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TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS: A PRÁTICA DA EMPATIA

Por Profa. Ms. Hebe Goldfeld

Retirado do site: (http://psimais.com/artigos/treinamento-de-habilidades-sociais-empatia/)


O objetivo desse artigo é fornecer aos profissionais informações que enriqueçam sua
prática, contribuindo para o aperfeiçoamento de Programas de Prevenção e de
Potencialização, conforme Snyder e Lopes (2009) e Seligman (2004). Outro de nossos
objetivos é fazer da prática da Empatia uma ferramenta de caráter educativo-terapêutico
que integre programas preventivos nos campos educacional e da saúde.
Utilizando os conceitos da Habilidade Social da Empatia definida por vários autores, dentre
eles Ickes (1997 in Falcone, 1998) e Del Prette e Del Prette (2001, 2008), assumiremos
como conceito de Empatia a sintonia fina de sentimentos e pensamentos com outras
pessoas, considerando-as como sujeitos únicos, singulares e originais, e a disposição e a
capacidade de aceitação de como essas pessoas são, isto é, de como elas pensam,
sentem e se comportam. Em suma, empatia refere-se fundamentalmente à capacidade de
se colocar no lugar do outro
A revisão de Goldstein e Michaels (1985) mostra que alguns autores situam o
desenvolvimento empático em um continuum. No início, estariam respostas elementares
como, por exemplo, empatéia, expressão do grego significando “entrar no sentimento” do
outro” e, ao final, respostas mais elaboradas que incluem interpretações sofisticadas de
sinais afetivos sutis. Como não há um patrimônio filogenético de Empatia para os seres
humanos, apesar de ser um talento inato a inúmeros seres racionais (Buckingham e
Clifton, 2008), essa capacidade pode ser desenvolvida e aprimorada ao longo da vida,
quando se exercita a capacidade de compreender o que o outro pode estar pensando e/ou
sentindo. Da análise da literatura, é possível apontar ganhos no desenvolvimento da
Empatia em períodos do ciclo vital, como, por exemplo, na infância e na adolescência.

A Tabela 1 a seguir apresenta uma Síntese do Desenvolvimento da Empatia, destacando


as principais características em faixas etárias da infância e adolescência:

Faixa etáriaDesenvolvimento da empatia


Início da reação
Respostas pré-empáticas -
Primeiro seletiva às Sincronia afetiva
empatéia e mímica
ano expressões faciais mãe e bebê
motora
dos outros
Percepção do eu como Diferenciação dos Convívio entre criança
Dois anos
um ser em si sentimentos do outro e adulto
Formação do seu
De dois a Incorporação dos Construção dos laços
próprio repertório
quatro anos sentimentos do outro afetivos
emocional
Faixa pré- Percepção das diferentes Julgamento das Costura entre os laços
escolar reações que um mesmo emoções que o outro afetivos da família e
evento pode provocar nas sentirá em
da escola
pessoas determinada situação
Entendimento da Generalização de
Final da Aprofundamento dos
aflição do outro além comportamentos
infância níveis empáticos
da situação imediata empáticos
Compreensão da
Sentimento universal: eu Dimensão da
Adolescênci situação de um
sou parte do outro, que é igualdade na diferença
a grupo social ao qual
parte do todo e valorização do outro
ele não pertence
Tabela 1: Desenvolvimento da Capacidade Empática na
Infância e na Adolescência (Goldfeld, 2010)

Stern (1987 apud Goleman, 1995) acredita que as lições mais elementares da vida
emocional se dão nos pequenos intercâmbios e nos momentos íntimos entre pais e filhos,
num processo que Stern (1987) denominou sintonia. Sintonia é diferente de imitação. Se o
adulto apenas imita o bebê, isso apenas mostra o que o bebê fez, mas não como se
sentiu. Para que haja o conhecimento para além do ato presenciado, é necessário
reproduzir os sentimentos íntimos da criança. Só assim, haverá a compreensão plena por
parte da criança. Na vida adulta, o amor físico é talvez a coisa mais próxima dessa íntima
sintonização entre o bebê e a mãe. O amor físico é, no que tem de melhor, um ato de
mútua empatia.
Existem ainda poucos estudos sobre empatia disponíveis na literatura de Psicologia no
Brasil e, por isso, é de grande relevância o incremento de estudos nessa área.
A Empatia é a habilidade social que inclui três componentes: (a) o cognitivo, que adota a
perspectiva do interlocutor, interpretando e compreendendo seus pensamentos e
sentimentos de forma precisa; (b) o afetivo, identificado por sentimentos de compaixão,
simpatia pelo outro e de preocupação com o seu bem-estar; é a capacidade de
experienciar a emoção do outro, de sentir com ele; (c) o comportamental, quando se
transmite e se dá visibilidade à própria empatia de tal forma que o outro perceba que é
compreendido; consiste em expressar o entendimento do sentimento e da perspectiva do
outro quanto ao seu êxito ou às suas dificuldades.
Uma vivência desses componentes foi observada na conduta de uma mulher que conversa
com a irmã, mãe de um menino de cinco anos. A mãe da criança apresenta dificuldades
de disponibilizar mais de seu tempo ao filho. Ela não consegue distribuir, com equilíbrio,
suas múltiplas atividades ocupacionais, de lazer e, principalmente, as afetivas, isto é,
dedicar mais tempo à relação mãe e filho. Empaticamente a tia, solidarizando-se com o
papel que sua irmã precisa desempenhar, usa da comunicação verbal para explicar que
uma relação saudável – mãe-filho – implica, além da qualidade da relação, uma
disponibilidade de tempo para estar junto ao filho. Isto é, compreende uma relação não
somente qualitativa, mas quali-quantitativa. Essa tia foi empática no que concerne aos
componentes cognitivo e afetivo, descentrando-se de seus pensamentos e sentimentos na
compreensão dos pensamentos e sentimentos da irmã, mas, principalmente, no que
concerne ao componente comportamental, comunicando a falta que faz a pouca atenção
de sua irmã para com seu sobrinho, representada pela baixa frequência e intensidade de
tempo dedicada a essa relação mãe-filho.
A expressão da capacidade empática inclui: (a) atenção empática, (b) ouvir sensivelmente
ou escuta ativa e (c) verbalizar sensivelmente. A Tabela 2 sintetiza os principais elementos
de como a compreensão empática se expressa.

ELEMENTOS QUE COMPÕEM A COMPREENSÃO EMPÁTICA


(A) PRESTAR (B) OUVIR (C) VERBALIZAR
SENSIVELMENTE SENSIVELMENTE
ATENÇÃO COMPORTAMENTOS COMPORTAMENTOS
COMPORTAMENTOS Escutar o significado, o OBSERVÁVEIS
OBSERVÁVEIS sentido e as intenções do Explicar e validar os
Fitar o interlocutor com outro: acenar afirmativamente sentimentos e perspectivas
postura descontraída, com a cabeça, parafrasear. É da outra pessoa; fazer com
porém atenta Ex. braços e realmente escutar o outro, que o interlocutor se sinta
pernas descruzados, sem fazer inferências. “Ler” compreendido; reduzir a
voltados para o outro; os CNV do outro para ansiedade da outra pessoa,
identificar mensagens não identificar suas emoções. tornando-a mais disponível
verbais que expressam para ouvir.
emoções.
Tabela 2. Elementos Constitutivos da Compreensão Empática. Goldfeld, H. (2010)
A seguir, apresentaremos algumas estratégias para treinamento e desenvolvimento da
capacidade empática:

1. “ESPELHAMENTO”: pode ser utilizada para provocar empatia através do


espelhamento de gestos, postura facial e corporal, e até do ritmo respiratório do outro.
Essa estratégia gera ressonância no interlocutor e se constitui em uma mensagem
subliminar, de aceitação e de acolhimento, sendo muito utilizada por psicólogos na sua

prática clínica. Figura1. Espelhamento cruzado- Desenho de Yasmin André-7


anos-Colégio Martins
2. ESCUTAR SENTIMENTOS: ter disponibilidade interna e externa para com o
interlocutor e perceber motivações, interesses, necessidades e até valores. Realizar
esse exercício e concluir que você pode ouvir compreendendo e sentindo com o outro,
você pode enxergar com afeto. Você se surpreenderá ou ficará perplexo com as
possibilidades das sinergias que irão se abrir para você.
3. EMPATIA & HABILIDADE DE SOLUCIONAR PROBLEMAS: Precisamos encontrar a
solução do problema empaticamente, em conjunto com o nosso interlocutor,
apontando vantagens e desvantagens em cada solução apresentada. A Técnica
de Brainstorming é utilizada para o levantamento das possíveis soluções. Em seguida,
as soluções são registradas, sem críticas, e, posteriormente analisadas, e, em
seguida, descartadas, ou não. Novamente, a empatia se deve fazer presente na
capacidade de encontrar as possíveis soluções para o problema.

Apresentamos, no presente artigo, o conceito de empatia, seus três principais


componentes, bem como os elementos constitutivos da capacidade empática.
Trabalhamos, ainda, o desenvolvimento da capacidade empática na infância e na
adolescência, e apresentamos algumas estratégias para o desenvolvimento da mesma.
Esperamos com isso ter agregado conhecimento à importância da empatia nas relações
interpessoais e ao seu uso como ferramenta de trabalho de profissionais da área da
saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
● Del Prette, Z. A. P. & A. Psicologia das habilidades sociais. Petrópolis: Vozes, 1999.
● Falcone, E. M. A função da empatia na terapia cognitivo-comportamental. In:M.L.
Marinho & V.E. Caballo(Orgs), 2001.
● Synder C. R. & Lopez, Shane J. Psicologia positiva. Porto Alegre; Artmed, 2009

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