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TRABALHO DE HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA DO BRASIL

Docente: Prof. Dr. Cláudio DeNipoti.


Discente: Isabela Passos Duarte.
Tema: História do Brasil.

29 DE OUTUBRO DE 2022
LONDRINA
De acordo com Martins (2011), o delineamento da identidade e da organização social e
cultural de uma sociedade se faz presente também no Brasil. A historiografia brasileira
contemporânea incorpora dois grandes grupos investigativos: um que retrata a história do
Brasil enquanto um objeto, a qual inclui a historiografia “brasilianista”, constituída
principalmente pela Europa e Estados Unidos; e o segundo grupo, tratado na reflexão de
Martins (2011), que refere-se à história escrita no Brasil, de forma a abranger suas
perspectivas de interesse e análise. A partir dos anos 1970, a pesquisa histórica no Brasil
obteve um crescimento exponencial, juntamente com o interesse público por temas históricos
e sua historiografia.
Amaral Lapa (1981. apud, MARTINS, 2011) proporciona visibilidade a um programa
de sistematização que passa, de forma gradual, a deter espaço na produção historiográfica,
após a década de 1980. Dessa forma, passa a denominar ‘etapas’ da reflexão histórica no país.
As etapas de instituição, crescimento e consolidação do campo historiográfico são
classificadas em 4 fases: a fase dos desbravadores, ainda que concentrada no século 19
apresenta autores e obras anteriores; a fase dos pioneiros, ao final do século 19 até a década de
1930; a terceira fase, da profissionalização, ao fim da década de 1930 e se estende até meados
da década de 1970; por último, há a fase da expansão, que data até os dias atuais (MARTINS,
2011).
Desbravadores são os autores que refletiram sobre temas históricos e os colocavam
como objeto de suas explicações, entretanto, não partilhavam de uma prática historiográfica
formal. É nesta fase que os assuntos ‘brasileiros’ se emancipam das questões relativas ao
conjunto do império português e convertem-se em assuntos de investigação e análise próprias.
Isso posto, pode ser considerada a fase em que desbravaram a trajetória da pesquisa histórica,
tanto na coleta e organização das fontes, quanto no pensamento sobre a definição do Brasil
(MARTINS, 2011).
Foi no concurso de 1840, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro que a questão
foi inaugurada. Neste concurso, o alemão Carl von Martius foi premiado com a monografia
“Como se deve escrever a história do Brasil”. Ainda antes disso, a obra de Robert Southey,
outro não brasileiro, também tentava decifrar esse novo mundo com "A History of Brazil”.
Entretanto, é Francisco Adolfo de Varnhagen (1816 - 1878), visconde de Porto Seguro, que
provém o mérito de ter iniciado o trabalho de coleta e sistematização de fontes excepcionais
para a qualificação da pesquisa histórica como ‘brasileira’. Outros desbravadores do século 19
também dedicaram-se à celebração de feitos regionais, ainda hoje há uma rede de
pesquisadores que seguem a metodologia de Varnhagen, preocupados com a historiografia
brasileira que é dependente de arquivos encontrados em outros países sob diferentes
abordagens. É a partir desses desbravadores que os autores inspirados por uma preocupação
analítica ‘profissional’ surgem, tidos como pioneiros (MARTINS, 2011).
Os pioneiros inserem a prática do método histórico na coleta dos dados e também na
análise e contextualização dos temas. João Capistrano de Abreu é um dos nomes mais
memoráveis, o qual representa a transição entre os colecionadores de dados e analistas,
igualmente correspondem à esse perfil Sérgio Buarque de Holanda de Raízes do Brasil (1936)
e o Gilberto Freyre de Casa Grande e Senzala (1933), que ingressam no campo historiográfico
moderno. São autores que aproveitaram parte da inovação técnica e metodológica proveniente
da criação da Universidade de São Paulo, em 1934 (MARTINS, 2011).
R. Glezer, M. H. Capelato e V. Ferlini (apud MARTINS, 2011) afirmam a influência
do modo francês de fazer história na historiografia brasileira, de forma a incentivar os estudos
de História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, deu início aos estudos de História
da América, além de que valorizou o período Colonial e abriu novas visões para a análise do
Império, por fim, consolidou a historiografia brasileira contemporânea. Sobretudo, foi
extremamente importante para a definição e uma forma de trabalho com propriedades
características, contendo base erudita, rigor metodológico, coerência interna do trabalho,
interdisciplinaridade e relacionamento. Este impulso metodológico desencadeia uma nova
etapa para a historiografia brasileira: a etapa dos profissionais (MARTINS, 2011).
Os profissionais são compostos por duas divisões de perspectivas, diversas, mas que se
complementam. A primeira diz respeito à cientificização da História, cujos fatores teóricos e
metódicos se fazem presentes na prática de pesquisa e no andamento das publicações. A
segunda, perpassa pela institucionalização dos cursos de formação (bacharelado e
licenciatura) e de especialização. O padrão científico se afirma e mantém nas Universidade de
São Paulo e na Universidade do Brasil, presente nas faculdades de filosofia, ciências e letras.
O doutoramento, a livre-docência e o concurso de cátedra são marcos que entrelaçam o padrão
e carreira, assim, os que concluem esse percurso se expressam através de teses e livros que
demonstram a conquista de temas e desenvolvimento das análises. Os temas e escritos
concentram diversas áreas da reflexão histórica, notoriamente na história social, na história
das ideias e na história econômica. Nestas, os tratamentos seriais e quantitativos tiveram um
momento forte até o final da década de 1980, em sua maioria nos estudos do comércio
colonial (MARTINS, 2011).
Desse ponto, os assuntos econômicos passam a estar mais presentes nas pesquisas do
departamento de Economia. A influência da historiografia francesa motivou uma rejeição ao
esforço epistemológico, e, apenas na década de 1950 as tematizações de relevância em torno
das ideias de história-problema e de tempo como duração retornaram. A escolha teórica pelo
marxismo também potencializou a atitude de dispensa do exame teórico, uma vez que a
filosofia marxista supunha uma resolução da origem, desenvolvimento e sentido da História
(MARTINS, 2011).
Todavia, o aumento da diversificação dos temas, dos objetos e dos problemas faz com
que essas tais opções se tornem insuficientes para a resolução dessas questões, sendo assim
chamadas de “simplistas”, pois há falta de eficiência nos desafios crescentes da historiografia
comparada e comparativa (MARTINS, 2011).
A contar dos anos 1980, a reflexão teórica e metodológica sobre a historiografia
retoma com o crescimento dos programas de pós-graduação em História que requeriam uma
capacitação qualitativa dos pesquisadores. Essa expansão é responsável por impulsionar a
profissionalização do ofício do historiador, obedecendo a três critérios, como cita Martins
(2011):
“a qualidade científica da capacitação dos recursos humanos para a pesquisa e para a
formação superior, o desenvolvimento de áreas de conhecimento estratégicas para o
desenvolvimento social e econômico do país, a obtenção de autonomia científica das
instituições de pesquisa e ensino no país.”
De 1970 a 2010, as oportunidades para estudar treinamento avançado aumentaram
exponencialmente. Um dos motivos que favorece o avanço e a diversificação dos objetos
históricos estudados é a organização dos programas em áreas de concentração, que se
organizam de acordo com a direção da pesquisa. Estes agregam os projetos de pesquisa em
andamento. Faz parte desta evolução historiográfica, o surgimento e desenvolvimento da área
de Relações Internacionais do Brasil, em âmbitos trans- e supranacionais. A intersecção
disciplinar contribui para que áreas de pesquisa e ensino de História invistam também na
história econômica, na história das ciências, na história do tempo presente e na história
comparada (MARTINS, 2011).
Outro exemplo importante, relata Martins (2011), é a significativa contriuição de
fontes sobre temas relacionados à africanidade brasileira para as pesquisas relacionadas à
escravidão e suas consequências. A história social, cultural, política e econômica da
escravidão e suas variáveis ​é um tema recorrente e em expansão – a compreensão da
brasilidade, que sustenta a historiografia, envolve necessariamente uma compreensão da
africanidade. Uma de suas principais repercussões é a introdução obrigatória do ensino de
história da África no ensino fundamental e médio do Brasil.
No decorrer da vida social, a reflexão histórica foi firmemente inserida na consciência
e na cultura histórica, como elemento de composição do pensamento histórico, na formação
de identidades em todos os níveis e como fórum de encontro de sujeitos individuais e
coletivos.

1. REFERÊNCIA

MARTINS, E. C. R. Conhecimento histórico e historiografia brasileira


contemporânea. Revista Portuguesa de História, v. 42, p. 197-219, 2011

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