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Copyright 2016 by iPhoto Editora
Rosa, Everton
Criatividade na fotografia de casamento / Everton Rosa -
Santa Catarina: iPhoto Editora, 2016
ISBN 978-85-63565-37-2
iPhoto Editora
Rua 1950, 1022 - Centro, Balneário Camboriú - SC - 88.330-476
Atendimento ao cliente: atendimento@iphotoeditora.com.br
Website: www.iphotoeditora.com.br
Introdução 7
foto 2 foto 3
Na foto 1, meu tio Carlos, eu e minha mãe Carlota. Na foto 2, eu, minha irmã Leia e minha
mãe na frente da loja de meu pai, a Foto Luizão, e na foto 3 o meu pai, cheio de estilo.
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Essa relação humana, impressa em imagens na nossa me-
mória, é o que eu acredito que as pessoas querem ver guardadas
em fotografias. Com sombras, relevos e a certeza definitiva de que
aquele momento aconteceu, do jeito que está ali, naquela foto.
Como se, ao olhar o papel, fosse possível recuperar o sentimento, a
atmosfera, o cheiro do lugar.
Conto tudo isso porque acho que todo mundo é assim. Todo
ser humano lembra daquilo que mais importa para ele. Quando eu
converso com alguém e procuro saber da sua história, eu tento en-
tender onde está o valor dessa pessoa. O que ela lembra. Se me
perguntassem, diria que o sentimento registrado na minha memória
foi a parceria com meu pai nessas viagens pelo interior e a cumpli-
cidade da minha mãe, que mantinha os negócios e era o esteio da
família – que, além de mim, contava com mais três irmãos.
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ficávamos o dia inteiro falando sobre isso. Eu entendia do mercado
de sorvete, porque tinha uma sorveteria ao lado, com aqueles me-
ninos que pegavam carrinhos para vender picolé. Eu vendi picolé
algumas vezes e entendia desse mercado, sabia do problema que o
dono da sorveteria, o Evilásio, tinha com os meninos que prestavam
serviços (eram “freelancers”). Como fotógrafo, hoje, eu me utilizo
disso. Desde menino eu ouvi histórias sobre relacionamentos, sobre
confiar nas pessoas. Eu me lembro que, antes de ter a sorveteria,
havia um bar, e eu me lembro do tipo de pessoa que frequentava
aquele bar, o tipo de música. Tudo isso tem a ver com a nossa pro-
fissão. Toda essa essência, do menino que passava as tardes obser-
vando. Repito: a grande sacada do fotógrafo é a observação.
Novo Hamburgo
21 de setembro de 2015.
Criatividade não é ter uma regra única de luz. Nem ter uma técni-
ca com uma lente e uma câmera específicas. Criatividade é saber mol-
dar o olhar para atender alguém. É entender de arquitetura, de pintura,
e principalmente de ser humano. Criatividade é submeter cada traba-
lho a uma assinatura, e essa assinatura não pode ser explicável – por-
que, de fato, não tem explicação. Como se explica um artista?
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estar ligado o tempo todo. É você ter todas as referências, não uma
só. Eu observo muito o cotidiano, o que está sendo notícia nos jor-
nais de hoje, pois o que está sendo escrito hoje está influenciando
todo mundo. E tento ter um panorama da história das pessoas, para
compor uma fotografia que se ajuste às referências e expectativas de
quem eu vou fotografar, pois entendo que ser criativo na fotografia é
criar uma obra autêntica, única, mas que agrade aos olhos de quem
encomendou o trabalho. Como não fotografamos para um perfil único
de pessoa, é necessário moldar o comportamento e o estilo fotográfi-
co a cada novo trabalho. E, claro, vender o trabalho exige um exercício
de criatividade à parte. Mas isso é assunto para outro momento.
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Para se inovar num contexto como o da fotografia social, o ca-
minho mais seguro é estar atento a tudo. A todas as referências pos-
síveis, pois provavelmente o seu cliente também vai estar. É comum
que as noivas façam pesquisas na internet em busca de ideias, e há
muita informação disponível nas mídias editoriais e nas redes sociais.
Antigamente, o público não tinha tanto acesso; era somente a revista
na banca. Hoje em dia, é possível saber o que estão fazendo no outro
lado do mundo com apenas alguns cliques. Por isso, é preciso estar
no mesmo compasso e ficar antenado a tudo – especialmente às ten-
dências da moda. O que inspira o cliente deve inspirar o fotógrafo. Se
não houver essa conexão, o fotógrafo perderá o cliente.
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– a não ser a do ambiente. Uso ISOs superaltos, como 12.000 ou mais,
com lentes superclaras (gosto muito da 58mm 1.4). Ou seja, faço a
mesma coisa que fazia nos anos 1990. A diferença principal está na
quantidade de cliques que se pode dar e na alta sensibilidade de ISO
com o digital. A tecnologia permite isso. As máquinas hoje possuem
um foco muito mais justo. As fotos saem muito mais nítidas, permitin-
do que se amplie a escalas que extrapolam o necessário para uma
fotografia impressa. No computador, é possível ampliar cem, duzen-
tas vezes a imagem e corrigir ninharias. Ou seja, toda essa capacidade
técnica está a serviço da inovação e permite que uma releitura ganhe
status de novidade. Mas não deve ser usada de modo impensado.
Não dá para ir levando os casamentos ao sabor de modismos, clican-
do ora de um jeito, ora do outro, como se isso fosse criativo ou inova-
dor. Em situações assim, em que o fotógrafo não possui um critério,
nem mesmo sabe discernir o bom do ruim, creio que seja mesmo o
caso de o sujeito refletir se quer realmente ser fotógrafo. Parece ra-
dical, mas se alguém quer persistir na carreira, tem de criar logo uma
identidade e definir seu tipo de fotografia. Saber qual o seu estilo.
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dor é quem manda. Há poucos momentos em que o fotógrafo dita o
ritmo. Em casamentos ao ar livre, as coisas correm mais facilmente,
mas vivemos num país tropical, sujeito a chuvas e altas temperaturas,
então, casamentos outdoor nem sempre são os mais requisitados. É
preciso se adaptar às circunstâncias. Claro que, uma vez estabelecido
o estilo, você começará a atrair determinado tipo de cliente, que o
contratará justamente pelo tipo de fotografia que você produz. Até
lá, porém, a regra é estar apto a desenvolver um bom trabalho sob
qualquer condição. Afinal, é daí que vem o seu ganha-pão, correto?
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prepara psicologicamente para isso. Se for de carro, provavelmente
irá pesquisar o itinerário, providenciar uma revisão no veículo e garan-
tir que o tanque esteja cheio. Dependendo do percurso, você poderá
estimar o tempo necessário para chegar ao destino. Poderá verificar
as condições da estrada e até mesmo se há trechos sujeitos a engar-
rafamentos ou desvios ocasionados por obras na pista.
Não quer dizer, porém, que não possam render belas fotos.
Isso será possível se o profissional ajustar o seu olhar para o que
importa na cena: a emoção e o carinho do pai com sua filha prestes
a casar, a solitária expectativa do noivo, a alegria dos padrinhos e
parentes, a leveza das crianças. Ou seja, são situações assim que
desafiam a capacidade de um fotógrafo criativo, pois ele precisa
aplicar os recursos disponíveis – luz, linhas e enquadramento – para
destacar o que é belo e relativizar o que é acessório.
Também tive oportunidade de fotografar casamentos de
pessoas famosas em locais igualmente simples. Como o da modelo
gaúcha Shirley Mallmann em 2002. Na época, ela morava em Nova
York, mas retornou ao Brasil para se casar em sua cidade natal, San-
ta Clara do Sul (RS), e o fez de uma forma como se jamais houvesse
saído dali para se tornar uma top mundial. A cerimônia ocorreu num
pavilhão e eu consegui excelentes imagens, pois estava concentra-
do nas pessoas, na felicidade e nos sorrisos delas. E utilizei o recurso
do preto e branco para fazer planos gerais, pois sentia que as cores
não dariam um bom resultado.
Um adulto, por outro lado, pensa duas, três vezes, antes de per-
guntar. Na verdade, até pergunta, mas a si mesmo: “Será que devo?”.
Perde oportunidades, e a dúvida permanece. A vida adulta é cheia
de pudores. Muitas vezes, essa conduta se sobrepõe à naturalidade,
o que não é muito producente. Minha regra é evitar agir com vergo-
nha: se estou na casa de um cliente e este me convida para almoçar,
não tenho receio em aceitar o convite. Penso que esse tipo de atitude
abre muitas portas. Ser autêntico, ter uma certa ingenuidade ao per-
guntar, faz com que as pessoas deem respostas.
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um cliente por meio dos artigos que usa, dos seus gostos, e esse
conhecimento pode ajudar a encaminhar uma venda. Esse episódio
demonstra que é preciso haver um interesse genuíno ao perguntar.
Você precisa ser humilde e mostrar verdadeiro interesse em saber a
resposta. Perguntar de modo protocolar, descuidado, fará com que
o interlocutor ofereça uma meia-resposta. Se sentir verdade em sua
pergunta, ele não terá receio em responder. É necessário que as
pessoas sintam curiosidade em seus questionamentos. Muitas ve-
zes, a resposta vem simplesmente da observação. No entanto, as
respostas que envolvem negócios, ir ou não a algum lugar, crescer
ou não, exigem que se deixe a vergonha de lado e se faça a pergun-
ta certa, para a pessoa certa.
Investimento oportuno
Para alguém viciado em inovação, o mercado da fotografia
pode ser um pouco angustiante, pois a indústria está sempre lan-
çando novos equipamentos: são câmeras com maior resolução, len-
tes com novos recursos, flashes e equipamentos de estúdio mais
potentes. Tudo isso, obviamente, gera a dúvida: “Estarei devidamen-
te equipado para o trabalho?”.
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Motivação e criatividade andam juntas
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Não basta amar, é preciso saber fazer
Existe um ditado que diz: “Faça o que ama e nunca mais terá
que trabalhar”. Ao lado da minha mesa, aqui no escritório, sobre a es-
tante, dividindo o espaço com duas câmeras “vintage”, há um trompe-
te. Sim, eu toco o instrumento. Amo tocar trompete. Quem não gosta
são minha esposa e filho e a nossa auxiliar. A razão é simples: eu toco
pessimamente. Esse é um exemplo de como o ditado pode ser equi-
vocado. A ele, eu oporia o seguinte: “Antes de fazer o que amo, devo
fazer o que sei”. Em 2005, resolvi que não iria mais fotografar casa-
mentos. Comecei a dirigir filmes publicitários. Peguei bons trabalhos,
mas, depois de duas longas produções, envolvendo um monte de
coisas que eram novas para mim, descobri que eu não era tão bom
diretor como sou fotografando casamentos. Havia sido uma decisão
passional, que não resistiu ao crivo da realidade. Então, retornei ao an-
tigo ofício de ânimo renovado, abraçando-o como a um velho amigo
– e cá estou. Em lugar de procurar emoções em alguma outra ocupa-
ção que a vaidade me sugeria, aprendi a amar o casamento.
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Há casamentos e casamentos. Uns geram reações mais inten-
sas; outros, são mais contidos. De modo geral, as celebrações que
provocam nas pessoas as reações mais variadas são aquelas cujo
cerimonial é mais rico em protocolos. Dos mais de mil eventos que
fiz na vida, foram nos casamentos judaicos que eu mais presenciei
o envolvimento dos convidados, pois as cerimônias dessa religião
costumam ser ricas em danças e liturgias. Na prática, há muita in-
teração do momento em que a cerimônia se inicia até o final. É co-
mum, por exemplo, os amigos do noivo jogarem-no para cima nem
bem o ritual terminou. Esse tipo de situação gera excelentes ima-
gens, portanto, é preciso estar atento.
Busque a simplicidade
Gosto não se discute. Muito menos deve ser imposto ao clien-
te. Faz alguns anos, fiz um trabalho no qual eu apliquei algumas
ideias que considerava descoladas e que, esperava, dariam um to-
que de suntuosidade à cobertura. Alguns dias após enviar as provas,
o contratante me ligou explicando que não era bem aquilo que ele
queria. Desejava algo menos rebuscado. Se eu tivesse aplicado o
princípio do “menos é mais”, obteria melhor êxito.
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Venda sonhos, não produtos
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cliente cuja expectativa não condiz com seu perfil de trabalho, al-
guém que espera que você faça algo que não está habilitado a fa-
zer, um pechincheiro compulsivo que o arrasta para uma negocia-
ção interminável, tudo isso acaba tomando um tempo precioso e
resulta na maioria das vezes em frustração. Melhor oferecer logo um
“não” diplomático e educado, até mesmo indicar outro profissional
mais habilitado para a função, e se ocupar de coisas que se encai-
xam melhor na sua rotina de trabalho.
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melhora. A estrutura que você montou precisa trabalhar para que
você possa usufruir melhor do seu tempo. Sua preocupação deve
ser: atender bem seus clientes e fotografar criativamente.
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num álbum de qualidade inferior. Além disso, é preciso oferecer va-
riedade, de modo que possa contemplar diferentes perfis de públi-
co, pois muitos não se importarão em pagar um pouco mais para ter
o produto que desejam.
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entrava, paredes brancas, espelhos com bordas douradas e carpete
bege claro. Era óbvio que não havia necessidade de um estúdio: a
loja em si era o melhor cenário.
Um dia, uma cliente foi até o estúdio (que, com a pouca de-
coração, tinha um aspecto de galeria de arte, o que causava boa im-
pressão), viu os álbuns, ouviu as propostas e percorreu com o dedo
a tabela de preços, parando nos R$ 9.900. Olhou para a mãe e disse:
“Eu quero esse”. O noivo não pestanejou: “Ok. Me passa o número
da conta que eu vou transferir o dinheiro”. No outro dia, conferindo
o extrato bancário, verifiquei que ele havia arredondado o valor: na
conta tinha 10 mil reais. Pensei: “Estou no caminho certo!”. Jamais
tinha visto alguém cobrar mais que mil reais por um casamento.
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mais acreditará. Mas lembre-se: precisa ser melhor segundo o en-
tendimento do cliente). Dali em diante, nunca mais pus freios à mi-
nha imaginação. Conquistara o privilégio de transitar por ambientes
onde jamais pensei estar e passei a criar soluções para pessoas que
eu nunca havia antes conversado. No início eu era, mas creio que
hoje eu não seja o único fotógrafo a ter alcançado esse patamar.
No entanto, mantive o meu diferencial: meus produtos são únicos,
pensados exclusivamente para cada cliente. Diferentes perfis, dife-
rentes produtos. Diferentes experiências.
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É fundamental selecionar muito bem o que será publicado.
Se você não estiver certo da qualidade do material, melhor deixar
para lá. O ideal é evitar trabalhos que possam gerar um conceito ne-
gativo sobre a capacidade do profissional. Parece uma obviedade,
mas percebo que alguns colegas não respeitam essa norma. Você
também deve reservar temas muito pessoais, polêmicas e anedo-
tas para um perfil pessoal, o qual apenas os amigos mais chegados
têm acesso. Publicar uma foto do churrasco na casa dos amigos,
com todo mundo muito à vontade, pode ser legal – menos no perfil
profissional. Creio que qualquer imagem que precise de explicação
deve ser evitada. Uma foto que dispensa caracteres é uma posta-
gem que eu acredito que vale a pena.
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Planejamento da cobertura
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a cúpula da igreja com a noiva entrando, e eu quero versões dela
bem no início, no meio e mais na frente”. Depois, peço cliques dos
convidados que capturem a expressão deles. De preferência, sem
acionar o flash, com uma lente clara, como uma 85 ou uma 50mm
f/1.4, de modo a captar a emoção das pessoas sem ofuscá-las com
o flash ou a luz contínua.
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E funciona em TTL. Eu aplico, no mínimo, duas fontes dessas na ceri-
mônia. Com elas, tenho sempre uma luz incrível. A câmera geralmen-
te é equipada com uma objetiva 24-70mm. Quando estou próximo do
altar, tenho a opção de colocar uma 200mm f/2.0. Uso esta lente para
flagrar a emoção dos noivos e dos convidados mais próximos.
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Quando faço fotos posadas, procuro fazer com que todos es-
tejam olhando para a câmera. Sigo o padrão de revistas de pessoas
como a Caras, que normalmente publica fotos de famílias, pois enten-
do que a fotografia de casamento é um registro a ser legado às futu-
ras gerações, um documento no qual as pessoas poderão acessar o
passado e conhecer as raízes da sua própria ascendência. Por outro
lado, também me preocupo com o presente: imagino que a convi-
dada escolheu com zelo e carinho o seu vestido e, portanto, procuro
valorizá-lo, captando-o em sua inteireza e com fidelidade de cores
(imagine você fotografar um vestido vermelho e, na impressão, ele
aparecer laranja. Alguém certamente sairá desapontado com isso).
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Uma dose de psicologia
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Fui contratado para fotografar um casal na Itália e a noiva logo
me informou: “Meu noivo não gosta de posar para fotos”. Disse a ela
que não haveria problema e tratei de fazer quase toda a cobertura
sem recorrer às poses. Alguns casamentos fora do país levam mais
de um dia e há uma série de eventos, passeios e jantares que ante-
cedem a cerimônia – por aqui, chamamos isso de ensaio pré-wed-
ding. Num deles, em Verona, diante do coliseu da cidade, sugeri ao
rapaz: “Que tal abraçar a sua noiva e a gente fazer uma foto diante
desse coliseu?”. Ele topou (um bom sinal). Após a cerimônia, estáva-
mos em um castelo fantástico e eu voltei a tentá-lo: “Já pensou seus
futuros filhos vendo uma foto dos pais diante deste castelo lindo?
Gostaria de ir lá fora fazer uma foto? Só vai levar cinco minutos”. Ele
entusiasmou-se com a sugestão e concordou. Mais tarde, já con-
cluído o trabalho, soube pela cliente que fui um dos prestadores
de serviço que atuaram no evento de quem seu agora marido mais
gostou. Creio que foi porque eu soube entendê-lo, pois coloquei as
suas necessidades acima das minhas expectativas em relação ao
trabalho. Essa compreensão é uma das gratificações da profissão.
A luz criativa
Há uma regra que rege o emprego da luz em fotografia de ca-
samento (na verdade, serve para qualquer situação): não importa o
dispositivo que está gerando a iluminação, e sim a sua posição relati-
va ao objeto e o quanto suave ela é. Mas eu poderia resumir a equa-
ção da seguinte forma: luz perfeita é aquela que molda o rosto da
pessoa da melhor forma possível.
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ras da cena), o que permite obter resultados como os que consegui
durante um casamento em Ibiza. Eu fotometrei nos tons médios da
cena e depois, na pós-produção, ajustei as altas-luzes, trazendo para
a imagem o pôr do sol e suavizando as sombras. Praticamente um
HDR. Por isso, saber utilizar o equipamento a todo momento para fa-
cilitar o trabalho é de extrema importância.
Olhar e compor
Uma das regras de composição mais citadas diz que você não
deve centralizar o seu motivo no quadro. Porém, quando há uma série
de linhas convergindo para algum ponto, é possível compor de modo
harmonioso com os elementos no centro. É o que ocorre com esta
foto, feita em um dos paradores mais famosos do mundo, o Blue Mar-
lin de Ibiza. Veja como as diagonais conferem simetria e equilíbrio à
cena. Precisei apenas ajustar a pose dos noivos, o que exigiu algumas
tentativas: primeiro, pedi que se sentassem, depois que ficassem de
pé, mas o que deu melhor resultado foi quando ela deitou no colo
dele, permitindo que a cauda do vestido se alongasse, criando uma
diagonal que conduziu ao centro da ação.
Fotografar em externa é cor-
rer o risco de ser surpreendido. Para
esta sessão, realizada durante um
workshop, meus planos incluíam um
belo dia ensolarado. Aconteceu que
estava fechado de neblina (ou, como
chamamos aqui no Sul, cerração) – o
que não representou problema, antes
pelo contrário: o fenômeno contri-
buiu para dar profundidade e um to-
que de mistério a esta encenação da
aproximação da noiva. A perspectiva
atmosférica é um recurso muito utili-
zado em pintura para dar a noção de
que há objetos localizados a distân-
cia. Funcionou muito bem aqui tam-
bém. Além disso, proporcionou uma
difusão geral da luz, criando uma ilu-
minação com estética cinematográfi-
ca. Há alguns outros elementos que
eu poderia citar: a posição do noivo
ocupando uma das linhas verticais e
o rosto no ponto áureo, o diálogo en-
tre primeiro e segundo planos, com
o detalhe sutil de que a noiva não
se conecta diretamente com o noi-
vo, mas olha para seu buquê, o que
acentuou o toque de mistério, e por
fim uma certa assimetria no arranjo
da composição, com o deslocamento
dos modelos para a porção direita da
imagem, sem que isso resultasse em
desequilíbrio.
Curso ER12 | Cambará do Sul (RS), 2015
Toda festa de casamento tem na-
turalmente muita dinâmica. No entanto,
é preciso estar atento para captar um
momento especial de modo criativo. Ob-
serve como o vestido e o cabelo da noi-
va desenvolvem um movimento que dá
ritmo à composição e se complementam
de modo harmonioso, contrapondo-se à
atitude mais estática do noivo e à unifor-
midade geral do cenário. O semicírculo
em volta deles também ajuda a acentuar
esses valores, em função da variedade
de reações e do sentido de perspectiva e
profundidade que o posicionamento das
madrinhas inspira.
Crônicas do sucesso
Depois disso, criei uma série de televisão, que vendi para a afi-
liada da emissora aqui na região. Passava no canal TVCOM, da RBS,
nas noites de sábado e nas tardes de domingo, com uma excelente
audiência – foi um dos melhores ibopes do canal.
O motivo, que talvez muita gente não saiba, está assim expli-
cado: fazem isso para que os recém-casados possam se olhar por
sobre a cortina. Normalmente (aqui no Brasil, pelo menos), quando o
rabino enfim deixa o salão, o tecido é retirado e todo mundo se mis-
tura. Foi o que aconteceu naquele casamento em Porto Alegre. Após
o jantar, o líder espiritual foi embora e os casais se reencontraram na
pista de dança. Aí ocorreu algo curioso: Pedro, o noivo, veio até mim,
me abraçou, e disse: “Estou muito feliz de ter você aqui!”. Agradeci
sua gentileza e continuei o trabalho. Passou-se algum tempo, e no-
vamente o Pedro me abraçou e agradeceu-me a presença. Não me
pareceu problema de memória ou excesso de drinques, por isso, na
terceira vez que ele fez a mesma coisa, perguntei o motivo, repli-
cando que eu é que deveria me sentir grato, pois estava tudo muito
bonito e é sempre muito agradável fotografar uma festa tão alegre.
Não consigo me recordar das fotos que meu pai fazia. Uma ou
outra apenas. Mas ficou gravada na memória a parceria que estabe-
lecemos. A alegria de estar ao seu lado naquilo que parecia ser uma
grande aventura. Como já mencionei no princípio deste livro, algo
que ele me ensinou foi o valor dos relacionamentos. Ele sempre se
dava muito bem com as pessoas. Era lembrado sempre que se pre-
cisava de um bom conselho. Era visto como um amigão. Depois de
adulto eu tenho viajado com ele, principalmente para o Mato Grosso
do Sul, e essas características persistem.
Novo Hamburgo
04/11/2015