A MINHA
subida do custo da energia, a
ENERGIA
Quanto tempo demora a recuperar o
investimento em sistemas de autoconsumo
solares? As baterias já compensam? É
possível instalar painéis fotovoltaicos em
edifícios de apartamentos? Que apoios
existem para o autoconsumo? Estas são
algumas das perguntas que respondemos
nas próximas páginas
Texto: Sérgio Magno Fotos: D.R.
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Maio 2022 EXAME INFORMÁTICA
A
transição para veículos elétricos
e a procura pela redução da pe-
gada ambiental têm levado ao aumento
do interesse nos sistemas de autocon-
sumo com painéis fotovoltaicos, que
produzem energia elétrica. Até porque
Portugal é conhecido por ter ‘300 dias
de sol por ano’. Esta expressão não cor-
responde, exatamente, à realidade mas,
de facto, vivemos num país solarengo.
Numa consulta à Pordata (www.pordata.
pt), é possível saber os dias em que não
foi registada chuva pelas estações meteo-
rológicas instaladas em nove cidades ao
longo do país. A ausência de chuva não
significa, necessariamente, um dia de
sol, mas é uma boa referência. Até por-
que em muitos dias de chuva o Sol acaba
por brilhar algumas horas. Ora, segundo
os dados da Pordata, nos últimos cinco
anos com registo completo (2017-2021), a
média de dias sem chuva registados pelas
nove estações meteorológicas foi de uns
expressivos 247 dias. Curiosamente, os
extremos estão nas ilhas: dos 186 dias de
Angra do Heroísmo (Açores) aos quase
300 dias do Funchal (Madeira). Há outro
dado mais relevante para a produção de
energia fotovoltaica: em Portugal há, em
média, 2500 a 3200 dias de hora de sol
por ano, 4 a 6 horas no inverno e 10 a 12
horas no verão. São muitas horas para
dar trabalho a painéis solares.
É, por isso, natural que esta forma
de produção de energia esteja em forte
crescimento. Em declarações à Exame
Informática, Pedro Amaral Jorge, CEO
da Associação de Energias Renováveis
(APREN), diz que “a potência instala-
da de tecnologia solar fotovoltaica foi
a que mais cresceu em Portugal entre
2015 e 2021 em termos percentuais.
De facto, contou com um aumento de
454 MW para 1777 MW nas Centrais de
Produção de Energia Elétrica. Em ter-
mos de produção anual, registou-se
um aumento de 799 para 2351 GWh no
mesmo período”. Um crescimento que
também foi notório no autoconsumo,
onde se registou “um aumento de 43,1
para 341,6 MW entre 2015 e 2021, o que
confirma um acentuado aumento per-
centual da potência solar fotovoltaica
descentralizada. Este aumento resul-
tou, evidentemente, num aumento da
produção descentralizada no mesmo
período, de 32,8 para 474,5 GWh”.
Mas Pedro Amaral Jorge sublinha que
ainda estamos longe de aproveitar o po-
tencial do fotovoltaico, que “tem ainda,
hoje em dia, uma baixa representativida-
de no mix elétrico nacional, com apenas
3,8% da produção de eletricidade em
Portugal continental em 2021. As tecno-
logias renováveis que mais contribuem
para geração de eletricidade são a hídrica
e a eólica, que contribuíram em 2021 com
26% e 29%, respetivamente”.
CUIDADO COM A EFICIÊNCIA!
Os painéis solares estão longe de serem
todos iguais. Dependendo da tecnologia e
materiais utilizados, a potência e eficiên-
cia podem variar muito. O que significa
que não deve pensar em número de pai-
néis, mas sim em potência instalada. Isto
num primeiro nível, porque num nível
mais aprofundado até poderá considerar
a curva da eficiência. Por exemplo, um
painel de 350 watts (potência máxima)
pode parecer melhor que um painel de
300 watts. E, de facto, quando a luz solar
é intensa, à partida o primeiro painel será
capaz de gerar mais energia. No entanto,
se o segundo painel (o menos potente)
for mais eficiente em condições de pouca
luz solar, até é possível que, ao longo de
todo o dia, consiga produzir mais ener-
gia que o painel que anuncia uma maior
potência máxima. Ou seja, apesar de ter
uma produção de pico inferior, poderá
ter uma produção mínima superior. Fe-
lizmente, esta costuma ser uma exceção
e não a regra, pelo que analisar os painéis
solares pela potência indicada costuma
ser uma boa forma de diferenciá-los.
QUE POTÊNCIA INSTALAR?
Não há uma resposta simples a esta per-
gunta. O que só vem reforçar a importân-
cia de escolher uma empresa que, além
da instalação, seja capaz de fazer uma
análise séria para que o sistema responda
QUAL O POTENCIAL
SOLAR DA MINHA CASA?
Um bom projeto para instalação de painéis solares fotovoltaicos deve considerar o
potencial solar da zona onde será feita a instalação. Há vários simuladores disponíveis
para ajudar nestes cálculos, mas o Global Solar Atlas (http://globalsolaratlas.info) é,
provavelmente, o mais conceituado. Isto porque oferece informações detalhadas para
boa parte da superfície do planeta. Informação conseguida através do cruzamento
de dados de diferentes fontes e recorrendo a algoritmos sofisticados, o que resulta
em informação fidedigna. Basta fazermos zoom no mapa mundial até à área da nossa
habitação para obtermos informação completa sobre a irradiação solar – ao escolher a
opção Satellite (disponível na parte inferior da imagem), a capacidade de zoom aumenta
e é mais fácil identificar a nossa casa graças às imagens fotográficas. No exemplo da
imagem apresentada, escolhemos o edifício onde está a redação da Exame Informática,
que até já tem painéis solares. Imediatamente aparece, à direta, uma análise do potencial
fotovoltaico. Se clicarmos em Reports podemos descarregar o relatório pormenorizado
em formato PDF ou XLSX (folha de cálculo). Ficámos a saber, por exemplo, que, para a
zona escolhida, a máxima produção numa hora deverá acontecer em agosto, entre as 12h
e as 13h00 (750 watts hora por metro quadrado), embora o mês de maior produção seja
julho (cerca de 7300 Wh/m2) e o mês de menor produção prevista é dezembro (3000 Wh/
m2). Os cálculos são feitos considerando painéis genéricos, mas podemos especificar
os detalhes previstos para a instalação. Para isso basta escolher o tipo de instalação –
Small residential para instalações em casa – e, depois, clicar em Change PV system.
Agora pode alterar o valor do azimute (ângulo entre a linha de visão do Sol projetada no
plano horizontal e o Norte geográfico – 180 graus, por exemplo, significa que os painéis
estão virados a Sul); o ângulo de inclinação dos painéis (relativamente à horizontal); e a
potência total do sistema (soma das potências dos painéis). O site inclui guias, respostas
às perguntas mais frequentes e explicações: basta ir ao menu About.
bem ao perfil energético da casa (con- Figueiredo, da Sunenergy: “Alguns con-
sumos). Sistemas subdimensionados vão sumidores idealizam que instalar um
gerar poupanças relativas (percentuais) maior número de painéis ou de maior
baixas, mas têm a vantagem de permitir potência equivale a mais poupança, o
um retorno de investimento mais rápi- que não é necessariamente verdade”. A
do – isto porque a produção energética especialista recorda que “embora não
tenderá a ser totalmente aproveitada. existam soluções perfeitas ou completa-
Sistemas sobredimensionados permiti- mente ajustadas às necessidades de cada
rão poupanças relativas elevadas porque cliente, na medida do possível, os sis-
a produção vai cobrir todo o consumo temas fotovoltaicos deverão ser sempre
durante mais tempo, mas podem ter um devidamente dimensionados para evitar
tempo de retorno muito elevado (boa que o sistema produza mais energia do
parte da produção será desperdiçada). que é consumida”.
E há uma certa tendência para sobre- Para Pedro Galvão Pires, diretor da
dimensionar, como nos explicou Diana área comercial do segmento residencial
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Maio 2022 EXAME INFORMÁTICA
da EDP Comercial, o risco associado ao
mau dimensionamento da instalação é
reduzido porque “todos os clientes pas-
sam em primeiro lugar pelo processo de
simulação, que apresenta a solução ideal
a instalar naquela habitação” e “o cliente
poderá optar por instalar mais ou menos
painéis, caso preveja alguma variação
futura no seu consumo”.
Uma boa análise deve considerar os
perfis de consumo, atendendo às horas
em que acontecem. Por exemplo, em
habitações onde o consumo energético
durante o dia é residual porque os ha-
bitantes estão a trabalhar fora de casa,
fará mais sentido instalar uma potência
que apenas cubra os consumos parasitas.
Estes são aqueles consumos que estão
sempre a ocorrer, mesmo quando nin-
guém está a utilizar aparelhos elétricos
em casa, como sistemas de segurança
(alarme, câmaras, sensores de movi-
mentos…), standby de aparelhos, fri-
goríficos, redes Wi-Fi… Naturalmente,
os consumos parasitas são variáveis em
função da casa. Mas, considerando as
experiências que fizemos, tendem a ser
mais do que esperamos. O que signifi-
ca que mesmo um sistema fotovoltaico
capaz de cobrir apenas este tipo de con-
sumo pode representar uma poupança
assinalável ao final do ano.
QUANTO CONSUMO?
Para saber quanto deve produzir deve-
rá, naturalmente, saber quanto conso-
me e, não menos importante, quando
esse consumo acontece. Informação
que deverá poder ser obtida junto do
seu comercializador de energia ou da
E-Redes, a empresa que gere a rede de
distribuição de energia em Portugal
Continental. Na E-Redes, recomen-
damos que crie uma conta no Balcão
Digital (balcaodigital.e-redes.pt ou
através da app E-Redes) para adicio-
nar os seus locais de consumo e, deste
modo, ver históricos de consumo de
energia. Atenção que só em instalações
com um contador inteligente conecta-
do será possível consultar os detalhes
do consumo. Neste caso até podemos
descarregar um ficheiro Excel com os
consumos medidos a cada 15 minutos,
o que permite criar um mapa energético
pormenorizado.
Procure saber se o seu comercializador
de energia disponibiliza alguma ferra-
menta (app, por exemplo) que facilite
a consulta detalhada do seu perfil de
INSTALAÇÃO
TÍPICA
EM PORTUGAL
De acordo com as empresas
que contactámos, a
maioria dos sistemas de
autoconsumo são instalados
em casas unifamiliares
com custos entre €1000
a €3000 antes de apoios.
Juntámos as informações
que obtivemos de algumas
empresas quando pedimos
para indicarem as instalações
típicas que têm feito.
EDP Solar
POTÊNCIA/PAINÉIS
700 A 1000 WATTS (2/3 PAINÉIS)
RECUPERAÇÃO DE INVESTIMENTO
2 A 5 ANOS
SolarImpact
POTÊNCIA/PAINÉIS
2000 WATTS (5/6 PAINÉIS)
RECUPERAÇÃO DE INVESTIMENTO
3 A 5 ANOS
Sunenergy
POTÊNCIA/PAINÉIS
1200 A 2000 WATTS (3 A 5 PAINÉIS)
RECUPERAÇÃO DE INVESTIMENTO
4 A 5 ANOS
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Pedro Amaral Jorge, CEO da
APREN, salienta que ainda há
muito potencial de crescimento
para a energia solar
consumo. Pelo menos deverá conse-
guir, através da fatura, obter os dados do
consumo relativos aos períodos de vazio,
ponta e cheias. Estes ciclos são diferentes
para as horas legais (inverno ou verão).
À partida, só existe produção solar em
partes dos ciclos Ponta e Cheias, pelo que
será mais interessante instalar painéis em
casas com percentagem elevada de con-
sumo nestes ciclos. Também pode recor-
rer ao contador de eletricidade instalado
na sua casa para medir os consumos. Os
contadores mais recentes permitem ver
o consumo em tempo real (consulte as
informações disponibilizadas no site da
E-Redes), o que significa que pode tirar
as notas ao longo do dia.
Pode, ainda, optar por instalar um
sistema de monitorização de consumo
(smart meter). Um aparelho que, regra
geral, é instalado no quadro elétrico da
casa e regista os fluxos energéticos de
modo detalhado. Sistema que poderá ser
importante também após a instalação
dos painéis para perceber qual é o défice
energético (diferença entre o consumo
e a produção). Em sistemas avançados,
do tipo smart home, é possível definir
automatizações em função da produção
e do consumo: por exemplo, ligar a cal-
deira elétrica para aquecimento de águas
sempre que a produção solar exceda de-
terminado valor. Para Egas Mascarenhas,
da Solarimpact, “a grande disseminação
dos sistemas de monitorização a preço
A Shelly, a nossa marca favorita em termos de dispositivos Smart Home, tem
diferentes dispositivos capazes de medir consumos energéticos em tempo real
e de comunicar com outros dispositivos inteligentes. Deste modo é possível,
por exemplo, ativar/desativar aparelhos elétricos em função da produção solar
de modo a aumentar as poupanças. A imagem mostra um quadro elétrico com o
Shelly Pro 4M, o medidor de energia mais sofisticado da marca (cerca de €85)
acessível torna cada vez mais fácil co-
nhecer o próprio perfil de consumo e,
com isso, a potência a instalar”.
ESCOLHER A EMPRESA
Atualmente, existem muitas empresas
especializadas na instalação de sistemas
de autoconsumo baseados em painéis
fotovoltaicos. Pelo que deve começar
por estudar o mercado e pedir propostas
a diferentes empresas. Além do orça-
mento, tenha atenção às características
técnicas dos produtos escolhidos. Há
fornecedores destes serviços que, pela
sua dimensão, oferecem uma maior co-
bertura do território nacional e outros
que trabalham apenas em determinadas
regiões. A proximidade pode ser impor-
tante para o pós-venda, não só a nível de
assistência – em regras, estes sistemas
são fiáveis e livres de manutenção –, mas
também, para possíveis atualizações fu-
turas (aumento da potência instalada,
por exemplo). É preferível investir um
pouco mais no sistema, escolhendo uma
PROGRAMA DE APOIO A EDIFÍCIOS + SUSTENTÁVEIS
Quando estiver a ler este texto, o mais
provável é que já seja tarde demais para
se candidatar ao Programa de Apoio a
Edifícios + Sustentáveis de 2021 – a data
limite para candidaturas da segunda fase
deste apoio era 30 de abril de 2022. Pelas
razões conhecidas, o orçamento de Estado
para 2022 ainda não tinha sido aprovado
antes do fecho desta edição. Como tal, a
Exame Informática inquiriu o Ministério
do Ambiente e da Ação Climática sobre
as intenções para o novo ano, mas não
empresa com boa reputação no pós-ven-
da e que utilize produtos de qualidade.
Deve garantir, ainda, que escolhe uma
empresa certificada e capaz de ajudá-lo
na componente burocrática, como a le-
galização e apresentação da candidatura
necessária para receber os apoios, ou na
venda da energia excedentária.
INVESTIMENTO COMPENSA
É uma das perguntas mais frequentes:
“quanto tempo demora a recuperar o
investimento?”. As variáveis são tantas
que se torna impossível dar uma resposta
concreta. É, mesmo, uma daquelas si-
tuações em que se aplica a máxima ‘cada
caso é um caso’. Mas depois de falar-
mos com várias famílias que instalaram
sistemas de autoconsumo e com cinco
empresas que fornecem serviços nesta
área, a resposta foi unânime: “o inves-
timento compensa”. Não encontrámos
um único caso de alguém arrependido
em ter investido em autoconsumo com
painéis fotovoltaicos.
obteve reposta. No entanto, algumas fontes
indicaram-nos que o programa deverá ser
renovado em moldes semelhantes aos
anteriores, sendo até possível, que haja
maior dotação orçamental devido ao efeito
do PRR. O Programa de Apoio a Edifícios +
Sustentáveis de 2021 incluía uma taxa de
comparticipação de 85% com um limite
de €2500 para a “instalação de painéis
fotovoltaicos e outros equipamentos
de produção de energia renovável para
autoconsumo com ou sem armazenamento”.
73
Maio 2022 EXAME INFORMÁTICA
Neste exemplo retirado de uma casa
de uma família constituída por quatro
pessoas, descarregámos o ficheiro Excel
com medições dos consumos a cada 15
minutos. E concluímos que o consumo
médio entre as 10h00 e as 17h00 durante
o mês de abril, quando não costuma estar
ninguém em casa, é, ainda assim de cerca
de 400 watts. Ora, neste caso, um sistema
de autoconsumo capaz de gerar esta
potência média entre as horas indicadas
permitiria poupar cerca de 2800 watts
hora (400 watts multiplicado por 7 horas).
Para o caso específico, a poupança seria
de cerca de 60 cêntimos por dia porque
o preço por kWh cobrado pelo operador
é de cerca de 21 cêntimos. O que
representaria cerca de €200/ano
As respostas só diferiram no tempo de
retorno de investimento previsto ou já
conseguido. As famílias que contactámos
indicaram-nos períodos de recuperação
de investimento muito variáveis, entre
dois a dez anos. Há quem prefira inves-
tir menos (o tal subdimensionamen-
to) e há outros cujo foco não é sequer a
questão financeira, mas sim o objetivo
de conseguirem ser energeticamente
independentes.
Naturalmente, o tempo de recupera-
ção do investimento inicial pode baixar
para menos de dois anos para clientes
que recorreram ao Programa de Apoio
a Edifícios mais Sustentáveis (ver caixa).
Mas a análise do investimento pode
e deve ser feita de outro modo, não ba-
seado no tempo de recuperação do custo
Considerando os preços médios que
nos foram fornecidos pelas empresas
contactadas, €2500 poderá cobrir a
aquisição e a instalação de um kit com de
cerca de 1200 a 1500 watts de potência
máxima (quatro painéis). Ora, 85% deste
valor é mais de €2000 e, numa casa com
forte atividade durante o dia, é possível
poupar cerca de €400 com uma instalação
deste tipo. Ou seja, a recuperação do
investimento, nestas condições, pode até
ocorrer em menos de dois anos.
de instalação, mas na análise da taxa de
rentabilidade. Ou seja, pensar de forma
similar a outros investimentos, como a
aquisição de ações ou, simplesmente,
abertura de uma conta a prazo num ban-
co. E sob este ponto de vista, os sistemas
de autoconsumos com painéis fotovol-
taicos são ainda mais apelativos. Isto
porque é habitual taxas de rentabilidade
superiores a 10%, que até podem atingir
25%. De outro modo, um investimento
de €2000 num sistema de autoconsumo
pode conduzir, facilmente, a poupanças
superior a €200/ano na conta de ele-
tricidade. De outro modo, neste caso, a
taxa de rentabilidade seria 10%. Muito
acima do que qualquer taxa de juro de
um depósito bancário a prazo. De outro
modo, se tem algumas poupanças, esta
poderá ser uma forma de investimento
apelativa, com baixo risco e bom retorno.
AUTOCONSUMO
EM APARTAMENTOS
Em edifícios multifamiliares, como é o
caso de prédios de apartamentos, o telha-
do não pertence a nenhuma habitação,
mas sim ao condomínio. O que significa
que é mais difícil instalar sistemas de
autoconsumo. Mas é possível e há cada
vez mais condóminos interessados nesta
solução, como nos indicou Pedro Galvão
Pires, da EDP Comercial: “A procura por
soluções de autoconsumo por clientes que
vivem em prédios tem aumentado sig-
nificativamente porque as soluções dis-
poníveis permitem poupar e estabilizar
preços, reduzindo a volatilidade à crise
energética atual, e, ao mesmo tempo,
porque estes edifícios têm um crescente
aumento do consumo de energia elétrica,
pela maior eletrificação das casas e car-
regamento de carros elétricos”.
Atualmente, existem duas formas de
usar sistemas fotovoltaicos num telhado
partilhado. A mais convencional é ocu-
par a parte do telhado a que corresponde
à fração. Por exemplo, num prédio com
10 apartamentos, um dos condóminos
poderá, à partida, ocupar 1/10 do telhado
com os seus painéis, deixando espaço
para que os seus vizinhos possam fazer
o mesmo. Para avançar, como explica
Diana Figueiredo da Sunenergy “será
necessário formalizar um pedido à ad-
ministração do condomínio e obter apro-
vação unânime de todos os condóminos
para uso do espaço, o que nem sempre
é possível”. Mas “mesmo sem acesso ao
telhado pode ser possível instalar auto-
DICAS DO INSTALADOR
QUAL É O RETORNO
DE INVESTIMENTO
EM AUTOCONSUMO
COM PAINÉIS
SOLARES?
O retorno do investimento será
tanto melhor quanto mais a
curva de produção dos painéis
fotovoltaicos se ajustar ao
perfil de consumo da habitação,
sendo que alguns investimentos
apresentam rentabilidades
anuais superiores 20/25%, o
que equivale a um retorno em
4 a 5 anos. Já quando se trata
de, por exemplo, um sistema
com baterias, o retorno do
investimento será, naturalmente,
mais a longo prazo, no entanto
o proprietário da instalação
beneficiará de vantagens
adicionais com este tipo de
solução, nomeadamente uma
maior independência da rede
pública e, consequentemente,
uma poupança mais acentuada
na fatura de energia.
DIANA FIGUEIREDO
SUNENERGY
consumo num apartamento, desde que
haja uma varanda ou um terraço com
boa exposição solar”.
A segunda hipótese é optar pelo auto-
consumo coletivo, que foi regulamentado
em 2020. “Este regime permite que vá-
rios consumidores produzam, partilhem,
armazenem e vendam energia renovável
entre si através da implementação de
um ou vários sistemas de autoconsu-
mo, de acordo com índices de partilha
definidos por uma entidade gestora que
é designada pelos membros desse au-
toconsumo coletivo”, esclarece Diana
Figueiredo. Segundo esta especialista,
uma das vantagens desta opção é que
apesar de ser “igualmente necessário
74
Maio 2022 EXAME INFORMÁTICA
obter autorização dos condóminos, esta
é determinada via maioria simples”.
BAIRRO SOLAR EDP: PAINÉIS PARA
O CONDOMÍNIO SEM CUSTOS
A EDP tem uma solução criada para con-
domínios (e outras comunidades habita-
cionais) onde há dúvidas ou dificuldades
em reunir o investimento necessário para
se instalar um sistema de autoconsumo
detido pelos próprios. Nos Bairros Solares
EDP, o condomínio só tem de disponi-
bilizar o espaço para a elétrica instalar
o sistema solar. De acordo com Pedrão
Galvão Pires, a energia produzida por
estes painéis “é partilhada com outros
vizinhos, com poupanças óbvias nos dois
casos – de cerca de 50% na energia dos
produtores (quem cedeu o espaço para
a instalação solar) e de 25% na energia
autoconsumida pelos vizinhos”. Isto
porque neste sistema de Bairros Sola-
res, a energia pode chegar à vizinhança
e não se ficar apenas pelo condomínio
(os produtores). O responsável explica,
ainda, que “para a solução Bairro Solar
EDP, é necessário garantir condições para
instalação de 18 painéis (equivalente a
36 m2) o que deve corresponder a um
máximo de 20% do total de prédios a
nível nacional”.
Pode verificar se o seu prédio tem con-
dições para aderir a esta solução através
do simulador disponível em www.edp.
pt/bairro-solar. Fizemos algumas simu-
lações e fomos imediatamente contacta-
dos pela EDP Comercial com as propostas.
BATERIAS JÁ COMPENSAM?
Uma vez mais, a análise é complexa.
Uma coisa é certa: as baterias aumentam
significativamente o custo do sistema
e, consequentemente, podem tornar a
recuperação do investimento mais de-
morada. Mas, por outro lado, oferecem,
regra geral, uma maior taxa de rentabi-
lidade. Isto porque permitem instalar
sistemas sobredimensionados em termos
de capacidade de produção (produzem
mais energia que aquela que é consumida
durante as horas de sol) com a garantia
que a energia produzida em excesso não
é perdida, mas sim armazenada para
consumo nas horas ‘de sombra’ (quando
não há luz solar).
Como o investimento é maior, reco-
menda-se um ainda maior cuidado da
análise do projeto.
Pedrão Galvão Pires, da EDP Comer-
cial, assegura que esta solução “apre-

DICAS DO UTILIZADOR
QUAIS AS SUAS
SUGESTÕES PARA
AS FAMÍLIAS
INTERESSADAS
EM INSTALAR
UM SISTEMA DE
AUTOCONSUMO?
“Primeiro, analisar os padrões
e valores de consumo para
dimensionar corretamente o
investimento a fazer. Optar por
soluções com monitorização
para ir acompanhando as curvas
de produção e consumo, e ir
ajustando às necessidades
e objetivos. Incutir nos mais
novos (os próximos guardiões do
planeta), os valores da eficiência
energética, começando pelo
nosso testemunho e exemplo
real nas opções em casa”.
TELMO AZEVEDO
senta vantagens claras para os clientes,
especialmente para habitações com con-
sumos mensais mais elevados (acima
de 70€ na componente de eletricidade,
antes de impostos)”. Já que “as soluções
de energia solar com baterias permitem
uma redução do consumo da rede que
pode chegar até aos 70%”. Diana Fi-
gueiredo da Sunenergy está de acordo
com esta análise: “esta é uma opção com
benefícios comprovados a longo prazo,
que possibilita armazenar e consumir
a totalidade da produção energética
garantindo, consequentemente, maior
independência do consumidor em re-
lação à rede”.
QUASE INDEPENDENTE DA REDE
Telmo Azevedo e a família são o que po-
demos considerar um exemplo quase
extremo do aproveitamento das vanta-
gens do autoconsumo. Morador numa
moradia no concelho de Sintra, Telmo
começou por instalar dois painéis (500
watts no total) em 2015, potência que foi
aumentada cinco anos depois para 3,8
kW (12 painéis). O que permite uma pro-
dução comprovada através de um registo
cuidado de uma média mensal de 500
kWh, com uma variação entre 200 kWh
em dezembro e 700 kWh em agosto. Em
termos financeiros, este sistema permite
à família de Telmo Azevedo poupar cerca
de €100/mês. “Só com o novo sistema
(que faz já essas contas com as tarifas
reais do contrato doméstico de energia),
totaliza hoje mais de €1.600 de poupan-
ça”, assegura, com documentação para
o provar, o adepto da sustentabilidade
energética e da mobilidade elétrica.
O “novo sistema” inclui baterias, com
uma capacidade total superior a 10 kWh.
Uma opção que Telmo justifica com três
razões: “para guardar a energia produ-
zida para se utilizar principalmente no
início e fim do dia onde temos mais ati-
vidade em casa; nos dias sem sol, para
carregar a bateria em tarifa de vazio
(mais barata) para utilizar em períodos
de tarifa não-vazia (mais cara); permi-
te baixar a potência contratada tirando
partido de buffer de potência extra (com
um inversor híbrido) para surtir a picos
de necessidade (exemplo, tenho 3,45
kVA com 5 kW extra do inversor num
total de 8,45 kW de potência máxima)”.
O exemplo da família Azevedo toca
em dois pontos muitas vezes esqueci-
dos, mas que podem permitir poupanças
importantes: a redução da potência má-
xima contratada e respetiva taxa (parte
da potência é fornecida pelo sistema de
autoconsumo, enquanto outra parte é
fornecida pela rede); e possibilidade de
carregar baterias não com o Sol, mas com
a energia mais barata do período notur-
no, que depois pode ser utilizada nos pe-
ríodos em que a energia é mais cara. Te-
lmo Azevedo e as empresas contactadas
estão de acordo que é mais rentável ar-
mazenar a energia do que vender à rede.
Contas feitas, mesmo incluindo as bate-
rias, Telmo assegura que o tempo de re-
cuperação de investimento será de cinco
anos, parte graças ao apoio do Programa
de Apoio Edifícios +Sustentáveis. Mas
não é só a poupança que motivou a fa-
mília deste engenheiro: “É um prazer
e orgulho familiar termos o consumo
total da casa, incluindo aquecimento
de água, cozinha e viagens dos veículos,
abastecidos pelo Sol”. n
75
Maio 2022 EXAME INFORMÁTICA
GLOSSÁRIO
AUTOCONSUMO
Termo usado quando há produção
de energia para consumo do próprio.
É, por exemplo, caso de sistemas
fotovoltaicos (painéis solares)
instalados em casa dos utilizadores.
Atenção que o autoconsumo não
exclui a possibilidade de venda do
excesso de energia para a rede.
WATTS
Unidade de potência. Quando se
refere, por exemplo, “painel solar de
400 W”, isto significa que a potência
máxima que este painel solar será
capaz de gerar é 400 watts.
WATTS HORA
Unidade que mede a quantidade de
energia utilizada. Por exemplo, uma
lâmpada de 10 watts acesa durante
3 horas vai consumir 30 watts hora
(10 watts x 3 horas).
KWH – QUILOWATT HORA
Unidade de energia normalmente
usada para fazer as medições de
consumos e indicar preços cobrados
pelos comercializadores de energia
elétrica. Representa 1000 watts
hora.
CICLO HORÁRIO
(VAZIO, PONTA E CHEIAS)
O custo da energia varia de acordo
com a relação entre a oferta
(produção) e a procura (consumo). Por
isso, é habitual os comercializadores
de energia apresentarem tarifários
em função da hora e dos dias da
semana. Nos tarifários simples só há
um ciclo (o preço da energia é sempre
o mesmo); nos tarifários bi-horários
há períodos do dia cobrados com um
custo de energia mais caro (fora do
vazio) e outros cobrados com custo
de energia mais barato (vazio); nos
tarifários tri-horários existem três
valores divididos por horas de vazio
(mais barato), horas de cheias (horas
em que o custo é intermédio) e horas
de ponta (custo mais alto).
UPAC
Unidade de Produção para
Autoconsumo.
INVERSOR
Dispositivo que converte a energia
elétrica produzida pelos painéis
solares (corrente contínua e baixa
tensão) na energia elétrica de
corrente alternada e 230 volts
que é usada nas nossas casas. Os
inversores devem ser escolhidos
em função da potência dos painéis
solares.
INVERSOR HÍBRIDO
Um inversor que pode funcionar
‘nos dois sentidos’, que é necessário
em instalações com baterias.
Deste modo é possível carregar as
baterias com a energia fotovoltaica
quando há excesso de produção e ir
buscar energia às baterias quando a
produção solar não cobre o consumo.