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Artigo: “Mais Empatia, Mais Gentileza, Mais Felicidade”

escrito por Rodrigo Credidio (fundador da goodbros e da oficina de empatia ), em


08/11/2019

“Gentileza gera gentileza”. Célebre frase de autoria de José Datrino, ou então, o Profeta
Gentileza, como era mais conhecido por todos nós, em especial pelos moradores da
cidade do Rio de Janeiro por conta de suas pinturas de frases positivas e amorosas nos
mais de 50 pilares que sustentavam o viaduto da Av. Brasil. Datrino investiu alguns anos
de sua vida não só fazendo arte para promover a gentileza e a empatia, mas
principalmente para distribuir palavras e gestões de amor e carinho entre quem mais
precisava. Ao longo dos Anos 60, depois de um grande incêndio ocorrido em Niterói,
cidade vizinha do Rio, Niterói, Datrino abraçou o papel de “consolador voluntário” e
passou a dedicar seu tempo a confortar e amparar famílias das vítimas da tragédia
através de palavras de bondade. Foi quando recebeu o apelido de “Profeta Gentileza”.
O que mobilizou o “Profeta Gentileza” a ter este comportamento em prol do outro? O
que o motivava a dedicar boa parte da sua rotina diária a conversar e abraçar
desconhecidos?

A explicação do início deste processo pode residir na prática da empatia. Graças à


presença de milhões e milhões de um determinado tipo de neurônio em nosso cérebro,
chamado de “neurônio-espelho”, temos a capacidade natural de mimetizar gestos,
movimentos, falas e comportamentos. É assim, inclusive, que iniciamos nosso processo
de aprendizagem enquanto bebês, através da imitação e da observação do outro. Neste
estágio de vida, estamos formando a empatia emocional ou afetiva, que é a nossa
capacidade de assimilar e introjetar a mesma emoção que o outro está sentindo. Por
volta de 2 anos de idade, nossos cérebros já têm as condições fisiológicas e cognitivas
de dar um passo a mais na construção da empatia, desenvolvendo um outro tipo que
se chama “empatia cognitiva”. A empatia cognitiva é o tipo de empatia que está ligada
a se colocar no lugar do outro, já que envolve a nossa capacidade de compreender
intelectualmente e racionalmente os processos mentais das outras pessoas. Ou seja,
neste segundo tipo de empatia, existe uma inteligência e uma intencionalidade de ação.
A prática desta ação é a gentileza. A partir do momento que eu sinto a mesma coisa
que o outro sente e depois consigo imaginar os prováveis desdobramentos desses
sentimentos na vida de outra pessoa, o próximo passo é fazer algo pelo outro como se
fora para nós mesmos. É como se a gentileza, a tolerância ou a caridade fossem a
consequência natural da empatia. A empatia posta em prática.

O Profeta Gentileza teve uma infância humilde de muito trabalho e dificuldade


financeiras. Para ajudar a família, puxava carroça e vendia lenha. Muito provavelmente
ele se via naquelas famílias e, desta forma, estabelecia uma empatia cognitiva tão forte
que a consequência só podia ser o acolhimento, o carinho, a gentileza por aqueles que
tinham perdido tudo e se viam perdidos.

Portanto, quanto mais praticarmos a nossa empatia, maiores as chances de colocarmos


ela em prática sob a forma de uma atitude gentil. Saber como o outro se sente e pensa,
aciona um mecanismo na gente por fazer algo de bom para aquela pessoa. E, a partir
daí, é um caminho sem volta e que traz muitos e muitos benefícios para nosso corpo e
mente. Gandhi costumava dizer que “a gentileza não diminui com o uso. Ela retorna
multiplicada.” Criamos uma corrente do bem que ajuda o outro e que, mais à frente,
retorna para nós também como forma de ajuda. Uma teoria defendida por Sam Bowles,
PhD em Economia e professor de Harvard e do Instituto Santa Fé, nos Estados Unidos,
é a de que o mais gentil sobrevive. A teoria de Bowles não apenas está em sintonia com
os pensamentos de Charles Darwin, mas como parece dar o “caminho das pedras” para
a humanidade. Se "não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que
melhor se adapta às mudanças", talvez a gentileza seja uma das melhores formas de
se adaptar ao mundo e ao outro. Outra estudiosa e especialista no poder da gentileza é
a psicóloga Sonja Lyubomirsky. Segundo resultados do estudo que conduziu pela
Universidade da Califórnia, “gentileza e boa vontade estão relacionadas à felicidade e
as pessoas que tentam ser mais gentis no dia a dia tendem a experimentar mais
emoções positivas e se tornaram mais alegres". Para o estudo, Sonja pediu aos
participantes que praticassem ações gentis durante dez semanas, como se oferecer
para lavar a louça, fazer elogios ou segurar a porta para um estranho passar. Todos
registraram aumento na felicidade durante o estudo.

Portanto, se todos queremos uma vida mais feliz para nós mesmos, nossos familiares
e amigos, seja mais gentil e pratique com mais frequência a solidariedade, priorizando
diálogos e conexões humanas balizadas pela empatia, pela perspectiva do outro. E boa
jornada!

Rodrigo Credidio é consultor em empatia e comunicação inclusiva. É sócio fundador


da Goodbros e cocriador da Oficina de Empatia. Formado em Comunicação Social e
pós-graduado em Administração de Empresas, trabalhou na área de marketing e em
agências de propaganda por mais de 20 anos. Atualmente, presta consultoria e realiza
projetos ligados à empatia, comunicação inclusiva, desenho universal e acessibilidade.

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