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ANO 2 No7
MAIO-JUNHO 1982
C 6 100,OO
f:-
"_.>
ATENCÃO !
MULHERES
TRABALHANDO
da habitação, o que nos faz perguntar:
Feminismo e política "Náo será o próprio papel social atribui-
Os grupos feministas devem do a mulher que restringe sua sexualida-
de?" Mais uma vez. a resposta é positiva.
ou não participar de congressos No grupo de discussão "Mulher e
sobre mulher patrocinados por trabalho'' foram levantados temas alta-
partidos políticos? mente relevantes: a discriminação sala-
Qual é a relação entre feminismo ria1 e de função da mulher trabalhadorae
sentido da CLT. Entretanto. não houve
e política? espaço para discutir a questão da divisão
E as federaçóes, sexual d o trabalho na familia. Ora, e
devem ser criadas já? exatamente ai que se encontra a origem
Neste número dos problemas que a mulher vai enfrentar
no mercado de trabalho. exercendo ativi-
recebemos três cartas dades que não são mais do que um mero
- de Belo Horizonte. desdobramento de sua função na famiiia:
Belém e Imperatriz (MA) que - ocupando funçóes desqualificadas, uma
vez que suas responsabilidades domésti-
abordam, de uma maneira
cas impedem um maior treinamento: limi-
ou de outra, o problema. tando-se a atividades de tempo parcial
que não prejudiquem otrabalho domésti-
co, considerado sua atividade naiurai. (...I
Essas reflexões explicam a não parti-
cipação d o CDM no Encontro deste ano.
Mais ainda, acreditamos que congressos
desta natureza não fazem mais do que
perpetuar a opressáo e conter o avanço
do movimento de libertação da mulher.
Centro de Defesa d o i Olreltos
da Mulher, Belo Horlronte. MO.
"Federação rnaranhense
oigan laca0 de m
, movimento adtoiomo é farsa política"
Minas: "Não queremos que loca ze seJs proolemas especil C05
perpetuar a opressão"
Acontece que a coordenação 00 En- No dia 6 de março passado, sob o
contro , J g a que poi'tica e aqb o qLe se pretexto d o 1" Encontro da Mulher Mara-
O Centro de Defesa dos Direitos da 'az só nos partioos e quando mu to nos nhense, realizado em Imperatriz a convite
Mulher (CDM) não participou. este ano. sind calos Nos acreditamos q-e iodo da dra. Lindalva Amorim. um número de
da coordenação do Encontro da Mulher aproximadamente 1.500 mulheres lotou o
grdpo social oprtm ao qde se organiza e
..... .. -, realimdi
.Mineira pavilhão da antiga Prece Poderosa. Acon-
Idia para acabar com st.a opressão está
solicitac~~. ~~ ~ ~ ~~ ~
fazendo po'tica. como é o caso das tece que aquele local tornou-se u m "cur-
por os motivos que nos levaram a adotar assoc ações de oaivo. movimento negro. ral eleitoral" do PMDB, inclusive com o
tal atitude. Acreditamos que esses escla- movimento feminista. mov mento dos ho- lançamento da candidatura a deputada
recimentos possam abrir um saudável mossexuais e outros. estadual da coordenadora do encontro.
dabate no movimento de mulheres de No encontro do ano passado, tive- Por ISSO, vimos a público denunciaralgu-
Minas Gerais. mos que suportar na plenária mais de três mas das arbitrariedades desse encontro:
As divergências que temos com as horas
.-.de .~ discuçsáo
.~~~~~~~ sobre a iusteza ou
1. Não houve discussão nem em gru-
~~~ ~
organizadoras destes Encontros come- não da luta pela Constituinte.' (...I pos nem em plenário sobre os problemas
çam desde a fase de sua preparação. No grupo de trabalho "Mulher e Se-
xualidade" recebemos uma lista que pro- da mulher, que constavam da pauta, tais
Dizem respeito a uma questão que pode, como mulher e trabalho, mulher e saúde,
i primeira vista, parecer banal mas que punha discutir o fenómeno da prostitui-
organizacão da mulher;
acarreta conseqüèncias de extrema im- ção. da violência e da insatisfação sexual:
portância: quem organiza um Encontro o l".entendido comoresultado do desem- 2. A coordenadora d o encontro usou
de Mulheres? Para as coordenadoras a prego, o 2".com o resultado do capitalis- daquele momento para realizar um gran-
resposta é simples: "quem quiser". Para mo e da ditadura e o 3'. como resultada de comicio onde estiveram presentes os
nos, a organização de um Encontro de das condições precárias de habitação. lideres poiiticos que foram os Únicos que
Mulheres deve ser uma tarefa de entida- Acreditamos que, embora a prosiilui- puderam usar da palavra:
des que efetivamente tenham um traba- ção possa crescer com o dssemprego,
lho com mulheres: setores femininos, este Último não cria em si o fenõmeno da 3.No p c o n t r o foi criada a Federação
grupos feministas e organizações que prostituição. Ela é sobretudo o resultado da M u lh í. Maranhense. sem nenhuma
desenvolvem programas, campanhas e da constituição ideológica e moral da base de organização e representatividade
lutas do interesse especifico da mulher. nossa sociedade que. para preservar a no Estado;
A composição da coordenação da "santidade" da maioria das mulheres,
forma como ela vem se dando, provoca especializa outras no comércio do sexo, 4. A diretoria foi escolhida pela dra.
distorçóes que se refletem na escolha do fragmentando a sexualidade feminina em Lindalva. que se auto-indicou presidente
temário, no encaminhamento dos deba- maternidade para as "santas" e :'promis- e escolheu as outras representantes da
tes nos "grupos de trabalho". na organi- cuidade" para as prostitutas. chapa, que na maioria não estavam pre-
zação da plenária e no sistema decisório. Quanto a violência contra as mulhe- sentes;
Em relação a este último. o CDM e res, acreditamos que ela não é resultado
outras organizações de mulheres tiveram imediato da situação política nem mesmo 5. Antes d o encontro não houve qual-
seu voto completamente diluido pela pre- do regime econõmico de produção. O quer divulgação de que ali seria realizada
sença majoritária, na Coordenação, de fato da violência ser canalizada no espan- a eleição da diretoria da Federação;
entidades não representativas. Com todo camento, estupro e assassinato de mu-
o respeito a luta que vêm travando por lheres. nos faz perguntar: "será que exis- 6. Como prova de que essa Federa-
suas respectivas categorias. não nos pa- te algo especifico a condição da mulher çáo não tem representatividade no Esta-
rece legitimo que, não estando engajadas que a torna alvo 1.50 cotidiano da violên- do, temos o fato de que a dr' Lindalva só
efetivamente no movimento de mulheres, cia?" Acreditamos que sim. Estaespecifi- conseguiu juntar esse número de mulhe-
oeodam SODfe seJs de51 nos cidade é justamente a fragilidade do seu res a custa de "iscas políticas" como
0 - a n t o aos temas d SCL~IOOS nestes papel social, a sua posição submissa e prêmios. consultas. lanches e promessas.
Encontros parecem a primeira vista a. impotente frente a supremacia masculi-
iamsnte relevantes oara a mdlher Acon-
~~ ~ ~ ~~~
~
dignifica o
alimenta, lava, cuida e educa a s crian-
ças. Depois de tanto trabalho, Maria fica
cansada. Mas, como 6 com trabalho do-
méstico que ela se ocupa, todo mundo
diz que ela não trabalha.
No mundo das estatísticas, traba-
Lho doméstico não remunerado é con-
-.--
(PNADs) indicam que, em 1980, ape-
nas 26,W’ das mulheres brasileiras de
mulher, auem
mais de 10 anos trabalhavam, eram
economicamente ativas.
Quando alguns economistas ame-
- ricanos resolveram calcular em dinhei-
- -I ---- ro o valor do trabalho doméstico reali-
zado “de graça” pelas mulheres, o re-
sultado foi surpreendente: o trabalho
dignifica?
A r - .
doméstico constitufa, nos Estados
Unidos, mais de 25% do Produto Na-
cional Bruto.
Mu Ihe r trabalha
Entre 1970 e 1980, . mais que o homem
o número de mulheres No Basil, entre 1970 e 1980, o nu-
que trabalham mero de mulheres que trabalham fora
passou de 18,5% para 26,9%. Mas se as
fora de casa estatísticas incluíssem as donas-de-
passou de 18,5% casa no conjunto das mulheres que
trabalham, iríamos verificar que a pro-
para 26,9Q/0. porpao das mulheres que trabalham é
Mas as condições muito parecida com a dos homens -
75,5% delas s80 “ativas”. E mesmo
de trabalho tendo um emprego fora de casa, as
não mudaram muito: mulheres continuam responshveis pe-
las tarefas domésticas, cumprindo
etas continuam dessa forma uma dupla jornada de
ganhando menos trabalho. Por isso, trabalhadoras com
responsabilidades familiares em geral
que os homens, trabalham mais que os homens e che-
-- ocupando 8s funções gam a realizar 70 a 80 horas semanais
de trabaiho, segundo um estudo recen-
de menor prestígio te pubiicado pela Organização Inter-
e enfrentando nacional do Trabalho.
Maria também decide arranjar um
várias formas de emprego, mesmo sabendo que vai ter de
diacriminação. fazer o serviço de casa i noite ou anfes
de sair de casa. Mas sabe que a maioria
dos empregadores prefere as soIteiras.
Os patrões acreditam que as mulheres
casadas faltam mais ao trabalhos por
---ll____T causa de seus encargos familiares.
Desde 1974, os encargos sociais
decorrentes das leis que protegem as
trabalhadoras grávidas foram transfe-
ridos para o INPS. Mas, mesmo mim,
88 mulheres casadas ainda continuam
a sofrer restrições por conta de suas
obrigagdes familiares.
Arranjar trabalho em fábrica n8o
é fác11. Entre 1950 e 1970, diminuiu a
participação das mulheres na indús-
tria. Com a utilização de uma tecnolo-
gia sofisticada, houve pouco aumento
de novas oportunic’ades de emprego e
exigência de m8o-c ?-obra mais quali-
ficada. Esse requisito a mulher quase
nunca pode satisfazer, porque tem
sempre menos oportunidades do que
os homens de receber formação profis-
sional. Hoje, 80% das operárias brasi-
leiras trabalham em indústrias téxteis
e de vestuário.
De maneira geral, o mercado de
trabalho oferece muito poucas oportu-
nidades de emprego para as brasiiei-
ras: em 1970,mais de 8O% das mulhe-
res trabaihavam em apenas 10 ocupa-
ções cilferentes, todas elas de pouco
prestfgio e baixa remuneração: empre- Um argumento lembrado para v a m grávidas. E as operMas têm rei-
gadas domésticas, trabalhadoras TU- “justificar” que as mulheres recebam vindicado constantemente em seus
rais, professoras primárias, funciooná- menos do que os homens tem sido o de congressos a abolição de uma humi-
rias de escritbrio, costureiras, iavadei- que elas trabalham, em média, menor ihante prova mensal de não gravidez
ras, balconistas, serventes, enfermei- número de horas, No entanto, em nos- que muitas empresas continuam a
ras e tecelãs. so pafs, 24,5% das pessoas que traba- aplicar em suas empregadas.
As mulheres de nível médio de lham mais de 40 horas semanais são Para sair para trabalhar, Maria pre-
instrução estão participando cada vez mulheres. Claro que h& um número cisa deixar as crianças bem cuidadas e
mais de ocupações administrativas e reIativamente maior de mulheres que em segurança. Mas onde é que ela vai
ligadas ao comércio, atividades que se trabalham menor número de horas encontrar uma creche? Desde 1943 a lei
expandiram graças ao acelerado pro- Mas esse fato pode ser explicado tanto obriga as empresas com mais de. 30
cesso de indus trializaçfto. Para as mu- pelo menor nlrrnero de oportunidades empregadas acima de 16 anos a manter
lheres das classes menos favorecidas e que a mulher encontra, quanto pela um berqário para as crianqaç que estão
com baixo nível de instrução, a situa- necessidade de conciliar a vida profis- sendo amamentadas. Mas essa lei nun-
çao é dramática: as possibilidades de sional com as obrigações familiares. ca é cumprida porque a penalidade pre-
trabalho se limitam &s ocupações rela- vista para seu não cumprimento é irrisó-
tivas ii prestação de serviços, quase ria.
sempre como empregadas domésticas, As muitas batalhas Mêsmo que as empresas cumpris-
ou ao trabalho no campo. da trabalhadora sem a lei, o problema não estaria resol-
vido. Seria preciso pensar em berçá-
Depois de arrumar um emprego, nos e creches para os filhos das empre-
As condições de Maria vai ter de lutar para ter s u a gadas domésticas, das trabalhadoras
tra baIho, carteira de trabatho assinada e poder autônomas e das trabalhadoras rurais.
receber os benefícios do sistema previ- E depois é preciso levar em conta que,
sempre piores denciário: quase 48% das mulheres não mesmo quando a empregada conta
têm sua carteira assinada. Se Maria for com creches na empresa em que traba-
Além de encontrar pequeno núrne- trabalhar como empregada doméstica, lha, nem sempre é possível, nas gran-
ro de oportunidades, as mulheres en- ntd: garante que ela vá receber salbio des cidades, transportar com seguran-
frentam sempre piores condições de minimo, ter descanso semanal de 24 ça recbm-nascidos por longas distàn-
trabalho: suas atividades são discrimi- horas consecutivas e 13’ satario - essas cias, dentro de vagões ou ônibus su-
nadas. elas nBo têm acesso aos cargos questões são projetos de lei já apresen- perlotados, fato que se agrava ainda
de chefia e as funções que exigem tados ao Congresso, mas até o momento mais no caso das empresas que man-
maior qualificação. Eva Blay pesqui- nenhum deles foi aprovado. tém convênios com creches distantes
sou a indústria paulista e verificou que A CLT determina que não C moti- do local de trabalho.
nos trabalhos que não exigiam espe- vo justo de rescisão de contrato o
cialização, havia uma mulher para ca- casamento ou a gravidez’ da mulher.
da três homeils; nos que exigiam qua- Mas o Judiciário está repleto de casos Maria Otllia Bochini ’
lificação média, a relação era de urna de mulheres dispensadas durante a
mulher para seis homens e, finalmen- gravidez. Em pesquisa realizada em Essa matéria e um resumo do capitulo sobre
te, naqueles que exigiam pessoal de 1975 junto aos chefes de pessoal de 22 mulher e trabalho elaborado por Crlstlna
nível superior, a proporção era de uma empresas representativas do comércio Bruschlni e Felicla Madelra do relatório ”Mu-
mulher pra cada 19 homens. e da indústria de São Paulo, a advoga- lher, Socledade e Eitado no Brailt” O reiato-
Ate nas ocupações consideradas rio foi elaborado por uma equipe da Fundação
da Marly Cardone constatou que ape- Carlos Chagas cQm a coordenaçáo de Carmen
femlninas, como é o caso do magisM- nas sete n8o despediam as emprega- Barroio, sob encomenda da UNtCEF e sera
rio, observa-se que a partlcipaç8o das das quando estas se casavam ou fica- editado em breve pela ürasiliense
mulheres diminui B medida que au-
mentam o prestfgio e o çaiSuio. AS
rnuiheres compõem 95% do magistério
primwo, mas $6 60% do rnasgistério
do 2” grau. No ensino superior a por- incluíssem
centagem de mulheres cai para 23%. das donas-de-casa
A segregação das mulheres em
peiicas ocupações traz ainda um pre- veríamos que
juízo gravfssimo: o rebaixamento dos a proporçãio das
salários. Como há grande quantidade mulheres que
de m8o-de-obra concentrada em pe-
queno número de “trabalhos de mu- trabsf ha m
lher”, os salários das mulheres conti- 4 muito parecida
nuam a ser proporcionalmente meno-
res do que os dos homens. Dados bas- com a dos homens:
tante recentes do Censo Demográfico 75,5%
de 1980 mostram que quase 30% das
mulheres ganham até meio salário d- As trabalhadoras
nimo. Mais da metade das mulheres com responsabilidades
(53,14)ganham menos de um srù8no
mfnimo. fa mila res
Um estudo Feaiizado pelo Ministé- chegam a realizar
rio do Trabalho, em 1976, mostra que,
em todas as regióes brasileiras, os sa- 70 a 80 horas
lários das mulheres $80 inferiores aos
salários dos homens em igual nível de
I I I .. I ‘ semanais
‘ instruçgo. Pesquisas realizadas pelo 53 de trabalho.
demógrafo Paulo Paiva confirmam
que em condições semelhantes de ida-
de e de instrução, 8s mulheres são
claramente discriminadas em termos
de seus ganhos. Nas ocupações em que
a participação feminina é maior, como
na categoria dos professores e nas
ocupações domésticas remuneradas e
de serviços, a discriminação é ainda
mais evidente,pois a mulher que nelas
trabalha não chega a ganhar nem a
metade do que ganha o homem. Em
todas as profissões exercidas na indús-
tria paulista, os homens recebem salá-
rioihora 57% maior do que o das mu-
lheres, segundo pesquisa reaiizada pe-
lo Instituto de Pesquisas Econômicas
(IPE), da Universidade de São Paulo.
Neste tribunat,
o réu 6 a
discriminação
A luta contra a discriminaçeo
no trabalho foi uma das primeiras
preocupações dos movimentos de
mulheres no Brasil. Mas, embora
seja um problema antigo, as con-
quistas nesse campo ainda são
pequenas, pois dependem de uma
ampla conscientização da socie- mudar
na
dade a esse respeito. Agora, mu-
lheres de diversos grupos feminis- ----
tas de São Paulo pretendem dar
um passo frente: vsio promover o
velha
Tribunal Bertha Lutz, para, a
exemplo do famoso Tribunal Ber-
trand Russel, provocar agitação
em torno do tema e discuti-lo mais
profundamente.
No Tribunal serão julgados to-
dos os tipos de discriminações que
a mulher sofre no trabaIho. A pri-
meira sessão será realizada no dia
CLT .*
Um espaco de
contestacão
Carmen da Silva
@ c
Entrada proibida: é ai mesmo que internatos masculinos do passado ou
a gente quer entrar. Homem não chega seus equivalentes proletários: o gal-
precisa da garantia de banheiros mais nem perto de alguns redutos ditos pão, o fundo do quintal, o baldio onde
limpos. Ou seja: a fisiologia da mulher “femininos” onde, aliás,ele seria mui- eles se mediam, comparavam, toca-
“rouba” mais tempo da produção e to bem recebido: a cozinha, a mesa do vam, contavam vantagens.
exige do capitalista um investimento chá, as sessões de tricô para os pobres, Na verdade, o homem sente como
ligeiramente maior nas instalações sa- as entrevistas no colégio dos filhos. uma usurpação o espaço que a mulher
nitárias de sua indústria. Soluça0 (pa- Mas basta a mulher reservar para si passou a ocupar no mercado de traba- ,
ra O patrão, nâo para a trabalhadora): um espaço exclusivo, ainda que rnlni- lho. Ressentimento engolido em silên-
reprima-se a mulher até que ela adap- mo, para que ele se sinta raivoso, es- cio porque ele é o patrão que explora
te seus hábitos e seu corpo As exigén- corraçado, despeitado. Se, por exem- essa mão-de-obra a preço vil ou é o
cias da fAbdca. plo, ela quer usar a sala cada tanto, parente ou companheiro que se benefi-
para reunir-se com companheiras fe- cia do salário dela. Assim, a má-
Mas pesa ainda outra acusaçao mininas, é um Deus-nos-acuda. vontade masculina se canaliza contra
sobre a mulher trabalhadora: a de que No ámbito laboral- fábrica, escri- o espaço flsico da “ocupação”: o ba-
ela iria ao banheiro para ’fazer hora’. tório, repartiçHo - o espaço que os nheiro onde ele não pode entrar para
Para bater papo (nos raros casos em incomoda i2 o banheiro. Segundo os controlá-la
que se permite a ida de mais de uma patrões, o lugar onde o pessoal vai
mulher de uma vez), para descansar, fumar, conversar, perder tempo. Dai No plano mais profundo, atuam
os regulamentos limitando a freqiiên- nele velhos terrores ligados a fantasias
para pensar na vida. Enfim,para que- cia e proibindo a entrada conjunta. inconscientes da infância. A mulher
brar o ritmo constante e mecanico d o Mas é curioso: os prbprios trabalhado- entregue aos ritos do corpo torna-se
trabalho. O que talvez seja verdade, e res que reclamam dessas restrições temível pelo seu mistério: afinal, esse
nos leve a pensar um pouco mais a para eles as aprovam para as colegas corpo detém o segredo da origem da
fundo no que a mulher traz, do “mun- do sexo feminino. T a m b é m e le s vida. Invejada porque sua fecundida-
d o feminino” (o lar) para o mando do acham que o banheiro é o espaço espe- de a faz poderosa, ao mesmo tempo e
trabalho. Não apenas um corpo mals cífico da contestação e cuidado com a repudiada como “suja” (de sangue
difícil de se discipiinar. Nao apenas mulheres que aí se juntam para enfei- menstrual, de secreções sexuais), isto
uma anatomia menos adapthvel. Mas tar-se, faIar de futilidades, criticar é a imagem da mãe “corrompida”
uma profunda rebeldia em relação ao seus homens, contar intimidades de pelos desejos edfpicos do filho. A mu-
tempo do trabalho. alcova, confrontar experiências e, lher no banheiro (e n8o é i4 toa que a
quem sabe até, fazer brincadeiras ho- pintura, que nos deu tantas “Madon-
A relação da mulher com o tempo, mossexuais. Idéias obviamente calca- ne”, deu também tantas banhistas)
na casa, passa necessariamente pelos das nas recordações dos colégios e seria bruxa, deusa, carne impura.
ritmos da vida: o tempo das criançase
suas exigências de descanso, de demo-
r a em cada pequena tarefa, de “distra-
çáo”, de variações. O tempo da cozi-
nha com sua simultaneidade de tare-
h s e seus pequenos intervalos - para
um cigarro, u m suspiro, um café, urna
música no rádio. Não que a vida do-
mdstica seja o paraíso da mulher -
longe disso, muitas vezes ela é sentida
como uma pris80. MBS a mulher em
casa e na relação com os fiihos tem
alguma margem de determinação so-
bre seu tempo, seu ritmo, suas para-
das. A mulher e seu corpo “complica-
do”, a mulher e seus nove meses de
espera, a mulher e seus intervalos para
dar de mamar, a mulher e seus varais,
seu rkdio sempre ligado, seus dois mi-
nutos de sonho debruçada na janela
da rua - a mulher é portadora de uma
rebeIdia fundamental em relação ao
tempo do trabalho.
V s i ~ n d oo guerr!lheiro sssssslnado
repressivo. Para t.smens e mulheres,
este tipo de tortura representa um
esforço no sentido de banir nossos
valores ideol6gicos, aqueles que nos
dão senso de dignidade, honra e co-
ragem',.
Quando vitimas diretas do regime Uma das lreqiianles batida8 ~011~1818
repressivo do pais as mulheres. mais
uma vez. sSo subjugadas com requin- submissão da classe trabalhadora, o
tes sado-masoousias não comuns en-
~~~ ~~~~~ ~~~~~~~~
..
%, 'i-
dos americanos, que é curta demais. E o nema e conhecido como indústria ma-
filme faz isso. Mostra que os Estados chista. Mesmo quando se trabalha numa
Unidos têm sempre a mesma politica e a produção estritamente política, com pes-
mesma mentira. Eles são sempre iguais. soas politizadas. Mulher é sempre scrlpt-
glrl, no máximo atriz. Não tenho nada
Vocès mostram a parilclpagáo das contra essas duas profissões. mas não
mulheres na gusrrllha e nos movlmen- sou atriz. Sou diretora e produtora. E os
tos populares em geral? jornais. quando comentaram sobre "Ei
Salvador: Outro Vietná". não menciona-
Tel& Fazemos uma entrevista com vam o meu nome, apenas o de Glenn
Ana Guadalupe Martinéz, comandante de Silber, que é homem e com quem dividi
uma das organizações que compõem a as tarefas de produção e direção. Em
FNLM. Ela aparece contando como se Nova lorque, lidando com esse machismo
incorporou B luta armada, como foi pre- e com uma competitividade exacerbada,
sa, torturada e violada em 1976. Ana aprendi a falar duro e a não buscar
Guadalupe só foi libertada quando seus cafezinho para ninguém.
companheiros seqüestraram um embai-
xador e pediram sua liberdade em troca. Vocè está nos Estados Unldos des-
Também tem um trecho de um discurso de 1975. Como é que foi sua mudança
que ela fez. Durante a entrevista. pergun- pia l á ? \r L.:
to se ela é terrorista. Sua resposta: "Isso v
depende de quem me vé e de quem me Teté: Estudei Sociologia na Universi- Tetb Vaeconcalon
pergunta. Somos lutadores pela liberda- dade de São Paulo e trabalhava no Ce-
de". Tem uma outra cena de uma comba- brap. Foi uma época dificil. O trabalho final de 1979. Trabalhei em vários filmes.
tente. Acredito que 3Q%dos guerrilheiros era restrito e frustrante, pela propria SI- muitos delesdirigidos por mulheres. Ago-
salvadorenhos são mulheres. tuação do pais. Mesmo assim, agüentei ra penso em mudar de Nova lorque e não
cinco anos. E é bom que se diga que o sei como vai ser. Não sei se vou passar o
Eias também estáo no comando e a ambiente do Cebrap. na época. era alta- ano perambulando pelos festivais. ou se
idade varia de 14 a 80 anos. Todassabem mente machista. Por todos esses moti- vou me ocupar com a tradução do filme
que a morte é quase inevitável, se wocé vos. me enchi e resolvi fazer cinema, que para o espanhol. Também tenho trabalha-
luta ou não. porqueelessão criminosose é uma maneira muito mais prática e do na montagem do filme "La Opera-
assassinos sempre. rápida de falar o que eu quero. Minha cion", de Ana Maria Garcia. sobre a este-
famiiia teve condiçóes de me apoiar fi- rilização das mulheres em Porto Rico.
Como enlrsvisladora e dlretora do nanceiramente e eu linha a ilusão da segundo uma po:itica feita e implantada
lllme, você teve problemas quando este- Caiifórnia. Puro imperialismo cultural. pelo governo norte-americano. Há infor-
vs em El Salvador? Fuc e passei dois anos estudando cinema, mações que dizem ler a esterilização
o que achei uma perda de tempo em atingido 35% das mulheres em idade de
Telb: Na primeira vez que fomos para termos de aprendizagem. embora tenha procriação em Porto Rico.
lá. num grupo de cinco pessoastrbseram funcionado como uma boa introdução.
mulheres. E sempre somos vistas como Logo me enchi de Sáo Francisco, cidade
suspeitas. Em Ei Salvador, e nos Estados pequena. imprópria pra quem gosta de Céiia Chaim
Unidos também. Todos sabem que o ci- "agito". e mudei para Nova lorque. no
2.
introduzido pelo adulto é visto pela custa de mcito trabalho que entendi a
criança como uma coisa possível, bem pergunta que çueria fazer: o quanto o
feita. Eu me sentia protegida, de certa prazer me enredou na relação. E agora
forma. Havia sempre gente da famíiia a imagem me vem forte, sem nuance:
por perto, aparentemente estava tudo me vejo manlpulada, uma mão pode-
bem”. rosa me enredando no conhecimento
A primeira vez que ela tocou no de um prazer que não lembro e que
assunto foi ao se confessar para a não era o meu, para mim. De um
primeira comunhão. Por isso sabe que prazer que o servia, e me mantinha”.
tinha 6 anos. Confessou que tinha ras- *
gado uma camisola de raiva e a rela-
ção com o tio. A histbria da camisols,
não sabe se era inventada ou de verda-
de. Não tem dúvidas sobre a relaçgo
com o tio “é a memória mais antiga A família era grande, relativamen-
que tenho de mim mesma.” te tradicional. EIa já tinha ouvido sus-
Lembra-se que era de noite e esta- surros sobre desquites, uma tentativa
va na cama, as irmãs dormindo a seu “O que marcou minha infância foi
lado. “Não sei porque eu imagino que de suicídio, unia tia mãe solteira. solidao culpa conflito, solidão culpa
estava doente, mas eu acho que não A avó materna era uma figura conflito. Pesa pesa pesa, dói. E tudo o
estava doente.” Ele sentado, condu- forte que rescendia a terra e passari- que você quiser de ruim. Uma criança
zindo a m‘ão dela e se masturbando. nho. Em sua s6lida e ampla casa, um vivendo uma expenéncia desse tipo,
Foi a primeira vez que viu esperma, e clima de muita conversa e brincadeira acima de sua possibilidade de integra-
aquela boca rasgada, quase sem lábio. fazia florescer a fantasia das crianças. ção. Tudo, na minha infância e adoles-
A partir daí, obsessivamente, se Um bando de primos de ambos os cência, convergia para resolver minha
confessava: “Padre, fiz coisa feia com sexos via televisgo até tarde e dormia participaçao nessa relação. Toda mi-
meu tio.” Obsessivamente, se via par- junto na cama da avb, que fumava nha energia era canalizada para isso.
tida em duas: a que representava, escondido do avô e conhecia todo Porque é o segredo mais bem guar-
mentia, camuflava o tempo todo e a mundo da rua. Havia pouca interdi- dado, a delinqüente que fui, que ima-
verdadeira. cheia de culpa. “O corpo ção, um clima de sensualidade ginei que fui, todas fomos. Isso me fez
chagado de culpa. A lembrança, eu O pai era imigrante espanhol e sua criar mecanismos de suspeição de-
criança, é isso.”. famíiia não recebeu bem seu casarnen- mim mesma, me via sempre como uma
to com uma brasileira. Talvez em bus- verdadeira, escondida, e outra de fa-
ca de aprovação, a mãe se CBSOU tam- chada, a aparente. Uma na frente, ou-
Palavras que as mulheres estão apenas reproduzimos a charge que ilustra esta Rosaldo e Louise Lamphere. A perspecti-
começando a saber dizer. matéria. va marxista, no entanto, permanece es-
Rache1 Jerdlrn Fúlvla Rosemberg tranhamente ausente desta lista de pes-
quisadoras, boa parte delas traduzida
II Primo Anno Dei Nostro Barnblno - graças ao seu interesse na analise da
Giuseppe Ricci - Francesco Tonucci - situação da mulher de um ponto de vista
Fabbri Editori, Milano, 1980. comparativo. Ou o que se traduz são
O primeiro ano do bebb -A não ser produçóes antigas e teoricamente rigi-
. os textos clássicos ou de moda académi-
das. que não incorporam ao debate todo
ca, descobertos ou redescobertos alhu- um conjunto de novas pesquisas que se
res (geralmente via França), a produçáo tem modificado bastante.
bibliográfica italiana encontra certa resis- . Os trabalhos de Eleanor Burke Lea-
tência nos meios editoriais brasileiros. cock, parte importante deste debate, sáo
Preconceito ou descuido muito empobre- assim apenas conhecidos de um peque-
cedor. A equipe da Fundaçao Carlos Cha- no número de estudantes de antropolo-
gas que está trabalhando num projeto gia ou dos que se interessam pela ques-
sobre creche tem recebido o material tão da definição do papel da mulher na
italiano que dá vontade de mostrar e sociedade. Em 1981 ela lançou Mitos da
indicar para todo mundo. Por exemplo, a Dominação Masculina, uma coletânea de
série de livros de Francesco Tonucci artigos escritos durante mais de 30 anos,
(Grupo Editoriale Fabbrii,sobrs a educa- que seria urna boa oportunidade de tor-
ção de crianças pequenas. II Prlmo Anno ná-ta conhecida dos leitores brasileiros.
De1 Nostro Bimblno at6 que poderia Incluindo estudos etnográficos sobre os
servir de contra-modelo ao repressivo, povos da Península do Labrador, apre-
culpabifizante A vida do bebê do dr. sentações da obra de Lewis H. Morgan e
Rinaldo de Lamare. A procura de um, d e F. Engeis e críticas ao estruturalismo e
proposta educatrva contestadora e iiber- Mitos da dominação masculina a sociobiologia, os ensaios aqui reunidos
tária para a criança transparece também As antropólogas norte-americanas atacam consistentemente a noçáo de que
na criaçáo do livro; pelo texto sim, mas não são de todo desconhecidas no Brasil; a dominação masculina é um fato com-
principal mente pela‘ produção gráfica de temos traduções dos livros de Margaret provado e m t o d a s as s o c i e d a d e s
Frencesco Tonucci, criador do excelente Mead, Ruth Benedict, Ruth Landes e uma humanas.
Con GII Occhi Dei Bambino do qual coletânea de artigos editada por Mrchelle Marisa Corrêa
SEMINARIO NO MÉXICO
Em busca de
espelhos reais
Adélia Borges
romperessaimagem?Quaisascon<luis-
tas e as dificuldades das novas expe-
riências neste setor? E o que fazer para
que elas se desenvolvam, e se fort,ale-
çam? Com o objetivo de discutir essas
questões, foi realizado na Cidade do
r a r a c o n d i ç ã o inferiorizada >-a
~~ ~.~
~ ~~~~~~~~~~ ~~~
estereotipadas sobre mulher em meios
de comunicação tradicionais, a partir
paredes de lar: utilizam-na como obje- muiher. dos relatos das experiências do suple-
to sexual, sobretudo na propaganda. mento feminino do E1 Nacional, diário
insistindo na importãncia da beleza e Ainda que com inúmeras diiicul-
dades. essas respostas já se estão dan- de maior circulação d a Venezuela, e da
da juventude: apresentam uma dico- produção por um órgão do governo
tomia entre a virgem e a prostituta. do, como demonstram as várias e di-
versificadas experiências relatadas no mexicano de telenovelas, radionovelas
entre a "boa" e a "má": e Jorizam as e fotonoveias alternativas.
características femininas tradicionais. seminário. Na mesma linha de Mulhe-
rio - peribdicos dirigidos a uma faixa Entre as várias dificuldades apon-
como passividade, dependemia r in. tadas para o prosseguimento e o forta-
deciaào O estudo mostra ainda oue. mais ampla de mulheres dos setores
~ ~~~~~~~ ~~~~~ ~~~ ~ ~~~~~
mulheres
de Atenas
Sem fantasia
Ficha técnica: Mulheres da Boca: dire- "pesquisa" -, aproxima-se do univer-
ção: Cida Aidar e In6s Castilho; roteiro: so afetivo, da intimidade de várias
Ctda Aidar I n k Cnstilhn Jacira Vieira
~ ~. mulheres, não a partir da diferença
Melo. Márcia Vicenie, Sara Feldman: pro- mas a partir-da identificação.
dução: Wagner Paula de Carvalho: foto: Não se trata de uma afirmação.
Chico Botelho. 22 minutos. i6 mm. colo- por parte das cineastas, de sua ausên-
rido cia de preconceitos; aliás, fazer apolo-
gia de nosso "espfrito despreconcebi-
Para um filme que pretende abor- do" é um truque que funciona apenas
dar a prostituição, as primeiras cenas para enaltecer o "despreconceituoso"
surpreendem. A cãmera passeia entre e humilhar a vftima com um olhar
paternalista e cristão. O que as cineas- protefão. contra a ausèncie iotal de
mulheres em grupo, sem procurar des- garantias da sua vida.
tacar nada que marque a diferença tas fizeram foi captar, nessas "Mulhe-
res da boca", aquilo que mais as sensi- Não é erbtica a única "cena de
entre elas e n6s. espectadoras Ia não cama" de Mulheres da Boca. filme que
ser, é claro, a indisfarçável pobreza - bilizou: justamente a caréncia. Justa- se recusa a explorar a sexuaiidade das
que entretanto não é característica mente a fragilidade. prostitutas. Com exceção do hellssimo
exclusiva das prostitutas), Nada que A cãmera de Chico Botelho des- strip-teme na boate Concorde - ero-
identifique as putas-fatais-facas- creve carinhosamente um rosto inibi- tismo produzido. teatralizado segundo
sedutoras (felizes?) do imaginário do de mulher. Demora nos revelando a todos os requisitos do que supomos
masculino - vide o personagem de ambigüidade desse rosto: braços en- ser a sensualidade -, o filme no mais é
Tânia Alves em "O Olho Mágico do durecidos'entristecidos expressam terno. AS mulheres entre elas se
Amor", encarnação sacana da prosti- uma afetividade quase infantil. Nou-
tuta realizada, mito -. fantasma que
iiude e assombra nossa já tão diffcil
tra cena, a única "cena de cama" do
filme, uma prostituta representa uma
olham, brincam, se abraçam; suprem
juntas um pouco do que lhes falta (ao
briga com seu cafetão. Motivo "clássi- contrário mais uma vez da puta-mltica
identidade sexual. Também não é um de Jorge Amado, solitária, auto-
boieráo estilo Bethânia (... "se meu co*':o dinheiro que ela escondeu. Para
o filho. Mas a "atriz" está bem demais suficiente). A parte esses pequenos
passado foi lama..." i que marca as carinhos entre mulheres, não há re-
primeiras imagens de Mulheres da Ba- no papel, representa a si mesma e seu fresco para nossa imaginação perversa
ça, mas a voz frágii de Yoko Ono 6dio é real quando o homem a joga na
cama e ela chuta com as duas prrnas que deseja fazer da prostituição o lu-
cantFndo "It Happens" ("Acontece"1... gar da sensualidade feminina iibera-
E nesse tom que segue o filme. para cima gritardo sai sni M o é
er6rica a cena do quarto mas também da. Do ponto de vista das prostitutas
Inês Castiiho (jornalista).Cida Aidar de As Mulheres da Boca. o sexo é
(psicblogai e as outras mulheres e ho- não é ex6tica. náo faz o g€nero mundo negçicio desenerglzado. Questão de so-
mens da equipe de Mulheres da Boca cáo (.Marilia
~ ~,~ Pera em ' Pixore"
~~~~~~~~~ ~ ~~~ ~. ourra
~~~~ ~ ~~ ~~
brevivência ...
aproximam-se do cotidiano da prosti- puta criada por um homem, mostran-
do enojada o feto na lixeira do banhei- Do ponto de vista da puta, o ero-
tuição no centro de São Paulo. Sem tismo é uma fantasia para homens.
buscar o áiibi do distanciamento cien- roi. E comovente: uma mulher esper-
tífico - o filme não se apresenta como neia e grita contra sua completa des- Maria Rita Kehl
MÚÇICA
de prazer? ~~
Segundo ela. as dificuldades para
fazer o folhero foram muitas "Procu.
ramos, no 1evan:amento dos assuntos.
ser simples e diretas, empregar pouca
O grupo Sexualidade e PoUtica. de
são Paulo, acaba de lançar o folheto -...-.
elaborarao
.~ te6nca e transmilir c:ara.
~~~ ~ ~~~~
AAP
m A luz no fim do beco
manda ver'
A APEM-RJ (Associaçáo de PeS-
Surgiu no Rio de Janeiro, em mar-
ço, a mais nova publicação feminisra
hrawleira R rrvicia Sai de Beco l u .
~
fadas. com ilustraçóes de Lúcia Avan-
cini; artigus de Marhel Darcy de Oii-
Y P L (~' Onressãn da mulher: a b l o m a
~
locas
de
mayo Professoras
perdem
@- establlldade
A garantia que as professoras de
escolas particulares de 1~ e 2" graus do
Estado de São Paulo tinham de não
serem demitidas nos Oito primeiros me-
ses de gravidez foi derrubada pelos pa-
tróes. no último dissídio da categoria.
Agora elas têm estabilidade apenas nos
I34 dias de licença que são dados pela
CLT, e mais 60 dias após a volta ao
trabalho.
Inconformadas. professoras de algu-
mas cidades. como Campinas, tentam
propor acordos internos nas próprias es-
coias. Mas estes parecem difíceis pela
Plaza de intransigência dos proprietários de esta-
belecimentos de ensino que, durante a
Mayo, reunião do dissidio. disseram "jóias" co-
Buenas mo estas: "Determinadas professoras es-
tão-se engravidando só para manter a
Aires, estabilidade". "estas professoras que vão
abril parir às custas de outros e não dos
estabelecimentos de ensino" e ainda "na
de 02 minha escola mulher não entra sem exa-
me de urina". Pode?
o A Fundação Carloo Chagas acaba Mepilnt, publicação feminista esco- pabilizam as mulheres tendem a provocar
de editar um trabalho Útil para os interes- cesa.'em seu último número, traz a rese- um efeito contrário. Como Jacobson diz,
sados em estudos sobre a mulher e, em nha do livro de Bobbie Jacobson The o modo de ajudar alguém que fuma por
geral, sobre a contribuiçáo dos viajantes Lidyt lllers (Pluto Press). Inesperada- sentimento de culpa não e lhe aumentan-
estrangeiros para a documentação dos mente. o livro trata de tabagismo entre as do a culpa. FÚlvla Rosernberg.
costumes n o Rio de Janeiro no seculo mulheres. A autora, feminista, diíerente-
passado. Trata-se de A mulher no Rio de mente do que vem ocorrendo na biblio-
Janeiro, no oéc. XIX - Indice das refe- grafia sobre tabagismo. náo culpabilira
rências em livros de viagem de estrangei- as fumantes. Mas procura entender este
ros, de Miriam Lifchitz Moreira Leite, hábito integrando-o na compreepão da
Maria Lúcia de Barros Mott e Bertha posição subalterna da mulher. E assim
Kauffmann Appenzeller. Nele se apresen- que, para transmitir seu recado, usa as
tam as referências classificadas por as- mesmas técnicas aprendidas nos movi-
sunto, por data e por autor; e a referência mentos de liberação, que náo deixam as
bibliográfica completa das obras utilira- mulheres se sentirem nem seres absolu-
das no levantamento. tamente irracionais nem exceções soli-
tarias.
Analisando as diferenças entre os
sexos no vício de fumar, Jacobson salien-
o Reflexóes sobre a condição histbri- ta que uma maior igualdade sexual pode-
cafeminina nas sociedades capitalistas e. ria explicar porque um maior número de
em especial. na sociedade brasileira, es- meninas começa a fumar, mas não por-
tão reunidas em O lugar da mulher - que as mulheres tem maior dificuldade
Estudos s6bre a condlção feminina na que os homens de largarem o cigarro.
sociedade atual, recente lançamento da Sua explicação: enquanto o homem
Editora Graal. O livro é organizado por tende a fumar para aumentar o seu pra-
Madel T. Luz, e apresenta estudos de zer, as mulheres, por sua condição de
Anette Goldberg, Jacqueline Pitanguy, vida, usam o cigarro como forma de se
Mary Pimentel Drumont. Lelia Gonzalez. livrarem de culpa e frustração. Neste
Celina Albano, Paula Montero e Elça de sentido, as campanhas antifumo que CUI- ilustração do livro Con Gti Occhi Der Bambino
Mendonça Lima.
,?\;>>
Y
rl
-- AGENDA
O O Centro da Mulher BrasileirsiSP pro- A I I Sessão Extraordinaria das Na- sity Park, Los Angeles, CalifÓrnia 90007
moveu em março o lançamento do livro ções Unidas sobre o Desarmamento (de 7 - E.U.A. (De um informe enviado ao
Ser ou não ser feminista. de Ana Monte- de junho a 9 de julho de 1982) será Mulherio por Mary Garcia Castro).
negro, jornalista, advogada e poetisa. acompanhada por uma série de eventos 3,; .--
Ana foi fundadora, em 1949, da Federa- paralelos (conferências, marchas, etc) or-
ção das Mulheres no Brasil e do extinto ganizados por uma Secretaria internacio- A exemplo do que vem acontecendo
jornal Momento Feminino. No livro, ela nal de Ligação (ILO)sediada em Nova com outras associações, a intercom (So-
da um testemunho de sua experiência York. Entre as dezenas de movimentos ciedade Brasifeira de Estudos Interdisci-
como militante do movimento de rnulhe- mobilizados pelo desarmamento encon- plinares da Comunicação) também orga-
res no Brasil e no Exterior. tra-se a Liga Internacional de Mulheres nizou um grupo de estudos sobre mulher:
pela Paz e Liberdade. que previu, para o "Mulher e Comunicação", coordenado
@F- acontecimento, a realização de uma Con- por Dulcilia Buitoni. Para maiores infor-
ferência internacional de Mutheres. maçoes entrar em contato com Manolo
O prlmeiro número do internaclonal A ILO está solicitando adesães, apoio Morán, rua Conceição R. Pugliese. 135-
Supplement to t h s Women's Studres financeiro, etc. Para maiores informa- Butantã - 05587, São Paulo, SP -fone:
Querterly traz um artigo de Leni Silvers- ções: Internacional Liaison Office, River- 813-3523
tein sobre o Encontro Feminista Latino side Church Tower. 191490 Riverside Dri- Mulherio compartilhou o espaço, du-
Americano, poemas de poetisas portu- ve. New York, N. Y. 100027. rante o mês de março, da mostra "Peque-
guesas, reportagens sobre o Instituto de L.... I
na Imprensa: Faça uma assinatura" orga-
Estudos de Mulher da Universidade de nizada pelo Café Paris (av. Valdemar Fer-
Beirute, sobre um programa do governo De 7 a 10 de junho de 1982 será reira, 55 - São Paufo-SP). Obrigada,
jamaicano para treinamento de mulheres realizado em Lima (Peru) o Congresso arn igos.
em profissões nZlo tradicionais, um artigo Pesquisas sobre a mulher na Região An-
sobre pesquisa com mulheres rurais, um dina, organizado pela Peru-Mujer. Para
programa de curso e bibliografia sobre maiores informaçôes, comunicar-se com
mulher de desenvolvimento. A revista po- Peru-Mujer, Avenida Espana 578 - 301, ENDEREÇOS
de ser encontrada na Biblioteca da Fun- Lima 5, Peru.
Desde o ultimo número de Mulherio,
dação Carlos Chagas. Para envio de arti- z-:,.- em que publicamos uma lista de grupos
gos sobre pesquisa e ensino, o endereço A Latin American Çtudies Association de mulheres por todó o pais, novas enti-
8 : Box 334, Old Westbury, New York
11568. Estados Unidos.
- LASA - reuniu, em março, cerca de dades surgiram, outras nos deram notícia
1.200 pesquisadores e estudiosos num pela primeira vez. Bom sinal: sinal de que
encontro sobre temas relacionados com estamos crescendo, mexendo. Anote ai
a América Latina. Considerou-se entre- os novos endereços, para atualizar sua
Informe-se com lÇlS - um material tanto que o número de sess6es sobre lista.
de leitura e referbncia obrigatória para estudos relativos a mulher foi insignifi- - Revista Sai do Beco Mulher. Cajxa
quem quer se informar sobre as ativida- cante, J aque 30% dos membros da U S A Postal 21.163, CEP 20.110, Rio de Janei-
des dos grupos feministas de todo o são mulheres. ro, RJ.
mundo: assim é ISiS, boletim internacio- O próximo encontro da associação -Grupo de reflexão "Elas por elas".
nal editado por um coletivo de mulheres será realizado de 29 de setembro a 10 de Mesmo endereço anterior.
em Genebra e em Roma. Cada número, outubro de 1983. na cidade do México. O - SOS Mulher. Rua Coronel Neves.
com cerca de 30 paginas, traz artigos de grupo denominado "Task Force on Wo- 114, Bairro Medianeiro, Porto Alegre, RS.
análise e informaçóes sobre o feminismo. men of Latin American Studies Associa- 90.000.
O primeiro numero de 1982 é inteiramen- tion", que realiza as sessões, filmes E -Associação de Mulheres de Piraci-
te dedicado ao I Encontro Feminista Lati- conferencias sobre a mulher na LASA, caba. R. Ajudante Albano, 447, São Di-
no-americano e do Caribe. Há edições em propós que neste encontro sejam debati- mas, Piracicaba, SP, 13.400.
inglgs e em espanhol. E vale a pena dos os seguintes temas: A mulher na - União d2s Mulheres de Santa Bar-
assinar, sem risco de perder o dinheiro: a produção e reprodução. Estado legal da bara. R. João Lima, 16, Santa Bárbara do
revista sai regularmente a cada trés me- mulher na colônia, Feminismo na Ameri- Oeste, ÇP, 13.450, fone (0194) 63-1335.
ses, e existe desde 1976. O valor da ca Latina e Pesquisa Feminista. - CEVAM (mudança de endereço).
assinatura anual B de 20 dólares para As pessoas interessadas em apresen- k u a 90, no 999, Setor Sul, Goiânia, GO,
pessoas particulares e grupos feministas, tar trabalhos (em inglas, espanhol ou 74.000.
e de 25 dólares para bibliotecas e institui- português) devem entrar em contato com - Grupo de Trabalho Sexualidade e
çóes. Envie seu nome, endereço e um Beth Miller: Associate Professor, Univer- Politica: rua Cardeal Arcoverde, 2109,
cheque em ddlar para ISIS. Via Santa sity of Southern California, Departamento Pinheiros, CEP 05407, São Paulo, SP,
Maria dell'Anima 30. 00186, Roma, Itália. of Spanish and Portuguese, USC Univer- fone 814-5753.
Preparem suas canetas, seus gravadores,
suas anotações: já estão abertas as
inscrições para o 3" Concurso de Dotações
para Pesquisa sobre Mulher, realizado
pela Fundação Carlos Chagas com recursos
da Fundação Ford. Qualquer pessoa pode-se
candidatar a receber uma verba
de até 1,5 milhão de cruzeiros para
desenvolver um estudo
nas diversas áreas
relacionadas h mulher.
Mas atenção: as Inscrições
encerram-se no dia 20 de agosto.
~
I
Pode se inscrever no concurso Itrabaihos não encontraiam condi- na avaliação de programas como no
qualquer pessoa ou grupo depessoas ções de serem desenvolvidos através aproveitamento que grupos de mu-
com residência permanente no Bra- dos canais tradicionais de dotação lheres possam obter do trabalho.
sil, independentemente de seu grau de verbas."
de graduação ou do fato de estar ou) Como inscrever-se
não ligada a uma instituição. Os tra- Inovar as abordagens
baihos serão julgados por uma co- NBo há um iormuiário especfflco
missão organizadora composta por Anaüsando os concursos anterio- para inscrição do projeto, mas todas
pesquisadoras da Fundação Carlos res, as participantes da comissão or- as propostas deverão ser apresenta-
Chagas (Cannen Barroso. Cristina panizadora mostram o desejo de Que das em quatro vias contendo:
Bruschini. Fellcia Madeira, Fúlvih este avance mais, em v&riossentidos. 1) Rojeto de no máximo 20 pági-
Rosemberg); da Universidade Fede- Um deles sena a ampliacão do irque nas datilograiadas em espaço duplo.
ral de Minas Gerais íGlaura Vasques de assuntos pesquisados c a aborda- incluindo blbliograiia, dlscussão
de Miranda): do Instituto Universitá- $t.m de temas que ainda sao insufi. conceitual e metodolopia.
rio de Pesquisas do Rio de Janeiro cientemente rstudados no Brasil. co- 2) Cronoerama ío trabaiho deve
1Neuma Aguiari e do Instituto Supe- mo a mulher no Bmb:to privado, sua
rior de Estudos da Reiigião,do Rio rrlicão com a famli!a sexual!dade
(Leni Silverstein), assessoradas por
15 especialistas que examinwZo os d a de crianças, minorias raciaibmu-
projetos relativos B sua área de lher na literatura e estudos de abor-
estudos. dagem hist6rica.
Este é o terceiro concurso pro- Não há restrições a nenhum te- %a a que se tenha candidatado i0
movido pela Fundação Carlos Cha- ma que diga respeito & muiher. mas limite de financiamento é de 1.5 mi-
gas. O primeiro. realizado em 1978. sem dúvida, alguns deles já merece- lhão de cruzeiros. mas os candidatos
recebeu 121 candidatos e uma verba ram grande numero de estudos. Car- devem-se preparar para, eventual-
de ate 120 mil cruzeiros para cada men Barroso diz: "Talvez o problema mente. obterem uma verba inferior
projeto. Vinte foram aprovados e fi- não seja nem mesmo a existência de ao teto estabelecido.)
nanciados. Entre os pesquisadores, temas muito investigados, mas de 4) Curriculum vitse, incluindo es-
havia desde iniciantes. ainda estu- abordagens tradicionais desses te. pecificação das atividades profissio-
dantes universitários, ate pesquisa- m.?a Um bom exemplo de aborda- nais atuais, carga horária e remune-
doras consagradas, como Heleieth gem nova em cima de uma temática ração ou bolsa de todos os pesquisa-
Saífioti e Branca Moreira Aives, que já bastante pesquisada - a mulher e
I
dores.
posteriormente prepararam livros o trabalho - apareceu no segundo 5) DUW cartas de recomendação.
com o resultado de suas pesquisas. A concurso: dois projetos abordaram o Em caso de a pesquisa ser utiiizada
prbpria Fundação Carlos Chagas 01. trabalho a domicliio. uma relação D ~ tese.
B uma carta deverá ser do
ganhou duas coletâneas de artigos pouco estudada". &lentador.
dos pesquisadores. A primeira, lan- Qualquer que seja o tema esco- 8) Uma página de capa contendo
çada sob o tltulo de Vivèneia, foi ihido. e importante que o candidato o titulo e breve resumo da pesquisa
editada pela Brasiliense. A segunda, conheça o que já existe sobre o as- proposta, e o nome, endereço e nú-
com artigos sobre trabalho da mu- sunto, fazendo um bom levantamen- mero de telefone do pesquisador
lher. deve sair ainda este ano. to bibliográfico. e procure apresentar principal. a quem dever8 ser diriada
O segundo concurso, em 1979. um projeto que avance em relação & a correspondência.
teve 139 candidatos. dos quais 19 produção anterior. Qualquer pessoa Embora não haja normas rigidas
tiveram seus projetos financiados pode solicitar a lista dos projetos para a apresentação das propostas,
em ate 200 mil cruzeiros. Ele revelou aprovados nos concursos anteriores, seria interessante s u e os candidatos
uma grande diversificação na fonna- bem como consuitar a biblioteca da as formulassem de-maneira precisa,
ção das pessoas interessadas no as- Fundação Carlos Chagas, que tem explicitando a reterèncla conceituai
sunto: além de cientistas sociais, um vasto acervo sobre mulher. da pesquisa ou o contexto compara-
participaram também médicas, ar- As integrantes da comissão orga- tivo, a contribuição especlfica do
quitetas, artistas, advogadas e enge- nizadora manifestam o desejo de es- projeto para o conhecimento do te-
nheiras. timular a colaboração inter-regional ma, a relação entre o projeto e a
Desta vez, espera-se que o i n t e ou interinstilucional no desenvolvi- literatura sobre o assunto, a bibiio-
resse seja ainda maior. Como diz mento de projetos especlficos. Lem- graiia utilizada, e, por fim. as fontes e
Glaura Vasques de Miranda. "depois bram também a importância da par- a natureza dos dados a serem coleta-
dos concursos da Fundação Carlos ticipação de pesquisadores dos mais dos. O interessado também poderá
e Chagas e da publicação dos traba- diversos Estados do País. pois nos amesentar cboias de trabaihos já
I lhos, a pesquisa sobre a situação da dois concursos anteriores, a maioria
mulher, antes relegada a segundo dos projetos vinha do eixo Rio-São
2 plano na área acadêmica, passou a Paulo, seguindo uma tendhcia con-
ser considerada um assunto sério. centradora da pr6pria cultura nacio-
w Além disso, os concursos abriram um nal nesta região.
canal de participação para novos Ressaltam, ainda, a importância
pesquisadores, já que determinados de se vincular pesquisa e ação, tanto
3
~