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o R ELO G IO D E OURO
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Agora contarei a história do relogio de ouro. Era um
grande chronometro, inleiraraente novo, preso a uma
elegante cadeia. Luiz Negreiros linha muita razão em
ficar boquiaberto (juando viu o relogio em casa, um
relogio que não era d’elle, nem podia ser de sua mulher.
Seria illusâo dos seus olhos? Não era; o relogio alli
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estava sobre uma meza da alcova, a olhar para elle,
talvez tão espantado, como elle, do logar e da situação.
Clarinha não estava na alcova quando Luiz Negreiros
alli entrou. Deixou-se íicar na sala, a foi near um lo-
mance, sem corresponder muito nem pouco ao ósculo
com que o mando a comprimentou logo a entiada. Era
uma bonita moça esta Clarinha, ainda que um tanto ír
pallida, ou por isso mesmo. Era pequena e delgada; de
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194 niSTORIAS DA MEIA NOITE
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peu de sol, com grande risco das jarras e do candelabro-
— Vocôs estavam dormindo ? perguntou o sr. Meirel-
les tirando o chapéu e limpando a lesta com um grande
lenço encarnado.
— Não, senhor, estavamos conversando...
— Conversando?... repetiu Meirelles.
E accrescentou comsigo:
— Estavam do arrufos... é o que ha de ser.
— Vamos justamente jantar, disse Luiz Negreiros^.
Janta comnosco ?
— Não vim ca para outra cotisa, acudiu Meirelles;
í ! janto hoje e amanhã também. Não me convidaste, mas
Ií: c 0 mesmo.
— Não 0 convidei ?...
— Sim, não fazes annos amanhã ?
— Ah ! é verdade...
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3|,. 1; Não havia razão apparente para que, depois d’estas
palavras ditas com um tom lugubre, Luiz Negreiros re
petisse, mas d’esta vez com um tom descommunalraenle
alegre:
— Ah! é verdade !...
Meirelles, que ja ia pôr o chapéu n*um cabide do
corredor, voltou-se espantado para o genro, em cujo
rosto leu a mais franca, súbita e inexplicável alegria.
— Está maluco ! disse baixinho Meirelles.
— Vamos jantar, bradou o genro, indo logo para
dentro, emquanto Meirelles seguindo pelo corredor ia
ter á sala de jantar.
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Luiz Noííreirois
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i‘oi ter com a mullier mi sala de cos- II
lura, e acliou~a de pe, compondo os cabellos diante de
uin espelho:
— Obrigado, disse.
A moca olhou para elie admirada.
— Obrigado, repetiu Luiz ?segreii‘os; obrigado e
perdoa-ine.
Dizendo isto, urocurou Luiz Negreiros abraçal-a; mas
a moça, com um gesto nobre^ repelliu o alíago do ina-
rido e íoi para a sala de jantar.
— 'Pem razão! murmurou Luiz Negreiros.
D’ahi a pouco achavam-se todos tres á mesa do jantar,
e íoi servida a sopa, ([ue Meirelles achou, como era
natural, de gêlo. ía ja lazer um discurso a respeito da
incúria dos creados, quando Luiz Negreiros confessou
que toda a culpa era d’elle, porque o jantar estava ba
muito na mesa. A declaração apenas mudou o assumpto
do discurso, que versou então sobre a terrivel cousaque Sill
era um jantar requentado, — fiii ne mint jamais rlen-
Meirelles era um homem alegre, pilherico, talvez
frivolo de mais para a edade, mas em todo o caso inte
ressante pessoa. Luiz Negreiros gostava muito d’elle, e
via correspondida essa aíTeiçáo de parente e de amigo,
tanto mais sincera quanto que Meirelles so tarde e de
ma vontade lhe dera a filha. Durou o namoro cerca de
quatro annos, gastando o pae de Clarinha mais de dous
em meditar e resolver o assumpto do casamento. A final
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