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-
ANO 2 No7
MAIO-JUNHO 1982
C 6 100,OO

f:-

"_.>

ATENCÃO !
MULHERES
TRABALHANDO
da habitação, o que nos faz perguntar:
Feminismo e política "Náo será o próprio papel social atribui-
Os grupos feministas devem do a mulher que restringe sua sexualida-
de?" Mais uma vez. a resposta é positiva.
ou não participar de congressos No grupo de discussão "Mulher e
sobre mulher patrocinados por trabalho'' foram levantados temas alta-
partidos políticos? mente relevantes: a discriminação sala-
Qual é a relação entre feminismo ria1 e de função da mulher trabalhadorae
sentido da CLT. Entretanto. não houve
e política? espaço para discutir a questão da divisão
E as federaçóes, sexual d o trabalho na familia. Ora, e
devem ser criadas já? exatamente ai que se encontra a origem
Neste número dos problemas que a mulher vai enfrentar
no mercado de trabalho. exercendo ativi-
recebemos três cartas dades que não são mais do que um mero
- de Belo Horizonte. desdobramento de sua função na famiiia:
Belém e Imperatriz (MA) que - ocupando funçóes desqualificadas, uma
vez que suas responsabilidades domésti-
abordam, de uma maneira
cas impedem um maior treinamento: limi-
ou de outra, o problema. tando-se a atividades de tempo parcial
que não prejudiquem otrabalho domésti-
co, considerado sua atividade naiurai. (...I
Essas reflexões explicam a não parti-
cipação d o CDM no Encontro deste ano.
Mais ainda, acreditamos que congressos
desta natureza não fazem mais do que
perpetuar a opressáo e conter o avanço
do movimento de libertação da mulher.
Centro de Defesa d o i Olreltos
da Mulher, Belo Horlronte. MO.

"Federação rnaranhense
oigan laca0 de m
, movimento adtoiomo é farsa política"
Minas: "Não queremos que loca ze seJs proolemas especil C05
perpetuar a opressão"
Acontece que a coordenação 00 En- No dia 6 de março passado, sob o
contro , J g a que poi'tica e aqb o qLe se pretexto d o 1" Encontro da Mulher Mara-
O Centro de Defesa dos Direitos da 'az só nos partioos e quando mu to nos nhense, realizado em Imperatriz a convite
Mulher (CDM) não participou. este ano. sind calos Nos acreditamos q-e iodo da dra. Lindalva Amorim. um número de
da coordenação do Encontro da Mulher aproximadamente 1.500 mulheres lotou o
grdpo social oprtm ao qde se organiza e
..... .. -, realimdi
.Mineira pavilhão da antiga Prece Poderosa. Acon-
Idia para acabar com st.a opressão está
solicitac~~. ~~ ~ ~ ~~ ~

fazendo po'tica. como é o caso das tece que aquele local tornou-se u m "cur-
por os motivos que nos levaram a adotar assoc ações de oaivo. movimento negro. ral eleitoral" do PMDB, inclusive com o
tal atitude. Acreditamos que esses escla- movimento feminista. mov mento dos ho- lançamento da candidatura a deputada
recimentos possam abrir um saudável mossexuais e outros. estadual da coordenadora do encontro.
dabate no movimento de mulheres de No encontro do ano passado, tive- Por ISSO, vimos a público denunciaralgu-
Minas Gerais. mos que suportar na plenária mais de três mas das arbitrariedades desse encontro:
As divergências que temos com as horas
.-.de .~ discuçsáo
.~~~~~~~ sobre a iusteza ou
1. Não houve discussão nem em gru-
~~~ ~

organizadoras destes Encontros come- não da luta pela Constituinte.' (...I pos nem em plenário sobre os problemas
çam desde a fase de sua preparação. No grupo de trabalho "Mulher e Se-
xualidade" recebemos uma lista que pro- da mulher, que constavam da pauta, tais
Dizem respeito a uma questão que pode, como mulher e trabalho, mulher e saúde,
i primeira vista, parecer banal mas que punha discutir o fenómeno da prostitui-
organizacão da mulher;
acarreta conseqüèncias de extrema im- ção. da violência e da insatisfação sexual:
portância: quem organiza um Encontro o l".entendido comoresultado do desem- 2. A coordenadora d o encontro usou
de Mulheres? Para as coordenadoras a prego, o 2".com o resultado do capitalis- daquele momento para realizar um gran-
resposta é simples: "quem quiser". Para mo e da ditadura e o 3'. como resultada de comicio onde estiveram presentes os
nos, a organização de um Encontro de das condições precárias de habitação. lideres poiiticos que foram os Únicos que
Mulheres deve ser uma tarefa de entida- Acreditamos que, embora a prosiilui- puderam usar da palavra:
des que efetivamente tenham um traba- ção possa crescer com o dssemprego,
lho com mulheres: setores femininos, este Último não cria em si o fenõmeno da 3.No p c o n t r o foi criada a Federação
grupos feministas e organizações que prostituição. Ela é sobretudo o resultado da M u lh í. Maranhense. sem nenhuma
desenvolvem programas, campanhas e da constituição ideológica e moral da base de organização e representatividade
lutas do interesse especifico da mulher. nossa sociedade que. para preservar a no Estado;
A composição da coordenação da "santidade" da maioria das mulheres,
forma como ela vem se dando, provoca especializa outras no comércio do sexo, 4. A diretoria foi escolhida pela dra.
distorçóes que se refletem na escolha do fragmentando a sexualidade feminina em Lindalva. que se auto-indicou presidente
temário, no encaminhamento dos deba- maternidade para as "santas" e :'promis- e escolheu as outras representantes da
tes nos "grupos de trabalho". na organi- cuidade" para as prostitutas. chapa, que na maioria não estavam pre-
zação da plenária e no sistema decisório. Quanto a violência contra as mulhe- sentes;
Em relação a este último. o CDM e res, acreditamos que ela não é resultado
outras organizações de mulheres tiveram imediato da situação política nem mesmo 5. Antes d o encontro não houve qual-
seu voto completamente diluido pela pre- do regime econõmico de produção. O quer divulgação de que ali seria realizada
sença majoritária, na Coordenação, de fato da violência ser canalizada no espan- a eleição da diretoria da Federação;
entidades não representativas. Com todo camento, estupro e assassinato de mu-
o respeito a luta que vêm travando por lheres. nos faz perguntar: "será que exis- 6. Como prova de que essa Federa-
suas respectivas categorias. não nos pa- te algo especifico a condição da mulher çáo não tem representatividade no Esta-
rece legitimo que, não estando engajadas que a torna alvo 1.50 cotidiano da violên- do, temos o fato de que a dr' Lindalva só
efetivamente no movimento de mulheres, cia?" Acreditamos que sim. Estaespecifi- conseguiu juntar esse número de mulhe-
oeodam SODfe seJs de51 nos cidade é justamente a fragilidade do seu res a custa de "iscas políticas" como
0 - a n t o aos temas d SCL~IOOS nestes papel social, a sua posição submissa e prêmios. consultas. lanches e promessas.
Encontros parecem a primeira vista a. impotente frente a supremacia masculi-
iamsnte relevantes oara a mdlher Acon-
~~ ~ ~ ~~~
~

tece, porém, que a maneira de encami-


.~ ~~ na, a relação de posse que se estabelece
entre o homem e a mulher.
Esse acontecimento. além de usar as
mulheres como trampolim numa jogada
nhar a discussão vai :icando cada vez Certamente. as condições precárias política, das mais baixas. é também u m
mais longe da gente. de moradia influenciam na realizaçáo se- ato desonesto. (...) Somos a favor da
Assim, por exemplo, n o grupo de xual de um casal. No entanto, a insatisfa- participacão da mulher nos partidos poli-
trabalho "Mulher e Po1itica"somosorien- ção sexual tão corrente em nossa socie- ticos desde que a militãncia politico-par-
tadas para discutir a participação da mu- dade se manifesta em mulheres que se tidária náo seja feita dentro dos movi-
lher nos partidos e sindicatos e jamais a encontram nas mais diversas condições mentos o u entidades especificos da mu-
Iher. Por tudo isso, achamos que a Fede- "As mulheres que estão atrás das
raçáo aqui criada não é legal e náo mamas", além "satisfazerem sua auto-es-
poderá ser contada para a criação da Elogios: que bom! tima", alem de "do prazer de se dar a um
Confederação Nacional da Mulher. ser muito querido" podem simplesmente
Francisca dos Santos (seguem mais 10 Tem sido uma "coisa boa" e uma experimentar um gozo que talvez não se
assinaturas). Imperatriz, MA. agradável surpresa ler o jorna! Mulherlo. permitissem sem a presença do bebê
~ ~ Surpresa e curiosidade, pois ao mesmo para legitimá-lo.
tempo que sabíamos que o grupo da Esquece também que atrás da mama-
Pará: "Encontro Fundação Carlos Chagas em qualquer deira pode estar qualquer pessoa, ate
arbitrário e equivocado" área que atuasse garantiria o chamado mesmo um homem, que pode assim se
"alto nível" de sua produção, por outro iniciar nos deleites de melhorar sua auto-
Queremos registrar nosso mais vee- lado existia a duvida de como ela traba- estima e se dar a um ser muito querido.
mente repudio a condução do II Encontro lharia com o novo, o provocador, o desa- Aibertina Costa, SP
da Mulher Paraense, realizado em dezem- fio. Desafio de colocar a publico, na
bro, em Belem, sob a coordenaçio arbi- "praça", um produto que, tradicional-
mente, a Fundaçáo só deu acesso a uns Ainda a França
trária e equivocada de mulheres ligadas
as tendências políticas encampadas pe- poucos privilegiados. E a estes, ainda que
los jornais Hora do Povo e Tribuna da n u m t o m ultimamente"progressista", Li com certo espanto a carta, enviada
Luta Operdrla, encontro esse cujo objeti- sempre mantendo seu invólucro acade- por Leda Beck, sobre meu artigo "A
vo principal foi arrancar a qualquer preço micista. O que aconteceria? Como seria? escolha das francesas". O que estranhei
uma comissão pró-Federação de Mulhe- E aí, a agradável surpresa. Um produto de foi a suposição de que minha exposiçao
res no Estado, justificadora de uma Fede- bom nível, bonito, bem feito e que _..(ora, estivesse baseada em u m "lamentavel
ração de Mulheres no 11 Congresso da vejam! que beia surpresa!) se posiciona equivoco" ou que minha informação vies-
Mulher Paraense em 1982. frente a fatos, gente, idéias. "Suja" as se de "fontes tendenciosas". Não me
mãos! Sai de sua posição asséptica E parece que o conteúdo da proposta de
neutra do trabalho de alto nível para a participação eleitoral que discuti tenha
O que seviu desde o inicio do Encon- Vida! que ser desqualificada apenas porque foi
tro foi um vasto arsenal panfletário, enfa- assumida pelo grupo que se chama (com
tizando a questão partidária como solu- E assim eçtamos vendo (e vivendo) ou sem razão) MLF.
çáo para todos os problemas da mulher e alguma coisa que a mim era meio longín-
relegando a segundo plano questões fun- qua, quando a Fúlvia dizia numa discus- Sem desconhecer os conflitos que
damentais tais como custo de vida, habi- são sobre alternativas metodológicas pa- dividem os grupos feministas na França,
tação, creches, além de questões concer- ra a pesquisa, que "através davinculação foi meu objetivo discutir uma posição que
nentes a sua organização politica e parti- com grupos de açáo procuramos colocar considerei inovadora. Sei bem que a sigla
cipação ativa nas reivindicações junto a o produto de nosso trabalho a serviço de MLF já não corresponde a totalidade do
sociedade. (...) uma prática transformadora da realidade movimento feminista francês e, por isso
estudada". mesmo coloquei entre parênteses a expli-
cação - MLF (Movimento de liberação
Que amadurecimento tem o movi- E o Mulherio esta aí, Vivo. Atuante. das mulheres. grupo ligado a Editions
mento de mulheres no Para para vir a se Toda força a vocbs! Pertenço aquele gru- des Femmes). Pareceu-me esta a forma
constituir em tão breve tempo - março po de educadores também interessado mais econòmica para indicar que nem
de 82 - em Federação? Quais associa- nas práticas de transformações sociais, e todas as mulheres feministas aderiram a
ções ou movimentos organizados de mu- quero dizer a vocês que estou me empe- posição eleitoral por mim descrita. Neste
lheres legitimará0 tal Federação? Onde nhando numa campanha de assinaturas contexto, não me pareceu importante
estava a "vanguarda" feminina que es- do Mulherio, para que o jornal cada dia descrever as divisões e subdivisões do
bravejàhoje por uma Federaçao e que mais garglnta u m espaço próprio e tenha movimento, o que não quer dizer que
sequer esboçou o menor protesto quan- mais condições de "brigar" por este es- considere irrelevantes os motivos que
do pelo menos cinco mulheres foram paço, de forma independente. Um abraço geraram conflitos. E por saber das discor-
assassinadas "por amor" nos úitimos e.. feliz aniversário!!! dâncias que acredito na necessidade de
anos em Belém? Isto só nos vem reafir- Lisete Arelaxo, SP. divulgar e discutir as razões e os efeitos
mar que essa discussáo só foi colocada políticos das diversas posições. Para nós,
em pòucas entidades femininas existen- brasileiras, o debate será muito mais
tes hoje porque ainda se está num pro- Eu não leio portugu&s. apenas consi- positivo se compararmos diferentes atua-
cesso de procurar reconhecer as causas go entender alguma coisa através do que ções concretas em lugar de censurar a
e a verdadeira origem da discriminação conheço do espanhol, mas o jornal real- divulgação das atividades de um dos
da mulher. Como está nosso movimento mente me deu vontade de aprender. Vo- grupos. O que procurei foi apresentar um
no Estado, só poderá sair agora uma cês estão fazendo um belo trabalho. (...) exemplo e um ponto de vista a respeito
Federaçáo de cúpula. Queremos uma en- Vamos Inciuir Mulherio na próxima atua-
da relação eleições e movimentos sociais
tidade construída pela base. Nada de lizaçâo de nosso guia sobre recursos e e acho que este e o momento para conti-
cupuiiçmo! (,..I periódicos feministas para que outras
nuarmos este debate, sem reproduzir as
Zenlide Soares (seguem mels pessoas conheçam o trabalho de voc6s.
intolerancias que dividem o movimento
17 asslnaturas), Belérn PA. Jennifei L. Newton. Editora do de mulheres na França.
"Resourcer for ierninlet
rereerch", Toronto, Cenedd. Esta carta foi uma oportunidade para

Assine Ah, as mamas


retomarmos' este assunto e porisso foi
bem-vinda.
Ruth Cardoso, SP

Soa um pouco esquisito que um arti-


go chamado "Amamentar e urna boa?"
Devido ao nosso limite de espaço,
Assine Mulherio e ' ganhe (Mulherio no 6) seja tão preocupado com solicitamos que as cartas enviadas a
o objetivo funcional de nossas glândulas Mulherio para publlcagão tenham um
um exemplar de graça. O exem- mamarias e tho displicente com o fato de máximo de 30 linhas datilografadas.
plar avulso custa Cr$ 100,00, e que amamentar possa ser uma ativldade
prazenteira apesar de exaustiva.
a assinatura anual apenas Cr8
500,OO (para o Exterior o preço
é Cr) 800,OO). Para assinar,
envie um cheque nominal em Conselho Editorial - CXmen Barro- na Bruschlnl, Cdstlna MussI, Fellcia Madei-
so, Carmen da Silva, Crlstlna Bruschinl, ra, Helena Balem. Lals Tapajds, Maria Car-
nome da Fundação Carlos Cha- Elizabeth Souza Lobo, Eva Alterman Blay, neiro da Cunha, MarlskR Rlbeiro, Michellne
gas ao seguinte endereço: Mu- Fiilvis Rosemberg. Heleleth Saffiotf,Lblia Lagnado, Wanda Vestlehner e Leda Cris-
Gonzalez, Maria Carneiro da Cunha, Maria tina Orosco.
lherio, av. Prof. Francisco Mo- Malta Campos, Marla Moraes, Maria Rita Jornalista Responsavel - Adélia Bor-
rato 1565, CEP 05513, São Kehl, Maria Valéria Junho Pena, Marilia de ges. Registxo no MTB no10.680, SJESP 4549,
Andrade, Mai-iza Correa e Ruth Cardoso. Mulherio é uma publicação bimes-
Paulo, SP. Num papel anexo, Redação - Adélla Borges e Fúlvia tral. Aceita colaborações. Pede-se permuta
Rosemberg (editoras), Marlene Rodrlgues com outras gublicaçdes do gênero.
relacione seu nome, endereço (edlçno de arte) e Mirlam Tanus (secretária). RedaçBo: FundaçHo Carlos Chagas,
completo, profissão e telefone. Além das pessoas que assinam materias, Av. Piof. Franclsco Morato 1555, CEP
também colaboraram neste número: CriSti- 05513. 890 Paulo, fone 211-45i1, ramal 247.
Maria não trabalha. Ela só cuida da

O trabalho casa e das crianças, faz o serviço de


casa. Ou seja, varre, encera, arruma as
camas, vai a feira, faz todas as compras,
prepara a comida, serve a comida, lava a
louça suja do café, do almoço e do
jantar, lava as roupas, passa as roupas,

dignifica o
alimenta, lava, cuida e educa a s crian-
ças. Depois de tanto trabalho, Maria fica
cansada. Mas, como 6 com trabalho do-
méstico que ela se ocupa, todo mundo
diz que ela não trabalha.
No mundo das estatísticas, traba-
Lho doméstico não remunerado é con-

homem. Já fundido com inatividade - dessa for-


ma, as cifras apresentadas pelos Cen-
sos Dernográficos e Pesquisas Educa-
cionais por Amostras de Domicllios

-.--
(PNADs) indicam que, em 1980, ape-
nas 26,W’ das mulheres brasileiras de

mulher, auem
mais de 10 anos trabalhavam, eram
economicamente ativas.
Quando alguns economistas ame-
- ricanos resolveram calcular em dinhei-
- -I ---- ro o valor do trabalho doméstico reali-
zado “de graça” pelas mulheres, o re-
sultado foi surpreendente: o trabalho

dignifica?
A r - .
doméstico constitufa, nos Estados
Unidos, mais de 25% do Produto Na-
cional Bruto.

Mu Ihe r trabalha
Entre 1970 e 1980, . mais que o homem
o número de mulheres No Basil, entre 1970 e 1980, o nu-
que trabalham mero de mulheres que trabalham fora
passou de 18,5% para 26,9%. Mas se as
fora de casa estatísticas incluíssem as donas-de-
passou de 18,5% casa no conjunto das mulheres que
trabalham, iríamos verificar que a pro-
para 26,9Q/0. porpao das mulheres que trabalham é
Mas as condições muito parecida com a dos homens -
75,5% delas s80 “ativas”. E mesmo
de trabalho tendo um emprego fora de casa, as
não mudaram muito: mulheres continuam responshveis pe-
las tarefas domésticas, cumprindo
etas continuam dessa forma uma dupla jornada de
ganhando menos trabalho. Por isso, trabalhadoras com
responsabilidades familiares em geral
que os homens, trabalham mais que os homens e che-
-- ocupando 8s funções gam a realizar 70 a 80 horas semanais
de trabaiho, segundo um estudo recen-
de menor prestígio te pubiicado pela Organização Inter-
e enfrentando nacional do Trabalho.
Maria também decide arranjar um
várias formas de emprego, mesmo sabendo que vai ter de
diacriminação. fazer o serviço de casa i noite ou anfes
de sair de casa. Mas sabe que a maioria
dos empregadores prefere as soIteiras.
Os patrões acreditam que as mulheres
casadas faltam mais ao trabalhos por
---ll____T causa de seus encargos familiares.
Desde 1974, os encargos sociais
decorrentes das leis que protegem as
trabalhadoras grávidas foram transfe-
ridos para o INPS. Mas, mesmo mim,
88 mulheres casadas ainda continuam
a sofrer restrições por conta de suas
obrigagdes familiares.
Arranjar trabalho em fábrica n8o
é fác11. Entre 1950 e 1970, diminuiu a
participação das mulheres na indús-
tria. Com a utilização de uma tecnolo-
gia sofisticada, houve pouco aumento
de novas oportunic’ades de emprego e
exigência de m8o-c ?-obra mais quali-
ficada. Esse requisito a mulher quase
nunca pode satisfazer, porque tem
sempre menos oportunidades do que
os homens de receber formação profis-
sional. Hoje, 80% das operárias brasi-
leiras trabalham em indústrias téxteis
e de vestuário.
De maneira geral, o mercado de
trabalho oferece muito poucas oportu-
nidades de emprego para as brasiiei-
ras: em 1970,mais de 8O% das mulhe-
res trabaihavam em apenas 10 ocupa-
ções cilferentes, todas elas de pouco
prestfgio e baixa remuneração: empre- Um argumento lembrado para v a m grávidas. E as operMas têm rei-
gadas domésticas, trabalhadoras TU- “justificar” que as mulheres recebam vindicado constantemente em seus
rais, professoras primárias, funciooná- menos do que os homens tem sido o de congressos a abolição de uma humi-
rias de escritbrio, costureiras, iavadei- que elas trabalham, em média, menor ihante prova mensal de não gravidez
ras, balconistas, serventes, enfermei- número de horas, No entanto, em nos- que muitas empresas continuam a
ras e tecelãs. so pafs, 24,5% das pessoas que traba- aplicar em suas empregadas.
As mulheres de nível médio de lham mais de 40 horas semanais são Para sair para trabalhar, Maria pre-
instrução estão participando cada vez mulheres. Claro que h& um número cisa deixar as crianças bem cuidadas e
mais de ocupações administrativas e reIativamente maior de mulheres que em segurança. Mas onde é que ela vai
ligadas ao comércio, atividades que se trabalham menor número de horas encontrar uma creche? Desde 1943 a lei
expandiram graças ao acelerado pro- Mas esse fato pode ser explicado tanto obriga as empresas com mais de. 30
cesso de indus trializaçfto. Para as mu- pelo menor nlrrnero de oportunidades empregadas acima de 16 anos a manter
lheres das classes menos favorecidas e que a mulher encontra, quanto pela um berqário para as crianqaç que estão
com baixo nível de instrução, a situa- necessidade de conciliar a vida profis- sendo amamentadas. Mas essa lei nun-
çao é dramática: as possibilidades de sional com as obrigações familiares. ca é cumprida porque a penalidade pre-
trabalho se limitam &s ocupações rela- vista para seu não cumprimento é irrisó-
tivas ii prestação de serviços, quase ria.
sempre como empregadas domésticas, As muitas batalhas Mêsmo que as empresas cumpris-
ou ao trabalho no campo. da trabalhadora sem a lei, o problema não estaria resol-
vido. Seria preciso pensar em berçá-
Depois de arrumar um emprego, nos e creches para os filhos das empre-
As condições de Maria vai ter de lutar para ter s u a gadas domésticas, das trabalhadoras
tra baIho, carteira de trabatho assinada e poder autônomas e das trabalhadoras rurais.
receber os benefícios do sistema previ- E depois é preciso levar em conta que,
sempre piores denciário: quase 48% das mulheres não mesmo quando a empregada conta
têm sua carteira assinada. Se Maria for com creches na empresa em que traba-
Além de encontrar pequeno núrne- trabalhar como empregada doméstica, lha, nem sempre é possível, nas gran-
ro de oportunidades, as mulheres en- ntd: garante que ela vá receber salbio des cidades, transportar com seguran-
frentam sempre piores condições de minimo, ter descanso semanal de 24 ça recbm-nascidos por longas distàn-
trabalho: suas atividades são discrimi- horas consecutivas e 13’ satario - essas cias, dentro de vagões ou ônibus su-
nadas. elas nBo têm acesso aos cargos questões são projetos de lei já apresen- perlotados, fato que se agrava ainda
de chefia e as funções que exigem tados ao Congresso, mas até o momento mais no caso das empresas que man-
maior qualificação. Eva Blay pesqui- nenhum deles foi aprovado. tém convênios com creches distantes
sou a indústria paulista e verificou que A CLT determina que não C moti- do local de trabalho.
nos trabalhos que não exigiam espe- vo justo de rescisão de contrato o
cialização, havia uma mulher para ca- casamento ou a gravidez’ da mulher.
da três homeils; nos que exigiam qua- Mas o Judiciário está repleto de casos Maria Otllia Bochini ’
lificação média, a relação era de urna de mulheres dispensadas durante a
mulher para seis homens e, finalmen- gravidez. Em pesquisa realizada em Essa matéria e um resumo do capitulo sobre
te, naqueles que exigiam pessoal de 1975 junto aos chefes de pessoal de 22 mulher e trabalho elaborado por Crlstlna
nível superior, a proporção era de uma empresas representativas do comércio Bruschlni e Felicla Madelra do relatório ”Mu-
mulher pra cada 19 homens. e da indústria de São Paulo, a advoga- lher, Socledade e Eitado no Brailt” O reiato-
Ate nas ocupações consideradas rio foi elaborado por uma equipe da Fundação
da Marly Cardone constatou que ape- Carlos Chagas cQm a coordenaçáo de Carmen
femlninas, como é o caso do magisM- nas sete n8o despediam as emprega- Barroio, sob encomenda da UNtCEF e sera
rio, observa-se que a partlcipaç8o das das quando estas se casavam ou fica- editado em breve pela ürasiliense
mulheres diminui B medida que au-
mentam o prestfgio e o çaiSuio. AS
rnuiheres compõem 95% do magistério
primwo, mas $6 60% do rnasgistério
do 2” grau. No ensino superior a por- incluíssem
centagem de mulheres cai para 23%. das donas-de-casa
A segregação das mulheres em
peiicas ocupações traz ainda um pre- veríamos que
juízo gravfssimo: o rebaixamento dos a proporçãio das
salários. Como há grande quantidade mulheres que
de m8o-de-obra concentrada em pe-
queno número de “trabalhos de mu- trabsf ha m
lher”, os salários das mulheres conti- 4 muito parecida
nuam a ser proporcionalmente meno-
res do que os dos homens. Dados bas- com a dos homens:
tante recentes do Censo Demográfico 75,5%
de 1980 mostram que quase 30% das
mulheres ganham até meio salário d- As trabalhadoras
nimo. Mais da metade das mulheres com responsabilidades
(53,14)ganham menos de um srù8no
mfnimo. fa mila res
Um estudo Feaiizado pelo Ministé- chegam a realizar
rio do Trabalho, em 1976, mostra que,
em todas as regióes brasileiras, os sa- 70 a 80 horas
lários das mulheres $80 inferiores aos
salários dos homens em igual nível de
I I I .. I ‘ semanais
‘ instruçgo. Pesquisas realizadas pelo 53 de trabalho.
demógrafo Paulo Paiva confirmam
que em condições semelhantes de ida-
de e de instrução, 8s mulheres são
claramente discriminadas em termos
de seus ganhos. Nas ocupações em que
a participação feminina é maior, como
na categoria dos professores e nas
ocupações domésticas remuneradas e
de serviços, a discriminação é ainda
mais evidente,pois a mulher que nelas
trabalha não chega a ganhar nem a
metade do que ganha o homem. Em
todas as profissões exercidas na indús-
tria paulista, os homens recebem salá-
rioihora 57% maior do que o das mu-
lheres, segundo pesquisa reaiizada pe-
lo Instituto de Pesquisas Econômicas
(IPE), da Universidade de São Paulo.
Neste tribunat,
o réu 6 a
discriminação
A luta contra a discriminaçeo
no trabalho foi uma das primeiras
preocupações dos movimentos de
mulheres no Brasil. Mas, embora
seja um problema antigo, as con-
quistas nesse campo ainda são
pequenas, pois dependem de uma
ampla conscientização da socie- mudar
na
dade a esse respeito. Agora, mu-
lheres de diversos grupos feminis- ----
tas de São Paulo pretendem dar
um passo frente: vsio promover o

velha
Tribunal Bertha Lutz, para, a
exemplo do famoso Tribunal Ber-
trand Russel, provocar agitação
em torno do tema e discuti-lo mais
profundamente.
No Tribunal serão julgados to-
dos os tipos de discriminações que
a mulher sofre no trabaIho. A pri-
meira sessão será realizada no dia
CLT .*

29 de maio, em local ainda a ser


anunciado publicamente. A apre-
sentação do Tribunal ficara com a
atriz Bete Mendes, a presidente da
sessão seFá a advogada Zulaiê Co-
bra Ribeiro e os jurados convida-
dos serão representantes de diver-
sas entidades: OAB, ABI, Comis- I L I
são Justiça e Paz, Comissão pró- Comba Marques Porto 1
Central bica dos Trabalhadores,
Dieese, Une, além da economista
Maria da Conceição Tavares, da
jornalista e psicóloga Carmen da Nesse artigo, Combe, advogada e membro
Silva, do ex-ministro Severo Go- do Movimento de Mulheres Proflsslonais em Dlrelto
mes e da jornalista Helena Silvei- do Rio de Janeiro, mostra como a CLT
ra, entre outros. Presidirá o juri a
socióloga Eva Alterman Blay. discrimina o trabalho da mulher
A primeira parte da sessão e sugere modificações na lei.
terá um painel sobre a discrimina- Está aberta a discussão.
ção na educação, a formação pro-
fissional. o trabalho doméstico, a
participação sindical e racismo, A legislação trabalhista brasileira creches, a prestação de horas extras e
com depoimento de médicas e é paternalista e protetora em relação A o trabalho noturno. Vejamos.
mulher. Mas essa “proteção” nos inte-
agrónomas. A segunda parte dis- ressa? Até que ponto ela não acaba Maternidade - Nesse assunto, o
cutirá a mulher e a legislação tra- por legitimar conceitos discriminatb- aspecto mais relevante diz respeito
balhista, com a participação de rios, como o de “sexo naturalmente estabilidade da gestante. A CLT deter-
trabalhadoras agrícolas, professo- frágil”, o de que a mulher se equipara mina que a mulher não pode ser demi-
ras e empregadas domésticas. Ha- ao menor ou, ainda o que deixa os tida por ter casado ou por estar gr6vi-
verá ainda projeção de filmes e filhos sob sua responsabilidade exclu- da. Isso, no entanto, não lhe garante
slides sobre o tema. siva? por completo a permanência no em-
Como num tribunal de verda- prego. Todos sabem que é bem alto o
de, haverá um “julgamento” da Nos últimos anos, o governo vem índice de dispensa das mulheres quan-
acenando com a possibilidade de mo- do casam e principalmente quando
discriminação. A atriz Assunta dificar a CLT (Consolidação das Leis. engravidam. A lei deveria assegurar
Perez será o advogado do diabo e do Trabalho). Em 1978, uma comissão que a mulher, nessas condições, não
o ex-ministro Almino Afonso, o de juristas liderada pelo ministro Ar- fosse demitida senso por justa causa,
advogado de defesa. No final, o naldo Sussekind fez circular um ante- comprovada por inquérito feito pela
júri se pronunciará. projeto de alteração do capltulo sobre Justiça do TrabaIho. Deveria ainda ser
Mas o Tribunal Bertha Lutz o trabalho da mulher e do menor. garantida a estabilidade provisbria da
não se esgotará em sua sessão gestante. de forma que Q empregador,
Discutido pelo movimento femi- além de ter de pagar o período de
inicial. Ele será um fbrum perma- nista e pelos sindicatos, com o objeti- licença para o parto (84 dias), tivesse
nente de denúncias de discrimina- vo de encaminhar criticas e sugestões d e indenizar a ernpr lgada pelo perlodo
ção, onde as mulheres terão espa- ao Congresso, o anteprojeto acabou contado entre a ’.ata da dispensa
ço para apresentar os problemas por ser engavetado. Mais recentemen- (mesmo que ela ocorra, por exemplo,
que enfrextam em seu cotidiano te, os jornais têm publicado notícias no segundo mês de gestação) até o
iie trabalho. As denúncias pode- genéricas a respeito dos trabaihos de inicio do afastamento. Essa solução
rão ser enviadas por escrito & rua uma nova comissão encarregada de importaria em tornar mais difícil a
Cardeal Arcoverde, 2109, C E P elaborar um novo Cbdigo de Trabalho. demissão que jamais é justificada pelo
Mas nada há ainda de mais concreto. empregador pelos seus reais motivos.
05407, Pinheiros, São Paulo. Após O que sabemos é que nem a velha CLT Outra reivindicação importante
a sessão inicial, serão editados os de 1943 nem o anteprojeto formulado seria a inclusão de um dispositivo que
Cadernos do Triburial - um dos- pelo Ministério do Trabalho em 78 garantisse a mulher uma estabddade
siê contendo as denúncias rece- atendem plenamente realidade atual temporária apds o término da licença
bidas. da mulher que trabalha. Pelo menos para o parto. A CLT não prevê o abono
nos pontos mais importantes, como a das faltas que, na verdade, são muitas
Leda Crlstina Orosco proteçfto h maternidade, o direito a quanto termina o afastamento e o
bebê ainda precisa de cuidados espe-
ciais. Mais interessante ainda seria
estender ao homem idêntica estabili-
dade temporária, como prevè, por
exemplo, a legislação sueca, para que
o nascimento dos filhos não acabe por
acentuar uma desigualdade de oportu-
nidades entre o casal.
Quanto a licença a gestante, ela
deveria mesmo se restringir a um pe-
ríodo mínimo durante o qual é impres-
cindjvel a presença da mãe junto ao
bebê. Países mais avançados, inclusi-
ve os sociaiistas, tendem a aumentar
esse período. No entanto, pensando na
realidade brasiIeira, acreditamos que
a prorrogaçáo viria a reforçar o desem-
prego da mulher, criando nais um
obstáculo $I sua contratação.

Creches - Rarissimas são as em-


presas que levam a prática esse dkei-
to. São também rarissimos os casos de Contato, confidências, sonhos- essas coisas que
reclamações trabalhistas em que se se passam dentro dos banheiros das fábricas
reivindica o cumprimento dessa nor-
ma. As mulheres não só desconhecem têm muito a ver com nossos anseios de liberdade.
o conteudo da lei, como em geral Por isso, o banheiro 6 visto pelos patrões
ignoram que as leis trabalhistas são
assunto de ordem pública. Além disso, como “perda de tempo” e pelos colegas homens
a obrigatoriedade de creches é coloca- como o símbolo do espaço “usurpado” no mercado
da de forma muito difusa na CLT. A lei
apenas determina que as empresas de trabalho: o lugar onde ele não
com mais de 30 empregados devem pode entrar para controlar a mulher.
manter creches próprias ou convênios
com instituições desse tipo, mas as A repressão Ida ao banheiro, o controle
firmas burlam a fiscalizaçáo, surgem excessivo dos chefes sobre-os minutos que .
a s creches fantasmas e a trabalhadora
n8o encontra solução p ar a o pro- ali são gastos constituem uma das
blema. principais queixas das operarias quando
Historicamente, o direito ? creche
i falam de seu cotidiano de trabaiho. Aqui,
sempre foi pensado apenas em relaçáo Maria Rita Kehl e
ti mulher. Parte-se do errôneo pressu-
posto de que a responsabilidade pela Carmen da Sllva analisam o assunto.
criação dos filhos cabe exclusivamen-
te a ela. Uma forma de resolver esse
problema seria o funcionamento das
creches prõximas aos locais de mora-
dia, mantidas pelo Estado em convê-
nio com os empregadores, como um
espaco de
direito assegurado na parte geral da
CLT.
Horas extras e trabalho noturno - Maria Rita Kehl
Também nesse ponto, a CLT consagra
um tratamento desigual entre homens Quando mulheres trabalhadoras vitais tentando assim eliminar ou re-
e mulheres, considerando a mulher o se queixam da repressão no cotidiano duzir no ser humano tudo o que não se
sexo frágil, utilizando-se de um concei- da fábrica (ou do escritório, ou da adapte ao ritmo da produção, não
to patriarcal de proteção. A questão é plantação) e das más condições de acontece somente na grande indús-
delicada e um grande complicador da trabalho, há um elemento constante tria. As quebradeiras de castanhas no
discussão é exatamente o tipo de ex- entre suas reclamações: o excessivo Estado do Pará, trabalhando e m con-
ploração a que os trabalhadores estão controle sobre as idas ao banheiro. dições bem menos mecanizadas, recla-
expostos num pais capitalista como o “Contra o controle de tempo para ir ao mam da ausência de sanitários no
nosso. Parece-nos errado que os traba- banheiro” foi uma das reivindicações local de trabalho, ou do pequeno nú-
lhadores necessitem completar o po- das metaldrgicas no seu 10 Congresso mero e péssima instalação dos banhei-
der aquisitivo de seus salários prestan- em São Paulo, e m março de 1978. Em ros existentes. Numa pesquisa sobre a
do horas extras que os levam h exaus- seu livroipesquisa sobre a operária me- mulher bóia-fria no interior de São
tão. Nesse sentido, a restrição deve-se taliugica, Rosaüna de Santa Cruz Lei- Paulo encomendada pela Copersucar
estender a homens e mulheres. Já o te relata queixas de mulheres operá- na década de 70, constatou-se que
trabalho noturno deveria ser realiza- rias, prejudicadas (em relação aos co- uma da razões principais que levavam
do-se s6 em situações em que se torna legas homens) no tempo permitido pa- a trabalhadora recém-casada a aban-
essencial, não cabendo a proibição ra as idas ao banheiro. Queixam-se donar o trabalho eram os ciúmes do
que a lei impõe ti mulher e que, nas também de que em muitas fábricas o marido (e seu próprio pudor) pelo fato
atuais condições do mercado de traba- sistema de controle (ter de pedir a de que a inexistência de qualquer tipo
lho, acaba por excluí-Ia. Quai terá sido chave ou a chapinha para o chefe) as de banheiro no canavial obrigava a
a intenção do legislador, quando em obriga humiihaçao de terem de justi- mulher a fazer xixi em campo aberto,
i943 determinou tal proibição? O ar- ficar sua necessidade de ir ao banhei- exposta às gozações dos outros traba-
gumento de que “não fica bem” mu- ro, para o superior que controla a Unha lhadores.
lheres andando pela noite para exer- de montagem. A questão tem um aspecto concre-
cer o trabalho jA não cabe em nossa Em “Vida de Mulher”, a operhia to, real e bastante elementar: a mulher
realidade. Até porque no contrato de Maria Mendes da Silva dá um deaoi- demora mais tempo no banheiro por-
trabalho, por seu caráter privado, pre- mento ciarfssimo a este respeito:-“... que seu corpo é diferente do corpo
valece a vontade das partes contratan- quando a mulher trabalhadora fala em masculino; algumas de suas funçôes (a
tes. E que melhor que as próprias menstruação, está dizendo que tem menstmaç8o, a gravidez) requerem
trabalhadoras. orientadas por seus que ficar no banheiro mais tempo do maiores cuidados de higiene e idas
sindicatos, para saber se a execução que as fábricas permitem’’... mais frequentes ao sanitário; aiém do
do trabalho noturno as interessa ou Essa modaiidade d a repressão, que, sendo anatomicamente mais ex-
não? que atinge o corpo em suas funções Posta a doenças e infecçdes, a mulher
\

Um espaco de
contestacão
Carmen da Silva
@ c
Entrada proibida: é ai mesmo que internatos masculinos do passado ou
a gente quer entrar. Homem não chega seus equivalentes proletários: o gal-
precisa da garantia de banheiros mais nem perto de alguns redutos ditos pão, o fundo do quintal, o baldio onde
limpos. Ou seja: a fisiologia da mulher “femininos” onde, aliás,ele seria mui- eles se mediam, comparavam, toca-
“rouba” mais tempo da produção e to bem recebido: a cozinha, a mesa do vam, contavam vantagens.
exige do capitalista um investimento chá, as sessões de tricô para os pobres, Na verdade, o homem sente como
ligeiramente maior nas instalações sa- as entrevistas no colégio dos filhos. uma usurpação o espaço que a mulher
nitárias de sua indústria. Soluça0 (pa- Mas basta a mulher reservar para si passou a ocupar no mercado de traba- ,
ra O patrão, nâo para a trabalhadora): um espaço exclusivo, ainda que rnlni- lho. Ressentimento engolido em silên-
reprima-se a mulher até que ela adap- mo, para que ele se sinta raivoso, es- cio porque ele é o patrão que explora
te seus hábitos e seu corpo As exigén- corraçado, despeitado. Se, por exem- essa mão-de-obra a preço vil ou é o
cias da fAbdca. plo, ela quer usar a sala cada tanto, parente ou companheiro que se benefi-
para reunir-se com companheiras fe- cia do salário dela. Assim, a má-
Mas pesa ainda outra acusaçao mininas, é um Deus-nos-acuda. vontade masculina se canaliza contra
sobre a mulher trabalhadora: a de que No ámbito laboral- fábrica, escri- o espaço flsico da “ocupação”: o ba-
ela iria ao banheiro para ’fazer hora’. tório, repartiçHo - o espaço que os nheiro onde ele não pode entrar para
Para bater papo (nos raros casos em incomoda i2 o banheiro. Segundo os controlá-la
que se permite a ida de mais de uma patrões, o lugar onde o pessoal vai
mulher de uma vez), para descansar, fumar, conversar, perder tempo. Dai No plano mais profundo, atuam
os regulamentos limitando a freqiiên- nele velhos terrores ligados a fantasias
para pensar na vida. Enfim,para que- cia e proibindo a entrada conjunta. inconscientes da infância. A mulher
brar o ritmo constante e mecanico d o Mas é curioso: os prbprios trabalhado- entregue aos ritos do corpo torna-se
trabalho. O que talvez seja verdade, e res que reclamam dessas restrições temível pelo seu mistério: afinal, esse
nos leve a pensar um pouco mais a para eles as aprovam para as colegas corpo detém o segredo da origem da
fundo no que a mulher traz, do “mun- do sexo feminino. T a m b é m e le s vida. Invejada porque sua fecundida-
d o feminino” (o lar) para o mando do acham que o banheiro é o espaço espe- de a faz poderosa, ao mesmo tempo e
trabalho. Não apenas um corpo mals cífico da contestação e cuidado com a repudiada como “suja” (de sangue
difícil de se discipiinar. Nao apenas mulheres que aí se juntam para enfei- menstrual, de secreções sexuais), isto
uma anatomia menos adapthvel. Mas tar-se, faIar de futilidades, criticar é a imagem da mãe “corrompida”
uma profunda rebeldia em relação ao seus homens, contar intimidades de pelos desejos edfpicos do filho. A mu-
tempo do trabalho. alcova, confrontar experiências e, lher no banheiro (e n8o é i4 toa que a
quem sabe até, fazer brincadeiras ho- pintura, que nos deu tantas “Madon-
A relação da mulher com o tempo, mossexuais. Idéias obviamente calca- ne”, deu também tantas banhistas)
na casa, passa necessariamente pelos das nas recordações dos colégios e seria bruxa, deusa, carne impura.
ritmos da vida: o tempo das criançase
suas exigências de descanso, de demo-
r a em cada pequena tarefa, de “distra-
çáo”, de variações. O tempo da cozi-
nha com sua simultaneidade de tare-
h s e seus pequenos intervalos - para
um cigarro, u m suspiro, um café, urna
música no rádio. Não que a vida do-
mdstica seja o paraíso da mulher -
longe disso, muitas vezes ela é sentida
como uma pris80. MBS a mulher em
casa e na relação com os fiihos tem
alguma margem de determinação so-
bre seu tempo, seu ritmo, suas para-
das. A mulher e seu corpo “complica-
do”, a mulher e seus nove meses de
espera, a mulher e seus intervalos para
dar de mamar, a mulher e seus varais,
seu rkdio sempre ligado, seus dois mi-
nutos de sonho debruçada na janela
da rua - a mulher é portadora de uma
rebeIdia fundamental em relação ao
tempo do trabalho.

A aparente trivialidade das reivin-


dicaçbes femininas sobre as idas ao
banheiro revelam muito mais do que
uma diferença fisiolbgica ou u m a
“consciência despolitizada” (por que
reivindicw o direito a ir fofocar no
banheiro em vez de pensar em coisas
mais sérias? Será o banheiro um “es-
cape” que ilude a operária de sua
condiçiio de oprimida?). Revelam que
a mulher ainda procura maneiras de
manter sua integridade afetiva no
mundo do trabalho. Fofocas. Contato,
confidências, intimidades; suspiros,
desejos, tristezas, sonhos - e essas
coisas que só se passam dentro dos
banheiros d as fábricas, têm muito
mais a ver com os nossos anseios de
liberdade do que pode parecer.
trabalhadora
cumé
fica ?
Lélla Gonzalez
Os meses de maio e junho nos gra se sente com todo o direito de (leia-se: racista). Afinal de contas, para
trazem datas da maior importância. perguntar: “Afinal, que abolição foi a cabeça desse “público”, a trabalha-
Elas dizem respeito às duas comunida- essa que, 94 anos depois dela ter acon- dora negra tem que ficar na “seu lu-
des a que pertencemos: a comunidade tecido, a gente continua praticamente gar“: ocultada, invisível, “na cozinha”.
negra e a comunidade trabalhadora. na mesma situação?” Na verdade, o 13 Como considera que a negra 6 incapaz,
Com relação h primeira, temos duas de maio de 1888 trouxe beneficias pra inferior, não pode aceitar que ela exer-
datas nacionais: 13 de maio, comemo- todo mundo, menos para massa traba- ça profissóes “mais elevadas”, “mais
rativa da chamada abolição da escra- lhadora negra. Com ele iniciava-se o dignas” (ou sej% profissóes para as
vatura, e 18 de junho, data da criaçao processo da marginalização das traba- quals s6 as mulheres brancas são ca-
d o M o v i m e n t o Negro Unificado lhadoras e trabalhadores negros. Até pazes). E estamos falando de profis-
(MNU),em São Paulo, em 1978,90anos aquela data elas e eles haviam sido sões consideradas “femininas” por es-
depois da dita aboIiç8o. Com relaçso à considerados bons para o trabalho es- se mesmo “piiiblico” (o que também
segunda, temos a data máxima dos cravo. A partir daquela da ta passaram revela seu machismo).
trabalhadores de todo o mundo no dia a ser considerados d n s , incapazes Numa profissão como a de atriz,
10 de maio. Essas três datas e m muito para o trabalho livre. Pois é... por exemplo, pode-se perceber muito
a ver umas com a outras, quando bem como funciona o racismo “a la
pensamos na nossa condição de mu- HB poucos dias, uma amiga me brasileira”. Por que será que no teatro,
lheresitrabalhadoras negras. contou que havia telefonado para uma no cinema ou na tevê as atrizes negras
Já no no 3 do Mulherio, apresenta- agência de empregadas domésticas a só vivem personagens secundanos e
mos uma série de dados relativos ao fim de conseguir uma babá que cui- subalternos (sobretudo como empre-
lugar da mulher negra na força de dasse de seu bebê durante a noite. gadas domésticas) ou, quando muito,
trabalho, Ali, a gente constata que, em Responderam que poderiam mandar personagens que fazem o gênero “er6-
virtude dos mecanismos da discrimi- uma pessoa com todas as quaiifica- tico-exótico”? Será por que são profis-
nação racial, a trabalhadora negra tra- ções para o trabalho, mas havia um sionais incompetentes ou por que s6
balha mais e ganha menos que a tra- problema: ela era negra. Espantada, tém oportunidade de desempenhar
balhadora branca que, por sua vez, essa amiga respondeu que isso não era papéis que reforçam a imagem de infe-
também é discriminada enquanto mu- problema para ela. Foi e ntã o que riorização da negra? A gente sabe, por
lher. Vimos que 879” das trabalhado- aquela voz gentd do outro lado da exemplo, o que aconteceu com Vera
ras negras exercem ocupacões ma- linha retrucou: “A senhora sabe, náo Manhães por ocasião da montagem de
nuais, justamente nos setores OU sub- é? Não 6 que a gente tenha alguma ’‘ Oabriela, cravo e canela” na tevê:
setores de menor prestfgio e pior re- coisa contra. Mas acontéce que nossas preferiram dar o papel-tftulo para a
muneraçao; e 60% dessas trabalhado- clientes não contratam babás negras. “morena” Sônia Braga (cuja capacida-
ras não têm carteira assinada. Por Elas preferem as portuguesas”. de profissional n8o está sendo questio-
essas e outras é que a mulher negra nada aqui, de modo algum). Claro que
permanece como o setor mais explora- Esse fato serve de ilustração para Sônia não teve qualquer responsabih-
do e oprimido da sociedade brasileira, o ‘que dissemos acima e para algo dade quanto ao fato de ter sido ela a
uma vez que sofre uma trípiice discri- mais: toda atividade que signifique escolhida. Mas (e estou falando do
minação (social, racial e sexual). lidar com o poblico “seleto” exclui a romance) a Gabriela “original” não
trabalhadora negra, a começar pelas tem nada de “morena”, e sim de negra.
Incapazes par& o trabalho livre atividades de bab8, copeira, na área Pois é, questao de “boa aparência”.
Nossa situaç.ão atual não é muito do serviço doméstico. No entanto, se o Voltando às datas citadas, o 18 de
diferente daquela vivida por nossas negbcio é ser cozinheira, arrumadeira
ou faxineira, não há problema se a junho tem a ver com as outras duas
antepassadas: afinal, a trabalhadora empregada for negra. exatamente porque foi justamente o
rurai de hoje não difere muito da “es- Movimento Negro Unificado que pro-
crava do eito” de ontem; a empregada Têm que ficar “no seu lugar” pôs, dentre muitas outras coisas, que
doméstica não é muito diferente da passássemos a considerar o 13 de maio
“mucama” de ontem; o mesmo pode- Aquele papo do “exige-se boa apa- como o Dia Nacional de Denúncia
ria dizer-se d a vendedora ambulante, rência”, dos anúncios de empregos, a contra o Racismo. Entre outras razões,
da “joaninha”, da servente ou da tro- gente pode traduzir por: “negra não porque a o comemorarmos o I* de
cadora de ônibus de hoje, e “escrava serve”. Secretária, recepcionista d e maio, a gente não pode deixar de pen-
de ganho” de ontem. grandes empresas, balconista de buti- sar na situaçao de desigualdade e infe-
Assim, o l0 de maio tem a ver com que eiegante, camissária de bordo etc riorização em que o racismo mantém o
o 13 de maio. Enquanto trabalhadora e tal, são profissões que exigem conta- trabalhador negro e, sobretudo, a tra-
superexplorada de hoje, a mulher ne- to com o tal do púbiico “exigente” balhadora negra, desde maio de 1888.
A situação política
na América Central
ocupa hoje as
manchetes de jornais
do mundo todo:
de um lado, ativos
movimentos guerrilheiros
tentam tomar o poder,
como em E1 Salvador,
De armas na mão, a
ou mantê-lo,
como na Nicarágua; tentativa de mudar o país
de outro lado, Cerca de 50% da população de E1 antes de completar clnco anos de ida.
Salvador não sabe ler nem escrever, de, por doenças e desnutrição
as ameaças d e invasão mas sabe contar - e fazer -a hist6ria
por parte dos Estados deste pequeno pafs da América Cen- Responsabilizando o governo por
tral. acomodado entre Honduras. Gua- essa sltuaçao. cinco organizações ar-
Unidos temala e Nicarágua, na costa doOcea- madas de esquerda constirulram a
ou de seus aliados. no Pacffico. O analfabetismo. indica- Frenre Farabundo Yartl de Liberta-
~~~~~~~ ~ ~~~~~~~ ~~

dat importante do nível de desenvolvi- çao Nacional e intensificaram as ativi-


Mas quase nada se fala mento ou subdesenvolvimento de um dades de guerrilha no país. A Frente
sobre a participação pais. não cegou a maioria dos cinco tem um destacamento, o "pelotão S11-
milhóes de habitantes diante de uma via'', inteiramente feminino. Milhares
ativa das mulheres realidade que, fora dos 22 mil quilõme- de mulheres estão armadas para lutar
nos movimentos de tros quadrados que compóem o tem- contra o inimigo comum, como parte
tório salvadorenho. chega em forma da miiicla ou dos gmpos de guerriiha.
libertação da América de estatística. Elas podem ser encontradas nos pa-
Central: hoje elas ocupam péis de liderança e nas fileiras de luta.
Ko dia-a-dia. ao longo dos ultimos
40% dos postos d e 50 anos, essa população governada por Cerca de 40% do comando do
sucessivas ditaduras militares vem so- Exercito Popular RevoluclonMo es-
comando da Frente Irrndo das mais maves
~~ ~- ~. .~ dnenrai
~ .
ciais: o pals tem três médicos e 11
__
çn- tHo com as mulheres. Nas comunida-
des onde se desenrolam as operações
Democrática leitos de hospital para cada 10 mil müitares, a participação feminina 6
Revolucionária, pessoas, quando a relação indicada essencial, reforçando as barilcadas.
em El Salvador, e pela Organização Mundial de Saúde é cuidando das comunicações. escon-
de um médico para cada mil habitan- dendo combatentes, dando ajuda aos
na Nicarágua, tes: 60% da população dispõe de me- feridos.
depois de lutarem nos de dez dólares (ou menos de dois Ana Guadalupe MartineZ, mem-
mil cruzeiros) de renda "per capita"
pela queda de Somoza, por mês; em contraposição. 2% da bro de liderança da FMLN. diz em seu
população detém mais de 60% das livro "Os cárceres clandestinos de Ei
continuam B frente terras cultiváveis e 60 famílias acumu- Salvador": "NO caso da mulher, os
na luta pela lam toda a riqueza do pais. abusos sexuais e a ameaça de estupro
estão entre as principais formas de
reconstrução do país. De cada 100 crianças, 50 morrem desmoralização usadas pelo aparato
'.

V s i ~ n d oo guerr!lheiro sssssslnado
repressivo. Para t.smens e mulheres,
este tipo de tortura representa um
esforço no sentido de banir nossos
valores ideol6gicos, aqueles que nos
dão senso de dignidade, honra e co-
ragem',.
Quando vitimas diretas do regime Uma das lreqiianles batida8 ~011~1818
repressivo do pais as mulheres. mais
uma vez. sSo subjugadas com requin- submissão da classe trabalhadora, o
tes sado-masoousias não comuns en-
~~~ ~~~~~ ~~~~~~~~

tre os homens prisioneiros. Muitas de-


~~~ ~ ~~~~~~~~~ ~~~

movimento popular organizou-se n o


ias inclusive grávidas, foram presas e vamente e as mulheres se juntaram as
torturadas diante de seus fühos. vio- lutas de companheiros. N o mesmo
lentadas por gnipos de policiais, "co- ano. surgiram organizações. essencial-
biçadas" sexualmente numa iingua- mente femininas. que reivindicavam a
gem obscena e 'sorteadas' para rela- libertação dos presos politicos: o comi-
ções sexuais que, obviamente, deverão tê das mães dos prisioneiros poüticos e
atender a todos os desequiübrios de o comitê pela libertaçáo dos presos
um torturador profissional. As forças poüticos e desaparecidos. Esses gru-
do general José Ciuillermo Garcia, mi- pos faziam greves de fome. organiza-
nistro da Defesa e principal homem do vam demonstrações e concentrações
poder de E1 Salvador, com seus 22 mil em igrejas.
soldados, entre Exército e Ouarda Na- Assim, as mulheres foram assem-
cional (os guerrilheiros somam seis rando sua presença nas organizações
mil). também se especiaüzaram em populares que constituem a Frente
matar os fiihos diante das mães. jo- Democrática Revolucionária e. desde
gando-os para o ar e disparando um 1910, quando a luta pela libertação se
numero de tiros suficiente para des- intensificou no pais, aumenta progres-
truir completamente qualquer resqui- sivamente sua participação nas ativi-
cio de vida. Em juiho de 198C, por dades poüticas e na guerrilha.
exemplo, 31 pessoas da famíiia Majica
Santos foram assassinadas pela orga-
nização pára-militar Orden, incluindo- Céiia Chaim
se neste grupo um bebê de 15 dias.
A luta das mulheres salvadore-
nhas tem força histórica. Por longo
tempo, elas tiveram participação dire-
ta nos movimentos populares. Em O LUGAR DA MULHER
1921, as mulheres que trabalhavam
nos mercados de San Salvador s a í r a m LBlIa Gonzalez, Madel Luz, Mary Drumont, Paula Mon-
ãs ruas. com o suporte de outros gru- tero. E I v Lima. Anelle Goldberg. Ceiina Albano e Jacquell-
pos, para protestar contra as medidas n e Pilanguy refletem sobre identidade feminina e opressão,
antipopuiares que haviam sido insti- nas diversas situações sociais.
tuídas pelo governo Melenda. Foram
também revolucionárias na her6ica in- Receba "O LUGAR DA MULHER" pelo reembolso postal,
surreiçáo camponesa de 1932, brutal- por apenas CiJ 570.00. Basta preencher este cupom e
mente reprimida pelo governo da épo- . ,,, envia-lo para EDIÇOES GRAAL Lida., Rua Hermenegildo de
ca. com 30 mil oessoas massacradas. Barros 31-A, Gloria, CEP 20241 Rio de Janeiro RJ. fone
Houve uma a d & ã o ~substancial das 252.8582.
mulheres na greve Brazos Caídos, em r------ _____------____-----_____________
1944, quando o general Hernãndez
Martinez foi destituido.
; Nome 1
I
I Endereto I
Uma das organizações que perma- I CEP CIDADE ESTADO- I
nece viva na mem6ria das salvadore- I PROFIÇÇAO
I
nhas é a Fratemidad de Mujeres. Em I
I Assinatura:
1960. esta organização uniu-se ã Fren-
te Nacional de Orientação Civica e i (Não mande dinheiro agora. Voc8 pagara somente quando receber os livros). II
tirou o coronel Lemus do poder. Em
1977, depois de i0 anos de aparente
que SOU t a t a i m e n t q a favor d a ieminili.
zaCHo d o m u n d o E ISSO que Ialta"

Apesar da repercussão que "Ei Sai-


vador: Another VIelna" vem tendo na
Eutopa e Estados Unldos, parece que a
In1e.içá.o do grupo que fez o fllme era
mels modesta em termos de públlco.

Te&: A nossa intenção era a de

As câmeras de Tetê atualiza,' um documentário feito para o


canal 13 dos Estados Unidos, uma emis-
sora náo .:omercial. 8 partir das mudan-
ças politicrsqueocorreram com e.chega-

registram o parto da do cow-l,oy maluco, Ronaid Reagan, B


presidimcia. Com ele, a política externa
norte-americhna começou a mudar, acir-
rando-se o co.ifronto Leste-Oeste. Politi-

de uma nova nação camente. o f i h e feito para a TV enveihe


ceu. Outro prob'ema era de ordem técni-
ca: televisão e uma coisa, cinema 6
outra. Resolvemo;, então, fazer um filme
para cinema, com nenos "closes" e mais
TetP. Vasconcelos é u m a brastleua filme, "E1 Salvador: O u t r o Vietnã", na tomadas gerais. Ti.iha que ser um filme
de 30 anos que. há quasesete. resolveu bagagem. A exlblçao no Museu d a analitico. basicamente voltado para orga-
deixar o B r a s i l oara ~..
~ ~~
s t_u_
~~
d_a rP...
~
I.~.P P I I ~ I m a g e m e d o Som. e m São Paulo. f o i nizar o movimento nivteamericano con-
nos E s t a d o s ~ ü n i d o sEstudou
. n a Cali- tumultuada, resultando n a apreensão tra a intervenção de Rtagan em El Salva-
fórnia. aprendeu n a prática'e escolheu d a cópia pela Censura Federal. O filme dor. Este movimento está forte e bem
o gênero documentário "para falar de teve u m a grande repercussáo interna- organizado. tanto que a grande imprensa
u m a maneira mais p r á t i c a e rápida cional e foi um dos indicados para o VOItou a falar. diariamei te, da guerrilha
t u d o o que queria". T e t e começou co- Oscar n a categoria de documentaiíos. salvadorenha. preocupaç.io que não teve
m o montadora. participando de p r o durante muito tempo.
duções sobre usinas nucleares. sobre a L i d a n d o c o m uma realidade pouco
revolução n a Nicarágua. Contornando favorave1 sua condiçáo de mulher, Logo na abertura. o filr.ie repete um
os entraves dessa i n d ú s t r i a que ela noticiário de 1954. quando (1 Secretário
chama de "altamente machista.'. Teté Te@ aprendeu a falar duro, a iludir
generais salvadorenhos c o m uma pose de Defesa. Charles Wilson. garantia que
Vasconcelos trabalha. atualmente, co- os Estados Unidos não estavari mandan-
m o diretora e p r o d u t o r a e m N o v a de doçura e fragiiidade e m troca de do tropas para a indochina e quti esta não
Iorque. u m a boa entrevista e a ter certeza d e seria uma nova Cor& Em segu da, mos-
que. como p a t r o a o u empregada, ela tramos um noticiário recente. en que se
N o começo deste ano, ela v o l t o u prefere trabalhar c o m muiheres. Por- fala que,El Salvador não será ur,i outro
ao Brasil. c o m a cópia d e seu ú l t i m o que a convivência é m a i s fácil e "por- Vietna. E preciso prolongar a mim6ria

..
%, 'i-
dos americanos, que é curta demais. E o nema e conhecido como indústria ma-
filme faz isso. Mostra que os Estados chista. Mesmo quando se trabalha numa
Unidos têm sempre a mesma politica e a produção estritamente política, com pes-
mesma mentira. Eles são sempre iguais. soas politizadas. Mulher é sempre scrlpt-
glrl, no máximo atriz. Não tenho nada
Vocès mostram a parilclpagáo das contra essas duas profissões. mas não
mulheres na gusrrllha e nos movlmen- sou atriz. Sou diretora e produtora. E os
tos populares em geral? jornais. quando comentaram sobre "Ei
Salvador: Outro Vietná". não menciona-
Tel& Fazemos uma entrevista com vam o meu nome, apenas o de Glenn
Ana Guadalupe Martinéz, comandante de Silber, que é homem e com quem dividi
uma das organizações que compõem a as tarefas de produção e direção. Em
FNLM. Ela aparece contando como se Nova lorque, lidando com esse machismo
incorporou B luta armada, como foi pre- e com uma competitividade exacerbada,
sa, torturada e violada em 1976. Ana aprendi a falar duro e a não buscar
Guadalupe só foi libertada quando seus cafezinho para ninguém.
companheiros seqüestraram um embai-
xador e pediram sua liberdade em troca. Vocè está nos Estados Unldos des-
Também tem um trecho de um discurso de 1975. Como é que foi sua mudança
que ela fez. Durante a entrevista. pergun- pia l á ? \r L.:
to se ela é terrorista. Sua resposta: "Isso v
depende de quem me vé e de quem me Teté: Estudei Sociologia na Universi- Tetb Vaeconcalon
pergunta. Somos lutadores pela liberda- dade de São Paulo e trabalhava no Ce-
de". Tem uma outra cena de uma comba- brap. Foi uma época dificil. O trabalho final de 1979. Trabalhei em vários filmes.
tente. Acredito que 3Q%dos guerrilheiros era restrito e frustrante, pela propria SI- muitos delesdirigidos por mulheres. Ago-
salvadorenhos são mulheres. tuação do pais. Mesmo assim, agüentei ra penso em mudar de Nova lorque e não
cinco anos. E é bom que se diga que o sei como vai ser. Não sei se vou passar o
Eias também estáo no comando e a ambiente do Cebrap. na época. era alta- ano perambulando pelos festivais. ou se
idade varia de 14 a 80 anos. Todassabem mente machista. Por todos esses moti- vou me ocupar com a tradução do filme
que a morte é quase inevitável, se wocé vos. me enchi e resolvi fazer cinema, que para o espanhol. Também tenho trabalha-
luta ou não. porqueelessão criminosose é uma maneira muito mais prática e do na montagem do filme "La Opera-
assassinos sempre. rápida de falar o que eu quero. Minha cion", de Ana Maria Garcia. sobre a este-
famiiia teve condiçóes de me apoiar fi- rilização das mulheres em Porto Rico.
Como enlrsvisladora e dlretora do nanceiramente e eu linha a ilusão da segundo uma po:itica feita e implantada
lllme, você teve problemas quando este- Caiifórnia. Puro imperialismo cultural. pelo governo norte-americano. Há infor-
vs em El Salvador? Fuc e passei dois anos estudando cinema, mações que dizem ler a esterilização
o que achei uma perda de tempo em atingido 35% das mulheres em idade de
Telb: Na primeira vez que fomos para termos de aprendizagem. embora tenha procriação em Porto Rico.
lá. num grupo de cinco pessoastrbseram funcionado como uma boa introdução.
mulheres. E sempre somos vistas como Logo me enchi de Sáo Francisco, cidade
suspeitas. Em Ei Salvador, e nos Estados pequena. imprópria pra quem gosta de Céiia Chaim
Unidos também. Todos sabem que o ci- "agito". e mudei para Nova lorque. no

güense" e "Todas estamos despertas:


testemunhos da mulher nicaraguense
hoje".
"Participam das milícias pessoas co-
muns, homens, mulheres. jovens a partir
de 16 anos. Desde novembro de 1981 há
incursões de ex-somozistas que agem a
partir de Honduras. Muitas mulheres são
roubadas de suas aldeias. levadas para
Honduras e violadas. Há casos de jovens
que são enterrados vi vos^ Entáo precisa-
mos manter uma vigilância constante" -
diz Margareih.

/'Todas estamos despertas"


Os sandinistas tomaram o poder em qLanto a nove m lar nos batalnoes de
julho de 1979, numa luta que envolveu reseyas q,e pemanecem em ire namen-
uma participação muito alta da mulher. to pr nc pa menre apos as ameaças oe
se comparada as guerras de li6ertaqão nvasao da Amerca Cciiral pe os ksia-
anteriores, em outros paises. Dora Maria 00s L n 0 0 5 O J por se.s a aoos
Teliez, 23 anos, foi a comandante militar E o que mostram m a s lotos de
na tomada de Leon, a segunda cidade do Marqaretn Rancai ma none-ame' cana
pais: M6nica Ballodano, 25 anos, plane- iaciona ,zada mexxana qde v vet, <ar os
jou toda a retirada de Manágua poucos anos em C-oaehojerraoa hanogoveino
dias antes da vitória, e 184 dos membros n cavag-ense M a y a r e t i e aLiora OE "a-
da Frente Sandinista eram Mulheres. r OE ~ v r o ssobre a siluaçao da mo ner no
Essa participação Continua agora, fa- m m o o . e dom oeles m a s recentes tra-
se de reconstrução do pais, tanto a nível tam da Nicaragda 'Somos m hóes a
da administração publica, da política. vida ae Doris Mar'a. combatente n cara- D o m Maria. a comandan:e
maior segmento de agressores eram

0 segrede pais e padrastos: quase a metade dos


casos não eram investidas isoladas,
mas situaçdes que se prolongavam por
vários anos; 213 das vltimas sofreram
distúrbios emocionais, dentre os quais
14% de gravidade.
Depoimento de Katherine, publi-
cado no "Spare Rib" no fim do ano
passad0:"Não sei ao certo quantos
anos eu tinha quando aconteceu. Mi-
- nha mãe trabalhava de noite e eu me
Fátlma Jordão, de Londres lembro de meu pai me levar para o seu
quarto e para sua cama larga e come-
çava a esfregar seu pênis na minha
de discussao é enorme. mas os dados vagina. -"Você gosta?" perguntava
vem se acumulando na Inglaterra. ei- ele. Eu ficava quieta, aterrorizada.
nrrialrnt-nk
~ .. ~atravPc
.......~~~. ~.... Cmtrm
do% . dr
-. olhando para o teto, confusa e com
Emergencia que funcionam por teleio. sensação de náusea. A luz estava sem-
nr nas principais cidades O quadro pre apagada e nunca vi nem seus olhos
que se forma mostra o mesnio contor- nem seu pênis. Apenas a sombra de
chester, reconhecem que meninos no e proporçôes dos inúmeros estudos um homem muito grande, meu pai,
também são vltimas de abuso sexual, conhrridoç no Cnnnda r nos Estados neste ato secreto. Dizia ele que não
no entanto a imensa maioria de viti- Unidos. deveria falar com ninguém, que era
mas, segundo a unanimidade dos le- J á em 1953 o famoso relatbrio Kin- um segredo entre 116s.E então ele me
vantamentos feitos, são meninas, as- sey mostrava que 25% das mulheres mandava de volta para a cama".
sim como a maioria dos agressores são adultas americanas experimentaram
adultos do sexo masculino. Dai o tltu- quando crianças alguma forma de en- Este depoimento tipifica tantos
I 0 da conferência: "Poder Masculino e contro sexual com adultos. Em 1969. outros apresentados no congresso e
Abuso Sexual de Meninas". um relatório da American Humane desloca incomodamente para dentro
Participaram da conferência um Society configurou um perfil bastante de casa eventos que normalmente são
grande numero de muiheres, elas pr6- preciso do problema, que desde então tratados pelos meios de comunicação
prias vitimas na infância e adolescên- vem se confirmando em vtirios outros de massa como se s6 ocorressem em
cia desse tipo de agressão, assim como pafses. Os principais resultados, ba- terrenos baldios ou áreas urbanas de-
Centros de Emergência de Estupro de seados em casos denunciados em NO- cadentes.
várias cidades inglesas, grupos que va Iorque, mostraram: 97% dos agres- Outros tantos mitos envolvendo o
atuam na área de violência contra sores eram adultos e homens; 92% das problema foram discutidos, como o
mulheres, representantes de refúgios vitimas, meninas; 15% dos adultos alegado papel sedutor da menina ado-
de mulheres agredidas e outras. eram conhecidos das vitimas. a grande lescente. Na verdade, os dados mos-
O assunto é tabu e a dificuldade maioria morava com a criança e o tram que o abuso começa na maioria
dos casos entre três e cinco anos de
idade e, no lugar de prazer na realiza-
ção de fantasias mais Intimas. como
afirmam algumas correntes d a psi-
quiatria. o que ocorre é isolamento.
terror. sentimento de culpa e distúr-
bios emocionais serios.
Abuso do poder
Nos dias de reunião, o congresso se
desdobrou em quase 40 seminmos e
apresentações cobrindo temas como
poder paterno. lei e incesto, pornogra-
fia e criança, formas alternativas de
aconselhamento e socorro, mitos que
cercam o incesto. publicidade e pomo-
grafia infantil, etc.
NO conjunto, três ângulos do pro-
blema se destacaram no relatório
final:
1-Devido h assimetria na relaçao
adultolcriança, que nos casos ! M a -
res adquire valores de autoridade, obe-
diência e dependência econômica, o
problema de abuso sexual se caracte-
riza como abuso de poder e se localiza
no limite da família e sociedades pa-
triarcais. O próprio conceito de inces-
to é inaceitável, na medida em que
implica mutualidade ou reciproci-
dade.
2 - A necessidade de proteção h
Um Criança, cujos relatos tendem a ser
substimados ou interpretados como
assunto fantasias (na origem dissso está a con-
cepção freudiana) para obscurecer a
tabu questão e não perturbar o equilíbrio
começa familiar.
a ser 3 - O incesto não é tabu, e sim
ocorrência bastante disseminada, Ta-
desvendado: bu é falar-se dele. Portanto, cabe ao
o abuso movimento feminista romper o si-
lêncio.
sexual RelaMrios da conferhcia podem
de ser obtidos através do Male Power and
Sexual abuse of GirlsiConference
rnenlnas Planning Ciroup, C i o PO BOX 336
Manchester M60 2BS.
vidro, ele me chamando para sentar do de liberdade era plena, solta pelo
seu lado. Havia urna cumplicidade en- mato.
tre nós, fora da relação. EIe era pacien-
te, gostava de crianças.”
Lembra-se do dia em que ele a
convidou para ir até o rio, 18 longe,
“Ela nao sabe se nasceu dia 13 ou onde as crianças costumavam nadar.
dia 14. Sabe que foi numa noite de Atrás das palavras havia um código
black-out e em casa - diferente dos implícito, que ambos entendiam e do
irmãos, que nasceram todos na mater- qual não se falba. Foi com ele, nadou
nidade. Era a caçula e a mais “clari- e voltou vitoriosa. Daquela vez conse- Havia sempre gente da fam,ília por
nha”. “Quem começou o desvio na guira escapar. Mas nem sempre era perto. Como não percebiam? “E difícil
f a M i a fui eu”, diz. “Politicamente”. assim. Se sentia impotente, sem saída. para mim aceitar isso. Diz Paulo J.
Caplan, sobre o livro O segredo mais
bem guardado: o abuso sexual de crian-
ças, de Florence Rush:“Ela documen-
ta as formas como as estruturas so-
ciais do passado e do presente rnolda-
ram a vida familiar, de modo que as
mães se recusaram a ver que seus
maridos violentaram suas fuhas, de
modo que os pais de ambos os sexos se
recusaram até mesmo a falar para o
tio Charlie ou para o vizinho Bob sobre
seus assaltos sexuais contra suas fi-
Ihas em idade pré-escolar”.
Conflito e culpa
no depoimento de urna mulher que,
dos 6 aos 9 anos de idade,
teve relações sexuais com um tio
Inês Csstllho “Foi muito difícil entender minha
participação na relação. Inúmeras ve-
zes levantei os dados: vasculhei datas,
Hoje ela sabe porque: “Tudo o que é lugares, restos de lembranças. Foi sb 21

2.
introduzido pelo adulto é visto pela custa de mcito trabalho que entendi a
criança como uma coisa possível, bem pergunta que çueria fazer: o quanto o
feita. Eu me sentia protegida, de certa prazer me enredou na relação. E agora
forma. Havia sempre gente da famíiia a imagem me vem forte, sem nuance:
por perto, aparentemente estava tudo me vejo manlpulada, uma mão pode-
bem”. rosa me enredando no conhecimento
A primeira vez que ela tocou no de um prazer que não lembro e que
assunto foi ao se confessar para a não era o meu, para mim. De um
primeira comunhão. Por isso sabe que prazer que o servia, e me mantinha”.
tinha 6 anos. Confessou que tinha ras- *
gado uma camisola de raiva e a rela-
ção com o tio. A histbria da camisols,
não sabe se era inventada ou de verda-
de. Não tem dúvidas sobre a relaçgo
com o tio “é a memória mais antiga A família era grande, relativamen-
que tenho de mim mesma.” te tradicional. EIa já tinha ouvido sus-
Lembra-se que era de noite e esta- surros sobre desquites, uma tentativa
va na cama, as irmãs dormindo a seu “O que marcou minha infância foi
lado. “Não sei porque eu imagino que de suicídio, unia tia mãe solteira. solidao culpa conflito, solidão culpa
estava doente, mas eu acho que não A avó materna era uma figura conflito. Pesa pesa pesa, dói. E tudo o
estava doente.” Ele sentado, condu- forte que rescendia a terra e passari- que você quiser de ruim. Uma criança
zindo a m‘ão dela e se masturbando. nho. Em sua s6lida e ampla casa, um vivendo uma expenéncia desse tipo,
Foi a primeira vez que viu esperma, e clima de muita conversa e brincadeira acima de sua possibilidade de integra-
aquela boca rasgada, quase sem lábio. fazia florescer a fantasia das crianças. ção. Tudo, na minha infância e adoles-
A partir daí, obsessivamente, se Um bando de primos de ambos os cência, convergia para resolver minha
confessava: “Padre, fiz coisa feia com sexos via televisgo até tarde e dormia participaçao nessa relação. Toda mi-
meu tio.” Obsessivamente, se via par- junto na cama da avb, que fumava nha energia era canalizada para isso.
tida em duas: a que representava, escondido do avô e conhecia todo Porque é o segredo mais bem guar-
mentia, camuflava o tempo todo e a mundo da rua. Havia pouca interdi- dado, a delinqüente que fui, que ima-
verdadeira. cheia de culpa. “O corpo ção, um clima de sensualidade ginei que fui, todas fomos. Isso me fez
chagado de culpa. A lembrança, eu O pai era imigrante espanhol e sua criar mecanismos de suspeição de-
criança, é isso.”. famíiia não recebeu bem seu casarnen- mim mesma, me via sempre como uma
to com uma brasileira. Talvez em bus- verdadeira, escondida, e outra de fa-
ca de aprovação, a mãe se CBSOU tam- chada, a aparente. Uma na frente, ou-

3* O silêncio. Embora hoje tenha cer-


teza de que o mesmo ocorreu com
quase todas as irmãs e primas, o silên-
bém com a ideologia patriarcal espa-
nhola. Colégio de freiras e vestidos, só
com manga - esse foi o resultado.
“Um clima extraordinariamente re-
pressivo em termos de sexualidade”,
era o que ela sentia e o que pôde
confirmar, mais tarde, ao comparar
sua familia com as outras que foi co-
nhecendo.
tra atrás. A verdadeira sempre cui-
pada.”
“Não sou eu, mulher de 40 anos,
quem reclama. Eu me gosto. Sou eu
menina de 6 a 9 anos que reclamo pela
perda da minha infância, pelo que
perdi e não posso recuperar.”

cio. Por trés anos, s6 conseguiu repetir


a mesma frase no escuro do confessio- De outro lado, porém, vivia a liber-
nário. A primeira vez que falou com dade. Foi criada independente, aos 9
alguém foi aos 16 anos, com o namora- anos tinha autonomia para ir sozinha
do que 6 hoje seu marido. E aos 18, ao centro da cidade. Não havia o que
para a mãe. Então com raiva, com não pudesse fazer s6 porque era meni-
ódio. na. Três irmãs, três irmãos, todos exe- Ela se levanta e vai buscar a foto-
“Me lembro de uma viagem que cutando as mesmas tarefas. grafia da primeira comunhão. Toda de
fiz, sozinha com ele. Durante horas, Em meio a isso tudo, a experiência branco, como todas nós. Um anjo de
viajei no fundo do carro, grudada no da vida no interior, quando a sensação grandes olhos tristes.
sociedades airicanas. sobrepõem-se ao d e crise n a instituição familiar. idéia
O QUE modelo conjugal. Mesmo assim, atra- essa que s6 é posslvei p o r oposição a
ves d a f a d i a , o Estado exerce um um modelo i d e a l proposto e m geral
. FAM~LIA controle sobre os indivlduos. seja dire- pelas instâncias d a I g r e j a e d o Estado
tamente. através d a iegisiaçâo. seja e m o s t r a que a diversidade de formas
Danda Prado e autora de v W o s indiretamente, reforçando a exclusivi- familiares tem acompanhado a trans-
trabalhos de pesquisa c u j o tema 6 a dade dos papéis de esposa e de m ã e formação d a sociedade.
muiher. Aqui. ela dlscorre d e maneira atribuídos & m u l h e r dentro d o lar, me- N a descrição d o quadro geral da
g e n h c a sobre um dos contextos e m canismo eficaz p a r a garantir estabili- f a m í l i a brasileira contemporânea, a
que sc situa a problemática feminina: dade da célula conjugal. autora alerta p a r a os parãmetros insti-
a família. AS discussões sobre o f u t u r o d a tucionais expressos n o c6digo C i v i l e
A f a m a . a f i r m a Danda. é u m a família contemporãnea. segundo D a n - p a r a a idealização d a famflia patriar-
relayáo i n s t i t u c i o n a l entre pessoas do d a Prado, a p o n t a m e m diierentes dire- c a l d o passado que f o i baseada nos
mesmo sangue, isto é. um c o n j u n t o de ções: de um i a d o h á os que a l e r t a m grupos dominantes, q u e representam
direitos e deveres socialmente reco. p a r a a "crise" d a famliia, c o m a Nptu- apenas um pequeno segmento d a po-
nhecidos Como tal. ela t e m um cará- r a dos laços que u n e m velhas e novas pulação. Tece consideraçdes sobre as
ter universal - existe e m todas as gerações. a instabilidade d o casarnen- famílias Indlgenas e negras que adap-
sociedades - e um caráter especifico to e a destNição sistemática d o larini- t a m seus padrões ao cbdigo d a socie-
- v a n a o reconhecimento das rrlaçoes nho. D e o u t r a parte h á os que conside- dade m a i s ampla.
de çangue e conseqüentemente dos r a m a famüia u m a instituição u l t r a - T e r m i n a seu trabalho ressaltando
direitos e deveres neld implicados de passada no que se refere ao exercfcio o f a i a d e que a famflia nuclear isola o
u m a sociedade p a r a o u t r a d a autoridade e centralização d o indivfduo e m pequenas unidades,
A autora pondera que a família é poder n a figura dos pais e propõem a compondo u m a estrutura ideal p a r a
u m a instituição social cada vez mais reinvenção de "espaços d e l i v r e es- sua manipulação p o r poderes m a i s
controlada pelo Fstado. cabendo aos colha". amplos. A f i r m a ainda que a busca de
cidadáos a assisVncia. a educação e a O exercfcio, pela famas. das fun- soluções p a r a a instituição familiar
manutenção das enançasedos idosos ções econbmlcas, de reprodução, iden- deve sempre respeitar as diferenças e
E frequente o surgimento de propos- tificação social e socialização respon- evitar aspectos normativos m u i t o res-
tas a!tcmatlvas de famflia que. ao de t a n t o pela distribuição d e ativida- tritos.
buscar novas formas de relacionamen- des entre homens e mulheres segundo A l e i t u r a d o texto vai p e r m i t i r ao
t o . lnrorrim num q u e i t i o n a m e n t o d o uma grande diferenciação de papéis, l e i t o r não falar m a i s d a f a m í l i a mas
m o d r l o vigentc e at6 m r s m o d? toda a quanto pela transmissão de maneiras das farnilias que, no interior d a socie-
sociedade As comunidades. e m geral de agir. pensar e sentir que garantem a dade. v a r i a m segundo o espaço, o tem-
de origem mlstlca. religiosa ou de ca- continuidade f a m i l i a r e e m u l t i m a ins- po. a estrutura social e os processos d e
ráter politico-ideoi6gicu, o casamento tância. a reprodução da p r 6 p r i a socie- tranSfOmIaÇ?iO e m curso. Neste senti-
de participaçáo o u de experiencia. as dade
~ ~~ do. estão dados os primeiros passos
uniões livres o u uniões homossexuais Muito a d e q u a d a m e n t e , Danda Para u m a a d e q u a d a c o l o c a ç ã o d o
sobrepondo.se ao casamento civil; as chama atenção p a r a as idealizações d a tema.
famílias poiigâmicas que. e m algumas f a m l i i a no passado. Contesta a idéia Lla Fukui
ATENÇÁO, EDITORAS!
Um livro lançado e m 1975, interesse humano e até social é. sem desigualdade e a injustiça sem mesmo
hoje completamente esgotado duvida, as mulheres, que suas palavras enxergar!"
podem oferecer maiores riquezas. Se a mulher aproveita melhor, nos
nas livrarias e dois livros ainda A opressão que a personagem sofre dias de hoje. suas potencialidades. a
não editados no Brasil: estas desde o seu nascimento. e que a leva a defasagem de tempo entre os dois sexos
são as dicas de publicação que quase loucura, é nitidamente a opressáo permanece. A autora, por exemplo, se
damos aos editores, se eles qui- a que e submetido todo ser feminino, libera existencialmente em consequhcia
dentro de um contexto ancestral e atávi- de uma análise em que, a nosso ver, tinha
serem ter a nós, mulheres, co- co. E só quando a autora descobre que mais a oferecer ao médico que a receber
mo leitoras. sua m i e , elemento que no livro represen- dele. E. depois dessa longa trajetória,
-
Palavras por dlrer (Les mots pour dire). ta todas as forças opressoras, e também volta aos braços do marido, de quem
de Marie Cardinal, Imago Editora. 1975. vitima da mesma estrutura, consegue fi- estava separada, depois que este lê os
179 páginas. ~
nalmente verdoá-la e liberar-se d a manuscritos de seu livro e imediatamente
se apaixona "pela mulher que escreveu
Mais que o simples relato de uma aquelas palavras". E de se supor que o
experiència de vida revelada em consecu- mariüo tenha feito também uma análise,
tivas sessões psicanaliticas, a argelina para aceitar assim táo prontamente. em
Marie Cardinal se mostra uma escritora feminina me fez descobrir coisas! .. bases reais, aquela nova mulher ...
justamente com grande capacidade de agora percebi que nunca havia lido ver- Se a autora descobre muito sobre a
dizer as palavras certas. Náo apenas Cer- dadeiramente um jornal. nunca tinha ver- condição feminina, aos trinta e sete anos,
tas: a "qualidade" das palavras emprega- dadeiramente escutado as noticias. que do final dos anos quarenta em diante,
das é uma de suas marcas pessoais como tinha encarado a guerra da Argélia como muitas mulheres. nos dias que correm,
escritora. Estamos diante de um texto um caso sentimental. uma triste história não arranharam ainda a membrana dos
tenso. vertical. cujo tom confessional e da família. E por que? Porque não tinha seus próprios úteros ... Basta ver uma
emocional sempre se ajustam a um estilo papel a representar na sociedade onde revista de modas, para se perceber a
literário nitido, que náo se arrefece em imagem que o ser feminino faz dele pró-
nenhum momento. nasci e onde me tornei louca. Papel prio, mesmo em revistas que se chamam
Se a autora. pela qualidade de seu algum a não ser gerar filhos para que as "Nova" ou coisa no gênero ...
texto, firma posição no meio literário, se guerras e os governos prosseguissem, e Ah. a coragem e o orgulho da mu-
seus relatos analíticos interessam a todos filhos para, por sua vez. darem filhos aos lher! ... Quando desfrutaremos deles? No
que passaram por processo idêntico. se a filhos. Trinta e sete anos de submissáo caso de Marie Cardinal. mais do que a
trajet6ria de sua vida tem um marcante absoluta. Trinta e sete anos para aceitar a análise, são as palavras que a redimem.
DO ARTESANAL indústria têxtil no Brasil e, de outro, nascimento, as pressões que a socieda-
AO INDUSTRIAL -
como parte da história do trabalho da de exerce sobre a mulher para adaptá-
mulher. Apenas ao final do Uvro apare- la ao seu destino de esposa e mãe: a
cem as proletárias americanas. Essas posição secundfula que aprendeu a
A EXPLORAÇÃO não são tratadas na profundidade das assumir diante do homem, os modos e
brasileiras, de certo modo surgem as maneiras adequadas, os brinquedos
DA MULHER mais como um recurso para a anslise apropriados, as interdições que sofreu
Alguns anos antes de direitos fe- das têxteis de São Paulo (através do quando ousou transgredir a63. regras
mininos transformarem-se em política qual é possível a Heleieth aprender o estabelecidas, as pressbes a que su-
e estudos sobre a mulher em filão específico ao Nxtil, o específico ao cumbiu para abandonar projetos de
acadêmico, Heleieth Saffioti lançava Brasil e o genérico & mulher). carreira, e, finalmente, sua perplexida-
entre nos A mulher na sociedade de Ao final, uma conclus8o importan- de ao perceber que, mesmo vivendo
classes. Já naquela época, conceitos e t e num ambiente social carente e pre- em circunstâncias diferentes, conti-
categorias que anos apbs viriam a se datório como o brasileiro, a condição nuara repetindo os comportamentos
tornar carros-chefe de pesquisa femi- operária constitui um (doloroso)privi- da mãe e da av6 - “essa av6 e essa
nina estavam virtual ou explicitamen- légio ocupacional para mulheres po- mãe com quem tinha jurado não se
te por ela propostos: sujeição, identi- bres; nos Estados Unidos, as têxteis parecer jamais”
dade, papel sexual, trabalhadora- constituem um dos mais baixos seg- O descompasso entre as novas exi-
reserva, etc. Desde então, parece mentos da pirâmide social. E a defesa gencias do coticiano, e os valores que
que o destino de Heleieth Saffioti den- da tese se faz a partir de um material continuam definindo o papel da mu-
tro dessa difusa área de estudos sobre empMco de boa qualidade e cuidado- lher; as tensões e os sentimentos de
a mulher foi o de abrir trilhas e levan- samente trabalhado: nao apenas a his- culpa advindos do confronto entre
tar discussões: enfrentou o problema t6ria do t r a W o feminino em ambos uma profunda consciência do que se
da empregada doméstica (quando ain- os países como também o da indústria espera de!a enquanto mulher e en-
da não tinhamos refletido sobre o as- têxtil; não apenas estatisticas sobre quanto mãe, e a vontade de realizar-se
sunto e nos sentíamos todas vagamen- população economicamente ativa como pessoa são os problemas enfren-
te culpadas), o do trabalho doméstico, quanto entrevistas em profundidade. tados não s6 por esta Maria, mas por
o da categoria teórica de trabalho fe- Claro está que o projeto era ambi- muitas outras, que buscam ansiosa-
minino e, agora, publica um livro no cioso, mas seu desafio foi enfrentado mente sua identidade no mundo de
qual se propõe tarefa de comparar com eficiencia. Heleieth Saffioti escre- hoje e uma saida para os seus con-
mulheres operárias têxteis em univer- veu livro novo, bibliografia obrigatória flitos.
sos tão distintos quanto os brasileiro e para a terntltica do trabalho feminino: Ao compreender sua própria situa-
norte-americano. competente, levemente irõnico, ousa- ção. M a r i a percebe que para mudar
Mas aqui não vale escamotear: se do. O que, afinal, já era sua marca. essa realidade não basta apenas se
com sua ousadia pessoal e intelectua1 Maria ValérJa Junho Pena conscientizar e denunciar os mitos que
Heleieth foi e é fonte de inspiração vêm alimentando a identidade femini-
para as pesquisas que a seguem, o na, mas é necessária a união das mu-
preço de sua coragem tem sido a revi- OH, LINDA IMAGEM lheres na luta para transformar as
são (freqüentemente por ela mesmo regras da sociedade e o prbprio ho-
iniciada) de várias de suas propostas: DE MULHER mem, pois somente quando este mu-
a de “modo de produçâo doméstico”, Este segundo número da coleção dar a imagem de si próprio poderá
por exemplo, depois de acalorados de- Maria-Sem Vergonha, idealizada pela aceitar essa nova imagem de mulher.
bates, felizmente, parece arquivada. equipe do IDAC (Instituto de Ação Utilizando-se de iiustrações muito
Do artesanal ao industrial - A ex- Cultural) desmonta lindamente os significativas e de uma narrativa dinâ-
ploraqáo da mulher consiste no resulta- condicionamentos a que a mulher está mica, os autores conseguem transmi-
do de uma pesquisa conduzida com as sujeita. tir toda a carga de ambiguidades, con-
operárias de duas fábricas têxteis de Entremeando de maneira habili- tradições, incertezas, e - por que d o ?
São Paulo e de uma fábrica de sutiãs dosa reflexões sobre a condição femi- - de esperanças vividas pela mulher
perto de Nova Jorque. Na análise do nina com a estória de Maria, narrada que resolveu assumir sua nova condi-
trabalho feminino fabril, contudo. a através de texto e diálogos ilustrados, ção e lutar por um espaço na socieda-
ênfase maior está sobre as operárias os autores desvendam, medida em de atual. Bem-vinda, oh Iinda e nova
brasiieiras. Essas são compreendidas que a heróina vai-se inteirando do imagem de mulher!
como parte, de um lado, da história da papel que lhe foi imposto desde o Regina Pahim Pinto

Palavras que as mulheres estão apenas reproduzimos a charge que ilustra esta Rosaldo e Louise Lamphere. A perspecti-
começando a saber dizer. matéria. va marxista, no entanto, permanece es-
Rache1 Jerdlrn Fúlvla Rosemberg tranhamente ausente desta lista de pes-
quisadoras, boa parte delas traduzida
II Primo Anno Dei Nostro Barnblno - graças ao seu interesse na analise da
Giuseppe Ricci - Francesco Tonucci - situação da mulher de um ponto de vista
Fabbri Editori, Milano, 1980. comparativo. Ou o que se traduz são
O primeiro ano do bebb -A não ser produçóes antigas e teoricamente rigi-
. os textos clássicos ou de moda académi-
das. que não incorporam ao debate todo
ca, descobertos ou redescobertos alhu- um conjunto de novas pesquisas que se
res (geralmente via França), a produçáo tem modificado bastante.
bibliográfica italiana encontra certa resis- . Os trabalhos de Eleanor Burke Lea-
tência nos meios editoriais brasileiros. cock, parte importante deste debate, sáo
Preconceito ou descuido muito empobre- assim apenas conhecidos de um peque-
cedor. A equipe da Fundaçao Carlos Cha- no número de estudantes de antropolo-
gas que está trabalhando num projeto gia ou dos que se interessam pela ques-
sobre creche tem recebido o material tão da definição do papel da mulher na
italiano que dá vontade de mostrar e sociedade. Em 1981 ela lançou Mitos da
indicar para todo mundo. Por exemplo, a Dominação Masculina, uma coletânea de
série de livros de Francesco Tonucci artigos escritos durante mais de 30 anos,
(Grupo Editoriale Fabbrii,sobrs a educa- que seria urna boa oportunidade de tor-
ção de crianças pequenas. II Prlmo Anno ná-ta conhecida dos leitores brasileiros.
De1 Nostro Bimblno at6 que poderia Incluindo estudos etnográficos sobre os
servir de contra-modelo ao repressivo, povos da Península do Labrador, apre-
culpabifizante A vida do bebê do dr. sentações da obra de Lewis H. Morgan e
Rinaldo de Lamare. A procura de um, d e F. Engeis e críticas ao estruturalismo e
proposta educatrva contestadora e iiber- Mitos da dominação masculina a sociobiologia, os ensaios aqui reunidos
tária para a criança transparece também As antropólogas norte-americanas atacam consistentemente a noçáo de que
na criaçáo do livro; pelo texto sim, mas não são de todo desconhecidas no Brasil; a dominação masculina é um fato com-
principal mente pela‘ produção gráfica de temos traduções dos livros de Margaret provado e m t o d a s as s o c i e d a d e s
Frencesco Tonucci, criador do excelente Mead, Ruth Benedict, Ruth Landes e uma humanas.
Con GII Occhi Dei Bambino do qual coletânea de artigos editada por Mrchelle Marisa Corrêa
SEMINARIO NO MÉXICO

Em busca de
espelhos reais
Adélia Borges

~~~~ ~~~ ~ ~~~~ ~~~~ ~ ~~ ~ ~

romperessaimagem?Quaisascon<luis-
tas e as dificuldades das novas expe-
riências neste setor? E o que fazer para
que elas se desenvolvam, e se fort,ale-
çam? Com o objetivo de discutir essas
questões, foi realizado na Cidade do

México. internacional '


A preocupação da Unesco com o
tema é antiga, mas se acentuou a
partir de 1975, e se inscreve dentro de
suas propostas de uma Nova Ordem
Informativa Internacional. Um estudo
recente da organização sobre o tema,
realizado pela pesquisadora inglesa
Margareth Gallagher, demonstra que gerar uma resposta alternativa a esse com a agência internacional de notf-
a imagem que os meios de comunica- sistema. que rcilita mulheres reais em cias IPS.
ção apresentam sobre a mulher varia oposição Bs imagens estereotipadas, e Finalmente, analisou-se a possibi-
pouco de pais a pais: reforçam a orien- cuntribua para unificar esforços dos lidade de inserção de mensagens n8o
tação caseira da mulher, cujo espaço
de vida é. por excelência, as quatro
v3ros movimentos oue tentam suor.
~~ ~~~~ ~~~~~~

r a r a c o n d i ç ã o inferiorizada >-a
~~ ~.~
~ ~~~~~~~~~~ ~~~
estereotipadas sobre mulher em meios
de comunicação tradicionais, a partir
paredes de lar: utilizam-na como obje- muiher. dos relatos das experiências do suple-
to sexual, sobretudo na propaganda. mento feminino do E1 Nacional, diário
insistindo na importãncia da beleza e Ainda que com inúmeras diiicul-
dades. essas respostas já se estão dan- de maior circulação d a Venezuela, e da
da juventude: apresentam uma dico- produção por um órgão do governo
tomia entre a virgem e a prostituta. do, como demonstram as várias e di-
versificadas experiências relatadas no mexicano de telenovelas, radionovelas
entre a "boa" e a "má": e Jorizam as e fotonoveias alternativas.
características femininas tradicionais. seminário. Na mesma linha de Mulhe-
rio - peribdicos dirigidos a uma faixa Entre as várias dificuldades apon-
como passividade, dependemia r in. tadas para o prosseguimento e o forta-
deciaào O estudo mostra ainda oue. mais ampla de mulheres dos setores
~ ~~~~~~~ ~~~~~ ~~~ ~ ~~~~~

médios da população - apresenta- lecimento dessas experiências, a prin-


apesar de serem metade da populk?io cipal é a escassez de recursos financei-
mundial. as noticias sobre mulheres ram-se a revista FEM, do México, bi- ros. Os empresários recusam-se a lazer
raramente ocupam mais de 20% do mestral. editada desde 1976 por um
Coletivo de mulheres representantes publicidade em meios de comunicação
espaço de um meio. que contestam o consumismo e têm
Outro estudo, das chilenas Adria- de várias tendências: e a revista Nueva
Mujer. do Equador, mensal, criada em em geral uma posição política de es-
na Santa Cruz e Viviana Erazo, coor- querda; os sistemas atuais de distri-
denadoras da Unidade de Comunica- dezembro de 1980. buição, estreitamente vinculados k co-
ção Alternativa da Mulher do ILET, Experiências mais diretamente li- municação dominante, não estão ao
confirma esse diagnóstico e acrescen- gadas aos setores populares foram re- alcance dos meios de comunicação
ta contornos mais precisos para o caso latadas com os exemplos da Rádio alternativa e, Bs vezes. recusam-se a
da América Latina. Analisando revis- Enriquilio. uma emissora catblica de distribui-los; e as instituiçaes, organis-
tas femininas de grande circulação em Tamayo, interior da Repúblic! Domi- mos e fundaçóes que habitualmente
mais de 20 naíses latino-americanos.
~~~~~~ ~

elas constataram a existência de um


.~ ~
nicana. com uma programaçao espe-
cial para a mulher; da revista Mana.
financiam atividades de pesquisa ain-
da não possuem um adequado nivel de
modelo único de mulher. que não tem consciência do potencial da comunica-
um só traço fisico ou cultural que se ção alternativa. O resultado de tudo
origine em uma das tantas culturas do isso é a dificuldade em competir com
continente. É a imagem de uma mu- as publicaçdes femininas das grandes
lher essencialmente consumista. de empresas editoriais que, graças B pu-
elevado nível sócio-econõmico. jovem, ~ ~ ~ ~~~~ ~ ~
blicidade abundante, podem vender-
entre veículo e público, em que este
~ ~ ~~

esbelta. ocidental e sexualmente irre- se por um preço baixo.


sistivel, pouco interessada nos proble- participa diretamente da elaboração AO final do semin8iio. estabelece-
mas sotiais. Esta imagem "pretende do programa ou da publicação. Ainda ram-se várias medidas com a intenção
ser a essência da Mulher. com maiús- neste bloco de apresentaçdes. a escri- de superar essas e outras dificuldades.
cula". e "é uma das manifestações do tora Margareth Randall expas seu tra- Todas elas convergem para um au-
projeto homogeneizador da cultura balho: livros-reportagem sobre a situa- mento do intercãmbio entre as diver-
transnacionai". dizem elas. çáo da muiher em vários paises. sas experiências, no sentido de formar
A nossa resposta Foram relatadas também duas ex- o que uma das participantes chamou
periências d e redes internacionais: de "a nossa MBfia": um organismo
O impacto nocivo exercido pelo ISIS,um boletim trimestral dirigido a cada vez mais forte e poderoso, com
sistema de comunicações dominante e gnipos feministas em VMOS paises, distintas ramificaçbes, para que os
óbvio: ele trabalha por muiheres acri- editado em Genebra e em Roma; e a meios de comunicação reflitam mu-
ticas. desiniormadas sobre sistemas, OIM. Oficina Informativa da Mulher, iheres reais. inteiras, e não bonecas
facilmente monobr8veis pelo poder. I? um serviço de produção de matérias sem cabeça. ou cabeça sem corpo, ou
urgente, portanto, a necessidade de jornalísticas sobre mulher que opera sexo sem o resto.
SUPLEMENTO DA "FOLHA"

Enfim, algo para as Inspirei-me

mulheres
de Atenas

ioberturá dos e v e h o s e assuntos rela-


cionados ? mulher,
i sai agora com uma
imitaçáo piorada do "Suplemento Fe-
minino" do Esiadáo. Ou seja: algo que
continua vendo a mulher como um ser
relegado 9s quatro paredes de casa,
com uma ou outra veleidade de assun-
to mais "sério" ou "moderninho". e
basicamente voltado para aumentar
nosso consumo nesse tempo de vacas
magras.
Em matéria publicada na Folha
anunciando o lançamento d e "Mu-
lher", a editora Sheila Lobato diz que
ele pretende ser "um velculo dinámi-
co. feito para a mulher prática". Tudo
muito prático mesmo. E s6 ver o qua-
dro que nos ensina a racionaiizar os
serviços domésticos, publicado na pá- 8 DE MARCO
gina 8 do no 1. Entre os conseihos do
que devemos fazer todos os dias, esta:
"fazer o café da manhã" (que novida-
de!l, "passar aspirador de p6 nas saias
e nos estofados" (e eu que nao tenho
aspirador nem estofados e s6 uma
Pequenos diio banho
sala, o que faço?), "preparar o almo-
ço", mas veja bem, "só depois que o "Por falar em feministas, elas j á também toma partido, acentuando o
aimoço estiver pronto é que deverá estão sendo catalogadas. A Associa- caráter polltico de algumas mamfesta-
põr a mesa". com "prato, talheres co- çáo Brasileira de Cultura e Divulgação çaes ou reforçando a idéia ifnito de
está preparando um livro chamado A preconceitosi que quase tudo f o i pro-
muns, de sobremesa e para as comi-
das, copo, porta-copos, descansos, Mulher no Brasil. Será o who's who do
feminismo brasileiro. As feministas já
trslo ie~~~ .~
,~ as narricinantes sabem oue
~~~ ~~~~~i~~~
~ ~

coisa era outra). E este o caso dos


=~~~a
~ ~ ~~ ~ ~~~~
~

guardanapos. torradas, manteiga, jar-


ra de sobremesa" ... e por ai vai. Pobres são niimerosas. mas o livro não deverá jornais O Estado de S. Paulo, Jornal da
de n6s! Falta-nos competência até pa- ter muitas páginas. Para que a repeti- Tarde, Folha d e São Paulo (com maior
ra fazer o que fazemos há milênios. e ção não seja muito evidente, os dados número de matérias e o habitual arti-
todos os dias - arrumar. lavar... oassar. biográficos de cada uma deverão ser go de Irede Cardoso sob a rubrica
cozinhar. sucintos. E, além disso, não existe Feminismo). O Globo e o Jornal do
NO mesmo número, a matéria de feminista que justifique o acréscimo Brasil.
capa fala de uma "mulher de verdade" de uma foto ou que torne necessária a Já os jornais de centros menores
- e disso eu não discordo nem um divuigaçao doniimero de seu telefone". apresentam uma cobertura local mais
pouco , Regina Duarte. mas de um Uoriial da Tarde, SP. 10i3182.1 aprofundada. pouco se reportando as
grandes metrbpoles. E o caso de O
~

jeito que deturpa os pensamentos da "Perseverança, força de vontade e


atriz. Na página 4, por exemplo; a 'garra' - tais são as características Povo, de Fortaleza, da Folha de Goyas,
"chamada" lum texto oue funciona d a s mulheres que trabalham e m e do Diaiio da )Manhã, de Goiánia.
como chamariz) reproduz'uma afirma- Goiás. entrevistadas pelo DM'. (Diá- Nas matérias "a propósito" da mu-
ção de Regina; "O engajamento poiiti- rio da Manhã, Goiânia. 7/3/82,) lher, pautadas em função do dia 8. os
co limita a visáo do artista. O artista Entre o irõnico desprezo do co- jornais menores também dão um ba-
não deve ser político." Surpresa! Regi- mentarista "chic" de Artes e Espetá- nho nos maiores, ainda mais se pen-
na Duarte. a mesma das campanhas culos, Telmo Martino, e o entusiasmo sarmos na desproporção de recursos.
do Fernando Henrique. a mulher soli- apaixonado da redatora Aymés Bea- A exceção é a Folha de S. Paulo que
dária com os movimentos sociais di- triz, em matéria de página dupla na editou um numero inteiro do suple-
zendo isso? Realmente, lendo a matér- editoria de Economia do Jornal goia- mento dominical Folhetim sobre ques-
ia toda dá para ver que não era bem no, h4 v a i a s tonalidades observadas tões femininas (em parte explicável
assim: Regina diz que luta "por um pela imprensa brasileira ao publica- pelapresença. na redação do jornal. de
sistema que devolva ao povo brasileiro rem matérias sobre ou a prop6sito do 8 mulheres atuantes em movimentos fe-
condições de liberdade e vida melhor", de março. ministas).
o que é política, sim; s6 que não quer Analisando-se textos d e alguns Agora, as boas e estimulantes sur-
se fiiLar hoje a um partido. jornais brasileiros, do Rio e de São presas: a matéria "Quem se importa
Fora isso, o suplemento traz ou- Paulo e de centros menores, dá para com elas", de Glecy Coutinho. uma
tras matérias praticissimas. como fazer u n a panorãmica dos caminhos e página inteira de A Gazeta de Vit6ria,
aquela que ensina a "fazer muito char- descaminhos das coberturas. Há uma (li31. sobre as 36 mulheres assassina-
me g a s t a n d o pouco", "s6" CrS nítida diferença entre uns e outros, das pelos seus homens, em 1981. no
12,580.00 (o equivalente a um salário com saldo positivo a favor das . peque- Espírito Santo; e a matéria de página
. dupla eniocando o trabalho feminino,
mínimo) por "um conjunto que sai a nas capitais.
tarde e resiste até a noite" ou aquela A grande imprensa do eixo R i s na editoria d e Economia do Diário da
que mostra como um empresário deco- São Paulo tem ambiçaes universa% Msnhá de Goiânia (1/13i.
rou seu apartamento iquantasleitoras zantes, o que implica uma pauta mais A classificaçãonessa editoria é um
terão noder aauisitivo uara couiá- diversificada. dai a tendência das ma- dado importante. pois na maioria das
lo?). Eras habituas materiás de belÊÊa, terias serem um resumão dos eventos, vezes mulher é assunto para o 2" cader-
culin8iía etc. etc., tudo recheado com principalmente quando se trata de da- no ia parte mais "leve" do jornal).
várias dicas de novos produtos, ou tas comemorativas. Mas o "resumão" Dulcilla Bulttoni
CINEMA-

Sem fantasia
Ficha técnica: Mulheres da Boca: dire- "pesquisa" -, aproxima-se do univer-
ção: Cida Aidar e In6s Castilho; roteiro: so afetivo, da intimidade de várias
Ctda Aidar I n k Cnstilhn Jacira Vieira
~ ~. mulheres, não a partir da diferença
Melo. Márcia Vicenie, Sara Feldman: pro- mas a partir-da identificação.
dução: Wagner Paula de Carvalho: foto: Não se trata de uma afirmação.
Chico Botelho. 22 minutos. i6 mm. colo- por parte das cineastas, de sua ausên-
rido cia de preconceitos; aliás, fazer apolo-
gia de nosso "espfrito despreconcebi-
Para um filme que pretende abor- do" é um truque que funciona apenas
dar a prostituição, as primeiras cenas para enaltecer o "despreconceituoso"
surpreendem. A cãmera passeia entre e humilhar a vftima com um olhar
paternalista e cristão. O que as cineas- protefão. contra a ausèncie iotal de
mulheres em grupo, sem procurar des- garantias da sua vida.
tacar nada que marque a diferença tas fizeram foi captar, nessas "Mulhe-
res da boca", aquilo que mais as sensi- Não é erbtica a única "cena de
entre elas e n6s. espectadoras Ia não cama" de Mulheres da Boca. filme que
ser, é claro, a indisfarçável pobreza - bilizou: justamente a caréncia. Justa- se recusa a explorar a sexuaiidade das
que entretanto não é característica mente a fragilidade. prostitutas. Com exceção do hellssimo
exclusiva das prostitutas), Nada que A cãmera de Chico Botelho des- strip-teme na boate Concorde - ero-
identifique as putas-fatais-facas- creve carinhosamente um rosto inibi- tismo produzido. teatralizado segundo
sedutoras (felizes?) do imaginário do de mulher. Demora nos revelando a todos os requisitos do que supomos
masculino - vide o personagem de ambigüidade desse rosto: braços en- ser a sensualidade -, o filme no mais é
Tânia Alves em "O Olho Mágico do durecidos'entristecidos expressam terno. AS mulheres entre elas se
Amor", encarnação sacana da prosti- uma afetividade quase infantil. Nou-
tuta realizada, mito -. fantasma que
iiude e assombra nossa já tão diffcil
tra cena, a única "cena de cama" do
filme, uma prostituta representa uma
olham, brincam, se abraçam; suprem
juntas um pouco do que lhes falta (ao
briga com seu cafetão. Motivo "clássi- contrário mais uma vez da puta-mltica
identidade sexual. Também não é um de Jorge Amado, solitária, auto-
boieráo estilo Bethânia (... "se meu co*':o dinheiro que ela escondeu. Para
o filho. Mas a "atriz" está bem demais suficiente). A parte esses pequenos
passado foi lama..." i que marca as carinhos entre mulheres, não há re-
primeiras imagens de Mulheres da Ba- no papel, representa a si mesma e seu fresco para nossa imaginação perversa
ça, mas a voz frágii de Yoko Ono 6dio é real quando o homem a joga na
cama e ela chuta com as duas prrnas que deseja fazer da prostituição o lu-
cantFndo "It Happens" ("Acontece"1... gar da sensualidade feminina iibera-
E nesse tom que segue o filme. para cima gritardo sai sni M o é
er6rica a cena do quarto mas também da. Do ponto de vista das prostitutas
Inês Castiiho (jornalista).Cida Aidar de As Mulheres da Boca. o sexo é
(psicblogai e as outras mulheres e ho- não é ex6tica. náo faz o g€nero mundo negçicio desenerglzado. Questão de so-
mens da equipe de Mulheres da Boca cáo (.Marilia
~ ~,~ Pera em ' Pixore"
~~~~~~~~~ ~ ~~~ ~. ourra
~~~~ ~ ~~ ~~

brevivência ...
aproximam-se do cotidiano da prosti- puta criada por um homem, mostran-
do enojada o feto na lixeira do banhei- Do ponto de vista da puta, o ero-
tuição no centro de São Paulo. Sem tismo é uma fantasia para homens.
buscar o áiibi do distanciamento cien- roi. E comovente: uma mulher esper-
tífico - o filme não se apresenta como neia e grita contra sua completa des- Maria Rita Kehl

MÚÇICA

Amélia ainda é a mulher de verdade?


6 tão raro aparecer algum espeth- Maricene Costa: simpática e afi- contr8iío: desfilam suas musas com-
cuio preocupado com a questão da .nada. Pena que o texto não positores como Noel Rosa, AtauUo Al-
mulher, que, quando isso acontece, ves, Haroldo Lobo, Chico Buarque e
parece que o pessoal acaba indo com
ajuda. Milton Nascimento. Excelente reper-
"muita sede ao pote'' ... E esse, pelo tbrio privilegiado pela interpetação de
menos, o caso do show "Mulher. vai Maricene, esperialmente em "D. Vem"
cavar a nota" de Maricene Costa, apre- - uma beleza de chorinhq de LUiz
sentado em março em São Paulo. Gonzaga e Humberto Teixeua - e a
o espetáculo tem como proposta deliciosa "Feijoada Completa" de
chico
fazer uma cronologia da condição fe- Assim, a proposta de show parece
minina através da MPB nos ÚtlmoS - ser sacrificada em função das músicas
pasmem! - 200 anos... Executar tal escolhidas, o mesmo acontecendo com
tarefa em 90 minutos pode ser conside- o texto. Neste sentido, a proposta Pa-
rada praticamente uma missão impos- _
W FC _limitar-se
_ ~- . a uma .idéia central,
slvel - e , é claro, isso resultou num
~~

preconcebida, que orientou todo o ar-


espetáculo superficial e parcial. gumento: "nada mudou em relação &
Hã momentos em que o roteiro, situação da mulher".
escrito por José Ramos Tinhorão. lg- Portanto, no final do show chega-
nora passos importantfssimos da se & conclusão que Chico Buarque 6
MPB. Por exemplo, quando pula de
1950 a 1975, passando por cima da
bossa nova, da miisica de protesto, da
jovem guarda e do tropicalismo.
Mas, assim mesmo, o show 6 gosto-
so. Leve. Alegre. !3 "pra cima": Marice-
ne não deixa cair a peteca. !3 versbtll,
simpática e afinada. Se faz acompa- a8 compositoras?
nhar de um excelente regional que Valeu a intenção. Mas para valer a
colore o espethculo com instnimentis- pena mesmo seria preciso ir um pouco
tas brilhantes. "Isaías e seus choróes". além, deixar fluir o pr6prio discurso da
Além disso, se a escolha das músi- MPB sobre a mulher. Afinal. ela já não
cas a nível de situar a questão da é mais aquela.
mulher me pareceu aleatbria. em ter-
mos musicais ocorre justamente o Eilane Robert Moraes
elaborando novo folheto. por d a s mes-
E o prazer de falar mas, com seus depoimentos. e sem as
informaçdes que Julgarem desnecessa-
nas" explica Tals

de prazer? ~~
Segundo ela. as dificuldades para
fazer o folhero foram muitas "Procu.
ramos, no 1evan:amento dos assuntos.
ser simples e diretas, empregar pouca
O grupo Sexualidade e PoUtica. de
são Paulo, acaba de lançar o folheto -...-.
elaborarao
.~ te6nca e transmilir c:ara.
~~~ ~ ~~~~

mente as iniormaçbes, para que o fo-


~ ~

Prazer é Revolucionário. O nome 6 en-


tusiasmador. assim como a proposta: lheto seja de fato um instrumento de
"Ser uma espécie de dicionário de h- trabalho concreto, de reflexão".
formações sobre saúde e sexualidade, Contudo, para algumas pessoas
dirigido ks mulheres das classes popu- que estão pesquisando as imagens que
lares, que até agora tiveram POUCO
acesso a esse tipo de informaçao e
reflexão". $ o que afirma Tais, uma
Prazer ilustram pubiicaçóes como esta, sobre
sexualidade, surgem algumas pergun-
tas: Até que ponto alguns desenhos do
das miiitantes do grupo, que surgiu folheto contribuem para tomar mais
em agosto de 1980. quando algumas asdmiláveis as informações inovadas
feministas independentes, ou ligadas pelo texto? Será que as mulheres iden-
a outras entidades, se propuseram ie- tificam, nestas imagens pouco prazei-
var a discussão desses temas Bs mu- rosas, o que elas conhecem ou procu-
lheres não feministas, que se organi- ram descobrir e sentir no seu prbprio
zam nos movimentos populares. ou corpo?
que apenas iniciam um processo de
conscientização. Para todo mundo que não mais
Desde enrão, entraram em contato duvida de que o prazer é revolucloná-
com mulheres que atuavam em grupos rio vem a exclamação: Pena que um
de par6quia. associaçdes de bairro. folheto que leva esse nome reserve
clubes de mães, em regiões como Mo- para o prazer um texto de pouco mais
oca, Carapicuiba. Orajaú e Taboão. da de uma página, e, ainda por Cima,
periferia de São Paulo. Sempre que espremido entre a reproduçao e a con-
essas mulheres mostraram interesse
em debater o assunto, o grupo organi-
é revolucionário tracepçao! Principalmente quando se
sabe que falar de prazer. descobrir o
zava palestras sobre o corpo da mu- prazer, sentir prazer empolga, entu-
lher e do homem, reprodução. prazer. siasma, arrebata as mulheres, sempre
contracepção. aborto, gravidez. parto. CORPO M MULHER
GRAWDEZ
que elas se reúnem para discutir sua
amamentação. menopausa, doenças sexualidade.
sexualmente transmitidas e controle SEXUALIDADE
do corpo pelo auto-exame. MENOPAUSA Cecílla Slmonettl

AAP
m A luz no fim do beco
manda ver'
A APEM-RJ (Associaçáo de PeS-
Surgiu no Rio de Janeiro, em mar-
ço, a mais nova publicação feminisra
hrawleira R rrvicia Sai de Beco l u .
~
fadas. com ilustraçóes de Lúcia Avan-
cini; artigus de Marhel Darcy de Oii-
Y P L (~' Onressãn da mulher: a b l o m a
~

Iher. trimestral. No n O, a comissão de fia de cada~umade n6s"l. Marisa-Fi-


quisas e Estudos da Mulher1 organizou redaçho-formada porLúcia Avancini. gueiredo ,-Mulher e trabalho"! e LeO-
uma serie de debates no segundo se- Nilce Oomes. Penha Dias e Ver! Espl- nor Paiva espancamento de mulhe-
mestre de 1981, onde as associadas "to - afirma que a revista "nau pre- res: uma questbo pública",; informes
expuseram seus trabalhos de pesqui- tende esgotar Lemas. mas Suscitar a variados; descrição de grupos feminis-
sa. Para divulgh-los a um público mais discursao. náo pretende apresentar tas que trabalham na área de violência
amplo. esses trabalhos começaram a idéias fechadas. mas estimular a refle- e poesia. A revista pode ser adquirida
ser editados em um conjunto de estu- xio e a mudança:'sendo um "ponto de através de pedidos por correspondh
dos que podem ser solicitados por cor- e:icontro de nossas idéias. pensamen- cia a Caixa Postal 21163. CEP 20110.
respondência endereçada a APEM-RJ tos. vivencias e emoçocs". Rio de Janeiro. R J . Preço ntual 150
(Caixa Postal 9022, 20-22260. Rio de O n O l r m 26 páginas, mlmeogra- cruzeiros.
Janeiro, RJi. Já foram lançados: no 1,
"A representação da mulher na pers-
pectiva infantil", de Amaryilis Schvin-
ger, Dulce Otero e Marilia de Oliveira
Fontes; n. o 2, "Mulheres pesquisando
mulheres", de Danda Prado: no3. "Es-
tudos de mulheres em versão brasilei-
ra", de Neuma Aguiar: e no 4. "Da
Chega de
tirania da ausência de estrutura: uma
tradução livre do texto de Joelle". de
Amaryllis Schvinger. Os n" 1 e 3 cus-
tam, cada um, 16 seios postais de Cr%
miss
11.00: e os nos 2 e 4. cada, 10 seios de
crá i7.00.
A APEM-RJ recém-organizou dois Vtuios m p o s de mulheres do Peru
KNDOS de Desquisa. O primeiro estuda enviaram um abaixo-assinado ao presiden-
ã põsição do quarto de empregada no te Belaunde T e m protestando contra a
espaço da rrsidbncia. para observar se proposta de reaiizaçeo no pais do prdximo
a mudança na loraluação dos aposen- concurso Miss Universo. "Esses concursos
tos dns rmpregadas doméslicas LI0 estão totalmente desacreditados nos paz-
nfrru o
nrPrlio _._._ . relarionamrnio entre
~ ses desenvolvidos. e agora se quer utilizar
elas e os empregadores. O segundo é países do Terceiro Mundo para sediá-10s".
um grupo de pesquisa-açáo onde as dizem as mulheres no abaixo-assinado.
empregadas são compreendidas como Elas consideram a proposta "um atropelo
mediadoras entre mulheres de Classe k dignidade da mulher peruana" e "um
média e as residentes na periferia, desperdlcio de dinheiro e luxo antagbniem
atuando como divulgadoras de infor- com a austeridade exigida pelas autorida-
mações e de conhecimentos sobre o des". E pedem que outros grupos de mu-
corpo feminino. Todos os grupos São lheres da América Latina também enviem
interdisciplinares. protestos ao governo do Peru.
)LHA A DISCRIMINAÇAO!
Fora da política dos "grandes"
uma a uma
Nós já estivemos tantas vezes no tividade, homossexualidade ou, mesmo,
ideo, discutindo com opositores do fe- a questão do abortamento. A respeito E uma grapa o Playmobil da Trol.
iinismo, debatendo, intervindo e não desta. então. reina uma hipocrisia gene- Quem ainda não conhece. procure no
ouve, até o momento, interferencia de ralizada. supermercado ou na loja de brinquedos
onos de TV ou mesmo necessidade de O debate Montoro-Reynaido mostrou mais próxima de sua casa: uma série de
e mandar calar a boca. Mas o debate - que ainda estamos. nós mulheres, risca- boneouinhos articulados
~~ ~ ~~ ~ fabricados
~_. ..
_ ..em
-.
..
m milhãoe quinhentos mil espectadores das do mapa das preocupaçóes dos poli- P as1 t o nrilhante caio, 0 0 tao bem aca-
- entre Franco Montoro e Reynaldo de ticos. em que pese a forte atuação da oados que até parecem nrinqLeao estran-
larros. os dois candidatos ao governo de popuiaçáo feminina em todos os movi- ge 'o. Acono cionaoos em ca xsrihas. os
;ão Paulo, foi, sendo o primeiro de algo mentos populares e o número de eleito- oonecos vem acompanhaoos ae seLs
io importante quanto o e a sucessão do ras mulheres que. no Estado de São aCessorios repioddz no0 ta e qLal es-
stado mais rico da Federação. algo ex- Paulo, são mais de 5 milhóes. Um grande tereot POS co onia stas. racistas e se-
'emamente tipico de homens, eleitorado ainda a ser conquistado, ainda x stas
O prefeito. coerente com sua posiçáo a ser cativado pela simpatia e sensibilida- Ela brinqued n i o preconce'tuosol A
olitica, em nenhum momento iembrou- de dos politicos. ComeCar pe as et qLetaS ILOO esc. to no
e de dizer que suas creches, incluidas Mais que cativado, esse eleitorado mais cast ço ingies a Pollce. o Çaloon. o
um vasto programa popular, foi idéia teria que ser conscientizado e 6 uma Bank etc , o qde nos .oga direto i - m
rilhantemente levantada e exigida pelas pena e um desperdício que tanto espaço oangue-oangJe entre noclnh3s b o m .
iulheres que têm levado a frente o Movi- usado na TV fique na disputa de "eu fiz nnos oranq-inhos e Dano does mex ca-
lento de Luta por Creches. Ponto a mais", "eu sei mais", "você r o u b o u nos de sombreiro e metralnadora caoa
ienos para ele, que poderia ter faturado mais". "você e ignorante" etc. Uma dis- .m no se, pape nem cert nno o neqro
m cima disso. cussão nesse sentido é inteiramente ma- artista de c rco o oranco o o d t o ~ .e a de
chista e esta em acordo com nossa reali- somb' nna e cest nna ele oe fei cap táo.
O senador Franco Montoro pecou dade. Ao menos supúnhamos que sairia- soidaoo ladrão' E se vocé. nLm eslorco
or seu ar de superioridade, comporta- mos dali com um programa de atuação ae coerbnc a 8deologica. lenta troca, os
lento classicamente abominado para mais completo, que mostrasse diferenças a c e s s o ~ o sdos bonecos enfrentaca cei.
uem enfrenta cãmeras e se dirige a um e consideraçóes entre as posturas politi- tamente d o s oostac.#os o do D O S O
rande público, geralmente composto, cas adotadas pelos nossos candidatos a pois cada personagem vem empacotado
m sua maioria, de quem ama a simplici- candidatos. Sabemos, entretanto, que o com sed acessor o , J S I O e o oa cr anca
ade. porque e simples. Ponto a menos senador Franco Montoro e o PMDB estão pois p mpante e resplandecente na ca xa.
ara ele, que poderia ter enfrentado o muito mais sensibilizados com o proble- esta Ia nem mpresso o modo correto de
debate" com muito mais possibilides de ma das mulheres. No Dia Internacional da JSO: T a erraao. mae. vocé não v e no
onseguir a simpatia dos indecisos. Mulher, por exemplo, Franco Montoro aesenno que qdem i a no volante com
apresentou projetos-de-lei que estimu- capacete não 0 mJlher? t honerni"
O curioso e observar o quanto ainda
3 resiste em falar das chamadas mino- lam. do ponto de vista fiscal, as empresas FLIIvIü Rosemberg
as. O prefeito Reynaldo de Barros mos- a manterem creches.
oumesmo ser oReynaldão, ao atribuir a De modo geral, porém, o papel da
m deputado "japonbs" (na realidade mulher na politica foi quase que comple-
issei) a prova de sem interesse pelas tamente apagado desse debate. porque a
iinorias. Mas o que duvido muito e que questáo da discriminação contra a mu-
ossamos chegar a ouvir, um dia, em lher na sociedade ainda não se incorpo-
ebate na TV, pelos políticos que estáo rou ao ideário dos politicos, mesmo
, (com rarissimas exceçóes). a discus-
aqueles da oposição. -
i0 livre e aberta sobre sexualidade, afe- Irede Cardoro

locas
de
mayo Professoras
perdem
@- establlldade
A garantia que as professoras de
escolas particulares de 1~ e 2" graus do
Estado de São Paulo tinham de não
serem demitidas nos Oito primeiros me-
ses de gravidez foi derrubada pelos pa-
tróes. no último dissídio da categoria.
Agora elas têm estabilidade apenas nos
I34 dias de licença que são dados pela
CLT, e mais 60 dias após a volta ao
trabalho.
Inconformadas. professoras de algu-
mas cidades. como Campinas, tentam
propor acordos internos nas próprias es-
coias. Mas estes parecem difíceis pela
Plaza de intransigência dos proprietários de esta-
belecimentos de ensino que, durante a
Mayo, reunião do dissidio. disseram "jóias" co-
Buenas mo estas: "Determinadas professoras es-
tão-se engravidando só para manter a
Aires, estabilidade". "estas professoras que vão
abril parir às custas de outros e não dos
estabelecimentos de ensino" e ainda "na
de 02 minha escola mulher não entra sem exa-
me de urina". Pode?
o A Fundação Carloo Chagas acaba Mepilnt, publicação feminista esco- pabilizam as mulheres tendem a provocar
de editar um trabalho Útil para os interes- cesa.'em seu último número, traz a rese- um efeito contrário. Como Jacobson diz,
sados em estudos sobre a mulher e, em nha do livro de Bobbie Jacobson The o modo de ajudar alguém que fuma por
geral, sobre a contribuiçáo dos viajantes Lidyt lllers (Pluto Press). Inesperada- sentimento de culpa não e lhe aumentan-
estrangeiros para a documentação dos mente. o livro trata de tabagismo entre as do a culpa. FÚlvla Rosernberg.
costumes n o Rio de Janeiro no seculo mulheres. A autora, feminista, diíerente-
passado. Trata-se de A mulher no Rio de mente do que vem ocorrendo na biblio-
Janeiro, no oéc. XIX - Indice das refe- grafia sobre tabagismo. náo culpabilira
rências em livros de viagem de estrangei- as fumantes. Mas procura entender este
ros, de Miriam Lifchitz Moreira Leite, hábito integrando-o na compreepão da
Maria Lúcia de Barros Mott e Bertha posição subalterna da mulher. E assim
Kauffmann Appenzeller. Nele se apresen- que, para transmitir seu recado, usa as
tam as referências classificadas por as- mesmas técnicas aprendidas nos movi-
sunto, por data e por autor; e a referência mentos de liberação, que náo deixam as
bibliográfica completa das obras utilira- mulheres se sentirem nem seres absolu-
das no levantamento. tamente irracionais nem exceções soli-
tarias.
Analisando as diferenças entre os
sexos no vício de fumar, Jacobson salien-
o Reflexóes sobre a condição histbri- ta que uma maior igualdade sexual pode-
cafeminina nas sociedades capitalistas e. ria explicar porque um maior número de
em especial. na sociedade brasileira, es- meninas começa a fumar, mas não por-
tão reunidas em O lugar da mulher - que as mulheres tem maior dificuldade
Estudos s6bre a condlção feminina na que os homens de largarem o cigarro.
sociedade atual, recente lançamento da Sua explicação: enquanto o homem
Editora Graal. O livro é organizado por tende a fumar para aumentar o seu pra-
Madel T. Luz, e apresenta estudos de zer, as mulheres, por sua condição de
Anette Goldberg, Jacqueline Pitanguy, vida, usam o cigarro como forma de se
Mary Pimentel Drumont. Lelia Gonzalez. livrarem de culpa e frustração. Neste
Celina Albano, Paula Montero e Elça de sentido, as campanhas antifumo que CUI- ilustração do livro Con Gti Occhi Der Bambino
Mendonça Lima.
,?\;>>
Y
rl
-- AGENDA
O O Centro da Mulher BrasileirsiSP pro- A I I Sessão Extraordinaria das Na- sity Park, Los Angeles, CalifÓrnia 90007
moveu em março o lançamento do livro ções Unidas sobre o Desarmamento (de 7 - E.U.A. (De um informe enviado ao
Ser ou não ser feminista. de Ana Monte- de junho a 9 de julho de 1982) será Mulherio por Mary Garcia Castro).
negro, jornalista, advogada e poetisa. acompanhada por uma série de eventos 3,; .--
Ana foi fundadora, em 1949, da Federa- paralelos (conferências, marchas, etc) or-
ção das Mulheres no Brasil e do extinto ganizados por uma Secretaria internacio- A exemplo do que vem acontecendo
jornal Momento Feminino. No livro, ela nal de Ligação (ILO)sediada em Nova com outras associações, a intercom (So-
da um testemunho de sua experiência York. Entre as dezenas de movimentos ciedade Brasifeira de Estudos Interdisci-
como militante do movimento de rnulhe- mobilizados pelo desarmamento encon- plinares da Comunicação) também orga-
res no Brasil e no Exterior. tra-se a Liga Internacional de Mulheres nizou um grupo de estudos sobre mulher:
pela Paz e Liberdade. que previu, para o "Mulher e Comunicação", coordenado
@F- acontecimento, a realização de uma Con- por Dulcilia Buitoni. Para maiores infor-
ferência internacional de Mutheres. maçoes entrar em contato com Manolo
O prlmeiro número do internaclonal A ILO está solicitando adesães, apoio Morán, rua Conceição R. Pugliese. 135-
Supplement to t h s Women's Studres financeiro, etc. Para maiores informa- Butantã - 05587, São Paulo, SP -fone:
Querterly traz um artigo de Leni Silvers- ções: Internacional Liaison Office, River- 813-3523
tein sobre o Encontro Feminista Latino side Church Tower. 191490 Riverside Dri- Mulherio compartilhou o espaço, du-
Americano, poemas de poetisas portu- ve. New York, N. Y. 100027. rante o mês de março, da mostra "Peque-
guesas, reportagens sobre o Instituto de L.... I
na Imprensa: Faça uma assinatura" orga-
Estudos de Mulher da Universidade de nizada pelo Café Paris (av. Valdemar Fer-
Beirute, sobre um programa do governo De 7 a 10 de junho de 1982 será reira, 55 - São Paufo-SP). Obrigada,
jamaicano para treinamento de mulheres realizado em Lima (Peru) o Congresso arn igos.
em profissões nZlo tradicionais, um artigo Pesquisas sobre a mulher na Região An-
sobre pesquisa com mulheres rurais, um dina, organizado pela Peru-Mujer. Para
programa de curso e bibliografia sobre maiores informaçôes, comunicar-se com
mulher de desenvolvimento. A revista po- Peru-Mujer, Avenida Espana 578 - 301, ENDEREÇOS
de ser encontrada na Biblioteca da Fun- Lima 5, Peru.
Desde o ultimo número de Mulherio,
dação Carlos Chagas. Para envio de arti- z-:,.- em que publicamos uma lista de grupos
gos sobre pesquisa e ensino, o endereço A Latin American Çtudies Association de mulheres por todó o pais, novas enti-
8 : Box 334, Old Westbury, New York
11568. Estados Unidos.
- LASA - reuniu, em março, cerca de dades surgiram, outras nos deram notícia
1.200 pesquisadores e estudiosos num pela primeira vez. Bom sinal: sinal de que
encontro sobre temas relacionados com estamos crescendo, mexendo. Anote ai
a América Latina. Considerou-se entre- os novos endereços, para atualizar sua
Informe-se com lÇlS - um material tanto que o número de sess6es sobre lista.
de leitura e referbncia obrigatória para estudos relativos a mulher foi insignifi- - Revista Sai do Beco Mulher. Cajxa
quem quer se informar sobre as ativida- cante, J aque 30% dos membros da U S A Postal 21.163, CEP 20.110, Rio de Janei-
des dos grupos feministas de todo o são mulheres. ro, RJ.
mundo: assim é ISiS, boletim internacio- O próximo encontro da associação -Grupo de reflexão "Elas por elas".
nal editado por um coletivo de mulheres será realizado de 29 de setembro a 10 de Mesmo endereço anterior.
em Genebra e em Roma. Cada número, outubro de 1983. na cidade do México. O - SOS Mulher. Rua Coronel Neves.
com cerca de 30 paginas, traz artigos de grupo denominado "Task Force on Wo- 114, Bairro Medianeiro, Porto Alegre, RS.
análise e informaçóes sobre o feminismo. men of Latin American Studies Associa- 90.000.
O primeiro numero de 1982 é inteiramen- tion", que realiza as sessões, filmes E -Associação de Mulheres de Piraci-
te dedicado ao I Encontro Feminista Lati- conferencias sobre a mulher na LASA, caba. R. Ajudante Albano, 447, São Di-
no-americano e do Caribe. Há edições em propós que neste encontro sejam debati- mas, Piracicaba, SP, 13.400.
inglgs e em espanhol. E vale a pena dos os seguintes temas: A mulher na - União d2s Mulheres de Santa Bar-
assinar, sem risco de perder o dinheiro: a produção e reprodução. Estado legal da bara. R. João Lima, 16, Santa Bárbara do
revista sai regularmente a cada trés me- mulher na colônia, Feminismo na Ameri- Oeste, ÇP, 13.450, fone (0194) 63-1335.
ses, e existe desde 1976. O valor da ca Latina e Pesquisa Feminista. - CEVAM (mudança de endereço).
assinatura anual B de 20 dólares para As pessoas interessadas em apresen- k u a 90, no 999, Setor Sul, Goiânia, GO,
pessoas particulares e grupos feministas, tar trabalhos (em inglas, espanhol ou 74.000.
e de 25 dólares para bibliotecas e institui- português) devem entrar em contato com - Grupo de Trabalho Sexualidade e
çóes. Envie seu nome, endereço e um Beth Miller: Associate Professor, Univer- Politica: rua Cardeal Arcoverde, 2109,
cheque em ddlar para ISIS. Via Santa sity of Southern California, Departamento Pinheiros, CEP 05407, São Paulo, SP,
Maria dell'Anima 30. 00186, Roma, Itália. of Spanish and Portuguese, USC Univer- fone 814-5753.
Preparem suas canetas, seus gravadores,
suas anotações: já estão abertas as
inscrições para o 3" Concurso de Dotações
para Pesquisa sobre Mulher, realizado
pela Fundação Carlos Chagas com recursos
da Fundação Ford. Qualquer pessoa pode-se
candidatar a receber uma verba
de até 1,5 milhão de cruzeiros para
desenvolver um estudo
nas diversas áreas
relacionadas h mulher.
Mas atenção: as Inscrições
encerram-se no dia 20 de agosto.
~

I
Pode se inscrever no concurso Itrabaihos não encontraiam condi- na avaliação de programas como no
qualquer pessoa ou grupo depessoas ções de serem desenvolvidos através aproveitamento que grupos de mu-
com residência permanente no Bra- dos canais tradicionais de dotação lheres possam obter do trabalho.
sil, independentemente de seu grau de verbas."
de graduação ou do fato de estar ou) Como inscrever-se
não ligada a uma instituição. Os tra- Inovar as abordagens
baihos serão julgados por uma co- NBo há um iormuiário especfflco
missão organizadora composta por Anaüsando os concursos anterio- para inscrição do projeto, mas todas
pesquisadoras da Fundação Carlos res, as participantes da comissão or- as propostas deverão ser apresenta-
Chagas (Cannen Barroso. Cristina panizadora mostram o desejo de Que das em quatro vias contendo:
Bruschini. Fellcia Madeira, Fúlvih este avance mais, em v&riossentidos. 1) Rojeto de no máximo 20 pági-
Rosemberg); da Universidade Fede- Um deles sena a ampliacão do irque nas datilograiadas em espaço duplo.
ral de Minas Gerais íGlaura Vasques de assuntos pesquisados c a aborda- incluindo blbliograiia, dlscussão
de Miranda): do Instituto Universitá- $t.m de temas que ainda sao insufi. conceitual e metodolopia.
rio de Pesquisas do Rio de Janeiro cientemente rstudados no Brasil. co- 2) Cronoerama ío trabaiho deve
1Neuma Aguiari e do Instituto Supe- mo a mulher no Bmb:to privado, sua
rior de Estudos da Reiigião,do Rio rrlicão com a famli!a sexual!dade
(Leni Silverstein), assessoradas por
15 especialistas que examinwZo os d a de crianças, minorias raciaibmu-
projetos relativos B sua área de lher na literatura e estudos de abor-
estudos. dagem hist6rica.
Este é o terceiro concurso pro- Não há restrições a nenhum te- %a a que se tenha candidatado i0
movido pela Fundação Carlos Cha- ma que diga respeito & muiher. mas limite de financiamento é de 1.5 mi-
gas. O primeiro. realizado em 1978. sem dúvida, alguns deles já merece- lhão de cruzeiros. mas os candidatos
recebeu 121 candidatos e uma verba ram grande numero de estudos. Car- devem-se preparar para, eventual-
de ate 120 mil cruzeiros para cada men Barroso diz: "Talvez o problema mente. obterem uma verba inferior
projeto. Vinte foram aprovados e fi- não seja nem mesmo a existência de ao teto estabelecido.)
nanciados. Entre os pesquisadores, temas muito investigados, mas de 4) Curriculum vitse, incluindo es-
havia desde iniciantes. ainda estu- abordagens tradicionais desses te. pecificação das atividades profissio-
dantes universitários, ate pesquisa- m.?a Um bom exemplo de aborda- nais atuais, carga horária e remune-
doras consagradas, como Heleieth gem nova em cima de uma temática ração ou bolsa de todos os pesquisa-
Saífioti e Branca Moreira Aives, que já bastante pesquisada - a mulher e

I
dores.
posteriormente prepararam livros o trabalho - apareceu no segundo 5) DUW cartas de recomendação.
com o resultado de suas pesquisas. A concurso: dois projetos abordaram o Em caso de a pesquisa ser utiiizada
prbpria Fundação Carlos Chagas 01. trabalho a domicliio. uma relação D ~ tese.
B uma carta deverá ser do
ganhou duas coletâneas de artigos pouco estudada". &lentador.
dos pesquisadores. A primeira, lan- Qualquer que seja o tema esco- 8) Uma página de capa contendo
çada sob o tltulo de Vivèneia, foi ihido. e importante que o candidato o titulo e breve resumo da pesquisa
editada pela Brasiliense. A segunda, conheça o que já existe sobre o as- proposta, e o nome, endereço e nú-
com artigos sobre trabalho da mu- sunto, fazendo um bom levantamen- mero de telefone do pesquisador
lher. deve sair ainda este ano. to bibliográfico. e procure apresentar principal. a quem dever8 ser diriada
O segundo concurso, em 1979. um projeto que avance em relação & a correspondência.
teve 139 candidatos. dos quais 19 produção anterior. Qualquer pessoa Embora não haja normas rigidas
tiveram seus projetos financiados pode solicitar a lista dos projetos para a apresentação das propostas,
em ate 200 mil cruzeiros. Ele revelou aprovados nos concursos anteriores, seria interessante s u e os candidatos
uma grande diversificação na fonna- bem como consuitar a biblioteca da as formulassem de-maneira precisa,
ção das pessoas interessadas no as- Fundação Carlos Chagas, que tem explicitando a reterèncla conceituai
sunto: além de cientistas sociais, um vasto acervo sobre mulher. da pesquisa ou o contexto compara-
participaram também médicas, ar- As integrantes da comissão orga- tivo, a contribuição especlfica do
quitetas, artistas, advogadas e enge- nizadora manifestam o desejo de es- projeto para o conhecimento do te-
nheiras. timular a colaboração inter-regional ma, a relação entre o projeto e a
Desta vez, espera-se que o i n t e ou interinstilucional no desenvolvi- literatura sobre o assunto, a bibiio-
resse seja ainda maior. Como diz mento de projetos especlficos. Lem- graiia utilizada, e, por fim. as fontes e
Glaura Vasques de Miranda. "depois bram também a importância da par- a natureza dos dados a serem coleta-
dos concursos da Fundação Carlos ticipação de pesquisadores dos mais dos. O interessado também poderá
e Chagas e da publicação dos traba- diversos Estados do País. pois nos amesentar cboias de trabaihos já
I lhos, a pesquisa sobre a situação da dois concursos anteriores, a maioria
mulher, antes relegada a segundo dos projetos vinha do eixo Rio-São
2 plano na área acadêmica, passou a Paulo, seguindo uma tendhcia con-
ser considerada um assunto sério. centradora da pr6pria cultura nacio-
w Além disso, os concursos abriram um nal nesta região.
canal de participação para novos Ressaltam, ainda, a importância
pesquisadores, já que determinados de se vincular pesquisa e ação, tanto
3
~

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