Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nathalia Cardoso1
Adrielly Aparecida Garcias2
DOI: 10.25110/akropolis.v28i1.7135
to trauma, the Behavior Analysis can bring great como um padrão de relacionamento violento
contributions to decreasing the symptoms. In addition, envolvendo ações ou omissões por alguém que
certain proposals were addressed to work with this possua laços significativos com a vítima, podendo
demand in the behavioral clinical context, such as the ser consanguíneos ou afetivos (HABIGZANG,
use of Systematic Desensitization, Play Therapy, and
CAMINHA, 2004 apud PATIAS et al., 2016).
Acceptance and Commitment Therapy (ACT), which
contribute to the acquisition of repertoires to enable
3
Essa violência é produzida frequentemente
the children and adolescents to face the aversive tendo como justificativa educar e corrigir erros
situation through the development of new skills. de comportamentos de crianças e adolescentes
Keywords: Intra-family Violence; Post-Traumatic (BRASIL, 2006).
Stress Disorder; Children and Adolescents; Behavior De acordo com Weber (2005), o uso de
Analysis; Interventions. violência como justificativa de educar crianças
está relacionada com as práticas parentais
INTRODUÇÃO que os pais utilizam para a educação de seus
filhos, sendo essas, os métodos utilizados
A violência é um evento que pode ser para disciplinar comportamentos específicos
expressado de variadas formas e caracterizado da criança. Concomitantemente com as
pela utilização de força física ou poder contra os práticas existem os estilos parentais, que são
indivíduos, grupos ou comunidades, resultando os comportamentos e atitudes que os pais
em sofrimento e dano psicológico. Dentre as têm na hora de disciplinar seus filhos. Dentre
formas de manifestação, está a violência física, os estilos parentais que produzem maior risco
sexual, psicológica, verbal e abandono ou ao desenvolvimento psicossocial da criança,
negligência (MASCARENHAS et al., 2013). estão o autoritário e o negligente. Pais que
Quando a violência é direcionada à negligenciam cuidados à criança ou que
criança, verifica-se a ocorrência de uma grave adotam métodos punitivos como maneira de
violação dos direitos humanos, uma vez que controle do comportamento, contribuem para o
tais ações ferem os princípios de liberdade, desenvolvimento de psicopatologias, quadros
dignidade e respeito, e produzem interferências de ansiedade, fobias, etc (WEBER, 2005).
severas no desenvolvimento humano saudável Mrug & Windle (2010)4 apud Patias et al. (2014)
do infante. Muitos estudos mostram os prejuízos afirmam que uma das consequências a curto,
que a violência intrafamiliar pode causar nessa médio e longo prazo que podem ser produzidas
importante fase do desenvolvimento do ser através das práticas violentas familiares, seria
humano (PESCE, 2008). o desenvolvimento do Transtorno do Estresse
De acordo com dados da OMS, no Pós-Traumático (TEPT)
Brasil, a gravidade desse fenômeno pode Dutra et al. (2013), conceituam o
ser averiguada pelas 21.199 notificações de Transtorno de Estresse Pós-Traumático como
violência que envolvem crianças com faixa o resultado de um episódio com grandes
etária entre zero a nove anos em 2009 e 2010. obstáculos emocionais, comportamentais e
Dessas notificações verificou-se que 35,6% físicos que podem estar relacionados a algum
das crianças foram acometidas por práticas de tipo de violência (DSM-V, 2013). Nesse quadro, o
negligência, 35,6% sofreram violência sexual, sujeito ao passar por uma experiência traumática
e 32,8% violência física (APOSTÓLICO et al., estressora, passa a alterar a percepção sobre si
2017). Números alarmantes têm exibido que próprio e a relacionar-se de forma diferente com
grande parte das práticas de violência são o ambiente externo. A recuperação e melhora
acometidas pelos próprios familiares. Dados do do quadro está fortemente ligada à intensidade
relatório da Unicef denominado “A Familiar Face: da experiência estressora vivida (SUSIN et al.,
Violence in the lives of children and adolescents” 2014).
(Uma face familiar: Violência nas vidas das Ao contrário dos demais transtornos
crianças e adolescentes), exibiram que três
quartos das crianças de 2 a 4 anos do mundo 3
HABIGZANG, L. F.; CAMINHA, R. M. Abuso sexual contra
(i.e, aproximadamente 300 milhões), sofrem crianças e adolescentes: Conceituação e intervenção clínica.
São Paulo, SP: Casa do Psicólogo, 2004. 174p.
agressão psicológica e/ou punição física dos 4
MRUG, S.; WINDLE, M. Prospective effects of violence exposure
seus cuidadores (ESTADOS UNIDOS, 2017). across multiple contexts on early adolescents’ internalizing and
A violência intrafamiliar pode ser definida externalizing problems. Journal of Child Psychology and
Psychiatry, 51(8), 953-961, 2010.
pouco limite e pouco afeto. Pais que adotam TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAU-
práticas negligentes não se comprometem MÁTICO E A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR
com seu papel na vida do filho, demonstrando
não ter tempo e nem interesse pela educação. O transtorno de estresse pós-traumático,
Os efeitos que esse estilo pode produzir são de acordo com a Associação de Psiquiatria
vários como por exemplo, comportamentos Americana (APA) (2014), pertence ao grupo dos
antissociais, depressão, estresse, problemas transtornos de ansiedade que, segundo o DSM-
afetivos e comportamentais, e inclusive atraso 5, tem as “características de medo e ansiedade
no desenvolvimento (WEBER, 2005). excessivos e perturbações comportamentais
O estilo permissivo é definido pela relacionados. Medo é a resposta emocional
utilização de muito afeto na educação com a uma ameaça iminente real ou percebida,
os filhos e pouco limite, nesse caso, os pais enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça
permitem basicamente tudo ao filho, deixando a futura” (p. 230, 2013), em que existe a exposição
autoridade em segundo plano. Em decorrência a um evento traumático extremo.
desse estilo parental, as crianças podem Em relação ao diagnóstico de TEPT,
apresentar comportamentos antissociais e baixo a APA (American Psychiatric Association)
desempenho escolar, não sabendo lidar com estabeleceu critérios para realizá-lo, entre eles
frustações e achando que não são competentes estão: a) revivência do evento traumático; b)
para realizar as coisas sozinhas (WEBER, 2012). esquiva persistente aos estímulos que lembrem
Quando são utilizadas práticas o evento e c) excitabilidade aumentada. Quanto
coercitivas, enfatiza-se a aplicação de poder dos a revivência do evento traumático, o manual leva
pais em relação às crianças, incluindo punição, em consideração as lembranças relacionadas ao
privação e ameaças como forma de adequação trauma que podem ser acompanhadas de medo
de comportamentos. (HOFFMAN, 1975 apud e sonhos que produzem aflição e flashbacks,
CECCONELLO et al., 2003). fazendo com que a pessoa se perceba
Dessa forma, coerção significa a revivendo o trauma. Na esquiva persistente
utilização de contingências de reforço negativo e aos estímulos que lembrem o evento, os
punição para controlar as pessoas, isto é, controle indivíduos tendem a evitar alguns pensamentos,
aversivo. A autora cita que o emprego da coerção sentimentos e sensações, semelhanças,
é a forma mais utilizada pelas pessoas para pessoas, cores que se assemelham ao episódio
controlarem-se em todas as formas de interação. traumático. A excitabilidade aumentada, refere-
Quando empregadas práticas coercitivas dentro se à apresentação de dificuldades para dormir,
das relações familiares por exemplo, a criança episódios de raiva e falta de concentração.
aprende a utilizar-se desse método em sua Porém, para que um indivíduo seja diagnosticado
vida, adotando comportamentos agressivos em com TEPT, essas manifestações devem estar
suas outras relações, como forma de resolver acontecendo por um período superior a um
conflitos e interações aversivas (SIDMAN, 1995 mês e trazendo dificuldades à vida do sujeito
apud DUPONT, 2007). Além disso, as ações (SBARDELLOTO et al., 2011).
violentas a que a criança é submetida, na maioria Ao referir-se a infância, o diagnóstico
das vezes, eliciam sentimentos negativos como em crianças apresenta algumas características
medo e ansiedade. (GRUSEC, LYTTON, 1988 específicas, como por exemplo, após a
apud CECCONELLO et al., 2003). exposição a um acontecimento traumático,
Sendo assim, é possível perceber o a criança pode apresentar sentimentos de
impacto que as práticas parentais têm sobre medo, horror, comportamentos agitados e
as relações entre pais e filhos, e como o uso desorganizados (CUNHA e BORGES, 2013).
de modelos coercitivos favorecem a violência. Para Ximenes (2009), para identificar o TEPT
Verifica-se, ainda, que essas condições tendem em crianças é necessária a observação do
a elevar a chance de a criança desenvolver seu contexto familiar, o que corrobora para o
sintomas relacionados ao Transtorno de Estresse desencadeamento do TEPT.
Pós-Traumático (CUNHA e BORGES, 2013). Para Bremner, (1999); Glaser, (2000);
Perry, (1997) apud Borges e Dell’Aglio (2008) no
que se refere aos sintomas do TEPT em crianças
pode-se observar déficits na aprendizagem
verbal, atenção e memória. Percebe-se também, acontecem de maneiras distintas para cada
que a ausência de estrutura familiar, baixo nível pessoa, já que há variação de exposição ao
intelectual, e evento traumático muito severo evento, bem como a quantidade de vezes em
corroboram para a identificação do TEPT que a violência acontece.
(BUCKLEY, BLANCHARD, NEILL, 2000; OZER, Segundo Banaco et al. (2010),
WEISS, 2004 apud BORGES e DELL’AGLIO, “trauma” para a análise do comportamento é
2008). Há ainda dados que afirmam que a compreendido de uma maneira funcional, ou
exposição de crianças a situações violentas seja, se investiga os fatores que originaram o
é grande e, quando entrelaçada a outras comportamento de traumatizar-se, bem como,
vulnerabilidades sociais, pode deixar a criança os que provocam e mantém os comportamentos
mais sensível para lidar com circunstâncias de fuga, esquiva, medo, ansiedade entre outros
estressantes futuras. eliciados por práticas coercitivas.
Em uma pesquisa realizada no município Calais, (2003); Knapp & Caminha,
do Rio de Janeiro com crianças e adolescentes (2003), apud Bezerra e Araripe (2012) salientam
que foram expostos a alguma forma de violência, que o transtorno de estresse Pós-traumático
a autora obteve como resultado a presença de (TEPT) pode ser investigado e estudado a partir
TEPT em cerca de 6,5 % das crianças de 6 a de relações operantes-respondentes, sendo
13 anos, 9,5% em crianças de 9 a 15 anos e que os respondentes correspondem a estímulos
7,5% em adolescentes de 13 a 19 anos. A partir incondicionados, que são eventos, em suma,
desses dados, observou-se que crianças que traumáticos como violências físicas, psicológicas
são expostas a violência têm grande chance de e/ou situações de morte que geram respostas
apresentar o TEPT posteriormente. (XIMENES, incondicionadas e emocionais como medo,
2011). dor, tristeza, ansiedade. Como consequência,
SENA et al. (2013), relatam que o estímulos que antes eram neutros, são
desencadeamento do TEPT ocorre também emparelhados ao estímulo incondicionado
por meio da violência sexual, a qual geralmente tornando-se um estímulo condicionado que
ocorre na infância e na adolescência, podendo eliciará respostas condicionadas. (ZAMIGNANI,
ocasionar mudanças comportamentais pelo fato BANACO, 2004). Sendo assim, é a partir
de ser o período em que o indivíduo está se da generalização que os estímulos neutros
desenvolvendo. As manifestações psicológicas presentes no local da violência se tornam
mais habituais são distúrbios alimentares, de condicionados a uma situação aversiva que
sono, isolamento, fuga, entre outros. No entanto, produz respostas emocionais.
os autores salientam que os indícios do TEPT
cliente não se encontra mais exposto ao evento instrumento de intervenção do clínico analítico-
estressor (CAMINHA et al., 2005). comportamental, e irá embasar todo o processo
Quando ressalta a importância da interventivo. De acordo com a autora, “a análise
criança não se encontrar mais diante do funcional promove a identificação de relações de
evento estressor, não necessariamente refere- dependência entre eventos, ou de regularidades
se na retirada da criança da família, mas sim, na relação entre variáveis dependentes e
a garantia de que a violência sofrida não faça independentes” (CHIESA, 1994, p. 233 apud
mais parte de seu cotidiano. Portanto, a autora NENO, 2003, p. 152).
Mello (s/d), afirma em seu artigo que devido a A autora cita que a análise funcional
violação dos direitos da criança que podem é de extrema importância para a realização
ocorrer no ambiente familiar, seja por meio da de um plano explicativo dentro da análise
negligencia, da violência e entre outros fatores, do comportamento sobre uma determinada
o acolhimento institucional é visto como uma temática (MOORE, 1984 apud NENO, 2003).
alternativa, considerando que romper vínculos É através dela que o analista comportamental,
familiares pode produzir efeitos negativos, tanto analisa os processos de condicionamento
na criança como na família, essa medida deve históricos aprendidos, reestabelece relações
ser tomada apenas em casos de grave risco, comportamentais e, a partir disso, realiza um
tanto físico como psíquico. planejamento de intervenção (HAYNES e
De acordo com Calais et al. (2002), O’BRIEN, 1990 apud NENO, 2003).
as vítimas de TEPT apresentam reações de Ainda nesse sentido, Serretti e Costa-
medo e ansiedade diante do evento traumático Junior (2010), citam que quaisquer que
vivenciado. Segundo as explicações descritas sejam os repertórios comportamentais dos
no tópico anterior, as vítimas passam a ter as indivíduos, são desenvolvidos pelo processo de
mesmas respostas emocionais, diante dos aprendizagem em intermédio com o ambiente
estímulos que foram pareados a situação em que o sujeito está inserido. Dessa maneira,
aversiva, em decorrência do processo de cabe ao psicoterapeuta analisar o contexto que
condicionamento respondente. Dessa forma, permeia a vida da criança e, por meio de uma
por mais que os outros estímulos, associados análise funcional, planejar sua intervenção,
à situação de violência, não representem considerando que os déficits e/ou excessos
necessariamente uma condição de perigo, risco comportamentais identificados são decorrentes
ou ameaça à vítima, a mesma apresenta reações do meio em que a criança se desenvolveu.
emocionais diante destes estímulos, em função Quando relacionado a crianças vítimas
de terem sido associados à cena da agressão ou de violência, Borges e Dell’Aglio (2008), afirmam
à vivência da violência. que essas, tendem a apresentar após o episódio
Sendo assim, esse processo de violento, déficits comportamentais, como por
condicionamento pode representar um intenso exemplo, a falta de habilidades sociais, as quais
sofrimento no cotidiano da vida da vítima, uma o terapeuta pode auxiliar com o fortalecimento
vez que ao longo do dia, ela pode deparar-se desse repertório, que de acordo com o autor,
com vários destes estímulos relacionados ao serve como uma condição protetiva futura para
trauma. Portanto, uma das tarefas do analista do essa criança. Considerando que após o ato
comportamento diante dessas situações, é a de de agressão, ela tende a se tornar passiva em
manejar intervenções que desfaçam a conexão relação ao agressor como uma forma de evitar
entre tais reações emocionais, e os estímulos a punição.
condicionados que foram pareados ao evento Ainda em relação ao assunto, na
traumático (BOUDEWYNS; HYER, 1990 apud perspectiva da terapia analítico-comportamental,
CALAIS et al., 2002). Todavia, para que isto Bezerra, Araripe (s/p, 2012), afirmam:
possa ser realizado, o terapeuta precisa fazer
uma análise de todas as variáveis envolvidas no A importância de trabalhar a modelagem e
quadro do cliente, ou seja, uma análise funcional o reforçamento diferencial de repertórios
das contingências operantes no ambiente onde de enfrentamento da situação aversiva,
o sujeito está inserido (NENO, 2003). uma vez que a vítima, na grande maioria
das vezes, apresenta respostas de fuga-
Segundo Neno (2003), a Análise
esquiva diante dessas contingências. O
funcional, é considerada o principal terapeuta, auxilia a vítima a desenvolver
uma discriminação mais adequada das a estímulos aversivos, podendo ser por meio da
contingências, e a questionar as auto imaginação ou ao vivo, após relaxamento. O
regras ligadas aos comportamentos de terapeuta realiza uma escala de ordem crescente
evitação. de intensidade dos estímulos aversivos
(relacionados ao trauma), posteriormente, faz-
Para auxiliar nesse processo, o terapeuta
se o treinamento de relaxamento, e após isso
pode utilizar a Ludoterapia como ferramenta
solicita-se que o cliente imagine situações que
interventiva para crianças, que consiste na
provoquem reações, partindo do nível mais
utilização de brinquedos e jogos, por meio dos
baixo da escala até o mais alto, com o objetivo
quais a criança seja capaz de projetar, durante
de amenizar o sofrimento (PEREIRA, 2012). Em
as atividades, o que está sentindo e vivendo em
casos de eventos traumáticos, muitas vezes, os
suas relações. Entre as brincadeiras que podem
participantes apresentam ansiedade até mesmo
ser usadas, estão os desenhos, fantoches,
em revelar o conteúdo a respeito do trauma,
teatros, pinturas, massas, música, entre outros
manifestando reações emocionais apenas ao
instrumentos que o psicólogo emprega com
pensar sobre ele. Nesses casos o terapeuta
o intuito de que ela exemplifique o episódio
pode auxiliar o cliente a dessensibilizar o
traumático (ASSIS et al., 2007).
evento, introduzindo de forma gradual o tema
As formas de intervenção direcionadas
em sessões, para que ele consiga, de forma
às crianças devem levar em consideração
mais amena, revelar questões relacionadas ao
as suas necessidades, e cabe ao terapeuta
trauma (PADILHA E GOMIDE, 2004).
compreender como a brincadeira pode ser
Padilha e Gomide (2004), descreveram
essencial para relação terapêutica e a influência
um processo terapêutico em grupo para
desse ambiente na aquisição e na manutenção
adolescentes vítimas de abuso sexual que
de comportamentos do sujeito. Dessa maneira,
apresentavam severas sequelas emocionais
de acordo com Gadelha e Menezes (2004), a
provenientes dos episódios de violências a que
utilização dessas atividades na prática clínica é
foram submetidos. O objetivo desse estudo era
eficaz no sentido de estabelecimento de vínculo
diminuir as sequelas do abuso, e melhorar o
com a criança, mas também na identificação das
repertório de enfrentamento desses pacientes.
regras que administram seus comportamentos.
Um dos procedimentos deste estudo foi o
Além de permitir que o terapeuta obtenha
de promover a dessensibilização do evento
informações sobre a relação da criança com
traumático. As autoras realizaram 15 sessões,
as pessoas com quem convive e possibilitar o
e dividiram o tratamento em 4 fases: (1)
desenvolvimento de habilidades sociais e auxílio
dessensibilizar para facilitar a auto exposição,
na resolução de conflitos.
(2) revelação e exposição de sentimentos;
Diante disso, a terapia comportamental
(3) aceitação – discutir a aceitação do abuso
infantil tem se mostrado uma área que beneficia
sexual e o lugar na história da vida da pessoa;
o tratamento psicoterápico, em que os jogos
(4) facilitar a aprendizagem de comportamentos
e as brincadeiras promovem a aquisição de
de autoproteção que impeçam a revitimização.
repertórios que capacitem a criança a enfrentar a
Os resultados desse estudo mostraram que as
situação aversiva por meio do desenvolvimento
exposições graduais feitas em grupo ajudaram as
de novas habilidades sociais. Nesse sentido,
participantes a revelarem o trauma a que haviam
a criança é capaz de participar de forma ativa
sido expostas, expressarem os sentimentos
no seu processo terapêutico, e através dessas
relacionados a ele, e aceitarem esses eventos
atividades, ela pode expressar seus sentimentos,
como existentes em sua história.
angústias e medos, sendo as brincadeiras uma
Ainda sobre desenvolver repertórios de
forma alternativa ao relato verbal (GADELHA &
enfrentamento, o autor Lehay (2011), terapeuta
MENEZES, 2004).
cognitivo-comportamental, ao mencionar
Além da Ludoterapia, outra técnica
possíveis estratégias clínicas para trabalhar
comportamental que também pode ser utilizada
com o sujeito que encontra-se em uma condição
no tratamento do TEPT, é a dessensibilização
de Estresse Pós-Traumático, sugere como
sistemática que visa a trabalhar com queixas
forma de intervenção a criação de um livro de
relacionadas ao condicionamento respondente.
enfrentamento, o qual tem a função de auxiliar
Esta técnica consiste em uma série de exposições
o sujeito a enfrentar seus pensamentos,
sentimentos e situações que sejam parecidas não mais do possível evento traumático (COSTA,
com o evento traumático, de maneira que essas 2012).
situações não sejam mais tão aversivas. Como Diante disso, pode-se perceber que,
primeiro ponto, o autor cita práticas como “dar uma criança que passa por uma condição
espaço a sua ansiedade”, ele propõe que o traumática na família, pode sofrer efeitos em
sujeito permita-se a sentir a ansiedade e possa seu repertório comportamental, como por
compreender que ela é sentimento passageiro exemplo, respondentes de medo, ansiedade,
assim como o medo e a tristeza. comportamentos desorganizados, fuga e
Em uma perspectiva analítico- esquiva de situações que foram pareadas ao
comportamental, seria possível relacionar essa evento traumático, falta de habilidades sociais,
intervenção mencionada por Leahy (2011) dificuldade em enfrentar situações, colocar
dentro do contexto da ACT (Terapia de Aceitação limites nas relações, entre outros. Com isso,
e Compromisso), a partir do uso da aceitação, o terapeuta analítico comportamental, em
que tem como premissa aceitar eventos que sua prática clínica, pode utilizar no processo
aconteceram tanto no passado como no interventivo, ferramentas que auxiliem nesse
presente de maneira a não julgá-los como certo sentido, como por exemplo a Ludoterapia,
ou errado, o que “significa tratar sentimentos Dessensibilização Sistemática e a ACT citadas
como sentimentos; [. . .] pensamentos como anteriormente, todas têm como finalidade,
pensamentos; [. . .] sensações como sensações” de maneira geral, desenvolver e fortalecer
(COSTA, 2012 p. 122 apud HAYES, 2004, p. 656). repertórios comportamentais de forma mais
Para além da aceitação está também a escolha, funcional na vida dessa criança, considerando
que tem por intuito trabalhar com o que se pode que estes foram enfraquecidos pelo episódio de
fazer no presente já que eventos passados não violência.
podem ser alterados, e por último, a ação que é
o compromisso com as possíveis mudanças que CONSIDERAÇÕES FINAIS
serão realizadas para ir de encontro com seus
princípios (COSTA, 2012). Levando em consideração os aspectos
Diante do exposto sobre a ACT, Chagas apresentados anteriormente, é possível
et al. (2013), relataram uma experiência observar que a violência é um evento que pode
interventiva em grupo, baseada nessa técnica, ser determinado por vários fatores e ocasionar
com caráter exploratório descritivo realizada com danos físicos e psicológicos em suas vítimas.
pacientes que tinham como queixa principal a Entre todas as formas de violência está a
ansiedade. A intervenção foi conduzida por duas intrafamiliar, a qual é determinada pelos impasses
psicólogas e três alunas do curso de Psicologia que ocorrem dentro da família, entre membros
como observadoras. Seis pessoas participaram que possuem laços consanguíneos ou afetivos.
do grupo, sendo 13 sessões nas quais buscou- Quando relacionada à criança, percebeu-se
se enfatizar questões relacionadas a ansiedade que a prática violenta pode ser psicológica,
como uma resposta, a improbabilidade de sexual, negligência e física, e justifica-se muitas
controlar eventos privados, o efeito da esquiva vezes como uma maneira de educá-las, a qual
a situações consideradas aversivas, a aceitação dependendo da relação entre agressor e vítima,
e o enfrentamento. A partir da aplicação dos idade, vulnerabilidade e gravidade, pode ser
princípios da ACT no grupo, os pacientes decisivo para um possível desencadeamento de
relataram ter passado a aceitar os sentimentos Transtornos Ansiosos, entre eles, o Transtorno
que determinadas situações produzem, bem de Estresse Pós-Traumático.
como, conseguiram realizar o enfrentamento a Um analista do comportamento
situações que antes eram evitadas. considerar a TEPT como um quadro ansioso que
Dessa forma, a principal finalidade da é gerado por contingências coercitivas, nesse
ACT é orientar o sujeito a caminhar em direção caso, que estão presentes no contexto familiar
aos seus valores pessoais, de forma a diminuir que a criança vive. O desencadeamento desse
seus comportamentos de fuga-esquiva, e transtorno pode afetar direta ou indiretamente o
modelar habilidades de enfrentamento diante desenvolvimento da criança, pois ela se constrói
das condições aversivas, ajudando o cliente a a partir de suas relações. Entre os efeitos de
ficar sob controle das consequências futuras e tais práticas está o atraso cognitivo, a falta de