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A poesia épica, que representa os objectos, exprimir independen ternente. A poesia irå li-
quer na generalidade substancial, quer sob o bertar a alma de tal opressäo, que lhe apre-
senta, por assirn dizer, perceptivel e palpåvel;
aspectO vivente, a exetnplo da escultura e da
pntura, realiza, pelo n)enos no Inotnent() cul- näo se contentarå, porém, com libertar o indi-
nunante da arte, que o poeta desapareqa, com vfduo da sua fusäo directa com o conte(ldo:
farå do conteådo um objecto subtrafdo å
as representaqöes e sentirnentos, diante da
influéncia de disposiqöes psfquicas momen-
objectividade das criaqöes. Mas se o poeta
quiser fugir a esta tendéncia para o exterior,
tåneas e acidentais, na presenqa do qual a cons-
ciéncia, finalmente tranquila, se reencontra
terå por cuidado de integrar na pr6pria subjec-
låcida e recupera a liberdade. Todavia, esta
tividade o conj unto dos objectos e das relaqöes
exteriores ou de penetrå-los pela interioridade prilneira objectivaqäo poética näo pode trans-
gredir a linha da representaqäo subjectiva da
da consciéncia individual; e, por outro lado,
alma do sentitnento como que ernbrenhados
e
abrir curso livre aos sentitnentos até entäo con-
na acqäo, quer dizer, näo vai ao ponto de repre-
centrados, Inanter vigilantes os sentidos, tornar
sentar a individualidade na sua actividade
perceptivels å representaqäo as itnpressöes até pråtica. A interioridade constitui a verdadeira
entäo obscuras, e exprirnir a interioridade realidade do mundo interior. Se assim é, a
asslin liberta. SC) o farå, poréln, com auxflio das
exterioridade, externaqäo ou safda do indivfduo
palavras e da linguagern. Quanto tnais este para fora de si mesmo, s6 poderå ter o sentido
Inelo de cornunicaqäo se afastar da positividade de libertar a alma do seu estado de concen-
da arte épica, e ern virtude deste Inestno afasta- traqäo directa, de um estado incompatfvel corn
Inento, tanto rnais a forma subjectiva da poesia representaqöes mentais ou com palavras que as
se tornarå independente da epopeica e serå exprimarn; graqas å libertaqäo, jå a alma é capaz
forqada a procurar utna fortna que melhor lhe de se expritnir e de dar aos sentirnentos, até
convenha. Ao separar-se da objectividade, o entäo obscuros, a fortna de intuiqöes e de re-
espfrito reclui-se etn si Inestno, perscruta a sua presentaqöes conscrentes. E esta a missäo essen-
consciéncla e procura dar satisfaqäo å necessi- Cial da poesia Ifrica e aquilo por que difZ•re da
dade que sente de exprilnir, näo a realidade das poesia épica e da poesia dratnåtica.
coisas, Inas o Inodo por que elas afectarn a Na exposiqäo deste assunto seguiretnos o
Inestno plano que seguimos nas nossas conside-
alma subjectiva e enriquecern a experiéncia
pessoal, o conteådo e a actividade da Vida inte- ragöes sobre a poesia épica.
rior. Por outro lado, para que esta revelaqäo da Por outras palavras, cotneqaremos por
deflnir o seu caråcter geral. Passaretnos segui-
alina se näo confunda corn a expressäo aciden-
dainente ao exame das detertninaqöes particu-
taldos sentilnentos e representaqöes ordinårias, lares aplicåveis ao poeta Ifrico, å obra de arte
e t01ne a forma poética, serå necessårio que as
Ifrica e ås suas variedades e géneros. E ter-
ideias e ilnpressöes que o poeta descreve, sendo
Pessoais, conservern todavia urn valor geral,
evoluqäo hist6rica da poesia Ifrica.
quer dizer, seja:n auténticos sentimentos e con- No
conjunto, esforqar-tne-ei por ser täo
Sideraqöes capazes de despertar ein outras pes- breve quanto possfvel, e isto por duas razöes:
soas sentilnentos e consideraqöes latentes, des-
- SISTEMA DAS ARTES
lado particular desta totalidade ou, pelo menos,
prinR1ratnente, para reservar lugar bastante
mostra-se incapaz de explicitar e desenvolver a
para o estudo da poesia drarnåtica que me resta
sua mensagem de forma täo completa quanto a
alnda fazer; e, seguida, porque serei forqado
da poesia épica. Nao é portanto, em determi-
a ter conta apenas pontos gerais, VISto que a
nada obra Ifrica particular que iremos procurar
poesia lirica cotnporta minudénclas infinita-
a expressäo da totalidade dos interesses, das
mente nutnerosas e variadas c que poderratn
representaqöes, idc•las e fins naoonals, mas no
ser tratadas de urna fortna mats ou mcnos saus-
conjunto, na totalidade desta poesia ao Ion go
fat(3ria ou cotnplcta pelo tnétodo hlst(6nco, o
dos séculos. A poesia Ifrica näo comport a
que näo é da nossa cornpeténcla.
biblias poéticas, semelhantes ås que encon-
t ramos quando estudamos a poesia épica.
poesia épica nasceu do prater de ouvlr o necer, passadas as épocas de heroismo, quando
relato de unn acqäo estranha que se a Vida ton)a urn aspecto habitual e prosatco.
desenrola, na forma de utna totalidade objec- Apesar de originada no particular e no indi-
tlva cornpleta, ante a consciéncla do ouwnte. vidual, utna obra lirica pode ainda assim
A poesia Ifrica satisfaz utna necessidade cony expritnir o que hå de mais geral, tnais profundo
pletmnente oposta: a de perceber o que senti- e mais elevado nas crenqas, representaqöes e
mos, as nossas etnoqöes, os nossos sentitnentos, relaqöes humanas: o conteu'ldo essencial da
as nossas paixöes, rnediante a linguagem e as religiäo, da arte, dos proprios pensatnentos
palavras com que o revelamos ou objectivarnos. cientfficos, na medida em que se adaptem ås
Teremos, portanto, de examtnar o conteådo da formas da fantasia e da intuiqäo e que pene-
poesia Ifrica, a sua esséncja, a sua forma, mas trem no d01nfnio do sentimento. As concep-
também o grau de consciéncla e o de cultura qöes gerais, a maneira de considerar o umverso,
em que o poeta lirico haure os seus sentllnen- as condigöes e as leis mais profundas que re-
tos e as suas representaqöes. genl a Vida, näo estäo, portanto, excluidas da
poesia lirica e utna grande parte do conteådo
de que jå falei a respeito dos géneros épicos in-
a. O contezido da Poesia lirica cornpletos, tatnbétn convém a este novo gé-
nero.
O conteådo da poesia lirica näo pode ser a A esfera docotno tal, agrega-se, etn
geral
reproduqäo verbal de ulna acqäo objectiva onde segundo lugar, o aspecto da particularidade.
todo o mundo, corn toda a rjqueza das suas Esta, corn efeito,pode cotnbinar-se corn essas
manifestaqöes, se possa reflectir ou sitnbolizar. verdades substanciais, quando tal situaqäo par-
O lirismo restringe-se ao honrrn individual e, ticular, tal sentimento, tal representaqäo iso-
consequentemente, ås situaqöes e aos objectos ladas estäo apreendidas na sua profunda essen-
particulares. O conteådo da poesia lirica é, cialidade e expressos de uma maneira
pois, a manelra coino a alina com seus juizos substancial. E o que se verifica etn Schiller, por
subjectivos, alegrias e ad:niraqöes, dores e sen- exetnplo, näo s6 nas poesias Ifricas propria-
sagöes, toma conscréncia de Sl rnesrna no mente ditas, como tatnbéln nas baladas, a
åmago deste conteådo. Graqas a tal caråcter de prop6sito dos quats Ine con tentarei cotn recor-
particularidade e de individualidade que cons- dar a grandiosa descriqäo do coro das
titui a base da poesia Ifrica, o conteådo pode Eutnénides nos Grous de Ibicus. Este fraotnento
oferecer uma grande variedade e ligar-se a näo é dratnåtico netn épico, tnas Ifrico. Por
todos os assuntos da Vida social, mas, sob este outro lado, esta uniäo pode operar-se de tal
aspecto, difere essencialmente do conteådo da modo que utna grande variedade de tragos, de
poesia épica, sein confusäo possfvel. Enquanto estados,de disposiqöes e de casos particulares
a épica apresenta, numa s6 e Inesma obra a forneqam utna base real para a expressäo Ifrica
totalidade do espfrito nacional em suas Inani- de concepqöes tnutto vastas e cotnpreenstvas,
festaqöes reals, a poesia Ifrica foca apenas utn totaltnente penetradas desta realidade. Esta
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AS ARTES ROMANTICAS -A POESIA
uniäo é por vezes utilizada na elegia e na epis-
, e tnaneira geral, todas as con- uma unidade con)pletamente diferente da obra
stderaqöes que encerram reflexöes sobre a Vida émca•, a unidade provenience da reflexäo e das
eo estado do tnundo. fntimas dispostqöes do espfrito; depois de se ter
01ho na poesia Ifrica quem se exprime é o expandido interiormente, o poeta projecta a
indivfduo, este pode muito bern contentar-se sua alma no mundo exterior, sob a forma de
com o conteÜdo mais insignificante. Com quadros descrltivos, ou entäo, interessa-se por
efeito, o que interessa antes de tudo é a um objecto qualquer dado 0 caråcter Pura-
e,
uln contet'ldo subjectlvo passa a ser obra uma e apresentado sob uma forma igualmente
épica: cantos her6icos, baladas, romances, etc.,
de arte Ifrica, dirernos que tarnbém aqui é o
fazem parte desta categoria. A forma de um tal
indivfduo, com as suas representaqöes mentats
conjunto é entäo, por um lado, a de uma nar-
e sentimentos fntirnos, quem constitut o cen-
rativa, posto que relata o curso de unu situa-
tro. Tudo etnana do coraqäo e da alina ou,
$0, de um
acontecimento a mudanqa brusca
mais exactamente, das disposiqöes e situaqöes nos destinos de uma naqäo, etc. Mas, por outro
particulares do poeta. Sendo assnn, o conteådo
lado, o torn fundamental permanece essencial-
(eo laqo unitivo dos diferentes aspectos que tal mente Ifrico, porque se trata acima de tudo,
conteådo vai revestindo no seu desenvolvi- näo da descriqäo ou da pintura ilnpassfvel de
mento) näo teln, corno na épica, a objectivi- um acontecinrnto real, mas da expressäo do
dade de un) conteådo substancial, e näo extral Inodo de conceber e de sentir, do estado de
significaqäo de se ter Inanifestado exterior- allna alegre ou melancélico, corajoso ou
deprilllido do poeta e, além disso, porque a
tnente, na qualidade de acontecitnento indivi-
acqäo para a qual a obra lirica foi escrita é tam-
Puramente subjectivo e tem origern ou ponto poeta se propöe evocar no auditor ou no leitor,
Poeta. E por isso que, o Ifrico deve ser dotado nele fez nascer o facto que relata e que inte-
grou, por assim dizer, na expostqäo. Exprime a
uma rica fantasia, possuir grande sensibilidade
e profundos pensamentos, enflm, ser portador patriotistno, de uma tal maneira que, é jå o
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SISTEMA DASARTES
nas épocas primitivas da sua poesla, um grande
ou de outro destes sentimentos que constitui a
ntimero destas composiqöes e, de uma maneira
fonte central da obra, mas justamente o seu
geral, a sua poesia popular tem uma grande
reflexo anterior. Assim se explica a razäo
porque escolhe os pormenores mais bem har- predilecqäo por estas hist6rias tristes e Pelos
conflitos que elas originam, sendo seu tom o
Inonizados com os seus pr6prios movimentos
interiores. Se, pois, o tema é épico, o estilo ou de um sentimento melanc61ico que oprime o
modo do seu tratamento é Ifrico. coraqäo e afoga a voz. Modernamente, na
Entre os géneros englobados nesta catego- Alemanha Bürger, mas sobretudo Goethe e
Schiller deram provas de uma grande SUPeriori_
ria, citaremos em primeiro lugar o epzgrama, na
medida em que näo é uma simples inscriqäo ou dade em composiqöes deste género: Burger
gravura ein pedra que, por breves letras, pro- pela sua conflante ingenuidade; Goethe, tanto
clama o que é uma dada coisa, mas faz a liga- pela claridade transparente das suas obras
Gäo deste enunciado com um sentrmento e como pela intimidade Ifrica que nelas reina;
transfere assim o conteådo da realidade posi- Schiller, pela elevaqäo eprofundidade do senti-
tiva para a interioridade. O
poeta näo se anula Inento, pela sua faculdade para expressar as
ante o objecto, confunde-se corn ele; corn ele ideias Inais profundas, em estilo Ifrico, sob a
discernimento concentrado.
por a este respeitouma poesia, como qualquer
homem instrufdo e célebre. Em
nossos dias, foi
As compreendem a
baladas, pelo contrårio,
sobretudo Goethe quem mostrou urna acen-
totalidade de um acontecimento, se bem que
tuada predilecqäo por este género; nus é certo
em proporqöes mais pequenas do que a poesia que, para ele, cada incidente da Vida lhe dava
épica propriamente dita, e limitarn-se a esboqar
ensejo a nova criaqäo poética.
a imagem dos seus traps mais salientes,
Porém, para que a obra Ifrica näo dependa
deixando ao mesmo tempo transparecer, de
de ocasiöes exteriores e dos fins que elas cony
maneira concentrada e intima, os sentimentos
portam, mas se afirme como um todo com-
profundos da alma: melancolia, tristeza, ale-
pleto, é necessårio que o poeta utilize o pre-
gria, etc. Os ingleses principalmente, possuem,
texto fornecido Pelas circunståncias exteriores
AS ARTES ROMANTICAS -A POESIA
Unicamente para sua pr6pria revelaqäo, isto é
ou em que medida podem ou devem ser asso-
para exprimir os seus sentimentos, alegrias e ciados.
tristezas
Para expor o seu modo de ver e de
Porém, o que då a unidade Ifrica a uma
conceber a Vida. A condigäo essencial da sub-
obra Ifrica, näo é o pretexto exterior, por muito
jectividade Ifrica consiste, portanto, na assimi-
real que seja, mas o movimento interior que
lagä0 total do tema dado. Com efeito, o verda-
hå-de provocar e as concepqöes que hå-de
deiro poeta Ifrico vive em si mestno, apreende
as c Ircunståncias confortnetnetlte å sua indivi— inspirar. Com efeito, o estado de alma particu-
lar ou as consideraqöes gerais que nascem da
dualidade poética e, por mais variadas que
inspiraqäo poética, formam o ponto central
sejatn as relaqöes que se estabeleqatn entre a
que näo s6 imprime ao conjunto a sua colo-
interioridade, por um lado, e o mundo sen-
ragäo particular, mas determina também os
sfvel,coin as suas concepqöes e destinos, por
aspectos que o poeta terå de desenvolver, a
outro, o tema principal é o livre tnovltnento
manetra como o farå e relacionarå entre si,
dos seus pr6prios sentimentos e meditaqöes.
enflm todo o plano e ordem do poema como
Pfndaro, por exemplo, quando era convidado a obra de arte. Pfndaro, por exemplo, encontrou
cantar em honra de um vencedor dos jogos, ou nas condiqöes de Vida dos vencedores cujas
quando o fazia por sua pr6pria iniciativa, pro- faqanhas descreveu, um nåcleo real para a
cedia de Inodo tal que a obra, etn vez de ser estrutura e o desenvolvimento das suas Odes,
uma poesia sobre o vencedor, era antes uma mas cada poema abre caminhos a outros hori-
manifestaqäo pessoal. zontes, a outras disposiqöes de alma que, em-
Estas poesias de circunståncias podem bora sendo as do poeta, lhe indicam, todavia,
tomar a sua matéria e o seu caråcter, assrm os aspectos que deve focar, os que deve omitir,
como o seu plano e a sua estrutura interior, da a manelra como deve iluminar e combinar
realidade do incidente que facultou o estfmulo, entre si os pormenores que quer descrever e de
o pretexto ou o assunto do poema. Temos por que se deve servtr atendendo ao efeito Ifrico
exterior que encontra o verdadeiro conteådo cantos chamados anacreönticos, os quais repre-
sob a influéncia das suas ideias pessoais e das encantadoras em que figuram Eros e outros
suas disposiqöes poéticas que decide quais os Init6nimos. Até nestes casos, porém, a narraqäo
aspectos do tema que deve apresentar e qual a deve servir para externar ulna sttuaqäo interior,
É impossivel dizer um estado de alma, um sentimento, uma
elementos, o da circunståncia objectiva ou o da
SUbjectividade do poeta, deve dominar o outro,
111- SISTEMA DASARTES
fala de urn encontro com urn lobo, sem que o tizar com ele. Etn compensagäo, muitos dos
seu poerna possa ser considerado coino utna Lieder de Goethe prestanyse para ser cantados
obra de circunståncia: tal encontro serve-lhe ou recitados em sociedade, Inuito enü)ora o
autor os näo tenha escrito corn essa intensäo.
apenas para justificar a frase pela qual o poema
corne9-a e a indestrutibilidade do arnor pelo Com efeito, quem estå ein sociedade com mais
qual termina. pessoas, recusa-se å entrega coinpleta do eu,.
Em
geral, a situaqäo na qual o poeta se com efeito, procura a rnaior parte das vezes
ilnagina näo deve ser silnplesrnente interior. recalcar a pr6pria particularidade, para entreter
deve manifestar-se cotno ulna totalidade con- os auditores corn ulna hist6ria, ulna anedota,
creta, e, por conseguinte, exteriorizåvel, täo real corn pormenores relativos a urn ausente, tudo
corno objectiva. Nos cantos anacreönticos de narrado coin a graqa particular de quem imita
que jå falårnos, o poeta representa-se a si tons e sons. Neste caso o poeta é sitnultanea-
Inesmo corno engrinaldado de rosas, rodeado Inente o Inestno e o outro; jå näo é ele quem se
de belos Inancebos que prelibam néctares e de entrega; asselnelha-se a urn actor que repre-
belas Inulheres que ensaialn dangas, gozando senta ulna infinidade de papéis diferentcs,
todos a alegria de viver, sem nostalgias nem detendo-se ora aquij ora ali, Inas que ein tudo
arnbiqöes. O poeta näo pensa em deveres, nern que faga Inisture sernpre vivamente o seu
ern fins superiores da Vida hutnana, porque etn pr6prio sentimento artfstlco, a sua maneira de
tais circunståncias é um homern livre, que näo ver e a sua Vida pessoal.
conhece limites nein privaqöes, é o que é, urn Mas se a interioridade subjectiva constitui a
exemplar ånico, um homem de uma espécie pr6pria fonte da poesia Ifrica, devemos reco-
particular, uma obra de arte subjectiva. nhecer-lhe também o direito å expressäo de
Nos cantos amorosos de Hafiz encon- estados e reflexöes puramente in terlores, sem
tramos iguahnente toda a expressiva individua- englobar nestas descriqöes de situaqöes concre-
Iidade do poeta, que rnuda sern cessar de con- tas netn as representar sob o seu aspecto exte-
teådo, atitude e expressäo, estando por vezes rior. Deste ponto de vista, o canto puro, por
estas mudanqas impregnadas de um verdadeiro mais banal e vazio que seja, basta para nos pro-
humor. Os seus poernas näo gram å volta de porcionar verdadeiros prazeres liricos, pois para
qualquer tema particular, de qualquer imagem a nossa sede de embriaguéz Ifrica, as palavras
objectiva, de qualquer deus ou de qualquer säo como vasos, näo passam de simples vefcu-
fdolo (e, ao lermos estas Inanifestaqöes livres los indiferentes, de meios de transporte, trans-
t01narnos até conscléncia de que os orientais rnissäo e comunicaqäo alheios ås nossas alegrias
näo podialn de Inodo algurn ter artes plåsticas, e ås nossas tristezas. As palavras aparecem
eståtuas ou quadros), mas o autor passa de um entäo corno acess6rio, que servem a encanta-
assunto a outro, expande-se em todas as dora melodia da måsica. Os cantos populares
direcqöes, e qualquer que seja a cena que des- näo se elevam frequentemente acitna deste
creva, nela aparece o hornem cornpleto, com o modo de expressäo. Até os Lieder de Goethe,
seu vinho, estalagens, cortesäs, corte, etc., cuja linguagem é, todavia, Inuito mais rica e
nurna admiråvel sinceridade, sern desejos egois- precisa, näo säo frequentemente outra coisa do
tas Inergulhado na alegria pura de ulna alina
que urn gracejo Inomentåneo, utna inspiraqäo
simples, com olhos inocentes perante rostos
fugaz que o autor utiliza para unva cangäo e
que sorriem. Poderfarnos multiplicar os exeny
acitna da qual näo se eleva. Eln outros Lieder,
plos destas descriqöes que incidenl sobre situa-
pelo contrårio, trata disposiqöes anålogas de
Göes sirnultanearnente Interiores e exteriores.
forn)a n) uito Inais desenvolvida, quase
Mas, se é agradåvel que o poeta nos inicie nos
Inet6dica, conr», por exernplo, no Lied: «lch
seus estados subjectivos, näo estanr»s de Inodo
habe mein Sach aufnichts gestellt»,
' que fala
algum dispostos a escutar as suas invenqöes
do dinheiro e da for tuna, de viagens e de
particulares, a ser postos ao corrente das Inais
mulheres, da g16ria e das honras e finahnente,
insignificantes paixonetas, dos trabalhos do-
das batalhas e das guerras, co:no de bens
IDésticos, de hist6rias de compadres e coma-
perecfveis e de fontes de prazer Inonrntåneas e
dres, conr) é o caso de Eidli e de Fanny, até
inståveis e exalta a serenidade despreocupada.
em Klospstock, Inas o que exigimos é
Por outro lado, todavia, a interioridade subjec-
algo que tenha interesse humano geral, a
tiva, uma vez colocada neste catnpo, pode ele-
de poderrnos dele participar, absorvé-lo, silnpa-
var-se a intuiföes grandiosas e a ideias de utna
612
AS ARTES ROMANTICAS - A POESIA
prof
o undidade e vastidäo surprcendentes.
exteriorizaqäo individual ou de uma simples
poeta que entäo s6 escutar a voz da razäo,
näo utilizarå certamente a sua inspira$o para
directa; trata-se, siln, da expressäo artfstica,
cornpor hinos ou para se apresentar corno can-
tor em circunståncias ou ocaslöes crradas por
dental; trata-se, enflm, da expressäo de uma
outros, mas, haurindo os temas sornente no
altna poética. Temos, pois, que quanto mais a
fundo mais fntirno da sua alma, far-se-å poeta
alma se afasta o estado de concentraqäo e mais
dos ideais da Vida, da beleza, dos direitos e
amplia o dominio dos seus sentimentos e me-
pensatnentos ilnperecfveis da humanidade.
ditaqöes, tanto mais o poeta toma consciéncia
da sua interioridade, e tanto mais a poesia Ifrica
teådos mais positivos, mais concretos e nuts bora o canto popular posssa expressar a interlo-
ridade mais concentrada, näo é, todavia, utn
SUbstanciais devein ser o reflexo de sentirnen-
indivfduo isolado que entrevenws através desta
tos, intuiqöes, ideias ou reflexöes subjectivas.
Além disso, nao se trata aqui de unu simples
613
111 -SISTEMA DASARTES
necessåria refugia-se no mundo dos sentimen-
expressäo, mas indivfduo representativo da
Inaneira de sentir popular, um indivfduo que
tos que, no conjunto, permanece também
pouco desenvolvido e ao proceder assim
se,
näo atingiu ainda urn grau de independéncia
ganha em concentraqäo näo é menos verdade
espiritual e moral que lhe pern)ita haurir as
que, na nuior parte dos casos se mostra rude e
ideias e os sentimentos num fundo pessoal.
O indivfduo estå ainda cornpletarnente identi-
bårbara pelo seu conteådo. O
maior ou menor
ficado com o povo e esta identificaqäo supöe interesse que podemos mostrar pelos cantos
um estado em que o indivfduo, ainda incapaz populares depende da natureza das situaqöes
de reflexäo independente, profundamente que reflectem e dos sentimentos que
inserido no meio espiritual do povo a que per- exprilnem: com efeito, aquilo que um povo
tence, sern outros Interesses que näo sejam os pode achar excelente, pode parecer a outro
dele, näo passa de um simples 6rgäo por meio absurdo, horroroso e deteståvel. Existe, por
do qual se expri:ne o lirismo da Vida nacional. exemplo, um canto popular que narra a
Esta espontaneidade directa confere ao canto hist6ria terrfvel de uma mulher que foi man-
popular uma ingénua frescura e utna verdade dada enclausurar pelo marido. Ela, a poder de
que säo por vezes de grande efeito, mas que lhe "plicas, conseguiu que fossem perfurados dois
däo também um caråcter fragmentårio, desor- buracos na parede, pelos quais fazia passar os
denado e resumido que pode chegar å obscuri- seios,alnarnentando assrm o fllho; quando este
dade. Osentinrnto profundamente concen- foi desmamado, mataram-na a ela. Situaqäo
trado, näo pode nem quer expressar-se trågica e bårbara! De igual modo, a actos indi-
inteiranrnte. Além disso, apesar da sua forma
viduais de pilhagem, bravura ou sitnples selva-
incontestavelmente Ifrica, falta a esta poesia, a
jaria nada que possa inspirar simpatia aos
tern
identificaqäo de um indivfduo criador ao qual
outros povos. Os
cantos populares säo assim
possan)os atribuir corn sua propriedade pes-
soal, como urn produto do seu toin de artista e
produqöes particulares por exceléncia, para a
apreciaqäo dos quais näo possufmos nenhum
uma emanaqäo da sua ahna e do seu espfrito, o
conteådo e a for:na do poema. critério fixo, visto estarem demasiadamente
afastados do humano universal. Por conse-
Os povos que perinaneceraln neste género
de produqäo e näo souberarn elevar-se a obras guinte, o facto de terinos ao nosso alcance os
Ifricas superiores, nem a epopeias e a obras cantos iroqueses, dos esquinu5s e de outros
dranlåticas, säo povos que vivem num estado povos selvagens, näo significa de modo algum
vizinho da barbårie, no seio de uma realidade que haja Sido ampliado o cfrculo das nossas ale-
ainda informe, povos cercados de hostilidades e grias poéticas. COIno o caråcter da poesia Ifrica
cujos destinos säo incertos. Coin efeito, se é a expressäo total do espirito Interior, näo
tivessem sabido constituir, até nessas épocas pode lirnitar-se ao Inodo de expressäo netli ao
her6icas, uma totalidade dotada de urn con- conteådo dos verdadeiros cantos populares ou
teüdo tnais ou menos rico, dar aos diversos de produqöes anålogas concebidas do Inestno
aspectos desse conteådo ulna realidade inde- tom.
pendente, nuntendo sernpre a coesäo do con-
A poesia Ifrica expritne, coino vitnos jå,
junto, e preparar assnn o terreno para faganhas
concretas e individuais, teriam podido criar
dado Inolnento dessa concentraqäo e se
sai
tambéln ulna poesia épica. Por isso, o género eleva a ulna livre representaqäo de si Inestna, 0
de Vida no seio da qual nasceu este modo de
que, no caso que acabamos de examinar, näo se
expressäo poético do espfrito era o do regilne
pode de forma incornpleta, e que,
fazer senäo
familiar, patriarcal e tribal, sem essa organiza-
por outro lado, se deve ampliar até formar um
fäo que caracteriza os estados que produzem os
Inundo rico de representaqöes, paixöes, estados
her6is. Quando evocarnos recordaqöes de feitos
e conflitos, a flin de sujeitar a ulna elaboraqä0
naclonals, säo frequentemente as de lutas con-
interior e ilnprirnir ulna certa espiritualidade a
tra opressores estrangeiros, as de vandalismos e
de reacØes de ou de
selvajaria contra selvajaria, tudo o que é capaz de apreender e coinpreen-
lutas intestinas, cujo relato estå impregnado der. Conrj a poesia Ifrica, no conjunto, deve
dos queixulnes e lanrntaqöes dos vencidos ou exprin)ir poeticarnente a totalidade da Vida
entäo do jåbilo dos vencedores. A Vida real do Interior, na Inedida em que esta se deixa inte-
povo que näo atingiu ainda a independéncia grar na poesia, torna-se coinpatfvel coin todos
os graus de cultura do espfrito.
AS' ARTES ROMÄN7'ICAS — A POESIA
Poeta Ifrico tem consciéncia dc si mesmo
e da liberdadc da sua arte. O
canto popular positivo. Mas a vcrdadeira poesia Ifrica encon-
' por assitn dizcr, da alma, como uma tra-se jå em presenqa de uma realidade prosaica
sonoridade
complctanu•nte formada, å qual se esquiva,
de si nu•stna, supöe que o artista conhece e para criar, mediante a forga da fantasia pessoal
quc produz. Para isso, é necessåria uma e livre, um novo mundo poético e fazer deste
certa CUItura e virtuosidade de execuqäo
e Perfeita. Se a poesia épica propria- humana. Existe, além disso, uma forma de
Inente dita näo d eve, ou dado o caråcter da pensamento, que, sob certo aspecto, se
época a que Pertence, näo podc tornar aparcnte encontra num nfvel superior ao da fantasia, dos
a personalidade, a de agir e a inter- sentimentos e da intuiqäo, visto que pode reve-
venqäo do Poeta, é porque tem por objecto a
Vida real da nagäo, independentementc da dando-lhe uma
aspecto da universalidade e
individualidade do poetas o que tira ao poema uma coesäo que a arte jamais lhe saberia dar.
épico todo o caråcter de subjectividade e faz Reflro-me ao pensamento filosbfico. Em com-
pensaqäo, esta forma poética estå condenada å
dele utna obra cujo desenvolvilnento se efcctua
abstracqäo; sC) pode evoluir na esfera do pensa-
virtude de forsas extra-individuais. Na poe-
sia Ifrica, pelo contrårio, a criaqäo e o conteådo
ideal, de modo que o
poeta pode ver-se forgado
säo de natureza subjectiva e esta subjectividade
a exprimir o conteådo e os resultados da sua
deve manifestar-se nutna e noutra. consciéncia de maneira vrva, sob uma
Sob este aspecto, a poesia Ifrica de épocas forma animada pela fantasia e penetrada de
posteriores distingue-se expressamente do sentinrnto: expressäo total de toda a sua alma.
canto popular. Acontece, porétn, que, no Ineio Duas possibilidades se podem entäo apre-
de certos povos, os cantos populares coexistetn sentar. Ou a espontaneamente
fantasta se eleva
coin criaqöes Ifricas de nfvel artfstico tnais ele- acima do pensamento especulativo, sem
vado. Estas obras pertencern entäo a grupos e a todavia chcgar å claridade e precisäo da
indivfduos que, etn vez de possufrem a for- exposiqäo a poesia Ifrica é entäo fruto
Inagäo artistica de que acilna falåtnos, nao dos esforqos de uma alma inquieta e agitada,
estäo ainda intel ratnente libertos da maneira de
violentando a arte e o pensamento, porque
ultrapassa os limites de um sem lograr entrar
conceber e de sentir popular. Ao admitirmos
no outro. Ou
entäo, o sereno pensamento
esta diferenga entre a poesia Ifrica popular e a
fllos6ftco é capazde viviflcar as suas ideias sis-
poesia Ifrica como arte, näo pretendernos de temåtlcas, colorindo-as do sentlmento e expri-
modo algutn aflrmar que a poesia s6 atinge o mindo-as sob uma forma concreta, perceptivel
seu mais elevado grau de perfeiqäo quando a e sensfvel, e de substituir, como Schiller faz em
reflexäo e a inteligéncia artfsticas, aliadas a uma grande nåmero de poesia, a rigorosa ordenaqäo
certa habilidade técnica, se tornatn seus ele- cientfflca das ideias pelo livre jogo dos aspectos
particulares sob a aparente desordem dos quais
Poesia popular coin a poesia Ifrica propria- particulares que esta comporta.
tando que as palavras proferidas sejam a Horåcio, salvo nos casos etn que fala de
expressäo da alrna do poeta, da sua Vida espiri- Augusto ex ofmio (e isto é bastante elucidativo)
tual e visem a despertar, na alma do auditor ou cinge-se seinpre a falar de si mestno. A 14.a
do leitor, sentimentos e reflexöes semelhan tes Ode do terceiro livro, por exernplo, comeqa
ås do poeta. por cantar o regresso de Augusto, de Espanha,
Esta expressäo, destinada a agir sobre ou- depois da vit6ria sobre os cåntabros; para logo
trem, pode ser ou a de uma alegria esfusiante, etn seguida exaltar apenas a paz que Augusto
ou a de uma dor que se apazigua no canto e deu ao mundo, o que lhe permitiu, a ele,
assim recupera a serenidade, Inas pode tan)bérn Horåcio, gozar tranquilatnente o farniente e os
ser ditada por urn desejo Inais profundo de näo favores da Musa; fala entäo das coroas, dos
guardar para si mesrno as ernoqöes tnais fnti- unguentos e do vinho, ordena que se traga ra-
mas da alma e as inspiraqöes Inais profundas do pidatnente a Neera, nutna palavra, s6 pensa
espfrito. O poeta, que
o poder de cantar e
tern nos preparativos da festa. Todavia, no que se
criar, tem para isso a vocaqäo e o dever. Nao
refere ås aventuras galantes, jå näo pensa tanto
deixa contudo de ser verdade que as circuns-
nelas corno quando era jovetn, no ternpo do
tånclas, incitaqöes e solicitamentos exteriores
consul Plancus, e diz expressatnente ao men-
podern também servir de impulso å criaqäo
sageiro que envia:
Ifrica. Porém, em sernelhantes casos, o grande
AS ARTES ROMANTICAS - A POESIA
Per invisum mora ianitorem
Fiet, abito».
citnentos diårios lhe produziam, as deduqöes
que deles tirava, a alegria e o ardor transbor-
dante da juventude, a forga e a beleza da idade
Cotn maior razäo poderetnos dizer ainda viril, a serena e compreensiva sabedoria da
que a Klopstock se deve a reabilitaqäo, nos velhice, tudo lhe dava motivo para efusöes Ifri-
ternpos modernos, da dignidade do cantor, e o
cas pelas quais exprimia tanto os mais delicados
haver mostrado que se pode ser poeta sein ser matizes do sentimento como os conflitos mais
cortesäo e Sem depender seja de for, sem
rudes do espfrito, libertando-se de quanto
se perder tempo com jogos OCIosos e int'ltels experimentava mediante a expressäo.
que arrufnam um hotnem. Aconteceu-lhe,
porém, vir a ser o poeta do seu editor. Este,
que morava eln Halle, deu-lhe em paga de b. A obra de Arte Ifrica
parte da Messiada, creio que, um ou dois
tåleres, e por retnuneraqäo do restante man- No que se refere ao poema Ifrico, como
dou-lhe fazer ulna jaqueta e utnas calqas, trajo obra dc arte poética, é diffcil caracterizå-lo
corn o qual o apresentava nas reunifies, dando dada a grande variedade de modos de con-
a entender a todos os que o rodeavatn que era å cepqäo e de formas, assim como de conteådos.
sua generosidade que Klopstock devia o estar Com efeito, embora este domfmo se näo possa
täo bem vestido. Os atenienses (se acreditar- subtrair ås leis gerais da beleza e da arte, näo
mos ern relatos posteriores, cuja autenticidade deixa de comportar, etn vlrtude do seu caråcter
näo estå aliås inteiran)ente coluprovada), erigl- subjectivo, possibilidades ilimitadas de realiza-
rain uma eståtua de Pfndaro (Pausanias, I, qäo e de apresentaqäo. Por conseguinte, seja
V
cap. Ill), por os ter celebrado num dos seus para n6s suflciente saber em que difere o tipo
cantos, e alérn disso pagararn-lhe o dobro da da obra de arte Ifrica do da obra de arte épica.
Inulta que os tebanos lhe haviatn infligido por Assim exan)lnaremos primeiramente, a unl-
situaqäo exterior e em contacto corn a natureza Inanifesta pela independéncia das suas partes.
Se, no que se refere å poesta épica, este relativo
taltnente a seinelhantes descriqöes. Quando isolatnento se explica pela forma que då ås
assun acon tece, näo é a objectividade real e a exteriorizaqöes e pela Inaneira corno concretua
os ternas, o poeta Ifrico, pelo contrår10, isola os
618
AS ARTES ROMANTICAS - A POESIA
sentinu•ntos e as representaqöes que expritne, épica que relega os acontccimentos reais para o
Seth ser constrangido por qualquer necessidade passado e os dispöe espacialtnente, colocando-
urn dexigéncias da fortna, e isto porque
cadaPelas -os uns ao lado dos outros, ao passo que a poe-
estes sentimentos ou destas represen-
taqÖes, etnbora sc coni o tne.stno dos sentimen tos das represen taqöes, os
e
estado de alnui e a mestna disposiqäo de descrcve na scquéncia da sua oposiqäo, desen-
espfrito, se apoderatn por seu turno da sua volvitncnto e desapariqäo, o que o obriga a
alrna e a concentratn nutn simples ponto, até variar 11M nterruptamentc o rltmo da cxpressäo.
que outra representaqäo ou outro sentt- Os principais processos que emprega para este
mento Os V enhatn substituir. A sucessäo de efeito consistem: primeiro, em diversificar o
ideias pode entäo seguir urn curso tranquilo e alinhanwnto das longas e das breves, inter-
in terrupqöes, mas podc tatnbétn, no scu rompendo a igualdade dos pés rftmicos; segun-
arrebatatnento Ifrico, passar sen) translۊo dc do, praticar cesuras mats ou menos vartadas;
ideia a outra e, neste entuslastno dc inspi- tcrce•lro, compor os versos em estrofes, as quais
raqä(_), surglr ao friO intelecto, habituado podctn ser de vårias formas quanto å maror ou
raclocfnlos I(3gicos e ås transtcqöes prooresstvas, tncnor duraqåo das linhas isoladas ou asso-
corno possufda por utna forsa que a rege e ciadas entre Sl na sua figura$o ritmtca.
arrebata contra vontade. O
itnpulso de seme- Esta maneira de tratar a medida e o rttmo é
Ihante paixäo e o conflito que origina säo de tal menos lirica do que a sonoridade das palavras e
Inodo caracterfstlcos de certos géneros Ifricos das silabas, que se valer sobretudo pela
que Horåcio, por exemplo, com calculada aliteraqäo, pela r ltna e pela assonåncta. Com
habilidade, se esforqou, num grande nåmero efelto, neste sistema de versificaqäo predomtna,
de poesias, por realizar artificial e consctente- por um lado, a significasäo espiritual das
sflabas, a acentuaqåo do sentido que se abstrai
tnente estas bruscas transtqöes, que aparente-
do simples elemento material das longas e das
Inente Interrompem o encadeamento do con-
breves Imutåveis, e determtna as duraqöes, a
junto. Nao me poderei aqui deter nas inflnitas
elevaqåo e a descida dos sons por conformaqäo
possibilidades intertnediårias que se situam
ås exigéncias do espfrito; e, por outro lado, a
entre os dois extremos que acabo de descrever:
concentraqåo intenctonal da sonoridade sobre
o do encadeatnento Claro e do curso caltno, e o
certas letras, sflabas e palavras, expressatnente
da violéncia ardorosa da paixäo e da inspiraqäo.
escolhidas. Esta espiritualizaqåo da linguagem
OI'lltilno ponto de que nos resta ainda falar
refere-se å forrna e å realidade exterrores da pela significaqäo interior das palavras e a acen-
tuaqäo das sonoridades, conforma-se tntetra-
nos Interessa o metro e o com a da poesia lirica. Aqut,
podemos tarnbém asststtr a uma combinaqäo
e da rtma, mas quando esta se realiza,
do rttmo
musical.
Que ohexårnetro, pela sua marcha firme e toma uma forma que se aproxltna mais do
uniforme, ernbora viva e animada, constitua a compasso. Rigorosatnente falando a aplicaqäo
poética da aliteraqäo, da assonåncia e da rima
medida silåbica que mais convétn å poesia
épica, é urn facto sobre o qual é int'ltil insistir. poderia ser limitada ao dominio da poesya
Ifrica, pois, embora a poesra épica da Idade
Mas a poesia Ifrjca exige e cotnporta utua
Média nao tenha podido, etn virtude talvez do
grande vanedade de rnetros e de estruturas
do llrico é constitufda pelo objecto caråcter das linguas modernas, manter-se afas-
Mas
estQd()
aposeu:ca
de alma e o
Illclndterlnl-psse
modo •de concepqåo
vecxrpraelsssapsilll)o Iletro
do
do O tnestno acontece cotn a arte dratnåttca.
o que sobretudo convém poesia lirica, é a
619
/// - SISTEMA DAS ARTES
déncia e näo se Inostra entäo täo capaz d
e uma
bais, transfortna a obra poética n ulna suc.e.ssäo fnti:na uniäo coin a nuisica. Pelo contrårio
de estrofes ri:nadas de con)binasöes c cruza- quan to tnais concentrado é o sentiment ()
tnentos varlados. A
poesia épica e a poesia dra- se quer expressar, tanto mais necessidade håqåeo
IDåttca utilizatn tan)béln esta divisäo etn estro- auxilio da mt'ßlca. Quanto ao saber o motivo
Inas pela Inestna razä() que leva o poeta a
fes,
porque os antigos, apesar da transparente clari_
näo bantr a r lina ein geral. Por Isso é que os dade da sua dicgäo, tiveram de recorrer ao
espanh6is, na época de tnaior floresctnu•nto da auxflio da rnåstca e ein que medida dela neces_
sua arte dratnåtica, däo livre curso ao jogo sub- sitavarn, é utna questäo de que nos ocuparemos
til das paixöes, cuja expressäo se torna entäo
mais tarde.
pouco dratnåtica, incorporando ritnas ein Oita-
vas, sonetos, etc., nos seus nutros drajnåtlcos
propriatncnte ditos, ou Inanifestando, por asso-
c. Os géneros da Poesia lirica
nånctas e runas con tin uas, a sua predilecqäo
pelo elenrnto sonoro da linguagen).
propriamente dita
Finaltnente, a poesia lirica aproxnna-se
Inals acentuadatnente da nulsica do que da Ao da transiqäo do recitativo épico
falar
runa, porque a palavra e a frase se confortnarn para o Inodo de apresentaqäo subjectivo, men-
a ulna Inelodia real e a urn verdade:ro canto. cionei jå alguns dos géneros em que a poesia
lirica propriamente dita se diferencia.
Esta tendéncta, aliås, perfeltamente natural.
é,
Quanto Inenores foren) a independéncla e a Poderiarnos do tnesmo modo ser tentados a
objectividade da Inatérla e do contel'ldo liricos, procurar na poesia Ifrica os prlmelros elemen-
pelo facto de serern sobretudo de origem tosda poesia dramåtrca; porém, o poerna Ifrico
interna e de terern a sua orrgem ou a sua rarz aproxilna-se da vitalidade dramåtica unica-
no sujeito como tal, se bem que tendo necessi- mente porque, sem chegar å acqäo animada e
dade de urn ponto de apoio exterior para sua cheia de conflitos, pode apresentar a forma
comunicaqäo, tanto mais a sua fortna exterior dialogada. Deixaretnos, todavia, de lado estes
deve ser nftida e explicita. A sua acentuaqäo géneros Intermediårios e mistos, para nos limi-
exterior deve ser tanto mars forte quanto Inars tarmos ås fortnas ern que o principio da poesia
profundanrnte ernbufdos estäo na Interior l- manifesta sem rnistura. A sua particu-
Ifrica se
dade do poeta. Ora, sc) a nuislca é capaz de laridade depende da posiqäo do pensamento
produzir esta acentuaqäo sensfvel. poético a respeito do tema tratado.
Por esta razåo, e no que se concerne a sua Efectivamente, o poeta, ao suprinlir a par-
execuqäo exterior, vernos a poesia lirica quase ticularidade dos prc6prios pensatnentos e repre-
sernpre acmnpanhada de In tislca. Existe, sentaqöes, absorve-se na contemplaqäo geral de
todavia, a tal respeito, uma certa evoluqäo pro- Deus ou dos deuses, cuja grandeza e poder sa-
gresslva. Efectivamente, os poernas Ifricos tisfazetn a sua alina e ante os quais parece
romån tlCOS, sobretudo os Inodernos, säo os esquecer-se de Sl mestno. Os hinos, os ditiram-
primejros que se prestarn ao acorn panharnento bos, e os saltnos fazetn parte desta categoria,
me16dico, e Isto aplica-se particularmente aos consoante os diferen-
cujas formas vartatn, alias
Lieder, cujo elernento dorninante é constitufdo tes povos. Litnitar- tne-ei, a sublinhar, de
por estados de alma, consistindo entäo o papel Inaneira sutuårta, as diferenqas seguintes.
da Inelodizando-a, por
ID åsica ern reforqar, O poeta que se eleva acirna da litnitaqäo
assirn dizer, a ressonåncta Interior da alina.
dos pr6prios estados Interiores e das situaqöes
lal é a razäo porque o canto popular pede exterrores, assnn corno das representaqöes que a
acolnpanhamento In usical. Pelo contrårlo, as eles se vlnculanl, para concentrar a atenqäo
canqöes, elegias, epfstolas, etc., näo encon- naquilo que ele e sua nagäo considera1n divino
traräo facihnente cornpositores nos ternpos e absoluto, pode representar a Divindade sob
Corn efeito, todas as vezes que o ulna fortna objectiva e servtr-se desta imagem,
pensamento, a reflexäo ou até o sentitnento
pr6pria da contemplaqäo interna, para cotilli-
conseguetn explici tar-se cornpletarnente na nicar a sua ideia sobre o poder e a grande7A do
prc6pria poesia, e ultrapassam assiln tanto o
Deus que canta. Tal é, por exetnplo, o caso dos
sitnples estado de concentraqäo da ahna, con)0
hinos atribufdos a Hornero. Estes cantos refe-
o elelnento sensfvel da arte, a poesia Ifrica,
ren)-se principahnente a situasÖes e hist(3rjas
conr) corn unicaqäo verbal, ganha etn indepen-
mit016gicas etn louvor do deus ell) honra do
Kon
AS' AR TES A
qual for
de sob
do do A
voz do Senhor que divide a
forn)a épica. que recorda a
chama do do Scnhor que abala o
fogo: a voz
descrto: porque o Senhor farå tremer o deserto
tiva para D
voo ditiråtnbico, conu) elevaqäo subjec-
dc Cadcs», etc.
eus, voo que arrcbata o poeta c aglta
e perturba a sua altna a ponto de a tornar inca- Scnulhantc elevaqäo ou sublimidade lirica
transiqöes, etc., o que concorre para que o obståculos ao prazer de manifestar ilnediata-
poeta possa aflrrnar a sua grand eza Inediante a tnente as suas impressöes. Reflexöes grandiosas,
superioridade e a perfeiqäo artistica com que é pensamentos profundos ou sen titnentos subli-
capaz de resolver estes conflitos, criando urn Ines forqatn, etn geral, o poeta a separar-se da
todo indivisfvel que, corno obra sua, o eleva individualidade, corn os seus Interesses e esta-
acitna do objecto. dos de altna. Ora, é a espontaneidade da alegria
E a este género de inspiraqäo Ifrica que e da dor, esse caråcter particular e pessoal do
devein a sua origeln Inuitas odes de Pindaro, sentitnento, que precrsatnente encontra no
cuja vitoriosa grandeza interior se rnanifesta Lied a sua melhor expressäo. Eis porque cada
també1D no rltrno de Inovltnentos nu'lltiplos, e povo sente tanto prazer etn ouvtr os seus
portanto, subrnetido å ordem e å Inedida. Lieder, eis porque lhe säo täo fatniliares.
Horåcio, pelo contrårio, precisarnente nos Mas por que seja este dotni1110,
tnais vasto
lugares ern que tnals se quer elevar, Inostra-se
tanto pela variedade do conteådo colli() pela
frio e rude, e manifesta ulna artificialidade in)i-
diversidade dos tons, cada Lied näo deixa de se
tativaque näo dissimula convenien ten)ente a
distinguir de todos os géneros até aqui conside-
delicadeza de ulna cornposiqäo onde tudo estå
rados, pela silnplicidade do desenvolvinrnto,
calculado. O entusiasmo de Klopstock tan)béln
da do metro, da linguagem, das inn-
Inatéria,
nein seinpre é auténtlco; nota-se por vezes o
gens, etc. Tomando por ponto de partida um
embora nurnerosas das
artificialislno, Inuito
suas odes etnanen) de sentilnento ver- sentinu•nto determinado näo passa, na desor-
dadeiro e profundo e, na Inaneira corno estäo dem do entusiasnr), de urn objecto ao outro;
expressas, pareqall) cheias de dignidade e forqa
etn geral, detétn-se exclusivamente numa situa-
substancial e itnportante por Sl Ineslno; mas segue penetrar e cornover a nossa alnia.
pode acontecer, e acontece realmente, que é o Na expressäo deste sentitnento ou desta situa-
jr(3prio poeta quenl agrega å sua individuali- qäo, o Lied Inantéln-se calli)0 e sillil)les, num
voo sen)pre igual, setn atrevimentos ousados
AS ARTES ROMANTICAS — A POESIA
nem transiqöes bruscas, e desenrola-se assim,
de forma ora um pouco reprimida
e concen- entender o que a alma reprimida näo pode ex-
trada, ora desenvolvida e uniforme, servindo-se primir nem libertar, alma que se consome e se
de ritmos apropriados para o canto e de rimas
fåceisde apreender, verdadeiramente simples. Alnos, cavalga como o pai, de nolte e ao vento.
Mas se o telna do Lied é quase sernpre algo Esta particularidade que, em geral, se manifes-
fugitivo e Passageiro, näo devemos itnaginar ta jå na poesia Ifrica, sob a forma de poesia
que Os POVos contéln durante séculos os Ines- popular, traduzindo os movimentos da alma e
Inos Lieder. Um
povo que atingiu urn certo
grau de desenvolvimento tern jå riqueza sufl- contra-se, coin numerosos matizes e graus in-
dente para ver surgir nyais do que um poeta, ternrdiårios, no Lied propriamente dito.
nas sucessivas épocas; a dos Lieder, em Eis agora alguns dos géneros Ifricos que
oposlq-äo å epopeia, nunca se extingue, renasce merecem menqäo especial.
tor, mas deve ter tam bém um valor geral, cantos de aspecto agradåvel e por vezes deli-
cado, destinados a deliciar e divertir, inspirados
agradar a todos, estar de acordo com os senti-
na natureza em situaqöes da Vida humana
Inentos de toda a gente e por isso passar de
comum, descrevendo tanto os objectos como
boca ern boca. Os Lieder que näo foram uni-
os sentimentos que despertam, recluindo-se o
versaltnente cantados na sua época näo eram
poeta em si mesmo e analisando os impulsos
Lieder, na verdadeira acepqäo da palavra. do seu coraqäo. Quando estas cangöes se limi-
No
que se refere ås caracterfsticas essencials
do modo de expressäo dos Lieder, revelarei ape- menores dos objectos naturals, tornam-se
nas duas, que aliås tive ocasiäo de indicar corno que prosatcas, pois nao manifestam a
precedentetnente. Por urn lado, corn efeito, o mfnltna actividade criadora. O mesmo, por
poeta pode exprimir abertamente e sem reserva vezes se då, quando a descriqäo se refere aos
623
/// - SISTEMA DAS ARTES
cotno Resigna«io, Os ideais, (L) Rein o
Ifricas, tais
a utilizaqäo de urn conteüdo geral nvais ele- das Sombras, Os Artistas, O
ideal e a Vida
etc
näo oferecem o caråcter de Lieder nem tä()_
testan tess por exernplo, entrain na categorla -pouco o de odes, hinos, epistolas, sonetos ou
dos Lieder. Expr itneln a poesia da prece, da elegias, no sentido antigo da palavra; pelo con_
piedade, da esperansa, da confianqa, da fé, da trårio, ofereccm um caråcter muito diferente
diivida do arrependirnento, ou, enfltn, o anse10 do de todas as espécies citadas. O
que as dis-
para Deus ern que Vive o coraqäo protestante; e tingue, é o profundo sentimento em que o
se cada poeta expressa o que se passa na sua conteådo se inspira, sem que, todavia, o poeta
alina individual, a quando de incidences e se deixe arrebatar, e sein que a insplraqäo o leve
situaqöes da Vida particular, tais sentitnentos a lutar contra agrandeza do objecto. Pelo con_
assurnetn caråcter geral, visto que pode:n alber- trårio, domina o objecto e exprime-o, sob
gar-se no coraqäo de todos os ho:nens. todos os aspectos, corn utna elevaqäo de senti_
Outro grupo deste vasto dotnfnio Ifrico é mentos e utna largueza de vistas incomparåveis,
numa linguagem cheia de palavras sonoras e de
epistolas, etc. Estes géneros ultrapassatn jå os imagens tnagnfficas, mas usando ritmos e rimas
lilnites do Lied. A espontaneidade do senti-
täo simples quanto surpreendentes. Esses altos
pensamentos e interesses profundos a que con_
que procura reduzir os lados particulares da sagrou toda a Vida, aparecem assim como uma
intuiqäo e das reacqöes internas a pontos de
parte integrante e utna propriedade inalienåvel
vista gerais. Os conhecimentos, a erudiqäo e a do espirito. Mas etn vez de cantar surdina
instruqäo desempenham um papel ilnportante para urn grupo reduzido de amigos, como
e,se a subjectividade que asseoura a ligaqäo e a
Goethe, cuja boca era utna inesgotåvel fonte de
mediaqäo entre o particular e o geral perma- cantares, Schiller procedia como se tlVesse de
nente ainda como elemento dominante, o
cornunicar, a uma das tnelhores e mais dignas
ponto de vista em que se coloca é Inais geral e
assembleias, ideias de interesse fundamental.
mars amplo do que no Lied propriarnente dito.
E assim, os seus Lieder ressoam, como ele
Os italianos, em particular, deranpnos, com os
pr6prio disse a respeito do seu Sino:
seus sonetos e sextilhas, um magnfflco exemplo
«Lå no alto, betn acima da indigna Vida
de sensibilidade delicadamente reflectida.
terrena, seja ele, na tnansäo azul do céu, o vizi-
Assirn, ntllna situaqäo determinada, o poeta
nho do troväo, pairando até aos limites do
näo descreve sirnplesnrnte as disposiqöes da
alma, os sentimentos de dor, de tristeza, de mundo estrelar; que ele seja ulna voz que vem
desejo ou as percepqöes dos objectos exteriores do alto, corno o lutninoso cortejo de estrelas
com concentraqäo interior, Inas recorre a toda que, alternadatnente, louvam o Criador e con-
sente e o passado, para, depois de ter percor- de nwtal, e que pelas suas råpidas vibraqöes vå
determi-
å obra
género épico, tanto pela medida das sflabas
de arte Ifrica e aos géneros da poesia Ifrica'
corno pelas reflexöes que por vezes cornporta e
basta para Inostrarem, com suflciente clareza,
pela apresentaqäo puramente descritiva dos
que este dominio poético s6 pode ser conside-
senti1D en tos.
rado de forrna concreta sob o ponto de vista
Finalmente, um da poesia
terceiro género
hist6rico. Efectivatnente, as generalidades que
lirica é a que Schiller cultivou recentetnente de
se podem formular a seu respeito nao estäo
forrna notåvel. A Inaior parte das suas poesias
apenas lilnitadas quanto ao catnpo de apli-
ca
qäo AS ARTES ROMÄNT/CAS — A POESIA
h)as tétn, alérn disso, utn valor pura-
nu•nte abstracto,
exprime näo como
as coisas e as circunståncias,
teüdo
e utha influéncia täo decisiva sobre o con- as concebe, mas como cxistem por si mesmas,
das épocasOrma
e dosdas obras, as particularidades conferindo-lhes uma Vida independente.
Assim, por exemplo, na poesia de Hafiz.
pessoal. M
esquivar-lne a relance sobre a evoluqäo
poesia Ifrica, cutnpro todavia o dade, tende para uma expansäo interior que se
dade dee prevenir que, dada a enorme varie- perde facilinente no ilimitado, sem todavia
géneros etn que aquela se dlferencla, chegar a uma expressäo positiva do conteådo
lirnitarei a um breve resumo dos Incus co- que escolheu, pois este pr6prio conteådo é for-
nhecirnentos relativos a este assunto. (l critélio mado pelo substancial que näo se deixa enfor-
da classificaqäo geral das obras Ifricas nacionais mar. Foi por isso que a poesia oriental, no con-
e individuais ser-nos-å fornecido, como para a
persas, aforma Ifrica. A fantasia subjectiva
a, Pelas fortnas mais tfpicas da cria-
gao artfstica: silnb61ica, clåssica e romåntica. evoca tudo o que hå de grande, poderoso e
Por isso, seguiremos aqui uma linha idéntica sobretudo na crtatura, para fazer desaparecer
que seguitnos quando das nossas consideraqöes
sobre a poesia épica, pela poesia Incotnensuråvel tnajestade de Deus, ou entäo
tra-se to tallnente Inergulhada, quanto ao con- nado perceptivel pela cotnparaqäo com
fen6menos particulares do mundo exterior,
teådo, no exterior e no particular, e expritne
adquirem
esses que, por sua vez,
estados e situaqöes caracterizadas por esta indis-
valor pelo facto de servirem para dar, por cony
solåvel unidade; mas, por outro lado, dirige-se, paraqäo, utna ideia mais ou nrnos aproximada
setn todavia encontrar em si mesma um apolo de Deus, o ünico ser cheio de significaqäo e o
o que hå de poderoso e de substan-
firme, para ånico digno de ser louvado e glorificado. Mas
Cialna natureza e nas condiqöes da Vida estas metåforas, imacens e comparaqöes, pelas
humana, que procura, embora sem resultado
quase perceptfvel, näo exprimem nem o senti-
taqäo e sentirnentos, graqas a uma posiqäo ora mento nern a corsa a que ele se refere; säo
mars ou menos negativa, ora tna1S ou Inenos modos de expressäo artiflciais, forjados pelo
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/// - SISTEMA DAS ARTES
rfunica, a crescentando-lhes, aléln disso, as figu_
Entre oc povos que cultivar an) a poc•sla ras complicadas da danqa.
Ifrjca denonunada oriental,convétn citar antes Foi na pocsia lirica grega que esta forma de
de tudo oes chtneses. depolS os hind us c, por arte alcanqou a sua tnais perfeita e completa
flin, os hebreus, os årabes c os persas. Os hinos, tendo ainda o nutro da
realizaqäo.
pocsia épca, näo expritnern o entustastno e a
insplraqäo interiores, mas dirigem-se å alma
b. A Poesia Ifrica dos gregos e apresentando-lhe as i:nagens dos deuses, a tra-
dos romanos gos objectivos. O grau seguinte é representado,
quanto ao metro, pela mcdida silåbica da
O
traqo rnais caracteristico da poesia Ifrica elegia, ou seja o pentåtnetro que, pela sua alter-
grega e rotnana é o da individualidade c/åssica. nåncia regular corn o hexårnetro e graqas ao
Etn virtude deste principio, a conscléncia indi- emprego de cesuras e intervalos iguais, anuncia
vidual, na sua expansäo Ifrica, nem se perde no o aparecitnento de uma nova forma de com-
objectivo e no exterior, nem se eleva aclma de posiqäo: a da estrofe. Pelo conjunto do tom, a
si tnestna, para langar este apelo sublitne a elegia politica ou erotica tem jå um caråcter
todas as criaturas: Lmtvado seja Dens! Que tudo mais Ifrico; todavia, como gn6mrca, estå ainda
quanto existe louve o Senhor! O
poeta Ifrico, pr6xima da épica, pela forma como acentua o
desprendido dos lagos de finitude, näo volta a substancial e a sua expressäo. Isto explica que
rnergulhar no Ser tinico e inflnito que tudo pe- tenha Sido quase exclusivamente cultivada
netra e annna. Como indivfduo, associa-se pelos _J(3nicos, que se conservaram principal-
livremente ao geral, å subståncia do seu pr6- mente atidos å percepqäo objectiva. Sob o
prio espfrito, e torna esta uniäo individual inte- aspecto tnusical, foi tarnbém o lado rftmico
riormente perceptivel å consciéncia poética. que sofreu uma elaboraqäo profunda. E, a par
Tal como a poesia Ifrica oriental, a poesia do metro da elegia, vemos desenvolver-se um
Ifrica dos gregos e rornanos difere tarnbérn da novo Inetro, o do poema jåmblco, o qual, pela
romåntica. Em vez de se integrar na mais pro- violéncia das suas Invectivas, tem jå urn caråc-
funda interioridade dos estados e situaqöes par- ter mais subjectivo.
ticulares, explicita esta interioridade, trazendo Mas o sentimento verdadeira-
a reflexäo e
å luz as paixöes, sentilnentos e reflexöes que rnente Ifricos s6 atingem o seu pleno desen-
esta contém. Por este enquanto
facto, reveste, volvimento na poesia denominada mélica: os
exteriorizaqäo do espfrito e na nrdida etn que metros säo mats variados, mans versåtets, as
a poesia estå habilitada a fazé-lo, o tipo plåstico estrofes mats rlcas e o acompanhamento musl-
da arte clåssica ejn geral. Apesar do caråcter cal torna-se mais completo, graqas å Interferen-
manifestarnente geral, os seus aforisrnos sobre a
cia da modulaqäo. Cada poeta escolhe a
Vida e as suas sentenqas Inorais däo testernunho
medida silåbica que mais convém ao seu caråc-
individual de mentalidade livre e de livre in-
ter Ifrico: Safo canta cotn palavras cotnoventes
venqäo: menos abundantes em irnagens e ruetå-
as suas ternas efusöes, animadas por ardorosa
foras, os clåssicos expritnern-se directanrnte e
paixäo; Alceu expritne nas odes utna coraoem
no sentido pr6prio, objectivando-se o senti-
mais viril. Nos esc61ios, poré1Ä1, etn virtude da
mento subjectivo por si mesn10 quer Inediante
diversidade do contefido e do totn, se distin-
a generalizaqäo quer sob ulna forina perceptivel
e concreta. E individualizando-se deste Inodo
gutrarn os poetas por utna dicqäo e um metro
artisticamente cotnpostos e graduados.
que os géneros particulares se diferencian) entre
si quanto å concepqäo, å expressäo, ao dialecto
Finahnente, a poesia coral atinge um
e ao metro dos versos, para cada urn deles atin- grande desenvolvimento tanto quanto
riqueza das ideias e reflexöes, ao atrevitnento
gir por si Inesrno, independenternente de todos
os outros, o ponto culrninante da sua forrna- das transiqöes, etc., cotno quanto å exposifäo
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.estäo AS AR TES ROMÄN77CAS A POESIA
d'a arte, telemos de reconhecer que os romanos pério Rornano, se encontratn em presenqa näo
lado, då livre curso ao seu desprezo pelos época e compös odes puramente criticas, gra-
prfncipes que «indolentemente sentados, adula- maticais analfticas e frias, nem por isso deixa de
dos por cortezäos, jå pouca g16ria tem hoje, e ser verdade que, exceptuando Schiller, a poesia
ainda Inenos teräo atnanhä» e, por outro lado, alemä näo tornou a ter depois de Klopstock,
outro representante de ideais täo viris e cora-
å dor que sente ao pensar que um principe,
corno Frederico o Grande «näo via a poesia ele- independente.
josos, outra figura täo
var-se rapidatnente e o seu tronco duråvel,
Em contrapartida, Schiller e Goethe näo
partindo de s61ida raiz, derramar a sombra cantaram apenas a sua época, mas possuiram
dos seus ramos». E dor ainda mais viva sente
uma inspiraqäo infinitamente mais vasta e mals
rica: quase universal; os Lieder de Goethe säo,
ante a derrocada da sua esperanqa de ver o im-
muito particularmente, aquilo que de mais per-
perador José abrir urn novo mundo ao espfrito
feito, mais profundo e mais brilhante possui a
e å poesia. Nao podemos deixar de referir, tam-
velhice, vil o povo quebrar todas as cadeias poesia alemä, porque pertencem inteiramente