Você está na página 1de 10

CÁLCULO I

Equipe de Professores do Projeto Newton

Aula nº 25: A Integral de Riemann.

Objetivos da Aula
ˆ Denir a integral de Riemann;
ˆ Exibir o cálculo de algumas integrais utilizando a denição;
ˆ Apresentar funções que são denidas por integrais, em particular a função f (x) = ln x.

1 O Problema da Área
O Problema da Área foi apresentado na aula introdutória do curso de cálculo, mas se faz necessário
relembrarmos de algumas ideias importantes vistas nesse tema.
Problema 1. Como calcular a área da região limitada pela função y = 4, o eixo x e as retas x = 0 e x = 5?
A região cuja área queremos calcular é a seguinte:

Como podemos notar, a região é um retângulo de base 5 e altura 4. Logo, sua área é dada por
Área = base × altura = 5 × 4 = 20 unidades de área.
Problema 2. Como calcular a área da região limitada pela função y = x, o eixo x e as retas x = 0 e
x = 2?
A região cuja área queremos calcular é vista na gura abaixo:

1
Cálculo I Aula nº 25

Como é fácil ver, a região é um triângulo de base 2 e altura 2, logo, sua área é calculada por:
base × altura 2×2
Área = = = 2 unidades de área.
2 2
Quando as regiões são as guras planas cujas fórmulas de área são conhecidas, ca fácil determinar as
suas medidas de área. Contudo, o próximo problema nos ensina um modo de determinar a área de regiões
mais gerais, através da ferramenta matemática chamada INTEGRAL.
Problema 3. Como medir a área A delimitada pelo gráco da função f (x) = x2 , o eixo x e as retas x = 0
e x = 1?
A região cuja área queremos calcular é a seguinte:

Figura 1:

Vamos adotar a seguinte estratégia para resolver este problema:


1. Vamos dividir o intervalo [0, 1] em 4 subintervalos, cujo comprimento será:
1−0 1
∆x = = .
4 4

      
1 1 1 1 3 3
Teremos, então, os seguintes subintervalos: 0, , , , , e ,1 .
4 4 2 2 4 4
2. Vamos construir quatro retângulos de base ∆x e altura igual ao valor de f (x) nas extremidades à
esquerda dos subintervalos.
3. Calculamos a soma das quatro áreas destes retângulos, conforme gura a seguir.

Figura 2:

Equipe de Professores do Projeto Newton 2


Cálculo I Aula nº 25

Veja que  2  2  2
1 1 1 1 1 1 3 7
A = · (0)2 + · + · + · = = 0, 21875.
4 4 4 4 2 4 4 32

Na gura 2 vemos que a área é maior que 0,21875:

A > 0, 21785.

Podemos repetir esse procedimento com um número maior de retângulos. A gura 3 mostra o que
acontece quando sob a região A construímos oito retângulos com a mesma largura.

Figura 3:

Calculando a soma da área desses retângulos, temos que

A > 0, 2734375

Podemos obter estimativas melhores aumentando o número de retângulos. A tabela 1 (onde n é o


número de retângulos) mostra os resultados de cálculos semelhantes ao anterior, utilizando o Geogebra para
calcular as áreas.
n An
10 0,2850000

20 0,3087500

30 0,3168519

50 0,3234000

100 0,3283500

1000 0,3328335

Tabela 1:

Logo, utilizando os resultados obtidos na tabela acima, é possível conjecturarmos que a área é 31 .
Observação 1. Podemos substituir os extremos à esquerda pelos extremos à direita dos subintervalos no
procedimento realizado acima e obteremos o mesmo resultado.

2 Integral de Riemann
Consideremos uma função não negativa y = f (x) denida em um intervalo [a, b]. Chamamos de uma
partição do intervalo [a, b] ao conjunto de pontos x0 , x1 , ..., xn ∈ [a, b] tais que

a := x0 < x1 < x2 < ... < xn−1 < xn := b.

A gura abaixo ilustra essa denição.

Equipe de Professores do Projeto Newton 3


Cálculo I Aula nº 25

Figura 4:

Agora, note que os pontos da partição dividem o intervalo [a, b] em n subintervalos fechados

I1 = [x0 , x1 ], I2 = [x1 , x2 ], ..., In−1 = [xn−2 , xn−1 ], In = [xn−1 , xn ],

como mostra a gura abaixo,

Figura 5:

com os seus respectivos comprimentos ∆x1 , ∆x2 , ..., ∆xn dados por

∆x1 = x1 − x0 , ∆x2 = x2 − x1 , ..., ∆xi = xi − xi−1 , .... , ∆xn = xn − xn−1 .

Dessa forma, escolheremos em cada subintervalo um ponto

λ1 ∈ I1 , λ2 ∈ I2 , ... , λn ∈ In

e traçamos o valor de f (λi ), para cada i = 1, ..., n, assim como na gura seguinte.

Equipe de Professores do Projeto Newton 4


Cálculo I Aula nº 25

Figura 6:

Dessa forma, construiremos n retângulos cujas bases são o comprimento ∆xi de cada subintervalo e a
altura é o valor de f (λi ), para todo i = 1, 2, ..., n, como ilustrado abaixo.

Figura 7:

A soma da área desses retângulos é dada por


n
X
Sn = f (λ1 )∆x1 + f (λ2 )∆x2 + ... + f (λn )∆xn = f (λi )∆xi .
i=1

A soma Sn é chamada Soma de Riemann, para cada n, e é apenas uma aproximação para a área da
região que queremos. Logo, fazendo n → +∞, estaremos subdividindo o intervalo [a, b] cada vez mais e,
como mostrado anteriormente, conseguimos uma aproximação melhor para a área da região desejada. Logo,
a área A que queremos calcular é dada por
n
X
A = lim Sn = lim f (λi )∆xi .
n→+∞ n→+∞
i=1

Equipe de Professores do Projeto Newton 5


Cálculo I Aula nº 25

O número A é o limite das somas de Riemann e é chamado integral de Riemann da função f sobre o
intervalo [a, b]. Em nossos cálculos, esse limite será representado pelo símbolo:
Z b n
X
A= f (x) dx = lim f (λi )∆xi
a n→+∞
i=1

Se o limite à direita existir para todo x ∈ [a, b], e independente da escolha de λ1 , ..., λn , dizemos que
a função f é integrável em [a, b]. Essa denição nos propõe um problema: o de saber quando o limite das
somas de Riemann existe. Como essa é uma questão delicada e foge do objetivo de um curso de cálculo,
enunciaremos e utilizaremos o seguinte resultado:
Teorema 1. Toda função contínua em um intervalo fechado [a, b] é integrável neste intervalo.
Nos seguintes exemplos, onde buscamos apenas exemplicar, com alguns cálculos, a integral de funções
contínuas em um intervalo [a, b] utilizando a denição, admitiremos que os comprimentos dos subintervalos
são xos, ou seja,
b−a
∆x1 = ∆x2 = ... = ∆xn = ∆x = ,
n
e escolheremos o ponto λi como sendo o extremo esquerdo da partição. Desse modo, podemos sintetizar o
procedimento para calcular a integral de uma função contínua f , não negativa, em um intervalo [a, b], da
seguinte forma:
b−a
(1) Dividi-se o intervalo [a, b] em n subintervalos Ii , i = 1, ..., n, todos de comprimento igual a ∆x = .
n
Sejam a = x0 < x1 < x2 < ... < xn−1 < xn = b, os pontos que dividem o intervalo.
(2) Em cada um destes subintervalos escolhemos um ponto λi como sendo o extremo esquerdo de cada
subintervalo Ii
(3) Formamos então n retângulos com base ∆x e altura f (λi ), i = 1, 2, 3, ..., n.
(4) Calculamos a soma Sn das áreas dos retângulos:
n
X
Sn = f (λ1 ).∆x + f (λ2 ).∆x + ... + f (λn ).∆x = f (λi ).∆x.
i=1

(5) Calculamos o limite lim Sn


n→+∞

Antes de fazermos os exemplos, vamos listar algumas propriedades que envolvem somatórios:
Proposição 1. Sejam c, x1 , ..., xn , y1 , ..., yn ∈ R. Então, valem as seguintes propriedades:
n n
(a) xi ;
X X
cxi = c
i=1 i=1
n n n
(b) yi .
X X X
(xi + yi ) = xi +
i=1 i=1 i=1

Demonstração:

(a) De fato, note que


n
X
cxi = cx1 + cx2 + ... + cxn−1 + cxn
i=1
= c (x1 + x2 + ... + xn−1 + xn )
n
!
X
= c xi .
i=1

Equipe de Professores do Projeto Newton 6


Cálculo I Aula nº 25

(b) Observe que


n
X
(xi + yi ) = (x1 + y1 ) + (x2 + y2 ) + ... + (xn−1 + yn−1 ) + (xn + yn )
i=1
= (x1 + x2 + ... + xn−1 + xn ) + (y1 + y2 + ... + yn−1 + yn )
n n
! !
X X
= xi + yi .
i=1 i=1

Nos próximos exemplos também utilizaremos algumas fórmulas que serão apenas apresentadas, pois suas
demonstrações fogem do objetivo do nosso curso. Elas são:

n
n(n + 1)
(1)
X
i = ;
2
i=1
n
n(n + 1)(2n + 1)
(2)
X
i2 = ;
6
i=1
n
n(n + 1) 2
 
(3)
X
i3 = .
2
i=1

Vejamos alguns exemplos de cálculo de integral pela denição.


Z 7
Exemplo 1. Calcule c dx, em que c ∈ R.
3

Solução: Primeiramente, calculamos a soma de Riemann da função no intervalo descrito, que é dada por
n   n   n
X 7−3 X 4 4X
f (λi ) = c =c 1.
n n n
i=1 i=1 i=1

Agora note que


n
X
1 + ... + 1} = n.
1 = |1 + 1 + {z
i=1 n vezes
Então,
n  
X 7−3 4c
f (λi ) = n = 4c.
n n

i=1
Portanto, Z 7
c dx = lim 4c = 4c.
3 n→+∞


Z 3
Exemplo 2. Calcule x dx.
1

Solução: Primeiramente, dividiremos o intervalo [1, 3] em n subintervalos de comprimentos iguais, ou seja,


2
∆x = . Logo, temos que
n
x0 = 1, x1 = 1 + ∆x, x2 = 1 + 2∆x, ..., xn−1 = 1 + (n − 1)∆x, xn = 3.

Logo, como λi = xi−1 , i = 1, ..., n, temos que


2 2
λ1 = 1, λ2 = 1 + , ..., λn = 1 + (n − 1) .
n n

Equipe de Professores do Projeto Newton 7


Cálculo I Aula nº 25

Logo, as somas de Riemann são dadas por


n n
X X 2
f (λi )∆x = λi
n
i=1 i=1
n
2X
= λi
n
i=1
 
2 2 2 2
= 1 + 1 + + 1 + 2 · + ... + 1 + (n − 1)
n n n n
 
2 2 2 2 2
= n + + 2 · + 3 · + ... + (n − 1)
n n n n n
 
2 2 2 2 2 2
= ·n+ + 2 · + 3 · + ... + (n − 1)
n n n n n n
4
= 2 + 2 (1 + 2 + 3 + ... + (n − 1)) .
n
Pela fórmula (1), temos que
n(n + 1) n2 n
1 + 2 + ... + n = = + .
2 2 2
Logo,
n2 n n2 n n(n − 1)
1 + 2 + 3 + ... + (n − 1) = + −n= − = .
2 2 2 2 2
Logo, temos que
n
X 4
f (λi )∆x = 2 + (1 + 2 + 3 + ... + (n − 1))
n2
i=1
4 n(n − 1)
= 2+
n2 2
2(n − 1)
= 2+
n
Calculando o limite da soma de Riemann, temos que
     
2(n − 1) n−1 1
lim 2+ = lim 2 + 2 lim = 2 + 2 lim 1− = 2 + 2 = 4.
n→+∞ n n→+∞ n→+∞ n n→+∞ n

Z 1
Exemplo 3. Calcule x2 dx.
0

Solução: Utilizando o procedimento prático, dividimos o intervalo [0, 1] em n subintervalos de comprimento


1−0 1
∆x = = .
n n
Note que essa partição é dada por
x0 = 0,
x1 = 0 + ∆x = ∆x,
x2 = 0 + 2∆x = 2∆x
.. .. ..
. . .
xi = i∆x
.. .. ..
. . .
xn−1 = (n − 1)∆x
xn = 1.

Equipe de Professores do Projeto Newton 8


Cálculo I Aula nº 25

Como λi = xi−1 , temos que

λ1 = 0
λ2 = ∆x
λ3 = 2∆x
.. .. ..
. . .
λi = (i − 1)∆x
.. .. ..
. . .
λn = (n − 1)∆x.

Desse modo, as somas de Riemann são dadas por


n
X
Sn = f (λi )∆x
i=1
n
X
= ∆x f (λi )
i=1
= ∆x 0 + 12 (∆x)2 + 22 (∆x)2 + 32 (∆x)2 + ... + (n − 1)2 (∆x)2
2


= (∆x)3 12 + 22 + 32 + ... + (n − 1)2 .




Agora, note que pela fórmula (2), temos que


n(n + 1)(2n + 1)
12 + 22 + 32 + ... + (n − 1)2 + n2 =
6
n 3 n 2 n
= + + .
3 2 6
Logo,
n3 n2 n
12 + 22 + 32 + ... + (n − 1)2 = + + − n2
3 2 6
n3 n2 n
= − +
3 2 6
3 2
2n − 3n + n
= .
6
Desse modo, temos que
2n3 − 3n2 + n
Sn = (∆x)3
6
2n3 − 3n2 + n
= .
6n3
Logo,
2n3 − 3n2 + n
lim Sn = lim
n→+∞ n→+∞ 6n3
n3 2 − n3 + n12

= lim
n→+∞ 6n3
2
=
6
1
= .
3


Equipe de Professores do Projeto Newton 9


Cálculo I Aula nº 25

Por m, exibiremos uma lista de propriedades da integral de Riemann. Omitiremos a demonstração, por
acreditar que foge ao objetivo de um curso de cálculo. São elas:
Teorema 2. Sejam f e g uma função contínua em [a, b] e c uma constante real.
Z a Z b
1. f (x) dx = − f (x) dx;
b a
Z a
2. f (x) dx = 0;
a
Z b
3. c dx = c(b − a);
a
Z b Z b Z b
4. [f (x) + g(x)] dx = f (x) dx + g(x) dx;
a a a
Z b Z b
5. c.f (x) dx = c. f (x) dx;
a a
Z b Z c Z b
6. f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, com c ∈ (a, b);
a a c
Z b
7. Se f (x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b], então f (x) dx ≥ 0;
a
Z b Z b
8. Se f (x) ≥ g(x), então f (x) dx ≥ g(x) dx.
a a

Resumo
Faça um resumo dos principais resultados vistos nesta aula.

Aprofundando o conteúdo
Leia mais sobre o conteúdo desta aula na seção 5.2 do livro texto.

Sugestão de exercícios
Resolva os exercícios da seção 5.2 do livro texto.

Equipe de Professores do Projeto Newton 10

Você também pode gostar