 - 19 anos) vi-
viam com HIV em todo o mundo. Apesar da limitação de dados devido
à subnotificação, é possível compreender os infortúnios que ajudam na
incidência cada vez mais abrangente das DST, tais como: acesso inade-
quado à informação e dificuldade pela procura dos serviços de saúde.14
Sabe-se que o acesso à educação sexual abrangente tende a retardar
a iniciação sexual e aumentar a preocupação em relação às medidas de
prevenção entre os jovens. Os profissionais de saúde têm papel primordial
no que concerne a delimitar o caminho traçado para a promoção da saúde.
Todavia, isso deve ser algo que pondere a autonomia e o empowerment,
pois é uma forma de trazer o adolescente à corresponsabilidade.
No panorama da educação em saúde, os eixos da autonomia, da
sexualidade e das novas descobertas estão intimamente vinculados ao
universo adolescente e devem, portanto, ser explorados de forma inte-
grada. É justamente todo esse contexto que torna essa fase a de maior
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 175

vulnerabilidade à infecção das DST/Aids. É preciso recriar as dimensões


ao promover saúde no contexto vulnerável dos adolescentes de modo que
elas possam se encaixar nos âmbitos socioculturais de forma ampla.15
Na área da enfermagem, a relevância de educação em saúde deve
ser consistente e voltada para a compreensão global tanto das necessi-
dades do adolescente quanto das situações mais frágeis vivenciadas por
ele. O profissional deve promover orientações, propor medidas de pre-
venção e auxiliar na conscientização, porém deve permitir o espaço de
diálogo entre esses adolescentes para que eles se apropriem do conheci-
mento adquirido.16 Dessa forma, deixa de existir uma simples transfe-
rência de saberes, pois eles passam a incorporar o aprendizado como um
papel protagonista, assumindo uma autonomia sobre seu próprio corpo.

Atitudes na prevenção das DST/Aids: corpo e


suas potencialidades

O corpo é o território de afetos do adolescente e eixo principal


dos processos de transformação em saúde. Nas estratégias de promoção
da saúde, o corpo do adolescente deve ser enfocado na temática saúde
sexual e reprodutiva, de forma criativa e reflexiva, pois o processo de
construção de uma conscientização corporal conduz a transformações
de comportamentos e atitudes em saúde.17
As principais dúvidas dos adolescentes relacionadas ao corpo
podem ser agrupadas nas categorias heterossexualidade, homossexuali-
dade, gravidez, DST/HIV/Aids, corpo masculino e corpo feminino.18
Observa-se que os adolescentes têm conhecimento sobre prevenção das
DST/Aids, mas o saber não reflete nas atitudes, pois não conseguem incor-
porar comportamentos de prevenção no seu cotidiano e nas relações.19
A maioria dos jovens apresenta informações elementares sobre
DST/HIV/Aids, porém ainda carece de uma educação efetiva e perma-
nente para a promoção de conhecimentos e habilidades, que poderão
definir mudanças nas atitudes sexuais.20
A escola permanece com o papel de abordar os assuntos relacio-
nados à sexualidade e reprodução dos adolescentes, principalmente
após o Programa Saúde na Escola (PSE), instituído em 2007.21 Todavia,
176 Estudos da Pós-Graduação

as abordagens educativas continuam tradicionais como exposto pelos


participantes, refletindo um adolescente vulnerável não somente em
nível social, mas pessoal.
Atualmente, muitos serviços públicos de saúde de países em de-
senvolvimento são considerados inadequados para atender às demandas
dos jovens, na própria visão deles. A OMS recomenda novos padrões
para que os serviços de saúde sejam considerados “amigos dos adoles-
centes”, haja vista a importância da relação de confiança entre profis-
sionais e este público.22
O uso de drogas também pode favorecer o sexo sem proteção
e, com isso, ocasionar uma gravidez não planejada e elevar a trans-
missão das DST/Aids entre os adolescentes. Estudo com adoles-
centes de Fortaleza demonstrou o uso de drogas lícitas e ilícitas como
um dos fatores condicionantes para a realização de práticas sexuais
desprotegidas, contribuindo para o aumento da vulnerabilidade às
DST/Aids.19
Os adolescentes que utilizam drogas ilícitas geralmente são mais
suscetíveis ao sexo sem proteção. As possíveis explicações permitem
visualizar que as pessoas, ao fazerem uso de substâncias psicoativas,
engajam-se com maior facilidade em situações de risco ou só raciona-
lizam o ato cometido após o efeito da droga.23 Essa associação também
foi evidenciada em estudo a qual considerou que as pessoas, em geral,
ao fazerem uso de drogas ilícitas, sentem um efeito modulador sobre
práticas sexuais de risco.24
Outros fatores preponderantes nas práticas sexuais de risco são:
confiança no parceiro e influência dos amigos.18 Nesse contexto, o
homem exerce forte influência, pois quando opta por não fazer uso dos
métodos contraceptivos, a mulher tende a acatar sua opção por diversos
motivos: evitar contrariar o parceiro, acreditar que o parceiro “é lim-
pinho” ou não existir riscos na relação com um parceiro fixo.25
Algo marcante é a influência de terceiros na vida sexual. Uma
menina disse não utilizar preservativo porque suas amigas, que não fa-
ziam uso, nunca engravidaram. Isso demonstra a vulnerabilidade dos
jovens e a falta de informação que poderia ser minimizada, caso exis-
tisse uma educação sexual efetiva.26
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 177

Os adolescentes associam o alto índice de DST/HIV/Aids aos


relacionamentos com múltiplos parceiros, iniciação sexual precoce, uso
de drogas e não utilização do preservativo masculino.18
Pesquisa realizada com 234 adolescentes de 13 a 19 anos, em
uma escola pública de Fortaleza/CE, revelou que 46,6% já tinham ini-
ciado a vida sexual, sendo que 40,7% não utilizaram preservativo na
primeira relação por não possuir (27,6%), não lembrar (19,2%) e agir
por impulso (14,9%).19
Em outro estudo brasileiro, cerca de 43,1% dos jovens (N=500)
mantiveram relações sexuais sem preservativo quase sempre ou sempre.
A atitude foi o preditor mais potente para intenção de realização de
relações sexuais sem preservativo, seguido do medo após o ato sexual
desprotegido e alegria antes. Apesar de os fatores emocionais influen-
ciarem os jovens, os aspectos sociocognitivos foram mais fortes predi-
tores da intenção de voltar a realizar o comportamento de risco.27
A atitude individual diante de uma situação ou contexto de risco
torna-se a base do processo de promoção da saúde sexual e reprodutiva
do adolescente. A atitude pode representar o posicionamento dos jovens
diante das escolhas sexuais e fortalecer esta atitude é contribuir para a
autonomia corporal do jovem.

Sugestões e implicações para a saúde do adolescente


e para o cuidado de enfermagem

Os tabus com relação à vida sexual sempre existiram em nossa


sociedade. Ainda hoje sabe-se que a maioria dos adolescentes não recebe
da família informações referentes à saúde sexual e reprodutiva e que
esse assunto é algo intocável em muitas casas e muitas vezes, quando
tem acesso a essas informações, por meio de amigos ou conhecidos, elas
são carregadas de mitos, crenças ou são limitadas e inadequadas.28
Diante dessa realidade, os profissionais de saúde têm papel funda-
mental na construção da autonomia e empowerment desses jovens, prin-
cipalmente os enfermeiros por serem os principais educadores nessa
área dentro do sistema de saúde. Entretanto, as práticas de saúde, até
então desenvolvidas pelos enfermeiros, no que diz respeito à saúde do
178 Estudos da Pós-Graduação

adolescente, ainda não conseguem atingir seus objetivos e acabam sendo


mero repasse de informações, pois se observa, pelo alto índice de jovens
portadores de DST/Aids, que palestras, entrega de panfletos, cartilhas
ou exposição de cartazes não levam os adolescentes à conscientização
da adoção de comportamentos sexuais seguros, acarretando, provavel-
mente, adultos com práticas sexuais de risco para si e para outros.
Os enfermeiros, como educadores, têm grandes desafios, princi-
palmente quando se trata de adolescentes; muitos não acham atraente
trabalhar com essa população por considerarem “complicada demais”,
porém o que muitos esquecem é que o adolescente com comporta-
mentos de risco hoje é o adulto, a mulher grávida de amanhã. Então
trabalhar com educação em saúde com adolescentes é preparar a nossa
população do futuro. E para tanto, enfermeiros devem sempre buscar a
qualificação e a melhoria na sua atuação profissional.
As atividades educativas desenvolvidas pelos enfermeiros devem
ser planejadas, construídas e pautadas nas necessidades dos adoles-
centes e, para isso, o conhecimento do público se torna fundamental. O
ser adolescente é dinâmico, por isso necessita de algo que o atraia, que
prenda a sua atenção, logo atividades educativas que não sejam intera-
tivas têm todas as chances de não serem aceitas e nem levadas em con-
sideração por eles.
Por meio do PSE, os enfermeiros podem aproximar-se da popu-
lação adolescente e, além dos muros das Unidades Básicas de Saúde,
desenvolver ações educativas que fortaleçam a autonomia e empower-
ment dessa população. A parceria entre serviços de saúde e escola tor-
na-se fundamental, pois, como já discutido, esse momento pode ser o
único que alguns adolescentes tenham de tirar suas dúvidas, quebrar
mitos e preconceitos em relação às DST/Aids, gravidez e aspectos rela-
cionados à vida sexual.
O Enfermeiro deve buscar aperfeiçoamento, além dos conheci-
mentos preexistentes, para que, assim, possa atuar de maneira eficaz
com este público em questão, quebrando, desta forma, a lacuna exis-
tente na prática de cuidado destinado aos adolescentes, trabalhando não
só com abordagens mais convenientes para esta faixa etária, como aten-
dendo a necessidade peculiar dos mesmos, pois, para trabalhar com este
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 179

público, demanda-se qualificação técnica e científica, além de uma per-


cepção sobre os determinantes sociais e a dinâmica da faixa etária.29

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Parte II

DISCUTINDO AS SITUAÇÕES
DE RISCO E VULNERABILIDADE
ENVOLVENDO O ADOLESCENTE
NO CONTEXTO DAS DST/HIV/AIDS
RESILIÊNCIA E FATORES DE PROTEÇÃO
Aspectos importantes na vida dos adolescentes
e para a prevenção de DST/HIV/Aids

Rayssa Matos Teixeira


Patrícia Neyva da Costa Pinheiro
Fabiane do Amaral Gubert
Kelanne Lima da Silva
Maria Isabelly Fernandes da Costa
Jaislâny de Sousa Mesquita
Izaildo Tavares Luna
Adna de Araújo Silva

A palavra resiliência origina-se do latim, resílio, re + salio,


que significa “ser elástico”. 1 Este termo é proveniente da física e das
engenharias e caracteriza-se como a capacidade de um material receber
energia sem ser deformado plasticamente e em definitivo.2, 3 A partir
disso e de várias outras definições similares que outros autores trazem,
esse termo se disseminou e passou a ser muito utilizado pela psicologia
e, atualmente, por outras ciências humanas e da saúde. Portanto, resili-
ência é algo novo que vem sendo trabalhado na área da saúde.
No âmbito das ciências, resiliência caracteriza-se pela capaci-
dade de o ser humano responder às demandas da vida cotidiana de
forma positiva, apesar das adversidades que enfrenta ao longo de seu
ciclo vital de desenvolvimento, resultando na combinação entre os atri-
butos do indivíduo e de seu ambiente familiar, social e cultural.1
Resiliência ainda é classificada como a capacidade de o indivíduo, ou a
186 Estudos da Pós-Graduação

família, enfrentar as adversidades, ser transformado por elas, mas con-


seguir superá-las.4
No contexto da área da saúde, resiliência é a capacidade dos
seres humanos em enfrentar e responder eventos adversos à sua saúde
e ao desenvolvimento de forma positiva.5 É um conceito atrelado a
duas condições básicas. A primeira refere-se ao enfrentamento de uma
experiência adversa capaz de produzir um impacto negativo sobre a
saúde e o desenvolvimento do indivíduo; a segunda diz respeito à ma-
nifestação de uma resposta positiva, apesar da agressão a que os indi-
víduos estão expostos.5
O termo “fator de proteção” refere-se às influências que modi-
ficam, melhoram ou alteram respostas pessoais a determinados riscos
de desadaptação.6 Os fatores de proteção reduzem as repercussões dos
riscos, sendo seus efeitos sobre ele mesmo, mudando a exposição ao
risco ou à participação nele, minimizando, assim, a probabilidade de
reação em cadeia, sendo fundamentais ao desenvolvimento. Os fatores
de proteção existentes são: os fatores individuais, familiar e apoio do
meio ambiente no qual o indivíduo está inserido, ou seja, o meio social.
Ressalta-se, ainda, que os fatores de proteção ajudam, de forma posi-
tiva, na construção do desenvolvimento humano.7
Os fatores de proteção são considerados como características po-
tenciais na promoção de resiliência e que proporcionam alternativas
para resolução dos problemas vivenciados no cotidiano de risco psicos-
social, sendo, portanto, definidos como fatores que modificam ou al-
teram a resposta pessoal para algum risco ambiental predisponente a
um resultado mal adaptativo.7
Considerando a adolescência como uma fase de mudanças, visto
que é uma etapa de transição da infância para a vida adulta, além de ser
um período do ciclo vital permeado de influências, dentre os quais des-
taca-se o meio no qual está inserido e vive, os grupos de amigos, os
familiares, a mídia, que irão interferir direta ou indiretamente na iden-
tidade, bem como nos aspectos físicos, cognitivos, emocionais e se-
xuais 8, 9, 10 , ainda pode ser caracterizada como um período cronoló-
gico, entendendo-se que a adolescência é uma fase repleta de
descobertas, mudanças biológicas, anatômicas e psicossociais.11, 12
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 187

Nesse sentido, a sexualidade é algo presente e natural na vida do


ser humano, principalmente na do adolescente, visto que essa fase coin-
cide com o surgimento dos caracteres sexuais secundários e com os ní-
veis crescentes de hormônios, que acontecem exatamente na adoles-
cência, em que há um aumento característico no interesse sexual,
culminando com o início da atividade sexual nesta etapa da vida, fato
este que tem ocorrido cada vez mais precocemente.13, 14
Esse início precoce da atividade sexual, somado à apreensão de
informações inadequadas ou à não conversação sobre o assunto, expõe
esses adolescentes a riscos como as DST/HIV, no caso das meninas,
além de uma gravidez não planejada.15 Existe um crescimento muito
grande do HIV entre os adolescentes e não é tão grande a diferença
entre o surgimento de novos casos em ambos os sexos. Alguns autores
classificam essa diminuição dos valores de casos de DST/HIV, entre os
sexos, de feminização das DST’s. Além disso, verifica-se um cresci-
mento, do ano de 2010 para 2011, nos casos de sífilis na gestação, e sua
diminuição de 2011 para 2012.13, 16 Esses números se tornam expres-
sivos, pois não há notificação de outras DST’s como: gonorreia, cla-
mídia, herpes genital e HPV. Sendo assim, é notificado compulsoria-
mente apenas HIV e sífilis na gestação e sua taxa de incidência é alta.17

As doenças sexualmente transmissíveis e suas
implicações na adolescência

Os adolescentes estão expostos a determinadas vulnerabilidades


constantes no cotidiano, principalmente as DST/Aids, isto porque ge-
ralmente não recebem informações suficientes sobre a prática sexual
segura.18, 19 A maioria dos adolescentes possuem algum conhecimento
sobre a prevenção da aids, o que demonstra um determinado comporta-
mento sexual saudável, no entanto apresentam um grande déficit de
conhecimento quanto às outras DST como: Tricomoníase, Candidíase e
Condiloma Acuminado (Papilomavírus Humano/HPV) , Cancro Mole,
Gonorreia, Sífilis e Herpes Genital.12, 18
Outro aspecto bastante relevante acerca do conhecimento e das
práticas sexuais entre os adolescentes apontado nas publicações é que
188 Estudos da Pós-Graduação

as meninas estão mais expostas às DST/Aids ao associarem as praticas


afetivo-sexuais ao romantismo, o que as leva a deixarem de sentir a
necessidade de usar o preservativo até mesmo quando o envolvimento
com o parceiro é recente.20 No entanto, os meninos possuem um pensa-
mento muito parecido com o das adolescentes, pois afirmam utilizar o
preservativo em todas as relações com desconhecidas, mas não fazem
uso com as adolescentes que consideram um relacionamento sério.21
Quando se fala sobre a utilização do preservativo, não se pode
esquecer de que, antes de iniciar uma conversa sobre esse tema com os
adolescentes, é sempre bom questioná-los acerca da sexualidade para
saber qual é o conhecimento e o pensamento deles. Pode-se observar a
respeito desse assunto que muitos adolescentes desconhecem e desva-
lorizam o próprio corpo, não se sentindo à vontade para conhecê-lo.20
As adolescentes demonstram timidez e vergonha quando estraté-
gias educativas relacionadas à sexualidade, sexo e prevenção das DST/
Aids são realizadas, e em diversas situações apresentam menor conheci-
mento do que os adolescentes. Além disso, observam-se atitudes ma-
chistas entre as adolescentes, o que pode justificar sua inibição ao falar
sobre o assunto.22 Esse valor machista é visualizado de forma nítida
quando as adolescentes relatam a relevância de manterem-se virgem,
praticar sexo com amor e fazer sexo apenas com o intuito de reprodução,
o que as deixa sem autonomia para tomar as próprias decisões, sendo
guiadas de acordo com o que o parceiro e a sociedade lhes impõem.20
Diante desses vários aspectos, observa-se que os adolescentes de
ambos os sexos se encontram em situação de vulnerabilidade constante,
quando se trata de prevenção das DST/Aids, necessitando de uma
atenção especial por parte tanto dos profissionais de saúde como pelos
pais, pois é nesse momento que muitos deles iniciam sua vida sexual,
sendo importante um inicio já com todos os ensinamentos dados para
evitar que contraiam alguma DST/Aids ou até mesmo vivenciem uma
gravidez indesejada.
Nesse aspecto, as intervenções de enfermagem são de funda-
mental importância para aumentar e firmar o conhecimento dos adoles-
centes sobre a adoção de comportamentos sexuais seguros visando à
prevenção das DST/Aids.20
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 189

Os fatores de proteção

Proteção é entendido como o sentido que o indivíduo dá às suas


experiências, a seus sentimentos de bem-estar e autoeficácia, além da
maneira como enfrenta as mudanças e age diante das situações adversas
do cotidiano. Os fatores de proteção devem ser abordados como pro-
cessos, em que diferentes fatos interagem e alteram a trajetória do indi-
víduo, produzindo uma experiência de cuidado, fortalecimento ou ante-
paro ao risco. Também são considerados fatores que modificam,
melhoram e alteram as respostas do sujeito a determinados riscos de
desadaptação.23 Como fatores de proteção tem-se os individuais, como
autoestima positiva, autocontrole, autonomia, temperamento afetuoso e
flexível; os familiares, como coesão, estabilidade, respeito mútuo,
apoio e suporte; e os relacionados ao apoio do meio ambiente, como o
bom relacionamento com os outros indivíduos.2, 7
Consideram-se como fatores individuais os intrapsíquicos de
cada um, como se responsabilizar pelos seus atos, assim como ser res-
peitoso consigo e com o próximo. O fator individual é considerado
como um dos fundamentais para a proteção e destaca-se dentro dele a
espiritualidade, a religiosidade, a autoestima, a autoeficácia e o bem-
-estar. O fator familiar é entendido como o apoio dado pela família
diante de todo e qualquer contexto. Considera-se como fator social os
amigos, professores ou pessoas significativas que assumam papel im-
portante em suas vidas e as outras pessoas do convívio do indivíduo
cuja influência dependerá diretamente da maneira como eles influen-
ciam nas ações dos indivíduos.26 Os fatores familiares e sociais ajudam
diretamente na construção do fator individual e contribuem de forma
positiva ou negativa para o desenvolvimento de habilidades interpes-
soais, resolução de problemas e apoio.7, 24
Os fatores de proteção, quando existentes na vida do ser humano,
contribuem para evitar eventos adversos, bem como encarar as adversi-
dades que possam ocorrer, ajudando, desta forma, para a resiliência
destes. Os fatores de proteção da família, do indivíduo e do meio estão
na vida de todos e é isto que ajuda na conduta de cada um diante das
escolhas que farão na criticidade, no enfrentamento das situações, na
190 Estudos da Pós-Graduação

postura e na conduta. Além do mais, os fatores de proteção podem con-


tribuir para o desenvolvimento de respostas positivas por parte dos in-
divíduos diante dos fatores estressores, como as DST/HIV.6, 7
Os mecanismos de proteção de que um indivíduo dispõe interna-
mente ou que assimila do meio em que vive são essenciais para esti-
mular o potencial de resiliência ao longo da vida, ou seja, fatores de
proteção constituem e ajudam na formação da resiliência.25

Resiliência na adolescência

No período de transição da infância para a vida adulta, ocorrem


intensas transformações cognitivas, emocionais, sociais, físicas e hor-
monais. Nessa época da vida, crescem a autonomia e a independência
em relação à família e à experimentação de novos comportamentos e
vivências.26 A adolescência é a etapa da vida em que há o preparo para
que a pessoa se torne adulta, um momento em que se consegue atingir
independência financeira e autonomia comportamental. É um período
de desenvolvimento psicossocial no qual o jovem se afasta da própria
família para adentrar nos grupos sociais.27
A adolescência possibilita ao jovem uma multiplicidade de trans-
formações biológicas, psíquicas e sociais de modo a caracterizar esta
fase como um período de transição extremamente complexa, pois en-
volve a tomada de consciência de um novo espaço no mundo. Essa
consciência da realidade exige dos adolescentes atitudes que os impul-
sionam na direção das descobertas.28 Assim, a vida dos adolescentes é
permeada por diversos momentos considerados difíceis os quais podem
marcar a sua existência positiva ou negativamente, contudo esse indi-
víduo é provido de características singulares que o mobilizam para en-
frentar e superar essas dificuldades. Trata-se de uma característica
construída ao longo da vida na interação de elementos internos e ex-
ternos do indivíduo que favorece a formação de uma base resiliente.29
A resiliência é compreendida como o processo em que ocorre a
mobilização de forças internas da pessoa, o que pode desencadear rup-
turas e aberturas existenciais e, assim, transcender a experiência com o
fato marcante ao dar um novo sentido para a existência, ainda que de
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 191

maneira momentânea.30 Ao se descobrir, através de aspectos sociais e


culturais, o adolescente encerra seu processo de transformação no corpo
biológico, que influi no âmbito psíquico. Assim acredita-se ressurgir
outra adolescência como protagonista de um movimento histórico con-
tínuo e dinâmico, no qual o jovem não está isolado à margem desse pro-
cesso, mas integra essa engrenagem humana constituinte da sociedade.29
Assim sendo, o apoio social é importante para conduzir o adoles-
cente nessa etapa definidora do ser adulto de amanhã, e a resiliência, no
contexto da adolescência, emerge como lentes que possibilitam ao ser
humano visualizar a vida de uma forma mais otimista, de modo a não se
deixar abater pelas adversidades que perpassam a existência humana. A
resiliência não é uma característica fixa; ela pode ser desencadeada ou
desaparecer em determinados momentos, bem como estar presente em
certas áreas e ausente em outras.2
A resiliência pode emergir como uma espécie de mola propulsora
impulsionando os adolescentes para um futuro de esperanças e sonhos.
Pensar no processo de resiliência no contexto da adolescência é consi-
derar o mundo que a envolve, como a família, a escola e a comunidade,
bem como suas influências no desenvolvimento de fatores resilientes
com vistas a uma constituição humana mais fortalecida para enfrentar
as adversidades da vida.29
É de grande importância salientar que não se deve apenas focar
em um indivíduo e denominá-lo resiliente ou não. Suas características
resilientes ou não estão também relacionadas ao ambiente que o cerca,
e rotular cada pessoa pode causar maiores preconceitos e limitações em
intervenção a serem realizadas.29 A resiliência se torna importante de
ser trabalhada diante dos adolescentes por estarem expostos a diversos
fatores estressantes e muitos podem não se adaptar, nem aceitar as con-
dições adversas que estão enfrentando.2

Prevenção e promoção da saúde no contexto da


resiliência e dos fatores de proteção na adolescência

A definição de saúde não está vinculada somente ao controle de


morbidade e mortalidade, como se pensou durante muitos anos. É defi-
192 Estudos da Pós-Graduação

nida como o completo bem-estar físico, social e mental.31 Assim, estar


saudável envolve a prevenção, proteção, promoção da saúde, que são
elementos essenciais para uma melhor qualidade de vida.32
A promoção da saúde está relacionada a todas as práticas e con-
dutas que procuram melhorar o nível de saúde da população por meio
de medidas que não se restringem somente a resolver problemas de
doenças, ou qualquer desordem orgânica, mas sim, que visem aumentar
a saúde e o bem-estar geral. A prevenção pode ser entendida como uma
estratégia de promoção da saúde, na medida em que previne e controla
os agravos por meio da criação de condições de proteção e defesa de
indivíduos e grupos que se encontram em situações de risco e de vulne-
rabilidades específicas.33
Os adolescentes constituem um grupo prioritário para promoção
da saúde em todas as regiões do mundo em razão dos comportamentos
que os expõem a diversas situações de risco e momentos estressores.26
A Política Nacional de Atenção à Saúde Integral de Adolescentes e
Jovens contém diretrizes direcionadas à sensibilização de gestores para
um olhar integral e sistemático do indivíduo, apontando estratégias na
busca pelo desenvolvimento de comportamentos saudáveis e responsa-
bilização da sociedade e das famílias pela construção das decisões e
escolhas dos adolescentes.33
Os programas e políticas de promoção da saúde do adolescente
na atualidade envolvem diversos temas como sexualidade, HIV/Aids,
DST, gravidez, diversidade sexual, relação de gênero, álcool e outras
drogas, promoção da saúde sexual e reprodutiva, participação do ado-
lescente, educação permanente, capacitação e atenção à saúde.34
Essa iniciativa é muito importante para promover a saúde dos
adolescentes. O profissional de saúde, principalmente o enfermeiro,
tem um papel fundamental nesse processo, pois ele escuta os adoles-
centes, vê como se sentem diante de situações difíceis, permitindo a
expressão dos sentimentos de tristeza, raiva e medo, oferecendo o
apoio necessário para que os jovens se sintam seguros, incentivan-
do-os para criação de saídas e busca de soluções para os problemas,
além de estabelecer vínculos com as crianças e adolescentes atendidos
e suas famílias.33
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 193

A resiliência nesse aspecto é muito importante, tendo em vista


que o adolescente passa por diversos momentos estressores e difíceis na
sua vida e ela é justamente a capacidade de superar adversidades e de
lidar positivamente com situações difíceis. Os fatores fundamentais
para o fortalecimento da resiliência, e consequentemente a promoção
da saúde, são os vínculos afetivos sólidos e o bom funcionamento da
rede de relacionamentos, que atuam como suporte para que o adoles-
cente reflita sobre sua vida e encontre forças para a superação muitas
vezes desconhecidas por ele próprio. Com isso, situações difíceis e obs-
táculos encontrados pela vida podem fortalecer a pessoa em vez de fra-
gilizá-la ou fragmentá-la.33
Salienta-se que a interação com a escola, com a comunidade e
com os grupos de amigos exerce forte influência sobre comportamentos,
valores e formação de vínculos. É importante valorizar o relaciona-
mento entre os irmãos, que compartilham histórias, experiências, brin-
cadeiras e costumes. Estimular o espírito empreendedor que consiste
em fazer acontecer em vez de esperar que as oportunidades caiam do
céu contribui para desenvolver habilidades e competências. As con-
versas em família com a escuta dos pontos de vista de cada um enri-
quecem a comunicação e facilitam a resolução dos conflitos que, inevi-
tavelmente, surgem a partir das diferenças. Construir os alicerces do
diálogo sobre temas de interesse comum facilita as conversas sobre
temas mais sensíveis, como o uso abusivo de álcool e a sexualidade,
que são formas de promover a saúde desse adolescente.33

Sugestões e implicações para o adolescente e


para o cuidado de enfermagem

Na área da enfermagem, os estudos sobre a resiliência são re-


centes, tanto em âmbito internacional quanto nacional, em que se des-
tacam aqueles que enfocam este conceito como potencial de promoção
de ambientes familiares saudáveis no sentido de auxiliá-los na cons-
trução de um contexto positivo para o desenvolvimento dos seus inte-
grantes.35 As intervenções de enfermagem são fundamentais para au-
mentar e firmar o conhecimento dos adolescentes sobre a adoção de
194 Estudos da Pós-Graduação

atitudes e comportamentos seguros, como a prevenção das DST/Aids,


além de outros eventos estressores do cotidiano.
O aprendizado dos adolescentes diante das estratégias, com uma
participação ativa, proporciona um maior conhecimento sobre temá-
ticas relevantes como, por exemplo, as DST/Aids. Alguns autores
abordam essa temática utilizando a teoria freiriana, os jogos educativos
como estratégias, fortalecendo, assim, o vínculo com o adolescente e
promovendo sua saúde.36 Assim, para que os profissionais de saúde
desenvolvam suas competências corretamente no âmbito da promoção
da saúde, eles devem estar atentos às emoções e às condutas dos adoles-
centes, bem como as suas relações sociais.37
Salienta-se que a enfermagem pode promover saúde e prevenir riscos
e danos através de estímulos de autocuidado e adoção de hábitos de vida
saudáveis no cotidiano dos indivíduos, a partir do qual consideram como
resiliência e possíveis deslocamentos no campo da promoção da saúde.29
Pensar em resiliência na perspectiva da promoção de fatores re-
silientes implica a mobilização dos profissionais, do Estado e da comu-
nidade em um movimento na perspectiva da interdisciplinaridade e in-
tersetorialidade, a fim de garantir as condições necessárias à pessoa
para que, juntamente com os seus pares, desenvolva capacidades de
enfrentamento, adaptação e “superação” diante de eventos negativos
que possam interferir no seu desenvolvimento.38
É importante motivar essas ações sob um olhar na perspectiva de
gênero, utilizando recursos lúdicos e dinâmicos, além de envolver ações
intersetoriais para estabelecer uma relação entre os adolescentes e os
serviços de saúde.39 Outra possibilidade de estratégia eficaz de pro-
moção da saúde direcionada ao adolescente é a participação juvenil,
momento no qual os adolescentes e jovens manifestam o desejo de
serem escutados e reconhecidos por suas capacidades na construção do
seu projeto de vida.40
A resiliência como um processo deve ser construída ao longo da
vida, considerando as fases que constituem o desenvolvimento do indi-
víduo, principalmente o período da adolescência, o qual envolve seres
humanos em plena capacidade vital, com transformações complexas de
ordens física, biológica e social, expostos a diversas situações e am-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 195

bientes, envoltos por teias de relações sociais que tanto podem favo-
recer a construção de fatores resilientes quanto exigir do adolescente
uma posição de enfrentamento e transposição das adversidades.29
Nesse sentido, a resiliência emerge como potencial de contri-
buição para o conhecimento da enfermagem na promoção da saúde e,
por conseguinte, na qualidade de vida das populações, haja vista a sua
aplicabilidade e importância nos diversos cenários e situações que en-
volvem o processo saúde/doença ao longo dos ciclos de vida e na saúde
do adolescente. As ações preventivas, curativas e educacionais em
saúde são campo propício para a atuação da enfermagem.41
Neste cenário de atuação, a enfermagem, como profissão, integra
uma equipe multiprofissional de saúde e, especificamente no atendi-
mento às crianças e aos adolescentes, com o objetivo de acompanhar o
crescimento e desenvolvimento com atenção integral e cuidados que
vão além das questões biológicas e pontuais, mas que incorpora ações
de promoção de saúde e prevenção de agravos, com resgate de compe-
tências e responsabilidades, inclusive familiares,42 considerando os as-
pectos físico, afetivo, psíquico e social. Assim sendo, o cuidado se
volta para as questões que englobam o adolescente e o processo da ado-
lescência e conhecer os aspectos constituintes e as peculiaridades desta
fase da vida é de fundamental importância para qualificar o cuidado
direcionado a esta população.29

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198 Estudos da Pós-Graduação

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PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 199

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ELEMENTOS DA VULNERABILIDADE SOCIAL
Adolescência e vírus da imunodeficiência humana

Silvana Santiago da Rocha


Jailson Alberto Rodrigues
Maria Augusta Rocha Bezerra
Karla Nayalle de Souza Rocha
Ulisses Umbelino dos Anjos
Jordana de Almeida Nogueira

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que a


adolescência vai dos 10 aos 20 anos incompletos. Pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), a adolescência é compreendida como
o período entre os 12 aos 18 anos, e o Código Civil determina a maiori-
dade aos 18. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e os Serviços de
Saúde para Adolescentes atendem pacientes somente a partir dos 12
anos. Esse enquadramento variável confunde o profissional de saúde e
o próprio adolescente que, às vezes, se vê diante de abordagens e trata-
mentos diferentes para situações semelhantes, dependendo da idade.1
Não é diferente quando se relaciona esse público aos aspectos relativos
à vulnerabilidade ao HIV (Vírus da Imunodeficiência Adquirida).
Considera-se que a susceptibilidade das pessoas ao HIV e, conse-
quentemente, à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), per-
passa contextos de vulnerabilidade e questões de gênero que ao longo dos
anos demarcou mudanças no padrão epidemiológico relacionado a esta
doença.2 Para se compreender as formas de adoecimento decorrentes da
aids deve-se levar em consideração os aspectos culturais, socioeconô-
202 Estudos da Pós-Graduação

micos, políticos, questões de gênero, etnia, ou seja, todo e qualquer tipo


de situação que implique suscetibilidade ao adoecimento. Percebe-se,
nesse sentido, o termo vulnerabilidade como a suscetibilidade do sujeito
a uma possibilidade de adoecimento, resultante de um conjunto de as-
pectos sociais, culturais, epidemiológicos, psicológicos e biológicos, re-
colocando o sujeito em sua relação com o coletivo. Estes aspectos devem
ser analisados tanto objetiva como subjetivamente, ou seja, devem ser
levadas em consideração a dimensão simbólica, a construção de pro-
cessos de identidade e as vulnerabilidades dos indivíduos.3
No contexto de avaliação destas vulnerabilidades compreende-se
que causas fundamentais funcionam como determinantes contextuais de
vulnerabilidade, influenciando múltiplos fatores de risco e múltiplos re-
sultados da doença. Nesse sentido, busca-se determinar e entender os
fatores sociais que criam condições de vulnerabilidade da doença. À me-
dida que a epidemia de HIV persistir, abordando as causas fundamen-
tais, cria-se a possibilidade de abordar adequadamente as raízes da trans-
missão do HIV através de intervenções sociais e políticas adequadas.4
Seguindo este direcionamento, a vulnerabilidade social revela-se
pela maior ou menor facilidade de acesso aos sistemas de educação e
saúde, às condições socioeconômicas que situam o adolescente na so-
ciedade, ao maior ou menor poder que exerce no entorno social, as suas
possibilidades e impossibilidades de lazer, de liberdade, de autonomia,
entre outros aspectos. Assim, pode-se pensar a vulnerabilidade social
em relação aos serviços de saúde, ou seja, se os adolescentes conse-
guem, quando precisam, de consultas e exames, se tem suas dificul-
dades e necessidades atendidas, se há programas de prevenção ao HIV/
Aids e ações de educação em saúde. Ainda se pode considerar o grau de
liberdade que este adolescente tem com outras pessoas para discutir e
decidir questões de interesse comum, sua relação com as instituições
religiosas, a existência de projetos na escola que objetivem criar uma
rede familiar e social de apoio para o enfrentamento de situações ad-
versas, entre outros aspectos.5
Nessa perspectiva, a vulnerabilidade ao HIV é, pois, resultante
de situações vivenciadas que de diferentes modos, graus e naturezas
reforçam-na ou não. Tais fatores, dentre outros, associados à condição
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 203

de vida e à posição assumida na sociedade, colocaram a juventude e a


adolescência como eixo prioritário na agenda das políticas públicas vol-
tadas à sexualidade e ao HIV.6
Os adolescentes são considerados grupos vulneráveis ao HIV/
Aids, já que muitos adotam comportamentos de risco como iniciação
precoce da atividade sexual,7 uso inconsistente do preservativo, múlti-
plos parceiros sexuais,8 consumo de álcool e outras drogas, entre ou-
tros.9 Ademais, a própria fase do adolescer já é constituída por transfor-
mações anatômicas, cognitivas, emocionais, sociais, econômicas e
comportamentais que podem contribuir para o aumento das possibili-
dades de infecção pelo HIV.10
Esse olhar integrativo dos múltiplos fatores, a partir do conceito
aplicado de vulnerabilidade, favorece a interdisciplinaridade, permite
uma melhor compreensão do fenômeno aids, possibilita identificar os
verdadeiros determinantes da infecção e subsidia a proposta de inter-
venções voltadas às multifaces da doença.11
No Brasil, do total de casos notificados no Sistema de Informação
de Agravos de Notificação (Sinan) e declarados no Sistema de
Mortalidade (SIM), no período de 1980 a 2010, 11,0% (66.698) foram
entre jovens de 15 a 24 anos. Entre a população jovem masculina a taxa
de incidência, em 2010, foi de 11,1/100.000 habitantes e entre as mu-
lheres de 7,8. Com relação às regiões do país, observa-se, no mesmo
ano, uma taxa de incidência de 14,3/100.000 habitantes na Região Sul,
12,8 no Norte, 9,2 no Sudeste, 7,9 no Centro-Oeste, e 6,9 no Nordeste.
Entre 1998 e 2010, a incidência de casos de aids em adolescentes e jo-
vens aumentou nas regiões Norte e Nordeste, diminuiu nas regiões
Sudeste e Sul, mantendo-se estabilizada na Região Centro-Oeste.12
As formas como a adolescência e a juventude vêm se consti-
tuindo compassadamente mais vulneráveis ao HIV têm colocado em
discussão as maneiras de empoderamento dos rumos de sua saúde re-
produtiva e sexual. Os adolescentes e jovens têm sido alvo de muitas
pesquisas a respeito da vulnerabilidade dos settings em que ela vem se
dando, entretanto a intersubjetividade das situações e contextos em
que eles se inserem e tornam-se vulneráveis são em muitas situações
desconsideradas.13, 14
204 Estudos da Pós-Graduação

A partir dessa conjuntura, baseando-se na escassez de ferra-


mentas que auxiliem a explicação e entendimento da vulnerabilidade
dos adolescentes ao HIV/Aids nos diferentes contextos e, em especial,
neste estudo, na capital paraibana15, questiona-se quais os fatores que
estão contribuindo para o aumento da vulnerabilidade dos adolescentes
ao HIV/Aids e como os componentes de vulnerabilidade do adoles-
cente estão se inter-relacionando para a modificação da mesma.
Observa-se que a complexa magnitude da temática HIV/Aids
exige atentar para relações teórico-práticas que vão além das teorias
naturalistas ou do cuidar, mas, sobretudo, para mudança consciente de
práticas, comportamentos e ações. Desta maneira, a responsabilização
individual não é suficiente para explicar o universo em que se processa
a vulnerabilidade de qualquer indivíduo, inclusive do adolescente, ao
HIV. É preciso entender a integração dos modelos sociais, das práticas
sexuais, dos modelos histórico-culturais, governamentais e situacionais
que a adolescência se engaja para entender o processo de tomada de
decisão para sua prevenção ao vírus.16, 17
Apesar da relevância da temática, as pesquisas voltadas para este
grupo etário limitam-se à identificação do risco e quantificação das pos-
sibilidades de adoecimento. Poucos estudos investigam as relações
entre HIV/Aids e os contextos em que os indivíduos se inserem nas
esferas microrregionais.18 Na perspectiva do conceito de vulnerabili-
dade, buscou-se identificar os elementos da dimensão social da vulne-
rabilidade dos adolescentes ao HIV e descrever como ocorrem as inter-
-relações entre os mesmos através do uso da Modelagem de Equações
Estruturais – SEM.
Já que o adolescente com HIV/Aids, em geral, é órfão, convive
com uma desestruturação familiar e apresenta dificuldades para refe-
renciar um cuidador, de modo que a realidade social que esse adoles-
cente vivencia é resultado de uma doença estigmatizada relacionada ao
empobrecimento, a marginalidade e a vulnerabilidade social são apon-
tadas como as principais dificuldades para a gestão do cuidado.19 Este,
que é prestado por multiprofissionais envolvidos na equipe de saúde,
destacando o enfermeiro, deve atuar ativamente no planejamento, na
gestão e na execução das ações destinadas ao adolescente que vive com
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 205

HIV/Aids, tendo em vista a garantia ao mesmo dos direitos sexuais e de


um cuidado integral.

Método

Trata-se de um estudo descritivo, com amostragem probabilística,


realizado na população adolescente do segundo segmento do ensino fun-
damental de escolas públicas municipais de João Pessoa – PB, as quais
totalizam 71 instituições, distribuídas em nove Polos Educacionais.
A amostra, de 417 adolescentes na faixa etária dos 12 aos 19
anos, foi definida pelo cálculo amostral para populações finitas, admi-
tindo-se um nível de significância de 5% e um erro amostral de 0,05 sob
o nível de confiança de 95%. Adotou-se o valor antecipado para a pro-
porção de adolescentes do sexo masculino (p) igual a 0,50 e utilizou-se
a correção para uma perda potencial de 10% da amostra.
O processo de amostragem deu-se em duas fases: estratificação
da amostra segundo o polo de educação municipal e seleção aleatória
da amostra por polo educacional. Selecionou-se uma unidade escolar
em cada polo por meio de sorteio. Optou-se pela seleção de uma única
unidade escolar por polo mediante semelhanças demográficas entre os
bairros onde as escolas de cada polo se inserem. A amostra compre-
endeu todos os polos educacionais e tratou-se de uma amostra selecio-
nada por sorteio ponderado pelo número de alunos. Após esse processo
de seleção das escolas, foi realizado sorteio ponderado da turma em que
seriam aplicados os questionários.
O instrumento de pesquisa, tipo questionário, foi previamente
examinado (teste piloto), submetido ao julgamento de três juízes para
determinar sua clareza e sensibilidade, verificar as correlações entre
questões, além de gerar críticas e sugestões para o seu aprimoramento.
O mesmo era composto por 78 questões de elegibilidade, de múltipla
escolha (em escala tipo Likert) e questões dicotômicas, dividido em duas
seções e separado por blocos de padronização de escalas e temáticas.
No que concerne à vulnerabilidade social, foram selecionadas 36
questões do questionário que abordavam as seguintes dimensões: va-
lores, acesso à cultura e lazer, referências culturais e relações de gênero.
206 Estudos da Pós-Graduação

Estas eram descritas pelas variáveis (questões do questionário): 11 a 19,


23 a 27, 29 a 35, 67 a 69; 20 a 22; 52, 54 a 56 e; 28, 63 a 65, 70, respec-
tivamente, conforme se observa no Quadro I.

Quadro I – Questões, por dimensão do componente social da vulnerabilidade,


abordadas no instrumento de pesquisa. João Pessoa, Paraíba, 2012
Dimensão abordada: Valores
(Número de ordem da questão/variável) Questionamento
(11) Você confia em familiares?
(12) Você confia em companheiro (a)?
(13) Você está satisfeito (a) com suas necessidades de saúde?
(14) Você está satisfeito (a) com suas necessidades de educação?
(15) Você está satisfeito (a) com suas necessidades sexuais?
(16) Você conta com companheiro (a) quando tem algum problema e precisa de ajuda?
(17) Você conta com familiares quando tem algum problema e precisa de ajuda?
(18) Você conta com amigos quando tem algum problema e precisa de ajuda?
(19) Você conta com profissionais da saúde quando tem algum problema e precisa
de ajuda?
(23) Em uma escala de 1 a 5, quanto à satisfação pessoal é importante na minha vida
(24) Em uma escala de 1 a 5, quanto à satisfação material é importante na minha vida
(25) Em uma escala de 1 a 5, quanto à satisfação religiosa é importante na minha vida
(26) Em uma escala de 1 a 5, quanto ao bem-estar individual é importante na minha vida
(27) Em uma escala de 1 a 5, quanto à satisfação sexual é importante na minha vida
(29) As diferenças de crenças religiosas, etnia, raça causam desentendimento
entre pessoas?
(30) É possível ter relação sexual com alguém sem ter amor?
(31) As mulheres podem fazer sexo oral com seus/suas parceiros (as)?
(32) Mulheres ou homens podem ter relações sexuais com pessoas do mesmo gênero?
(33) As pessoas podem fazer sexo anal?
(34) Os homens podem fazer sexo oral com suas (seus) parceiras (os)?
(35) Homens ou mulheres casados/vivendo junto podem ter relações com
outras pessoas?
(67) A camisinha vai contra os princípios religiosos?
(68) O uso da camisinha é responsabilidade só da mulher ou só do homem?
(69) O uso da camisinha é responsabilidade tanto do homem quanto da mulher?
Dimensão abordada: Acesso à cultura e lazer
(20) Você tem o hábito de ler?
(21) Você ouve rádio?
(22) Você assiste TV?
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 207

(continuação Quadro I)

Dimensão abordada: Referências culturais


(52) Quem usa preservativo tem menos possibilidade de se infectar pelo vírus HIV?
(54) Homens ou mulheres solteiros (as) têm chance de se infectar pelo vírus HIV?
(55) Homens ou mulheres casadas (os) têm chance de se infectar pelo vírus HIV?
(56) Crianças/adolescentes têm chance de se infectar pelo vírus HIV?
Dimensão abordada: Relações de gênero
(28) As diferenças entre homens e mulheres causam desentendimento entre pessoas?
(63) A camisinha provoca desconfiança no casal?
(64) A camisinha é necessária, mesmo quando se confia no parceiro?
(65) A camisinha é necessária, mesmo para quem tem parceiro fixo/casado?
(70) Se o (a) seu (sua) parceiro (a) tivesse o vírus da aids você deveria ser informado?
Fonte: Elaborada pelos autores.

Realizou-se uma Análise Fatorial Exploratória – AFE analisando


o padrão de correlações existentes entre as variáveis e utilização desses
padrões de correlações para agrupá-las em fatores e definir a direção
dos caminhos, as dimensões do modelo, os quais são variáveis não-ob-
servadas, que se pretende medir, a partir das variáveis observadas, as
questões do questionário. Especificou-se a rotação ortogonal varimax,
supondo que houvesse correlação entre os fatores. Por meio da AFE, foi
possível identificar a existência de apenas três fatores compondo a vul-
nerabilidade social, os construtos exógenos ou dimensões: valores, re-
lações de gênero e referências culturais. A determinação do fator ao
qual pertenceria cada variável também foi verificada nesta etapa da pes-
quisa, a qual antecedeu a coleta de dados e o ajuste do modelo.
Após a realização do teste-piloto, a adequação do questionário por
meio da AFE e a identificação das dimensões, deu-se a aplicação do ques-
tionário. A coleta dos dados foi realizada no próprio ambiente escolar em
horário de aula, com participação voluntária, sendo continuamente assis-
tido pelo diretor da escola e por um dos pesquisadores para possíveis es-
clarecimentos de dúvidas e auxílio no preenchimento das questões.
Optou-se pelo consentimento do próprio adolescente para parti-
cipação no estudo, mediante assinatura do Termo de Assentimento,
através de pesquisas realizadas com menores em ambientes como es-
colas, creches etc., cabendo aos representantes legais (familiar, tutor)
208 Estudos da Pós-Graduação

dos sujeitos (criança ou adolescente) ter conhecimento e autorizar a


participação no estudo, o que foi atendido através da assinatura de um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, além de se obter
autorização da Secretaria Municipal da Educação.
Para realização da pesquisa foi levado em consideração o que pre-
coniza a Resolução no 466/2012 da comissão de ética do Conselho
Nacional de Saúde, que trata de pesquisas envolvendo seres humanos20 e,
além disso, a proposta de pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em
Pesquisa das Faculdades Integradas de Patos – FIP para avaliação de sua
viabilidade e obtenção de aprovação sob parecer de número 043/2012.
Os dados foram digitados e armazenados em planilha eletrônica
do Microsoft Office Excel 2003. Após codificação de todas as variáveis,
elaborou-se um banco de dados que foi alimentado empregando-se a
técnica de validação por dupla entrada (digitação). Concluída a digi-
tação e a consistência dos dados, os mesmos foram importados para o
pacote Analysis of Moment Structures – AMOSTM 18.0.0 do Statistical
Package for Social Sciences – SPSS® para as possíveis análises.
Pressupõe-se um modelo recursivo em que todos os efeitos cau-
sais são unidirecionais e os erros residuais são independentes. Além
disso, a partir da fixação de alguns dos parâmetros em 1,0, têm-se um
menor número de parâmetros livres entre as relações teorizadas e cada
fator tem uma escala predefinida. Para que os parâmetros chegassem a
valores satisfatórios, realizou-se um stepwise, retirando-se as variáveis
que não obtiveram coeficientes de correlação significante (>0,50).
Apenas o distúrbio ou erro de medição para o construto endó-
geno necessitou ser pre-definido, ser restrito a um valor positivo, o que
se explica pelo fato de ocorrência de variâncias negativas no momento
do ajuste do modelo, impedindo o cálculo dos parâmetros. Este valor
pode ser predeterminado através de uma análise na literatura, por meio
da existência de estudos que demonstram este valor, ou por conveni-
ência, usando-se um valor positivo situado entre 0 e 1,0, sendo que se
usou este último critério.
Na Análise Fatorial Confirmatória – AFC aplicou-se a SEM,
usando para isso a matriz de covariâncias estimada pelo AMOSTM
18.0.0. Para tanto, foi preciso definir a composição das relações entre as
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 209

variáveis observáveis e não observáveis. As relações teorizadas foram


expressas no diagrama de caminhos.
Os resultados da avaliação do modelo iniciaram-se pela apresen-
tação do modelo de mensuração de cada um dos construtos. Em cada item,
foram avaliados os índices de ajuste do modelo e a validade convergente.
Em seguida, foram apresentados os índices de confiabilidade, por meio da
confiabilidade composta e variância extraída e a validade discriminante.
Calculou-se a confiabilidade composta e variância extraída das
dimensões do modelo para se analisar a confiabilidade dos dados. E
tendo em vista a não normalidade uni e multivariada dos dados, consi-
derou-se como melhor método a ser usado para estimação o método
ADF (Asymptotically Distribution Free), com uso no software para mo-
delagem de equações estruturais. A distribuição assintótica caracteri-
zou-se pela existência de um vetor de probabilidades limite πj = [π1;π2;
...; πn], com Σπj = 1, para todo j = {0; 1; 2; ...; n}.
Para a avaliação da validade do modelo, realizou-se o teste da
razão crítica, que é a representação do quociente entre a estimativa de
um parâmetro e seu erro padrão, efetuado pela estatística z e testando se
a estimativa é diferente de zero. Avaliou-se ainda o ajuste absoluto do
modelo através do índice de qualidade do ajuste – GFI e do erro qua-
drado médio de aproximação, RMSEA. O ajuste parcimonioso foi veri-
ficado através do Qui-quadrado normado χ2/gl, considerando-se ade-
quado para este o valor limite de até 5,0.
O ajuste incremental verificou-se através dos seguintes índices
de qualidade ajustada: Índice de Ajuste de Bondade – AGFI (Adjusted
goodness of fit index) e Índice de Ajuste de Bondade de Parcimônia –
PGFI (Parsimony goodness of fit index). Comprovou-se o ajuste incre-
mental através do Índice de Ajuste Normado – NFI (Normed Fit Índex)
e do Índice de Ajuste Comparativo – CFI (Comparative Fit Index).
Além deste, verificou-se as medidas de parcimônia: Índice de Ajuste
Normado de Parcimônia – PNFI (Parsimonious Normed Fit Index) e
Índice de Ajuste Comparativo de Parcimônia – PCFI (Parsimony
Comparative Fit Índex), enquanto que o ajuste global foi verificado
através das medidas BIC e CAIC (Baysian Information Criterion e
Consistent Ainkaike’s Information Criterion).
210 Estudos da Pós-Graduação

Determinantes da vulnerabilidade social

A Figura I ilustra o modelo de mensuração utilizado como base


da análise fatorial confirmatória para o construto endógeno vulnerabili-
dade social – ‘Vul_Soc’ que se mostrou composto por três dimensões:
Valores, Referências Culturais (Refer_Cult) e Relações de Gênero
(Relaç_Gener).

Figura I – Representação visual do modelo de mensuração exibindo relações


estruturais para a vulnerabilidade social

e34 e33 e32 e31

q34 ,84 q33 ,69 q32 ,29 q31 ,48

,83 ,54 ,69


,92

Valores

e54 q54 ,52 r_Soc


,76
,37
,58
1,00
,71 ,25
e55 q55 Refer_cult ,46
Vul_Soc
,60
,72 ,49

e56 q56 ,32

,52
Relaç_gener

,77 ,69
,60

q64 ,59 q65 ,35 q70 ,34

e64 e65 e70

Fonte: Elaborada pelos autores.

Através do método ADF, chegou-se ao modelo em que, para a


vulnerabilidade social, obtiveram maior relevância os Valores Pessoais
que os adolescentes trazem (com significância das questões 31 a 34),
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 211

suas Relações de Gênero (questões 64, 65 e 70) e Referências Culturais


(questões 54 a 56).
Nenhuma das correlações entre os construtos exógenos mos-
trou-se com estimativas padronizadas (β) significativas, porém sua per-
manência no modelo implicou melhora das estimativas dos índices de
ajuste sem, necessariamente, levar à reespecificação do modelo. Todos
os coeficientes de regressão linear para as variáveis do modelo apresen-
taram-se acima de 0,54 e com influência determinante aditiva em re-
lação à vulnerabilidade social, obtendo-se ainda um coeficiente de de-
terminação para esta parte do modelo considerado alto (R2 = 0,998).
Na análise multivariada dos dados, obtiveram-se estimativas vá-
lidas e verificação de consistência interna do modelo, conforme exposto
nas Tabelas I e II. Uma das maneiras de investigar a confiabilidade dos
dados é o cálculo da confiabilidade composta e variância extraída, o
que se verificou neste estudo.

Tabela I - Estatísticas da análise confirmatória do modelo de vulnerabilidade


social. João Pessoa, Paraíba, 2012
Confiabilidade Variável Dimensão Est_nPadr S.E C.R.c Est_Padr
Valores Vul_Soc 1,000 - - 0,525
Refer_cult Vul_Soc 1,000 - - 0,459
Relaç_gener Vul_Soc 1,000 - - 0,321
Confiab. q31 Valores 1,000 - 0,692
compostaa: q32 Valores 0,837 0,070 11,990 0,543d
0,839
Variância q33 Valores 1,228 0,076 16,124 0,828d
extraídab: 0,575 q34 Valores 1,305 0,079 16,520 0,917d
Confiab q54 Refer_cult 1,103 0,098 11,211 0,761d
Compostaa: q55 Refer_cult 0,962 0,089 10,813 0,707d
0,774
Variância q56 Refer_cult 1,000 - - 0,722
extraídab: 0,533
Confiab q64 Relaç_gener 1,364 0,152 8,992 0,771d
Compostaa: q65 Relaç_gener 1,196 0,149 8,020 0,595d
0,691
Variância q70 Relaç_gener 1,000 - - 0,587
extraídab: 0,431
Fonte: Elaborada pelos autores.
a) consideram-se aceitáveis valores superiores a 0,70.
b) consideram-se aceitáveis valores superiores a 0,50(21).
c) valores z > 1,96 implicam p-valor < 0,01 (teste z) (21).
d) significante ao nível de 0,001.
212 Estudos da Pós-Graduação

Tabela II - Coeficientes de correlação entre as dimensões do construto endógeno


da vulnerabilidade social (Vul_Soc). João Pessoa, Paraíba, 2012

Correlação Est_nPadr S.E. C.R. Est_Padr Sig.


Valores  Refer_cult 2,050 0,385 5,324 0,371 _
Refer_cult  Relaç_gener 1,654 0,369 4,482 0,489 _
Valores  Relaç_gener 0,982 0,305 3,218 0,254 0,001
Fonte: Elaborada pelos autores.

As variáveis com maior impacto na vulnerabilidade social foram


aquelas representadas pelas questões 33, 34 e 64, respectivamente, nas
dimensões valores (q33 e q34) e relações de gêneros (q64), com coefi-
cientes de regressão linear (β) 0,828; 0,917 e 0,771 influenciando de
forma adicional a vulnerabilidade. As variáveis da dimensão (construto
exógeno) relações de gênero, em conjunto, foram as que demonstraram
menor influência e menores coeficientes de regressão linear.
A vulnerabilidade social é composta neste modelo, em cerca de
53%, pelos valores pessoais trazidos pelo adolescente, 46% por suas refe-
rências culturais e 32% por suas relações de gênero, aproximadamente,
somando-se a cada uma delas as correlações entre estas dimensões (suas
interseções). Para tanto, é preciso uma análise detalhada dos componentes
que tornam esse público vulnerável ao HIV e percebe-se a ocorrência de
validade convergente para os construtos exógenos: valores pessoais – con-
fiabilidade composta = 0,839 e Refer_cult (referências culturais) – confia-
bilidade composta = 0,774, em que todas as variáveis indicadoras apre-
sentam cargas fatoriais padronizadas significativas > 0,50.
Todas as variáveis preencheram as especificações com relação às
cargas fatoriais padronizadas e aos z-values, sendo maiores que 1,56.
Entretanto, o construto Relaç_gener (Relações de gênero) –
Confiabilidade composta = 0,691 não se mostrou com validade conver-
gente, contudo sua permanência no modelo apontou uma melhor ade-
quação global do mesmo e diminuição do Qui-quadrado - χ2.
Apesar de não se mostrarem com estimativas padronizadas (β)
significantes (> 0,50), todas as correlações entre os construtos apresen-
taram significância estatística e influenciaram o melhoramento do
ajuste global do modelo. O valor da variância extraída das dimensões
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 213

valores e referências culturais foram superiores ao das variâncias com-


partilhadas, no entanto, para o construto Relaç_gener (relações de gê-
nero), isso não ocorreu. Ainda assim, verificaram-se bons índices de
validade discriminante e confiabilidade das medidas.
É possível observar, por meio da visualização da Tabela III, a
relevância dos elementos integrantes dos construtos da vulnerabilidade
social dos adolescentes ao HIV.

Tabela III - Estimativa da variância das variáveis (questões e dimensões)


do construto endógeno da vulnerabilidade social (Vul_Soc). João Pessoa,
Paraíba, 2012
Construto Est S.E. C.R. Sig.
Valores 6,322 4,825 2,371 A
Refer_cult 0,755 0,691 0,524 A
Relaç_gener 8,370 6,980 4,522 A
e31 6,865 0,733 9,366 A
e32 10,616 0,719 14,762 A
e33 4,369 0,574 7,605 A
e34 2,039 0,484 4,210 A
e55 4,479 0,638 7,025 A
e54 4,273 0,568 7,521 A
e56 4,430 0,628 7,056 A
e64 3,009 0,443 6,797 A
e65 6,187 0,748 8,276 A
e70 4,510 0,691 6,529 A
Fonte: Elaborada pelos autores.
a. parâmetro prefixado no modelo.

Todas as estimativas dos erros de mensuração das variáveis mos-


traram-se estatisticamente relevantes pelo teste da razão crítica. Deste
modo, a hipótese nula de que o parâmetro analisado é igual a zero foi
rejeitada para todos os valores aqui estimados.
Na avaliação da validade do modelo, o índice de qualidade do
ajuste – GFI = 0,982 demonstrou um ajuste absoluto, o erro quadrado
médio de aproximação – RMSEA = 0,024 atinge o valor de referência
recomendado para um bom ajuste (< 0,08) e se posicionou em um valor
mínimo considerado ótimo. O ajuste parcimonioso foi observado
214 Estudos da Pós-Graduação

através do Qui-quadrado normado χ2/gl = 1,247 (considerado adequado


o valor limite de até 5,0).
Comprovou-se o ajuste incremental através do Índice de Ajuste
Normado – NFI (Normed Fit Índex) e Índice de Ajuste Comparativo
– CFI (Comparative Fit Index). Ambos se posicionaram em valores
excelentes, NFI = 0,911 CFI = 0,980, demonstrando adequação do
modelo. Além deste, as medidas de parcimônia, Índice de Ajuste
Normado de Parcimônia – PNFI (Parsimonious Normed Fit Index) e
Índice de Ajuste Comparativo de Parcimônia – PCFI (Parsimony
Comparative Fit Índex) apresentaram boas estimativas, 0,648 e
0,697, respectivamente.
O ajuste incremental, que se deu através dos índices de qualidade
ajustado, os quais devem estar entre 0 e 1, apresentaram os seguintes
valores: AGFI = 0,972 e PGFI = 0,572. Ressalta-se que são conside-
rados valores satisfatórios aqueles maiores ou iguais a 0,90 para o pri-
meiro e > 0,50 para o segundo. O ajuste global, verificado através das
medidas BIC = 178,680 e CAIC = 201,680 (Baysian Information
Criterion e Consistent Ainkaike’s Information Criterion), critérios de
informação de ajuste dos modelos que apresentam grande número de
parâmetros, também evidenciaram a harmonia das informações na vali-
dação do modelo e, consequentemente, no ajuste final.
Por conseguinte, poucas foram as tentativas de uso de modelos
explicativos dos determinantes do processo saúde-doença. Em se tra-
tando de vulnerabilidade ao HIV, isto é ainda mais escasso, no entanto
a modelagem de equações estruturais mostrou-se como uma importante
e avançada ferramenta para a identificação dos componentes da di-
mensão social da vulnerabilidade dos adolescentes ao mesmo.
Descobrir e entender os motivos da vulnerabilidade do adoles-
cente ao HIV não é somente uma tentativa de dialogar com os conceitos
de adolescência e vulnerabilidade, mas um esforço para traduzir a aids
enquanto fenômeno social e entendê-la em sua complexidade e dinâ-
mica.22, 11 Alguns modelos explicativos propõem a avaliação dos com-
portamentos de risco ao HIV adotados por adolescentes, abrindo novas
perspectivas teóricas e metodológicas na forma de conduzir a prevenção
da infecção, sistematicamente.23
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 215

Os problemas de saúde possuem magnitude ampla e inter-rela-


cionam-se, por isso merecem abordagem multifacetária. Definir não
apenas os componentes da vulnerabilidade, mas criar uma práxis que
envolva os sujeitos sociais no intuito de dialogar e pautar as interven-
ções necessárias para transformar o perfil que a infecção pelo HIV vem
adquirindo, é tornar possível o sucesso das estratégias pensadas e mini-
mizar os custos sociais da doença. 11
A ocorrência das doenças em seu enfoque pela teoria da multicau-
salidade encontra na modelagem de equações uma ferramenta para a
identificação e explicação de fatores preponderantes para os agravos à
saúde, em especial de grupos mais vulneráveis como os adolescentes e
jovens. Essa visão interdisciplinar e não apenas biológica está se tornando
uma tendência internacional, perpassando a fronteira do individual.
Os componentes de vulnerabilidade mapeados de forma sistemá-
tica garantem resultados mais próximos da realidade dos adolescentes e
demarcam fatores que os tornam mais autoconfiantes. Estes fatores
podem atuar como um escudo que favorece seu desenvolvimento biop-
sicossocial e oferecem formas de superação dos contribuintes da vulne-
rabilidade. Perceber ‘a chance de exposição dos jovens ao adoecimento
como resultante não apenas de um conjunto de aspectos individuais,
mas também contextuais e coletivos’, torna-se um importante colabo-
rador para a integralidade das ações em saúde e corrobora com a filo-
sofia do sistema de saúde no qual o adolescente e o jovem inserem-se
no contexto brasileiro.24, 25
As necessidades de saúde que os adolescentes vêm apresentando,
que se estendem não apenas aos aspectos da sexualidade, mas a outros
construtos de vulnerabilidade, como a (ex) inclusão social e exercício
da cidadania, atreladas às experiências vivenciadas por eles nos di-
versos contextos, vem contribuindo para a superação do modelo de cui-
dado consolidado pelos serviços de saúde em que impera um olhar nor-
mativo, prescritivo e que se restringe à contracepção humana.26
Um estudo de revisão da literatura percebeu que ‘a maioria dos
estudos sobre vulnerabilidade ao HIV centrava-se na dimensão indivi-
dual, em comportamentos de risco ou pouco evidenciavam os determi-
nantes e condicionantes da doença’. Assim, pautava-se a vulnerabili-
216 Estudos da Pós-Graduação

dade em uma óptica singular, em elementos pouco abrangentes. A


diversidade dos contextos diante das situações sociais, culturais e eco-
nômicas restringiam-se a panoramas hipotéticos.11
Em face disso, os indicadores apresentados neste estudo per-
mitem ir além dos relatos encontrados na literatura, apresentando
evidências estatísticas de que o componente social da vulnerabili-
dade operacionaliza-se no cotidiano, à medida que a validade con-
vergente do modelo traduz a extensão com que a variável latente cor-
relaciona-se com seus construtos definidores, ou seja, se os
indicadores da variável latente estatisticamente convergem, repre-
sentam a variável, demonstrando, assim, o quão boa está a adequação
da teoria aos achados.27
Discutir a aids e seu enfrentamento exige, portanto, a compre-
ensão de iniquidades, entraves sociais, diferenças culturais e psicocogni-
tivas que influem diretamente na interface social da infecção.
Compreender também as relações sociais e de gênero e suas implicações
nas relações afetivos sexuais permite delinear os fatores que particula-
rizam a vulnerabilidade dos diferentes grupos, visto que o desequilíbrio
nas relações de gênero e os modelos culturais impostos pela sociedade
influenciam na incorporação de componentes vulnerabilizantes.28, 29

Conclusões

Este estudo mostrou que a vulnerabilidade social do jovem ao HIV


norteia-se, principalmente, pela influência de seus valores pessoais asso-
ciados à aquisição da aids, seguida das referências culturais e relações de
gêneros em que o uso do preservativo masculino nas relações sexuais foi
colocado como medida preventiva universal para tal infecção.
Ademais, a Modelagem de Equações Estruturais – SEM mos-
trou-se uma ferramenta adequada para a identificação dos elementos
que tornam o adolescente vulnerável ao HIV e descrição da forma
como ocorrem as relações de dependência entre os construtos do con-
texto de vulnerabilidade.
Pela aplicação da SEM foi possível identificar os construtos: va-
lores pessoais, referências culturais e relações de gênero como compo-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 217

nentes da dimensão social da vulnerabilidade. Esses elementos com-


põem, no contexto estudado, a vulnerabilidade social dos adolescentes
praticamente em sua totalidade (R2 = 0,998).
Identificar os componentes do construto social da vulnerabili-
dade torna-se uma ferramenta concreta de visualização dos fatores que
mais contribuem para o aumento das situações vulnerabilizantes. O mo-
delo apresentado é norteado por dimensões que em muito sofrem influ-
ências diretas do convívio familiar, das realidades do contexto domés-
tico e da participação dos pais no processo educativo. São necessárias,
no que compete à prevenção ao HIV para o público adolescente, abor-
dagens mais voltadas ao núcleo familiar.
Nesse contexto, destaca-se a importância do papel dos profissio-
nais de saúde, em especial o enfermeiro, que, em associação às redes
sociais dos jovens, como a escola, devem promover ações interdiscipli-
nares, a fim de promover discussões com os mesmos sobre as vulnera-
bilidades pelas quais estão expostos quanto ao HIV/Aids, além de ações
que visem a uma assistência integral, equânime e humanizada capaz de
proporcionar qualidade de vida e assegurar os direitos do cidadão.
Todavia, apesar do bom ajuste da SEM e adequação da metodo-
logia aplicada a questões das ciências da saúde, é necessária a continui-
dade de estudos como este, que norteiem o entendimento das relações
indivíduo – família e indivíduo – sociedade, para um adequado enten-
dimento da realidade dos contextos em que os adolescentes interagem e
tornam-se mais vulneráveis ao HIV.

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CRENÇAS E VALORES DE ADOLESCENTES
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL
Prevenção das DST/Aids

Kelanne Lima da Silva


Patrícia Neyva da Costa Pinheiro
Neiva Francenely da Cunha Vieira
Eliany Nazaré Oliveira
Fabiane do Amaral Gubert

A o adentrar nos aspectos culturais de uma sociedade ou grupos


específicos, é importante enfatizar como as crenças e valores podem in-
fluenciar nos comportamentos dos sujeitos por direcionar os padrões
aceitos por determinado grupo, pois as crenças são generalizações que se
fazem do mundo, com base na cultura, de acordo com o comportamento
humano, e valores são ideias pessoais que influenciam nas atitudes.1
Na fase da adolescência ocorre a construção da personalidade e
dos comportamentos sociais, os quais são influenciados pelas regras e
aspectos culturais ditados pela sociedade.2 Qualquer acontecimento
nessa fase altera o desenvolvimento do adolescente e influencia nos
seus comportamentos; entre eles pode-se citar a violência, que acarre-
tará consequências em todos os âmbitos da vida do adolescente até a
vida adulta.3
A violência é um assunto influenciado por aspectos culturais,
pois a sociedade ainda está marcada pelo machismo que pode ser con-
siderado um dos fatores responsáveis pela violência no âmbito familiar,
social, principalmente sexual, e contra a mulher, além de observar que
222 Estudos da Pós-Graduação

as questões de gênero ditam regras diferenciadas para o sexo feminino


e masculino no decurso da sua sexualidade.4 Nos últimos anos, a vio-
lência está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, pois sua
banalização tem contribuído para que o fenômeno seja compreendido
como algo natural, o que pode ser considerado negativo, já que mascara
a dimensão do problema.
A violência sexual pode ser conceituada como qualquer investida
sexual de caráter heterossexual ou homossexual imposta contra a von-
tade da vítima, podendo incluir desde a exposição de material porno-
gráfico até o intercurso sexual. Assim, esta violência abrange: carinhos
não desejados, penetração oral, anal ou genital, exposição obrigatória a
material pornográfico, exibicionismo, masturbação forçada, presenciar
ou ter relações sexuais com outras pessoas.5
Esta problemática pode ser compreendida de duas formas: como
exploração sexual e como abuso sexual. A distinção entre elas é o ca-
ráter de comercialização da exploração sexual, pelo qual a vítima re-
cebe algum tipo de remuneração para satisfazer sexualmente o seu
agressor. No caso da exploração sexual, destacam-se a prostituição, a
pornografia visando lucros e o tráfico de pessoas para fins sexuais.6
A maioria das vítimas da exploração sexual já foi abusada sexu-
almente dentro ou fora dos espaços familiares. Quando ocorre no am-
biente intrafamiliar, muitas vítimas saem de casa, o que as deixa mais
expostas à exploração sexual e ao uso de drogas.7

Aspectos culturais da violência sexual

Entre os vários tipos de violência, destaca-se a de cunho sexual,


principalmente contra crianças e adolescentes, a qual está relacionada
com as questões sociais e culturais da sociedade, refletindo as relações
de gênero e as desigualdades entre os homens e as mulheres.8 A vio-
lência sexual está baseada nas questões de poder e dominação da socie-
dade, principalmente no que se refere às questões de normatização da
sexualidade humana e à forma de dominação e opressão. Portanto, o
menor poder do sexo feminino na sociedade é um fator de risco para as
diversas formas de violência, entre elas, a sexual.9, 10
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 223

As concepções da cultura machista, que consideram o homem


como gênero dominante incapaz de controlar a sua sexualidade, valori-
zando o que seduz e mantendo relações com um maior número de par-
ceiras, principalmente jovens e que se enquadram nos padrões de beleza
aceitos pela sociedade, incentivam a ocorrência de violência sexual de
crianças e adolescentes.11
Crianças e adolescentes são vulneráveis à violência sexual por
estarem numa situação de dependência e de dominação dos mais ve-
lhos. Assim, a violência sexual atinge frequentemente crianças e ado-
lescentes, em particular do sexo feminino, em razão do poder do mais
velho sobre o mais novo e do masculino sobre o feminino.12 Destaca-se
também que, quando a violência ocorre na fase da adolescência, as con-
sequências podem ser agravadas por essa faixa etária ser considerada
mais vulnerável aos riscos e por ser um período marcado por mudanças
e adaptações biopsicossociais.13
A maior vulnerabilidade dos adolescentes, principalmente no
âmbito sexual, está relacionada ao momento de consolidação da perso-
nalidade e da sexualidade que evidencia comportamento de risco nas
práticas sexuais, aumentando a vulnerabilidade às Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST) e à aids.2
A ocorrência da violência sexual nesse período gera impactos no
desenvolvimento da sexualidade e influencia nas crenças e valores que
ditam o comportamento preventivo para as DST e a aids em adoles-
centes vítimas de violência sexual, enfocando questões relacionadas à
percepção dos riscos dessas doenças e a práticas preventivas durante o
desenvolvimento da sexualidade.14

Consequências da violência sexual na adolescência

A violência acarreta prejuízos em vários setores da vida das suas


vítimas, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes, por
interferir no desenvolvimento biológico e psicossocial em curto, médio
e longo prazos.14 Quando se refere à violência sexual, esses danos
podem ocasionar uma psicopatologia grave por alterar o progresso psi-
cológico, emocional e sexual de suas vítimas.15
224 Estudos da Pós-Graduação

A gravidade das consequências da violência sexual depende da


idade, das condições psicológicas das vítimas, da sua história anterior,
do grau de parentesco com o agressor e da frequência e repetição do ato.
Em relação às consequências psicológicas, ocorrem alterações no com-
portamento como fobia, atitudes autodestrutivas, isolamento social com
dificuldade para fazer amizades, confiar nos outros e lidar com emoções,
descrenças, desesperanças em relação ao futuro e comportamento eroti-
zado precoce. Podem ser evidenciadas, também, dificuldade no aprendi-
zado, fragilidade emocional, embotamento afetivo, baixa autoestima,
perda da autonomia e transtorno do estresse pós-traumático.16, 17
No âmbito da sexualidade, ocorrem distúrbios no seu desenvol-
vimento, podendo tornar-se exacerbada, ou a vítima não ter interesse
pelo assunto. Portanto, as pessoas podem apresentar práticas sexuais de
risco como a promiscuidade e a prostituição e não adotar práticas pre-
ventivas, podendo se infectar com o vírus da imunodeficiência adqui-
rida (HIV) ou mesmo ocorrer uma gravidez indesejada.2, 10, 18
Outras consequências podem ser citadas no contexto socioeco-
nômico como estigma, status socioeconômico rebaixado, níveis mais
baixos de participação das mulheres, ciclo de violência entre gerações.
As vítimas de violência sexual são mais vulneráveis a sofrer outros
tipos de violência, prostituição e abuso de drogas.12, 18
Além dos aspectos culturais e sociais envolvidos na violência
sexual, outros fatores políticos, econômicos e jurídicos estão relacio-
nados ao advento desse tipo de violência,6 destacando-a como fenô-
meno complexo e multicausal que necessita, para o seu enfretamento,
de ações articuladas, intersetoriais e interdisciplinares.19
A pessoa vitimada se acha insegura e duvida da capacidade de
se proteger, por acreditar que outro sujeito pode tocar e controlar o
seu corpo sem a sua permissão.20 Ressalta-se, também, que a vítima
terá dificuldade para se proteger quando adulta, o que explica a vulne-
rabilidade desses sujeitos a comportamentos sexuais de risco para as
DST e a aids.21
As adolescentes vítimas de violência sexual desenvolvem falta
de autonomia e baixa autoestima, o que reduz as possibilidades de cons-
truírem mecanismos de autoproteção.22
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 225

Portanto, a violência sexual, devido às suas consequências, ne-


cessita da atuação de diversos profissionais e segmentos da sociedade,
por se tratar de uma violência multifacetada que impõe uma série de
desafios à intervenção pública.23

Crenças e valores das adolescentes vitimadas


em relação às DST e Aids

Em relação às crenças e valores das adolescentes vítimas de vio-


lência sexual, pode-se evidenciar que elas tinham um déficit de conhe-
cimento em relação às DST e à aids e não se consideravam susceptíveis
a essas doenças por acreditarem que não iriam se relacionar sexual-
mente com homens, mesmo identificando a maior vulnerabilidade da
mulher a essas patologias.13
Pelos achados do estudo citado, pode-se afirmar que as adoles-
centes vítimas de violência sexual vivenciam a sexualidade cercada de
traumas que se refletem nas suas crenças e valores, o que as tornam
mais vulneráveis aos comportamentos sexuais de risco como também
às DST/Aids, pois demonstram falta de autonomia sobre seu corpo e
sua sexualidade.14
Entende-se que a sexualidade, através de suas normas, atua como
um dispositivo de controle de corpos, populações e modos de existência
por produzir uma interface entre os corpos individualizados e a popu-
lação da espécie.24 Dessa forma, a sexualidade não é entendida apenas
no contexto da maturação sexual, pois abrange a compreensão de vários
cenários inter-relacionados como as influências das relações de gênero
em reconhecer o desejo ou não de estabelecer intimidade corporal com
alguém, capacidade de refletir sobre as convenções sexuais e se pro-
teger tanto de uma possível gestação como das DST/Aids.25
Entretanto, quando a adolescente é violentada sexualmente, ela
não teve direito à escolha de decidir sobre o desejo de se relacionar se-
xualmente com alguém, o que rompe o processo de desenvolvimento da
sexualidade a qual é um dos principais domínios que incitam o jovem a
criar uma esfera de autonomia individual, o que se dá, sobretudo, pela
passagem à sexualidade com parceiro. A construção desse espaço pri-
226 Estudos da Pós-Graduação

vado envolve o aprendizado de como se estabelece um relacionamento


afetivo e sexual.25
As adolescentes que vivenciaram situação de violência sexual
atribuem os significados dessa violência à expressão da corporeidade,
pois o corpo é o primeiro e único lugar da experiência humana, sendo,
portanto, produtor e portador de significados. A expressão da corporei-
dade está totalmente relacionada com a construção da autoimagem e da
autoestima, e esses conceitos de si mesma vão refletir nos relaciona-
mentos interpessoais.26
Portanto, as adolescentes vítimas de violência sexual encon-
traram dificuldade de constituir e consolidar relacionamentos afetivos e
sexuais. Isso decorre também da falta de autonomia, que é considerada
como um processo de conquista durante a criação de novos vínculos
sociais, além de fortalecer a possibilidade de escolhas, aspecto funda-
mental na construção de sujeitos de direitos.14
As adolescentes se encontram mais expostas aos riscos tidos
como inerentes à sexualidade, principalmente quando a exposição
ocorre precocemente. Entre os riscos pode-se destacar a maior vulnera-
bilidade às DST/Aids.25
Ainda em relação ao estudo citado, as adolescentes demonstraram
déficit de conhecimento em relação à DST, sendo a aids a única doença
evidenciada nos relatos das adolescentes. Esse fato pode dificultar a adoção
de medidas preventivas em relação à DST e levá-las a uma ideia reducio-
nista no que se refere à prevenção e detecção precoce dessas doenças.3
Em decorrência do trauma sofrido e do tipo de violência, as ado-
lescentes não gostam de socializar informações que as fazem lembrar o
ocorrido com elas e por isso não conversam entre si, com amigos e nem
com familiares sobre assuntos relacionados à sexualidade.3
Além do déficit de conhecimento, as adolescentes expressaram a
maior vulnerabilidade da mulher às DST/Aids no que se refere aos fa-
tores biológicos e culturais intimamente relacionados. No que concerne
aos fatores biológicos, as adolescentes destacaram a anatomia da mu-
lher como mais fácil de se infectar com alguma DST/Aids. E em re-
lação aos aspectos sociais e culturais, ainda se percebe a crença de que
a mulher é o sexo frágil.3
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 227

A transmissão do HIV homem-mulher é maior do que mulher-


-homem. Os diversos fatores biológicos explicam a maior chance de
infecção pelo HIV entre mulheres, como as mudanças hormonais, a fi-
siologia e ecologia da microbiota vaginal e a maior prevalência de ou-
tras DST. Associado aos aspectos biológicos, não se pode subestimar a
forte associação das relações de gênero nas sociedades que expõem
ainda mais a mulher às situações de infecção pelo HIV.27, 28
Questões desde as biológicas até as sociais tornam a mulher mais
vulnerável às infecções pelas DST/Aids.29, 30 Portanto, as diferenças entre
o homem e a mulher vão além dos fatores biológicos, necessitando de uma
análise profunda das questões comportamentais, pois algumas ainda estão
baseadas nas concepções da cultura machista e se estendem não apenas
nas morbidades de natureza sexual, mas também no contexto geral.
As adolescentes não se sentem vulneráveis às DST/Aids por re-
latarem que não querem se relacionar futuramente com homens em
consequência de problema de ordem psicológica decorrente do trauma
sofrido.3 Esse fato pode expor ainda mais as adolescentes a situações de
vulnerabilidade, pois, por não acreditarem que irão querer se relacionar
futuramente com homens, elas poderão não valorizar as informações
referentes à prevenção de DST/Aids.
Estudos mostram que as mulheres que foram violentadas sexual-
mente são mais submissas nas relações sexuais e têm menor conheci-
mento sobre o seu corpo.22 Portanto, por mais que as adolescentes ex-
pressem o desejo de não se relacionar sexualmente com homens, elas
devem ser orientadas, pois a maior submissão da mulher evidencia a
falta de poder de negociação em práticas sexuais seguras, como o uso
de preservativo no relacionamento com seus parceiros.14
As adolescentes vítimas de violência sexual consideram o homem
um ser totalmente ativo e que pode se envolver com várias mulheres.
Assim, as questões de gênero e os aspectos da cultura machista cola-
boram para o aumento da exposição das mulheres às DST/Aids.31 Elas
também destacaram que o uso do álcool interfere no momento de usar
a camisinha. Esse fato pode ser atribuído ao momento da violência se-
xual no qual o agressor poderia ter ingerido bebida alcoólica e elas acre-
ditam que ele não usou a camisinha por isso.
228 Estudos da Pós-Graduação

Conclui-se que as crenças e valores dessas adolescentes as


tornam vulneráveis à DST/Aids, sendo necessário refletir sobre as con-
sequências da violência sexual na vida dessas adolescentes para a ela-
boração de estratégias e ações preventivas voltadas para esse público-
-alvo no que concerne ao desenvolvimento da sexualidade de forma
segura, minimizando traumas e sofrimentos advindos dessa experi-
ência, tornando-as conscientes dos seus direitos sexuais e reprodutivos.
Portanto, as crenças e os valores das vítimas de violência sexual pre-
cisam ser compreendidos para promover a adoção de comportamentos
sexuais saudáveis.

Implicações para a enfermagem na prevenção de


violência sexual na adolescência

A enfermagem como profissão desenvolve uma prática social


que pode estar vinculada a vários tipos de demandas e necessidades; no
caso do enfrentamento da violência sexual se faz necessário formar pro-
fissionais competentes e socialmente comprometidos com essa proble-
mática, pois a atuação da enfermagem abrange a participação no diag-
nóstico, no tratamento dos agravos resultantes da violência nas ações
educativas e na notificação.32
O fenômeno da violência sexual pode ser considerado como mul-
ticausal, portanto para a realização de ações focadas na prevenção da
violência sexual se faz necessário o apoio de vários setores da socie-
dade. E, no caso do setor saúde, destaca-se a enfermagem como pro-
fissão voltada para a arte de cuidar de forma holística, podendo contri-
buir com ações de promoção da saúde voltadas para a valorização do
sujeito e baseadas nas crenças e valores dos aspectos relacionados à
violência sexual, conscientizando os adolescentes das suas atitudes para
que possam adotar comportamentos preventivos, minimizando a vulne-
rabilidade a esse agravo, tornando-os conscientes dos seus direitos se-
xuais e reprodutivos.3, 33
As ações de educação em saúde direcionadas a essa problemática
devem sensibilizar o adolescente sobre a importância da mudança das
suas atitudes para que os mesmos adotem comportamentos que possam
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 229

prevenir a ocorrência da violência sexual, o que vai contribuir para o


desenvolvimento da sexualidade de forma saudável, a promoção da
saúde e a melhora da qualidade de vida. Além de desenvolver ações
educativas com os adolescentes, a enfermagem também pode orientar
os pais sobre o direito de o adolescente crescer sem violência e os
efeitos das consequências para a saúde e enfatizar os deveres dos adultos
responsáveis em relação à segurança e ao bem-estar.32
Portanto, é necessário enfatizar a importância da prevenção como
uma tática de defesa dos adolescentes e de seus pais, pois, a partir do
momento que eles se tornam conscientes e informados sobre as situa-
ções que podem ser perigosas, eles estarão orientados e preparados para
identificar situações que os coloquem em risco.34

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COMPORTAMENTOS SEXUAIS DE
RISCO E ATIVIDADE FÍSICA
Adolescentes escolares cearenses

Ricardo Hugo Gonzalez


Márcia Maria Tavares Machado

A adolescência caracteriza-se como um período de grandes


mudanças no desenvolvimento humano, não sendo possível uma deli-
mitação exclusiva a partir do aspecto de idade cronológica.1 Na con-
temporaneidade, presenciamos transformações sociais que interferem
diretamente nos comportamentos e atitudes dos adolescentes. A adoles-
cência é a etapa da vida em que a construção de valores e a maturidade
estão em consolidação.
Há uma elevada proporção de adolescentes com níveis insufi-
cientes de atividades físicas, hábitos alimentares inadequados com
baixo consumo de frutas e verduras e atividade sexual sem o uso regular
de preservativos.2
O fato de serem jovens e atraentes é o que tornam esses adoles-
centes mais vulneráveis diante desses comportamentos. O início pre-
coce da sexualidade, a relação sexual sem uso de preservativos, a não
utilização ou utilização inadequada de anticoncepcionais, o uso inde-
vido de drogas como o álcool e tabaco, a violência e os acidentes de
trânsito são exemplos de situações em que os adolescentes estão ex-
postos e, portanto, mais vulneráveis. Salienta-se que eles estão mais
expostos a fatores de risco ligados a aspectos comportamentais.3
234 Estudos da Pós-Graduação

Na adolescência, ainda há certa imatu­ridade quanto ao pensa-


mento abstrato, o que pode fazer com que o jovem não considere sua
vulne­rabilidade, expondo-se a riscos sem avaliar ou prever as consequ-
ências.4 Muitas mortes de adolescentes poderiam ser evitadas, sendo ne-
cessárias medidas de prevenção. Sendo assim, há necessidade de ações
em saúde com ênfase na prevenção da ocorrência destes comporta-
mentos de risco e na implantação de novos hábitos de vida saudáveis.
A conduta sexual é um dos comportamentos humanos mais im-
portantes ao longo do ciclo de vida. Em cada período da vida, um indi-
víduo apresenta características próprias e distintas, influenciadas por
fatores biofisiológicos e psicossociais. Na puberdade há mudanças
morfológicas e psicológicas que estão relacionadas à estatura, peso, dis-
tribuição de massa adiposa, problemas na pele, mudanças ligadas ao
aparecimento de características sexuais secundárias como seios, pelos
púbicos, alteração na voz, e também do ponto de vista afetivo, cogni-
tivo e social.5
A sexualidade depende de fatores psicossexuais que envolvem o
desenvolvimento da personalidade e os comportamentos sexuais. O pri-
meiro refere-se à identidade de gênero, relacionada com o sentido de
ser masculino ou feminino e estabelece­-se muito precocemente na in-
fância, resultado de uma série de experiências com familiares, com os
pares e com fenômenos culturais; ­o segundo refere-se à identidade se-
xual, padrão definido pelas características biológicas e sexuais; o ter-
ceiro, quanto à orientação sexual, que descreve o objeto dos impulsos
sexuais: heterossexual, homossexual ou bissexual, levando a uma hete-
rogeneidade dos comportamentos.5
Por esse motivo, torna-se imperativo conhecer e associar os com-
ponentes biológicos, psicológicos e antropológicos da sexualidade, a
fim de compreender melhor as preocupações, dúvidas e angústias dos
jovens, relacionadas com o corpo sexuado e sua normalidade, o seu
potencial sexual e as relações que estabelecem com os outros.
A enfermagem, como membro da equipe de saúde coletiva, dá a
atenção ao adolescente, inserindo a sexualidade como um elemento es-
sencial na formação do indivíduo. Atualmente, a enfermagem necessita
desenvolver tecnologias de ensino capazes de abordar a sexualidade
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 235

com adolescentes de forma positiva, a fim de promover a saúde sexual


e reprodutiva num diálogo franco e aberto, seja na atenção básica, ter-
ciária, na escola ou na comunidade.6
Nas aulas da educação física escolar, através da cultura corporal
do movimento, alguns conteúdos podem contribuir no período de tur-
bulência que os adolescentes passam, cooperando com seu desenvolvi-
mento biopsicossocial. Os esportes coletivos e a dança são exemplos
desses conteúdos, que envolvem comportamentos como os gestos, as
expressões de emoções, as orientações do corpo, as posturas, a relação
de distância entre indivíduos. A dança, em especial, contribui para esta-
belecer novas formas de comunicação corporal, já que a aprendizagem
da dança colabora para a expressividade de manifestação do corpo, ou
seja, de manifestação do ser. Assim, a dança é uma das mais poderosas
formas de comunicação e expressão; uma forma de linguagem universal
e faz parte da cultura corporal da humanidade.7

Método

Trata-se de um estudo descritivo exploratório de corte trans-


versal, realizado em duas escolas públicas da Secretária Executiva
Regional (SER) IV da cidade de Fortaleza – CE. Participaram do estudo
adolescentes de ambos os sexos, na faixa etária de 12 a 17 anos. A
amostra foi composta de 375 estudantes (212 do sexo feminino e 163 do
sexo masculino, representando mais de 90% do total dos alunos matri-
culados nas duas escolas. Os adolescentes foram escolhidos de forma
não aleatória de acordo com a disponibilidade.
A coleta de dados foi realizada durante os meses de abril e maio
de 2014, mediante a aplicação do questionário Youth Risk Behavior
Survey (YRBS), idealizado pelo Centers for Disease Controland
Prevention (CDC), em sua versão traduzida e validada para o idioma
português.8 As questões desse instrumento foram divididas nos se-
guintes seguimentos: “informações sociodemográficas”; “segurança
pessoal”; “violência”; “sentimentos de tristeza e intenção de suicídio”;
“uso de tabaco”; “consumo de bebidas alcoólicas”; “uso de maconha”;
“uso de outras drogas”; “comportamento sexual”; “peso corporal”;
236 Estudos da Pós-Graduação

“alimentação”; “atividade física” e “saúde”. Todas as questões eram de


múltipla escolha, devendo o participante assinalar apenas uma resposta
para cada questão proposta. Salienta-se que apenas duas dimensões
foram analisadas neste estudo: o comportamento sexual e a prática de
atividade física.
O questionário foi aplicado na sala de aula após autorização dos
diretores de cada instituição e dos participantes da pesquisa. A análise dos
dados suscedeu de forma descritiva e binominal. O programa utilizado
para análise estatística foi o SPSS, versão 20.0. Inicialmente, foi realizada
uma análise descritiva dos valores contidos no banco de dados para veri-
ficar se houve algum erro de digitação na tabulação dos dados do questio-
nário para o programa. Em seguida, realizou-se uma análise descritiva
por dimensões em que todas as variáveis do questionário distribuíram-se
pelos 13 segmentos. Após essa análise descritiva, foram verificadas as
relações de cada variável com o sexo e idade dos participantes de modo a
obter informações relevantes sobre os assuntos abordados. Para verificar
se houve diferença significativa (p<0,05) nas relações entre as dimensões
e o sexo/idade, utilizou-se o teste Qui-quadrado de independência.

Contraceptivos, doenças sexualmente transmissíveis e


gravidez precoce

Quando questionado quanto ao início das atividades sexuais, os


escolares adolescentes cearenses, com idades que variavam dos 11 aos
15 anos, 27,5% responderam que já tinham iniciado a atividade sexual
e 72,5% responderam que ainda não tinham iniciado, como mostra a
Tabela 1, abaixo:

Tabela 1 - Início da Atividade Sexual em Adolescentes de duas escolas públicas


na cidade de Fortaleza – CE
Você já teve relacionamento sexual? N %
Sim 103 27,5
Não 272 72,5
Total 375 100

Fonte: Elaborada pelos autores.


PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 237

Em um estudo realizado no estado da Califórnia, nos Estados


Unidos, com uma amostra de 4.557 adolescentes, 9,0% relataram já ter
iniciado a atividade sexual. Outro estudo realizado na Grécia, com uma
amostra de 1.538, aponta que 16% dos jovens já tinham iniciado suas
atividades sexuais. Os dados dos adolescentes cearenses são similares
aos 28,7 apresentados pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar
(PeNSE) 2012, divulgada no Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas (IBGE).5
Os riscos relacionados à atividade sexual, especificamente, é a
primeira relação sexual, que acontece cada vez mais precoce e, como
consequência, um número maior de parceiros sexuais e, desta maneira,
maiores riscos de gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, além
da infecção pelo HIV/Aids. Há evidências que o início da atividade
sexual inicie por volta dos 16 anos com um alto índice de gravidez em
adolescentes assim como o uso indevido de métodos de contracepção.6
O impacto da gravidez na adolescência influencia as condições psí-
quicas e sociais, levando muitas vezes a deserção escolar, maior nú-
mero de filhos, fracasso na relação do casal e menores chances de tra-
balho no futuro. A gravidez na adolescência é um problema de saúde
pública tanto no Brasil como nos outros países.9
Quando questionados quanto ao uso de métodos anticoncepcio-
nais, observou-se que 71, ou seja, 2% afirmaram que nunca tiveram re-
lação sexual, 8,3% disseram que nenhum método foi utilizado para evitar
gravidez, 2,9% utilizaram pílula anticoncepcional, 11, 2% utilizaram a
camisinha como preservativo, 1,1% utilizaram o anticoncepcional inje-
tável, 1,3% fizeram uso do coito interrompido, 0,3% relataram usar outro
método e 3,7% falaram não saber se usaram ou não algum tipo de método
contraceptivo, conforme é evidenciado na Tabela 2, a seguir:
238 Estudos da Pós-Graduação

Tabela 2 - Qual método utilizado para evitar uma gravidez indesejada pelos
adolescentes de duas escolas públicas na cidade de Fortaleza – CE
Na última vez que você teve relação sexual, qual
método você ou seu parceiro (a) usou para evitar
N %
gravidez?
Eu nunca tive relação sexual 267 71,2
8,3
Nenhum método foi usado para evitar gravidez 31
Pílula Anticoncepcional 11 2,9
Preservativo (camisinha) 42 11,2
Anticoncepcional Injetável 4 1,1
1,3
Coito Interrompido ("tira na hora H") 5
0,3
Algum outro método 1
Não sei 14 3,7
Total 375 100,0
Fonte: Elaborada pelos autores.

A Bolívia é um dos países de prevalência mais baixa na utili-


zação de métodos anticoncepcionais. Embora a proporção de mulheres
em idade fértil tenha aumentado, ainda é muito baixa, 48,3%, em 1998;
assim como na Nicarágua, 60%, em 1998; México, 70%, em 2000 e
Colômbia 77%, em 2000.9 Nos depoimentos dos jovens cearenses, dos
27,5% que já tiveram relações sexuais, somente 16,8% usaram algum
método contraceptivo.
O conhecimento dos métodos de contracepção e uma conscien-
tização sobre o risco em adolescentes poderia melhorar os problemas
de saúde sexual e reprodutiva na adolescência. É função dos profissio-
nais da saúde promover o conhecimento dos métodos contraceptivos,
as vantagens da sua utilização e as consequências de uma vida sexual
sem prevenções.10 Há controvérsias sobre os comportamentos dos
adolescentes em relação à utilização de métodos contraceptivos.
Alguns utilizam frequentemente enquanto outros negligenciam este
meio de prevenção.
O motivo pelo qual alguns adolescentes não usam anticoncepcio-
nais não parece ser somente a falta de informação sobre a necessidade
de se utilizar métodos contraceptivos nas relações sexuais. O que ocorre
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 239

é que a informação não se traduz em comportamento efetivo para im-


plementar um comportamento contraceptivo adequado.
As mulheres esperam que o parceiro tenha o preservativo na hora
de usá-lo, pois não consideram responsabilidade inteiramente sua. Isto
aumenta a vulnerabilidade feminina em relação às doenças sexualmente
transmissíveis. Por outro lado, existe ainda o mito de que um ato sexual
sem proteção é considerado mais romântico.
Ainda há outros mitos nos quais os adolescentes acreditam,
como, por exemplo, que bebida alcoólica e drogas aumentam o de-
sejo sexual; não relacionam a possibilidade de gravidez com a prática
de sexo interfemural sem proteção; acreditam que não há riscos de
gravidez durante o período menstrual; para acontecer a relação se-
xual é preciso amar o parceiro (para as meninas) e apenas sentir
atração (para os meninos); para os meninos há preferência em se
casar com alguém virgem. As diferenças de comportamento entre
sexos indicam tabus arraigados no berço cultural da sociedade em
que a educação sexual, de caráter repressor, contribuiu para que os
papéis e valores sexuais de homens e mulheres se mantenham rígidos
e conservadores ainda hoje, embora as novas gerações comecem a
imprimir novos comportamentos.6
Num estudo com adolescentes grávidas, observou-se que 67,3%
das jovens, apesar de possuírem um bom nível de conhecimento sobre
métodos contraceptivos, não utilizaram método algum na primeira re-
lação. As principais razões citadas para o não uso dos métodos contra-
ceptivos foram: não pensaram nisso na hora (32,4%), desejavam a
gravidez (25,4%), não esperavam ter relação sexual naquele momento
(12,7%), não conheciam nenhum método contraceptivo (11,3%), os
parceiros não queriam usar (8,5%) e 5,6% não se importavam em
ficar grávidas.9
Os adolescentes com comportamento homo e bissexual rela-
taram utilizar menos preservativo de forma frequente (74,2%) do que
aqueles com comportamento heterossexual (48,6%, p < 0,001). Entre
os adolescentes com comportamento homo e bissexual, existem mais
fatores de risco quando comparados àqueles com comportamento he-
terossexual como, por exemplo: altos níveis de tentativa de suicídio,
240 Estudos da Pós-Graduação

uso elevado de substâncias, sintomas de depressão e outros pro-


blemas de saúde mental, frequentes comportamentos sexuais de
risco, incluindo HIV, doenças sexualmente transmissíveis (DST),
gravidez na adolescência, abuso físico ou sexual, distúrbios alimen-
tares e rejeição familiar.11
O relatório Youth Risk Behavior (YRBS), referente à última dé-
cada, informa que, nos EUA, surgem, a cada ano, três milhões de casos
de doenças sexualmente transmissíveis e um milhão de casos de gra-
videz entre os adolescentes. O mesmo relatório, em 2011, indica que
47% dos adolescentes já tiveram relações sexuais; 6% tiveram relações
sexuais antes dos 13 anos; 15% tiveram relações sexuais com quatro ou
mais pessoas nas suas vidas; 34% tiveram relações sexuais com, pelo
menos, uma pessoa durante os três meses anteriores à pesquisa; 40%
não usaram preservativos na última relação sexual; 16% nunca foram
orientados sobre educação sexual ou aids.

Atividade física, sexualidade e educação sexual

A prática regular de atividades físicas em jovens vem sendo reco-


nhecida e valorizada pela comunidade científica devido aos benefícios
nos aspectos fisiológicos, biológicos e psicossociais, entre os quais o
controle da ansiedade e da depressão, a redução do estresse, a elevação
da autoestima, a melhoria da autoimagem, a promoção da integração e
socialização entre os jovens.12 Em Portugal, foram implementadas, nas
aulas de educação física, ações de educação sexual que objetivam opor-
tunizar momentos de aproximação entre rapazes e moças com o intuito
de apreciarem e compreenderem as diferenças, de serem tolerantes uns
com os outros e não discriminarem, elevando, assim, o estado de saúde
e a qualidade de vida dos alunos adolescentes.13
Nesse estudo, 40% dos adolescentes afirmaram não ter sido ativo
fisicamente (mais de 60 minutos no dia) em nenhum dia da semana que
antecedeu a aplicação do questionário. Por outro lado, apenas 5,6%
disseram ter sido ativo em todos os sete dias da semana, conforme evi-
denciado na Tabela 3, a seguir.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 241

Tabela 3 - Atividade Física realizada durante os sete dias da semana pelos


adolescentes de duas escolas públicas na cidade de Fortaleza – CE
Durante os últimos sete dias, em quantos dias você
foi ativo fisicamente por, pelo menos, 60 minutos
por dia? (Considere o tempo que você gastou em N %
qualquer tipo de atividade física que aumentou sua
frequência cardíaca e fez com que sua respiração
ficasse mais rápida por algum tempo.)
Nenhum dia 150 40,0
1 dia 69 18,4
2 dias 57 15,2
3 dias 35 9,3
4 dias 32 8,5
5 dias 7 1,9
6 dias 4 1,1
7 dias 21 5,6
Total 375 100,0
Fonte: Elaborada pelos autores.

Somente uma pequena parcela da amostra (8,6%, somando-se


os que responderam de cinco a sete dias) realizam atividade física
segundo as recomendações da United Kingdom Expert Consensus
Group, que atualmente são recomendados 60 minutos ou mais de ati-
vidades físicas diárias moderadas e/ou vigorosas na adolescência por,
no mínimo, cinco vezes na semana.14 E possuindo essa porcentagem
tão alta de indivíduos que não foram ativos em nenhum dia na última
semana, surge uma questão a respeito da presença obrigatória nas
aulas de educação física escolar que, pelo menos nas duas escolas vi-
sitadas, não foi seguida por esses 40% de jovens, já que eles respon-
deram não ter feito nenhuma atividade física durante a semana. Muitas
vezes, até por uma falta de incentivo e fiscalização por parte das es-
colas, esses jovens optam por não comparecerem às aulas práticas ou
preferem realizar outras tarefas no momento dessas aulas.
Outro dado em relação à atividade física apresentou que
66,7% dos participantes não jogaram em nenhuma equipe de esporte
durante os últimos 12 meses e 20% disseram ter atuado em apenas
uma equipe, seja na escola, no bairro ou em algum clube, conforme
mostra a Tabela 4.
242 Estudos da Pós-Graduação

Tabela 4 - Atividade física relacionada ao esporte com adolescentes de duas


escolas públicas na cidade de Fortaleza – CE
Durante os últimos 12 meses, em quantas
equipes de esporte você jogou? (incluir equipes N %
da escola, do clube ou do bairro)
Nenhuma equipe 250 66,7
Uma equipe 75 20,0
Duas equipes 24 6,4
Três ou mais equipes 26 6,9
Total 375 100,0
Fonte: Elaborada pelos autores.

Comparando os dados segundo o sexo dos alunos, o estudo


revela uma diferença significativa (p<0,05) entre o sexo masculino
e o feminino. Menos da metade das meninas relatou ser ativa fisica-
mente (por mais de 60 minutos no dia) pelo menos um dos sete dias
que antecederam a aplicação do questionário, e dessas, grande parte
se concentra nas respostas de um ou dois dias ativas, reduzindo cada
vez mais a porcentagem, à medida que aumentava a quantidade de
dias. Em contrapartida, no sexo masculino, 23,9% afirmam não ter
sido ativa fisicamente em nenhum dos sete dias que antecederam a
pesquisa. Além da preocupação com essa grande quantidade de
alunos que não tem praticado atividade física, existe uma preocu-
pação maior, principalmente com as meninas, já que essa porcen-
tagem se encontra muito alta, sendo necessário um estudo mais es-
pecífico que avalie as possíveis barreiras às práticas regulares de
atividades físicas.
Além disso, 9,8% dos meninos realizaram atividade física em
todos os sete dias, enquanto essa porcentagem no sexo feminino cai
para apenas 2,4%; novamente uma diferença significativa (p<0,05) em
relação aos sexos. As meninas, 85,8%, afirmaram não ter participado
de nenhuma equipe de esportes nos últimos 12 meses. Já nos adoles-
centes do sexo masculino a situação é um pouco diferente, pois 27%
responderam não ter participado em nenhuma equipe de esportes.
A relação da prática de atividade física de acordo com a idade
apresenta que 48,6% dos alunos de 17 anos foram os que tiveram
maior prevalência na resposta de “nenhum dia” de prática, seguida
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 243

por 41,8% dos alunos de 15 anos. Já no item que afirmava ter prati-
cado em todos os sete dias antecedentes ao questionário, 10% dos
alunos de 13 anos assinalaram essa alternativa, enquanto nenhum
aluno de 17 assinalou o mesmo. Não houve diferença significativa
(p>0,05) entre as idades estudadas.
Existe claramente o declínio da atividade física em um estudo
realizado com escolares de sete a 16 anos, sendo que os mais jovens
apresentaram 100% de prática de atividades físicas em, pelo menos,
cinco dias da semana e, no mínimo, 60 minutos por dia, conforme as
recomendações do United Kingdom Expert Consensus Group, caindo
para 29,4% aos 16 anos.16
As aulas de educação física se tornam um ambiente propício à
prática pedagógica relacionada à discussão sobre o tema transversal
orientação sexual; em contrapartida, observamos que o tema sexuali-
dade pouco tem sido debatido pelos professores de educação física, um
resultado preocupante já que os adolescentes estão cada vez mais
atentos quando se trata da sexualidade e, se não encontram esse debate
na escola ou na família, as informações ficam restritas a grupos de
amigos, pátios e festas.
A educação física tem as mais importantes ferramentas para tra-
balhar a orientação sexual na escola de forma eficaz e interessante;
esse é o momento em que se faz necessário que os professores de edu-
cação física façam valer sua formação e deixem transparecer sua im-
portância pedagógica e social através da eficiência na formação inte-
gral dos alunos. Não é fácil evitar o início da vida sexual precoce. No
entanto, o diálogo em casa e na escola com os adolescentes poderia dar
um suporte com mais informação e os levaria a começar mais tarde do
que aqueles que estão desamparados, que não têm família que os
apoiem, que não estão na escola e que têm uma condição socioeconô-
mica mais precária.
Finalmente, é imprescindível oportunizar um espaço onde pais,
familiares, escola, adolescentes, professores e profissionais de saúde
possam discutir para superar as relações de vulnerabilidade às doenças
sexualmente transmissíveis (DSTs), assim como a gravidez precoce e
não planejada. 
244 Estudos da Pós-Graduação

BIBLIOGRAFIA

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lescência sobre o nível de atividade física na idade adulta. 2004. 120 f.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia,
Departamento de Medicina Social, Faculdade de Medicina, Universidade
Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, 2004.
COCAÍNA/CRACK
O uso e sua relação com a infecção
pelo HIV/Aids em adolescentes

Agnes Caroline Souza Pinto


Fabiane do Amaral Gubert
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

A s drogas são substâncias utilizadas para produzir alterações


nas sensações, no grau de consciência ou no estado emocional. De acordo
com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é qualquer substância não
produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar em um ou mais
de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento.1
As drogas atuam no cérebro causando modificações no estado
mental, no psiquismo, sendo, por essa razão, denominadas psicoativas.
Basicamente existe uma classificação – de interesse didático – que se
baseia nas ações aparentes das drogas no Sistema Nervoso Central
(SNC), conforme as modificações observáveis na atividade mental ou
no comportamento da pessoa que utiliza a substância.2
Dessa forma, tem-se as drogas depressoras, que diminuem a ati-
vidade mental e afetam o cérebro, fazendo com que ele funcione de
forma mais lenta. Exemplos: álcool, inalantes ou solventes (cola),
opioides (morfina, heroína e codeína), barbitúricos, benzodiazepínicos
etc; drogas perturbadoras, que alteram o funcionamento cerebral e re-
sultam em vários fenômenos psíquicos anormais, entre os quais se des-
tacam os delírios e alucinações. Exemplos: maconha, ecstasy, dietila-
248 Estudos da Pós-Graduação

mida do ácido lisérgico (LSD) e outras substâncias derivadas de plantas


e cogumelos; e, por último, as drogas estimulantes, que aumentam a
atividade cerebral, trazendo um estado de alerta exagerado. São elas:
cafeína, tabaco, anfetaminas, cocaína e crack, sendo estas últimas o
foco deste capítulo.3

Contexto histórico e epidemiológico do uso de cocaína/


crack no Brasil e no mundo

O consumo de cocaína pela via pulmonar era praticamente des-


conhecido na América do Sul antes dos anos de 1970. Na época, o há-
bito de fumar a pasta de folhas de coca começou a tornar-se popular,
sofrendo aumento progressivo ao longo da década, tanto nos países pro-
dutores quanto nos Estados Unidos (EUA).4
A pasta de folha de coca, ou pasta básica (sulfato de cocaína), é
obtida a partir da maceração ou pulverização das folhas de coca com
solvente (álcool, benzina, parafina ou querosene), ácido sulfúrico e car-
bonato de sódio. Na transição para os anos 1980, surgiu, nos EUA, a
cocaína na forma de base livre, ou freebasing, sintetizada a partir da
adição de éter sulfúrico e refinada em meio aquoso altamente aquecido.
Assim como a pasta básica, o freebasing é considerado um precursor do
consumo de crack nos EUA.5
Nessa mesma década, surgiram os primeiros casos da Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que começava a ser reconhe-
cida como problema de saúde pública e que havia uma preocupação
crescente com o papel desempenhado pelos usuários de drogas na dis-
seminação global do Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV).6
A população de usuários de drogas injetáveis (UDI) é aquela em
que o HIV se dissemina mais rapidamente. Além da via de exposição
parenteral ser extremamente eficiente do ponto de vista da transmissi-
bilidade, existe acentuada rede de interação neste grupo, cujo compar-
tilhamento de equipamentos de injeção, assim como o uso de drogas
pré-preparadas, é incentivado por hábitos.7
Para compreender o modo e o porquê de a epidemia do HIV se
disseminar tão rapidamente entre os UDI, é necessário mais do que o
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 249

conhecimento dos determinantes de riscos individuais; deve-se consi-


derar também as pré-condições da epidemia em cada região e como os
fatores sociais e materiais em cada região podem promover a intensa
propagação do HIV.8
Entre os fatores sociais e materiais de cada região que contri-
buem para compreensão da dinâmica da população de UDI e de como o
HIV se dissemina nessa população, incluem-se o padrão do uso de
drogas (a transição das vias de consumo, as rotas do tráfico, os métodos
de produção das drogas), a disponibilização dos equipamentos de in-
jeção (por exemplo, o fato da tentativa de controlar a circulação e dis-
ponibilidade desses equipamentos no mercado poderem aumentar o
hábito de compartilhamento dos mesmos), a interação social entre a
população de UDI e não UDI e a situação social e política (influen-
ciando no surgimento e manutenção do tráfico e ampliação do consumo
de drogas).9
Em meio a essa realidade, percebeu-se que o abuso de cocaína se
desenvolveu muito rapidamente nos últimos vinte anos nos EUA.
Tradicionalmente, usuários consumiam a forma cloridrato de cocaína e
poucos a injetavam. Entretanto, entre 1984 e 1985, em bairros pobres e
marginalizados de Los Angeles, Miami e Nova York, o crack1 foi de-
senvolvido e tornou-se a forma mais popular para muitos usuários nos
EUA. Relatos de jornais e televisão começaram a descrever o uso do
crack como epidemia e praga.4
Devido ao baixo custo, o crack tem tido entrada muito mais in-
tensa nas populações de baixa renda. Porém, o preço mais acessível é
ilusório. Ao considerar que o efeito do crack perdura apenas por cinco
minutos, que o uso compulsivo e o padrão binge2 de consumo estabele-
cem-se muito rapidamente e, ainda, que nessa fase o usuário consome
crack até a exaustão ou até findar seu suprimento de droga, comparati-
vamente ao uso de cocaína por outras vias, o usuário de crack consome

1 Também conhecido como pedra, deriva do som produzido pelo cloreto de sódio
presente na pedra quando este é queimado no cachimbo à temperatura de aproxi-
madamente 95oC.
2 Consumo repetitivo da droga.
250 Estudos da Pós-Graduação

muito mais droga, tendo de despender de maior quantidade de recursos


para sua obtenção.10
Até o início da década de 1990, nos EUA, o usuário de crack era
caracterizado como jovem (idade entre 18 e 29 anos) e do sexo mascu-
lino. O consumo entre os jovens era associado à violência, a roubos,
assaltos, porém desconhecia-se, a princípio, o comportamento de risco
em relação às DST/Aids.7
As características do consumo de crack no Brasil apresentaram
semelhanças às ocorridas nos EUA, porém em espaço de tempo maior.
O consumo de crack no Brasil, circunscrito no início em São Paulo,
iniciou-se por volta da década de 1990.7 Em São Paulo, os traficantes
impuseram essa nova forma de uso da cocaína (crack), ou seja, de início
o crack era ofertado aos usuários de drogas como única alternativa.
Buscavam por maconha ou cocaína em pó e somente encontravam
crack. Essa estratégia dos traficantes visava a alguns objetivos como:
sabedores dos efeitos euforizantes provocados pelo crack e de sua curta
duração, estavam seguros do retorno do usuário em busca da droga; uso
compulsivo e a consequente dependência, instalando-se muito rapida-
mente, faziam do usuário um “freguês por toda a vida”; fácil utilização
da droga que bastava apenas ser fumada, e o resultado desses fatores era
de grande vantagem econômica e lucro.11
Da mesma forma que nos EUA, o usuário brasileiro de crack foi
caracterizado como homem e jovem. Muitos usuários de droga endove-
nosa mudaram de via, aderindo ao crack por considerarem-no mais “se-
guro” em relação às DST/Aids.12, 13
Conforme o Boletim do Ministério da Saúde (2012), a segunda
via de transmissão mais eficaz para o HIV/Aids ainda tem sido o com-
partilhamento de seringas entre usuários de drogas injetáveis, que res-
ponde por 16,8% entre os homens e 7,3%, no grupo feminino. Na sub-
categoria por transmissão sanguínea, os UDI representam cerca de 99%
dos casos.14
Em relação à cocaína, o estudo citado anteriormente mostrou que
o “uso na vida”, como é chamado o uso de qualquer droga pelo menos
uma vez na vida, de cocaína, no Brasil, foi de 2,0%. O maior “uso na
vida” foi observado na Região Norte, com 2,9%, seguida da Sudeste,
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 251

com 2,3%, e Centro-Oeste, com 2,1%; no Sul foi de 1,7% e no Nordeste,


1,2%. A capital com maior “uso na vida” de cocaína foi Boa Vista, com
4,9%, e a menor porcentagem foi em Recife, com 0,7%. A comparação
com outros países mostrou que o uso, no Brasil (2,0%), foi menor que
nos Estados Unidos (5,4%), Espanha (4,1%), Chile (3,7%), Itália
(3,5%), Holanda e Reino Unido (3,0%), porém maior que no Paraguai
(1,6%), Portugal (1,3%), Grécia, Venezuela e Suécia (1,0%).15
Em relação ao crack, poucos países separaram o uso de crack do
da cocaína. No Brasil, o “uso na vida” de crack foi de 0,7%, duas vezes
menos que no Chile (1,4%) e cerca de quatro vezes menor que nos EUA
(2,6%). As regiões que apresentaram maiores porcentagens de “uso na
vida” de crack foram a Sul (1,1%) e Sudeste (0,8%). A capital que apre-
sentou a maior porcentagem de “uso na vida” de crack, curiosamente,
foi João Pessoa (2,5%).15
Em 2010, o Cebrid realizou o VI levantamento nacional sobre o
consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do Ensino Funda­
mental e Médio das redes pública e privada de ensino nas 27 capitais
brasileiras, o qual revelou, em relação ao levantamento de 2004, au-
mento no “uso no ano” do consumo de cocaína (1,7 - 1,9) e diminuição
no “uso no ano” do consumo de crack (0,7 - 0,4). Em relação ao uso de
drogas pelas escolas públicas e privadas, aparece fato que poderá ter
relevância para futuros programas de prevenção: nas escolas privadas,
“o uso na vida” (30,7%), “no ano” (13,6%) e “no mês” (6,2%) são
maiores do que nas escolas públicas (respectivamente, 24,2%, 9,9% e
5,3%). Entretanto, o contrário ocorre quando se considera o “uso pe-
sado”, relatado por 1,2% dos estudantes da rede pública e por 0,8% da
rede privada.17
O estudo mostrou que, em Fortaleza, continua o predomínio de
uso de drogas na faixa etária de 13 a 15 anos (44,8%), e que as drogas
mais utilizadas, exceto álcool e tabaco, são: inalantes, ansiolíticos, ma-
conha, cocaína e anfetamínicos. A cocaína, em comparação ao estudo
de 2004, subiu uma posição, o que evidencia o crescente aumento do
consumo desta droga.13
O uso da cocaína/crack vem sendo observado em idades cada vez
mais precoces em todo o país e em todas as classes sociais. Trata-se de
252 Estudos da Pós-Graduação

uma droga de fácil obtenção, cujo consumo em geral é precedido pelo


uso de álcool e/ou tabaco. Desse modo, as políticas públicas brasileiras
precisam ser direcionadas para a prevenção do consumo nessa popu-
lação, diversificando as opções de atendimento.

Vulnerabilidades e influência para uso de


drogas na adolescência

A noção de vulnerabilidade na saúde surgiu na década de 1990


como forma de compreender o processo de exclusão social como sus-
tentáculo da disseminação do HIV e da aids. Nessa perspectiva, for-
neceu elementos para avaliar as diferentes chances que todo e qualquer
indivíduo apresentava para se expor ao HIV e adoecer pela aids. As
chances estão imersas em um conjunto de características de ordem in-
dividual, social, cultural e política que estabelecem normas e condutas
do cotidiano, julgadas relevantes para maior exposição ou menor chance
de proteção diante do problema.18
As análises de vulnerabilidade buscam, assim, integrar três eixos
interdependentes: individual, social e programático. A dimensão indivi-
dual parte do princípio de que os indivíduos são suscetíveis à infecção
pelo HIV e ao adoecimento pela aids. Tal análise toma como ponto de
partida aspectos próprios do modo de vida das pessoas que podem con-
tribuir para que se exponham ao vírus ou, ao contrário, protejam-se. Ou
seja, refere-se ao grau e à qualidade da informação de que as pessoas
dispõem sobre a aids, uso de drogas e sexualidade e capacidade de in-
corporar esta informação e transformá-la em atitudes e práticas preven-
tivas para determinado problema.19
A dimensão social enfoca fatores contextuais que definem e
constrangem a vulnerabilidade individual, permitindo compreender
comportamentos e práticas que se relacionam à exposição dos indiví-
duos à infecção. Nesta dimensão, consideram-se aspectos relacionados
às estruturas jurídica e política e diretrizes governamentais dos países;
as relações raciais, de gênero e entre gerações; as atitudes diante da
sexualidade; as crenças religiosas; a pobreza; o acesso aos meios de
comunicação e à escolarização.20
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 253

A dimensão programática, por sua vez, busca avaliar como as


instituições, especialmente as de saúde, educação, bem-estar social e
cultura, atuam como elementos que reproduzem e aprofundam as con-
dições socialmente dadas da vulnerabilidade.19, 21
Em virtude do período vulnerável, a experiência da transição
de um estado de dependência absoluta para uma condição de auto-
nomia pessoal deve ser processo assistido, no qual o jovem recebe
suporte necessário dos pais, educadores e profissionais de saúde e da
educação. Assim, será capaz de suportar as dificuldades próprias da
idade e aprender a conviver com incertezas e, principalmente, de
tomar decisões de forma responsável, sem que os adultos tenham que
decidir por ele.22
O adolescente aprecia a escola e, por conseguinte, os grupos de
pares a que pertence. Não se adaptar ao grupo dificulta sua adaptação
também na escola. O encontro dos grupos vai depender de suas carac-
terísticas. Se forem internautas, será a casa de alguém que apresenta a
possibilidade da parafernália ou mesmo uma lan house. A escola, o
clube, a igreja, a lanchonete, podem ser justa­mente o local de base de
apoio para esses grupos. Quando os encontros são formados na casa de
alguém, pode-se ter um bom sinal para o adolescente residente da casa,
signifi­cando aceitação de ambas as partes e possibilidade de proteção
contra a violência que impera nas ruas. A família do jovem que acolhe
não o perde, ganha amigos que precisam de um adulto por perto, sem
impor pa­drões de comportamento.21
A geração atual de jovens é considerada a mais urbana da his-
tória, entretanto, à medida que a urbanização possibilita cada vez mais
o acesso à educação e aos serviços de saúde, eles são mais expostos aos
riscos de uso de drogas lícitas e ilícitas.23
O uso indevido de álcool e outras drogas é fruto de uma multipli-
cidade de fatores. Nenhuma pessoa nasce predestinada a usar álcool e
outras drogas ou se torna dependente apenas por influência de amigos
ou pela grande oferta do tráfico. Os seres humanos, por sua humanidade
e incompletude, buscam elementos para aliviar dores e acirrar prazeres.
Assim, encontram as drogas. Algumas vezes experimentam, outras
usam sem se comprometer e, em outras, ainda abusa.3
254 Estudos da Pós-Graduação

Por outro lado, existem os fatores que colaboram para que o in-
divíduo, mesmo tendo contato com a droga, tenha condições de se pro-
teger. Estes são os fatores de proteção, os quais contrabalançam as vul-
nerabilidades para os comportamentos que resultam no uso e abuso de
drogas e não adoção do sexo seguro. Assim, existem fatores do próprio
indivíduo: habilidades para resolver os problemas, autonomia, autoes-
tima desenvolvida, vínculos positivos com pessoas, instituições e va-
lores; fatores familiares: pais que acompanham as atividades dos filhos,
respeito aos ritos familiares, estabelecimento de regras e condutas
claras; fatores escolares: bom desempenho, vínculos afetivos com pro-
fessores e colegas, prazer em aprender, ligações acentuadas com a es-
cola, descoberta e construção de projeto de vida; fatores sociais: opor-
tunidades de trabalho e lazer, informações adequadas sobre drogas e
seus efeitos, clima comunitário afetivo; fatores relacionados à droga:
regras e controle para consumo adequado e informações contextuali-
zadas sobre efeitos.3
Mostra-se evidente a inter-relação e a interdependência exis-
tentes entre o usuário adolescente e o contexto que o circunda. Pensar
nesta teia de vulnerabilidades e nos determinantes socioculturais em
relação ao uso de drogas e ao HIV/Aids, em uma sociedade, certamente
amplia e torna mais complexa a abordagem desse fenômeno.2
Atualmente, os adolescentes representam, sem dúvida, a popu-
lação mais estudada em relação ao uso de drogas. Nas últimas décadas,
foram realizados inúmeros levantamentos epidemiológicos sobre
drogas com adolescentes, especialmente entre estudantes. No Brasil, os
estudos mais abrangentes são realizados pelo Cebrid, que teve início na
década de 1980, e até o ano de 2010 foram seis levantamentos entre
estudantes do ensino fundamental e médio.
O VI Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas
Psicotrópicas, concluído em 2010, revelou que, na população adoles-
cente, houve diminuição de 49,5% no uso de drogas ilícitas em compa-
ração com a última pesquisa em 2004. Somente no caso da cocaína não
foi observada redução do consumo. No Nordeste, a variação de “uso na
vida” nas nove capitais desta macrorregião, comparando-se 2004 e 2010,
é expressa pela relação Diminuição/Aumento. Portanto, as diminuições
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 255

de consumo no Nordeste, de 2010 para 2004, mais marcantes foram


obtidas com os solventes 8/1 e anfetaminas 8/1 e o maior aumento foi o
da cocaína (0/9), que cresceu nas nove capitais nordestinas.17
De acordo com estudo realizado com mulheres usuárias de drogas,
os resultados apontaram convivência e influência de parceiros usuários
de drogas como motivações para início e manutenção do consumo de
drogas. Há registro de mulheres que se tornam usuárias abusivas de
drogas pelo fato de consumirem bebidas alcoólicas para acompanhar seus
parceiros e, neste caso, tornam-se mais vulneráveis a patologias decor-
rentes da alta ingestão de álcool e a situações de violência sexual.24
A necessidade incontrolável da droga permite a contextualização
do comércio do sexo nesse mercado de drogas. Porém, a combinação de
desespero pelo crack, por exemplo, com o comércio do corpo pode ser
muito perigosa. Nessa transação comercial de serviços sexuais por
droga, o consumidor sexual domina a negociação insistindo, exigindo
muitas vezes a dispensa do preservativo e/ou posições que a pessoa não
faria em outras situações. Ainda pagamentos irrisórios são impostos,
alcançando número maior de relações sexuais e, consequentemente,
maior número de parceiros para conquistarem a quantia necessária para
a droga. Esses ingredientes perversos juntos aumentam consideravel-
mente o risco de DST/Aids.25
Dessa forma, verifica-se que os homens jovens constituem os prin-
cipais disseminadores do HIV, seja por utilizarem drogas que comparti-
lham seringas, como no caso da cocaína, seja por se valerem do corpo
como moeda de troca, ou por simplesmente não adotarem o sexo seguro,
ou ainda por influenciarem as mulheres a iniciarem o uso de drogas.

Contribuições para a prevenção das drogas e HIV


a partir de estudos desenvolvidos na adolescência

A questão das drogas na adolescência tem que ser tratada tanto


pelo aspecto da prevenção quanto de promoção da saúde; neste sen-
tido traçam-se comentários sobre estudos que mostraram ações de
educação em saúde com ou para os adolescentes, com vistas à mu-
dança de comportamento.
256 Estudos da Pós-Graduação

Experiência promissora foi realizada pelo Núcleo de Estudos e


Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas, da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (NEPAD/UERJ). Esta experiência oferecia capacitação
para os professores no conhecimento das toxicomanias, abordando a te-
mática das drogas nas escolas em que trabalhavam, estendendo-se às
comunidades nas quais estavam localizadas. Este projeto possui nove
anos e seus frutos têm sido justificados pela mudança de atitude das
pessoas nas comunidades onde foi implantada. Embora se perceba a mu-
dança no que se refere ao uso de drogas lícitas e ilícitas, são necessários
estudos epidemiológicos longitudinais para comprovar sua eficácia.26
Outra estratégia de prevenção consiste na formação de Agentes
Redutores de Danos e Riscos (ASRDR) que atuem junto à comunidade
em relação aos comportamentos de risco, como não usar preservativos
e compartilhar seringas que propiciam a contaminação pelo HIV, entre
outros. Além disso, orientam aqueles que se encontram em condições
de extrema pobreza, desemprego e outros agravantes socioeconômicos,
condições que favorecem o uso de drogas. Este programa permite,
assim, o desenvolvimento de ações preventivas na comunidade de
forma compartilhada, ou seja, dos adolescentes que compartilham o dia
a dia desta comunidade. Foi observado, na descrição do trabalho, en-
quadramento do enfermeiro, coordenando e orientando os agentes, se-
guindo os objetivos do projeto.26
No cenário do enfermeiro como educador, vários estudos sobre
educação em saúde com adolescentes têm sido realizados, entre eles:
Brito (2008) analisou a educação em saúde com pré-adolescentes, favo-
recendo reflexão crítica acerca das modificações fisiológicas próprias da
pré-adolescência e discutiu medidas de prevenção das DST/Aids; Beserra
(2008) investigou a sexualidade das adolescentes a partir da ação educa-
tiva do enfermeiro na prevenção das DSTs; Araújo (2010) utilizou a abor-
dagem grupal para integrar os adolescentes, propor­cionando discussão
saudável e relevante para a conscientização social na questão também da
aids; Barbosa (2010) relatou o uso de jogos educativos como estratégia
de educação em saúde para jovens na prevenção das DST/Aids.27, 30
Observou-se, através dessas experiências, a significativa e va-
riada possibilidade de trabalhos de enfermeiros na educação em saúde
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 257

com adolescentes, considerando que as oficinas educativas constituem


importantes métodos para estimular a compreensão e a aprendizagem
do adolescente. Ademais, a criação de instrumentos educativos sobre os
diversos temas: drogas, HIV/Aids, gravidez, sexualidade etc. visam,
principalmente, à mudança de comportamento para obtenção de um es-
tilo de vida mais saudável.
Como contribuição para a temática, o projeto Aids: educação e
prevenção, da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizou um es-
tudo que permitiu desenvolver estratégias de educação em saúde, como
também a construção de um novo conhecimento acerca da prevenção do
HIV/Aids com jovens usuários de cocaína/crack, assim como ensinar e
apreender com os jovens sobre a prevenção da aids no contexto da dro-
gadição, especialmente no período de tratamento, espaço mais oportuno
e adequado para o aprendizado. Neste estudo, optou-se por utilizar o
método do Círculo de Cultura, de Paulo Freire, metodologia que prioriza
a autonomia dos sujeitos, a consciência crítica, a participação e a proble-
matização da realidade vivenciada, a qual promoveu, nos adolescentes,
reflexões críticas acerca dos seus comportamentos frente às DST/Aids.
Nesse contexto, o estudo se propôs a promover espaço crítico-re-
flexivo acerca da prevenção do HIV/Aids junto aos jovens usuários de
cocaína/crack por meio dos Círculos de Cultura. Foram realizados seis
círculos, que se construíram dos seguintes momentos: o conhecer do
universo individual e coletivo, seleção dos temas, dinâmicas de sensibi-
lização e problematização, reflexão teórico-prática, construção coletiva
do conhecimento e avaliação de cada círculo.31
O processo educativo despertou nos jovens o interesse e a necessi-
dade de conversar com seus pares acerca da problemática que envolvia as
DST/Aids e as drogas, confirmando que o círculo possibilita a reflexão e
a transformação do sujeito e do meio no qual ele está inserido.31

Sugestões e implicações para a saúde do adolescente


e para o cuidado de enfermagem

O jovem usuário de cocaína/crack e seu contexto social deve ser


visto como um problema de saúde pública de primeira ordem e medidas
258 Estudos da Pós-Graduação

urgentes são necessárias para protegê-lo dos efeitos desta droga tão de-
vastadora. As políticas públicas devem considerar que a dependência de
qualquer droga é uma doença crônica e que necessita de um tratamento
com múltiplos recursos e de longo prazo; que, além do tratamento, a
reinserção social de longo prazo é necessária; e que a participação do
setor de autoajuda (Narcóticos Anônimos [NA], grupos familiares, or-
ganizações comunitárias e religiosas) deveria fazer parte da organi-
zação dessas políticas.
Estratégias de prevenção entre os usuários de drogas têm maior
impacto na modificação do comportamento de risco relacionado ao uso
de droga (como compartilhamento de apetrechos) do que modificações
no comportamento sexual de risco, o que aponta para um nicho a ser
explorado na tentativa de se permitir redução de danos a esta população
de forma mais ampliada. Porém, sabe-se que a questão comportamental
é algo difícil de ser modificado, o que significa que a compreensão da
influência do comportamento sexual ou de qualquer variável comporta-
mental que incida sobre a saúde precisa de abordagem que não se res-
trinja aos aspectos biológicos e que inclua a forma como se produz a
construção cultural e social de fatores correlatos.32
Assim surge a necessidade de apontar a autonomia dos sujeitos a
qual depende das condições externas destes, da cultura em que estão
inseridos, do acesso à informação e, mais do que isso, da capacidade de
utilizar o conhecimento em exercício crítico de interpretação, ou seja, o
sujeito da reflexão e ação.33
Essa autonomia, no sentido de mudar o comportamento em relação
às drogas e ao HIV/Aids, é subsidiada pela conscientização advinda do
processo de educação em saúde e grupos terapêuticos, os quais surgem
como uma estratégia voltada para a promoção da saúde, comprometida
com o processo de transformação social efetiva das pessoas envolvidas.
Nesse cenário, a educação em saúde requer do profissional de saúde
e, principalmente do enfermeiro, por sua proximidade com esta prática,
análise crítica da atuação, bem como reflexão acerca de seu papel como
educador, o qual está profundamente atrelado ao crescimento e desenvol-
vimento da profissão. Dessa forma, o enfermeiro deve agir como facili-
tador, desenvolvendo ambiente voltado à aprendizagem que motive e pos-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 259

sibilite ao indivíduo o desejo de aprender, visto que é necessário orientar a


população e por que não aduzir, mostrar alternativas para que esta tome
atitudes que lhe proporcione saúde em seu sentido mais amplo.26, 34
Para a Enfermagem, o estudo sobre o comportamento dos adoles-
centes perante as drogas é de fundamental importância, uma vez que é
de conhecimento que tanto as medidas preventivas como as estatísticas
disponíveis no Brasil são insuficientes para tratar, dimensionar e parti-
cipar da elaboração das políticas públicas e programas de prevenção e
tratamento para o uso/abuso de drogas, visando à manutenção da quali-
dade de vida satisfatória dos adolescentes.23, 35
A necessidade do enfermeiro nesse campo de atuação é requerida
e justifica-se diante da reduzida produção de teses e dissertações nas
áreas da enfermagem com essa abordagem, as quais foram pesquisadas
nos bancos de dados: National Library of Medicine (MEDLINE/
PUBMED), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Scientific
Electronic Library Online (SCIELO) e Portal de Periódicos da Capes; e
do aumento do número de casos de HIV entre adolescentes usuários de
drogas do sexo masculino, o que, de acordo com artigo publicado no
Journal of Substance Abuse Treatment, em 2011, revelou que as princi-
pais causas de morte entre os usuários de cocaína/crack eram os homi-
cídios, seguidos do HIV/Aids.36
Com a abordagem do tema drogas, foi observado que a maioria
das pesquisas era realizada por médicos psiquiatras e possuía cunho
quantitativo e, quando se referiam aos enfermeiros, a maioria dos es-
tudos abordava o conhecimento dos acadêmicos de enfermagem sobre
drogas; o modo como a graduação preparava os alunos em relação a
este tema; ou então pesquisas em escolas com adolescentes sobre o
tema, quase inexistindo a relação enfermagem com o usuário de drogas
propriamente dito e sua relação com a transmissão do HIV.
Diante do exposto, é preciso que enfermeiros, como promotores
da saúde de adolescentes, devam se aproximar da realidade deles, pos-
sibilitando discursos de assuntos que muitas vezes não são reconhe-
cidos pelos jovens como importantes no sentido de construir a auto-
nomia adequada para a promoção da saúde.
260 Estudos da Pós-Graduação

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BULLYING
Uma violência evidente no contexto escolar

Luiza Luana de Araújo Lira Bezerra


Ilvana Lima Verde Gomes
Mirna Albuquerque Frota
Fabiane do Amaral Gubert
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

O bullying escolar é definido como todas as formas de ati-


tudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação
evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando
dor e angústia e executadas dentro de uma relação desigual de poder,
tornando possível a intimidação da vítima.1
O termo bullying, de origem inglesa e sem tradução ainda no
Brasil, é utilizado para qualificar comportamentos violentos no âmbito
escolar. Dentre esses comportamentos podemos destacar agressões, as-
sédios e ações desrespeitosas.2 A palavra bullying (do inglês bully =
valentão, tirano, brigão) não tem tradução adequada em português.3
No Brasil, adota-se o termo que, de forma geral, foi adotado na maioria
dos países.4
Existem outros termos para definir esses comportamentos em al-
guns países, como por exemplo, mobbing, utilizado na Noruega e na
Dinamarca; mobbning, na Suécia e na Finlândia; hercèlement quoti-
dien, na França; prepotenza ou bullismo, na Itália; em Portugal, como
maus-tratos entre pares; na Espanha, como acoso y amenaza entre es-
colares ou intimidación.4, 5
266 Estudos da Pós-Graduação

No Brasil, as pesquisas e a atenção voltadas para o tema ainda se


mostram incipientes. A Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) se dedica a estudar, pes-
quisar e divulgar o fenômeno bullying desde 2001. No período entre
novembro e dezembro de 2002 e março de 2003, a Abrapia realizou
uma pesquisa em 11 escolas do Rio de Janeiro com a participação de
alunos da 5a à 8a série. Os resultados apontaram alguns dados bastante
significativos: dos 5.482 alunos participantes, 40,5% (2.217) admitiram
ter envolvimento direto com a prática de bullying; houve um discreto
predomínio do sexo masculino (50,5%) sobre o sexo feminino (49,5%)
na participação das condutas de bullying; as agressões ocorrem princi-
palmente na sala de aula (60,2%) e em torno de 50% dos alvos (vítimas)
admitem que não relataram o fato aos professores, tampouco aos pais.
A partir dos dados citados, percebeu-se que o bullying é um fenômeno
evidente em nossas escolas e que assume índices superiores aos apre-
sentados em países europeus.2, 4
Atualmente, o bullying é considerado um fenômeno que está pre-
sente em todas as escolas públicas e privadas e independe da sua tra-
dição, localização ou poder aquisitivo dos alunos. O que varia são os
índices encontrados em cada realidade escolar, que decorre do conheci-
mento da situação e a postura adotada por cada instituição escolar.2

O contexto escolar e suas possibilidades para a


saúde e doença dos adolescentes

A escola é um espaço marcante na vida dos adolescentes, sendo


campo de vários tipos de aprendizagem e de relacionamentos inter-
pessoais. Além de representar a primeira instituição a fazer contato
com o adolescente, ela proporciona a experimentação da formação da
identidade para além da família. O espaço escolar desempenha papel
significativo na transição da infância para a adolescência e contribui
na promoção do desenvolvimento psicológico do adolescente, à me-
dida que ele começa a se reconhecer como parte de um grupo e a
compartilhar significados que irão influenciar fortemente em sua
identidade pessoal.7
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 267

Nesse contexto, deparamo-nos com diversas situações de vulne-


rabilidades no ambiente escolar, dificultando o processo ensino-apren-
dizagem e reforçando fatores que interferem negativamente no processo
saúde-doença dos escolares, principalmente dos adolescentes.7
A adolescência é um período crítico para o desenvolvimento de
competências pessoais e interpessoais e de habilidades para atuar e
tomar decisões. É também um período de dúvidas, conflitos, mudanças
e descobertas, o que pode incitar o uso de álcool e outras drogas, envol-
vimento em situações de violências, relações sexuais desprotegidas e
outras vulnerabilidades.8
A escola é um espaço de grande relevância para a promoção da
saúde, principalmente quando exerce papel fundamental na formação
do cidadão crítico, estimulando a autonomia, o exercício de direitos e
deveres, o controle das condições de saúde e qualidade de vida, com
opção por atitudes mais saudáveis. As iniciativas de promoção da saúde
escolar constituem ações efetivas para a consecução dos objetivos ci-
tados, o que pode ser potencializado no Brasil pela participação ativa
das equipes de Saúde da Família,11 sempre em associação com as
equipes de educação.
Assim, a promoção da saúde escolar, baseada num amplo leque
de pesquisas e práticas, tem evoluído durante as últimas décadas,
acompanhando as iniciativas de promoção da saúde mundo afora.
Durante a década de 90, a Organização Mundial da Saúde (OMS) de-
senvolveu o conceito e a iniciativa das Escolas Promotoras de Saúde.
Trata-se de uma abordagem multifatorial que envolve o desenvolvi-
mento de competência em saúde dentro das salas de aula, a transfor-
mação do ambiente físico e social das escolas e a criação de vínculo e
parceria com a comunidade de abrangência,12 o que inclui os serviços
de saúde comunitários, como as Unidades Básicas de Saúde e equipes
de Saúde da Família.
Nas escolas, as ações de promoção da saúde com os adolescentes
precisam ter como ponto de partida “o que eles sabem” e “o que eles
podem fazer”, desenvolvendo em cada um a capacidade de interpretar
o cotidiano e atuar de modo a incorporar atitudes e/ou comportamentos
adequados para a melhoria da qualidade de vida destes. Nesse processo,
268 Estudos da Pós-Graduação

as bases são as qualidades – o que há de positivo – de cada um no de-


senvolvimento da autonomia e de competências para o exercício pleno
da cidadania. Assim, dos profissionais de saúde e de educação espera-se
que, no desempenho das suas funções, assumam uma atitude perma-
nente de empoderamento dos adolescentes, que se constitui como prin-
cípio básico da promoção da saúde.11, 13
Como vimos, o ambiente escolar proporciona, pelos diversos fa-
tores mencionados anteriormente, situações de vulnerabilidades que
terminam por impactar no processo saúde-doença dos adolescentes.
Entretanto, é neste mesmo ambiente que as ações de educação em saúde
podem contribuir para a construção de estratégias de enfrentamento,
partindo da utilização de ações educativas que possam suscitar refle-
xões de discentes e docentes.

Bullying como violência e suas implicações na saúde


do adolescente

Adolescência é o período da vida humana compreendido na faixa


etária dos 11 aos 18 anos e tem como característica principal intensas
mudanças físicas e psicológicas.2, 14
A adolescência é uma etapa da vida compreendida entre a in-
fância e a fase adulta, caracterizada por um conjunto de transformações
bio-psico-socioculturais que expõem o indivíduo a um modo de vida
até então desconhecido, tornando-o, de certa forma, vulnerável. A busca
por uma identidade única é um dos problemas enfrentados pelos adoles-
centes, o que pode levá-los a adotarem comportamentos violentos como
um meio de autoafirmação. Estes padrões comportamentais estão inse-
ridos em ambiente familiar, social e escolar, onde o adolescente sofre
influências na sua formação e construção da personalidade.15
Nessa fase, o cérebro passa por uma profunda reformulação pela
qual é lapidado e amadurecido. Este processo resulta nas repentinas mu-
danças de humor, os infindáveis questionamentos sobre regras e limites,
os sentimentos de insegurança e insatisfação constantes, as distorções de
autoimagem, a necessidade de pertencer a algum grupo, a sede insaci-
ável de novidades, a irresponsabilidade e a inconsequência.2
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 269

Essas mudanças psicológicas, inerentes a esse período, fazem da


adolescência uma fase de exposição a situações de risco com consequ-
ências significativas por toda a vida.
Nessa perspectiva, o fenômeno bullying caracteriza-se como
uma situação de vulnerabilidade à qual o adolescente está exposto no
âmbito escolar.
Nesse ambiente, o bullying vem se intensificando e repercutindo
na saúde física, psicológica, cognitiva e espiritual dos adolescentes e
demais membros da comunidade escolar.16 Esse fenômeno, na maioria
das vezes, é percebido pelos educadores como um processo natural,
próprio da idade, o que dificulta a identificação, intervenção e encami-
nhamento adequado dos casos.16, 17
A exposição ao bullying com grande frequência e por longos pe-
ríodos pode acarretar para suas vítimas graves transtornos psíquicos e/
ou comportamentais que, muitas vezes, trazem prejuízos irreversíveis.2
Dentre esses transtornos, destacam-se: sofrimento psíquico, diminuição
da autoestima, isolamento social, prejuízos no aprendizado e no desem-
penho acadêmico,18 distúrbios de ansiedade, depressão crônica e até
mesmo o suicídio19 e o homicídio.4
Sofrer bullying pode ser um fator predisponente importante para
a instalação e a manutenção de sinais e sintomas clínicos. Enurese no-
turna, cefaleia, desmaio, bulimia, tentativa de suicídio, perda de me-
mória, depressão, alteração de sono, dor epigástrica e ansiedade são
alguns dos sinais e sintomas observados nos casos mais graves de sofri-
mento vivido em decorrência do bullying.1
As vítimas de bullying possuem até três vezes mais chances de
sofrer com dores de cabeça e com dores abdominais, até cinco vezes
mais chances de ter insônia e até duas vezes e meia mais chances de
experimentar enurese noturna, quando comparadas às crianças que não
são vítimas.20
As consequências do bullying na saúde do adolescente esten-
dem-se também para os agressores e testemunhas.
O agressor apresenta uma tendência maior para comporta-
mentos de risco, como o consumo de tabaco, álcool ou outras drogas
e porte de armas.21 Quanto mais jovem for o agressor, maior será o
270 Estudos da Pós-Graduação

risco de apresentar problemas associados a comportamentos antisso-


ciais quando adulto e à perda de oportunidades, como a instabilidade
no trabalho e relacionamentos afetivos pouco duradouros.22 O sim-
ples testemunho de comportamentos de bullying já é suficiente para
causar descontentamento com a escola e comprometimento do desen-
volvimento escolar e social.23
Em suma, o envolvimento com situações de bullying pode desen-
cadear sinais e sintomas clínicos e psíquicos, além de transtornos de
conduta. Dessa forma, torna-se fundamental observar o comportamento
dos adolescentes, pois este pode evidenciar a existência de situações de
envolvimento com ações de bullying, sendo necessária a atenção da
família, escola e setor da saúde. A intervenção precoce, tanto com re-
lação aos alvos quanto aos autores, pode reduzir os riscos de danos fu-
turos à saúde do adolescente.

Classificação do bullying e suas implicações na


vida dos envolvidos

O bullying pode ser classificado como direto e indireto. O pri-


meiro é mais facilmente identificável e inclui agressões verbais do tipo,
apelidar, insultar e ameaçar, ou agressões físicas, como o bater, chutar e
empurrar. O segundo inclui um tipo de agressão mais dissimulada,
como a exclusão e o isolamento social, o contar histórias e o espalhar
rumores, sendo por isso mais difícil de ser detectado e praticamente
impossibilita a autodefesa.23, 24
Uma nova forma de bullying que foge aos moldes tradicionais do
indireto é o bullying digital ou cyberbullying, que utiliza as tecnologias
de informação e da comunicação para execução de comportamentos
hostis, repetitivos e deliberados.1
Em relação às formas de envolvimento dos estudantes em situ-
ações de bullying, estudiosos identificam quatro formas: alvos ou
vítimas, agressores ou autores, alvos/autores, testemunhas ou expec-
tadores.2, 4, 24
A participação de cada adolescente diante de situações de
bullying é dinâmica e circunstancial. Não há como estabelecer critérios
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 271

rígidos sobre o comportamento adotado pelos indivíduos. Ninguém


agride o tempo todo ou é agredido a todo o momento. Os estudantes
transitam entre a figura de agentes ativos autores e/ou alvos e a de tes-
temunhas passivas.1
A vítima é o alvo do bullying e refere-se ao aluno que é repetida-
mente exposto a ações agressivas de outros alunos os quais têm a in-
tenção de machucá-lo.9 Alguns estudantes são tanto vítimas como
agressores e são denominados de vítima/agressor. Estes estudantes,
provavelmente, apresentam uma combinação de baixa autoestima, ati-
tudes agressivas e provocativas e prováveis alterações psicológicas,
merecendo atenção especial.1
O agressor é aquele que age de forma agressiva contra um colega
que é supostamente mais fraco, com a intenção de machucar, preju-
dicar, sem ter havido provocação por parte da vítima.25 O agressor, fre-
quentemente, vê sua agressividade como qualidade, tem opiniões posi-
tivas sobre si mesmo e normalmente é bem aceito pelos colegas. Sente
prazer e satisfação em dominar, controlar e causar dano aos outros e
geralmente é mais forte que seu alvo.1 O autor de bullying tem sido
considerado como um indivíduo procurando poder e liderança dentro
do grupo de iguais.23
Os alvos/autores são aqueles alunos que ora sofrem e ora pra-
ticam o bullying. Esse grupo representa 20% dos alunos autores. Eles se
diferem dos outros grupos por serem impopulares, têm poucos amigos,
sentem-se rejeitados entre os colegas, inseguros, apresentam atitudes
negativas sobre si e os outros. Esse grupo merece atenção especial por
apresentar maior incidência de sintomas depressivos e pensamentos
suicidas. Distúrbios psiquiátricos são mais frequentes nesse grupo.1
As testemunhas ou expectadores são os estudantes que não se
envolvem diretamente em atos de bullying, somente presenciam, porém
não o sofrem nem o praticam, mas convivem em um ambiente cujo fe-
nômeno ocorre e que, certamente, exerce influências sobre o seu de-
sempenho escolar, sentimento de segurança e relacionamento social na
escola. Representa a grande parcela de estudantes que convivem com o
fenômeno e adotam a lei do silêncio por ter medo de se transformar em
um novo alvo para o agressor.1, 4
272 Estudos da Pós-Graduação

Sugestões e atribuições do Enfermeiro e o cuidado


de enfermagem

A Enfermagem consiste em um misto de ciência e arte que tem


como base profissional o cuidado humano.26 O cuidado de Enfermagem
não se reduz unicamente à assistência ao doente, uma vez que tem como
foco a saúde sob uma perspectiva holística.27 Assim, a Enfermagem
encontra-se comprometida com as necessidades dos sujeitos, seja no
contexto individual ou coletivo.
Neste sentido, o bullying, situação de vulnerabilidade vivenciada
na fase da adolescência, impacta na saúde do adolescente, tornando-se
mais um fenômeno, objeto de cuidado do enfermeiro.
A relação privilegiada que estabelece com a criança/família/co-
munidade permite ao enfermeiro ser um profissional-chave na detecção
precoce de situações que possam afetar negativamente a saúde do ado-
lescente e a sua qualidade de vida, tal como acontece quando envolvido
em situações de bullying.28
A atuação do enfermeiro frente às situações de bullying demanda
ações referenciadas pela promoção da saúde, desenvolvimento de prá-
ticas educativas em saúde, identificação de sinais e sintomas de vio-
lência e consequentes necessidades de saúde e contribuição na for-
mação de profissionais de educação e saúde. Nessa perspectiva, o
enfermeiro também deve promover o envolvimento de alunos, educa-
dores e famílias e a valorização do protagonismo juvenil.29
Neste cenário, pesquisas recentes de âmbito nacional e interna-
cional apontam a necessidade de intervenções voltadas para o diálogo,
em que se possam compartilhar dúvidas e curiosidades, alertando ado-
lescentes e jovens quanto às diversas situações de vulnerabilidade, a
exemplo do bullying.30, 31 Para tanto, o enfermeiro necessita despojar-se
da noção social, baseada no senso comum, que rotula o adolescente
como rebelde e descompromissado, passando a conhecer seus costumes,
crenças e vivências e, assim, construir ações de cuidado que valorizem a
autonomia e a troca de experiências dentro do ambiente escolar.16
O emprego do lúdico se revela como uma importante estratégia
de abordagem, tanto em âmbito do cuidar assistencial como educativo.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 273

Assim, por acreditar que o lúdico é a forma mais efetiva de estabelecer


contato com o adolescente, é que se defende a realização de práticas de
atenção de saúde utilizando tal recurso para dirimir este tipo de vio-
lência entre escolares adolescentes.32, 33
Partindo do entendimento da educação em saúde como principal
ferramenta da promoção à saúde e de suas inúmeras possibilidades cria-
tivas para o exercício da cidadania, percebe-se que tal prática tem ad-
quirido pouca participação nos sistemas de cuidado à saúde. Portanto,
ressalta-se a necessidade de os enfermeiros receberem educação perma-
nente que abranjam novas possibilidades metodológicas para o exer-
cício da educação em saúde,34 bem como novas formas de intervir na
realidade de saúde dos adolescentes em seus diversos contextos de
vulnerabilidades.16
Estudos evidenciam que intervenções educativas embasadas na
promoção à saúde, mesmo que pontuais, permitiram aproximar escola e
enfermeiros do fenômeno violência, fomentando ações com potencial
transformador, resgatando, assim, a constituição da escola como local
seguro e agradável para a aprendizagem.35
É dentro de uma proposta intersetorial que o papel do profis-
sional enfermeiro se destaca ao engajar-se na luta que venha garantir
um cuidado que contemple o adolescente em sua integralidade, promo-
vendo a efetivação de políticas públicas no enfrentamento da violência.
Espera-se, neste contexto, que sejam incorporadas ao agir profissional
as ideias de promoção à saúde para mudanças nas ações de enfermagem
que primem pela autonomia dos sujeitos e a conquista da cidadania,
permitindo, ainda, ampliar os cenários de atuação com o desenvolvi-
mento de espaços emancipatórios de cuidado.16
Fica evidente a necessidade de fortalecer as articulações em rede
para o trabalho de prevenção à violência no espaço escolar, visto que a
escola, sozinha, não possui mecanismos para lidar com a dimensão so-
cial da violência. Desse modo, a escola opta, muitas vezes, por não en-
frentá-la, negando sua existência. Assim, torna-se primordial a inte-
gração com as unidades de saúde, universidades, lideranças comunitárias,
igrejas e outras organizações da sociedade para um trabalho horizontal
em defesa da coletividade livre da violência.16
274 Estudos da Pós-Graduação

Em síntese, o modelo de atenção frente às situações de bullying


escolar, que a enfermagem deve construir, necessita de profissionais
que busquem ampliar seus conhecimentos e contribuam para produção
de conhecimento científico na área da violência escolar. Nesse sentido,
devemos nos apropriar de novas teorias e práticas e, na escola, espaço
possível de sua prática profissional, intersetorial e articulada, (re)cons-
truir um modelo de atenção ao adolescente que atue na prevenção e
minimização do bullying. Assim, estaríamos atendendo ao desafio e
compromisso de garantir a equidade, a proteção e uma melhor quali-
dade de vida na adolescência.29

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AMBIENTE DE RUA
Risco e vulnerabilidade do adolescente
às DST/HIV/Aids

Izaildo Tavares Luna


Michel Platinir Ferreira da Silva
Maria Lúcia Duarte Pereira
Maria Dalva Santos Alves
Maria Suêuda Costa
Neiva Francenely da Cunha Vieira
Leilane Barbosa de Sousa
Fabiane do Amaral Gubert
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

N este tópico serão discorridos os conceitos de risco, vulnera-


bilidade e ambiente de rua. Então optou-se por iniciar apresentando as
diversas formas de definir o conceito de risco, levando em consideração
as várias áreas de conhecimento que fazem uso dele.
Existe um debate em torno da gênese do conceito de risco e de
seu uso que se apresentam em muitas disciplinas do campo das Ciências
Naturais e Exatas (por exemplo, Biologia e Ecologia) e, em particular,
das Ciências da Saúde (Medicina, Epidemiologia) e das Ciências
Sociais e Humanas (Economia, Sociologia, Política, Psicologia). As di-
versas aplicações dos conceitos tiveram implicações para pesquisas e
práticas clínicas, porque o risco como conceito tem-se constituído na
trajetória histórica e cultural das sociedades, sendo pensado como pro-
cesso e não como variável em si.1
280 Estudos da Pós-Graduação

Constata-se que muitas vezes ocorre a aplicação errônea do con-


ceito de risco, pois é comum o uso de vulnerabilidade no lugar deste. É
importante ressaltar que são dois conceitos distintos. Risco é utilizado
pelos epidemiologistas em associação a grupos e populações, enquanto
vulnerabilidade refere-se aos sujeitos e as suas suscetibilidades às res-
postas negativas.1, 2
A vulnerabilidade é um termo derivado do latim, vulnerabilis,
que expressa; vulnerável é todo aquele suscetível de ser ferido, ofen-
dido ou atacado, ou seja, diz-se do lado fraco de uma questão, ou do
ponto por onde alguém pode ser ferido ou atacado.3 Portanto, os termos
vulneráveis e vulnerabilidade designam o sujeito susceptível a pro-
blemas e danos à saúde.
Assim a vulnerabilidade surge como o produto da interação entre
cognição, afeto, psiquismo (características do sujeito) e estruturas sociais
de desigualdade (gênero, classe e raça) determinando acesso a oportuni-
dades, produzindo no sujeito sentidos sobre o mundo e sobre si mesmo.4
Para o entendimento dos aspectos que envolvem a vulnerabili-
dade, precisa-se entender que vulnerável é o ponto pelo qual alguém ou
algo pode ser atacado.3 Já a vulnerabilidade é definida como pouca ou
nenhuma capacidade de o sujeito ou grupo social decidir sobre sua situ-
ação de risco.5 Assim, a vulnerabilidade, vista isoladamente, não carac-
teriza o ser/estar vulnerável, pois não expõe o motivo dessa condição do
sujeito ou do grupo.6
Na tentativa de esclarecer o conceito de vulnerabilidade pontu-
a-se que, ao enfrentar a epidemia do HIV/Aids, as pessoas muitas vezes
reagem distanciando-se do problema. Muitos acreditam que hoje, e
mesmo amanhã, o risco de tornar-se soropositivo ou de ter familiar e/ou
amigo infectado pode ser essencialmente zero [...] (7, p. 275; 8, p. 2).
No que se refere ao campo social, a análise de vulnerabilidade
consiste na avaliação das diferentes possibilidades de os sujeitos ob-
terem informações efetivas e de se apropriar delas. A vulnerabilidade
dos indivíduos nesse campo se refere ao reconhecimento de referências
culturais, relações de gênero, estigma, discriminação, pobreza, acesso à
saúde e à educação, entre outros, que influenciam diretamente na capa-
cidade de redução da vulnerabilidade.9
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 281

O desvendar da rede de significados que dão formas às experiên-


cias humanas e compõem um quadro de referência para a vida do su-
jeito consiste em um aspecto importante para a compreensão da vulne-
rabilidade social do indivíduo aos agravos à saúde.10
Outro termo que pertence ao escopo deste capítulo e que merece
destaque é o ambiente de rua. A rua é um lugar de passagem e de con-
vívio social. Já para uma parcela da população brasileira a rua consti-
tui-se um meio de vida, local de sobrevivência e de formação de vín-
culos. Praças, parques, mercados, feiras públicas, estação de ônibus,
terrenos vazios, prédios abandonados, entre outros, são espaços habitu-
almente utilizados por alguns indivíduos como esconderijos, lugares
para conseguir dinheiro, alimentos, drogas, divertimento etc. Assim, a
rua é apropriada por estas pessoas através do uso que eles fazem dela,
mantendo uma relação marcada pela exploração utilitária.11
Logo a rua apresenta-se como espaço transitório e não perma-
nente de sobrevivência. Essa ocupação temporária é marcada por carac-
terísticas bem peculiares, o que leva os indivíduos a se apropriarem sim-
bolicamente da rua como um território, uma propriedade conquistada.12
Em nossa sociedade, é crescente o número de pessoas vivendo
em situação de risco e abandono social. Dentre estas, encontra-se o ado-
lescente em situação de rua. Essa realidade deve ser analisada sobre a
ótica da historicidade da conjuntura social, representada pelos aconteci-
mentos sociais, interesses políticos e econômicos, representando a con-
cretização e legitimação do abandono social e descompromisso do
Estado para promover proteção a todos os cidadãos.13
A questão do abandono social do adolescente insere-se num con-
texto social, político, econômico e cultural extremamente complexo
numa relação dinâmica e direta de causa e efeito. Maus-tratos, vio-
lência, violência sexual, uso de drogas, desestrutura da família são fa-
tores importantes que motivam a ida do adolescente para a rua. Esses
fatores colocam esses indivíduos em situação de risco.14
Dentre os aspectos que contribuem significativamente para que o
adolescente vivencie o ambiente de rua destacam-se: a situação econô-
mica precária da família, a fragilidade de sua organização e estrutura, a
exploração do adolescente, a violência familiar e o uso abusivo de drogas.15
282 Estudos da Pós-Graduação

Estudos mostram que o adolescente, ao vivenciar o ambiente de


rua, pode apresentar problemas como: déficit de crescimento físico,
baixa autoestima, baixa escolaridade, agressividade, depressão, uso de
drogas, prostituição, entre outros. Logo, o contexto de rua pode tornar
o adolescente vulnerável aos mais diversos riscos de seu meio. A vio-
lência sofrida por esses indivíduos na rua surge como fator que propicia
o sofrimento psíquico.12, 13
O adolescente em situação de rua, por estar inserido em bolsões
de pobreza, são mais vulneráveis ao uso e abuso de drogas lícitas (ál-
cool, tabaco), e ilícitas (solventes, maconha, cocaína e seus derivados,
entre outros), às DST/HIV/Aids, relações sexuais desprotegidas, difi-
culdade para aquisição de preservativos, violência doméstica e explo-
ração sexual comercial, entre outros.16, 18
A condição de existir adolescente vivenciando o ambiente de rua
apresenta-se como situação de violação das legislações vigentes no
Brasil e das várias convenções internacionais de defesa dos direitos hu-
manos. É salutar afirmar que, em primeiro lugar, cabe à família o dever
de zelar pela proteção desses indivíduos. Caso isso não seja possível, o
Estado dever tutelar, de maneira digna, esses adolescentes. Esse é um
direito garantido por lei, no entanto a alarmante condição de adoles-
centes em situação de rua revela o descumprimento e/ou ineficácia das
políticas públicas governamentais e da falta de comprometimento da
sociedade civil em buscar soluções para acabar com essa desumana si-
tuação presente em nosso país.19
O viver o ambiente de rua como meio real de subsistência e como
espaço principal de convívio não expropria o adolescente das inúmeras
necessidades próprias desta fase do desenvolvimento humano, marcada
por acelerado desenvolvimento biopsicossocial, intelectual, moral, afe-
tivo, interacional, entre outros13
O conviver do adolescente com o ambiente de rua não ocorre de
uma hora para outra. Esse evento constitui-se em processo progressivo,
sendo que, na maioria dos casos, está interligado ao aprendizado das
idas e vindas de casa para a rua e vice-versa.20
No princípio, esse processo de saída de casa para a rua inicia-se
com um período maior de tempo, levando o adolescente a partilhar e
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 283

interagir com a cultura de rua, o que contribui para que esse sujeito se
integre totalmente ao ambiente de rua.21
A rua raramente proporciona a estes indivíduos subsídios ade-
quados para o enfrentamento, com um mínimo de sucesso, desta etapa
da vida em direção à construção do indivíduo pleno e cidadão.22

Adolescência e a vulnerabilidade às DST/HIV/Aids

Este tema é abrangente e engloba diferentes pontos, à medida


que o adolescente vai desvelando a sexualidade. O despertar dos hor-
mônios põe o adolescente diante de um mundo multifacetado cheio de
curiosidades e dúvidas que o colocam frente a frente à adoção de com-
portamentos de risco, os quais podem levá-lo à aquisição de DST/
HIV/Aids.23
A adolescência é a fase da vida estabelecida conforme o intervalo
de idade e distinguida pelos anos do período escolar e do reconheci-
mento jurídico.4 Ser adolescente é o sujeito que está na faixa etária
concentrada entre os 10 e 19 anos e/ou entre 12 e 18 anos.5, 24
Essa etapa da vida humana é marcada por profundas transforma-
ções no âmbito biológico, psicológico, social e emocional. Tais altera-
ções podem aumentar a vulnerabilidade do adolescente aos diversos
riscos à saúde, como práticas sexuais desprotegidas, que o expõem às
DST/HIV/Aids, uso de álcool e outras drogas, violência e prostituição,
entre outros.10, 25
Em relação às mudanças físicas e biológicas ocorridas na adoles-
cência, destacam-se as alterações hormonais e o desenvolvimento dos
caracteres sexuais primários e secundários, que deixam o adolescente
com o corpo mais parecido com o do adulto.26 Já as mudanças no as-
pecto psicológico produzem repercussões e consequências significa-
tivas na vida desse sujeito, pois o aflorar de sentimentos e sensações
distintas, como atos inconsequentes e ousados movidos pela curiosi-
dade, aumentam sua vulnerabilidade.27
É na adolescência que ocorre a formação da identidade sexual do
sujeito. É uma fase cercada de expectativas sexuais intensificadas que
contribuem para a consolidação da identidade sexual, pois nessa fase o
284 Estudos da Pós-Graduação

desejo sexual está aguçado em decorrência dos hormônios. O envolvi-


mento sexual é muito presente, sendo necessário conhecer efetivamente
o desenvolvimento da sua identidade sexual.28
O primeiro envolvimento sexual do sujeito ocorre na adoles-
cência, motivado pelas manifestações sexuais aguçadas, pelo interesse
em satisfazer os impulsos sexuais, pela curiosidade e pela vontade de
conhecer o outro. A primeira relação sexual do adolescente é concebida
como uma conquista ou amadurecimento. Essa concepção muitas vezes
contribui para o início precoce da vida sexual, pois, devido à falta de
amadurecimento, alguns adolescentes não suportam a pressão exercida
pelos pares e, pela desinformação, desenvolvem práticas sexuais des-
protegidas que aumentam a vulnerabilidade às DST/HIV/Aids.29
A vulnerabilidade do adolescente em relação às DST/HIV/Aids
está relacionada às características pessoais como cognição, afeto e psi-
quismo. Interage com as estruturas sociais de desigualdade de gênero,
raça e classe.10
A adolescência constitui-se em período de vulnerabilidade em
decorrência das rápidas transformações que a caracterizam como pu-
berdade, evolução da sexualidade, afastamento progressivo dos pais,
atitudes reivindicatórias, contestações e percepções paradoxais de in-
vulnerabilidade do adolescente.30
A literatura nacional e internacional comprova que os modelos
hegemônicos de comportamento de gênero são responsáveis por ati-
tudes que colaboram para aumentar o risco à saúde do adolescente tanto
do sexo masculino quanto do feminino, assim como o uso abusivo de
álcool e outras drogas.31
Atualmente, a incidência das DST/HIV/Aids na adolescência
vem aumentando consideravelmente. Esse fato é motivado pelo início
cada vez mais precoce de práticas sexuais desenvolvidas, cercadas pela
desinformação e falta do uso do preservativo. Caracteriza-se como fonte
de preocupação para os órgãos e serviços de saúde que trabalham com a
questão da prevenção de DST/Aids em adolescentes e jovens.18, 32, 33
O perfil epidemiológico da aids no Brasil e no mundo mostra que
existe maior prevalência da doença entre os adolescentes e jovens e que
a incidência das infecções pelo HIV/Aids é maior na faixa etária de 15
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 285

a 24 anos, de ambos os sexos, além da pauperização. No mundo, esti-


ma-se que aproximadamente 11,8 milhões de jovens na faixa etária de
15 a 24 anos vivem com o HIV/Aids. No Brasil, aproximadamente a
metade das novas infecções pelo HIV ocorre entre adolescentes e jo-
vens que se encontram na faixa etária de 15 a 24 anos.34
Logo, a vulnerabilidade do adolescente às DST/HIV/Aids au-
menta em consequência de fatores biológicos, psíquicos e sociais. Além
disso, a baixa idade da menarca leva à precocidade das práticas sexuais
desprotegidas, aumentando a probabilidade de infecção.35
A busca de novas sensações e a definição da identidade sexual,
com experimentação e variação de parceiros, expõem os adolescentes ao
risco. Eles agem sem prever as consequências, muitas vezes motivados
pela sensação de invulnerabilidade tão peculiar nessa etapa da vida.33
Estudo desenvolvido com adolescentes envolvidas em práticas
sexuais desprotegidas detectou que elas acreditam que o estabeleci-
mento de uma relação monogâmica constitui estratégia confiável e
eficaz para protegê-las de DSTHIV/Aids.36
Associado a esse fato, o referido estudo evidenciou que a desin-
formação contribui de forma significativa para que essas adolescentes
entendam a doença como algo distante delas e, em consequência, con-
siderem a confiança nos seus parceiros como comportamento seguro e
efetivo para a prevenção dessas enfermidades.
Logo, infere-se que a vulnerabilidade do adolescente depende de
vários fatores, entre eles o entendimento da doença, o contexto de in-
serção do adolescente, a percepção de risco que possui, além de crenças,
valores, autoestima, acesso aos serviços de saúde, redes de apoio, entre
outros aspectos.6
É salutar afirmar que a existência de outros fatores pode au-
mentar a vulnerabilidade dos adolescentes às DST/HIV/Aids. Dentre
eles, destacam-se os aspectos culturais relacionados às questões de gê-
nero, às condições socioeconômicas escassas, como baixa escolari-
zação, desemprego e falta de perspectivas, à violação dos direitos hu-
manos e ao rompimento da estrutura familiar. Não se pode desconsiderar,
também, os aspectos vinculados à qualidade do serviço oferecido a esse
adolescente, como a discriminação por parte dos profissionais, o acesso
286 Estudos da Pós-Graduação

aos serviços, a descontinuidade das ações preventivas e as dificuldades


da integração dos serviços e do planejamento das ações.10
Com base nos aspectos conceituais e definições sobre risco e
vulnerabilidade propostos neste capítulo, associando-os com as di-
versas alterações decorrentes da adolescência, conclui-se que o
adolescer é uma fase da vida altamente susceptível às DST/HIV/
Aids. O adolescente, ao vivenciar as diversas situações estressante
e/ou traumáticas, atreladas às mudanças peculiares dessa etapa da
vida, torna-se mais exposto a práticas sexuais de risco à saúde se-
xual e reprodutiva.
Percebe-se, ainda, maior risco no adolescente drogadicto, ví-
tima de violência, em conflito com a lei, institucionalizado ou em
acolhimento, vivendo em exclusão social e/ou em situação de rua.
No caso deste último, foco deste capítulo, tornam-se ainda mais sus-
ceptíveis à infecção das DST/HIV/Aids por serem sujeitos expostos
a todo tipo de risco e por vivenciarem múltiplas situações de vio-
lência, discriminação, prostituição e uso abusivo de álcool e outras
drogas, o que contribui significativamente para que esse grupo espe-
cífico não adote o uso do preservativo em todas as práticas sexuais,
motivado, ainda, pela baixa escolaridade.32

Os desafios no atendimento do profissional de


Enfermagem ao adolescente em situação de rua

Em se tratando da ênfase à saúde do adolescente, cabe destacar a


Política deAtenção Integral à Saúde dos Adolescentes e Jovens – Prosad,
por sua proposta de aplicar a dimensão educativa em todas as ações dos
serviços de saúde com os adolescentes. Os serviços de saúde na atuali-
dade reproduzem as relações sociais do adolescente, relegando-o a uma
posição de inferioridade e deixando essa população esquecida e à
margem da sociedade.
Os grandes desafios impostos na trajetória das políticas públicas
voltadas para a juventude estão em romper com a ausência dos adoles-
centes na formulação, implementação e avaliação dos programas dire-
cionados a esta população.37
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 287

Hoje, o tema da juventude já se insere na esfera pública; as polí-


ticas no Brasil voltadas à adolescência e juventude estão aquém do que
é preconizado nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e no
Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), encontrando-se em uma fase
preliminar com propostas a partir de debates realizados no interior de
instituições formadoras sem, no entanto, apresentar repercussões no dia
a dia dos serviços em saúde.38
Para a Saúde Coletiva, a prática social da Enfermagem tem como
diretrizes a assunção da responsabilidade pelo acompanhamento das
condições de saúde do indivíduo, família e grupos sociais, intervindo
nos aspectos da estrutura e da dinâmica social que possam promover a
superação dos potenciais de desgaste que se manifestam no viver e não
se limitando a imprimir ações de recuperação do desgaste já instalado,
dirigindo-se a aprimorar os potenciais de fortalecimento da totalidade
da população.37
Nessa direção, as práticas do (a) enfermeiro (a) em saúde cole-
tiva voltadas para adolescentes e jovens na atenção básica devem criar
tecnologias intersetoriais inovadoras que permitam o favorecimento do
desenvolvimento pleno da juventude e que considere as diferenças so-
ciais e a forma como estas afetam a manifestação do processo saúde-
-doença destes jovens.39
Diante do universo de atuação do profissional de saúde no favo-
recimento de práticas para prevenir doenças, promover e proteger a
saúde sexual do adolescente destaca-se o papel do enfermeiro como
trabalhador de ações educativas para a prevenção das DST/HIV/Aids
pelas atribuições inerentes à profissão, que são: cuidar, assistir, pla-
nejar, administrar, prevenir, educar e pesquisar. Essas ações visam ao
bem-estar do ser humano, individual ou coletivamente, buscando a in-
tegralidade da assistência. 32, 38
O enfermeiro, como trabalhador de ações de prevenção, seguindo
os princípios e diretrizes da política de prevenção das DST/HIV/Aids,
atua através de práticas assistenciais e educativas emancipatórias e dia-
logais, junto a outros profissionais de saúde e educação, na supervisão
do crescimento, desenvolvimento e controle das DST/HIV/Aids, pre-
venção de gravidez indesejada, entre outras necessidades do adoles-
288 Estudos da Pós-Graduação

cente. Busca, assim, criar um espaço de reflexão para que esses sujeitos
desfrutem de sua sexualidade de forma sadia e responsável.18, 32, 37
A enfermagem, dentro da proposta interdisciplinar e multipro-
fissional embasada na Política Nacional de Prevenção das DST/Aids,
vem prestando o atendimento ao adolescente por meio de programas
educativos que visam informar o público acerca das mudanças que
ocorrem no seu corpo, ressaltando aspectos preventivos e curativos das
doenças às quais estão expostos. Propõe estratégias que criem um es-
paço de diálogo com vista a neutralizar a influência dos fatores de
ordem social e cultural que contribuem nocivamente para a vida sexual
e reprodutiva do adolescente, orientando-o sobre os métodos de pre-
venção das DST/HIV/Aids. 40
O trabalho de orientação desenvolvido nas ações educativas pelo
enfermeiro visa levantar, junto ao adolescente, necessidades e inte-
resses temáticos a serem desenvolvidos no processo educativo. A pro-
posta educativa norteada por metodologias emancipatórias e dialogais
tem como finalidade permitir que haja a transformação dos sujeitos en-
volvidos no processo. Saber escutar, refletir e dialogar com o outro per-
mite enxergar a diversidade dos saberes com a consciência de que são
seres inacabados enquanto estiverem convivendo e experimentando
com o outro o prazer da busca do conhecimento.41
Salienta-se que as atribuições do enfermeiro na promoção da saúde
do adolescente são: desenvolver um cuidado no sentido de prevenir do-
enças e situações indesejadas; orientar a formação de multiplicadores que
têm uma ação mais próxima dos pares; facilitar conhecimento, partici-
pação e fortalecimento do vínculo entre pais, adolescente e profissional.
As ações do enfermeiro que atua na prevenção de DST/HIV/Aids
são norteadas por oficinas grupais de prevenção. As metodologias edu-
cativas por meio de oficinas favorecem a análise integral do público a
ser assistido, a contextualização do grupo, a clareza e a definição do
foco temático da proposta educativa conforme as necessidades e o inte-
resse do público-alvo, o planejamento flexível (implicando contínua
transformação enquanto fluir o processo grupal), a aplicação de téc-
nicas de sensibilização, dinamização, comunicação, ação-reflexão, a
fim de propiciar a formação de vínculo grupal, respeitando-se a auto-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 289

nomia e o desenvolvimento dos participantes. O facilitador assume,


dentro do processo grupal, o papel de promotor da comunicação e ana-
lisa a relação do grupo com o contexto vivencial.42
A enfermagem, nos últimos anos, tem desenvolvido ações de
prevenção das DST/HIV/Aids com a utilização de diversas tecnologias
educativas como vídeos, websites, manuais, folders, círculo de cultura
e jogos educativos, entre outros. Essas tecnologias favorecem a pro-
moção da saúde do adolescente e auxiliam no progresso do pensamento
crítico-reflexivo, mantendo ou estimulando o bem-estar e melhorando a
qualidade de vida e facilitando a conscientização desses adolescentes
para a necessidade de adoção de comportamentos saudáveis.18, 35, 43
Enquanto as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças
desenvolvidas pelos profissionais de saúde, em especial os da enfer-
magem, sofrem transformações significativas após a publicação da polí-
tica de prevenção, pesquisas demonstram que um dos maiores desafios
dos serviços de saúde, não só no Brasil, mas também em diversos países
da América Latina, do Caribe e da África subsaariana, é manter o uso do
preservativo entre os adolescentes em todas as práticas sexuais. Por outro
lado, cada vez mais os adolescentes iniciam precocemente sua vida se-
xual e sem a devida adoção de medidas de proteção. Com isso provocam
aumento nos índices de gravidez não planejada, de DST e de aids.44
Essa realidade reafirma a necessidade de efetivação de uma polí-
tica pública para ampliar o acesso dos adolescentes ao serviço de saúde
e incentivar a mudança urgente das práticas dos profissionais da
Estratégia Saúde da Família (ESF). Os modelos tradicionais de atenção
médica e de saúde pública são fragmentados e desintegrados e não res-
pondem às necessidades dos adolescentes, ao passo que o modelo de
atenção da ESF, que consta na Constituição Federal, nas constituições e
leis orgânicas municipais e na legislação do SUS, destina-se a cumprir
os princípios da integralidade, priorizando as ações preventivas e pro-
mocionais, a universalização da assistência nos níveis de atenção, pro-
moção, proteção, recuperação e reabilitação.45
Essas ações, embasadas pelas noções de territorialização, inte-
gralidade da atenção e impacto epidemiológico, reorientam o planeja-
mento de saúde para uma base populacional específica, como o adoles-
290 Estudos da Pós-Graduação

cente. É a promoção da saúde com medidas gerais e a proteção com


medidas específicas para a prevenção da ocorrência de gravidez não
planejada, de DST e da aids.
As estratégias de promoção da saúde devem fortalecer ações co-
munitárias, reorientar serviços de atenção primária para a promoção da
saúde e a prevenção de doenças e contribuir para a construção de polí-
ticas públicas de saúde e estilos de vida saudáveis.44
Nos últimos anos, vários esforços têm sido feitos para a pre-
venção das Doenças Sexualmente Transmissíveis e da aids entre ado-
lescentes. Hoje, no que diz respeito à aids, é imprescindível que a pre-
venção seja o enfoque prioritário, sobretudo quando o público-alvo das
estratégias é a população adolescente.46
Quando se deseja elaborar uma estratégia com o fim de promover
o controle da infecção pelo HIV, o desafio posto aos serviços de saúde
consiste em perceber a necessidade da renovação da prática profis-
sional. Isso só acontece por meio de uma ação dialógica entre o respon-
sável pelo processo educativo e o público-alvo.19
Neste sentido, os programas educativos voltados para a prevenção
de DST entre os adolescentes devem favorecer a construção de ações
que possibilitem influenciar positivamente o comportamento sexual dos
adolescentes. A informação clara sobre as questões que envolvem sexu-
alidade e transmissão de doenças sexuais é um indispensável instru-
mento facilitador para a adoção de práticas sexuais seguras.36
A participação dos profissionais de saúde em programas de insti-
tuições públicas ou organizações não governamentais que trabalham
com a problemática que envolve o adolescente em situação de rua e a
vulnerabilidade às Doenças Sexualmente Transmissíveis e a aids de-
veria ser mais ampla, pois, na atual conjuntura, visualiza-se um tra-
balho restrito e pontual muitas vezes desenvolvido de forma voluntária
e limitado a ações específicas.47
A Enfermagem precisa participar efetivamente do cuidar de ado-
lescentes em situações de exclusão, não se limitando ao atendimento
individualizado e desarticulado com sua realidade. A abordagem inte-
gral e holística preconizada para o profissional de Enfermagem é algo
não muito presente na realidade destes adolescentes.48
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 291

Acredita-se que o enfermeiro, ao atuar no cuidado desses adoles-


centes, precisa compreender as alterações próprias da adolescência
como também conhecer os fatores sociais que levam ao estado de maior
vulnerabilidade destes indivíduos as DST/Aids.19
Refletindo sobre os agravos individuais e sociais da questão de
adolescentes em situação de rua, observa-se uma problemática de saúde
pública que exige ações específicas e intersetoriais. Neste contexto, visu-
aliza- se a Enfermagem como agente transformador com alta capacidade
para atuar junto a esta questão, elaborando e implementando estratégias a
partir de uma visão integral do ser humano em seus aspectos sociais, cul-
turais e biológicos, e da atuação destes fatores no processo saúde-doença.
Vale frisar que, para isso ocorrer, é necessário que o enfermeiro se en-
contre minimamente alertado para a realidade de saúde pública de adoles-
centes em situação de rua e da atuação que lhes confere esta questão.18
Para a efetivação dessas ações, precisa-se romper com a infinita
vulnerabilidade às mudanças políticas, viabilizando a consolidação de
programas de ampliação e qualificação de recursos materiais e humanos
com vista ao fortalecimento das instituições responsáveis pela minimi-
zação dos danos causados pelo abandono social e, na medida do possível,
fortalecendo a atuação desses profissionais por meio de ações preventivas
norteadas por reflexão coerente e multifacetada deste fenômeno social.47
Conclui-se que as políticas brasileiras de atenção ao adolescente
em situação de rua precisam romper com a trajetória de enorme des-
compasso político entre discurso legal, ideologias e práticas, ações go-
vernamentais e não governamentais desarticuladas, com as mais di-
versas concepções sobre a questão do abandono social deste público.

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POPULAÇÕES ESPECIAIS
Importância da prevenção de DST/Aids
e das escolhas conscientes

Giselly Oseni Barbosa Oliveira


Aline Tomaz de Carvalho
Antonia Ferreira Alves Sampaio
Cristiana Brasil de Almeida Rebouças
Lorita Marlena Freitag Pagliuca

D eficiência é uma situação diferenciada que exige da socie-


dade estabelecimento de condições de acessibilidade física e de comu-
nicação em todos os ambientes, incluindo materiais e relacionamentos
humanos, permitindo plena integração destas pessoas, portanto não é
considerada doença. Entretanto, não há consenso quanto à denomi-
nação deste grupo populacional. Na educação, por exemplo, são deno-
minadas como com necessidades especiais, reforçando os instrumentos
e processos empregados na escolarização. Já nos programas de saúde,
são colocadas dentro de situações crônicas de saúde.
Conforme Relatório Mundial sobre Deficiência, entre aqueles in-
divíduos com idades de 0 - 14 anos, 5,1% tinham deficiências graves ou
moderadas e 0,7% deficiências graves. Entre aqueles com 15 anos ou
mais, as cifras foram de 19,4% e 3,8%, ou 892 milhões e 175 milhões
de pessoas, respectivamente.1 No Brasil, em relação à distribuição,
foram observadas assimetrias regionais e pessoas com deficiência são
encontradas mais frequentemente nos estados do Nordeste.2
298 Estudos da Pós-Graduação

Deficiência auditiva é a perda bilateral, parcial ou total de qua-


renta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequên-
cias de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. Deficiência visual, classi-
ficada como cegueira, quando acuidade visual igual ou menor que 0,05
no melhor olho, com a melhor correção óptica; baixa visão, quando
acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção
óptica; ainda, os casos nos quais a somatória da medida do campo vi-
sual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência
simultânea de quaisquer das condições anteriores. Deficiência física
consiste na alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do
corpo humano, acarretando comprometimento da função física.3
Deficiência é um fenômeno sociológico que se manifesta por
inúmeras barreiras sociais restritivas, sendo a baixa escolaridade fre-
quente neste grupo.4 Há evidências de que crianças e adolescentes com
deficiência são menos propensas a entraram na escola, faltam com mais
frequência e têm menor transição para níveis mais elevados de escola-
ridade. Além disso, a qualidade da educação prestada a essa população
é frequentemente inadequada. Uma das consequências do baixo nível
de instrução desta clientela é o isolamento, uma vez que boa parte
dessas pessoas não circula nas ruas, não frequentam escolas nem tem
acesso a trabalho.5 O isolamento social pode ter início na própria fa-
mília que não percebe perspectivas favoráveis ao jovem e, levá-lo à
escola exige superar barreiras físicas e atitudinais.
Educação influencia no processo de inclusão na sociedade. O
Relatório Mundial sobre a Deficiência aponta que taxas de matrícula
nas escolas apresentam variações entre as deficiências; aquelas com
deficiência física normalmente apresentam adesão maior do que as que
vivem com deficiência sensorial.1 Adolescentes com deficiência sen-
sorial, visual ou auditiva encontram maior dificuldade de inserção na
escola pelo não domínio de sua forma de comunicação pelos profes-
sores e alunos.
Tradicionalmente, deficientes visuais frequentam escola espe-
cial até dominarem mobilidade autônoma e escrita braile, isto até o
quarto ano do ensino fundamental; em seguida, passam a frequentar
escola regular sob supervisão de professor itinerante especializado.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 299

Deficientes auditivos, em particular os surdos, usam língua própria,


LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais – e aí há dificuldade dos profes-
sores da rede regular de ensino em acompanhar estes alunos, deixan-
do-os à margem da inclusão no processo de escolarização.6 A menor
escolaridade na deficiência auditiva está, em grande parte, relacionada
ao despreparo de instituições escolares para atender estudantes com
este tipo de deficiência e, quando frequentam ensino superior, estão
sempre acompanhados por intérprete, quando os há.
Dentre outros fatores, a escolaridade também é fator que inter-
fere diretamente em maior dificuldade de acesso aos serviços de
saúde pelas pessoas com deficiências.7 Inserir o adolescente com de-
ficiência na escola regular exige que, além dos professores, seus
pares estejam preparados para recebê-lo. Cabe ao enfermeiro que
atua junto a escolares criar pontes. Experiência neste sentido foi con-
duzida utilizando jogo educativo na modalidade de labirinto, em que
o conteúdo abordava conhecimentos abrangentes sobre deficiência,
oferecendo conceitos e forma de se conduzir com pessoas com defi-
ciência física e sensorial; a dinâmica permitiu a interação competi-
tiva e colaborativa entre três grupos da classe, que percorriam cami-
nhos com obstáculos que motivaram aprendizado, reflexão e possível
mudança de comportamento.8
Geralmente, adolescentes que apresentam algum tipo de defici-
ência são privados do desenvolvimento de uma vivência sexual sau-
dável. Tal fator contribui para a exposição a agravos no âmbito da saúde
sexual e reprodutiva destes indivíduos, como, por exemplo, o risco de
contrair uma Doença Sexualmente Transmissível (DST). Mudanças fí-
sicas e hormonais ocorrem de forma semelhante para a grande maioria
dos adolescentes com deficiência, com a consequente maturação se-
xual, assim como os demais adolescentes sem deficiência.9
Na busca pela atenção integral à saúde dessa clientela, promoção
da saúde e prevenção de agravos são necessárias ações voltadas para a
saúde sexual através do provimento de medicamentos, da utilização de
recursos tecnológicos e de intervenções especializadas.10
Apesar dos avanços, com políticas públicas que têm se voltado
para a busca de acesso à educação, saúde e vida social de pessoas com
300 Estudos da Pós-Graduação

deficiência, pouco se tem observado de ações efetivas para incentivar e


incluir sua vivência afetiva e sexual.11 A assistência à pessoa com defi-
ciência ainda apresenta um perfil de fragilidade, desarticulação e des-
continuidade de ações, inserido marginalmente no sistema de saúde.7
Dessa forma, o fortalecimento de políticas existentes, bem como o
cumprimento de leis específicas, se fazem necessários.
Nesta perspectiva, profissionais da saúde devem incorporar
ações integradas no atendimento aos adolescentes com deficiência, in-
centivando-os à prática saudável através de educação em saúde sexual,
incluindo os métodos de prevenção das doenças sexualmente transmis-
síveis e de contraceptivos, privilegiando o preservativo.
Para cuidado efetivo, o enfermeiro deve conhecer o contexto dos
adolescentes com deficiência, atentar para necessidades específicas
inerentes a cada deficiência, bem como o contexto familiar, social e
político que os mesmos estão inseridos.

O adolescer com deficiência frente à sexualidade,


DST/Aids e vulnerabilidade

Adolescência é uma transição na qual o ser humano passa por


transformações nos diversos aspectos de vida. A sexualidade, conside-
rada um dos principais contextos das diferentes experiências até então
vivenciadas, apresenta-se de forma intensa, com novas dúvidas e desco-
bertas. Trata-se de um período marcado por vulnerabilidades em vir-
tude de ser uma etapa em que há conflitos sociais, psicológicos e fí-
sicos.12 É também um período crítico para o desenvolvimento de
comportamento e estilos de vida saudáveis.13
Quando o adolescer ocorre em pessoas com deficiência, esse pro-
cesso pode se tornar complexo e cercado de estigmas. A presença da
deficiência pode ser elemento complicador para este adolescente,14
visto que, além da mudança física e hormonal, existe a necessidade de
aceitação social, de inclusão e de garantia de seus direitos, o que inclui
viver plenamente sua sexualidade.
A sociedade lida, de maneira preconceituosa, com a sexualidade
de pessoas com deficiência por conta dos padrões estabelecidos de nor-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 301

malidade e colocam em desvantagem aqueles que são diferentes.11 Na


adolescência, para o senso comum, as pessoas com deficiência aparen-
temente não vivem esta etapa do seu desenvolvimento, pois as mu-
danças físicas não corresponderiam às psicossociais.9 Soma-se à super-
proteção imposta pelas famílias deste grupo populacional, que convivem
com seus filhos com deficiência de forma muito mais íntima frente ao
grau de dependência estabelecido.
Os adolescentes com deficiência, no âmbito da sexualidade, são
tratados como se fossem assexuados. Embora sintam os mesmos im-
pulsos que os demais no sentido de ter uma vida afetiva, dependem da
aceitação de parceiros, da permissão de pais e dos professores para que
seus anseios sejam alcançados.14
Dessa forma, se as DST/Aids representam risco para as pessoas
ditas normais, para as pessoas com deficiência, alvos de estigma social
que também se reflete no plano da sua sexualidade, os riscos se tornam
bem maiores.15, 16 A relação entre o HIV e as deficiências ocorre de forma
que não só o vírus pode resultar em deficiência, mas as pessoas com de-
ficiência, seja física, intelectual, sensorial ou mental, preexistente ou ad-
quirida, estão em risco de contraí-lo, assim como outras DST.17 Contudo,
tanto nacional quanto internacionalmente, pouco é conhecido sobre a es-
timativa de ocorrência de DST/Aids na clientela com deficiência.18
Diante da complexidade do adolescer com deficiência, estas duas
características configuram estes jovens como vulneráveis às DST/Aids,
considerados como grupo de risco importante. Adolescentes com defi-
ciência têm sua vulnerabilidade aumentada pela dificuldade de acesso a
serviços de saúde e informação, são mais propensos ao abuso sexual, à
pobreza, e menos susceptíveis a relacionamentos estáveis que a popu-
lação em geral.19
Adolescentes com deficiência buscam esclarecimento de suas
dúvidas sobre sexualidade e DST/Aids em fontes inseguras e constroem
o conhecimento com base em mitos e crenças,20 como “Não comparti-
lhar escovas de dentes”, “Fazer a circuncisão” como formas de prevenir
estas doenças.21
Este público tem vida sexual ativa e comportamento sexual de
alto risco, como início precoce da atividade sexual, múltiplos par-
302 Estudos da Pós-Graduação

ceiros, relações sexuais sem uso do preservativo e abuso de substân-


cias relacionadas com atividade sexual. Muitos acreditam não estar
susceptíveis à contaminação por HIV ou não serem capazes de se pro-
tegerem contra o vírus.22
Adolescentes com deficiência têm as mesmas necessidades de in-
formação, de acesso aos serviços de saúde no âmbito da sexualidade,
DST/Aids como todos os outros membros da sociedade.17 Ações de edu-
cação nesta temática devem ser pensadas e desenvolvidas por profissio-
nais da saúde com acessibilidade e valorização da sua inclusão. Entende-se
que assim pode-se minimizar os riscos de adoecimento e valorização da
vivência saudável da sexualidade do adolescente com deficiência.

Populações especiais: tecnologias em saúde na


prevenção de DST/Aids para adolescentes

Tecnologias de educação em saúde são comumente veiculadas


em meio impresso ou sonoro com descrição de procedimento acompa-
nhado de demonstração visual, ambos inacessíveis e incompreensíveis
para cegos e surdos. Ou seja, o cego ouve, mas não vê a demonstração;
o surdo vê a demonstração, mas não ouve a explicação. Desta forma, os
dois grupos têm dificuldade de acesso à informação sobre saúde, pois
requerem abordagem e materiais informativos em suportes acessíveis.
Tecnologia em saúde deve ser tecnologia assistiva entendida
como aquela que respeita as peculiaridades de acessibilidade de dife-
rentes grupos sociais. Há de se respeitar que o cego ouve, mas, para
compreensão de conceitos novos, estes devem receber concretude para
serem abstraídos. Exemplificando: em se pretendendo transmitir conte-
údos sobre sexualidade, ciclo reprodutivo, doenças sexualmente trans-
missíveis e sua prevenção e métodos de planejamento familiar, além da
informação ser disponibilizada em texto braile ou auditivo, deve vir
acompanhado de modelos anatômicos táteis que permitam do concreto
à construção abstrata da informação.
Nesta perspectiva foi criada a tecnologia assistiva, que simula o
canal vaginal, composto por duas esponjas de lavar louças e ligas de
borracha. Mulheres com deficiência visual aprenderam a utilizar o
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 303

preservativo feminino com as instruções disponibilizadas em áudio e


este material simples. Tal estratégia permite às adolescentes exer-
cerem sua autonomia na escolha de um método tanto para se prote-
gerem de uma gravidez indesejada, bem como o contágio de DST.23
Há evidências de que deficientes visuais adolescentes têm desconhe-
cimento e informações distorcidas em relação às formas de contágio
das DST, o que se deve, entre outros fatores, à carência de materiais
adaptados para suas características.24
Historicamente, pessoas com deficiência são excluídas quanto
aos meios de comunicação e informação e, apesar da busca por acessi-
bilidade, existem dificuldades na sua inclusão em ambientes e ativi-
dades cotidianas.25 Evidencia-se, portanto, que adolescentes com defi-
ciência precisam de orientação e recursos acessíveis às suas
especificidades para a promoção da saúde sexual. O uso de tecnologias
nesse contexto é relevante ao permitir educação em saúde acessível
para que estes não venham a adotar comportamentos de risco, mas sim
desenvolver uma prática sexual segura.
Abordagem dos métodos anticoncepcionais comportamentais foi
desenvolvido no formato de manual acessível à pessoa cega. Escrito em
braile e acompanhado de figuras em alto relevo, permite ao adolescente
conhecer anatomia e fisiologia reprodutiva da mulher e meios compor-
tamentais de planejar a gravidez. Os métodos comportamentais exigem
conhecimento da fisiologia da concepção, adesão do casal e controle
sobre a sexualidade. Não são adequados para prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis.26
Computadores incorporam programas que fazem a leitura do
que está escrito na tela e, por este meio, os cegos utilizam esta tecno-
logia apoiados em teclados acessíveis; evitam-se figuras e, se esti-
verem presentes, serão acompanhadas de áudio-descrição. Texto cor-
rido longo pode ser cansativo ou monótono, principalmente se o
conteúdo for pouco usual. Para superar esta barreira, foi elaborado
texto educativo rimado que aborda as principais DST, sinais e sin-
tomas, tratamento e enfoque no uso do preservativo. Esta estratégia se
revelou eficaz para difundir informação acessível entre homens e mu-
lheres com deficiência visual.
304 Estudos da Pós-Graduação

Doença sexualmente transmissível


A tão falada DST
Pode estar aqui agora
Em mim ou em você
Mas através da informação
Poderemos saber.

Na concepção dos sujeitos, esse recurso tecnológico utilizou lin-


guagem simples e de fácil entendimento, promovendo aprendizado e
compreensão.27 Trata-se de recurso adaptado que pode ser utilizado
pelos adolescentes com deficiência visual para a obtenção de conheci-
mento visando prevenção de DST.
Nesta mesma linha, foi construído literatura de cordel que
abordou a amamentação.28

É com a amamentação
Que nós vamos conhecer
As vantagens para a mãe
Vamos nós esclarecer
E também para a criança
Pois é quem vai receber

O texto foi cantarolado por um repentista e, na avaliação de pais


e mães cegas, a tecnologia foi atrativa e convidativa para a troca de
experiência entre o casal. A disponibilidade da tecnologia assistiva em
página da internet possibilita assistir sempre que desejar, favorecendo
retirar dúvidas. Assim, o enfermeiro pode valer-se das inovações e
avanços tecnológicos e criar ou utilizar estratégias para dinamizar a
assistência de enfermagem a esta clientela nos diversos ambientes de
educação em saúde.29
Explorando o recurso do computador, insere-se a pessoa com de-
ficiência visual no mundo dos cursos online acessíveis. Nesta abordagem
foi elaborado curso acerca da saúde mamária. A primeira aula familia-
riza o usuário com a plataforma que aloja o material educativo, permite
que se inscreva no curso e explore as ferramentas disponíveis. Próximo
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 305

passo, acessa conteúdo sobre epidemiologia do câncer de mama, mé-


todos de detecção precoce, anatomia da mama acompanhada de figura
com audiodescrição e instruções de como realizar autoexame. Cada aula
vem acompanhada de interatividade entre aluno e aluno e destes com o
tutor.30 Na busca do desenho universal, em que o aprendizado deve ser
compartilhado com públicos diversificados, este curso foi comparti-
lhado entre cegas e videntes, propiciando troca de experiências.
Surdos utilizam linguagem própria, a Língua Brasileira de Sinais,
ou LIBRAS, composta por símbolos que representam letras, mas, prin-
cipalmente, por gestos que correspondem a palavras ou frases; trata-se
de uma linguagem cultural. Como tal, convivem predominantemente
com seus pares, o que acarreta isolamento social. Há evidências de que
deficientes auditivos, frente à dificuldade de acesso ao serviço de saúde,
utilizam menos preservativos nas relações sexuais e não têm consci-
ência do risco de transmissão do HIV.31 Profissionais da saúde relatam
que tem maior dificuldade de comunicação com surdos.
Como estratégia de educação em saúde para prevenção de do-
enças sexualmente transmissíveis construiu-se curso online abordando
o uso dos preservativos feminino e masculino. As dificuldades inicia-
ram-se ao avaliar a (In)acessibilidade da plataforma que iria receber o
material educativo, escrita em português que não é a língua dos surdos
e que o leitor de tela não faz a leitura como para os cegos. As aulas
foram organizadas abordando sexualidade, anatomia e fisiologia femi-
nina e masculina e demonstração em modelos de como colocar os dois
tipos de preservativos. O cenário do desenvolvimento das aulas foi si-
mulado em um consultório de enfermagem, com a participação da en-
fermeira que conduziu consulta de enfermagem, acompanhada de intér-
prete da LIBRAS, dirigida a um casal de surdos que explicitaram
interesse no uso deste método. Esta estratégia mostrou-se dinâmica,
trazendo situação muito próxima do real. As dúvidas e perguntas sur-
giram espontaneamente.32
Esta experiência se mostra promissora, mas se encontra em fase
de avaliação. Mostra-se necessário desenvolver ferramentas que per-
mitam interatividade entre os cursistas e professor, tarefa não corri-
queira se este não dominar a língua de sinais. Também na busca da
306 Estudos da Pós-Graduação

universalização do acesso, manteve-se a voz da enfermeira como sina-


lização de que, no futuro, surdos, ouvintes, cegos ou não, poderão com-
partilhar da mesma experiência de aprendizagem.
Materiais educativos acessíveis ainda são poucos quando compa-
rados à temática da saúde sexual que podem ser aplicadas na área da en-
fermagem. Para adolescentes com deficiência, o uso de tecnologias ainda
é escasso, apontando para uma desvantagem a qual estão submetidos.
Dessa forma, é fundamental o desenvolvimento de iniciativas voltadas à
promoção da saúde dos adolescentes com deficiência no contexto da
saúde sexual, com vistas a auxiliá-los no processo de emancipação.

Prevenção e promoção da saúde no contexto da saúde


sexual na adolescência em meio a deficiência

Mudanças sociais nas últimas décadas acarretaram o início pre-


coce da vida sexual de adolescentes, fato que ocorre em meio às desi-
gualdades quando analisado por gênero, raça, escolaridade e condição
socioeconômica.33 Dentre esses fatores, encontra-se também a defici-
ência, cercada por especificidades e necessidade de atenção por parte da
família, comunidade e serviços de saúde para que a promoção de uma
vida sexual saudável seja oportunizada.
Adolescentes com deficiência precisam conhecer o funciona-
mento de seu corpo e ter acesso a informações adequadas para a pre-
venção de agravos, aprendendo como evitar as DST e como lidar com
sua sexualidade como comportamento social e expressão de afetivi-
dade, de libido e prazer.14
Prevenção das DST, trabalhada através do incentivo ao uso do
preservativo, reforça a pertinência de ações efetivas que abordem sua
importância no controle dessas doenças, com vistas a torná-lo conhe-
cido da população, além de fortalecer a adesão ao seu uso nessa clien-
tela. Desse modo, reforça-se a questão da prevenção pelo uso do preser-
vativo como uma forma natural de exercer a sexualidade de maneira
prazerosa e com segurança, evitando o contágio de DST/Aids.34
Portanto, os profissionais de saúde devem agregar conhecimento
sobre as políticas de saúde vigentes, bem como suas principais dire-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 307

trizes norteadoras, de modo que promovam atenção voltada para as ne-


cessidades da população através de ações inclusivas, correspondentes
aos preceitos da universalização do acesso à saúde, promovendo, assim,
sua saúde.35
Promoção da saúde configura-se como estratégia articulada às
demais políticas e tecnologias desenvolvidas no modelo brasileiro para
a construção de ações que atendam às necessidades sociais em saúde.36
Representa intervenções também nos âmbitos assistencial, educacional
e gerencial que contribuem para a transformação da lógica dessas ações,
sinalizada pela construção de novos saberes e fazeres na compreensão
do processo saúde-doença como produção social.37
Ações de promoção da saúde são diversas, complementares e di-
recionadas a diferentes especificidades, como, por exemplo, no con-
texto de adolescentes com deficiência, e devem ser desenvolvidas de
forma sistemática e inseridas em planejamento estratégico sustentado
pela percepção das vulnerabilidades e implicações sobre as condições
de saúde.38
Enfermeiros devem apoiar a capacitação e incentivar o desenvol-
vimento de trabalho colaborativo com a criação de ambientes e configu-
rações promotoras de saúde através do fortalecimento da capacidade de
autocuidado, da redução das desigualdades e luta pela equidade e desen-
volvimento de competências pessoais capazes de manter e melhorar a
saúde.39 Requerem-se, portanto, iniciativas com enfoque acessível através
de ações de educação em saúde efetivas com abordagens interativas.40
Estratégias devem ser desenvolvidas com o intuito de inserir
essas pessoas nas ações de prevenção, promoção e reabilitação em
saúde.41 Barreiras de comunicação se constituem em uma das princi-
pais dificuldades para que o acesso seja garantido, contexto no qual
o enfermeiro deve ser inserido com o objetivo de facilitar a promoção
do conhecimento.
Adolescência é a fase da socialização, da construção dos grupos
e da identidade sexual, portanto é possível refletir sobre a influência das
barreiras de comunicação na personalidade, troca de informações e
acesso social. Barreiras de comunicação e acesso são evidentes no con-
texto de saúde para pessoas com deficiência. Profissionais que se uti-
308 Estudos da Pós-Graduação

lizam de ferramentas para o alcance dessas pessoas, a exemplo da


LIBRAS, são registros pontuais.42 Da mesma forma, há severas bar-
reiras de comunicação com deficientes visuais frente ao despreparo,
visto que, mesmo que a verbalização se processe naturalmente, a comu-
nicação não verbal, compreendida pela gestualidade e o olho no olho,
que não é correspondida pelo cego, tolhe o profissional não habilitado
a esta característica da comunicação.
Desenvolver habilidades de comunicação verbal e não verbal
para a realização de consultas de enfermagem a pacientes com defici-
ência de forma qualificada e precisa43 permite acessibilidade e inclusão
nos diferentes níveis e contextos de saúde e proporciona aos adoles-
centes com deficiência a aquisição de espaço na sociedade, tornando-os
capazes de decidir por sua saúde. Marco Teórico e Referencial: Saúde
Sexual e Saúde Reprodutiva de Adolescentes e Jovens reforça a neces-
sidade da construção de autonomia, ainda colocadas de acordo com as
relações e estruturas sociais em que adolescentes e jovens estão inse-
ridos, marcadas por muitas formas de desigualdades.44
É indiscutível a necessidade de atenção voltada para a saúde se-
xual do adolescente com deficiência para a promoção de sua saúde e
prevenção de DST/Aids. O enfermeiro, como mediador das relações da
pessoa com deficiência com o serviço de saúde, deve primar pela efi-
cácia do cuidado.

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AMBIENTE, RISCOS E VULNERABILIDADES
Adolescente, família, escola e sociedade em
meio ao contexto da DST/Aids

Nara Sibério Pinho Silveira


Carlos Colares Maia
Fabiane do Amaral Gubert
Neiva Francenely Cunha Vieira
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

N a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,


celebrada em Estocolmo, em 1972, definiu-se o termo “ambiente” da
seguinte forma: “Ambiente é o conjunto de componentes físicos, quí-
micos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos,
em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades hu-
manas.1 Dessa Conferência, emergiu a expressão ecodesenvolvimento,
em face à crise do petróleo que ocorria na época, chamando, assim, a
atenção de países industrializados para o problema dos recursos natu-
rais não renováveis.
Um importante evento a ser destacado como um estreitamento da
relação entre saúde e ambiente foi a Rio-92, em que, através do rela-
tório Unced (United Nations Commission on Environment and
Development), foi proposta a Agenda 21, a qual designava um plano de
ação para o desenvolvimento sustentável.2
Diante desse contexto, a Rio-92 concluiu que: “Os seres hu-
manos estão no centro dos interesses do desenvolvimento sustentável”,
ou seja, o modelo da dominação antropocêntrica da natureza traz con-
316 Estudos da Pós-Graduação

sequências para o homem e, por sua vez, para a sua saúde, sejam elas
benéficas ou maléficas.1
Nos últimos anos, diversas abordagens vêm sendo apresentadas
para se entender as complexas relações entre os ambientes. Para tanto,
têm-se levado em consideração a estrutura social, econômica, política e
a organização que determinada sociedade atinge.
Uma das mais importantes abordagens é o chamado modelo
Lalonde, adotado pelo governo canadense para a re-organização da
saúde pública desse país a partir do final da década de 1970. Tal modelo
leva em consideração o imbricamento de quatro elementos, sejam eles:
a) o espaço biofísico; b) os fatores sociais; c) os atributos individuais
que se expressam nos estilos de vida e d) a bagagem genética. Vale
ressaltar que os quatro elementos desse modelo atuam como modula-
dores dos efeitos dos diferentes causadores das enfermidades ou da pro-
moção da saúde na sociedade.3
Levando-se em consideração o desenvolvimento dos conceitos
de promoção da saúde, é válido destacar a 1a Conferência Internacional
sobre Promoção da Saúde, a qual teve como principal produto a Carta
de Ottawa, que define promoção da saúde como “o processo de capaci-
tação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e
saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”.4
Entre os cinco campos centrais de ação da Carta de Ottawa,
ressalta-se aqui a criação de “ambientes favoráveis à saúde”, ou seja,
o reconhecimento da complexidade das nossas sociedades e das rela-
ções de interdependência entre diversos setores. Diante dessa pers-
pectiva, passam a compor centralmente a agenda da saúde: a proteção
do meio ambiente e a conservação dos recursos naturais, o acompa-
nhamento sistemático do impacto que as mudanças no meio ambiente
produzem sobre a saúde, bem como a conquista de ambientes que fa-
cilitem e favoreçam a saúde, como o trabalho, o lazer, o lar, a escola e
a própria cidade.5
Portanto, diante do que foi exposto acima acerca da relação exis-
tente entre ambiente e promoção da saúde, é possível percebermos as
influências de muitos aspectos diante da possibilidade de efetividade de
ambientes favoráveis à saúde; entre eles, é possível citar os riscos e as
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 317

vulnerabilidades. Para tanto, vejamos a seguir os conceitos de risco e


vulnerabilidade frente ao contexto das DST/Aids, já que se pretende,
nesse capítulo, evidenciar como o ambiente, os riscos e as vulnerabili-
dades podem interferir na promoção da saúde do adolescente, levan-
do-se em consideração o contexto das DST/Aids.
O conceito de risco ao longo do tempo foi bastante estudado e
analisado sob o olhar epidemiológico, sendo definido a partir do desen-
volvimento de três etapas: epidemiologia da constituição, epidemiologia
da exposição e epidemiologia do risco. No discurso da primeira, risco
era definido como sendo um adjetivo para designar a condição de popu-
lações que viviam sob constituições epidêmicas ou meios insalubres. A
segunda o conceituava como a chance de contato entre agentes infec-
ciosos e populações suscetíveis, e a última relacionava risco a grandezas
matemáticas, definindo-o como a estimativa da chance de que a expo-
sição a um fator (genético, ambiental, comportamental) possa estar cau-
salmente associada a um determinado estado ou condição de saúde.6
Referente à epidemia da aids, um novo conceito emergiu: com-
portamento de risco, deslocando a ideia de grupo de risco em direção à
identificação de comportamentos que expõem as pessoas ao HIV, des-
pertando a preocupação de que qualquer pessoa pode adotar comporta-
mentos que a expõem ao vírus e não somente aquelas pertencentes a um
grupo populacional.7
O termo vulnerabilidade também surgiu com o advento da aids,
buscando responder a percepção que as pessoas tinham quanto ao risco
de exposição ao HIV e ao adoecimento por essa síndrome, esclarecendo
que essa suscetibilidade é resultante de vários aspectos, não apenas in-
dividuais, mas também coletivos e contextuais. A análise desse termo
busca integrar três eixos interdependentes para compreensão dos fa-
tores que interferem nessa suscetibilidade, a saber: dimensão indivi-
dual, social e programática. A dimensão individual está relacionada ao
modo de vida das pessoas, à qualidade do conhecimento que elas têm
sobre a doença, assim como a capacidade e o interesse por parte delas
em adotar práticas relacionadas à prevenção. A dimensão social refe-
re-se aos aspectos materiais, culturais, políticos e morais que refletem a
vida em sociedade, interferindo no acesso à educação, aos meios de
318 Estudos da Pós-Graduação

comunicação, aos recursos materiais, ao poder de decisões políticas


entre outros que podem definir a vulnerabilidade individual e permitir
compreender comportamentos e práticas quanto à exposição ao HIV.
Com relação à dimensão programática, ela busca analisar como as ins-
tituições sociais, principalmente as de saúde, educação e cultura atuam
nas condições de vulnerabilidade.7

Adolescência em meio ao ambiente, aos riscos


e às vulnerabilidades

O período da adolescência constitui uma fase de maior suscetibi-


lidade à infecção pelo HIV tanto pelas alterações biopsicossociais que
ocorrem, como também pela necessidade que o adolescente tem de ex-
perimentar riscos e explorar coisas novas.8 O adolescente, na busca da
identidade adulta, experimenta diferentes papéis, sendo sua conduta
dominada pela ação impulsiva e imprevisível tanto do seu mundo ex-
terno como interno. Na busca da autonomia, tem suas primeiras vivên-
cias, como a primeira relação sexual, liberdade de sair sozinho com os
amigos e um novo olhar sobre o mundo e sobre a família, perpassando
por sensação de autoconfiança e insegurança. Essas novas experiências
o colocam em maior risco, como o envolvimento com álcool e outras
substâncias, tornando-o mais vulnerável a danos e a práticas que não
favorecem o autocuidado.9
Ao se encontrar na fase de moldura da identidade, o adolescente
se torna bastante influenciável. Esta característica, associada ao cha-
mado pensamento mágico, típico desta faixa etária, leva-o a crer numa
invulnerabilidade perante os riscos da prática do sexo desprotegido,
mesmo que de posse das informações importantes para evitar uma pos-
sível contaminação.10
O conhecimento dos adolescentes sobre a existência do preserva-
tivo não é elemento suficiente para que eles possam adotar práticas de
sexo seguro. Outros determinantes, tais como cultura, valores, desejos
pessoais podem estar influenciando em suas opções.11
Embora os jovens tenham algum conhecimento sobre a pre-
venção das DST/Aids, há o crescimento do HIV entre esta população.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 319

Segundo o Ministério da Saúde (MS), houve um aumento significativo


da taxa de detecção entre os adolescentes do sexo masculino de 120,0%
no período compreendido entre 2004 e 2013.12
Outro dado preocupante é que a epidemia no Brasil é concen-
trada nas populações em situação de vulnerabilidade (grupos popula-
cionais com comportamentos que os expõem a um risco maior de in-
fecção pelo HIV, como usuários de drogas, homem que fazem sexo com
homem – HSH e profissionais do sexo).12
Aqui é importante ressaltar as alterações emocionais que também
podem estar influenciando o público adolescente quanto às suas con-
dutas, principalmente na sua condição de imaturo, a saber: estresse,
baixa autoestima, depressão, ansiedade, que frequentemente se asso-
ciam ao uso abusivo de psicoativos.13
O uso de drogas representa, muitas vezes, no contexto individual,
um refúgio para o adolescente superar suas inibições e experimentar si-
tuações inovadoras, identificando-se com o grupo do qual faz parte, sen-
tindo-se seduzido por algo que é proibido e pela curiosidade da experi-
ência. Entretanto, na perspectiva social, o uso de álcool e drogas têm
sido uma das principais causas influenciadoras da vulnerabilidade na
adolescência e juventude a exemplo dos acidentes, suicídios, violência,
gravidez não planejada e transmissão de doenças por via sexual.14
Pesquisas revelam maior vulnerabilidade ao HIV entre usuá-
rios de drogas quando comparados à população geral, principal-
mente por aumentar a frequência do comportamento sexual de risco
e favorecer a propagação do vírus HIV.15 Em destaque, o crack é
uma das drogas mais preocupantes atualmente. Uma pesquisa reali-
zada com 270 craqueiros pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas
em Aids da Faculdade de Medicina da USP revelou que o índice de
afetados pelo HIV foi de 6,6%, quando na população em geral não
chega a 1%.16
Referente aos homens que fazem sexo com homem – HSH, a
população de jovens gays apresenta uma particular vulnerabilidade
ao HIV/Aids. Estudos apontam um aumento da prevalência de in-
fecção do vírus entre jovens de 17 a 22 anos de idade na população
HSH entre 2002 e 2007, passando de 0,56% para 1,2%. Vale destacar
320 Estudos da Pós-Graduação

que a prevalência observada nos conscritos HSH é superior à preva-


lência observada na população total de conscritos (0,09% em 2002;
0,12% em 2007).17
Com relação à vulnerabilidade relacionada a profissionais do
sexo, um estudo que envolveu homens jovens que se inseriram no
mercado da prostituição masculina revelou que não havia, por parte
desse grupo, a prática de sexo seguro, visto que o uso do preservativo
era mais adotado nas práticas que envolviam penetração. Foi des-
vendado que esses jovens, na tentativa de ocupar um papel ativo du-
rante a relação sexual, enfatizam sua masculinidade com poder e
controle, demonstrando dificuldade em perceber sua própria vulnera-
bilidade. Outro aspecto importante está associado à invisibilidade
social diante das características do sexo comercial, o que pode favo-
recer a vulnerabilidade desse grupo à infecção pelo HIV, assim como
por outras doenças.18
Um aspecto importante a considerar quanto ao uso do preserva-
tivo é a correlação feita entre esse recurso e a retirada do prazer, assim
como a visão de que as DST/HIV são doenças do outro, merecendo
destaque a diferença de gênero em que as mulheres, ao depositar con-
fiança em seus parceiros, acabam se expondo a uma prática sexual
sem proteção.19
Estudo realizado com 207 adolescentes, sendo 43,5% do sexo
masculino e 56,5% do feminino, apontou que, embora haja conheci-
mento declarado das técnicas de uso do preservativo, isso não reflete
em seu uso constante, sendo observados valores ligados às representa-
ções de gênero. Um percentual significativo dos adolescentes do sexo
feminino revelou que teria vergonha de guardar consigo o preservativo,
assim como de se recusar a fazer sexo sem camisinha quando poderiam
estar suspeitando da fidelidade do parceiro fixo.20
A importância da ideia de vulnerabilidade está relacionada à
compreensão de que a infecção pelo HIV não depende apenas da infor-
mação e da postura individual, mas de uma série de fatores estruturais
que influenciam nos comportamentos dos indivíduos, o que justifica
uma atenção especial direcionada a esse público como estratégia de
promoção da saúde.21
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 321

Nesse sentido, o enfoque da vulnerabilidade ao HIV reflete uma


interdependência entre as dimensões individual, social, programática e
cultural. Nessa perspectiva, há uma complexidade contextual entre os
aspectos individuais e coletivos relacionados à exposição ao vírus.22
É fundamental compreender que o ambiente, assim como suas
influências sociais, pode interferir de forma significativa no comporta-
mento dos adolescentes. Esse grupo, por se encontrar numa fase de
construção da identidade, pode adaptar suas condutas ao estilo e ao
meio sociocultural em que vive.23
Os adolescentes apresentam uma forte tendência de pertencer a
um grupo, de ter amizade e ser aceito por pessoas com características
iguais, apresentando necessidade de se parecer com seus companheiros
e de apresentar comportamentos iguais.24
Dessa forma, torna-se essencial a abertura de espaços saudáveis
que valorizem o diálogo como forma de interação e de promoção da
saúde e que estimulem o autocuidado entre a população adolescente.
O contexto familiar é considerado um espaço primordial para a
interação entre pais e filhos, principalmente no período da adolescência.
Embora muitas vezes essa relação seja conflituosa, o diálogo deve ser
sempre estimulado durante esta fase, visto que os adolescentes neces-
sitam de informações, assim como de alguns esclarecimentos que, se
não abordados nesse contexto, podem buscá-los em outros ambientes.25
A escola também é considerada uma das redes mais adequadas
para a discussão com esse público, principalmente sobre temas como a
sexualidade. É ela que mais tem tido inciativas para abordar temas rela-
cionados às DST/HIV, gravidez na adolescência e uso da camisinha. As
campanhas escolares sobre a temática estão cada vez mais frequentes e
este suporte tem dado excelentes resultados quanto ao conhecimento
dos adolescentes, o que tem sido evidenciado em estudos com escolas
da rede pública e privada de ensino.10
O espaço social, como não poderia deixar de ser citado, é também
considerado determinante no processo de saúde e doença, uma vez que
o risco social está estreitamente ligado ao convívio e à interação social.
Nessa perspectiva, é fundamental valorizar esse contexto, interligan-
do-o aos aspectos individuais e programáticos.14
322 Estudos da Pós-Graduação

O papel da família, da escola e da sociedade em


meio ao ambiente, aos riscos e às vulnerabilidades

A família é a base da formação do indivíduo, sendo um lugar de


aquisição e aprimoramento dos valores, hábitos e costumes. De um modo
geral, é uma instituição básica e fundamental para a formação da cida-
dania. Configuram-se como papel primordial da família: educar, cuidar,
amparar e dar afeto às crianças e aos adolescentes que nela se incluem.26
Através da evolução da sociedade foi possível verificar a for-
mação de vários arranjos familiares tais como aqueles denominados de
famílias nucleares, extensas, homoafetivas e monoparentais. O conceito
de arranjo familiar pode ser compreendido pela formação da família,
com laços consanguíneos ou não, convivendo sob o mesmo teto, de
forma que o modelo de organização, a função dos papéis familiares e as
relações de afeto determinem a configuração na qual está inserida.27
A formação de diversos arranjos familiares justifica-se pelo fato
de a família contemporânea ter passado, ao longo das últimas décadas,
por profundas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais.
O avanço do processo de globalização, fenômeno de repercussão mun-
dial, aumentou a competitividade, a insegurança no emprego, as desi-
gualdades salariais, o subemprego, o trabalho informal, dentre outros.28
Diante desse cenário de mudanças dentro do contexto familiar,
vale destacar a importância do papel da família em relação aos ambientes,
aos riscos e às vulnerabilidades do adolescente frente às DST/Aids.
Os elevados índices de DST/Aids entre a juventude e adoles-
cência brasileira ratificam a necessidade de importantes intervenções
no campo da saúde sexual e reprodutiva, tanto no plano da prevenção e
promoção da saúde como no da assistência propriamente dita.9
Sendo assim, a família ocupa um papel de destaque nesse ce-
nário, contribuindo para o desenvolvimento de seus integrantes, princi-
palmente em relação aos adolescentes,29 uma vez que esta fase é com-
preendida como processo de transição marcado por grandes
transformações biopsicossociais; portanto esse fato os torna susceptí-
veis aos riscos e vulnerabilidades presentes nos mais diversos tipos de
ambientes nos quais esses adolescentes se encontram inseridos.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 323

Dessa forma, é fundamental que o adoles­cente perceba e vivencie


o apoio da família como estraté­gia facilitadora para superar as dificul-
dades dessa fase. A situação de não acolhimento na família poderá fazer
com que o adolescente busque em outros grupos, por muitas vezes com-
prometedores, o suprimento de suas necessi­dades afetivas numa tenta-
tiva de compensar o vazio dei­xado pela família.30 É necessário perceber
o contexto social para que se possa compreender o com­portamento hu-
mano, pois não é possível conhecer a ado­lescência sem falar da socie-
dade e da família, tampouco o que se passa na família sem pensar um
pouco sobre o que acontece com o adolescente.
Outras instituições que exercem um papel relevante no tocante
ao ambiente, aos riscos e às vulnerabilidades do adolescente frente às
DST/Aids são a escola e a sociedade.
Essa afirmação justifica-se pelo fato de ambas possibilitarem ao
adolescente, assim como a família também proporciona, condições para
a prevenção e a promoção da saúde.
Nesse contexto, no ano de 2003, foi lançado o Projeto Saúde e
Prevenção nas Escolas (SPE), resultado da parceria entre o Ministério
da Saúde, o Ministério da Educação, a Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization – Unesco) e o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (United Nations Children’s Fund – Unicef).31
O SPE foi criado com o intuito de reduzir a vulnerabilidade dos
adolescentes e jovens às DST/Aids e à gravidez não planejada, com
enfoque voltado para a promoção da saúde, através de ações educativas,
visando à prevenção e à ampliação do acesso dessa população ao pre-
servativo. Nesse sentido, o projeto pretendeu reforçar a qualificação e a
formação continuada de professores nessa temática, disponibilizando
preservativos masculinos a adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, ma-
triculados no ensino fundamental e médio da rede pública de ensino.31
Em 5 de dezembro de 2007, também no âmbito dos Ministérios
da Educação e da Saúde, é instituído o Programa Saúde na Escola
(PSE), que se articula ao SPE, potencializando-o. O PSE tem como fi-
nalidade contribuir para a formação integral dos estudantes da rede pú-
blica de educação básica, por meio de ações de prevenção, promoção e
324 Estudos da Pós-Graduação

atenção à saúde, a partir da integração e articulação permanente entre as


políticas e ações de educação e de saúde, com a participação da comu-
nidade escolar, envolvendo as equipes de saúde da família e da edu-
cação básica.32
Essas questões vão ao encontro dos resultados de alguns es-
tudos,33 quando os mesmos afirmam que as práticas de saúde nas es-
colas parecem ser um dos caminhos para o atendimento das necessi-
dades dos adolescentes, principalmente para a abordagem de assuntos
relacionados à saúde sexual e reprodutiva. Além disso, compartilhar
informações em um espaço de debate e liberdade de expressão con-
tribui para a adoção de uma postura mais crítica em relação aos temas
abordados, o desenvolvimento de uma sexualidade mais saudável e res-
ponsável e a redução do número de jovens em situação de vulnerabili-
dade, por aumentar seu conhecimento e o despertar para novas perspec-
tivas de vida.33
Não podemos esquecer que, de acordo com alguns autores, a
ocorrência de uma DST ou uma gestação não planejada pode trazer
consequências para o desenvolvimento social da mãe e/ou do pai ado-
lescente, destacando-se o abandono à escola formal, a dificuldade
para inserção precoce no mercado de trabalho e a interrupção no pro-
cesso normal de desenvolvimento psicoafetivo e social, a fim de as-
sumir o papel de mãe ou pai que, consequentemente, interferirão em
sua saúde integral.34
Portanto, a saúde está diretamente ligada à educação no sentido
de que estes são dois pilares da sobrevivência humana que se encon-
tram em uma constante evolução.35

Sugestões e implicações para a promoção da saúde do


adolescente frente à vulnerabilidade ao HIV e o papel
da enfermagem como primordial nesse contexto

O contexto mundial com o advento da aids tem mostrado que


uma prevenção bem-sucedida deve integrar elementos como a edu-
cação, serviços de saúde e assistência social. Nessa perspectiva, asso-
ciam-se as dimensões individual, social e institucional/estatal relacio-
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 325

nadas à vulnerabilidade à aids. Dessa forma, os fatores que incidem


sobre a saúde não devem se restringir a aspectos biológicos, sendo ne-
cessário incluir os valores culturais e sociais que permeiam as constru-
ções individuais.20
Para a redução da vulnerabilidade em adolescentes ao HIV é pri-
mordial o desenvolvimento de estratégias que vão além das técnicas de
prevenção. É necessário abordar aspectos culturais e sociais que contri-
buam para a construção de um modo de viver e direcione as práticas em
favor da saúde. A compreensão do conceito de vulnerabilidade, supe-
rando os limites do conceito de risco biológico, contribui para o avanço
do conhecimento e amplia a visão dos profissionais de saúde que atuam
com o público adolescente.20
Aqui, ressalta-se a importância e a necessidade da construção do
conhecimento científico pela enfermagem com ênfase em ações educa-
tivas direcionadas aos adolescentes em situação de vulnerabilidade às
DST/Aids. É fundamental o envolvimento desse grupo em ações moti-
vadoras e participativas que favoreçam o processo educativo, assim
como a troca de experiências que venham sensibilizar esse público e
promover a qualidade de vida.36
Ao se trabalhar em grupo de adolescentes tem-se uma abor-
dagem eficiente para o desenvolvimento de ações educativas rela-
cionadas a temas de saúde. Esse grupo se torna beneficiado quando
interage com outros que compartilham as mesmas preocupações.
Outro aspecto importante é envolvê-los nos planos de ensino e na
determinação de necessidades como forma de promover a auto-
nomia. Para o cuidado em saúde é fundamental compreender e res-
peitar o estilo de aprendizagem.24
A educação em saúde direcionada aos adolescentes deve favo-
recer a liberdade e a dignidade humanas, estimulando a reflexão e o
posicionamento frente às relações sociais que possam dificultar ou fa-
vorecer a adoção de comportamentos saudáveis, ao mesmo tempo que
possa favorecer a construção de uma visão crítica como elemento im-
portante para a vida. Deve contemplar, entre outros aspectos, temas
como sexualidade e informações urgentes sobre o risco de se infectar
por alguma DST/HIV.37
326 Estudos da Pós-Graduação

Dessa forma, compreender as percepções que os adolescentes


têm é um desafio, principalmente para a enfermagem quando esta re-
flete e busca transformar as práticas em saúde almejando a prevenção.
Este é um processo que exige novas habilidades e uma ação proativa
capazes de gerar uma consciência coletiva e um compromisso frente
aos problemas de desigualdade, exclusão, discriminação e situações de
vulnerabilidade aos quais muitos adolescentes estão expostos.38
Portanto, quando se pretende trabalhar a saúde dos adolescentes,
faz-se necessário construir estratégias integradas e intersetoriais para a
promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos resultantes do uso
abusivo de álcool e de outras drogas e dos problemas resultantes da
violência, prevenção das DST/Aids, melhoria do atendimento ao cres-
cimento e desenvolvimento, saúde sexual e reprodutiva.37
Nesse cenário, as práticas de educação em saúde, que buscam
a integração de saberes, a autonomia e a emancipação dos sujeitos,
devem ser desenvolvidas com os adolescentes. A educação em saúde
requer o desenvolvimento de um pensamento crítico e reflexivo
frente à realidade vivenciada, possibilitando que o sujeito tenha sub-
sídios para opinar nas decisões de saúde para cuidar de si, da família
e da coletividade.36

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ADOLESCÊNCIA E O VIVER COM HIV/AIDS
Vulnerabilidades e promoção da saúde

Maria da Graça Corso da Motta


Nair Regina Ritter Ribeiro
Aline Cammarano Ribeiro
Clarissa Bohrer da Silva
Manuela Caroline da Silva
Paula Manoela Batista Poletto

A adolescência trata-se de uma fase do desenvolvimento hu-


mano marcada por transformações que envolvem os aspectos físicos,
sociológicos e psicológicos, a maturação sexual e cognitiva, a formação
da identidade e das visões de mundo. Período em que ocorre a intensi-
ficação da interação com os pares, direcionando o adolescente ao modo
de vida social com o qual se identifica.1
Caracteriza-se como uma etapa de oportunidades e de descoberta
de potencialidades, sendo um período de continuidade do desenvolvi-
mento humano inerente a situações de vulnerabilidade de exposição de
sua saúde. Nesse sentido, destaca-se o quão complexo é definir a ado-
lescência, pois cada um a vivencia de maneira diferente, conforme sua
história de vida, maturidade física, emocional e cognitiva.2
Dentre as situações de vulnerabilidade, destaca-se a possibilidade
de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Esse vírus
altera o DNA dos linfócitos T CD4+, células do sistema imunológico,
para que o HIV seja multiplicado e continue o processo infeccioso até o
adoecimento pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). A
332 Estudos da Pós-Graduação

aids pode ser caracterizada pela redução progressiva da eficácia do sis-


tema imunológico e da presença de sintomas iniciais como febre, diar-
reia, suores noturnos e emagrecimento. Devido à fragilidade imunoló-
gica, as pessoas com aids são suscetíveis a diversas doenças, desde um
simples resfriado a condições mais graves de saúde, como a tuberculose
ou o câncer. Estar com HIV é diferente de estar com aids, no entanto a
possibilidade de transmissão está presente em ambos os casos.3
Há duas categorias de exposição à infecção pelo HIV: a trans-
missão vertical e a horizontal. O primeiro grupo refere-se aos nascidos
infectados pelo vírus devido à condição sorológica materna positiva ao
HIV. O segundo grupo são os infectados por via sexual, transfusão san-
guínea ou uso de drogas injetáveis.4
Em relação ao cenário mundial da aids, mais de 34 milhões de
pessoas vivem com HIV, e as Américas Central e do Sul ocupam o 4o
lugar com 1,7 milhões de pessoas infectadas. Em nível mundial, os casos
de mortalidade pela aids diminuíram entre os anos de 2005 a 2011. No
entanto, cabe destacar que os jovens entre 15 e 24 anos constituem o
grupo com maior índice de infecção, atingindo 41% dos novos casos.5
Com base na notificação de casos de aids no Brasil, pode-se
apontar, retrospectivamente, o avanço da epidemia, o qual apresenta
modificações em seu perfil epidemiológico. Evidencia-se uma ten-
dência à juvenização, que é marcada pela distribuição dos casos de aids
na população de adolescentes. No período 1980-2013, foram notifi-
cados 15.480 casos na faixa etária entre 10 a 19 anos. Essa modificação
implicou a formação de políticas específicas para a população que vive
com HIV/Aids, colaborando no avanço do tratamento, bem como no
acesso gratuito aos medicamentos, resultando na melhoria e no bem-
-estar dessa população.6
Devido ao avanço da tecnologia, houve redução da morbidade e
da mortalidade frente à infecção pelo HIV, o que implica a realização de
cuidados de saúde que contribuam para o desenvolvimento de ações de
prevenção da transmissão do vírus e de assistência para a melhoria das
condições de saúde das pessoas que vivem com aids.3 Justifica-se a
necessidade de atentar-se para essa demanda, pois a epidemia da aids
tem-se mostrado com múltiplas facetas desde o seu surgimento, com
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 333

definições que evoluíram de grupo de risco, comportamento de risco


até o conceito de vulnerabilidade.
No intuito de ampliar o olhar sobre essa epidemia é imprescin-
dível explanar o conceito de vulnerabilidade, sendo que todas as pes-
soas são vulneráveis à infecção, dependendo da categoria de exposição
associada aos componentes individuais, sociais e programáticos. O
componente individual corresponde ao grau e à qualidade da infor-
mação que os indivíduos recebem sobre a infecção; capacidade de ela-
borar essas informações com possibilidade efetiva de transformar suas
preocupações em práticas protegidas e protetoras. O componente social
refere-se à obtenção de informações, ao poder de incorporar mudanças,
o que não depende só dos indivíduos, mas de aspectos quanto ao acesso
aos meios de comunicação, à escolarização e à disponibilidade de re-
cursos materiais. O componente programático se refere aos recursos
sociais de que os indivíduos necessitam frente às demandas de saúde e
está relacionado às políticas de saúde e como estão organizadas as ins-
tituições na comunidade.7
Nesse conceito de vulnerabilidade considera-se a exposição das
pessoas ao adoecimento oriundo de um conjunto de aspectos indivi-
duais, coletivos e contextuais que ocasionam maior suscetibilidade à in-
fecção e ao adoecimento. Torna-se imprescindível a disponibilidade de
recursos de diversas ordens para prevenir e se proteger das doenças.7
Os adolescentes que vivem com HIV se mostram vulneráveis aos
agravos de saúde em decorrência das características específicas da fase
do crescimento e desenvolvimento humano, somadas às especificidades
da condição sorológica.8 Possuem demandas de cuidado devido ao ca-
ráter crônico da doença, que inclui a dependência de tecnologia medi-
camentosa, a fragilidade clínica e a rotina de cuidado que permeia o
acompanhamento permanente de saúde.
Entre as demandas de saúde, tem-se a adesão à terapia antirretro-
viral (TARV) que se configura como decisiva para a efetividade do tra-
tamento. O esquema antirretroviral é utilizado para a tentativa de su-
pressão da carga viral do organismo, ou seja, a quantidade de HIV
circulante no sangue. Essa terapia inibe a replicação viral, retarda a
progressão da imunodeficiência e restaura a imunidade, reduzindo
334 Estudos da Pós-Graduação

substancialmente a mortalidade e morbidade pela infecção.6 Para pro-


mover a adesão, necessita-se qualificar o acesso aos serviços de saúde
e o cuidado desenvolvido pelos profissionais.
O adolescente necessita conviver com uma rotina de cuidado
com a saúde que o envolve em uma rede de cuidados familial e/ou pro-
fissional para o planejamento do tratamento devido à sua dependência,
desde o cotidiano medicamentoso, a adesão à TARV e o acompanha-
mento clínico. Deste modo, há a necessidade de incentivar a transição
gradativa para que desenvolva autonomia para o autocuidado.9, 10
Neste contexto, cabe às equipes de saúde dos serviços planejar e
desenvolver ações de cuidados preventivos, controle da epidemia e de
promoção à saúde dos adolescentes que vivem com HIV com o intuito
de viabilizar um acompanhamento integral para alcançar melhores con-
dições de saúde na condição crônica, buscando minimizar os danos clí-
nicos e sociais que a infecção ocasiona, a partir da identificação das
necessidades do adolescente.11
Frente às demandas de saúde identificadas, podem-se utilizar es-
tratégias de promoção da saúde, sendo a educação em saúde uma delas.
Educar é uma forma de cuidar e de promover saúde,12 pois é através da
educação que se pode habilitar o adolescente para exercer o seu próprio
cuidado como expressão de sua autonomia.
Assim, a enfermagem e os demais profissionais de saúde neces-
sitam direcionar intervenções para a promoção da saúde nos diferentes
cenários de atenção ao adolescente que vive com HIV. Nesse sentido,
ressaltam-se as questões que envolvem, além do crescimento físico as-
sociado ao desenvolvimento, mas também as particularidades da in-
fecção. Devem-se acolher as demandas de saúde que, além de físicas e
sintomatológicas, podem ser subjetivas.13
Com esse cenário de vulnerabilidades na adolescência frente ao
HIV/Aids, pretende-se continuamente aprofundar a produção do co-
nhecimento, a partir de pesquisas direcionadas para essa população, no
sentido de promover elementos que direcionem o cuidado para pro-
moção da saúde. Os pesquisadores vinculados ao Grupo de Estudos do
Cuidado à Saúde nas Etapas da Vida (Cevida) da linha de pesquisa
Fundamentos e Práticas de Enfermagem em Saúde da Mulher, Criança
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 335

e Adolescente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apresentam seu
foco de estudo na criança, adolescente e família e desde 2006 tem de-
senvolvido pesquisas relacionadas ao contexto do HIV/Aids nessas po-
pulações. Nessa perspectiva, buscou-se explanar os resultados das pes-
quisas desenvolvidas com os adolescentes que vivem com HIV e as
diferentes facetas do cuidado e promoção da saúde.
Diante disso, foram realizadas algumas pesquisas pelo Cevida
com adolescentes acerca da adesão ao tratamento antirretroviral. Os ado-
lescentes relataram suas percepções sobre a doença, o viver com o HIV/
Aids e suas dificuldades com a terapia medicamentosa. A família também
expressa suas dificuldades frente ao tratamento dos adolescentes e as es-
tratégias desenvolvidas para fortalecer a adesão à terapia.14
Os adolescentes que vivem com HIV/Aids, ao relatarem suas
percepções sobre a doença, referiram-se às informações dos exames
de sangue para detecção da carga viral e CD4 e às formas de infecção
do HIV/Aids. Destaca-se o exame de sangue como símbolo da relação
entre saúde e doença, a partir do qual o adolescente percebe o seu
tratamento. Quanto às categorias de infecção, os adolescentes descre-
veram situações de exposição à infecção, desconsiderando sua con-
dição sorológica já positiva ao vírus, de modo a se sentirem vulnerá-
veis à infecção e não com possibilidade de transmitir o HIV para
outras pessoas.14
No que se refere a viver com o HIV, os adolescentes revelaram se
sentirem diferentes dos outros que não têm o vírus, percebendo limita-
ções provenientes de um cotidiano de cuidados de saúde. Diante deste
cotidiano, o adolescente começa a frequentar o serviço de saúde so-
zinho e demonstra compreender a doença que possui, suas repercussões
na saúde e as demandas de cuidado.14
Em relação à terapia medicamentosa, os adolescentes que vivem
com HIV/Aids expressaram dificuldades quanto à apresentação dos an-
tirretrovirais ao se referirem ao tamanho, ao sabor e à quantidade de
medicamentos. Outra questão apontada foi quanto ao uso permanente
da medicação, revelando sua preocupação acerca da necessidade de
carregar consigo os medicamentos, a fim de ingerir no horário certo.14
336 Estudos da Pós-Graduação

Quanto ao armazenamento da medicação, observou-se que os ado-


lescentes receberam as orientações para preservar a integridade, a fim de
não haver a perda da eficácia da função do medicamento no organismo,
revelando a aquisição de responsabilidades para o seu tratamento.14
A família do adolescente que vive com HIV/Aids também relata
dificuldades do cuidado à saúde relacionadas ao uso da TARV como a
ingestão fora de casa, o cumprimento do horário da medicação, o ta-
manho dos comprimidos, o sabor dos antirretrovirais e os efeitos ad-
versos dos medicamentos. Outro ponto destacado foi a não aceitação do
adolescente em ingerir a medicação, muitas vezes por revolta ou incon-
formidade diante da infecção.14
Frente a essas dificuldades, a família desenvolve algumas estraté-
gias de cuidado peculiares a cada uma delas, visando contribuir para a
adesão do adolescente à terapêutica medicamentosa, que incluem o
compartilhamento da responsabilidade do tratamento com o adolescente
e o desenvolvimento de alguns métodos de controle do mesmo. As famí-
lias citam alguns exemplos como a ingestão das doses de medicações
fora do horário da escola, ou seja, nos períodos em que o adolescente
está em casa, possibilitando a privacidade do tratamento e a manutenção
de sigilo do diagnóstico e também relatam que, quando precisam sair de
casa, levam consigo as doses dos antirretrovirais necessárias para o pe-
ríodo. Outras estratégias compartilhadas pelas famílias também incluem
o controle do número de comprimidos, o uso do despertador no horário
da medicação e a vigilância direta da ingestão da dose diária.14
A adesão ao tratamento antirretroviral pela criança/adolescente
configura-se como um processo dinâmico e que necessita de competên-
cias das diferentes áreas da saúde para obtenção do êxito na manutenção
da saúde e cuidado das crianças e adolescentes protagonistas da epi-
demia do HIV/Aids, questões estas que transcendem as especificidades
farmacológicas dos antirretrovirais e imbricam-se na maneira de ser e
viver no mundo das crianças, adolescentes e familiares/cuidadores.
Portanto, preconiza-se a educação permanente da equipe multiprofis-
sional de saúde acerca das políticas e normas técnicas vigentes, salien-
tando a relevância de um olhar focalizado a essas questões por todos os
profissionais que atuam na área da saúde.14
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 337

Ainda no que se refere ao cuidado familial, os discursos das famí-


lias abordam os recursos facilitadores da construção do processo de en-
frentamento. Entre esses recursos aparecem, com frequência, a invo-
cação a Deus pedindo proteção ou ajuda através da intermediação divina.
Desta maneira, a fé, a espiritualidade e a esperança de cura permeiam o
cotidiano dessas famílias. No entanto, o cuidado relacionado às necessi-
dades inerentes à fase da adolescência não é negligenciado, pois há pre-
ocupação com o momento existencial vivido pelos adolescentes.14
As experiências do adolescente que vive com HIV e sua família
configuram-se de maneira complexa, o que reforça a necessidade de
desenvolvimento de ações de cuidado. O cuidado é compreendido
como uma relação interpessoal, face a face, que envolve a intuição, a
sensibilidade, além da dimensão ética e moral. Nesta perspectiva, as-
socia-se a técnica, a intuição e a sensibilidade à valorização da vida e
suas significações.15
A compreensão do conceito de vulnerabilidade constitui-se como
um aspecto significativo no processo de cuidar e visualiza o conjunto de
fatores individuais e coletivos que se relacionam à maior suscetibilidade
ao adoecimento e aos precários recursos de proteção, os quais podem
fazer parte do itinerário existencial do adolescente e das famílias.16
Destaca-se a necessidade de maior atenção das equipes de saúde
para a presença de condições de vida e/ou de situações vivenciadas
pelos adolescentes, ainda que transitórias, que possam aumentar as suas
vulnerabilidades.17
Ressalta-se, ainda, a importância do acompanhamento multidis-
ciplinar desse grupo singular, desenvolvendo um cuidado centrado no
adolescente e na família/cuidador, com o intuito de propiciar a ocu-
pação de um espaço social de luta pelos seus direitos de cidadania e
fornecer ferramentas que subsidiem o desenvolvimento de um senso
de empoderamento individual e coletivo,14 oferecendo espaços para
compartilhar vivências e poder aprender com a experiência do outro,
em uma atitude de abertura e escuta atenta, buscando-se minimizar os
silenciamentos e ocultamentos advindos do estigma da doença e esta-
belecendo espaços dialógicos que favoreçam os vínculos entre os fa-
miliares/cuidadores e os profissionais de saúde, com vistas ao fortale-
338 Estudos da Pós-Graduação

cimento, confiança e coragem para o confronto do tratamento, sua


complexidade e implicações no cotidiano familiar, escolar e social.
A construção da promoção e a educação em saúde tornam-se pos-
síveis quando o fazer dos profissionais de saúde sucede a partir da es-
cuta daqueles que vivenciam o fenômeno; dessa forma é a partir dos
relatos dos adolescentes que as ações de educação em saúde inserem-se
em ambientes apontados como possibilidades para desenvolver edu-
cação em saúde como sala de espera e escola.18
Além disso, criar redes de apoio familial e social, pautadas no
respeito às vivencias singulares de cada família, proporciona a inte-
gração da família ao cuidado do adolescente.
A partir do exposto, aventura-se na apresentação de elementos de
educação em saúde no cuidado ao adolescente que vive com HIV, vi-
sando pontuar caminhos ou estratégias que contribuam na minimização
dos desafios que representam o viver com uma doença que exige de-
mandas de cuidados permanentes, como o HIV/Aids. Trata-se de pro-
postas de cuidado em relação à adolescência e à sexualidade, tratamento
e medicamento, discriminação, revelação do diagnóstico e direitos hu-
manos e cidadania.

Adolescência e a sexualidade

Recomenda-se a existência de espaços disponíveis para os ado-


lescentes nos cenários por onde circulam, principalmente nas escolas e
serviços de saúde. Espaços dialógicos em que possam ser tratadas ques-
tões relacionadas à adolescência, namoro, sexualidade, relação sexual,
preservativo, anticoncepcional, doença e projetos futuros, disponibi-
lizar filmes sobre a adolescência e sexualidade e o HIV. O Serviço de
saúde deve disponibilizar sempre ao adolescente o acesso à informação
e ao preservativo.
Deve ser feita a identificação das pessoas de referência para o
adolescente, geralmente o familiar/cuidador, oportunizando encontros
sistemáticos entre eles e a equipe de saúde.
A equipe de saúde pode auxiliar o familiar/cuidador para que
possa estar preparado para ajudar o adolescente, pois geralmente é sua
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 339

principal fonte de apoio. Recomendar que a comunicação familiar/cui-


dador-adolescente seja sincera, mantendo a verdade sobre a infecção,
da mesma maneira com seus parceiros afetivos.
É interessante o incentivo da responsabilidade do adolescente no cui-
dado de si e do outro e projetos futuros como constituir família, adotar filhos
e/ou ter seus próprios filhos com o resultado dos avanços da tecnologia.

Tratamento e medicamento

Na questão do tratamento e medicamento a conversa com o adoles-


cente deve primar pela informação clara de maneira que ele compreenda a
sua finalidade e as consequências de não tomá-los de maneira correta.
Sugere-se a formação de grupos de discussão com o adolescente
e familiar/cuidador e a participação dos profissionais da saúde, em es-
pecial o enfermeiro e o psicólogo. Devem ser tratados temas referentes
ao tipo e possibilidades do uso do medicamento, alimentos e líquidos
que podem ser ingeridos junto com os medicamentos (ex: suco, leite
condensado, água), possibilidades de adaptações do horário conforme
os efeitos adversos e rotinas do adolescente (ex: sonolência, tontura,
tomar antes de dormir, antes de ir para escola), adequação dos horários
tomando o medicamento em um turno só ou duas vezes por dia e estra-
tégias para a aceitação do medicamento.
O Grupo pode auxiliar o familiar/cuidador no cuidado e controle
do medicamento durante a fase em que o adolescente pode desistir do
tratamento, de maneira semelhante na transferência para o cuidado com-
partilhado e, posteriormente, para o autocuidado medicamentoso do
adolescente. Podem ser disponibilizados também vídeos e filmes sobre
os medicamentos, bem como informações sobre os avanços científicos
nesta área.

Discriminação

Embora a discriminação da doença e da pessoa que vive com


HIV/Aids tenha diminuído, ainda se mantém presente nos diferentes
cenários em que o adolescente transita.
340 Estudos da Pós-Graduação

Desta maneira, é necessária uma parceria maior com os meios de


comunicação para que o tema seja abordado com maior frequência com
o objetivo de terminar com o preconceito que ainda atinge as pessoas
com HIV/Aids.
Recomenda-se que os serviços de saúde tenham profissionais es-
pecializados nesta temática e que disponibilizem lugares discretos e
reservados para as consultas e encontros com os adolescentes, evitando
que sejam identificados pela patologia.
Deve haver o incentivo à instrumentalização dos professores das
escolas básica e fundamental sobre a temática o HIV/Aids para que possam
devolver estes conteúdos e correlatos nas escolas e grupos de adolescentes
com frequência, passando informações e diminuindo preconceitos.

Revelação diagnóstica
A revelação do diagnóstico constitui-se como um momento sen-
sível e estressante, pois geralmente gera apreensão ao cuidador familiar
porque há dúvidas sobre quando, como e quem deve fazê-lo. Acredita-se
que a revelação deve ser realizada por pessoas com quem o adolescente
tenha vínculo, principalmente a mãe e o pai. Mas para que possa fazê-lo de
maneira mais adequada, os familiares/cuidadores precisam ser preparados
e apoiados pela equipe de saúde que vêm acompanhando o adolescente e
a família. Este apoio dependerá das necessidades e vontades do familiar/
cuidador, podendo ser direto ou indireto no momento da revelação.
O momento da revelação dependerá de cada família, mas poderá
ocorrer no momento em que iniciam os questionamentos da criança e/
ou adolescente sobre os aspectos relacionados à doença ou aos medica-
mentos. Entretanto, o apoio da família é fundamental nesse momento.
Imagens explicativas ou livros sobre a doença poderão ser utilizados
para auxiliar no momento da revelação.

Direitos humanos e cidadania


Frente à trajetória de vida, devem ser lembrados e desenvol-
vidos temas sobre as questões de direitos humanos e cidadania com
os adolescentes.
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 341

Recomenda-se oportunizar o estabelecimento de vínculos com o


serviço de saúde, considerando os momentos de transição de cuidados
– infância-adolescência e adolescência-adulto – e estimular a partici-
pação do adolescente em atividades desenvolvidas no serviço de saúde,
podendo ser mediador de discussões ou palestras em que sejam tratados
os direitos das pessoas que vivem com HIV/Aids, os direitos traba-
lhistas do jovem entre outros temas de interesse dos adolescentes.
Poderão ser construídos materiais educativos como cartilhas de
orientações sobre os direitos das pessoas que vivem com HIV/Aids para
serem disponibilizados nos serviços de saúde. Da mesma maneira
devem ser discutidos com os adolescentes, principalmente quanto ao
uso de medicações e acompanhamento de saúde com os profissionais.
Os caminhos de cuidado descritos acima têm como objetivo au-
xiliar os adolescentes e suas famílias que vivem e convivem com HIV/
Aids, em seu mundo de cuidados, empoderando o adolescente e fami-
liar/cuidador para além de suas práticas em saúde, mas sobretudo como
cidadãos de direitos e transformadores de espaços sociais, como
também para a Enfermagem, em equipe interdisciplinar, visando apro-
ximar-se das demandas de cuidado do adolescente e da família no in-
tuito de personalizar práticas em saúde e promover um cuidado inte-
gral. Cabe destacar que as pessoas, individualmente, no mundo,
apresentam suas necessidades de maneira singular; no entanto, acredi-
ta-se que a construção de diretrizes do cuidado com a saúde são cami-
nhos estimuladores, instigadores do cuidado, apresentando-se também
como uma linha de cuidado com a saúde do adolescente motivadora das
novas possibilidades de desenvolver práticas na saúde e na vida.

Considerações finais

As experiências do adolescente que vive com adolescente com


HIV e sua família configuram-se de maneira complexa, o que reforça a
necessidade de desenvolvimento de ações de cuidado. Segundo alguns
resultados apresentados em pesquisas realizadas pelo Cevida, entre eles
adolescência e sexualidade, tratamento e medicamento, discriminação,
revelação do diagnóstico, direitos humanos e cidadania, apontam para
342 Estudos da Pós-Graduação

as possibilidades de cuidado com o adolescente e sua família, aproxi-


mando-se do referencial de vulnerabilidade em que há pontos de
maiores chances de exposição do adolescente ao adoecimento. No en-
tanto, sabe-se que as dimensões individual, social e programática estão
presentes na vida do adolescente e da família, de maneira integrada,
porém, em determinados momentos, algumas se apresentam de maneira
intensa, resultando em um olhar específico para cada situação, apontan-
do-se, assim, demandas de cuidado centrais e prioritárias.
Nesse contexto, encontra-se a Enfermagem em equipe interdisci-
plinar, a qual desenvolve a técnica que é fundamental, porém não essen-
cial, porque, somado à técnica, são necessários sensibilização e in-
tuição, conhecimento da trajetória, vivências, expectativas e grau de
vulnerabilidade que auxiliam o desenvolvimento do cuidado.
Com isso, acredita-se ser imprescindível a Enfermagem articular
práticas de cuidado e de promoção da saúde com o adolescente, consi-
derando que o profissional enfermeiro é mediador de diálogos e atua
diretamente com o cliente na direção, cuidado e promoção à saúde, nos
diferentes contextos.
A promoção de saúde é um conceito amplo que contempla vários
aspectos como condições dignas de vida, considerando as transforma-
ções individuais na tomada de decisões favoráveis à qualidade de vida
com a valorização dos contextos vividos. Com isso, as questões de
cuidado e educação em saúde privilegiam a promoção à saúde às pes-
soas com HIV/Aids.
Compreende-se que o adolescente precisa ser cuidado, em sua
singularidade, no sentido de promover ações que o valorizem e a sua
família em suas múltiplas dimensões sociais, culturais e existenciais,
com possibilidades de minimizar as configurações que o HIV/Aids re-
presenta na vida das pessoas. Para tanto, acredita-se que os principais
resultados identificados nas pesquisas são elementos de promoção da
saúde que direcionam para um cuidado que valorize a vida e protago-
nize o adolescente na promoção do seu próprio cuidado.
Frente a isso, essa reflexão pode contribuir para a tríade pesquisa,
ensino e cuidado à saúde. Para a pesquisa, pelo aprofundamento de co-
nhecimentos com foco na população de adolescentes que vivem com
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 343

HIV e o apontamento de lacunas a serem preenchidas em outros es-


tudos; para o ensino, com a ampliação de discussões acerca da atenção
à saúde dos adolescentes, mais especificamente do cuidado de enfer-
magem, com a possibilidade de um direcionamento das atividades prá-
ticas dos graduandos na atenção básica e hospitalar que contemple o
adolescente e sua família; para o cuidado à saúde, espera-se contribuir
para as ações desenvolvidas no acompanhamento da evolução e desen-
volvimento dos adolescentes e no acompanhamento específico da con-
dição crônica no sentido de, a partir do diagnóstico situacional, distin-
guir as possibilidades de articulação entre os serviços de atenção.
Vislumbra-se a contribuição para a discussão da política pública no
sentido de repensar as ações desenvolvidas e de implementar estraté-
gias para a educação em saúde.

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18. POLETTO, P. M. B. Educação em saúde em sala de espera: uma
estratégia de cuidado à criança que vive com HIV/aids. 2014. 104 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
ORGANIZADORAS

Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

Professora Associada do Curso de Enfermagem da Universidade


Federal do Ceará. Enfermeira, Mestre e Doutora em Enfermagem pela
Universidade Federal do Ceará. Pós-Doutorado em Global Community
Health and Behavioral Sciences pela Tulane University – USA. Bolsista
de Produtividade em Pesquisa, Nível 1, do CNPQ. Endereço: Rua
Alexandre Baraúna, 1115 – Bairro Rodolfo Teófilo, CEP: 60430160 –
Fortaleza, CE – Brasil. Telefone: (85) 3234 9455. E-mail: neyva.
pinheiro@yahoo.com.br

Fabiane do Amaral Gubert

Professora Adjunta do Curso de Graduação e Pós-Graduação em


Enfermagem da UFC. Docente permanente do Mestrado Profissional
em Saúde da Família/UFC/Fiocruz. Doutora em Enfermagem pela
UFC, Fortaleza, CE. E-mail: fabianegubert@hotmail.com

COLABORADORAS

Neiva Francenely Cunha Vieira

Professora Titular do Curso de Enfermagem da UFC. Docente


permanente do Mestrado Profissional em Saúde da Família/UFC/
Fiocruz. Enfermeira pela UFC. Especialista em Educação Não Formal
pela UFC. Especialista em Enfermagem Assistencial Enfoque
348 Estudos da Pós-Graduação

Preventivo. Mestre em Educação pela UFC. PhD em Health Education


pela Universidade Bristol. Bolsista de Produtividade em Pesquisa 1 do
CNPQ. Fortaleza, CE. E-mail: neivafrancenely@hotmail.com

Marli Teresinha Gimeniz Galvão

Professora do Curso de Graduação e Pós-Graduação em


Enfermagem da Universidade Federal do Ceará – UFC. Doutora em
Doenças Tropicais pela Universidade Estadual Paulista – Unesp e Pós-
Doutorado em Enfermagem (2012) na Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto – USP. Bolsista de Produtividade em Pesquisa 1 do
CNPQ. Fortaleza, CE. E-mail: marligalvao@gmail.com

Maria Fátima Maciel Araújo

Professora Associada, aposentada da Universidade Federal


do Ceará. Possui graduação e pós-graduação em Enfermagem pela
Universidade Federal do Ceará. Docente permanente do Mestrado
Profissional em Saúde da Família/UFC/Fiocruz. Fortaleza, CE. E-mail:
fatima.maciel@ig.com.br
OS AUTORES

Adna de Araújo Silva

Professora do Curso de Enfermagem da Faculdade Maurício de


Nassau. Mestre em Enfermagem pela UFC. Especialista em Gestão de
Serviços de Saúde pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Especialista
em Auditoria de Serviços de Saúde Pública e Privada pela Rátio
Faculdade. Enfermeira Auditora do Hospital de Messejana Dr. Carlos
Alberto Studart Gomes. Fiscal de Vigilância Sanitária da Prefeitura
Municipal de Fortaleza. E-mail: adnaaraujo@yahoo.com.br

Adriana Gomes Nogueira Ferreira

Professora Adjunta do Curso de Enfermagem da Universidade


Federal do Maranhão. Enfermeira pela Universidade Estadual Vale do
Acaraú (UVA). Especialista em Enfermagem Obstétrica, Gestão de
Sistemas e Serviços de Saúde pela UVA. Mestre e Doutora em
Enfermagem pela UFC. E-mail: adrianagn2@hotmail.com

Agnes Caroline Souza Pinto

Enfermeira do Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia do Ceará (IFCE). Mestre e doutoranda em Enfermagem
pela UFC. E-mail: agnespinto@hotmail.com

Aline Cammarano Ribeiro

ProfessoraAdjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade


Federal de Santa Maria do Centro de Educação Superior Norte do Rio
Grande do Sul. Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade
350 Estudos da Pós-Graduação

Federal de Santa Maria e Doutora em Enfermagem pela Universidade


Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: alinecammarano@gmail.com

Aline Tomaz de Carvalho

Mestre e doutoranda em Enfermagem na Promoção da Saúde


pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC. Enfermeira
e especialista em Saúde da Família pela UFC, vinculada à Universidade
Aberta do SUS (UNASUS). E-mail: line_carvalho18@hotmail.com

Álissan Karine Lima Martins

Professora Adjunta da Universidade Federal de Campina Grande.


Enfermeira pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Especialista
em Saúde da Família. Mestre e Doutora em Enfermagem pela UFC.
E-mail: alissankarine@gmail.com

Ana Cristina Pereira de Jesus Costa

Professora Assistente da Universidade Federal do Maranhão.


Enfermeira pela Universidade Estadual do Pará. Especialista em
Enfermagem Obstétrica e Neonatal pelo Instituto de Ensino Superior de
Londrina. Especialista em Saúde da Família e Didática Universitária
pela Universidade Federal do Maranhão. Mestre e doutoranda em
Enfermagem na Promoção da Saúde do Programa de Pós-Graduação da
UFC. E-mail: anacristina_itz@hotmail.com

Ananeide Fernandes Vieira

Aluna de Enfermagem da Universidade Federal de Campina


Grande. E-mail: ananeide.anfv@gmail.com

Andrea Soares Rocha da Silva

Professora Adjunta III do Curso de Fisioterapia da Universidade


Federal do Ceará. Doutora em Educação pela Faced/UFC, com pesquisa
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 351

na área de Educação a Distância, Tecnologia, Aprendizagem Colabo­


rativa e Avaliação da Aprendizagem na EAD. Coordenadora de Tutoria
e EaD NUTEDS/UFC. Mestrado em Ciência da Computação pela
Universidade Federal do Ceará. E-mail: andreasrs07@gmail.com 

Ângela Maria Alves e Souza

Professora Associada I do Departamento de Enfermagem da


UFC. Enfermeira pela UFC. Mestre e Doutora pela UFC. E-mail:
amasplus@yahoo.com.br

Anny Giselly Milhome da Costa Farre

Professora Adjunta do Curso de Enfermagem da Universidade


Federal de Sergipe. Enfermeira pela UFC. Especialista em Saúde da
Família. Mestre e Doutora pela UFC. E-mail: annygiselly@yahoo.com

Antonia Ferreira Alves Sampaio

Engenheira de Alimentos pela UFC. Mestre em Tecnologia de


Alimentos pela UFC. E-mail: antoniaufc@yahoo.com.br

Bettina Horner Schindwein Meirelles

Professora Associada do Departamento de Enfermagem da


Universidade Federal de Santa Catarina, nos cursos de Graduação e
Pós-graduação em Enfermagem. Bolsista de Produtividade em Pesquisa
2 do CNPq. Doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal de
Santa Catarina. E-mail: betinahsm@pq.cnpq.br

Carlos Colares Maia

Mestrando em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação do


Departamento de Enfermagem da UFC. Especialista em Enfermagem
do Trabalho pela Faculdade Leão Sampaio. Enfermeiro pela UFC.
E-mail: carloscolaresm@yahoo.com.br
352 Estudos da Pós-Graduação

Clarice da Silva Neves

Residente em Assistência de Enfermagem em Diabetes pelo


Hospital Universitário Walter Cantídio. Enfermeira pela UFC. E-mail:
clariceenfufc@yahoo.com.br

Clarissa Bohrer da Silva

Enfermeira. Especialista em Gestão de Organização Pública em


Saúde. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria e
doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: clabohrer@gmail.com

Cristiana Brasil de Almeida Rebouças

Professora Adjunta II do Departamento de Enfermagem da UFC.


Enfermeira pela UFC. Especialista em Desenvolvimento Infantil pela
UFC. Mestre, Doutora e Pós-doutorado em Enfermagem pela UFC.
E-mail: cristianareboucas@yahoo.com.br

Eliany Nazaré Oliveira

Professora Adjunta do Curso de Enfermagem da Universidade


Estadual Vale do Acaraú. Enfermeira, Mestre e Doutora em Enfermagem
pela UFC. E-mail: elianyy@hotmail.com

Elizabete Santos Melo

Mestranda em Enfermagem pelo Programa Enfermagem


Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade
de São Paulo. Enfermeira. E-mail: elizabetemelo@usp.br

Elucir Gir

Professora Titular do Departamento de Enfermagem Geral e


Especializada do Curso de Enfermagem da Escola de Enfermagem de
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 353

Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Enfermeira pela


Universidade de São Paulo. Mestre e Doutora em Enfermagem pela
Universidade de São Paulo. E-mail: egir@eerp.usp.br

Estela Maria Leite Meirelles Monteiro



Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutorado em
Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Membro permanente
do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e do Programa de
Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, ambos do
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco.
E-mail: estelapf2003@yahoo.com.br

Eveline Pinheiro Beserra



Professora do Curso de Enfermagem da Universidade de
Fortaleza. Enfermeira pela UFC. Mestre e Doutora em Enfermagem
pela UFC. E-mail: eve_pinheiro@yahoo.com.br

Fabiane do Amaral Gubert



Professora Adjunta do Curso de Graduação e Pós-Graduação em
Enfermagem da UFC. Docente permanente do Mestrado Profissional
em Saúde da Família/UFC/Fiocruz. Doutora em Enfermagem pela
UFC. Fortaleza – CE. E-mail: fabianegubert@hotmail.com

Fabiele do Amaral Beck



Aluna do Curso de Graduação em Design da Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC. E-mail: belbeck@hotmail.com

Fernanda Lima Aragão Dias



Enfermeira Assistencial do Programa de Saúde da Família da
Prefeitura de Fortaleza e do Hospital Infantil Albert Sabin. Enfermeira
354 Estudos da Pós-Graduação

pela Universidade Estadual do Ceará. Mestre em Enfermagem pela


UFC. E-mail: ferlimara@yahoo.com.br

Giselly Oseni Barbosa Oliveira



Professora do Centro Universitário Estácio do Ceará (ESTÁCIO
FIC). Enfermeira pela UFC. Mestre e doutoranda em Enfermagem
pelo Programa de Pós-Graduação da UFC. E-mail: gisellybarbosa@
hotmail.com

Hans da Nóbrega Waechter

Docente e coordenador do Bacharelado em Design da UFPE.


Docente do Programa de Pós-Graduação em Design da UFPE e
pesquisador do Grupo de Design da Informação (CNPq). Graduado em
Comunicação Visual pela Universidade Federal de Pernambuco –
UFPE. Mestre e Doutor em Comunicação Audiovisual pela
Universidade Autônoma de Barcelona – UAB – Espanha. E-mail:
hnwaechter@terra.com.br

Ilvana Lima Verde Gomes

Professora Adjunta do Curso de Enfermagem do Programa de


Pós-Graduação em Saúde Coletiva e do Mestrado Profissional em
Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Estadual do Ceará.
Mestre em Enfermagem em Saúde Comunitária pela UFC e Doutora
em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
E-mail: ilverde@gmail.com

Izaildo Tavares Luna

Enfermeiro pela Faculdade Santa Maria. Especialista em


Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis pela Escola de
Saúde Pública do Ceará. Especialista em Gestão em Saúde pela
Universidade Estadual do Ceará. Especialista em Informática em Saúde
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 355

pela Universidade Federal de São Paulo. Mestre e Doutor em


Enfermagem na Promoção da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem da UFC. E-mail: izaildo@ufc.br

Jailson Alberto Rodrigues

Professor Auxiliar do Curso de Enfermagem do Campus Amílcar


Ferreira Sobral da Universidade Federal do Piauí. Enfermeiro.
Especialista em Saúde Coletiva. Mestre e doutorando em Modelos de
Decisão e Saúde pela Universidade Federal da Paraíba. E-mail: jailson_
rodrigues@ig.com.br

Jaislâny de Sousa Mesquita

Enfermeira graduada pela Universidade Federal do Ceará.


Especialista em Enfermagem do Trabalho. E-mail: jaislany@yahoo.com.br

Jordana de Almeida Nogueira

Professora Associada do Departamento de Enfermagem Clínica


(DENC) da Universidade Federal da Paraíba. Enfermeira pela
Universidade Barão de Mauá. Especialista em Enfermagem Psiquiátrica
pela Universidade de São Paulo. Mestre em Enfermagem e Saúde
Pública. Doutora e Pós-Doutorado em Enfermagem pela Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.
E-mail: jalnogueira31@gmail.com

José Antonio Trasferetti

Professor Titular da Faculdade de Teologia da Pontifícia


Universidade Católica de Campinas. Mestre em Teologia pela Pontifícia
Faculdade de Teologia Nossa Senhora Assunção e Doutor em Teologia
Moral pela Pontifícia Universidade Lateranense e em Filosofia pela
Pontifícia Universidade Gregoriana. E-mail: trasferetti@uol.com.br
356 Estudos da Pós-Graduação

Joyce Mazza Nunes Aragão

Enfermeira da Estratégia da Saúde da Família de Fortaleza – CE.


Enfermeira pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. Mestre e
doutoranda em Enfermagem na Promoção da Saúde do Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da UFC. E-mail: joycemazza@
hotmail.com

Joyce Wadna Rodrigues de Souza

Aluna da Universidade Federal de Campina Grande. E-mail:


wadnajoyce@gmail.com

Kamille Lima de Alcântara

Residente em Saúde da Mulher e da Criança. Enfermeira pela


UFC. E-mail: enf_kamille@yahoo.com.br

Karla Nayalle de Souza Rocha

Professora Efetiva do Curso Técnico em Enfermagem no Colégio


Técnico de Bom Jesus da Universidade Federal do Piauí. Enfermeira.
Especialista em Enfermagem do Trabalho pelas Faculdades Integradas
de Patos – Unidade de Iguatu – CE. Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí.
E-mail: karlanayalle@ufpi.edu.br

Kauanne Brandão Silva

Enfermeira pela UFC. E-mail: kauanne.bs@hotmail.com

Kelanne Lima da Silva

Enfermeira da Estratégia da Saúde da Família da Prefeitura


Municipal de Eusébio – CE. Enfermeira, Mestre e doutoranda em
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 357

Enfermagem pela UFC. Especialista em Saúde da Família pela


Universidade Estadual do Ceará. E-mail: lany_lds@hotmail.com

Lays Hevércia Silveira de Farias

Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade


Federal de Sergipe. E-mail: lays_hevercia@hotmail.com

Léa Maria Moura Diógenes

Assessora técnica do Nuprev/SESA, área de transmissão vertical


do HIV e Professor Assistente da Universidade de Fortaleza. Possui
graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (1998).
Possui mestrado e doutorado em Enfermagem pela Universidade
Federal do Ceará. E-mail: eammbarroso@gmail.com

Leilane Barbosa de Sousa

Professora Adjunta da Universidade da Integração Internacional


da Lusofonia Afro-Brasileira. Enfermeira pela UFC. Mestre e Doutora
pela UFC. E-mail: leilanebarbosa@yahoo.com.br

Ligia Fernandes Scopacasa

Mestre e doutoranda em Enfermagem na Promoção da Saúde


pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC. Especialista
em Enfermagem do Trabalho pela Faculdade Leão Sampaio.  
E-mail: ligiascopacasa@hotmail.com

Lorita Marlena Freitag Pagliuca

Professora Titular do Curso de Enfermagem da UFC. Enfermeira


pela Faculdade de Enfermagem São José. Mestre e Doutora em
Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo. E-mail: pagliuca@ufc.br
358 Estudos da Pós-Graduação

Luiza Luana de Araújo Lira Bezerra

Professora do Curso de Enfermagem da Faculdade Integrada da


Grande Fortaleza. Enfermeira. Mestre em Saúde Pública pela
Universidade Estadual do Ceará. E-mail: luizaluana@yahoo.com.br

Manuela Caroline da Silva

Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em


Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail:
manuelaufrgs@gmail.com

Márcia Maria Tavares Machado

Pró-Reitora de Extensão Universitária da UFC. Sanitarista.


Enfermeira pela UFC. Habilitação/Especialização em Enfermagem em
Saúde Pública. Mestre em Saúde Pública pelo Departamento de Saúde
Comunitária da UFC. Doutora em Enfermagem em Saúde Comunitária
pela UFC e Pós-Doutorado pela Harvard School of Public Health.
E-mail: marciamachadoufc@gmail.com

Marcos Venícios de Oliveira Lopes

Professor Associado III da Universidade Federal do Ceará.


Graduado em Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará e
em Estatística pela Universidade Federal do Ceará. Doutor em
Enfermagem pela UFC. Pós-Doutor em Estatística e Pesquisa
Operacional da Universidade de Valência, enfocando a análise de
diagnósticos de enfermagem, utilizando inferência Bayesiana. Atua
como Sentinel Reader for Evidence-Based Nursing no projeto
McMaster Online Rating of Evidence (MORE) da Universidade de
McMaster – Canadá. Membro eleito para o Education and Research
Committee da NANDA International (2014 -2018). E-mail:
marcos@ufc.br
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 359

Maria Augusta Rocha Bezerra

Professora Assistente do Curso de Enfermagem do Campus


Amílcar Ferreira Sobral da Universidade Federal do Piauí. Enfermeira.
Especialista em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará.
Mestra em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade
Estadual do Ceará e doutoranda em Enfermagem pela Universidade
Federal do Piauí. E-mail: mariaaugusta@ufpi.edu.br

Maria Dalva Santos Alves


Professora Associada do Departamento de Enfermagem da UFC.
Enfermeira pela UFC. Psicóloga pela Universidade de Fortaleza.
Especialista em Filosofia Política do Socialismo pela Universidade
Estadual do Ceará. Especialista em Enfermagem Assistencial pela UFC.
Especialista em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Mestre e
Doutora em Enfermagem pela UFC. E-mail: dalva@ufc.br

Maria da Graça Corso da Motta


Professora Titular da Escola de Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Enfermeira, Especialista em Enfermagem
na Saúde Materno-Infanto-Juvenil e Especialista em Metodologia do
Ensino Superior. Mestre em Educação pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul e Doutora em Enfermagem pela Universidade
Federal de Santa Catarina. E-mail: mottinha@enf.ufrgs.br

Maria Eduarda Magalhães Araújo


Residente em UTI Neurocirúrgica Adulto do Hospital Universitário
Getúlio Vargas. Enfermeira pela UFC. E-mail: dudaaraujo@hotmail.com

Maria Isabelly Fernandes da Costa

Enfermeira pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza.


Mestranda do Programa de Pós-Graduação da UFC. E-mail:
isabellyfernandes165@yahoo.com.br
360 Estudos da Pós-Graduação

Maria Isis Freire de Aguiar

Professora Adjunta da UFC. Enfermeira pela UFC. Especialista


em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Faculdade Laboram.
Mestre e Doutora em Enfermagem pela UFC. E-mail: isis_aguiar@
yahoo.com.br

Maria Lúcia Duarte Pereira

Professora Adjunta da Universidade Estadual do Ceará.


Enfermeira pela Universidade Estadual do Ceará. Especialista em
Enfermagem em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará.
Mestre e Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo.
Pós-Doutorado na Johhanes Kepler Universität, Linz – Áustria. E-mail:
luciad29@gmail.com

Maria Suêuda Costa

Enfermeira pela UFC. Especialista em Enfermagem de Saúde


Pública pela Universidade Federal do Ceará. Mestre e Doutora pela
UFC. Auditora da Secretaria de Saúde do Município de Fortaleza – CE.
E-mail: seudacosta@yahoo.com.br

Mariana Cavalcante Martins

Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem – UFC.


Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará e Universidade
do Porto, Portugal. E-mail: marianacavalcante@hotmail.com

Marli Teresinha Gimeniz Galvão

Professora do Curso de Graduação e Pós-Graduação em


Enfermagem da Universidade Federal do Ceará –UFC. Doutora em
Doenças Tropicais pela Universidade Estadual Paulista – Unesp e Pós-
Doutorado em Enfermagem (2012) na Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto – USP. E-mail: marligalvao@gmail.com
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 361

Michel Platinir Ferreira da Silva

Enfermeiro pela Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza.


E-mail: michel.platini23@gmail.com

Mirna Albuquerque Frota

Professora Titular do Curso de Enfermagem e da Pós-Graduação


em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza. Enfermeira. Mestre e
Doutora em Enfermagem pela UFC e Pós-Doutorado em Saúde Coletiva
pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.
E-mail: mirnafrota@unifor.br

Nair Regina Ritter Ribeiro

Professora Associada da Escola de Enfermagem da Universidade


Federal do Rio Grande do Sul. Enfermeira especialista em Enfermagem
na Saúde Materno-Infanto-Juvenil e Especialista em Metodologia do
Ensino Superior. Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul e Doutora em Enfermagem pela
Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: nair.ribeiro@ufrgs.br

Nara Sibério Pinho Silveira

Mestranda em enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação do


Departamento de Enfermagem da UFC. Enfermeira pela UFC.
Especialista em Saúde da Família pela UFC. E-mail: narapsilveira@
hotmail.com

Neiva Francenely Cunha Vieira

Professora Titular do Curso de Enfermagem da UFC. Enfermeira


pela UFC. Especialista em Educação Não Formal pela UFC. Especialista
em Enfermagem Assistencial Enfoque Preventivo. Mestre em Educação
pela UFC. PhD em Health Education pela Universidade Bristol. E-mail:
neivafrancenely@hotmail.com
362 Estudos da Pós-Graduação

Patrícia Neyva da Costa Pinheiro

Professora Associada do Curso de Enfermagem da UFC.


Enfermeira pela UFC. Mestre e Doutora em Enfermagem pela UFC.
Pós-Doutorado pela Universidade de Tulane. Pesquisadora
Produtividade (PQ). E-mail: neyva.pinheiro@yahoo.com.br

Paula Manoela Batista Poletto

Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Materno-Infantil.


Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. E-mail: paulampoletto@gmail.com

Paulo Henrique Alexandre de Paula

Coordenador de Enfermagem do setor de Hemodiálise da


Santa Casa de Misericórdia de Sobral. Enfermeiro pela UFC.
Especialista em Enfermagem em Nefrologia pela Universidade
Estadual do Ceará. Mestrando em Saúde da Família pela UFC.
E-mail: paulohed@hotmail.com

Queliane Gomes da Silva Carvalho



Professora Assistente do Curso de Enfermagem da Universidade
Federal de Pernambuco. Enfermeira pela Universidade Federal de
Sergipe. Especialista em Hematologia e Hemoterapia. Mestre em
Patologia. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
da UFC. E-mail: nealique@gmail.com

Ranielder Fábio de Freitas

Professor do Curso de Design das Faculdades Nordeste-Fanor/


DeVry. Mestre e doutorando em Design da Informação pela Universidade
Federal de Pernambuco UFPE. E-mail: ranielderfabio@hotmail.com
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 363

Rayssa Matos Teixeira

Residente em Assistência de Enfermagem à Saúde da Mulher e


da Criança na Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Enfermeira
pela UFC. E mail: rayssa_matos_3@hotmail.com

Renata Karina Reis

Professora do Departamento de Enfermagem Geral e


Especializada do Curso de Enfermagem da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Enfermeira, especialista
em Enfermagem em Infectologia pela Universidade de São Paulo.
Mestre e Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo.
E-mail: rkreis@eerp.usp.br

Ricardo Hugo Gonzalez

Professor Mestre do Instituto de Educação Física e Esportes da


UFC. Graduado em Educação Física. Especialista em Atividades Físicas
e Esportivas para Crianças e Adolescentes. Mestre em Ciências do
Movimento Humano na Escola de Educação Física da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Doutorando em Saúde Coletiva pela
UFC. E-mail: rhugogonzalez@yahoo.com.br

Rita Andréa Pereira de Oliveira

Enfermeira da Estratégia Saúde da Família. Enfermeira graduada


pela UFC. E-mail: andreadeoliveira@gmail.com

Silvana Santiago da Rocha

Professora Associada do Curso de Enfermagem da Universidade


Federal do Piauí. Enfermeira, especialista em Saúde Pública pela
Fiocruz. Especialista em Administração de Recursos Humanos pela
Universidade Federal do Piauí. Especialista em Desenvolvimento de
364 Estudos da Pós-Graduação

Recursos Humanos pela Universidade de Brasília. Mestre em Educação


pela Universidade Federal do Piauí e Doutora em Enfermagem pela
Escola Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail:
silvanasantiago27@gmail.com

Solange Galvão Coutinho 

Docente do Curso de Design e do Programa de Pós-Graduação


em Design da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Graduada
em Comunicação Visual (UFPE/1980). Doutora em Typography &
Graphic Communication – University of Reading (1998). Pesquisadora
do Centre de Recherche Images, Cultures et Cognitions (CRICC), Paris
1 – Pantheon Sorbonne e líder do Grupo de Pesquisa em Design da
Informação (CNPq). E-mail: solange.coutinho@ufpe.br

Stella Maia Barbosa

Coordenadora de Enfermagem do Ambulatório de Coagulopatias


do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará – Hemoce.
Enfermeira pela UFC. Especialização em Saúde da Família pela
Universidade Aberta do SUS. Mestre e doutoranda em Enfermagem
pelo Programa de Pós-Graduação da UFC. E-mail: stella.maia15@
gmail.com

Suhelen Nunes Tavares

Aluna de Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem da


UFC. E-mail: suhelen.nunes@outlook.com

Thábyta Silva de Araújo

Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação


em Enfermagem da UFC. Enfermeira pela UFC. E-mail: thabyta.
araujo@hotmail.com
PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DA DST HIV/AIDS NA ADOLESCÊNCIA 365

Ulisses Umbelino dos Anjos

Professor Adjunto do Departamento de Estatística da Universidade


Federal da Paraíba. Mestre em Ciências da Computação e Matemática
Computacional e Doutor em Estatística pela Universidade de São Paulo.
E-mail: ulisses@de.ufpb.br

Wandenkol Gouveia Costa

Aluno da Universidade Federal de Campina Grande.


E-mail: wandenkolgouveia@hotmail.com
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