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pertar esse que s6 pode ser dado graqas a utna

expressäo poética viva.


11 Toda a gente sabe que basta expri1Dir e des-
oesia lirica crever por palavras a dor ou a alegria para logo
as atenuar pelo desabafo até ao alfvio; a poesta
Ifrica, pelo contrårio, näo pode recorrer a tal
s artes plåsticas representam os objectos,
processo para produzir o Inestno efeito na
trabalhados, é certo, mas consciéncia alheia; a sua missäo é rnais elevada:
na sua realidade exterior, enquanto a fantasta
consiste em libertar o espfrito, näo do sent]-
poética nos då apenas ulna intuiqäo e um sen-
tnento, Inas no sentitnento. Corn cfeito, o do-
puran)ente in teriores. Contrariatnen-
te ao que sucede nas detnais artes, e dado este
Infnio que a paixäo exerce sobre a altna, seru
que ela disso se aperceba, realiza-se no ponto
Inodo de produsäo geral, o que na poesia do-
tnina é a subjectividade da criaqäo espiritual, de identiflcaqäo de ulna corn a outra, unidade
que se revela até nas obras mais concretas. indissolåvel que irnpede a altna de se afirtnar e

A poesia épica, que representa os objectos, exprimir independen ternente. A poesia irå li-
quer na generalidade substancial, quer sob o bertar a alma de tal opressäo, que lhe apre-
senta, por assirn dizer, perceptivel e palpåvel;
aspectO vivente, a exetnplo da escultura e da
pntura, realiza, pelo n)enos no Inotnent() cul- näo se contentarå, porém, com libertar o indi-
nunante da arte, que o poeta desapareqa, com vfduo da sua fusäo directa com o conte(ldo:
farå do conteådo um objecto subtrafdo å
as representaqöes e sentirnentos, diante da
influéncia de disposiqöes psfquicas momen-
objectividade das criaqöes. Mas se o poeta
quiser fugir a esta tendéncia para o exterior,
tåneas e acidentais, na presenqa do qual a cons-
ciéncia, finalmente tranquila, se reencontra
terå por cuidado de integrar na pr6pria subjec-
låcida e recupera a liberdade. Todavia, esta
tividade o conj unto dos objectos e das relaqöes
exteriores ou de penetrå-los pela interioridade prilneira objectivaqäo poética näo pode trans-
gredir a linha da representaqäo subjectiva da
da consciéncia individual; e, por outro lado,
alma do sentitnento como que ernbrenhados
e
abrir curso livre aos sentitnentos até entäo con-
na acqäo, quer dizer, näo vai ao ponto de repre-
centrados, Inanter vigilantes os sentidos, tornar
sentar a individualidade na sua actividade
perceptivels å representaqäo as itnpressöes até pråtica. A interioridade constitui a verdadeira
entäo obscuras, e exprirnir a interioridade realidade do mundo interior. Se assim é, a
asslin liberta. SC) o farå, poréln, com auxflio das
exterioridade, externaqäo ou safda do indivfduo
palavras e da linguagern. Quanto tnais este para fora de si mesmo, s6 poderå ter o sentido
Inelo de cornunicaqäo se afastar da positividade de libertar a alma do seu estado de concen-
da arte épica, e ern virtude deste Inestno afasta- traqäo directa, de um estado incompatfvel corn
Inento, tanto rnais a forma subjectiva da poesia representaqöes mentais ou com palavras que as
se tornarå independente da epopeica e serå exprimarn; graqas å libertaqäo, jå a alma é capaz
forqada a procurar utna fortna que melhor lhe de se expritnir e de dar aos sentirnentos, até
convenha. Ao separar-se da objectividade, o entäo obscuros, a fortna de intuiqöes e de re-
espfrito reclui-se etn si Inestno, perscruta a sua presentaqöes conscrentes. E esta a missäo essen-
consciéncla e procura dar satisfaqäo å necessi- Cial da poesia Ifrica e aquilo por que difZ•re da
dade que sente de exprilnir, näo a realidade das poesia épica e da poesia dratnåtica.
coisas, Inas o Inodo por que elas afectarn a Na exposiqäo deste assunto seguiretnos o
Inestno plano que seguimos nas nossas conside-
alma subjectiva e enriquecern a experiéncia
pessoal, o conteådo e a actividade da Vida inte- ragöes sobre a poesia épica.

rior. Por outro lado, para que esta revelaqäo da Por outras palavras, cotneqaremos por
deflnir o seu caråcter geral. Passaretnos segui-
alina se näo confunda corn a expressäo aciden-
dainente ao exame das detertninaqöes particu-
taldos sentilnentos e representaqöes ordinårias, lares aplicåveis ao poeta Ifrico, å obra de arte
e t01ne a forma poética, serå necessårio que as
Ifrica e ås suas variedades e géneros. E ter-
ideias e ilnpressöes que o poeta descreve, sendo
Pessoais, conservern todavia urn valor geral,
evoluqäo hist6rica da poesia Ifrica.
quer dizer, seja:n auténticos sentimentos e con- No
conjunto, esforqar-tne-ei por ser täo
Sideraqöes capazes de despertar ein outras pes- breve quanto possfvel, e isto por duas razöes:
soas sentilnentos e consideraqöes latentes, des-
- SISTEMA DAS ARTES
lado particular desta totalidade ou, pelo menos,
prinR1ratnente, para reservar lugar bastante
mostra-se incapaz de explicitar e desenvolver a
para o estudo da poesia drarnåtica que me resta
sua mensagem de forma täo completa quanto a
alnda fazer; e, seguida, porque serei forqado
da poesia épica. Nao é portanto, em determi-
a ter conta apenas pontos gerais, VISto que a
nada obra Ifrica particular que iremos procurar
poesia lirica cotnporta minudénclas infinita-
a expressäo da totalidade dos interesses, das
mente nutnerosas e variadas c que poderratn
representaqöes, idc•las e fins naoonals, mas no
ser tratadas de urna fortna mats ou mcnos saus-
conjunto, na totalidade desta poesia ao Ion go
fat(3ria ou cotnplcta pelo tnétodo hlst(6nco, o
dos séculos. A poesia Ifrica näo comport a
que näo é da nossa cornpeténcla.
biblias poéticas, semelhantes ås que encon-
t ramos quando estudamos a poesia épica.

Possui, todavia, uma vantagem: a de surgir,


l. Caråcter geral da viver e prosperar em todas as vicissitudes da
Poesia lirica hist(3ria nacional. A
poesia épica propriamente
dita, essa, pode nascer, florescer e frutificar
em certas idades genesiacas, para declinar e fe-

poesia épica nasceu do prater de ouvlr o necer, passadas as épocas de heroismo, quando
relato de unn acqäo estranha que se a Vida ton)a urn aspecto habitual e prosatco.
desenrola, na forma de utna totalidade objec- Apesar de originada no particular e no indi-
tlva cornpleta, ante a consciéncla do ouwnte. vidual, utna obra lirica pode ainda assim
A poesia Ifrica satisfaz utna necessidade cony expritnir o que hå de mais geral, tnais profundo
pletmnente oposta: a de perceber o que senti- e mais elevado nas crenqas, representaqöes e
mos, as nossas etnoqöes, os nossos sentitnentos, relaqöes humanas: o conteu'ldo essencial da
as nossas paixöes, rnediante a linguagem e as religiäo, da arte, dos proprios pensatnentos
palavras com que o revelamos ou objectivarnos. cientfficos, na medida em que se adaptem ås
Teremos, portanto, de examtnar o conteådo da formas da fantasia e da intuiqäo e que pene-
poesia Ifrica, a sua esséncja, a sua forma, mas trem no d01nfnio do sentimento. As concep-
também o grau de consciéncla e o de cultura qöes gerais, a maneira de considerar o umverso,
em que o poeta lirico haure os seus sentllnen- as condigöes e as leis mais profundas que re-
tos e as suas representaqöes. genl a Vida, näo estäo, portanto, excluidas da
poesia lirica e utna grande parte do conteådo
de que jå falei a respeito dos géneros épicos in-
a. O contezido da Poesia lirica cornpletos, tatnbétn convém a este novo gé-
nero.
O conteådo da poesia lirica näo pode ser a A esfera docotno tal, agrega-se, etn
geral
reproduqäo verbal de ulna acqäo objectiva onde segundo lugar, o aspecto da particularidade.
todo o mundo, corn toda a rjqueza das suas Esta, corn efeito,pode cotnbinar-se corn essas
manifestaqöes, se possa reflectir ou sitnbolizar. verdades substanciais, quando tal situaqäo par-
O lirismo restringe-se ao honrrn individual e, ticular, tal sentimento, tal representaqäo iso-
consequentemente, ås situaqöes e aos objectos ladas estäo apreendidas na sua profunda essen-
particulares. O conteådo da poesia lirica é, cialidade e expressos de uma maneira
pois, a manelra coino a alina com seus juizos substancial. E o que se verifica etn Schiller, por
subjectivos, alegrias e ad:niraqöes, dores e sen- exetnplo, näo s6 nas poesias Ifricas propria-
sagöes, toma conscréncia de Sl rnesrna no mente ditas, como tatnbéln nas baladas, a
åmago deste conteådo. Graqas a tal caråcter de prop6sito dos quats Ine con tentarei cotn recor-
particularidade e de individualidade que cons- dar a grandiosa descriqäo do coro das
titui a base da poesia Ifrica, o conteådo pode Eutnénides nos Grous de Ibicus. Este fraotnento
oferecer uma grande variedade e ligar-se a näo é dratnåtico netn épico, tnas Ifrico. Por
todos os assuntos da Vida social, mas, sob este outro lado, esta uniäo pode operar-se de tal
aspecto, difere essencialmente do conteådo da modo que utna grande variedade de tragos, de
poesia épica, sein confusäo possfvel. Enquanto estados,de disposiqöes e de casos particulares
a épica apresenta, numa s6 e Inesma obra a forneqam utna base real para a expressäo Ifrica
totalidade do espfrito nacional em suas Inani- de concepqöes tnutto vastas e cotnpreenstvas,
festaqöes reals, a poesia Ifrica foca apenas utn totaltnente penetradas desta realidade. Esta

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AS ARTES ROMANTICAS -A POESIA
uniäo é por vezes utilizada na elegia e na epis-
, e tnaneira geral, todas as con- uma unidade con)pletamente diferente da obra
stderaqöes que encerram reflexöes sobre a Vida émca•, a unidade provenience da reflexäo e das
eo estado do tnundo. fntimas dispostqöes do espfrito; depois de se ter
01ho na poesia Ifrica quem se exprime é o expandido interiormente, o poeta projecta a
indivfduo, este pode muito bern contentar-se sua alma no mundo exterior, sob a forma de
com o conteÜdo mais insignificante. Com quadros descrltivos, ou entäo, interessa-se por
efeito, o que interessa antes de tudo é a um objecto qualquer dado 0 caråcter Pura-
e,

mente subjectivo deste interesse, adquire o


posrqöes da altna e dos sentitnentos, e näo a de direitode comeqar ou acabar onde, quando e
corno lhe aprouver. Horåcio, por exemplo, sus-
urn objecto exterior, por tnuito pr6ximo que
esteja. O
estado de alma mais instantåneo, os pende uma descrifäo no momento em que a
deverla ter comeqado, se obedecesse ao gosto
anelos do coraqäo, os relåmpagos de alegria, a
melancolia, as lågrimas, enflm toda
tristeza e a
vulgar. Tomando por assunto uma festa,
descreverå apenas os seus sentimentos, ordens e
a gatna de sentidos nos seus tnovltnentos nuns
preparativos, sem nada nos dizer acerca do
råP1dos e acidentes tnais vanados, permanecem
resultado ou éxito da mesma. Do mesmo
fixos eternizados Inediante a expressäo verbal.
modo, a natureza das dispostqöes psfquicms, e o
Verifica-se aqul, no dominio da poesia, um estado da alma individual, os impulsos, trans-
facto anålogo ao que tive jå ocasiäo referir a portes e Intensidade da paixäo ou a serenidade
prop6sito da pintura. Os objectos, o tenu säo da altna e da contemplaqäo, fornecem å mar-
corn pletarnente acidentais; a itnportåncta reside cha e coesäo Interiores, as regras mais variadas.
na concepqäo e na expressäo artisticas cujo Por isso, dada a multiplicidade das causas de
encanto, no que se refere å poesia Ifrica, pode que as variaqöes interiores dependem, é impos-
conststlr no terno perfunw que a alina exala, na sfvel estabelecer prlncfpios gerais e regras fixas.
novidade e na originalidade das ideias nos Entre as vårias diferenqas que distinguem a
aspectos surpreendentes do pensamento, etc. poesia Ifrica da poesta épica, limitar-me-ei a
indicar as segumtes. Encontråmos na poesia
éP1ca, certos géneros que se aproxinum do tom
b. A forma da Poesia lirica Ifrico;tanibém na poesia Ifrica, por seu turno,
encontrarelnos por seu tema um acontecl-
Pelo que concerne å fortna mediante a qual Inento, éPIC0 pelo conteådo e caråcter exterior,

uln contet'ldo subjectlvo passa a ser obra uma e apresentado sob uma forma igualmente
épica: cantos her6icos, baladas, romances, etc.,
de arte Ifrica, dirernos que tarnbém aqui é o
fazem parte desta categoria. A forma de um tal
indivfduo, com as suas representaqöes mentats
conjunto é entäo, por um lado, a de uma nar-
e sentimentos fntirnos, quem constitut o cen-
rativa, posto que relata o curso de unu situa-
tro. Tudo etnana do coraqäo e da alina ou,
$0, de um
acontecimento a mudanqa brusca
mais exactamente, das disposiqöes e situaqöes nos destinos de uma naqäo, etc. Mas, por outro
particulares do poeta. Sendo assnn, o conteådo
lado, o torn fundamental permanece essencial-
(eo laqo unitivo dos diferentes aspectos que tal mente Ifrico, porque se trata acima de tudo,
conteådo vai revestindo no seu desenvolvi- näo da descriqäo ou da pintura ilnpassfvel de
mento) näo teln, corno na épica, a objectivi- um acontecinrnto real, mas da expressäo do
dade de un) conteådo substancial, e näo extral Inodo de conceber e de sentir, do estado de
significaqäo de se ter Inanifestado exterior- allna alegre ou melancélico, corajoso ou
deprilllido do poeta e, além disso, porque a
tnente, na qualidade de acontecitnento indivi-
acqäo para a qual a obra lirica foi escrita é tam-

Puramente subjectivo e tem origern ou ponto poeta se propöe evocar no auditor ou no leitor,

Poeta. E por isso que, o Ifrico deve ser dotado nele fez nascer o facto que relata e que inte-
grou, por assim dizer, na expostqäo. Exprime a
uma rica fantasia, possuir grande sensibilidade
e profundos pensamentos, enflm, ser portador patriotistno, de uma tal maneira que, é jå o

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SISTEMA DASARTES
nas épocas primitivas da sua poesla, um grande
ou de outro destes sentimentos que constitui a
ntimero destas composiqöes e, de uma maneira
fonte central da obra, mas justamente o seu
geral, a sua poesia popular tem uma grande
reflexo anterior. Assim se explica a razäo
porque escolhe os pormenores mais bem har- predilecqäo por estas hist6rias tristes e Pelos
conflitos que elas originam, sendo seu tom o
Inonizados com os seus pr6prios movimentos
interiores. Se, pois, o tema é épico, o estilo ou de um sentimento melanc61ico que oprime o
modo do seu tratamento é Ifrico. coraqäo e afoga a voz. Modernamente, na
Entre os géneros englobados nesta catego- Alemanha Bürger, mas sobretudo Goethe e
Schiller deram provas de uma grande SUPeriori_
ria, citaremos em primeiro lugar o epzgrama, na
medida em que näo é uma simples inscriqäo ou dade em composiqöes deste género: Burger
gravura ein pedra que, por breves letras, pro- pela sua conflante ingenuidade; Goethe, tanto
clama o que é uma dada coisa, mas faz a liga- pela claridade transparente das suas obras
Gäo deste enunciado com um sentrmento e como pela intimidade Ifrica que nelas reina;
transfere assim o conteådo da realidade posi- Schiller, pela elevaqäo eprofundidade do senti-
tiva para a interioridade. O
poeta näo se anula Inento, pela sua faculdade para expressar as
ante o objecto, confunde-se corn ele; corn ele ideias Inais profundas, em estilo Ifrico, sob a

relaciona os seus desejos, combinaqöes enge- fortna de acontecinrntos e apresentados de


nhosas e descobertas inesperadas. A Antologia modo tal que realizarn ao audit6rio ou leitor a
Grega cornpreende jå urn grande nårnero disposiqäo Ifrica que o autor pretendeu lograr.
destes epigramas, cheios de humor, Inas desti- O elenrnto subjectivo da poesia Ifrica reve-
tufdos de torn épico e, nos ternpos modernos, la-se mais explicitarnente, quando um acon-
encontramos algo parecido nas coplas picantes tecrnrnto ou uma situaqäo real se oferecem ao
das revistas francesas, assitn corno nas poesias poeta de mero pretexto para exprimir o fntimo
satfricas alemäs. Até as pr6prias inscriföes fune- pensamento; mera ficqäo, como se esta ou
rårlas, com as expressöes lapidares do senti- aquela circunståncia, este ou aquele aconteci-
mento que as inspiram, podem ser inclufdas na mento, desencadeasse no poeta certos senti-
classificaqäo geral do caråcter Ifrico. men tos até entäo latentes! E o caso das
A poesia Ifrica pode tarnbém Inanifestar-se charnadas poesias de circunstcincia. Calino e
em narraqöes descritivas. As formas Inais sim-
Tirteu, por exernplo, elegias guer-
ples deste género encontram-se hoje coligidas reiras em ctrcunståncras reals que lhes servlram
nos romanceiros. O
romance popular isola cada de ponto de partida e pelas quais pretendiam
diferente cena de um acontecrmento, descreve- obter o aplauso do audit6rio; todavia, na sua
-a em si mesma, rapidamente e a breves traps, individualidade subjectiva e nos seus pr6prios
Imrscuindo o sentirnento na situaqäo mais per- sentirnentos, os poetasnäo cultivaram a elegia
feita. Esta apreensäo firme e precisa do aspecto com grande evidéncia. As odes de Pfndaro
verdadeiramente caracterfstico de urn dratna,
forarn tarnbérn cornpostas por ocasiäo dos
unida ao talento que tudo evidencia ntllna jogos e vit6rias alcanqados por determinados
atmosfera de simpatia subjectiva, deram surto a lutadores, assiln corno por ocasiäo de outras
um género que apareceu principalmente entre circunståncias alheias å Vida quotidiana; este
os espanh6is e os portugueses, coin forma de caråcter ocasional sobressafa ainda com Inalor
grande nobreza, graqas å qual estes romanceiros evidéncia ern muitos cantos de Horåcio, e isto
descritivos exerceram profunda acqäo educa-
tanto quanto å intenqäo corno å ideia.
tiva. Sobre estes quadros Ifricos espalha-se ulna

certa claridade intima que provém mais de um


T anlbéln eu — parece ele dizer — posso corn-

discernimento concentrado.
por a este respeitouma poesia, como qualquer
homem instrufdo e célebre. Em
nossos dias, foi
As compreendem a
baladas, pelo contrårio,
sobretudo Goethe quem mostrou urna acen-
totalidade de um acontecimento, se bem que
tuada predilecqäo por este género; nus é certo
em proporqöes mais pequenas do que a poesia que, para ele, cada incidente da Vida lhe dava
épica propriamente dita, e limitarn-se a esboqar
ensejo a nova criaqäo poética.
a imagem dos seus traps mais salientes,
Porém, para que a obra Ifrica näo dependa
deixando ao mesmo tempo transparecer, de
de ocasiöes exteriores e dos fins que elas cony
maneira concentrada e intima, os sentimentos
portam, mas se afirme como um todo com-
profundos da alma: melancolia, tristeza, ale-
pleto, é necessårio que o poeta utilize o pre-
gria, etc. Os ingleses principalmente, possuem,
texto fornecido Pelas circunståncias exteriores
AS ARTES ROMANTICAS -A POESIA
Unicamente para sua pr6pria revelaqäo, isto é
ou em que medida podem ou devem ser asso-
para exprimir os seus sentimentos, alegrias e ciados.
tristezas
Para expor o seu modo de ver e de
Porém, o que då a unidade Ifrica a uma
conceber a Vida. A condigäo essencial da sub-
obra Ifrica, näo é o pretexto exterior, por muito
jectividade Ifrica consiste, portanto, na assimi-
real que seja, mas o movimento interior que
lagä0 total do tema dado. Com efeito, o verda-
hå-de provocar e as concepqöes que hå-de
deiro poeta Ifrico vive em si mestno, apreende
as c Ircunståncias confortnetnetlte å sua indivi— inspirar. Com efeito, o estado de alma particu-
lar ou as consideraqöes gerais que nascem da
dualidade poética e, por mais variadas que
inspiraqäo poética, formam o ponto central
sejatn as relaqöes que se estabeleqatn entre a
que näo s6 imprime ao conjunto a sua colo-
interioridade, por um lado, e o mundo sen-
ragäo particular, mas determina também os
sfvel,coin as suas concepqöes e destinos, por
aspectos que o poeta terå de desenvolver, a
outro, o tema principal é o livre tnovltnento
manetra como o farå e relacionarå entre si,
dos seus pr6prios sentimentos e meditaqöes.
enflm todo o plano e ordem do poema como
Pfndaro, por exemplo, quando era convidado a obra de arte. Pfndaro, por exemplo, encontrou
cantar em honra de um vencedor dos jogos, ou nas condiqöes de Vida dos vencedores cujas
quando o fazia por sua pr6pria iniciativa, pro- faqanhas descreveu, um nåcleo real para a
cedia de Inodo tal que a obra, etn vez de ser estrutura e o desenvolvimento das suas Odes,
uma poesia sobre o vencedor, era antes uma mas cada poema abre caminhos a outros hori-
manifestaqäo pessoal. zontes, a outras disposiqöes de alma que, em-
Estas poesias de circunståncias podem bora sendo as do poeta, lhe indicam, todavia,
tomar a sua matéria e o seu caråcter, assrm os aspectos que deve focar, os que deve omitir,
como o seu plano e a sua estrutura interior, da a manelra como deve iluminar e combinar
realidade do incidente que facultou o estfmulo, entre si os pormenores que quer descrever e de

o pretexto ou o assunto do poema. Temos por que se deve servtr atendendo ao efeito Ifrico

exemplo adrniråvel, se bem que no limite que pretende produzir.


extremo do género, o Canto do Sino, de Embora o poeta possa tomar por ponto de
Schiller. Opoeta estabelece um parelelismo partida aconteclmentos exteriores, para os nar-
rar de forma comovente, ou outras circunstån-
entre as fases exteriores da fabricaqäo dos sinos
e as do desenvolvimento do poema; a esta Clas e pretextos rears, susceptfveis de provo-
carem uma efusäo Ifrica, näo deixa de ser
gradaqäo corresponde a do movitnento Ifrico
verdade que o poeta vai constituindo por si
do pensamento, assim corno as mais diversas
consideraqöes sobre a Vida e as descriqöes do
mestno um mundo subjectivo completo, e que,
aflnal de contas, é nele mesmo que deverå
destino humano. Pfndaro por seu lado, torna
procurar o principe e motivo da sua inspiraqäo
em consideraqäo o lugar ern que o vencedor e, por consegutnte, obedecer antes de tudo aos

nasceu, os empreendimentos do povo a que impulsos do pr6prio coraqäo e do seu espfrito.


pertence e outras circunståncias anålogas, para O homem, ciente da sua subjectiva interiori-
cantar os louvores de tais ou tais divindades, dade, vé-se a si pr6prio e torna-se para si
com exclusäo de outras, para s6 mencionar cer- mestno, uma obra de arte. Isto contrasta com o
conteådo do poema épico, o qual é constitufdo

gar a consideraqöes, formular preceitos de


sabedoria, etc. Todavia, apesar de todas as van- estranhos e pelas aventuras de que os mesmos
tagens que pode retirar da circunståncia etn säo protagonistas.
que se inspira, o poeta conserva-se inteira- um
Oelemento
poelna Ifrico pode tambétn comportar
descritivo, caso em que toma a

exterior que encontra o verdadeiro conteådo cantos chamados anacreönticos, os quais repre-

sob a influéncia das suas ideias pessoais e das encantadoras em que figuram Eros e outros
suas disposiqöes poéticas que decide quais os Init6nimos. Até nestes casos, porém, a narraqäo
aspectos do tema que deve apresentar e qual a deve servir para externar ulna sttuaqäo interior,
É impossivel dizer um estado de alma, um sentimento, uma
elementos, o da circunståncia objectiva ou o da
SUbjectividade do poeta, deve dominar o outro,
111- SISTEMA DASARTES
fala de urn encontro com urn lobo, sem que o tizar com ele. Etn compensagäo, muitos dos
seu poerna possa ser considerado coino utna Lieder de Goethe prestanyse para ser cantados
obra de circunståncia: tal encontro serve-lhe ou recitados em sociedade, Inuito enü)ora o
autor os näo tenha escrito corn essa intensäo.
apenas para justificar a frase pela qual o poema
corne9-a e a indestrutibilidade do arnor pelo Com efeito, quem estå ein sociedade com mais
qual termina. pessoas, recusa-se å entrega coinpleta do eu,.
Em
geral, a situaqäo na qual o poeta se com efeito, procura a rnaior parte das vezes
ilnagina näo deve ser silnplesrnente interior. recalcar a pr6pria particularidade, para entreter
deve manifestar-se cotno ulna totalidade con- os auditores corn ulna hist6ria, ulna anedota,
creta, e, por conseguinte, exteriorizåvel, täo real corn pormenores relativos a urn ausente, tudo
corno objectiva. Nos cantos anacreönticos de narrado coin a graqa particular de quem imita
que jå falårnos, o poeta representa-se a si tons e sons. Neste caso o poeta é sitnultanea-
Inesmo corno engrinaldado de rosas, rodeado Inente o Inestno e o outro; jå näo é ele quem se

de belos Inancebos que prelibam néctares e de entrega; asselnelha-se a urn actor que repre-

belas Inulheres que ensaialn dangas, gozando senta ulna infinidade de papéis diferentcs,
todos a alegria de viver, sem nostalgias nem detendo-se ora aquij ora ali, Inas que ein tudo
arnbiqöes. O poeta näo pensa em deveres, nern que faga Inisture sernpre vivamente o seu
ern fins superiores da Vida hutnana, porque etn pr6prio sentimento artfstlco, a sua maneira de
tais circunståncias é um homern livre, que näo ver e a sua Vida pessoal.
conhece limites nein privaqöes, é o que é, urn Mas se a interioridade subjectiva constitui a
exemplar ånico, um homem de uma espécie pr6pria fonte da poesia Ifrica, devemos reco-
particular, uma obra de arte subjectiva. nhecer-lhe também o direito å expressäo de
Nos cantos amorosos de Hafiz encon- estados e reflexöes puramente in terlores, sem
tramos iguahnente toda a expressiva individua- englobar nestas descriqöes de situaqöes concre-
Iidade do poeta, que rnuda sern cessar de con- tas netn as representar sob o seu aspecto exte-
teådo, atitude e expressäo, estando por vezes rior. Deste ponto de vista, o canto puro, por
estas mudanqas impregnadas de um verdadeiro mais banal e vazio que seja, basta para nos pro-
humor. Os seus poernas näo gram å volta de porcionar verdadeiros prazeres liricos, pois para
qualquer tema particular, de qualquer imagem a nossa sede de embriaguéz Ifrica, as palavras
objectiva, de qualquer deus ou de qualquer säo como vasos, näo passam de simples vefcu-
fdolo (e, ao lermos estas Inanifestaqöes livres los indiferentes, de meios de transporte, trans-
t01narnos até conscléncia de que os orientais rnissäo e comunicaqäo alheios ås nossas alegrias
näo podialn de Inodo algurn ter artes plåsticas, e ås nossas tristezas. As palavras aparecem
eståtuas ou quadros), mas o autor passa de um entäo corno acess6rio, que servem a encanta-
assunto a outro, expande-se em todas as dora melodia da måsica. Os cantos populares
direcqöes, e qualquer que seja a cena que des- näo se elevam frequentemente acitna deste
creva, nela aparece o hornem cornpleto, com o modo de expressäo. Até os Lieder de Goethe,
seu vinho, estalagens, cortesäs, corte, etc., cuja linguagem é, todavia, Inuito mais rica e
nurna admiråvel sinceridade, sern desejos egois- precisa, näo säo frequentemente outra coisa do
tas Inergulhado na alegria pura de ulna alina
que urn gracejo Inomentåneo, utna inspiraqäo
simples, com olhos inocentes perante rostos
fugaz que o autor utiliza para unva cangäo e
que sorriem. Poderfarnos multiplicar os exeny
acitna da qual näo se eleva. Eln outros Lieder,
plos destas descriqöes que incidenl sobre situa-
pelo contrårio, trata disposiqöes anålogas de
Göes sirnultanearnente Interiores e exteriores.
forn)a n) uito Inais desenvolvida, quase
Mas, se é agradåvel que o poeta nos inicie nos
Inet6dica, conr», por exernplo, no Lied: «lch
seus estados subjectivos, näo estanr»s de Inodo
habe mein Sach aufnichts gestellt»,
' que fala
algum dispostos a escutar as suas invenqöes
do dinheiro e da for tuna, de viagens e de
particulares, a ser postos ao corrente das Inais
mulheres, da g16ria e das honras e finahnente,
insignificantes paixonetas, dos trabalhos do-
das batalhas e das guerras, co:no de bens
IDésticos, de hist6rias de compadres e coma-
perecfveis e de fontes de prazer Inonrntåneas e
dres, conr) é o caso de Eidli e de Fanny, até
inståveis e exalta a serenidade despreocupada.
em Klospstock, Inas o que exigimos é
Por outro lado, todavia, a interioridade subjec-
algo que tenha interesse humano geral, a
tiva, uma vez colocada neste catnpo, pode ele-
de poderrnos dele participar, absorvé-lo, silnpa-
var-se a intuiföes grandiosas e a ideias de utna

612
AS ARTES ROMANTICAS - A POESIA
prof
o undidade e vastidäo surprcendentes.
exteriorizaqäo individual ou de uma simples
poeta que entäo s6 escutar a voz da razäo,
näo utilizarå certamente a sua inspira$o para
directa; trata-se, siln, da expressäo artfstica,
cornpor hinos ou para se apresentar corno can-
tor em circunståncias ou ocaslöes crradas por
dental; trata-se, enflm, da expressäo de uma
outros, mas, haurindo os temas sornente no
altna poética. Temos, pois, que quanto mais a
fundo mais fntirno da sua alma, far-se-å poeta
alma se afasta o estado de concentraqäo e mais
dos ideais da Vida, da beleza, dos direitos e
amplia o dominio dos seus sentimentos e me-
pensatnentos ilnperecfveis da humanidade.
ditaqöes, tanto mais o poeta toma consciéncia
da sua interioridade, e tanto mais a poesia Ifrica

exige uma cultura artistica adquirida, mas que


c. Relaföes entre a Poesia lirica e
deve, ao Inesmo tempo, aparecer como resul-
o grau de Civilizaqäo.
tado do desenvolvimento e ampliaqäo espon-

Um ponto, a considerar quanto ao


Illtirno
pelos quais a poesia Ifrica, longe de ser o pro-
caråcter geral da poesia Ifrica, é o da fase geral duto de de desenvolvimento espiri-
certas fases
da consciéncia e da cultura de que emana tual, pode florescer nas épocas mais diversas,
detenninada obra Ifrica.
Sob este aspecto, como sob tantos outros de cada indivfduo reivindica o direito de ter uma
que jå falåtnos, existe ulna grande diferenqa mane•lra de pensar e de sentir emmentemente
entre a poesia Ifrica e a poesia épica. Enquanto
pessoal.
que esta atingiu o Seu tnais belo florescirnento
A poesia popular constitui uma das princi-
nutna fase da Vida nacional que podemos qua- pais variedades da poesia Ifrica. Nela se reflecte
lificar de pritnitiva e que näo fora ainda sobretudo a particularidade regional ou
atingida pela prosa da Vida, as épocas Inars nacional. Nos tempos modernos, com a for-
favoråveis para o aparecirnento e desenvolvi- maqäo de novas nacionalidades, é perfeita-
mento da poesia Ifrica säo, pelo contrårio, ca- mente explicåvel o interesse dos que a estudam,
racterizadas por ulna Vida enquadrada numa quando ao recolherem por toda a parte excer-
ordem fixa e completa, visto ser nessas épocas tos dos cantos populares, se esforqam por,
que o h01nem, como indivfduo, deixa de se através deles, decifrar a alma dos povos e a sua
confundir corn o Inundo exterior. Entäo come- concepqäo do mundo e da Vida. Herder traba-
qa ela a recluir-se e a ensnnesrnar-se, a Iner- lhou jå bastante neste sentido, e Goethe con-
gulhar na pr6pria interioridade que aprofunda seguiu integrar-se no espirito que anima esta
para a transforrnar assim na sé ou sede de utna poesia, a ponto de crrar obras que nos sur-

totalidade de sentilnentos e representaqöes preendem e comovem pela sua espontaneidade


indiferen tes. Con) efeito, o que då å poesia aparenternente impulsiva. E natural que os
cantos do povo alemäo nos falem mais ao sen-
Ifrica conteådo e fortna, näo säo nem a colec-
tltnento do que quaisquer outros e, por maior
tividade objectiva, nein a acqäo individual, Inas
que seja a nossa compreensäo quanto å
o pr6prio indivfduo enquanto indivfduo. Isto
maneira de sentlr dos povos estrangeiros, näo
näo quer todavia dizer que o poeta, para se
deixa de ser verdade que qualquer mésica
exprirnir liricalnente, deva rornper corn os
provinda de outra alma nacional se lhes afigure
Interesses e Inodos de ver do povo; tal decisäo
estranha e deva sofrer uma prévia elaboraqäo
lhedaria apenas tuna independéncia pura- para neles despertar um eco simpåtico, missäo
mente fortnal e abstracta, e faria dele o joguete que Goethe cumpriu da maneira mais
de paixöes acidentais particulares, de desejos inteligente, conservando toda a beleza e origi-
Impulsivos, de sentilnentos bizarros e de capri- nalidade das obras assim elaboradas.
chos injustificados. A verdadeira poesia Ifrica, O
caråcter geral da poesia Ifrica popular
Como toda a verdadeira poesia, tern por Inissäo aproxima-se do da poesia épica pelo facto de o
expri1Dir o conteådo auténtico da alina poeta, em
vez de deixar transparecer a sua per-
hun)ana. Porérn, enquanto Ifricos, até os con- sonalidade, se anular ante o tetna. Muito ern-

teådos mais positivos, mais concretos e nuts bora o canto popular posssa expressar a interlo-
ridade mais concentrada, näo é, todavia, utn
SUbstanciais devein ser o reflexo de sentirnen-
indivfduo isolado que entrevenws através desta
tos, intuiqöes, ideias ou reflexöes subjectivas.
Além disso, nao se trata aqui de unu simples

613
111 -SISTEMA DASARTES
necessåria refugia-se no mundo dos sentimen-
expressäo, mas indivfduo representativo da
Inaneira de sentir popular, um indivfduo que
tos que, no conjunto, permanece também
pouco desenvolvido e ao proceder assim
se,
näo atingiu ainda urn grau de independéncia
ganha em concentraqäo näo é menos verdade
espiritual e moral que lhe pern)ita haurir as
que, na nuior parte dos casos se mostra rude e
ideias e os sentimentos num fundo pessoal.
O indivfduo estå ainda cornpletarnente identi-
bårbara pelo seu conteådo. O
maior ou menor
ficado com o povo e esta identificaqäo supöe interesse que podemos mostrar pelos cantos
um estado em que o indivfduo, ainda incapaz populares depende da natureza das situaqöes
de reflexäo independente, profundamente que reflectem e dos sentimentos que
inserido no meio espiritual do povo a que per- exprilnem: com efeito, aquilo que um povo
tence, sern outros Interesses que näo sejam os pode achar excelente, pode parecer a outro
dele, näo passa de um simples 6rgäo por meio absurdo, horroroso e deteståvel. Existe, por
do qual se expri:ne o lirismo da Vida nacional. exemplo, um canto popular que narra a
Esta espontaneidade directa confere ao canto hist6ria terrfvel de uma mulher que foi man-
popular uma ingénua frescura e utna verdade dada enclausurar pelo marido. Ela, a poder de
que säo por vezes de grande efeito, mas que lhe "plicas, conseguiu que fossem perfurados dois
däo também um caråcter fragmentårio, desor- buracos na parede, pelos quais fazia passar os
denado e resumido que pode chegar å obscuri- seios,alnarnentando assrm o fllho; quando este
dade. Osentinrnto profundamente concen- foi desmamado, mataram-na a ela. Situaqäo
trado, näo pode nem quer expressar-se trågica e bårbara! De igual modo, a actos indi-
inteiranrnte. Além disso, apesar da sua forma
viduais de pilhagem, bravura ou sitnples selva-
incontestavelmente Ifrica, falta a esta poesia, a
jaria nada que possa inspirar simpatia aos
tern
identificaqäo de um indivfduo criador ao qual
outros povos. Os
cantos populares säo assim
possan)os atribuir corn sua propriedade pes-
soal, como urn produto do seu toin de artista e
produqöes particulares por exceléncia, para a
apreciaqäo dos quais näo possufmos nenhum
uma emanaqäo da sua ahna e do seu espfrito, o
conteådo e a for:na do poema. critério fixo, visto estarem demasiadamente
afastados do humano universal. Por conse-
Os povos que perinaneceraln neste género
de produqäo e näo souberarn elevar-se a obras guinte, o facto de terinos ao nosso alcance os

Ifricas superiores, nem a epopeias e a obras cantos iroqueses, dos esquinu5s e de outros
dranlåticas, säo povos que vivem num estado povos selvagens, näo significa de modo algum
vizinho da barbårie, no seio de uma realidade que haja Sido ampliado o cfrculo das nossas ale-
ainda informe, povos cercados de hostilidades e grias poéticas. COIno o caråcter da poesia Ifrica
cujos destinos säo incertos. Coin efeito, se é a expressäo total do espirito Interior, näo
tivessem sabido constituir, até nessas épocas pode lirnitar-se ao Inodo de expressäo netli ao
her6icas, uma totalidade dotada de urn con- conteådo dos verdadeiros cantos populares ou
teüdo tnais ou menos rico, dar aos diversos de produqöes anålogas concebidas do Inestno
aspectos desse conteådo ulna realidade inde- tom.
pendente, nuntendo sernpre a coesäo do con-
A poesia Ifrica expritne, coino vitnos jå,
junto, e preparar assnn o terreno para faganhas
concretas e individuais, teriam podido criar
dado Inolnento dessa concentraqäo e se
sai
tambéln ulna poesia épica. Por isso, o género eleva a ulna livre representaqäo de si Inestna, 0
de Vida no seio da qual nasceu este modo de
que, no caso que acabamos de examinar, näo se
expressäo poético do espfrito era o do regilne
pode de forma incornpleta, e que,
fazer senäo
familiar, patriarcal e tribal, sem essa organiza-
por outro lado, se deve ampliar até formar um
fäo que caracteriza os estados que produzem os
Inundo rico de representaqöes, paixöes, estados
her6is. Quando evocarnos recordaqöes de feitos
e conflitos, a flin de sujeitar a ulna elaboraqä0
naclonals, säo frequentemente as de lutas con-
interior e ilnprirnir ulna certa espiritualidade a
tra opressores estrangeiros, as de vandalismos e
de reacØes de ou de
selvajaria contra selvajaria, tudo o que é capaz de apreender e coinpreen-
lutas intestinas, cujo relato estå impregnado der. Conrj a poesia Ifrica, no conjunto, deve
dos queixulnes e lanrntaqöes dos vencidos ou exprin)ir poeticarnente a totalidade da Vida
entäo do jåbilo dos vencedores. A Vida real do Interior, na Inedida em que esta se deixa inte-
povo que näo atingiu ainda a independéncia grar na poesia, torna-se coinpatfvel coin todos
os graus de cultura do espfrito.
AS' ARTES ROMÄN7'ICAS — A POESIA
Poeta Ifrico tem consciéncia dc si mesmo
e da liberdadc da sua arte. O
canto popular positivo. Mas a vcrdadeira poesia Ifrica encon-
' por assitn dizcr, da alma, como uma tra-se jå em presenqa de uma realidade prosaica
sonoridade
complctanu•nte formada, å qual se esquiva,
de si nu•stna, supöe que o artista conhece e para criar, mediante a forga da fantasia pessoal
quc produz. Para isso, é necessåria uma e livre, um novo mundo poético e fazer deste
certa CUItura e virtuosidade de execuqäo
e Perfeita. Se a poesia épica propria- humana. Existe, além disso, uma forma de
Inente dita näo d eve, ou dado o caråcter da pensamento, que, sob certo aspecto, se
época a que Pertence, näo podc tornar aparcnte encontra num nfvel superior ao da fantasia, dos
a personalidade, a de agir e a inter- sentimentos e da intuiqäo, visto que pode reve-
venqäo do Poeta, é porque tem por objecto a
Vida real da nagäo, independentementc da dando-lhe uma
aspecto da universalidade e
individualidade do poetas o que tira ao poema uma coesäo que a arte jamais lhe saberia dar.
épico todo o caråcter de subjectividade e faz Reflro-me ao pensamento filosbfico. Em com-
pensaqäo, esta forma poética estå condenada å
dele utna obra cujo desenvolvilnento se efcctua
abstracqäo; sC) pode evoluir na esfera do pensa-
virtude de forsas extra-individuais. Na poe-
sia Ifrica, pelo contrårio, a criaqäo e o conteådo
ideal, de modo que o
poeta pode ver-se forgado
säo de natureza subjectiva e esta subjectividade
a exprimir o conteådo e os resultados da sua
deve manifestar-se nutna e noutra. consciéncia de maneira vrva, sob uma
Sob este aspecto, a poesia Ifrica de épocas forma animada pela fantasia e penetrada de
posteriores distingue-se expressamente do sentinrnto: expressäo total de toda a sua alma.
canto popular. Acontece, porétn, que, no Ineio Duas possibilidades se podem entäo apre-
de certos povos, os cantos populares coexistetn sentar. Ou a espontaneamente
fantasta se eleva
coin criaqöes Ifricas de nfvel artfstico tnais ele- acima do pensamento especulativo, sem
vado. Estas obras pertencern entäo a grupos e a todavia chcgar å claridade e precisäo da
indivfduos que, etn vez de possufrem a for- exposiqäo a poesia Ifrica é entäo fruto

Inagäo artistica de que acilna falåtnos, nao dos esforqos de uma alma inquieta e agitada,
estäo ainda intel ratnente libertos da maneira de
violentando a arte e o pensamento, porque
ultrapassa os limites de um sem lograr entrar
conceber e de sentir popular. Ao admitirmos
no outro. Ou
entäo, o sereno pensamento
esta diferenga entre a poesia Ifrica popular e a
fllos6ftco é capazde viviflcar as suas ideias sis-
poesia Ifrica como arte, näo pretendernos de temåtlcas, colorindo-as do sentlmento e expri-
modo algutn aflrmar que a poesia s6 atinge o mindo-as sob uma forma concreta, perceptivel
seu mais elevado grau de perfeiqäo quando a e sensfvel, e de substituir, como Schiller faz em
reflexäo e a inteligéncia artfsticas, aliadas a uma grande nåmero de poesia, a rigorosa ordenaqäo
certa habilidade técnica, se tornatn seus ele- cientfflca das ideias pelo livre jogo dos aspectos
particulares sob a aparente desordem dos quais

ciapor vezes fascinante. Se assiln fosse, seria


preciso colocar Horåcio e os poetas Ifricos ligasöes internas quanto mais pretende evitar a

rudeza de torn das exposiqöes didåcticas.


romanos entre os mais perfeitos poetas deste
género ou, n urn Ineio Inais adequado, seria
preciso dar mais valor aos tnestres cantores do
2. Caracteres particulares
que aos trovadores da época precedente. Ora
da Poesia Ifrica
Isto, seria tlrar ulna conclusäo extremista do

que acabatnos de expor. O


que pretendetnos
dizer, é que a fantasia criadora e a arte, etn vir-
epois de termos examinado o caråcter
tude da pr6pria subjectividade, tém necessi- geral do conteådo que a poesia Ifrica
dade de uma consciéncia livre e esclarecida e de pode adoptar e da forma sob a qual ela é capaz
formaqäo artfstica, para atingirem a ver- de o exprimir, assim como as relaqöes que exis-
tem entre 0 estado da cultura geral e individual
dadeira formaqäo.
Resta-nos agora falar acerca das da da poesia Ifrica, vamos examinar os eletnentos

Poesia popular coin a poesia Ifrica propria- particulares que esta comporta.

desenvolvinwnto pr6prio do espfrito prosaico e


SISTEMA DASARTES
poeta lirico liberta-se rapidamente do tema
que
Sob este aspecto ainda, devo fazer notar Jhe foi alvitrado ou invosto e representa-se a si
logo de comeqo a diferenqa que existe entre a É o que acon tece, para nos atermos a
unl exenvlo jå citado, com Pfndaro, o qual foi
a prilneira, ocupåtno-nos principahnente da por vezes solicitado a celebrar tal ou tal vence_
epopeia nacional prin)itiva e pusernos de lado dor dos jogos, recebendo até dinheiro
os géneros secundårios, assim como a pr6pria vårias ocasiöes por o fazer, e que, no entanto
personalidade do poeta. Näo podemos proce- se colocava a ele, o cantor poeta no lugar do
der da Inesrna forma quanto å poesia Ifrica. her6i, a ele cantor no lugar do vencedor: dando
Pelo contrårio, a subjectividade do poeta e a largas å fantasia, celebra os feitos dos antepmssa_
diversidade de géneros desernpenhatn, nesta dos, evoca os antigos mitos, ou expressa os pro_
oesia, uln papel muito nmis importante. fundos pensarnentos sobre tudo o que é grande
eremos portanto: e merece ser honrado, sobre a grandeza e o en_
canto das Musas acima de tudo, sobre
e, a dig-
1.0 de nos ocuparmos da personalidade do
nidade do poeta. Exaltando a g16ria do her6i,
poeta; honra-se a si mesmo como cantor. Näo é ele
2.0 de considerarmos a obra de arte Ifrica
que tem a honra de cantar os vencedores, mas
como produto da imaginaqäo subjectiva;
estes que tém a honra de ser cantados por ele.
3.0 de indicarmos as vårias espécies pos-
sfveis da expressäo Ifrica. É esta elevada grandeza interior que constitui a
nobreza do poeta Ifrico. Homero, nos seus poe-
mas épicos, apaga-se de tal modo como indi-
a. O Poeta Ifrico vfduo, que a hist6ria chega a duvidar da exis-
téncia de tal poeta, embora os seus
Como o conteådo da poesia Ifrica é
vilnos, permaneqam imortais; dos de Pfndaro,
formado, primeiro, pelo aspecto geral da Vida e pelo contrårio, restam apenas nomes que nada
dos seus estados e, segundo, pela variedade dos nos dizem; mas ele, que ao cantå-los se cantou
seus aspectos particulares. Mas as generalidades e honrou a si mesmo, continua sendo um
puras, as intuiföes e os sentimentos verdadeira-
poeta inolvidåvel; a g16ria a que os her6is
mente particulares säo sirnples abstracqöes que,
podem aspirar näo é mais que um apéndice do
para oferecerern uma individualidade Ifrica
vrve, devem reunrr-se nurn nåcleo coin um que canto Ifrico.
Os poetas Ifricos ocupam também, entre os
é a alma do poeta. Este deve, por conseguinte,
revelar-se como o centro e verdadeiro conteådo uma situaqäo senao total pelo Inenos
da poesia sem todavia chegar å acqäo real
Ifrica, parcialtnente independente. Assim, por exem-
nem se empenhar em conflitos dramåticos. plo, segundo Suet(3nio, Augusto teria escrito a
A sua actividade deve limitar-se a deixar falar a Horåcio: an vereris, ne apud posteros tibi infame
interioridade, qualquer que
o tenn, con-
seja sit, quod videaris familiaris nobis esse; mas

tando que as palavras proferidas sejam a Horåcio, salvo nos casos etn que fala de
expressäo da alrna do poeta, da sua Vida espiri- Augusto ex ofmio (e isto é bastante elucidativo)
tual e visem a despertar, na alma do auditor ou cinge-se seinpre a falar de si mestno. A 14.a
do leitor, sentimentos e reflexöes semelhan tes Ode do terceiro livro, por exernplo, comeqa
ås do poeta. por cantar o regresso de Augusto, de Espanha,
Esta expressäo, destinada a agir sobre ou- depois da vit6ria sobre os cåntabros; para logo
trem, pode ser ou a de uma alegria esfusiante, etn seguida exaltar apenas a paz que Augusto
ou a de uma dor que se apazigua no canto e deu ao mundo, o que lhe permitiu, a ele,
assim recupera a serenidade, Inas pode tan)bérn Horåcio, gozar tranquilatnente o farniente e os
ser ditada por urn desejo Inais profundo de näo favores da Musa; fala entäo das coroas, dos
guardar para si mesrno as ernoqöes tnais fnti- unguentos e do vinho, ordena que se traga ra-
mas da alma e as inspiraqöes Inais profundas do pidatnente a Neera, nutna palavra, s6 pensa
espfrito. O poeta, que
o poder de cantar e
tern nos preparativos da festa. Todavia, no que se
criar, tem para isso a vocaqäo e o dever. Nao
refere ås aventuras galantes, jå näo pensa tanto
deixa contudo de ser verdade que as circuns-
nelas corno quando era jovetn, no ternpo do
tånclas, incitaqöes e solicitamentos exteriores
consul Plancus, e diz expressatnente ao men-
podern também servir de impulso å criaqäo
sageiro que envia:
Ifrica. Porém, em sernelhantes casos, o grande
AS ARTES ROMANTICAS - A POESIA
Per invisum mora ianitorem
Fiet, abito».
citnentos diårios lhe produziam, as deduqöes
que deles tirava, a alegria e o ardor transbor-
dante da juventude, a forga e a beleza da idade
Cotn maior razäo poderetnos dizer ainda viril, a serena e compreensiva sabedoria da
que a Klopstock se deve a reabilitaqäo, nos velhice, tudo lhe dava motivo para efusöes Ifri-
ternpos modernos, da dignidade do cantor, e o
cas pelas quais exprimia tanto os mais delicados
haver mostrado que se pode ser poeta sein ser matizes do sentimento como os conflitos mais
cortesäo e Sem depender seja de for, sem
rudes do espfrito, libertando-se de quanto
se perder tempo com jogos OCIosos e int'ltels experimentava mediante a expressäo.
que arrufnam um hotnem. Aconteceu-lhe,
porém, vir a ser o poeta do seu editor. Este,
que morava eln Halle, deu-lhe em paga de b. A obra de Arte Ifrica
parte da Messiada, creio que, um ou dois
tåleres, e por retnuneraqäo do restante man- No que se refere ao poema Ifrico, como
dou-lhe fazer ulna jaqueta e utnas calqas, trajo obra dc arte poética, é diffcil caracterizå-lo
corn o qual o apresentava nas reunifies, dando dada a grande variedade de modos de con-
a entender a todos os que o rodeavatn que era å cepqäo e de formas, assim como de conteådos.
sua generosidade que Klopstock devia o estar Com efeito, embora este domfmo se näo possa
täo bem vestido. Os atenienses (se acreditar- subtrair ås leis gerais da beleza e da arte, näo
mos ern relatos posteriores, cuja autenticidade deixa de comportar, etn vlrtude do seu caråcter
näo estå aliås inteiran)ente coluprovada), erigl- subjectivo, possibilidades ilimitadas de realiza-
rain uma eståtua de Pfndaro (Pausanias, I, qäo e de apresentaqäo. Por conseguinte, seja
V
cap. Ill), por os ter celebrado num dos seus para n6s suflciente saber em que difere o tipo
cantos, e alérn disso pagararn-lhe o dobro da da obra de arte Ifrica do da obra de arte épica.
Inulta que os tebanos lhe haviatn infligido por Assim exan)lnaremos primeiramente, a unl-

ter elogiado calorosarnente unm cidade


dade da obra de arte Ifrica, em seguida, a exten-
säo do dominio Ifrico e, por fim, o desenvolvi-
estran«eira; dizia-se até que o pr6prio Apolo
mento exterior e a versificaqäo das poesias
ordenara pela boca da Pitoniza que Pindaro
cobrasse Inetade dos donativos corn que toda a If ricas.
A importåncia da poesia épica na arte, con-
Hélada costumava contribuir para os jogos menos na perfeiqäo total da forma artistica
siste

poéticos. do que na totalidade do espfrito nacional que


O que se exprirne, na verdadeira obra Ifrica,
comporta. A obra Ifrica propriamente dita, näo
é a totalidade da Vida interior do indivfduo. deve intentar semelhante tarefa. E certo que a
Corn o poeta Ifrico näo pode subtrair-se
efeito, subjectividade é também capaz de se elevar a
å forqa que o invele a dar urna expressäo artfs- uma sfntese universal, mas se pretender afir-
tica a tudo o que se passa na sua alrna ou atra- mar-se como subjectividade encerrada em si
mestna, deverå renunciar å universalidade e
vém principalmente Goethe, o qual, no
citar
decurso da sua Vida täo rica de peripécias e Isto näo exclui a multiplicidade de impressöes
vicissitudes, nunca deixou de fazer versos e se recebidas dos objectos e da recordaqäo de
experiéncias pessoalmente vividas dos outros, a
conservou, por tal facto, um h01nem perfeito.
utilizaqäode factos miticos e hist6ricos; mas
esta vastidäo do conteådo näo se justifica,
estejam täo activarnente interessados num täo
grande nåmero de coisas corno ele esteve, e no
exprimir a totalidade de uma determinada rea-

que a sua actividade se exercia, jamais deixou


de viver utna intensa Vida interior e de trans- ciaéo.
E, portanto, a interioridade subjectiva que
formar em intuiqöes poéticas tudo o que o deve ser considerada como o factor ao qual a
obra Ifrica deve a sua unidade. Mas a interiorl-

aberto ås clrcunståncias da Vidafseucas måximase


quotidiana, os puramente formal do indivfduo e, por outro

Sentenqas nwrais, as impressöes que os aconte-


SISTEMA DASARTES
sua pintura plåstica que constituem o elen)ento
verdadeirarnente Ifrico, mas o eco que esta rea-
variadas e cujo Iago reside unicatnente na Iidade objectiva provoca na altna ou o senti_
unidade e identidade do eu que as contérn e mento que desperta de Inodo que näo Contem_
platnos tal realidade ou tal objecto, mas o
para que a obra Ifrica tenha verdadeira unidade sentimento que reflecte e que etn n6s provoca
é necssårio que o poeta possua uma situaqäo de urn sentinwnto anålogo. Temos urn exemplo
alina detern)inada, se identifique coin esta par- betn Claro nos rotnances e baladas que, como jå
ticularizaqäo de si tnestno e a integre na totali- vitnos, säo tanto mais Ifricos quanto mats evi_
dade do seu eu. Encontra-se assttn reduzido a denciatn, nos acontecimentos que relatam
uma totalidade subjectiva litnitada e s6 que corresponde ao estado de altna do poeta no
exprime o que brota desta situaqäo ou a ela se Inonwnto ern que compöe a obra e no-lo apre-
vincula.
sentatn de modo a podermos compartilhå-lo.
A expressäo Ifrica perfeita cxige, portanto, Eis a razäo porque a pintura propriatnente dita
de objectos exteriores, embora vivificada pelo
outro lado, urn estado de altna concentrado, jå
sentimento e até mesrno a descrlfäo mais ou
que os sentimentos experirnentados pelo poeta
menos porinenonzada de situaqöes Interiores,
säo sua Inals fntltna e inalienåvel propriedade,
produzem por Sl mesmas utn efeito muito
ao passo que, no dedicar-se a consideraqöes
provententes da reflexäo e orientada para o
menos profundo do que a expressäo concen-
trada, Inas cheia de sentldo.
geral, resvala facilinente para o género didåc-
Os tarnbém näo säo Interditos ao
tico ou, se pretende descrever o aspecto subs-
tancial e positivo do conteådo, tende a elevar-
poeta Ifrico, mas este deve empregå-los por
-se näo tnenos faciltnente ao totn éPIC0.
razöes diferentes das que determtnaln o poeta
Pouco hå a dizer acerca do desenvolvi- épico. Na poesta épica servetn, por assitn dizer,
rnento do poerna Ifrico, de modo que me li- para reforgar a independéncia objectiva da
totalidade, e a sua intervenqäo objectiva da
nutarei a algu:nas observaqöes gerais.
A marcha da epopeia é naturalmente lenta e totalidade, e a sua intervenqäo tem por efeito

comporta, em geral, a descriqäo de urna reali- retardar ou acelerar o andamento da acqä()


dade que se estende em todas as direcqöes. épica, ao passo que na poesia Ifnca encontram
Cotn efeito, na poesra épica o poeta mergulha a justiflcaqäo em
razöes puratnente subjectivas.
no objectivo ou, de preferéncia cede-lhe o Efectivarnente, o homem percorre facilmente o
lugar, de Inodo que este se possa apresentar sob seu Inundo interior, recorda-se das clrcunstån-
a sua forma real e evoluir independentenrnte. clas e situaqöes tnais diversas e relaclona-as
Na poesia Ifrica, pelo contrårio, o poeta atral o entre si, sem todavia se afastar do sentltnento
real para a esfera dos sentimentos, transforma-o principal que o atiltna ou esquecer o objecto da
nurn objecto da sua experiéncta interna, e é s6 sua reflexäo. A mesma vtvacidade caracterua
depois de o ter interiorizado que o expritne sob tambélll a interioridade poética, etnbora netli
um revestltnento verbal. Se a poesia épica se sempre o que é que, numa
seja fåcil dizer obra
desenrola por assiln dizer, ern extensäo, o lirica, é verdadeiratnente epis6dico ou näo.
poelna Ifrico concen tra-se ein Sl Inesrno, e é
I)orétn, etn geral, as digressöes e sobretudo os
pelaprofundidade do que expressa e näo pela
aspectos surpreenden tes, as cotnparaqÖes
arnplitude da descriqäo que exerce o efeito pre-
engenhosas e as transisöes bruscas, quase VIO-
tendido. Todavia entre a concentraqäo Inuda e
lentas, säo processos Ifricos, na Inedida etn que
a eloquente claridade de ulna apresentaqäo
näo destroetn a unidade da obra.
cuidada elu todos os porinenores existe ulna
grande riqueza de graus e de tuatizes para o
A tal cotno a épica, nao
poesia lirica,
suporta a tlrania do pensatnento coinutn, nem
poeta lirico. A poesia Ifrica näo exclui, tarn-
a 16gica puratnente racional ou as necessidades
béln, a descriqäo de objectos exteriores. Beni
pelo contrårio, as obras verdadeiralnente liricas
a que o pensatnento especulativo ou cientiflco
representam o indivfduo numadeterrninada obedece, mas oferece tilna liberdade que se

situaqäo exterior e em contacto corn a natureza Inanifesta pela independéncia das suas partes.
Se, no que se refere å poesta épica, este relativo
taltnente a seinelhantes descriqöes. Quando isolatnento se explica pela forma que då ås

assun acon tece, näo é a objectividade real e a exteriorizaqöes e pela Inaneira corno concretua
os ternas, o poeta Ifrico, pelo contrår10, isola os

618
AS ARTES ROMANTICAS - A POESIA
sentinu•ntos e as representaqöes que expritne, épica que relega os acontccimentos reais para o
Seth ser constrangido por qualquer necessidade passado e os dispöe espacialtnente, colocando-
urn dexigéncias da fortna, e isto porque
cadaPelas -os uns ao lado dos outros, ao passo que a poe-
estes sentimentos ou destas represen-
taqÖes, etnbora sc coni o tne.stno dos sentimen tos das represen taqöes, os
e
estado de alnui e a mestna disposiqäo de descrcve na scquéncia da sua oposiqäo, desen-
espfrito, se apoderatn por seu turno da sua volvitncnto e desapariqäo, o que o obriga a
alrna e a concentratn nutn simples ponto, até variar 11M nterruptamentc o rltmo da cxpressäo.
que outra representaqäo ou outro sentt- Os principais processos que emprega para este
mento Os V enhatn substituir. A sucessäo de efeito consistem: primeiro, em diversificar o
ideias pode entäo seguir urn curso tranquilo e alinhanwnto das longas e das breves, inter-
in terrupqöes, mas podc tatnbétn, no scu rompendo a igualdade dos pés rftmicos; segun-
arrebatatnento Ifrico, passar sen) translۊo dc do, praticar cesuras mats ou menos vartadas;
ideia a outra e, neste entuslastno dc inspi- tcrce•lro, compor os versos em estrofes, as quais
raqä(_), surglr ao friO intelecto, habituado podctn ser de vårias formas quanto å maror ou
raclocfnlos I(3gicos e ås transtcqöes prooresstvas, tncnor duraqåo das linhas isoladas ou asso-
corno possufda por utna forsa que a rege e ciadas entre Sl na sua figura$o ritmtca.
arrebata contra vontade. O
itnpulso de seme- Esta maneira de tratar a medida e o rttmo é
Ihante paixäo e o conflito que origina säo de tal menos lirica do que a sonoridade das palavras e
Inodo caracterfstlcos de certos géneros Ifricos das silabas, que se valer sobretudo pela
que Horåcio, por exemplo, com calculada aliteraqäo, pela r ltna e pela assonåncta. Com
habilidade, se esforqou, num grande nåmero efelto, neste sistema de versificaqäo predomtna,
de poesias, por realizar artificial e consctente- por um lado, a significasäo espiritual das
sflabas, a acentuaqåo do sentido que se abstrai
tnente estas bruscas transtqöes, que aparente-
do simples elemento material das longas e das
Inente Interrompem o encadeamento do con-
breves Imutåveis, e determtna as duraqöes, a
junto. Nao me poderei aqui deter nas inflnitas
elevaqåo e a descida dos sons por conformaqäo
possibilidades intertnediårias que se situam
ås exigéncias do espfrito; e, por outro lado, a
entre os dois extremos que acabo de descrever:
concentraqåo intenctonal da sonoridade sobre
o do encadeatnento Claro e do curso caltno, e o
certas letras, sflabas e palavras, expressatnente
da violéncia ardorosa da paixäo e da inspiraqäo.
escolhidas. Esta espiritualizaqåo da linguagem
OI'lltilno ponto de que nos resta ainda falar
refere-se å forrna e å realidade exterrores da pela significaqäo interior das palavras e a acen-
tuaqäo das sonoridades, conforma-se tntetra-
nos Interessa o metro e o com a da poesia lirica. Aqut,
podemos tarnbém asststtr a uma combinaqäo
e da rtma, mas quando esta se realiza,
do rttmo
musical.
Que ohexårnetro, pela sua marcha firme e toma uma forma que se aproxltna mais do
uniforme, ernbora viva e animada, constitua a compasso. Rigorosatnente falando a aplicaqäo
poética da aliteraqäo, da assonåncia e da rima
medida silåbica que mais convétn å poesia
épica, é urn facto sobre o qual é int'ltil insistir. poderia ser limitada ao dominio da poesya
Ifrica, pois, embora a poesra épica da Idade
Mas a poesia Ifrjca exige e cotnporta utua
Média nao tenha podido, etn virtude talvez do
grande vanedade de rnetros e de estruturas
do llrico é constitufda pelo objecto caråcter das linguas modernas, manter-se afas-

verdade que, se as adoptou, tsso se deve sobre-


real Inas pelo movilnento interior do pensa- tudo ao facto de o elemento lirico se ter con-
Inento do poeta, tnovitnento ctl)a regularidade
quill ou malcha itnpetuosa, tenl por corolår10 seguido infiltrar pouco a pouco na poesia éptca

Mas

estQd()
aposeu:ca
de alma e o
Illclndterlnl-psse
modo •de concepqåo
vecxrpraelsssapsilll)o Iletro
do
do O tnestno acontece cotn a arte dratnåttca.
o que sobretudo convém poesia lirica, é a

tempo, ele'mento que, ao retorno ou das

der cornunicaqäo exterior, do que a narraqäo

619
/// - SISTEMA DAS ARTES
déncia e näo se Inostra entäo täo capaz d
e uma
bais, transfortna a obra poética n ulna suc.e.ssäo fnti:na uniäo coin a nuisica. Pelo contrårio
de estrofes ri:nadas de con)binasöes c cruza- quan to tnais concentrado é o sentiment ()
tnentos varlados. A
poesia épica e a poesia dra- se quer expressar, tanto mais necessidade håqåeo
IDåttca utilizatn tan)béln esta divisäo etn estro- auxilio da mt'ßlca. Quanto ao saber o motivo
Inas pela Inestna razä() que leva o poeta a
fes,
porque os antigos, apesar da transparente clari_
näo bantr a r lina ein geral. Por Isso é que os dade da sua dicgäo, tiveram de recorrer ao
espanh6is, na época de tnaior floresctnu•nto da auxflio da rnåstca e ein que medida dela neces_
sua arte dratnåtica, däo livre curso ao jogo sub- sitavarn, é utna questäo de que nos ocuparemos
til das paixöes, cuja expressäo se torna entäo
mais tarde.
pouco dratnåtica, incorporando ritnas ein Oita-
vas, sonetos, etc., nos seus nutros drajnåtlcos
propriatncnte ditos, ou Inanifestando, por asso-
c. Os géneros da Poesia lirica
nånctas e runas con tin uas, a sua predilecqäo
pelo elenrnto sonoro da linguagen).
propriamente dita
Finaltnente, a poesia lirica aproxnna-se
Inals acentuadatnente da nulsica do que da Ao da transiqäo do recitativo épico
falar

runa, porque a palavra e a frase se confortnarn para o Inodo de apresentaqäo subjectivo, men-
a ulna Inelodia real e a urn verdade:ro canto. cionei jå alguns dos géneros em que a poesia
lirica propriamente dita se diferencia.
Esta tendéncta, aliås, perfeltamente natural.
é,
Quanto Inenores foren) a independéncla e a Poderiarnos do tnesmo modo ser tentados a
objectividade da Inatérla e do contel'ldo liricos, procurar na poesia Ifrica os prlmelros elemen-
pelo facto de serern sobretudo de origem tosda poesia dramåtrca; porém, o poerna Ifrico
interna e de terern a sua orrgem ou a sua rarz aproxilna-se da vitalidade dramåtica unica-
no sujeito como tal, se bem que tendo necessi- mente porque, sem chegar å acqäo animada e
dade de urn ponto de apoio exterior para sua cheia de conflitos, pode apresentar a forma
comunicaqäo, tanto mais a sua fortna exterior dialogada. Deixaretnos, todavia, de lado estes
deve ser nftida e explicita. A sua acentuaqäo géneros Intermediårios e mistos, para nos limi-

exterior deve ser tanto mars forte quanto Inars tarmos ås fortnas ern que o principio da poesia
profundanrnte ernbufdos estäo na Interior l- manifesta sem rnistura. A sua particu-
Ifrica se

dade do poeta. Ora, sc) a nuislca é capaz de laridade depende da posiqäo do pensamento
produzir esta acentuaqäo sensfvel. poético a respeito do tema tratado.
Por esta razåo, e no que se concerne a sua Efectivamente, o poeta, ao suprinlir a par-
execuqäo exterior, vernos a poesia lirica quase ticularidade dos prc6prios pensatnentos e repre-
sernpre acmnpanhada de In tislca. Existe, sentaqöes, absorve-se na contemplaqäo geral de
todavia, a tal respeito, uma certa evoluqäo pro- Deus ou dos deuses, cuja grandeza e poder sa-
gresslva. Efectivamente, os poernas Ifricos tisfazetn a sua alina e ante os quais parece
romån tlCOS, sobretudo os Inodernos, säo os esquecer-se de Sl mestno. Os hinos, os ditiram-
primejros que se prestarn ao acorn panharnento bos, e os saltnos fazetn parte desta categoria,
me16dico, e Isto aplica-se particularmente aos consoante os diferen-
cujas formas vartatn, alias
Lieder, cujo elernento dorninante é constitufdo tes povos. Litnitar- tne-ei, a sublinhar, de
por estados de alma, consistindo entäo o papel Inaneira sutuårta, as diferenqas seguintes.
da Inelodizando-a, por
ID åsica ern reforqar, O poeta que se eleva acirna da litnitaqäo
assirn dizer, a ressonåncta Interior da alina.
dos pr6prios estados Interiores e das situaqöes
lal é a razäo porque o canto popular pede exterrores, assnn corno das representaqöes que a
acolnpanhamento In usical. Pelo contrårlo, as eles se vlnculanl, para concentrar a atenqäo
canqöes, elegias, epfstolas, etc., näo encon- naquilo que ele e sua nagäo considera1n divino
traräo facihnente cornpositores nos ternpos e absoluto, pode representar a Divindade sob
Corn efeito, todas as vezes que o ulna fortna objectiva e servtr-se desta imagem,
pensamento, a reflexäo ou até o sentitnento
pr6pria da contemplaqäo interna, para cotilli-
conseguetn explici tar-se cornpletarnente na nicar a sua ideia sobre o poder e a grande7A do
prc6pria poesia, e ultrapassam assiln tanto o
Deus que canta. Tal é, por exetnplo, o caso dos
sitnples estado de concentraqäo da ahna, con)0
hinos atribufdos a Hornero. Estes cantos refe-
o elelnento sensfvel da arte, a poesia Ifrica,
ren)-se principahnente a situasÖes e hist(3rjas
conr) corn unicaqäo verbal, ganha etn indepen-
mit016gicas etn louvor do deus ell) honra do

Kon
AS' AR TES A
qual for
de sob
do do A
voz do Senhor que divide a
forn)a épica. que recorda a
chama do do Scnhor que abala o
fogo: a voz
descrto: porque o Senhor farå tremer o deserto
tiva para D
voo ditiråtnbico, conu) elevaqäo subjec-
dc Cadcs», etc.
eus, voo que arrcbata o poeta c aglta
e perturba a sua altna a ponto de a tornar inca- Scnulhantc elevaqäo ou sublimidade lirica

paz de objectivar o que sente sob a fornn dc


Itnagens e figuras, tnas o Inergulha nutn estado utna Identlficaqäo com um objecto concreto,
de ji'lbilo extåtico, é jå dc caråctcr Ihais lirico. do que um entuslasnl() vago que procura reve-
O poeta sai de si tnestno lansa-se dlrcctamente
para o absoluto e, penetrado da sua essénoa e
podc expresur. Em virtudc desta indetermi-

poder, entoa utn hino triunfal sobre o Inflnjto


tlvanio pode representar o objecto tnacessivel
que estå tnergulhad() e sobre a magnlficén
aoq €entldos na sua beleza serena; etn vez de
corn que Deus lhe revela os arcanos da
prod u 11 r u m a gem
serena a fan tasla
1

Justapöe os fenc;menos extertores que apreende


Os gregos, nas solenidadcs cm honra dos a forma e fragtnentårla e, do
deuses, näo se detnoraratn multo tetnpo nestes mestno tnodo que é Incapaz de realuar Inte-
silnples apelos e Invocaqöcs, mas chegaram a rlormente uma firme articulas-åo das represen-
interromper estes impulsos da alma por situa- taqöes particulares, etnprega ratlibétn na fortna
goes deternunadas e acqöes nitidas. Estas narra- extertor um ritmo arbitrartatnenre entrecorrado
tlvas, sltnples Intermezos, foram a pouco e e irregular.
pouco assumindo a funsäo principal. Ao apre- as o lirtsmo do saltlil€ta, ao qual se
a acqåo cotno viva e biogråflca, de assemelha, sob um certo a<pecto, o profe-
tas, com as suas exortas•Oes e hens de entustas-
contornos precisos, aqueles epis6dios serviram
de pontos de partida para o drama que, por sua mo e de calor, ditada.s por colera sublitne

vez, recorreu å Intervensåo lirica dos coros,


contra um
povo esquectdo de I )ctß e que de-
sobedeceu å Sua vontade, acaba, CONI o tetupo,
Integrando assim o i risino na totalidade
I
por se acalmar e por se rornar ou tnenos
htnos e os
poética. abstracto. Assttu, por exetnplo,
Estes voos para Deus, estas aspiraqöes e saltnos de Klopstock (ou, antes, as suns poestas
apelosda alma para o ånico Ser onde o poeta compostas no género dos hinox e s•almoo nåo
encontra o filD supretno do seu pensanwnto, a
fonte de todo o poder e verdade, de toda a satnento nem pelo desenrolar sereno de um
conteC1do religtoso, revelatil principal men-

uma forqa particular, nos sublitnes saltnos do


Antigo I"estamento. Eis, por exetnplo, o que se nas, pode cornar patente a desproporqäo que
sc)

lé no Salmo XXXII: «Exultai, (3 justos, no existeda imensuravel e inconcebivel grandeza


de Deus, com sua majestade e seu poder, å fi-
Senhor! Que O louvenl os hotnens de coraqåo.

0 de cordas. Cantai-Lhe novo nitude, e humildade


Outro genero de poesia lirica é constituido
cåntlco ao sorn dos alaådes e trotnbetas. pelas Odes, no sentido moderno da palavra.
Porque a palavra do Senhor é recta e a sua fide-
ama a justiqa e a equidade, da miseric6rdia do
Pela Palavra do
Diferindo dos hinos e dos salmos, as
caracterizadas pelo lugar que nelas

ou nuntfestar de duas tnanetras.


afirtnar
Senhor foram feitos os céus e pelo Espirito da Vejatnos a pritneira. O
poeta escolhe, como
precedentetnente, no seio nova
Sua boca toda a sua virtude», etc. C) filhos de
e deste novo de expresäo, conteådo
itnportante, cotno, por exetnplo, a glorificaqäo
Deus, rendei ao Senhor honra e gl(3ria, rendel
ao Senhor a g16ria devida ao Seu Notne: adorat
o atuor, a beleza, a arte, a atnuade, etc., e apre-

ao Senhor no åtrio do Seu Santuårto. se-nta adlma inteiratnente subjugada e


Senhor ecoou ern poder: a voz do Senhor etn
A voz do senhor quebra os ce-
dro€ An I 'bano: e os farå
Ihagnificéncja. em p equenos pedagos
111 - SISTEMA DAS ARTES
dade u Ina importåncia que lhe per mite
arrebatada pelo tetna c pela concreta realidade. atribuir, até a objectos insignificantes que se
No seu cntusiasrno parece dizer que o objecto propöc anilnar de um sopro poético, nobreza
se apoderou de toda a alrna poética e nela reina
dignidade ou, pelo tnenos grande interesse. Säo
Mas se assiln fosse, Isto é, se o deste género nutitas das odes de Horåcio e
objecto exercesse reahnente utn poder absoluto Klopstock, por seu lado, näo desdenhou aplicar
e decisivo, o terna poderia entäo objectlvar-se
o seu talento poético a objectos insignificances
na for:na plåstica de urna irnagem escultural
cm si. Oconteådo pouco importa aqui ao
épica. poeta; a arte aproveita ocaslöes exteriores e
V ejarnos agora a segunda. Neste caso, é a pequenos incidentes para elevar o insignifi-
pr6pria subjectividade e grandeza que o poeta cante ao nfvel dos sentimentos e das represen-
procura exprirnir e objectivar, quando se
apodera do terna e o modifica profundamente. taqöes.
Toda de sentimentos
a infinita diversidade
Através dele se exterioriza a Sl mesmo e, usando
e reflexöes liricas seexpande finalmente no
da sua liberdade, in terrompe o desenvolvi-
Lied, que é a expressäo tnais perfeita das
Inento objectivo para a ele associar os pr6prios
particularidades nacionais e da personalidade
sentitnentos e reflexöes, pois näo é jå o objecto
ou o acontecltnento etn si que donunatn, Inas do poeta. Dada a prodigiosa diversidade de
géneros que nele podem entrar, diffcil se torna
o entuslasrno subject! vo por ele suscltado.
Todavia, neste caso, é preciso distinguir dots
urna classificaqäo precisa. No
entanto, podem
aspectos in teiratnente diferentes, senäo opos-
ad Initir-se de modo geral, as subdivisöes
tos: a forqa arrebatadora do ten)a e a liberdade segui n tes:
do poeta que se tnanifesta na luta contra o Etn primeiro lugar, o Lied propriamente
objecto que pretende subjugar. E sobretudo a
dito, destina-se a sercantado e trauteado, no
isolatnento ou em sociedade. Näo tem necessi-
acuidade desta oposiqäo que explica o ftnpeto e
o atrevirnento da linguagell) e das itnagens, a dade de muitas ideias, nern de grandeza e de
desordern aparente da estrutura interna e da elevaqäo do tema; pelo contrårio, a dignidade,
evoluqäo, as digressöes, as lacunas, as bruscas a nobreza e a gravidade do pensatnento seriam

transiqöes, etc., o que concorre para que o obståculos ao prazer de manifestar ilnediata-
poeta possa aflrrnar a sua grand eza Inediante a tnente as suas impressöes. Reflexöes grandiosas,
superioridade e a perfeiqäo artistica com que é pensamentos profundos ou sen titnentos subli-
capaz de resolver estes conflitos, criando urn Ines forqatn, etn geral, o poeta a separar-se da
todo indivisfvel que, corno obra sua, o eleva individualidade, corn os seus Interesses e esta-
acitna do objecto. dos de altna. Ora, é a espontaneidade da alegria
E a este género de inspiraqäo Ifrica que e da dor, esse caråcter particular e pessoal do
devein a sua origeln Inuitas odes de Pindaro, sentitnento, que precrsatnente encontra no
cuja vitoriosa grandeza interior se rnanifesta Lied a sua melhor expressäo. Eis porque cada
també1D no rltrno de Inovltnentos nu'lltiplos, e povo sente tanto prazer etn ouvtr os seus
portanto, subrnetido å ordem e å Inedida. Lieder, eis porque lhe säo täo fatniliares.
Horåcio, pelo contrårio, precisarnente nos Mas por que seja este dotni1110,
tnais vasto
lugares ern que tnals se quer elevar, Inostra-se
tanto pela variedade do conteådo colli() pela
frio e rude, e manifesta ulna artificialidade in)i-
diversidade dos tons, cada Lied näo deixa de se
tativaque näo dissimula convenien ten)ente a
distinguir de todos os géneros até aqui conside-
delicadeza de ulna cornposiqäo onde tudo estå
rados, pela silnplicidade do desenvolvinrnto,
calculado. O entusiasmo de Klopstock tan)béln
da do metro, da linguagem, das inn-
Inatéria,
nein seinpre é auténtlco; nota-se por vezes o
gens, etc. Tomando por ponto de partida um
embora nurnerosas das
artificialislno, Inuito
suas odes etnanen) de sentilnento ver- sentinu•nto determinado näo passa, na desor-

dadeiro e profundo e, na Inaneira corno estäo dem do entusiasnr), de urn objecto ao outro;
expressas, pareqall) cheias de dignidade e forqa
etn geral, detétn-se exclusivamente numa situa-

vlrls. qäo particular ou nunva expressäo detertninada


odavia, o tenya näo tem necessidade de ser da ou da tristeza, e por sua agudeza cone
alegria

substancial e itnportante por Sl Ineslno; mas segue penetrar e cornover a nossa alnia.
pode acontecer, e acontece realmente, que é o Na expressäo deste sentitnento ou desta situa-
jr(3prio poeta quenl agrega å sua individuali- qäo, o Lied Inantéln-se calli)0 e sillil)les, num
voo sen)pre igual, setn atrevimentos ousados
AS ARTES ROMANTICAS — A POESIA
nem transiqöes bruscas, e desenrola-se assim,
de forma ora um pouco reprimida
e concen- entender o que a alma reprimida näo pode ex-
trada, ora desenvolvida e uniforme, servindo-se primir nem libertar, alma que se consome e se
de ritmos apropriados para o canto e de rimas
fåceisde apreender, verdadeiramente simples. Alnos, cavalga como o pai, de nolte e ao vento.
Mas se o telna do Lied é quase sernpre algo Esta particularidade que, em geral, se manifes-
fugitivo e Passageiro, näo devemos itnaginar ta jå na poesia Ifrica, sob a forma de poesia

que Os POVos contéln durante séculos os Ines- popular, traduzindo os movimentos da alma e

Inos Lieder. Um
povo que atingiu urn certo
grau de desenvolvimento tern jå riqueza sufl- contra-se, coin numerosos matizes e graus in-

dente para ver surgir nyais do que um poeta, ternrdiårios, no Lied propriamente dito.

nas sucessivas épocas; a dos Lieder, em Eis agora alguns dos géneros Ifricos que
oposlq-äo å epopeia, nunca se extingue, renasce merecem menqäo especial.

te. flores renova-


l)rlmelramente, os cantos populares que,
-se ern cada I) rirnavera. Sornente os povos
em razäo da sua espontaneidade, podem ser
assnnilados aos Lieder, säo mais susceptfveis de
oprimidos. sem condiqöes de realizar progres-
ser cantados e tém até necessidade de acompa-
sos, incapazes de mergulhar nas alegrias da
nhamento musical. Eles perceptuam, por um
crlaqäo, persistem em
nuu)ter e repetir os can-
lado, a recordaqäo dos feitos e acontecimentos
tos tutllto antigos. Cada Lied nasce e morre
o povo se espelha e reco-
nactonais, nos quais
corn o sentirnento que o cria. Excita, agrada nhece, porque fazem parte da sua Vida mais
por urn momento, e esquece pouco depois. intima por outro lado, exprimem os senti-
e,
uetn conhece e canta ainda as cangöes que hå mentos e situaqöes das diferentes classes sociais,
cinquenta anos toda a gente conhecia e cantava as relaqöes com a a natureza e todas as con-
cornovidamente? Cada época imprime ås suas disöes ctrcundantes e fazem ressoar os tons
canqDes urn novo torn, enquanto as da época mais variados da alegria, da tristeza e da dor.
precedente se dil uern até desaparecerem por Uma outra variedade compreende os Lieder
cornpleto. A verdade é que cada cangäo näo de caråcter menos espontåneo e que pertencem
deve exprirnlr somente a personalidade do can- a estados de civilizaqäo mais avanqados: säo

tor, mas deve ter tam bém um valor geral, cantos de aspecto agradåvel e por vezes deli-
cado, destinados a deliciar e divertir, inspirados
agradar a todos, estar de acordo com os senti-
na natureza em situaqöes da Vida humana
Inentos de toda a gente e por isso passar de
comum, descrevendo tanto os objectos como
boca ern boca. Os Lieder que näo foram uni-
os sentimentos que despertam, recluindo-se o
versaltnente cantados na sua época näo eram
poeta em si mesmo e analisando os impulsos
Lieder, na verdadeira acepqäo da palavra. do seu coraqäo. Quando estas cangöes se limi-
No
que se refere ås caracterfsticas essencials
do modo de expressäo dos Lieder, revelarei ape- menores dos objectos naturals, tornam-se
nas duas, que aliås tive ocasiäo de indicar corno que prosatcas, pois nao manifestam a
precedentetnente. Por urn lado, corn efeito, o mfnltna actividade criadora. O mesmo, por
poeta pode exprimir abertamente e sem reserva vezes se då, quando a descriqäo se refere aos

quanto lhe passa pelo espfrito, sobretudo os


sentirnentos e estados etn que predonlina a ale- objectos e sentitnentos, o poeta näo esteja
don)inado por desejos directos, mas, usando de
gria, e nao ornitlr nenhutn pornwnor do que se
utna liberdade te6rica, saiba elevar-se acima
passa conugo; Inas, por outro lado, caindo no
destes desejos, a ponto de buscar apenas a situ-
extrelno oposto, pode lirnitar-se a fazer adivi- pies que a fantasia em si lhe pode

O modo de expressäo corresponde ao


prirneiro esta dilataqäo do e estada
Oriente e particulartnente å serenidade des- alma, originadas na representaqäo, conferem a
Preocupada e a expansao livre de desejos da multos cantos anacreönticos, assim como ås

do 11010, pell co•ntrarll, peltencelaos povos obras de Hafiz Divan de

expteriores, 'para dara género, de que ocupåmos, possfvel

623
/// - SISTEMA DAS ARTES
cotno Resigna«io, Os ideais, (L) Rein o
Ifricas, tais
a utilizaqäo de urn conteüdo geral nvais ele- das Sombras, Os Artistas, O
ideal e a Vida
etc
näo oferecem o caråcter de Lieder nem tä()_
testan tess por exernplo, entrain na categorla -pouco o de odes, hinos, epistolas, sonetos ou
dos Lieder. Expr itneln a poesia da prece, da elegias, no sentido antigo da palavra; pelo con_
piedade, da esperansa, da confianqa, da fé, da trårio, ofereccm um caråcter muito diferente
diivida do arrependirnento, ou, enfltn, o anse10 do de todas as espécies citadas. O
que as dis-
para Deus ern que Vive o coraqäo protestante; e tingue, é o profundo sentimento em que o
se cada poeta expressa o que se passa na sua conteådo se inspira, sem que, todavia, o poeta
alina individual, a quando de incidences e se deixe arrebatar, e sein que a insplraqäo o leve
situaqöes da Vida particular, tais sentitnentos a lutar contra agrandeza do objecto. Pelo con_
assurnetn caråcter geral, visto que pode:n alber- trårio, domina o objecto e exprime-o, sob
gar-se no coraqäo de todos os ho:nens. todos os aspectos, corn utna elevaqäo de senti_
Outro grupo deste vasto dotnfnio Ifrico é mentos e utna largueza de vistas incomparåveis,
numa linguagem cheia de palavras sonoras e de
epistolas, etc. Estes géneros ultrapassatn jå os imagens tnagnfficas, mas usando ritmos e rimas
lilnites do Lied. A espontaneidade do senti-
täo simples quanto surpreendentes. Esses altos
pensamentos e interesses profundos a que con_
que procura reduzir os lados particulares da sagrou toda a Vida, aparecem assim como uma
intuiqäo e das reacqöes internas a pontos de
parte integrante e utna propriedade inalienåvel
vista gerais. Os conhecimentos, a erudiqäo e a do espirito. Mas etn vez de cantar surdina
instruqäo desempenham um papel ilnportante para urn grupo reduzido de amigos, como
e,se a subjectividade que asseoura a ligaqäo e a
Goethe, cuja boca era utna inesgotåvel fonte de
mediaqäo entre o particular e o geral perma- cantares, Schiller procedia como se tlVesse de
nente ainda como elemento dominante, o
cornunicar, a uma das tnelhores e mais dignas
ponto de vista em que se coloca é Inais geral e
assembleias, ideias de interesse fundamental.
mars amplo do que no Lied propriarnente dito.
E assim, os seus Lieder ressoam, como ele
Os italianos, em particular, deranpnos, com os
pr6prio disse a respeito do seu Sino:
seus sonetos e sextilhas, um magnfflco exemplo
«Lå no alto, betn acima da indigna Vida
de sensibilidade delicadamente reflectida.
terrena, seja ele, na tnansäo azul do céu, o vizi-
Assirn, ntllna situaqäo determinada, o poeta
nho do troväo, pairando até aos limites do
näo descreve sirnplesnrnte as disposiqöes da
alma, os sentimentos de dor, de tristeza, de mundo estrelar; que ele seja ulna voz que vem
desejo ou as percepqöes dos objectos exteriores do alto, corno o lutninoso cortejo de estrelas
com concentraqäo interior, Inas recorre a toda que, alternadatnente, louvam o Criador e con-

a espécie de subtilezas e digressöes, dedica-se a duzem o exército coroado. Q


ue ås corsas eter-
reflexöes sobre a mitologia, a hist6ria, o pre- nas e sérl•as esteja apenas consagrada a sua boca

sente e o passado, para, depois de ter percor- de nwtal, e que pelas suas råpidas vibraqöes vå

rido todos estes domfiuos se reclufrem em si Inarcando as horas fugazes do ternpo».


jnesmo e voltar de novo ao estado de concen-
traqäo de que fazia parte. Uma tal erudiqäo näo
é cornpatfvel nem corn a sirnplicidade do Lied, 3. Evoluqäo hist6rica da
nem com a sublimidade da ode, o que faz corn Poesia Ifrica
que estas poesias näo se prestern para ser can-
tadas mas, em cornpensaqäo, a pr6pria lin-
guagem, com as sonoridades e rinyas ben)
escolhidas, transfornn-se numa Inelodia falada.
A aproxima-se Inais do
elegia, pelo contrårio,
O que disse
geral
a respeito
da poesia Ifrica,
nagöes particulares aplicåveis ao poeta,
quer do
quer das
caråcter

determi-
å obra
género épico, tanto pela medida das sflabas
de arte Ifrica e aos géneros da poesia Ifrica'
corno pelas reflexöes que por vezes cornporta e
basta para Inostrarem, com suflciente clareza,
pela apresentaqäo puramente descritiva dos
que este dominio poético s6 pode ser conside-
senti1D en tos.
rado de forrna concreta sob o ponto de vista
Finalmente, um da poesia
terceiro género
hist6rico. Efectivatnente, as generalidades que
lirica é a que Schiller cultivou recentetnente de
se podem formular a seu respeito nao estäo
forrna notåvel. A Inaior parte das suas poesias
apenas lilnitadas quanto ao catnpo de apli-
ca
qäo AS ARTES ROMÄNT/CAS — A POESIA
h)as tétn, alérn disso, utn valor pura-
nu•nte abstracto,
exprime näo como
as coisas e as circunståncias,
teüdo
e utha influéncia täo decisiva sobre o con- as concebe, mas como cxistem por si mesmas,

das épocasOrma
e dosdas obras, as particularidades conferindo-lhes uma Vida independente.
Assim, por exemplo, na poesia de Hafiz.
pessoal. M
esquivar-lne a relance sobre a evoluqäo
poesia Ifrica, cutnpro todavia o dade, tende para uma expansäo interior que se
dade dee prevenir que, dada a enorme varie- perde facilinente no ilimitado, sem todavia
géneros etn que aquela se dlferencla, chegar a uma expressäo positiva do conteådo
lirnitarei a um breve resumo dos Incus co- que escolheu, pois este pr6prio conteådo é for-

nhecirnentos relativos a este assunto. (l critélio mado pelo substancial que näo se deixa enfor-
da classificaqäo geral das obras Ifricas nacionais mar. Foi por isso que a poesia oriental, no con-
e individuais ser-nos-å fornecido, como para a
persas, aforma Ifrica. A fantasia subjectiva
a, Pelas fortnas mais tfpicas da cria-
gao artfstica: silnb61ica, clåssica e romåntica. evoca tudo o que hå de grande, poderoso e
Por isso, seguiremos aqui uma linha idéntica sobretudo na crtatura, para fazer desaparecer
que seguitnos quando das nossas consideraqöes
sobre a poesia épica, pela poesia Incotnensuråvel tnajestade de Deus, ou entäo

Ifrica do Oriente, para passar em seguida å dos


para corn eles fazer um precioso colar de Ofe-
gregos e rotnanos e finalizar pela dos povos
eslavos, rotnånicos e gertnånicos. renda e de honrnagem a quern o poeta atribui
Inars valor: seja um sultäo, uma atnante ou...
uma taverna.
Entre os diversos modos de expressäo que
a. A Poesia lirica oriental
caracterizam este domfnro, podemos citar a
metåfora, a imagem e a cotnparaqäo. Por um
A
poesia Ifrica oriental diferencia-se da do lado, com efeito, o poeta, privado de liberdade
Ocidente pelo facto de o Oriente näo ter con- interior, s6 pode manifestar-se graqas a uma
seguido nern elevar-se å autonolnia e å liber- cotnparaqäo e a uma identificaqäo com algo
dade individual do tema, nem realizar a 'inte- que dele é diferente e exterior; por outro lado,
riorizaqäo de cada conteådo, interiorizaqäo que tnantényse o geral e o substancial aqui abstrac-
då origem å profundidade da alma romåntica. tos e setn revestlr utna forma individual deter-
Pelo contrårio, a consciéncia subjectiva encon- modo que também pode ser tor-
Ininada, de

tra-se to tallnente Inergulhada, quanto ao con- nado perceptivel pela cotnparaqäo com
fen6menos particulares do mundo exterior,
teådo, no exterior e no particular, e expritne
adquirem
esses que, por sua vez,
estados e situaqöes caracterizadas por esta indis-
valor pelo facto de servirem para dar, por cony
solåvel unidade; mas, por outro lado, dirige-se, paraqäo, utna ideia mais ou nrnos aproximada
setn todavia encontrar em si mesma um apolo de Deus, o ünico ser cheio de significaqäo e o
o que hå de poderoso e de substan-
firme, para ånico digno de ser louvado e glorificado. Mas
Cialna natureza e nas condiqöes da Vida estas metåforas, imacens e comparaqöes, pelas
humana, que procura, embora sem resultado
quase perceptfvel, näo exprimem nem o senti-
taqäo e sentirnentos, graqas a uma posiqäo ora mento nern a corsa a que ele se refere; säo
mars ou menos negativa, ora tna1S ou Inenos modos de expressäo artiflciais, forjados pelo

livre. Quanto å forma, encontratnos na poesla


A auséncia de liberdade interior encontra-
oriental rnenos expressÖes poéticas de represen-
-se, portanto, aqui, substitufda pela liberdade
taqöes independentes relativas a determinados
de expressäo, a qual, na sua sitnples esponta-
0b) ectlvos ou cond1Øes, do que unn descriqäo
afilma•, a interloridade do poeta reclufdo neidade, se expande em de toda a

nva1S surpreendentes e itnprevistas combina-


em si Inestno, Inas a sua direcqäo para os objec- de extraordinåria ousadia e adlniråvel
Eis o que confere å
goes,
Poesia Ifrica oriental urn tom por assim dizer subtileza.
Objectivo. Frequentemente, com efeito, o poeta

625
/// - SISTEMA DAS ARTES
rfunica, a crescentando-lhes, aléln disso, as figu_
Entre oc povos que cultivar an) a poc•sla ras complicadas da danqa.
Ifrjca denonunada oriental,convétn citar antes Foi na pocsia lirica grega que esta forma de
de tudo oes chtneses. depolS os hind us c, por arte alcanqou a sua tnais perfeita e completa
flin, os hebreus, os årabes c os persas. Os hinos, tendo ainda o nutro da
realizaqäo.
pocsia épca, näo expritnern o entustastno e a
insplraqäo interiores, mas dirigem-se å alma
b. A Poesia Ifrica dos gregos e apresentando-lhe as i:nagens dos deuses, a tra-
dos romanos gos objectivos. O grau seguinte é representado,
quanto ao metro, pela mcdida silåbica da
O
traqo rnais caracteristico da poesia Ifrica elegia, ou seja o pentåtnetro que, pela sua alter-
grega e rotnana é o da individualidade c/åssica. nåncia regular corn o hexårnetro e graqas ao
Etn virtude deste principio, a conscléncia indi- emprego de cesuras e intervalos iguais, anuncia
vidual, na sua expansäo Ifrica, nem se perde no o aparecitnento de uma nova forma de com-
objectivo e no exterior, nem se eleva aclma de posiqäo: a da estrofe. Pelo conjunto do tom, a
si tnestna, para langar este apelo sublitne a elegia politica ou erotica tem jå um caråcter
todas as criaturas: Lmtvado seja Dens! Que tudo mais Ifrico; todavia, como gn6mrca, estå ainda
quanto existe louve o Senhor! O
poeta Ifrico, pr6xima da épica, pela forma como acentua o
desprendido dos lagos de finitude, näo volta a substancial e a sua expressäo. Isto explica que
rnergulhar no Ser tinico e inflnito que tudo pe- tenha Sido quase exclusivamente cultivada
netra e annna. Como indivfduo, associa-se pelos _J(3nicos, que se conservaram principal-
livremente ao geral, å subståncia do seu pr6- mente atidos å percepqäo objectiva. Sob o
prio espfrito, e torna esta uniäo individual inte- aspecto tnusical, foi tarnbém o lado rftmico
riormente perceptivel å consciéncia poética. que sofreu uma elaboraqäo profunda. E, a par
Tal como a poesia Ifrica oriental, a poesia do metro da elegia, vemos desenvolver-se um
Ifrica dos gregos e rornanos difere tarnbérn da novo Inetro, o do poema jåmblco, o qual, pela
romåntica. Em vez de se integrar na mais pro- violéncia das suas Invectivas, tem jå urn caråc-
funda interioridade dos estados e situaqöes par- ter mais subjectivo.
ticulares, explicita esta interioridade, trazendo Mas o sentimento verdadeira-
a reflexäo e
å luz as paixöes, sentilnentos e reflexöes que rnente Ifricos s6 atingem o seu pleno desen-
esta contém. Por este enquanto
facto, reveste, volvimento na poesia denominada mélica: os
exteriorizaqäo do espfrito e na nrdida etn que metros säo mats variados, mans versåtets, as
a poesia estå habilitada a fazé-lo, o tipo plåstico estrofes mats rlcas e o acompanhamento musl-
da arte clåssica ejn geral. Apesar do caråcter cal torna-se mais completo, graqas å Interferen-
manifestarnente geral, os seus aforisrnos sobre a
cia da modulaqäo. Cada poeta escolhe a
Vida e as suas sentenqas Inorais däo testernunho
medida silåbica que mais convém ao seu caråc-
individual de mentalidade livre e de livre in-
ter Ifrico: Safo canta cotn palavras cotnoventes
venqäo: menos abundantes em irnagens e ruetå-
as suas ternas efusöes, animadas por ardorosa
foras, os clåssicos expritnern-se directanrnte e
paixäo; Alceu expritne nas odes utna coraoem
no sentido pr6prio, objectivando-se o senti-
mais viril. Nos esc61ios, poré1Ä1, etn virtude da
mento subjectivo por si mesn10 quer Inediante
diversidade do contefido e do totn, se distin-
a generalizaqäo quer sob ulna forina perceptivel
e concreta. E individualizando-se deste Inodo
gutrarn os poetas por utna dicqäo e um metro
artisticamente cotnpostos e graduados.
que os géneros particulares se diferencian) entre
si quanto å concepqäo, å expressäo, ao dialecto
Finahnente, a poesia coral atinge um
e ao metro dos versos, para cada urn deles atin- grande desenvolvimento tanto quanto
riqueza das ideias e reflexöes, ao atrevitnento
gir por si Inesrno, independenternente de todos
os outros, o ponto culrninante da sua forrna- das transiqöes, etc., cotno quanto å exposifäo

qäo; e tal como a Interioridade e as suas repre-


exterior. O
canto coral pode alternar coin o de
VOZes isoladas, e o Inovilnento Interior nao se
sentaqöes, a exposiqäo exterior tern caråcter
contenta corn o sitnples ritnl() da linguagelll e
jnais ou jnenos plåstico, visto que sob o aspec-
to puratnente In usical acentua Inenos a Inelo- das tnodulaqöes da IDåsica, Inas apela ainda
do que a sonori-
dia dos sentilnentos fntirnos para o eletnento plåstico da danga que se torna
dade sensfvel das palavras, na sua sucessäo assitn coinpletnento sensfvel da parte sub-
jectiva. Os objectos desta espécie de inspiraqfi0

626
.estäo AS AR TES ROMÄN77CAS A POESIA

trata-se com glorificaros nos ocupåmos, deixa-se, em


Ceri
divid?åle aos gregos, por vezes ,

recrin)inaqöes acerbadas contra a corrupqäo da


da unidade
os facultavatn objectiva
época, da indignaqäo violenta e do torn deda-

rica épicose ditas a

a perfeiqäo, t01na por ponto de partida,


pretextos e situaqöes exteriores, abstracta ret6rica de um zelo virtuoso.
pensatnentos altfssimos sobre Os imortais
prrncfpios e sobre a natureza dos deuses, como
para Se dedicar a consideraqöes sobre os her6is, c. A Poesia lirica romantica
os feitos destes, a fundaqäo dos Estados, etc.,
revelando-se artista incomparåvel A poesia Ifrica recebeu um conteådo novo
que tanto soube dominar os vertiginosos voos quando entraram na cena da hist6ria novas

da fantasia corno dar, aos produtos desta, unva


pritnitivo,mais espontåneo. Estas novas nagöes
fortna inteiratnente perceptfvel. Nao é, pois, o
pr6prio objecto que se desenrola epicatnente, foram os povos germånicos, latinos e eslavos
que, jå durante o perfodo pagäo, mas sobre-
mas a Inspiraqäo subjectiva que é invadida pelo tudo depois da sua conversäo ao cristismo,
objecto, de Inodo que é este que, pelo con- tanto na Idade Média como nos séculos mo-
trårio, parece anilnado e criado pela alma.
dernos, elaboratn urna nova orientaqäo Ifrica
A
poesia Ifrica dos poetas da época alexan- que, pelo seu caråcter geral, se deixa integrar na
drina é talvez uma itnitaqäo Inais såbia e uma forma de arte romånttca e näo mars cessou de
expressäo mais elegante e correcta do que um se desenvolver e de aumentar.
grau de desenvolvirnento aut6notno. Acaba na A poesia Ifrica adquiriu, sob esta forma
dispersäo por j6ias literårias, preciosidades e romåntlca, uma tal importåncia, que acabou
brincos, ou entäo por epigramas. A essas flores por ilnpor o seu principio fundamental.
preexistences da arte da Vida procura ligå-las Primeiro itnpö-lo å poesia épica e, numa fase
por ulna espécie de sentimento ou refrescå-las de desenvolvimento posterior, ao drama.
pela aroåcia do elogio e da såtira. Contralu assim relaqÖes de tal modo estreitas
A poesia I frica encontrou, entre os com uma e com o outro (coisa aliås, impossfvel
entre os gregos e romanos), que entre certos
Romanos, um terreno jå muito preparado, tnas
povos, os feltos puratnente épicos säo tratados
que, de principio, poucos frutos produziu. de forma liricarnente descritiva, o que nos pöe
Surge na época de Augusto, durante a qual foi
cultivada expressäo exterior e fonte de
Inos dizer corn precisäo qual o género a que
requintadas alegrias para o espfrito. Mas isto s6 pertencetn. Esta absorqäo pela tendéncia Ifrica
ern parte é verdade, porque, por outro lado, foi
povos assentar no principio da subjectividade
produto de aplicaqäo e ulna questäo de que em sl mestna descobre o substancial e o
gosto, do que a expressäo de uma frescura de
e que quanto mais se analisa tanto mais
tir,
sentirnentos e de urna originalidade de con-
Nao resta a menor dåvida de toma consciéncia de si mesma. Este princfp10
manifesta-se na fortna tnais pura e Inars corn-
que, pelas pr6prias qualidades e pelo caråcter
individual dos seus poetqs, a Ifrica rornana se pleta entre os povos gernlånicos, enquanto que
os povos eslavos estäo ainda dominados pelo
Situa bem actma dos modelos alexandrinos,
estrangeilas e a sua tend&ncta princ-fp10 oriental da no substancial e
Para a llnltaläo; e, •se- fizertnos abstracqäo do no geral. Entre uns e outros, situanyse os po-

d'a arte, telemos de reconhecer que os romanos pério Rornano, se encontratn em presenqa näo

preexistentes de toda a espécie, de


atingiraln grau de perfeifäo bastante ele-
Vado etn géneros tais corno a ode, a såtira, a
epistola e a elegia. pelo contrårio, a såtira pos-
627
/// S/SITMA DAS ARTES
nobre virtude da anlizade que era para ele quale
modo ques para nelas se adaptarcln, for-an) for- quer coisa de grande c sublitne, o d
cspfrito onde punha toda a sua honra, todo o
tituia a pr(3pna originalidade. No que se refere seu orgulho; outras ao vfnculo atnoroso, a
ao contetido, corn preende quase tudo aquilo arnor profundo, embora neste grupo corn -
preenda jå obras que podem ser consideradas
vidual, religiosa e profana, se enriquece.sse no total ID ente prosalcas, como, por exelnpl()
decurso dos séculos e o que, depois de ter so- Se/mar e Selma, na qual descrcve (lina triste e
frido urna in terror, se transforrnou fastidiosa rivalidade entre dois arnantes, rivali_
etn estados e situaqöes subjectivas que säo dade que, acolnpanhada dc Inuitas lågrin)as
expressos corno tais. (Quanto å forrna, estå des-
latnen taqÖes väs e sentilnentos inutilmente
tinada a exprilnir a nterioridade da alrna
1
gira å volta de un)a questäo
absorvida por acontecltnentos nacronats ou ociosa e irreal, a de saber qual dos dois morrerå
outros, ou pela natureza c arnbiéncia exterior,
pritneiro, Sehnar ou Selina. Mas quem desem-
ou Inuito sirnplesrnente ocupada ein reflectir
sobre si Inesma, sobre o seu estado actual e o
penha o papel de importåncia suprema nas
obras de Klopstock é o sentimento Patriötic()
scu possfvel futuro. Exteriorrnente, a plåstica
sob todas as formas. Protestante que era, näo
da versificaqäo ritrnica då lugar å musica da
podia encontrar no Deus da Igreja, nas lendas
aliteraqäo, da assonåncia e de combinaqöes
dos santos, etc., a austeridade moral da arte,
variadas de ritnas, e os novos elementos säo uti-
nejn com que satisfazer as exigéncras de uma
lizados, ora simplesrnente e sern pretensäo, ora
Vida enérgica e de um espfrito rebelde å tristeza
corn multa arte e sob forrnas que testernunharn
e å humildade, mas consciente de si pr(6prio,
um grande esforqo de invenqäo, e o desenvolvi-
mento exterior é tal que reclama cada vez com da sua dignidade e dos seu valor e positivo na
Inalor Inslsténcla o acornpanhatnento rnuslcal sua piedade. Exceptua-se talvez um profundo
do canto meJ6dico e dos instrumentos. respeito poético que manifestava pelos anjos,
Säo trés fases a considerar, no exame deste embora na poesia da realidade humana näo
vasto grupo: l.a a poesia Ifrica destes novos passem de um elemento abstracto e sem Vida.
povos, na época do seu prirnitivtsrno pagäo; Todavia, corno poeta, ele sente a falta de uma
2.a a poesia Ifrica cristä, jå bem rnals• rlca, da mitologia concreta, mas de mitologia
Idade Média; 3.a o interesse pela arte antiga e tradicional, cujos nomes e figuras se ofereqam å
pelo estudo desta arte e o principio moderno sua fantasia com referéncias, por assitn dizer,
do protestantisrno que exerceu urna influéncia e garantidas, por serem de orioem
capi tal. nacional. Os deuses grecros nada tinham que
Todavia, é-rne irnpossfvel ernpreender aqui ver corn a hist6ria da Alernanha, e assiln foi
urna anålise pormenorizada destas trés fases; que, por orgulho patri6tico, Klopstock tentou
por Isso lirnitar-me-ei, para terminar, a evocar reavivar a antiga mitologia de Otan, Hertha,
o nome de um poeta alemäo que imprimiu etc.Porém, esta mitologia outrora germåntca,
poderoso impulso å nossa poesia Ifrica Ino- Inas tendo deixado de o ser, näo lhe poderia ser
derna e cujo Inérito näo foi devidarnente apre-
11til na realizaqäo de uma acqäo positiva e
ciado: refiro-rne ao autor do poetna da objectiva, corno n unca a Aseernbleia do
Messiada. Klopstock foi urn dos grandes Irnpério de Ratisbona serviria de ideal para a
alemäes que contribuiu para a inauguraqäo de
nossa Vida politica tnoderna. Portanto, por
uma nova época de arte no nosso pafs; tuna rnaior que tenha Sido a necessidade de ter utna
grande figura que, corn urn en tusiasrno cora-
joso e urna nobreza de sentirnentos in corn- n)itologia popular geral e Illna representaqäo
poética da verdade da natureza e do espfrito,
paråvel, arrancou a poesia å profunda insigni-
näo deixa de ser evidente que estes deuses desa-
ficåncia da época g6tica, a qual, pela sua
parecidos eratn de ulna irrealidade e de inac-
irrernediåvel vulgaridade, rebaixou tudo o que
havia de nobre e digno no espfrito alemäo; urn tualidade tais, que havia espécie de pueril
e Inconscrente hipocrisla na pretensäo de os
poeta que, profundanrnte consciente da santi-
dade da vocaqäo poética, nos deixou obras per- fazer tornar a sério pela razäo e pela fé
nacronais.
feitas cuja rnaior parte, apesar de uma certa
rudeza de forma, perrnanecerå clåssica. As suas Na poesia Ifrica, cc)lno jå tivernos ocasiäo
de o pr6prio cantor quern se exprilne,
dizer, é
e este, deveinos venerå-lo na pessoa de
AS ARTES ROMANTICAS -A POESIA
RI
opstock
Pa•tri6ticas» tentativa que bastante fecundae
foi lhos e as minhas diminutas forgas de sexage-
or lentou a actividade poética para temas anålo- nårio; å tua forga devo eu o ter vivido até
Sentimento patri6tico de Klopstock agora».E dirige-se aos franceses nos seguintes
com toda a pureza e perfeiqäo no termos: «Perdoai-me, franceses, por antiga-
Seu respeito pela honra e pela dignidade da Ifn- mente ter exortado os alemäes a fugir ao que
gua alemä, be
hist6ricas da Alemanha, como a de Herman, näo teve limites quando viu aurora da
por exemplo, e sobretudo as de alguns impe- liberdade terminar num dia liberticida, atroz e
radores alemäes que se distinguiram no exerci- sangrento. Mas essa dor, näo a pöde Klopstock
Cio da arte poética. Assim, reforqavam-se-lhe exprimir poeticamente; por isso a exprimiu täo
cada vez mais o orgulho que a musa alemä lhe prosaica e sucrntamente, porquanto nada
insplrava e a ousadia com que cada vez mais encontrava jå na realidade a que pudesse ater-se
consciente do Seu Valor, procurava medir-se depois de täO grande e profunda decepqåo.
corn os gregos, os ronulnos e os ingleses. Säo Klopstock foi grande pelo culto da påtria,
inteiramente actuais e as da liberdade, da amizade, do amor e pela
suas ideias sobre os principes alemäes c sobre a flrmeza da sua fé protestante; digno de respeito
esperanqa das realizaqöes destes nos domfnios pela nobreza de alma e da sua poesia, pelas
da arte e da ciéncia, nos dos neg6cios pfiblicos aspiraqöes e realizaqöes; e, se sob certos aspec-
e dos grandes objectivos espirituais. Por um tos, nao conseguiu transpor os limites da sua

lado, då livre curso ao seu desprezo pelos época e compös odes puramente criticas, gra-
prfncipes que «indolentemente sentados, adula- maticais analfticas e frias, nem por isso deixa de

dos por cortezäos, jå pouca g16ria tem hoje, e ser verdade que, exceptuando Schiller, a poesia
ainda Inenos teräo atnanhä» e, por outro lado, alemä näo tornou a ter depois de Klopstock,
outro representante de ideais täo viris e cora-
å dor que sente ao pensar que um principe,
corno Frederico o Grande «näo via a poesia ele- independente.
josos, outra figura täo
var-se rapidatnente e o seu tronco duråvel,
Em contrapartida, Schiller e Goethe näo

partindo de s61ida raiz, derramar a sombra cantaram apenas a sua época, mas possuiram
dos seus ramos». E dor ainda mais viva sente
uma inspiraqäo infinitamente mais vasta e mals
rica: quase universal; os Lieder de Goethe säo,
ante a derrocada da sua esperanqa de ver o im-
muito particularmente, aquilo que de mais per-
perador José abrir urn novo mundo ao espfrito
feito, mais profundo e mais brilhante possui a
e å poesia. Nao podemos deixar de referir, tam-
velhice, vil o povo quebrar todas as cadeias poesia alemä, porque pertencem inteiramente

tradiqäo e porque correspondem perfeitamente


que o oprimiam, calcar a pés injustiqas mile- ao torn fundamental do espirito que anima a
nårias e querer, pela primeira vet, fundamentar
a Vida politica na e no direito. safida nossa nagao.
«esse novo sol, cheio de conforto, com o qual
januis ousara sonhar. Sé bendito, tu, que

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