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Pasquale Nigro, 67 anos, italiano radicado em São Paulo, conta ao Portal do Envelhecimento
as aventuras e agruras de um apaixonado por tudo o que faz.
F
ormado em Economia e Direito, Pasquale trabalhou em uma cooperativa
de seguros até os 56 anos. Em meados de 1996, ao cair de uma estrela
cadente ele fez um pedido: queria ser feliz. Mas por ironia do destino
acabou perdendo tudo o que possuía na época. De uma cobertura de 500
metros quadrados para uma pequena casa alugada, Pasquale se viu obrigado
a mudar de rumo.
REVISTA PORTAL de Divulgação, n.29. Ano III. Fev.2013, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista
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Pasquale - Vivi na Itália até os 5 anos. Meu avô tinha um restaurante na cidade
de Minervino Murge, foi o primeiro restaurante da cidade, e lá ele fazia
sopressata – salame não curado típico de Puglia e Calábria-, e vino porto, que
eu faço aqui – o vino porto é uma calda de uva que vai adensando no fogo e
vira como se fosse um mel, e que coloco em sorvete. E me lembro quando era
criança e pegava aquilo ali e punha com neve e pronto, tínhamos um sorvete
delicioso. Acho que fui incorporando esse amor pela cozinha só de ver meu
avô trabalhar no restaurante quando ainda era uma criança e vivia pelo sítio
dele. Esse conhecimento meu avô passou para a minha mãe, inclusive deixou
com ela um livro de receitas dele que agora está comigo e que guardo com
muito carinho.
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Portal - A história da estrela cadente foi decisiva para a virada em sua vida?
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conformou: Pasquale, você é uma lição de vida para mim; quando ia ao seu
escritório – era uma sala de 36 metros quadrados -, para conseguir falar com
você, precisava ser anunciado, agora chego aqui e o vejo lavando copos. Eu
lhe disse: E daí? Não tem nada de mais. Na vida, você não pode ser arrogante
em nada. Quando saí da atividade lá da cooperativa e entrei nesse outro ramo,
comecei com o salto bem baixo, pois sabia que tinha que aprender muito.
Portal – E a família?
Pasquale - Minha mulher disse que tive sorte porque vi aquela brecha – o
momento da estrela cadente – e soube aproveitar essa virada na minha vida.
Tenho consciência de que se não sabe aonde quer chegar, dificilmente vai
chegar lá. É difícil vislumbrar isso, sobretudo o seu potencial. Tem que procurar
fazer o que gosta porque quando você faz o que gosta não trabalha mais, mas
se diverte. Mas não é só de alegria que é feita a vida, né? Um camarada
chegou até aqui e disse que, se adicionasse ao meu azeite óleo de girassol –
que não tem sabor – ia fazer mais volume, e ninguém ia perceber. Daí disse a
ele: mas eu vou perceber. Então veja só, você pode enganar o paladar, mas
não pode enganar o organismo, que certamente vai sentir a diferença. Vale a
pena arriscar um nome, anos de conquista e aprendizado para “economizar”
um pouco? O que adianta? Tenho um cuidado enorme com isso, e uma
preocupação constante com a qualidade dos meus ingredientes. Os sorvetes
que faço aqui, por exemplo, precisam ser consumidos rapidamente, porque não
levam conservantes. Uso pouco sal na comida, são essas coisas que prezo.
Tem que ser verdadeiro, principalmente com você mesmo. Saber que o que faz
é o melhor, e faz de forma honesta.
Pasquale - Meu filho Giorgio fez Gastronomia e depois Administração. Ele fez
até um estágio de um ano e meio na Puglia, em um restaurante. Minha filha
Giulia fez Gastronomia e fez pós-graduação em Panificação, mas não trabalha
com isso. O Giorgio fica na administração, onde ele mais se identifica. A outra
filha, Giuliana, é psicóloga formada na PUC, e vai fazer uma pós no Canadá. A
verdade é que esse meio é muito sacrificante, as pessoas pensam somente no
glamour, e se soubessem que é muito trabalho, desistiriam.
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O sambista
Portal – E a sua relação com a música? Veio da infância, como o amor pela
gastronomia?
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O samba de quadra nasce das coisas simples e cotidianas que nos cercam.
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Pasquale - Ah, agora ficou bem mais fácil, mas foi mera coincidência, meus
filhos encontraram o local disponível. Vou sempre lá, eles veem aqui. Os
diretores frequentam aqui sempre. Olha, Carnaval e samba têm um tempero
muito forte. Não é para qualquer um. Depois é o seguinte, você encontra tudo
quanto é tipo de gente, tudo é permitido, é meio anarquista. Minha mulher, por
exemplo, é uma pessoa organizada, sistemática, não combina muito com isso.
Mas ela gosta de samba e de dançar.
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