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Utilizar o digital e a IA para enfrentar

o desafio de emissões líquidas zero
do setor energético

Líderes de energia renovável e sustentabilidade da RES, Octopus Energy e

IBM discutem como o digital e a IA podem ajudar a impulsionar a eficiência, a
inovação e a colaboração para alcançar emissões líquidas zero.

Julho de 2023
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O sucesso da energia limpa proveniente da energia eólica,
solar e outras fontes de baixas emissões é vital para
o sistema energético global para atingir emissões líquidas
zero até 2050. Embora a energia renovável tenha superado
quase todas as expectativas na última década, muitos
desafios se avultam, incluindo a escassez de materiais na
cadeia de abastecimento, a disponibilidade limitada de
terrenos adequados, a falta de investimento em infra-
estruturas de rede , um processo de licenciamento lento e
pressão sobre os retornos.
Com as capacidades digitais e de IA cada vez mais
incorporadas nas organizações nos últimos cinco
anos, queríamos ouvir em primeira mão como as
empresas focadas nas energias renováveis e na
sustentabilidade as estão a aplicar para acelerar
a transição líquida zero: quais iniciativas são
sendo impulsionado pela IA e pelo digital? Como podem
estas tecnologias melhorar a colaboração em todo o
ecossistema energético? Que novos tipos de modelos
colaborativos eles apoiarão? Que barreiras eles enfrentam?
Do lado da oferta, conversamos com Eduardo
Medina, CEO da RES, a maior empresa independente
de energia renovável do mundo, trabalhando em
energia eólica onshore e offshore, solar, hidrogênio verde,
armazenamento de energia e
transmissão e distribuição. Na demanda
lado, contratamos Greg Jackson, fundador e
CEO da Octopus Energy, que alimenta mais
mais de três milhões de residências e empresas no
Reino Unido com energias renováveis. Do lado da tecnologia,
conversamos com Kareem Yusuf, vice-presidente sênior da
IBM, que lidera a iniciativa de sustentabilidade da
empresa.
As nossas discussões foram amplas, mas ao longo
de todas elas, quatro mudanças foram vistas por estes
líderes como sendo críticas para a transição para
emissões líquidas zero: a necessidade de abraçar a verdadeira
a transformação tecnológica, a recalibração de fornecedor
de energia para fornecedor de software, a importância
da partilha de dados em todo o ecossistema e o impacto
potencial de um maior apoio do sector público.
Aqui compartilhamos comentários editados de nossos
conversas com esses líderes para inspirar
2 Utilizar o digital e a IA para enfrentar o desafio de emissões líquidas zero do setor energético
outros na indústria sobre maneiras de alavancar essas
tecnologias em direção a um futuro com emissões líquidas zero.
Mudança nº 1: Dos pilotos tecnológicos
à verdadeira transformação
Alcançar valor a partir do digital e da IA tem sido
historicamente mais desafiador para as empresas
de energia do que para muitas outras empresas.
setores. Mas estes líderes deixam claro que
a sustentabilidade e a rentabilidade dependem destas
tecnologias e que as empresas de energia devem agir
rapidamente para transformar a forma como trabalham se
quiserem impulsionar com sucesso uma meta líquida zero
transição.
Greg Jackson: Para criar um sistema de energia limpa
de uma forma que seja boa para os consumidores e para
as empresas, precisamos construir a tecnologia que nos
permita capitalizar os momentos em que o sol está
brilhando, o vento está soprando e você' temos essa
energia infinita, abundante e com custo marginal zero. Só o
Octopus gera cerca de um bilhão e meio de linhas de
dados todos os dias, e temos aprendizado de máquina e
algoritmos executando isso, então
que possamos prever melhor minuto a minuto
consumo e geração, combiná-los e, em seguida, mudar
esse consumo ou até mesmo analisar novamente como
(e onde) a energia está sendo gerada. Se for mais barato
utilizar energias renováveis quando estas estão a ser
geradas, os cabos de longa distância que ligam
as áreas de produção à procura dos consumidores serão
cada vez mais importantes. Um projecto em curso neste
momento é um cabo submarino que liga o Norte de África
ao Reino Unido. Poderia fornecer cerca de 7% das
necessidades de electricidade do Reino Unido – ou, dito
de outra forma, alimentar cerca de sete milhões de bombas de
calor de forma fiável – todos os dias do ano, durante dez a
12 horas por dia.
Eduardo Medina: Hoje estamos aplicando soluções digitais
e analíticas em toda a empresa. No nosso negócio de
desenvolvimento, os dados e insights permitem-nos
selecionar os melhores locais para projetos de energia
renovável. Isso melhora o valor dos nossos ativos, o que
possibilita um melhor retorno aos nossos clientes.
Também garante
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projetamos nossos projetos de maneira ainda mais atacado dos outros. Mas as novas formas

econômica, gerenciamos riscos geográficos, melhoramos de colaboração poderia ser bem diferente. Por exemplo,
nosso desempenho de segurança e muito mais. na Octopus Energy, criámos um sistema full-stack para
gerir uma empresa de energia renovável do século XXI,
Por exemplo, nosso produto UNO monitora que licenciamos a rivais e outras empresas em todo o
remotamente, de forma autônoma e contínua mundo. Esta capacidade de colaborar em tecnologia
portfólios de turbinas para identificar anomalias no alinhamento e ao mesmo tempo competir no varejo ou na geração
de guinada. Isto levou a campanhas corretivas, resultando em caracteriza as mudanças que vemos hoje na
melhor desempenho dos ativos, melhor rendimento energia.
energético, maior segurança e menores custos
operacionais.
Eduardo Medina: O RES sempre foi pioneiro.
Kareem Yusuf: Quando falamos sobre o espaço energético, Construímos o segundo parque eólico de grande
falamos frequentemente em melhorar a eficiência escala do Reino Unido em 1992, desenvolvemos
energética para reduzir as emissões de carbono. Mas os primeiros parques eólicos offshore do mundo e iniciamos
gosto de me concentrar em como realmente implantando armazenamento de bateria em 2014.
operacionalizar a sustentabilidade. Como você pode Nossa capacidade técnica interna dá continuidade a essa
conectar suas decisões e metas de sustentabilidade às tendência pioneira, usando aprendizado de máquina
operações diárias de uma empresa? Em primeiro lugar, você para aumentar o rendimento energético para os
precisa ser capaz de medir e conectar o que realmente está proprietários de ativos. Vejo que estamos expandindo
acontecendo no seu ambiente do mundo real. Só então esta área de negócios para tornar essas soluções tecnológicas
você poderá tomar ações corretivas. Portanto, vejo essas disponível para o mercado mais amplo de energias renováveis.

tecnologias se unindo para nos permitir compreender Hoje somos uma empresa com pés no chão e muitos
melhor os problemas. Por exemplo, o reconhecimento de engenheiros apoiados em dados. Nos próximos três a
imagem alimentado por IA pode inspecionar remotamente quatro anos, precisamos de nos tornar uma empresa
os ativos físicos de uma empresa, o que pode movida por dados e apoiada por engenheiros. É aqui
economizar tempo, dinheiro e energia ao evitar inspeções que estamos investindo muito em termos de aprendizado
presenciais. Dependendo do tamanho das operações e de de máquina e inteligência artificial.
outros detalhes, isso pode resultar em enormes
economias de energia. O desafio de alcançar a
sustentabilidade oferece mais uma oportunidade para
inovar. Mudança nº 3: De silos de dados a ecossistemas

de compartilhamento de dados
Nos últimos anos, escrevemos sobre os benefícios
Mudança nº 2: De fornecedor de energia a dos ecossistemas de dados que permitem às
fornecedor de software empresas criar valor através da partilha de
Hoje em dia é um clichê – mas é verdade – que toda dados.¹ À medida que estes líderes olham para um
empresa é uma empresa de software. Para empresas futuro com emissões líquidas zero, dizem que maior
como a Octopus Energy e a RES, alcançar o zero transparência e partilha de dados em todo o
líquido provavelmente envolverá novas formas de ecossistema energético – por parte de ambos fornecedores
colaboração – muitas vezes como fornecedor de software e consumidores – serão essenciais para que a indústria atinja esse objetivo.
e não simplesmente como fornecedor de energia.
Eduardo Medina: Colaboração em todo o

Greg Jackson: A indústria de energia sempre foi uma
indústria extremamente colaborativa. As grandes
empresas petrolíferas que competem no cenário
global, por exemplo, podem ter uma joint venture na
exploração e produção, ou uma delas terá uma cadeia de
postos retalhistas de petróleo ou gás que compram
o espaço energético requer dados. Os dois grandes
desafios estão nos protocolos de dados, onde há falta de
consistência, e no compartilhamento de dados, onde a
maioria dos dados permanece oculta. Por exemplo, o
ecossistema energético beneficiaria com a abertura do
acesso a frequências mais elevadas.

1
Ver, por exemplo, Ahmed Abdulla, Ewa Janiszewska-Kiewra e Jannik Podlesny, “Data Ecossistemas simplificados”, McKinsey, 8 de março de 2021.

Utilizar o digital e a IA para enfrentar o desafio de emissões líquidas zero do setor energético 3
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fontes de dados que historicamente estiveram disponíveis apenas
para os OEMs. O acesso a estes dados impulsionaria modelos de
análise e aprendizagem automática mais avançados, levando a
uma maior disponibilidade e a um melhor desempenho dos
ativos renováveis.
Outro exemplo de onde a partilha de dados pode ser benéfica:
uma das barreiras à implantação de mais energias renováveis pode
ser as restrições na quantidade de electricidade que as linhas
eléctricas podem transportar.
Há esforços crescentes para alcançar o que chamamos de
“classificações de linha dinâmicas”, que evitam que uma linha de
energia fique sobrecarregada, mas ainda assim otimizam sua
capacidade até o último quilowatt. Um exemplo simples é
observar a capacidade de transmissão em comparação com a
velocidade do vento, porque o vento esfria as linhas de energia e
permite que mais eletricidade flua através delas. As ferramentas
digitais estão a permitir que a indústria atinja maiores níveis
de sofisticação e melhores taxas de utilização, mas tudo isto requer
cooperação e uma sobreposição de conformidade da rede, o que é
crucial num sistema de rede.
Kareem Yusuf: A sustentabilidade está definitivamente impulsionando
uma conversa sobre colaboração. Alcançar
Com a neutralidade carbónica até 2050, precisamos de líderes
competentes e com visão de futuro em todas as partes da sociedade
– tanto nos sistemas económicos como nos sistemas políticos.
Também precisamos de estruturas de dados novas, claras e acordadas
que representem facilmente a informação da mesma forma para
todos os utilizadores. Colaboração também significa colaboração
tecnológica, como padronizar formulários de dados e formatos de
troca de dados para que possam ser facilmente alinhados em
torno de um conjunto comum de objetivos. Vamos
veja também a colaboração em torno da nova base de IA
modelos, que muitas vezes são treinados em um amplo conjunto
de dados não rotulados. Esses modelos básicos de IA
pode, em última análise, ajudar na meta de emissões líquidas zero,
tornando mais fácil para as empresas aplicarem a IA em prol da
sustentabilidade.
Mudança nº 4: Da
transformação corporativa à
transformação comunitária
Muito progresso foi feito na última década em direção a um futuro com
emissões líquidas zero. O custo das energias renováveis
diminuiu significativamente. Previsões globais para
2
“Desenvolvimento de energia renovável em um mundo com emissões líquidas zero”, McKinsey, 28 de outubro de 2022.
4 Utilizar o digital e a IA para enfrentar o desafio de emissões líquidas zero do setor energético
a capacidade solar é 30 vezes maior do que era em 2021 – e
para a capacidade eólica, tanto onshore como offshore, é
quatro vezes maior.² Muitas mais empresas, incluindo
grandes empresas de petróleo e gás, estão no jogo. Agora,
estes líderes dizem que, à medida que as empresas de
energia transformam os seus negócios para ajudar a resolver
o desafio das emissões líquidas zero, as comunidades devem
transformar a forma como gerem a energia.
Greg Jackson: Estou incrivelmente otimista de que temos as
soluções disponíveis. Estou otimista de que existem muitas
empresas que têm liderança para impulsionar essa mudança
ou que foram fundadas para impulsionar essa mudança. O
que precisamos agora é abrir o sistema para que possamos
libertar o fluxo de capital e uma quantidade incrível de invenção
e inovação que irá
criar um sistema melhor e mais barato para os consumidores, com
ar mais limpo, e reduzir os impactos das alterações
climáticas. Em toda economia avançada, existe algum tipo de
rede que cobre um estado ou um conjunto de estados e
determina quais
as inovações são conectadas, quanto custará e como será
cobrado. Precisamos realmente de aumentar dramaticamente
as rotas para o mercado e criar mais contestabilidade, por
isso, se conseguirmos construir uma empresa e encontrar um
cliente para uma determinada forma de poder, poderemos trazê-
la ao mercado muito rapidamente e sermos capazes de
competir com modelos alternativos.
Eduardo Medina: Estou confiante de que o
O ecossistema energético desempenhará um papel
importante na prevenção do aumento da temperatura
climática, especialmente se capitalizarmos a eletrificação e
a oportunidade que o hidrogénio verde apresenta.
No entanto, a indústria da energia precisa de mudanças
regulamentares para acelerar a implantação de energias
renováveis e que acompanhem o ritmo das mudanças
necessárias para fornecer a rede eléctrica e permitir emissões
líquidas zero. A importância de apoiar a construção da rede
não pode ser exagerada. Nos também precisamos
uma vontade dos governos de alcançar zero emissões líquidas.
A energia eólica e solar já são a forma de geração de menor
custo e podem ajudar a reduzir as contas de energia das
famílias.
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Kareem Yusuf: Com tudo que estamos enfrentando— e nos unirmos, assim como já enfrentamos esses desafios
risco climático, mudanças ambientais, a pandemia antes.
– pode-se realmente argumentar que estes tempos são
únicos. Mas quando olhamos para trás na história e Estamos num momento crítico, onde o que fazemos
pensamos na revolução industrial ou noutras pandemias e agora moldará para sempre as nossas comunidades, o
epidemias, como a varíola e a poliomielite antes das nosso ambiente e o nosso planeta. Estamos fazendo
vacinações, estas são questões que moveram grandes apostas na IA para ajudar as comunidades a
resolver algumas das grandes crises que muitas
nações, governos, indústria e cidadãos para resolver os empresas enfrentam, incluindo a compreensão e o
problemas. Portanto, embora estes tempos sejam algo planejamento de mudanças nos padrões de
sem precedentes, podemos encontrar o nosso caminho a desastres naturais, na biodiversidade, no uso da terra e em outras questões geo
seguir na forma como comunicamos, colaboramos, processos.

Eduardo Medina é CEO da RES, Greg Jackson é fundador e CEO da Octopus Energy e Kareem Yusuf é vice-presidente sênior de
gerenciamento e crescimento de produtos da IBM.

Os comentários e opiniões expressos pelos entrevistados são de sua responsabilidade e não representam ou refletem as opiniões,
políticas ou posições da McKinsey & Company nem têm seu endosso.

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