Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desafios da Transmissão
Panorama Setorial - Novembro/23
No dia 26/09/2023, a ISA CTEEP fez o seu evento anual que foi transmitido online. A apresentação inicial contou com a
participação de Luiz Augusto Barroso, CEO da PSR - uma empresa fornecedora de serviços de consultoria no setor de
energia. Durante a sua fala, foram abordadas duas temáticas relevantes para os investidores: transição energética e
risco para o setor de transmissão devido ao mercado de geração distribuída - e é sobre isso que vamos conversar.
[1] É o investimento mais ambicioso em energia limpa dos Estados Unidos em toda a sua história: 370 bilhões de
dólares (quase 2 trilhões de reais);
[2] Inclui mais de 20 incentivos fiscais em programas e empréstimos para desencadear novos investimentos e
implantação de tecnologias de energia limpa, além de impulsionar a transição para energia limpa;
[3] Os projetos proporcionarão custos de energia mais baixos e empregos bem remunerados;
[4] Os objetivos são: reduzir as emissões, a partir do aumento da energia renovável e eletrificação da economia.
A Universidade de Princeton, diante das possíveis mudanças causadas por essa grande meta do governo Biden,
elaborou um estudo [“Electricity Transmission is Key to Unlock the Full Potential of the Inflation Reduction Act” - o link
estará no final desse texto] muito importante para nós, investidores que gostam de empresas brasileiras de energia, já
que o assunto é justamente sobre a posição estratégica da transmissão de energia nessa mudança de paradigma: a
transição energética.
Um dos principais pontos levantados neste estudo diz que, se os Estados Unidos mantiverem o fraco ritmo de
crescimento da rede de transmissão nos valores atuais [algo em torno de +1% ao ano], mais de 80% da redução de
emissão resultantes do IRA, em 2030, deixará de acontecer - ou seja, o principal objetivo seria um fracasso.
Vamos adiante: se o objetivo é eletrificar a economia, necessariamente haverá uma maior demanda por energia. Se
existir uma fraca integração entre geradoras que utilizam fontes renováveis com as regiões consumidoras, a opção
que resta é utilizar energia de fontes não renováveis - ou seja, uma alternativa não desejada de acordo com as
tendências atuais. Portanto, maiores investimentos em transmissão favorecem a melhor integração das diversas
fontes renováveis de geração, o que garante uma melhor estabilidade do sistema como um todo, além de diminuir
a necessidade das fontes não renováveis.
Resumo: Não há eletrificação da economia com transição energética sem transmissão. E, embora existam
diferenças entre Brasil e Estados Unidos, essa conclusão também se aplica ao nosso país.
Representa o conjunto de fontes Conjunto de fontes utilizadas apenas É a substituição de tecnologias que
utilizadas na geração de energia para a geração de energia elétrica. ainda funcionam baseados em
para atender a diferentes [A matriz elétrica é parte da matriz combustíveis fósseis por alternativas
demandas de um país. energética] que funcionam com eletricidade.
O segundo tema - também abordado no estudo de Princeton - trata sobre um possível redirecionamento dos
investimentos do setor de transmissão para a geração distribuída, que está em franca expansão. As conclusões são
no sentido de que, na realidade, não existe uma concorrência entre essas duas áreas mas sim uma sinergia.
Porém, se realmente ocorrer uma grande adesão da geração distribuída, poderíamos imaginar que:
- O consumidor final [nós, por exemplo] começará a gerar a própria energia;
- As empresas que distribuem energia perderão, portanto, seus clientes;
- As transmissoras, por sua vez, não precisarão mais ampliar as linhas de transmissão já que a energia vinda das
geradoras não terá mais destino final;
- Por fim, as empresas de geração ficarão inutilizadas.
A ideia parece até o “apocalipse do sistema de energia”. No entanto, essa hipótese está muito longe do que as
pesquisas - e, principalmente, a realidade - mostram. É fundamental entendermos alguns pontos de fragilidade
desse cenário pessimista, que foram descritos na carta da Squadra, referente ao 1º semestre de 2023, sobre
Geração Distribuída:
Quanto mais clientes adotarem a geração distribuída, mais cara se torna a tarifa para os consumidores sem
geração própria. Afinal, a tarifa que pagamos todos os meses não é composta apenas do custo da energia
[3] consumida, mas de toda a rede [desde a empresa geradora, passando pela transmissora, e também a
distribuidora]. Assim, teríamos os mesmos custos de todo o sistema para ser pago por uma quantidade
menor de clientes [aqueles que não têm condição de colocar painéis solares em suas casas, por exemplo].
A alteração das regras em relação à compensação de energia [conhecida como net metering] foram
aprovadas em 2022. Esse movimento surgiu para tentar corrigir a distorção explicada no item [3]. Portanto, a
[4]
absurda vantagem econômica que existiu desde 2012, tende a se adequar para níveis mais baixos a partir de
agora - ou seja, terá uma procura menor, de consumidores mais específicos.
Sendo assim, muito daquilo que alguns investidores imaginam sobre a geração distribuída precisa ser revisado. Esse
tema sobre geração distribuída serve como mais um exemplo de que o setor de energia tem diversas características
específicas que tornam o seu entendimento uma tarefa mais difícil. De toda forma, é inegável que foi, é e continuará
sendo uma excelente opção para quem busca renda passiva com dividendos.
Para finalizarmos, vamos falar sobre algumas perspectivas sobre as empresas transmissoras de energia.
De acordo com a EPE [Empresa de Pesquisa Energética], teremos um investimento no setor de transmissão na casa
de R$ 150 bilhões nos próximos 10 anos. Há três motivos principais que justificam essa projeção:
Para explicar um pouco sobre o último tópico, há a seguinte argumentação: “(o setor de) transmissão de energia serve
como fator de resiliência para garantir que o sistema funcione também durante momentos de estresse”. É claro que
estamos falando de exceções, mas a ideia é que, mesmo num cenário catastrófico, não falte energia. Por exemplo:
em um determinado momento com pouco vento, sem sol, chuva mais fraca combinados com um pico de consumo
maior.
Além disso, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas e ter uma estrutura com grande capacidade de “entregar”
aquilo que é ofertado até o local onde é necessário só reforça o valor estratégico do setor de transmissão.
Apenas como uma provocação saudável, deixo aqui dois exemplos que já estão se tornando realidade:
[1] Hidrogênio “verde”: até 2030, há uma previsão de investimento adicional de R$ 5 bilhões [além dos R$ 150 bilhões
citados];
[2] Geração eólica offshore [“geração de energia no mar”]: pense no mapa do Brasil e visualize a comunicação entre
suas regiões - de cima para baixo, de baixo para cima, da esquerda para a direita, e potencialmente da direita para a
esquerda. Ou seja, do litoral para o interior do país.
Este relatório foi elaborado e distribuído pelo AGF Análise de Investimentos para uso exclusivo de seus
assinantes com o objetivo de informar e auxiliar os investidores em suas decisões de investimento, não
constituindo oferta ou solicitação de compra ou venda de nenhum título ou valor mobiliário contido
neste relatório.
Todo o conteúdo, análise e elaboração deste relatório foi feito sob a ótica da Resolução CVM nº
20/2021, que regulamenta a atividade do analista de valores mobiliários e estabelece as diretrizes
necessárias para que este produto seja transparente e imparcial. Conforme o artigo 20, parágrafo único
da Resolução CVM nº 20/2021, o analista responsável, Bruno Ricardo de Oliveira, detentor da
certificação CNPI 3853, declara-se responsável pelas informações proferidas neste relatório de
análise.
De acordo com a exigência regulatória do artigo 21 previsto na Resolução CVM nº 20/2021, o analista de
valores mobiliários, responsável principal por este relatório, declara: (i) conclusões, caso contidas neste
relatório, refletem única e exclusivamente sua opinião pessoal sobre as companhias analisadas e seus
valores mobiliários e foram elaborados de forma independente e (ii) que as informações, opiniões,
estimativas e projeções contidas neste documento referem-se à data presente e estão sujeitas às
mudanças, não implicando necessariamente na obrigação de qualquer comunicação no sentido de
atualização ou revisão com respeito a tal mudança.
O analista responsável por este relatório, o faz respeitando às normas estabelecidas pela Comissão de
Valores Mobiliários na Resolução CVM 20/2021, Artigo 13 e pode ser detentor de alguns dos ativos
mobiliários mencionados neste relatório. Todas as informações utilizadas nesta publicação foram
baseadas em informações públicas e de fontes consideradas fidedignas.
Embora tenham sido tomadas todas as medidas razoáveis de diligência para verificar a qualidade e
veracidade das informações reportadas, o AGF Análise de Investimentos e seus analistas não se
responsabilizam por futuras e eventuais representações de informações contábeis e financeiras das
instituições.
Este relatório é destinado exclusivamente aos assinantes da Plataforma AGF. A sua reprodução ou
distribuição não autorizada, sob qualquer forma, no todo ou em parte, implicará em sanções cíveis e
criminais cabíveis, incluindo a obrigação de reparação de todas as perdas e danos causados, nos
termos da Lei nº 9.610/98 e de outras aplicáveis.