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XV JORNADA DE SAÚDE MENTAL

Ponta Grossa, 25 a 28 de maio de 2022

O PERDÃO INTERPESSOAL E A RELAÇÃO ENTRE RESILIÊNCIA,


EMPATIA E MÁGOA

Giordana Mendes de Souza1


Kelli de Fátima da Silva Custódio1
Samara Crizante Pozniak1
Orientadora: Taline Ienk

Resumo: O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo descrever e apresentar o perdão
interpessoal, abordando os principais fatores que contribuem para a eficácia do perdão, entre
eles a resiliência, a empatia e a intensidade da mágoa.

Palavras-chave: Perdão interpessoal, resiliência, empatia, mágoa.

Introdução
O perdão interpessoal de acordo com Robert D. Enright pode ser definido
como, uma atitude moral na qual uma pessoa considera abdicar do direito ao
ressentimento, julgamentos, afetos e comportamentos negativos para com uma
pessoa que a ofendeu injustamente. E ao mesmo tempo, nutrir a compaixão, a
misericórdia e possivelmente o amor para com o outro que ofendeu (ABREU,
2011).
Perdoar parte de uma atitude decisiva de quem é ofendido de aderir ou
não ao perdão. As consequências desta atitude bem como a sua negação
acarretara ao indivíduo diferentes reações seja no tempo presente seja no tempo
futuro que poderão deixar marcas tanto intra como interpessoal.
O objetivo deste trabalho não é apresentar uma análise integral sobre o
desenvolvimento do perdão e todas as principais variáveis facilitadoras do
perdão interpessoal, mas principalmente desenvolver um olhar crítico sobre o
fenômeno do perdão a partir da sua influência intrapessoal nas tomadas de
decisões e os diversos benefícios advindo da atitude de perdoar.

Objetivos
-Estabelecer a relação entre perdão interpessoal, resiliência, empatia e
mágoa
- Distinguir perdão cognitivo e perdão emocional

1
Bacharel em Psicologia, Instituição de Ensino Superior Sant’Ana, 3 º período,
giordanaifmm@gmail.com; Kellifscdemoura@gmail.com; pozniaksamara21@gmail.com.
Metodologia
Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica do
tipo narrativa, de caráter descritivo a respeito do perdão interpessoal. Foram
efetuadas consultas nas bases de dados Scientific Electronic Library Online
(SciELO), Nacional Library of Medicine (PubMed), Google scholar, PePsic
(Periódicos Eletrônicos em Psicologia). Realizou-se a leitura exploratória e
interpretativa, análise dos textos, seguido da redação.

Resultados/Resultados parciais e discussão


 Descrição do perdão interpessoal
Segundo Piaget, no livro O juízo moral da criança, analisa o valor do
perdão no desenvolvimento humano. Piaget ajudou a verificar que é a partir da
noção de equidade que a moral do perdão começa a despontar como uma
possibilidade de resolução de conflitos associada ao pensamento de justiça.
(ABREU, 2011)
Um outro autor mais recentemente, chamado Robert D. Enright
juntamente com seus colaboradores elaboraram uma teoria sobre o perdão
interpessoal, definindo-a segundo uma perspectiva da vítima, sendo “perdoar
uma atitude moral na qual uma pessoa considera abdicar do direito ao
ressentimento, julgamentos, afetos e comportamentos negativos para com uma
pessoa que a ofendeu injustamente. E ao mesmo tempo, nutrir a compaixão, a
misericórdia e possivelmente o amor para com o outro que ofendeu” (Apud
ABREU, 2011).
Assim entende-se o pensamento do perdão não como uma obrigação moral
como é o caso da justiça, mas sim como um ato de compaixão, porém seu
desenvolvimento moral pode ser estabelecido a partir das condições com as
quais a pessoa ofendida poderia conceber e conceder o perdão, são elas:
vingança/retribuição onde o perdão ocorre quando o agente da mágoa sofre uma
dor de mesma intensidade daquela sofrida pela vítima; restituição ou
compensação onde o perdão ocorre quando a vítima recebe algo de igual ou
maior valor ao que foi perdido; pressão social onde o perdão ocorre quando a
vítima recebe aprovação dos amigos ou dos familiares; pressão institucional, ou
seja, o perdão ocorre quando a vítima segue crenças e princípios morais
religiosos; restauração da harmonia no grupo social quando o perdão é oferecido
em nome da harmonia social e por fim o perdão incondicional onde perdão é
oferecido como compaixão. (ABREU, 2011)

 Resiliência, empatia e intensidade da mágoa


A empatia é essencial para a relação interpessoal, ela diz respeito a
compreensão e preocupação com o bem estar do outro (FALCONE, et al.2008),
é apresentada como uma variável facilitadora do perdão, assim como a
resiliência. É possível obter benéficos resultados na vida do indivíduo levando-o
à conscientização do perdão

Sendo um fenômeno multidimensional, pode-se entender a empatia como


a capacidade de compreender, de forma acurada, bem como de compartilhar ou
considerar sentimentos, necessidades e perspectivas de alguém, expressando
este entendimento de tal maneira que a outra pessoa se sinta compreendida e
validada (PINHO, 2017).

A literatura psicológica aponta a empatia como um dos fatores mais


importantes para a ocorrência do perdão, especialmente o seu elemento
cognitivo, a tomada de perspectiva. Embora a dimensão empática afetiva
também seja fundamental, e muitas vezes abordada como indício do próprio
perdão, ela parece ser consequência do esforço cognitivo para compreender
intelectualmente o ofensor, conforme aponta Fitzgibbons (1986), dentre outros
estudiosos.
A resiliência humana pode ser compreendida, de maneira ampla, como a
capacidade dos indivíduos de superarem as adversidades da vida, adaptando-
se de forma saudável ao seu contexto (PINHO, 2017). Diz respeito ao
enfrentamento, recuperação e superação das adversidades, de acordo com o
autor Yunes (PINHO, 2017). O construto pode ser entendido como o
envolvimento pró-ativo e responsável do indivíduo para a superação dos
problemas, em vez de uma espera passiva pela resolução. Já mágoa de
acordo com Enright e Rique, é uma das emoções negativas decorrentes de uma
ofensa interpessoal (PINHO, 2017). Foi conjecturado que esta variável teria um
valor negativo significativo sobre as dimensões do perdão. Enright e Rique
(2007) incluem esse item sobre a intensidade da mágoa em seu instrumento de
avaliação do perdão por entenderem que a percepção da gravidade da ofensa
pode afetar o grau de mágoa mais do que a gravidade em si. Assim, mesmo
ofensas leves poderiam ser percebidas como graves por alguns indivíduos e a
experiência da mágoa ser mais intensa. Pode-se considerar, deste modo, que a
percepção subjetiva da mágoa contempla melhor a experiência conforme
vivenciada pelo indivíduo, para além do dado de realidade sobre a severidade
da injúria (PINHO, 2017)
Conclui-se então que, a empatia e a resiliência afetam o perdão em
sentido direto, e a mágoa, em sentido inverso. Assim, para perdoar, a vítima
precisa ser resiliente, ter boa capacidade de tomada de perspectiva, ser capaz
de compaixão e encontrar mecanismos de redução da mágoa. Tendo a
intensidade da mágoa o principal dificultadora do processo de perdoar.

 Perdão cognitivo e perdão emocional


O perdão, em seu simbolismo mais característico, seria denominado
como o ato empático de abdicar de quaisquer sentimentos aversivos ou de
impacto negativo infligidos por um terceiro, restando apenas reações de
compaixão, compreensivas e livres de hostilidade para com a pessoa
responsável pelo mal estar. Sendo assim, é mutável e multidimensional,
podendo levar períodos de tempo diferentes de acordo com a situação.
O processo de se perdoar é uma ação benéfica, que retira a carga
emocional negativa que o indivíduo carrega, tornando-o adaptável e não mais
fixo em ocorrências do passado. Quando se trata da retratação de perdão,
podemos observá-lo e dividi-lo em duas vertentes, usando de seu processo
construtivo como meio de classificação, tendo assim o perdão cognitivo ou
decisional, e o perdão emocional.
No perdão cognitivo ou decisional pode-se atribuir características
majoritariamente racionais e práticas; embora os sentimentos negativos para
com o causador da mágoa ainda existam, eles são reprimidos pelo senso de
necessidade de mudança e aperfeiçoamento próprio, se tornando um perdão
'escolhido'. Já no emocional, o abalo afetivo se transforma, ocorrendo superação
gradual e uma mudança espontânea dos sentimentos negativos para positivos,
que vêm tanto do âmbito cognitivo quanto do emocional.

Considerações finais

Com isso pode-se concluir que ambas as variáveis abordadas tem relação
direta com perdão, sendo elas a empatia, resiliência e a intensidade da mágoa,
sendo o último um fator decisivo para que a ação de perdoar gere uma
verdadeira mudança emocional na vida do indivíduo, ou seja, o perdão
acarretará maiores benefícios na vida intrapessoal, como superação da ofensa,
mudança de sentimentos negativos para positivos, à medida que o seu perdão
for mais emocional do que cognitivo.

Referências

ABREU, E. L.; LUCENA, moreira, p.; RIQUE, J. O pensamento moral do


perdão em crianças. Psicologia Argumento, [S. l.], v. 29, n. 65, 2017.
Disponível em:
https://periodicos.pucpr.br/psicologiaargumento/article/view/20411. Acesso em:
9 maio 2022.

PINHO, Vanessa Dordron de; FALCONE; Eliane Mary de Oliveira. Estudo


qualitativo sobre fatores facilitadores e dificultadores do perdão interpessoal.
Estudos e Pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, p. 189-208,
Abril, 2018. Disponível em:
https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/38116 . Acesso
em: 9 maio 2022

PINHO, Vanessa Dordron de; FALCONE, Eliane Mary de Oliveira. Relações


entre empatia, resiliência e perdão interpessoal. Rev. bras.ter. cogn. Rio de
Janeiro,v. 13, n. 2, p. 138-146, dez. 2017. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
56872017000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10 maio 2022.

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