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A CAÇADA
COMO OS SERVIÇOS DE
INTELIGÊNCIA
AMERICANOS ENCONTRARAM
OSAMA BIN LADEN
Tradução
Helena Londres
Copyright © Mark Bowden, 2012
Todos os direitos desta edição reservados à
Editora Objetiva Ltda., rua Cosme Velho, 103
Rio de Janeiro — RJ — CEP: 22241-090
Tel.: (21) 2199-7824 — Fax: (21) 2199-7825
www.objetiva.com.br
Título original
The Finish: The Killing of Osama bin Laden
Capa
Adaptação de Pronto Design sobre design original de Francesca
Leoneschi/The World of DOT
Revisão
Rita Godoy
Lilia Zanetti
Claudia Ajuz
Coordenação de e-book
Marcelo Xavier
Conversão para e-book
Freitas Bastos
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B782c
Bowden, Mark
A caçada [recurso eletrônico] : como os serviços de inteligência americanos
encontraram Osama bin Laden / Mark Bowden ; tradução Helena Londres. -
Rio de Janeiro : Objetiva, 2013.
recurso digital
Tradução de: The Finish: The Killing of Osama bin Laden
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions
Modo de acesso: World Wide Web
221p. ISBN 978-85-390-0459-1 (recurso eletrônico)
1. Bin Laden, Osama, 1957-2011. 2. Terroristas. 3. Al-Qaeda (Organização).
3. Livros eletrônicos. I. Título.
13-0124. CDD: 303.6250917671 CDU:
316.485.26(53)
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
1 - Uma definição do mal
2 - O caminho do jihad
3 - Preparando para o ataque
4 - O instrumento de mira
5 - “Por favor, certifique-se de que as crianças e todas as famílias
estejam fora das áreas fotografadas e bombardeadas”
6 - Incerteza disfarçada
7 - “Adotando essas precauções”
8 - O desfecho
9 - Brilho
Agradecimentos e notas
Para Clara e Audrey
Grupamentos humanos têm um objetivo principal: assegurar o
direito de todos a ser diferentes, a ser especiais, a pensar, sentir
e viver de seu próprio jeito. As pessoas se juntam para
conquistar ou defender esse direito. Mais é aí que nasce um erro
terrível, fatídico: a crença de que esses grupamentos, em nome
de uma raça, um deus, um partido ou um estado são os objetivos
propriamente ditos de vida, e não simplesmente um meio para
um fim. Não! O único significado verdadeiro e duradouro da luta
pela vida está no indivíduo, em suas modestas peculiaridades,
em seu direito a essas peculiaridades.
— Vassili Grossman, Vida e destino
2007-2008
1
Principal força de operações especiais da Marinha dos Estados Unidos. Opera no mar
(sea), no ar (air) e em terra (land). (N. da E.)
2
O caminho do jihad
Verão de 2010
Por mais que o sigilo fosse mantido, Bill McRaven percebeu algo em
novembro. Podiam ter apagado aqueles monitores durante as
reuniões, nos escritórios da NSC, e McRaven agora passava a
maior parte do tempo no Afeganistão, mas era difícil manter o
comandante do JSOC completamente fora da jogada.
Ele mesmo já trabalhara na Casa Branca. Isso foi no início de seu
trajeto de volta ao trabalho, depois dos graves ferimentos
provocados pelo salto de paraquedas, e seu corpo ainda se ajustava
às placas e aos pinos que agora mantinham sua pélvis unida.
Recebera um telefonema de surpresa, em outubro de 2001, de
Wayne Downing, ex-general de quatro estrelas que liderara o
Comando de Operações Especiais. Os dois tiveram oportunidade de
se conhecer durante os anos antes da aposentadoria de Downing. O
general acabara de receber o pedido do presidente Bush para que
abandonasse a aposentadoria e assumisse um posto na Casa
Branca, como um tipo de czar do antiterrorismo — um papel
maldefinido de assistente especial, projetado para conferir um pouco
de coordenação às múltiplas agências e serviços envolvidos na
nova guerra. Até mesmo antes de aceitar oficialmente o trabalho,
Downing ligara para perguntar a McRaven se ele podia vir a
Washington, para ajudar.
“Claro”, disse o capitão do Seal.
Poucas semanas mais tarde Downing alcançou o ainda
claudicante Seal, enquanto atravessava o país de carro, de San
Diego para seu novo trabalho no escritório em Norfolk, Virginia.
“Ei, aceitei o trabalho”, disse Downing. “Você pode estar aqui na
segunda-feira?” Daí a apenas quatro dias.
“Sim, acho que posso”, respondeu McRaven.
Quando McRaven apareceu na Casa Branca em cadeira de
rodas, Downing disse a ele: “Descubra o que você vai ser.”
Era uma oportunidade fantástica para qualquer oficial militar,
sobretudo para um oficial que anos antes abandonara a ideia de
promoção para continuar em campo, saltando de aviões e
trabalhando embaixo d’água. McRaven não perdeu a chance.
Pareceu claro, desde o início, que encontrar e demolir uma furtiva
organização terrorista, em longo prazo, exigiria o tipo de habilidade
criativa, interdisciplinar, havia muito praticada por operações
especiais. Se cada nova guerra demandava que os militares
repensassem o modo de lutar, McRaven já estava a alguns passos
adiante. Tinha escrito um livro sobre o assunto enquanto
frequentava a Escola de Pós-graduação Naval em Monterey, na
Califórnia, intitulado Spec Ops: Case Studies in Special Operations
Warfare: Theory and Practice (Operações especiais: estudos de
caso em guerras de operações especiais: teoria e prática). Foi uma
das raras teses militares de pós-graduação a ser escolhida por uma
editora comercial — a Presidio Press, que a publicou em 1995. No
livro, McRaven estudou oito missões de operações especiais, do
ataque alemão à fortaleza de Eban Emael em 1940, antes da
blitzkrieg da Bélgica, ao ataque israelense de Entebbe, em Uganda,
em 1976 — o ataque que levou o presidente Carter a exigir a
criação de uma unidade semelhante de antiterrorismo para as forças
militares dos Estados Unidos. McRaven tinha visitado os locais
desses ataques, entrevistado muitos dos participantes-chave e
montado seu próprio entendimento de por que tinham tido sucesso
ou fracassado. Ao fazer isso, elaborou um jeito de pensar a respeito
de tais missões especializadas. Agora teria um lugar à mesa, uma
chance de aplicar essas ideias ao mais novo desafio militar dos
Estados Unidos.
A própria ideia de “operação especial” havia muito vinha sendo
encarada com críticas pelos militares convencionais. A elite,
unidades secretas que conduziam essas operações, consumia
quantidades enormes não só de recursos, mas de pessoas, que
executavam atos ocasionais de grande bravura. Quando essas
missões funcionavam, pareciam quase mágicas, como no ataque de
Entebbe, em que comandos israelenses voaram 2.500 milhas até
Uganda, surpreenderam uma tropa muito maior que a sua e
resgataram 102 reféns, matando todos os sequestradores palestinos
que tinham tomado o avião comercial francês. Quando fracassavam,
como na missão de resgate no Irã, em 1980, quase sempre
pareciam precipitados, se analisados em retrospectiva. Eram, por
definição, ousados. A ideia era tentar fazer algo mais ousado do que
o inimigo pudesse supor. Os homens envolvidos aceitavam grandes
riscos pessoais, e os de alta posição de comando investiam sua
reputação e carreira no resultado. Além disso, fazia parte da
natureza do trabalho os fracassos serem enormemente alardeados
enquanto os sucessos eram mantidos, muitas vezes de maneira
proposital, em silêncio e passavam despercebidos, a não ser em
raras ocasiões, como a de Entebbe.
A derrocada no deserto iraniano tinha levado à criação do JSOC,
sediado em Fort Bragg, na Carolina do Norte. Grande parte da culpa
pelo fracasso recaiu sobre os esforços desajeitados para unir
setores de serviço que não estavam acostumados a trabalhar
juntos. Dessa forma, a missão tinha helicópteros da Marinha
pilotados por fuzileiros navais, que carregavam agentes especiais
do Exército para dentro do Irã, juntamente com aviões e tripulações
da força aérea. O cenário deixado para trás por essa tropa
heterogênea foi o de um deserto coalhado de aeronaves destruídas
e de corpos americanos incinerados. Embora um dos mais
espetaculares fracassos nos anais militares americanos, seu efeito
não foi acabar com as forças especiais, mas expandi-las. O JSOC
foi criado para integrar unidades de elite de ramos militares
diferentes em uma única tropa homogênea e equipá-la com o tipo
de veículos e armas necessários para missões pequenas, não
ortodoxas. Combinou as equipes da Força Delta do Exército, do 75o
Regimento Ranger,4 o Esquadrão de Táticas Especiais da força
aérea e os Navy Seal. Desde que a missão no Irã falhara, ao tentar
levar a tropa até o alvo, os Night Stalker, o 160o Regimento Aéreo
de Operações Especiais, foram mantidos em Fort Campbell,
Kentucky, onde helicópteros especiais foram projetados e testados,
e onde os melhores pilotos de helicópteros das forças militares
treinaram especificamente para as missões de forças de operações
especiais.
A tese de McRaven, que passaria a fazer parte do currículo na
Escola de Pós-graduação Naval, estabeleceu o conceito básico de
forças especiais: uma tropa pequena, bem-treinada, capaz de
desfechar um golpe decisivo contra uma força muito maior e bem-
defendida. Segundo ele, tal missão era “conduzida por tropas
especialmente treinadas, equipada e direcionada para um alvo
específico, cuja destruição, eliminação ou resgate (no caso de
reféns) é um imperativo político ou militar”. Ao refinar os elementos
fundamentais para o êxito destas missões, ele prescreveu, em
resumo, “um plano simples, cuidadosamente mantido em segredo,
repetida e realisticamente ensaiado, e executado com surpresa,
rapidez e propósito”.
As duas grandes guerras do presidente Bush, cada uma exigindo
centenas de milhares de soldados convencionais, aos poucos
provaram que as forças especiais eram a ferramenta mais útil contra
a Al-Qaeda. Os enormes esforços e a inovação envolvidos para
encontrar e fixar um alvo tinham como base homens capazes de
executar o terceiro F no acrônimo F3EAD, o finish. O modelo
desenvolvido por McRaven em sua tese lidava principalmente com
ataques a posições inimigas maiores, bem-entrincheiradas.
Contudo, os princípios do ataque-relâmpago — simples, secreto e
bem-ensaiado, executado com surpresa, rapidez e propósito — se
mostrariam devastadoramente eficazes contra um inimigo que se
escondia em uma população civil, em grande parte porque os
ataques de precisão, ao contrário dos ataques aéreos ou os
assaltos diretos por forças convencionais, evitavam matar e ferir
espectadores inocentes. Esse modelo, além disso, dava margem à
coleta de informações no local, o que era essencial para alimentar o
mecanismo de alvo. Ao longo da década seguinte, McRaven teria
chance de refinar suas estratégias e pôr sua teoria em prática numa
velocidade que ele jamais imaginara.
Seus dois anos em Washington, antes de voltar a um comando
de campo, permitiram que ele combinasse a necessária reabilitação
física à reabilitação da carreira em alto nível, desenvolvendo o tipo
de relacionamento necessário para chegar ao posto de almirante.
Um posto não era algo que McRaven buscasse ativamente — de
fato, anos antes, mesmo antes do acidente, ele se considerava a
última pessoa na Marinha a ter alguma probabilidade de chegar a
almirante. Mas, em poucos anos, estava outra vez de pé, servindo
no Iraque como vice do comandante do JSOC, o general
McChrystal, admirando a fusão que seu comandante implementara
entre inteligência rápida e atiradores. E ocasionalmente
acompanhava seus homens em ataques noturnos — tipo de ação
que é possível ir de carro ou andando até o alvo. Nada de saltos de
aviões, de descer por cordas de helicópteros ou de longas marchas
com mochila cheia para McRaven. Durante aqueles anos, primeiro
sob o comando de McChrystal, e, depois, já ele mesmo como
comandante do JSOC, o almirante ajudaria a forjar os recursos que
seriam os principais instrumentos de guerra do país. A própria tropa
do JSOC dobrou de tamanho, chegando a quase 4 mil homens e
mulheres. Tornou-se, de fato, um quinto ramo das Forças Armadas
dos Estados Unidos, um exército dentro do Exército. Era global e
operava secretamente em mais de uma dúzia de países, e tinha
ficado livre da severa supervisão de Washington, que antes
fiscalizava cada missão. A necessidade de rapidez estava acima do
desejo do controle restrito, de modo que comandantes como
McChrystal e McRaven tinham autoridade para lançar ataques, pelo
menos os mais rotineiros, sem necessidade de buscar a aprovação
de toda a cadeia de comando.
Durante a primeira década do século, McRaven e seus homens
tinham efetuado mais missões com forças especiais do que
qualquer outra unidade na história. De acordo com seus cálculos, na
época em que foi chamado a Langley para receber oficialmente
instruções sobre a descoberta em Abbottabad, em janeiro de 2011,
McRaven já tinha se envolvido pessoalmente no comando de
milhares de missões, seja por meio remoto, seja por terra.
5 Processo desempenhado por uma equipe que analisa toda a inteligência coletada e
descobre diferentes perspectivas do problema para auxiliar na tomada de decisões. Um red
team aplica pensamento crítico no contexto do ambiente operacional para explorar por
inteiro alternativas a planos, operações, conceitos e organizações.
8
O desfecho
1o-2 de maio de 2011