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ENERGIA

Desafios da Transmissão
Panorama Setorial - Novembro/23

O presente documento tem como objetivo divulgar conteúdo relevante


sobre empresas brasileiras listadas na B3, fornecendo informações
fundamentais para a tomada de decisão dos investidores.
ENERGIA
Desafios da Transmissão
Panorama Setorial
BESST

No dia 26/09/2023, a ISA CTEEP fez o seu evento anual que foi transmitido online. A apresentação inicial contou com a
participação de Luiz Augusto Barroso, CEO da PSR - uma empresa fornecedora de serviços de consultoria no setor de
energia. Durante a sua fala, foram abordadas duas temáticas relevantes para os investidores: transição energética e
risco para o setor de transmissão devido ao mercado de geração distribuída - e é sobre isso que vamos conversar.

Transmissão e Transição: qual a relação?


Antes de começar, precisamos rever rapidamente um pouco sobre o IRA [Inflation Reduction Act - Lei de Redução da
Inflação], aprovado em 2022, nos Estados Unidos:

[1] É o investimento mais ambicioso em energia limpa dos Estados Unidos em toda a sua história: 370 bilhões de
dólares (quase 2 trilhões de reais);
[2] Inclui mais de 20 incentivos fiscais em programas e empréstimos para desencadear novos investimentos e
implantação de tecnologias de energia limpa, além de impulsionar a transição para energia limpa;
[3] Os projetos proporcionarão custos de energia mais baixos e empregos bem remunerados;
[4] Os objetivos são: reduzir as emissões, a partir do aumento da energia renovável e eletrificação da economia.

A Universidade de Princeton, diante das possíveis mudanças causadas por essa grande meta do governo Biden,
elaborou um estudo [“Electricity Transmission is Key to Unlock the Full Potential of the Inflation Reduction Act” - o link
estará no final desse texto] muito importante para nós, investidores que gostam de empresas brasileiras de energia, já
que o assunto é justamente sobre a posição estratégica da transmissão de energia nessa mudança de paradigma: a
transição energética.

Um dos principais pontos levantados neste estudo diz que, se os Estados Unidos mantiverem o fraco ritmo de
crescimento da rede de transmissão nos valores atuais [algo em torno de +1% ao ano], mais de 80% da redução de
emissão resultantes do IRA, em 2030, deixará de acontecer - ou seja, o principal objetivo seria um fracasso.

Vamos adiante: se o objetivo é eletrificar a economia, necessariamente haverá uma maior demanda por energia. Se
existir uma fraca integração entre geradoras que utilizam fontes renováveis com as regiões consumidoras, a opção
que resta é utilizar energia de fontes não renováveis - ou seja, uma alternativa não desejada de acordo com as
tendências atuais. Portanto, maiores investimentos em transmissão favorecem a melhor integração das diversas
fontes renováveis de geração, o que garante uma melhor estabilidade do sistema como um todo, além de diminuir
a necessidade das fontes não renováveis.

Resumo: Não há eletrificação da economia com transição energética sem transmissão. E, embora existam
diferenças entre Brasil e Estados Unidos, essa conclusão também se aplica ao nosso país.

Matriz Energética Matriz Elétrica Eletrificação da economia

Representa o conjunto de fontes Conjunto de fontes utilizadas apenas É a substituição de tecnologias que
utilizadas na geração de energia para a geração de energia elétrica. ainda funcionam baseados em
para atender a diferentes [A matriz elétrica é parte da matriz combustíveis fósseis por alternativas
demandas de um país. energética] que funcionam com eletricidade.

AGF Análise de Investimentos


Data de referência das informações: 11.11.2023
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O segundo tema - também abordado no estudo de Princeton - trata sobre um possível redirecionamento dos
investimentos do setor de transmissão para a geração distribuída, que está em franca expansão. As conclusões são
no sentido de que, na realidade, não existe uma concorrência entre essas duas áreas mas sim uma sinergia.

Geração Distribuída: o fim da Transmissão?


A geração distribuída quebrou a ideia de unidirecionalidade do fluxo de energia: agora é possível inserir potência à
rede com a geração pontual de energia. Parece algo trivial, mas as repercussões são inúmeras - basta observar como
outros países estão se adaptando com essa tecnologia.

Porém, se realmente ocorrer uma grande adesão da geração distribuída, poderíamos imaginar que:
- O consumidor final [nós, por exemplo] começará a gerar a própria energia;
- As empresas que distribuem energia perderão, portanto, seus clientes;
- As transmissoras, por sua vez, não precisarão mais ampliar as linhas de transmissão já que a energia vinda das
geradoras não terá mais destino final;
- Por fim, as empresas de geração ficarão inutilizadas.

A ideia parece até o “apocalipse do sistema de energia”. No entanto, essa hipótese está muito longe do que as
pesquisas - e, principalmente, a realidade - mostram. É fundamental entendermos alguns pontos de fragilidade
desse cenário pessimista, que foram descritos na carta da Squadra, referente ao 1º semestre de 2023, sobre
Geração Distribuída:

Uma casa com geração distribuída não é autossuficiente.


[1]
Não há energia exatamente no momento que consome, na quantidade necessária.

A geração distribuída é dependente da infraestrutura de transmissão e distribuição nos momentos em que


[2]
temos menor geração e/ou maior demanda. Você consumiria menos energia por que está chovendo?

Quanto mais clientes adotarem a geração distribuída, mais cara se torna a tarifa para os consumidores sem
geração própria. Afinal, a tarifa que pagamos todos os meses não é composta apenas do custo da energia
[3] consumida, mas de toda a rede [desde a empresa geradora, passando pela transmissora, e também a
distribuidora]. Assim, teríamos os mesmos custos de todo o sistema para ser pago por uma quantidade
menor de clientes [aqueles que não têm condição de colocar painéis solares em suas casas, por exemplo].

A alteração das regras em relação à compensação de energia [conhecida como net metering] foram
aprovadas em 2022. Esse movimento surgiu para tentar corrigir a distorção explicada no item [3]. Portanto, a
[4]
absurda vantagem econômica que existiu desde 2012, tende a se adequar para níveis mais baixos a partir de
agora - ou seja, terá uma procura menor, de consumidores mais específicos.

Sendo assim, muito daquilo que alguns investidores imaginam sobre a geração distribuída precisa ser revisado. Esse
tema sobre geração distribuída serve como mais um exemplo de que o setor de energia tem diversas características
específicas que tornam o seu entendimento uma tarefa mais difícil. De toda forma, é inegável que foi, é e continuará
sendo uma excelente opção para quem busca renda passiva com dividendos.

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Data de referência das informações: 11.11.2023
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Para finalizarmos, vamos falar sobre algumas perspectivas sobre as empresas transmissoras de energia.

De acordo com a EPE [Empresa de Pesquisa Energética], teremos um investimento no setor de transmissão na casa
de R$ 150 bilhões nos próximos 10 anos. Há três motivos principais que justificam essa projeção:

[1] Expansão da geração de fontes renováveis e da geração distribuída;


[2] Crescimento da demanda;
[3] Confiabilidade e Resiliência.

Para explicar um pouco sobre o último tópico, há a seguinte argumentação: “(o setor de) transmissão de energia serve
como fator de resiliência para garantir que o sistema funcione também durante momentos de estresse”. É claro que
estamos falando de exceções, mas a ideia é que, mesmo num cenário catastrófico, não falte energia. Por exemplo:
em um determinado momento com pouco vento, sem sol, chuva mais fraca combinados com um pico de consumo
maior.

Além disso, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas e ter uma estrutura com grande capacidade de “entregar”
aquilo que é ofertado até o local onde é necessário só reforça o valor estratégico do setor de transmissão.

Apenas como uma provocação saudável, deixo aqui dois exemplos que já estão se tornando realidade:

[1] Hidrogênio “verde”: até 2030, há uma previsão de investimento adicional de R$ 5 bilhões [além dos R$ 150 bilhões
citados];
[2] Geração eólica offshore [“geração de energia no mar”]: pense no mapa do Brasil e visualize a comunicação entre
suas regiões - de cima para baixo, de baixo para cima, da esquerda para a direita, e potencialmente da direita para a
esquerda. Ou seja, do litoral para o interior do país.

Fontes [para acessar, basta clicar nos títulos de cada um]:


- Electricity Transmission is Key to Unlock the Full Potential of the Inflation Reduction Act
- Matriz Energética e Matriz Elétrica - EPE
- Um guia para os investimentos da Lei de Redução da Inflação em energia limpa e ação climática [em inglês]
- Carta Squadra - 1º semestre de 2023

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Data de referência das informações: 11.11.2023
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AGF Análise de Investimentos


Data de referência das informações: 30.10.2023
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