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prática de espionagem ocorre há muito tempo no âmbito do cenário internacional,


porém, somente após a Segunda Guerra Mundial, as atividades realizadas pelos
serviços de inteligência passaram a ser consideradas indispensáveis, tanto no
território interno, como principalmente, nos territórios estrangeiros. Tendo em vista a
importância dessa prática no período da Guerra Fria, mais especificamente a década
de 1960, o presente trabalho tem como principal objetivo analisar o cenário
internacional da época, durante o conflito causado entre Estados Unidos e União
Soviética. A análise foi realizada a partir das ações tomadas pelas respectivas
agências de espionagem de cada país, sendo essas, CIA, pertencendo aos EUA, e
KGB à antiga União Soviética.

http://revista.unilus.edu.br/index.php/ruep/article/view/339

CIA é a sigla em inglês para Agência Central de Inteligência, e tem como missão


coletar, avaliar e distribuir informações que sejam de uso da administração norte-
americana na tomada de decisões sobre segurança nacional. Ela também pode se
engajar em ações secretas, a pedido do presidente, mas não lhe é permitido espionar
as atividades domésticas dos americanos ou participar de assassinatos, apesar de já
ter sido acusada de tais atos.

Nos EUA, as primeiras agências formais e


organizadas não surgiriam antes dos anos 1880, quando são instituídos o Escritório da
Inteligência Naval e a Divisão de Inteligência Militar do Exército. Por volta da Primeira
Guerra Mundial, foi criada a Divisão de Investigação, precursora do FBI. A estrutura da
inteligência continuou através de várias reestruturações.

Em 1947, o Presidente Harry Truman assina o Ato de Segurança Nacional, que criou a
CIA. Apesar de a agência ter um histórico de envolvimento em falhas e escândalos
de espionagem, o governo ainda depende muito desta para fornecer inteligência e
segurança nacional.

A CIA responde tanto ao poder executivo como ao legislativo. Por muitos anos, a
principal missão da agência era proteger os Estados Unidos contra o comunismo e
a União Soviética durante a Guerra Fria. Atualmente, a agência tem um trabalho bem
mais complexo: proteger os Estados Unidos das ameaças terroristas de todo o globo
terrestre. A CIA está dividida em quatro equipes diferentes, cada uma com suas
responsabilidades:

1 - Serviço Secreto Nacional (National Clandestine Service)


Nele que atuam os chamados "espiões", funcionários do NCS que, sob disfarce,
coletam inteligência estrangeira (ou humana). Seus funcionários são pessoas com
bom nível educacional, falam outros idiomas, gostam de trabalhar com pessoas de
todo o mundo e podem se adaptar a qualquer situação, incluindo as que envolvem
riscos. Familiares e amigos dessas pessoas jamais chegam a saber exatamente o que
os funcionários do serviço secreto fazem.

2 - Diretório de Ciência e Tecnologia


Tal equipe atrai os interessados em ciência e engenharia, sendo responsável pela
coleta inteligência pública ou de fonte aberta (informação vinda da TV, no rádio,
revistas ou jornais, fotografia eletrônica e de satélite).

3 - Diretório de Inteligência
A informação recolhida pelas duas outras equipes é entregue ao Diretório de
Inteligência, responsável por interpretar a informação e fazer relatórios sobre esta.
Seus membros devem ter excelentes habilidades analíticas e de escrita, segurança na
apresentação de informações para grupos e ter a capacidade de lidar com a pressão
de prazos.

4 - Diretório de Apoio
Equipe que fornece apoio para o resto da organização, além de lidar com contratações
e treinamento. É a área dos especialistas em um determinado campo, como um artista
ou funcionário de finanças, generalistas, com muitos talentos diferentes.

https://www.infoescola.com/estados-unidos/agencia-central-de-inteligencia-cia/

KGB é a sigla em russo para Comitê de Segurança do Estado (Komitet


Gosudarstvennoy Bezopasnosti), o serviço secreto da antiga União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Órgão ligado ao Partido Comunista, a KGB foi criada
em 1954, sendo um dos mais temidos e eficientes serviços secretos do mundo. Da
sua criação até 1991, ela foi responsável pela espionagem internacional soviética e
também cuidou da proteção dos líderes do país, da supervisão de tropas nas
fronteiras e da vigilância da população.
A KGB foi a agência de segurança soviética que
teve a vida mais longa dentre todas as criadas pela União Soviética. De suas
antecessoras ela herdou a experiência e métodos cruéis de eliminação de adversários.
Antes da KGB, vieram a Cheka criada na Revolução Russa (ou bolchevique) de
1917 (sigla em russo para Comitê Extraordinário Russo para Combate à
Contrarrevolução e Sabotagem (Vserossíyskaya chrezvycháynaya
komíssiya; tradução em português: Comissão Extraordinária)); em 1922 surgiu a
OGPU (sigla em russo para Administração Política do Estado Unificado). Nos anos
1930, a OGPU virou a NKVD (sigla em russo para Comissariado Popular de Assuntos
Internos). A NKVD foi essencial para consolidação do poder de Stalin, mas após o
assassinato de Trotsky, esta foi dividida e os assuntos relativos à espionagem ficaram
a cargo do Ministério de Segurança do Estado, que comandou os serviços de
espionagem e contraespionagem durante a Segunda Guerra Mundial. Com a morte de
Stalin em 1953 e a ascensão de Nikita Khrushchev, o sistema de segurança soviético
foi reformulado, com a liberação de milhões de prisioneiros políticos e a criação da
KGB.

Em uma tentativa de amenizar a fama dos métodos violentos e autoritários da agência,


o regime comunista eventualmente suplantou a CHEKA pela GPU (Administração
Política do Estado), à época subordinada ao NKVD (Naródnyy komissariát vnútrennikh
del; tradução em português: Comissariado do povo para assuntos internos) órgão
encarregado do controle da economia, polícia e serviço secreto do governo.

Com a constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922, a GPU


foi renomeada para OGPU (Administração Política do Estado Unificado), a qual
ampliou o escopo das funções de vigilância e segurança das agências anteriores,
inclusive realizando operações secretas em território estrangeiro a serviço do Partido
Comunista.

Com a absorção das funções de serviço secreto da OGPU para a NKVD, em 1934,
esta exerceu de forma monopolística as funções de inteligência e segurança até sua
dissolução, em 1946. O envolvimento mais relevante dessa agência se deu no famoso
Grande Expurgo, no qual Stalin perseguiu de forma implacável os opositores do
regime, antigos líderes bolcheviques e, até mesmo, diversos dos comandantes do
Exército Vermelho. Durante esse período, estima-se que o número de mortos beire os
10 milhões de pessoas.

Em 1946, os Comissariados do povo foram reestruturadas em ministérios, e o


NKVD foi sucedido pelo MVD (Ministérios de Assuntos Internos) e pelo MGB
(Ministério da Segurança do Estado). Nesse período, o MVD teve envolvimento
direto na criação e coordenação do projeto nuclear soviético; e o MGB exerceu
o serviço de inteligência e contrainteligência, em solo doméstico e por toda a
Europa, tanto durante como após a Segunda Guerra Mundial.

Com a morte de Stalin, em 1953, o MGB foi unificado ao MVD, sob o comando de
Lavrenti Pavlovitch Beria, o qual foi traído por um de seus subordinados, Ivan Serov,
num processo que culminou na fundação da KGB, em 1954, sob a chefia do de Serov.

Conhecida como a Espada e o Escudo do regime soviético inclusive na literatura , a


KGB era subordinada ao controle do Conselho de Ministros da União Soviética, o mais
alto escalão do corpo executivo e administrativo da URSS.

Em artigo de Robert W. Pringle à Enciclopédia Britânica, este relata que a agência

estava dividida em cerca de vinte diretorias, sendo as mais importantes as


responsáveis pela inteligência estrangeira, contraespionagem interna, inteligência
técnica, proteção da liderança política e segurança das fronteiras do país. No final da
década de 1960, uma diretoria adicional foi criada para fiscalizar os dissidentes
suspeitos nas igrejas e entre a intelectualidade.

A função da KGB, nesse contexto, era justamente a de monitorar extensivamente a


opinião pública e privada dos habitantes da URSS e dos países satélites, bem como
desvendar e debandar eventuais conspirações revolucionárias que ameaçassem a
integridade do regime soviético.

Com a ascensão ao poder de Nikita Khrushchev, a KGB sofreu uma mudança de


rumo. Foi ele quem instalou, oficialmente, o processo de desestalinização processo de
reformas políticas que visavam à eliminação do culto da personalidade e das práticas
políticas stalinistas na URSS, e sob seu regime, a agência de inteligência reduziu a
supressão aos opositores do regime.

Essa tentativa de suavizar as ações do regime foram desfeitas por sua deposição em
1964, e pelos governos de Leonid Brezhnev e, posteriormente de Yuri Andropov. Nos
anos 1960, principalmente sob o comando destes nomes, a KGB teve seu auge de
atuação e repressão, perseguindo ferrenhamente opositores, jornalistas, romancistas,
ou qualquer outro que pudesse praticar a tão falada subversão ideológica, cujo
combate era a missão principal da agência.

Nos anos que se seguiram, com os desdobramentos da Guerra Fria e o


enfraquecimento da mentalidade e ideários socialistas no mundo, a KGB foi
progressivamente perdendo força e sua atuação foi se tornando menos e menos
incisiva.

Por fim, a KGB foi oficialmente dissolvida em 3 de dezembro de 1991, após uma
tentativa frustrada de golpe de Estado promovida pelo então chefe da agência Vladimir
Kryuchkov, com o objetivo de preservar a integridade da União Soviética, após a
implantação das políticas da Glasnost (transparência do governo)
e Perestroika (reestruturação), levadas a cabo pelo líder Mikhail Gorbachev.
Sucederam essa agência o FSB (Federal'naya sluzhba bezopasnosti Rossiyskoi
Federatsii; em português: Serviço de Segurança Federal da Federação Russa) e o
SVR (Sluzhba Vneshney Razvedki; em português: Serviço de Inteligência
Estrangeira).

Apesar de ter oficialmente sido extinta, muito ainda se questiona sobre a possibilidade
de a KGB estar, ainda nos dias de hoje, operante. Atualmente, sabe-se que a Belarus
(ou Bielorrússia) é o único país onde a queda da URSS não parece ter se dado de
maneira integral. Apesar de a dissolução da URSS ter dividido a KGB nas duas
organizações já mencionadas (FSB e SVR), nesse país, a estrutura organizacional da
KGB permaneceu intacta, mantendo não somente seu nome, como suas práticas e
seu prédio oficial.

4. PRINCIPAIS OPERAÇÕES

Operação TRUST (Operatsiya Trest). Conduzida pela GPU, ela foi uma operação de
contraespionagem realizada entre 1921 e 1926, e que, segundo muitos, é tida como a
mais famosa operação de desinformação já realizada na história.

Ela consistiu na infiltração de bolcheviques do GPU em uma organização de


apoiadores da monarquia czarista deposta pela Revolução Russa de 1917, a MOCR
(Monarchiczieskoje Objedinienije Centralnoj Rossii). Seu plano era eliminar os
verdadeiros membros da organização e substituí-los por membros da polícia secreta, a
qual, aos poucos, acabou tomando por completo o controle da organização. Segundo
o artigo do historiador polonês Piotr Zychowicz,

nem mesmo sua carta de princípios juntamente com todo o seu programa escaparam:
foram reescritos e elaborados por funcionários da Lubianca (assim era popularmente
chamada a sede da Cheka em Moscou), documentos que eram, é claro, repletos de
anticomunismo radical.

Ao usarem da fachada para convencer os líderes dos emigrantes russos (contrários


aos bolcheviques), sobre a necessidade de apoiar o MOCR (já infiltrado), em sua
tentativa de restaurar o regime czarista, a GPU conseguiu com que os emigrantes
caíssem em uma armadilha para revelar os segredos da oposição na emigração, e
entregar dinheiro para financiar a tentativa de golpe, dinheiro este usado no
financiamento do próprio GPU.

Operação Tucano. Realizada em 1976, em parceria com o governo cubano, a


operação visava um ataque à credibilidade do governo do ditador chileno Augusto
Pinochet, notadamente de direita.

Seu grande feito foi manipular o The New York Times para influenciar a opinião
pública, com a liberação de uma série de matérias sobre a ocorrência de violações
sistemáticas de Direitos Humanos no Chile.

Operação Ryan. Realizada em 1981, a operação RYAN (cuja sigla em russo significa


Operação de Ataque de Mísseis Nucleares) foi um programa de inteligência militar
conduzido com o objetivo de coletar inteligência sobre os eventuais planos americanos
para lançar para um ataque nuclear contra a URSS, bem como e desenvolver a
melhor estratégia para conter tal ataque.
5. ATUAÇÃO DA KGB NO BRASIL

No tocante à atuação de espiões do serviço de inteligência soviético no Brasil, pouco


se sabe. Contudo, uma pesquisa conduzida pelo paranaense Mauro Kraenski, em
parceria com o tcheco Vladimír Petrilák, vasculhou arquivos da StB (o serviço de
inteligência da extinta Tchecoslováquia durante a Guerra Fria) tendo em vista que
ainda são inacessíveis os documentos russos , e descobriu não somente que agentes
da KGB estiveram operando em solo brasileiro como, também, que obtiveram auxílio
de brasileiros (ainda que, em alguns casos, não conscientes de que estavam a
contribuir com o serviço soviético, ressalvam os pesquisadores).

Em detalhes, se precisou que uma rede de trinta agentes e cerca de cem potenciais
agentes atuou no Brasil por quase vinte anos, no período de 1952 a 1971, buscando,
segundo Kraenski, a aquisição de informações ou de materiais relacionados a tarefas
específicas. Relata o autor, ainda, que entre os principais alvos estavam o Itamaraty, o
Governo Federal, o Congresso Nacional, o Exército e outras instituições de relevo
nacional. Suas táticas de recrutamento incluíam a busca por brasileiros de perfil
nacionalista e antiamericano, usando, por vezes, de subornos e chantagens para
cooptar os potenciais recrutas.

Por fim, descobriu-se que os soviéticos chegaram a conduzir várias operações em


solo brasileiro, dentre as quais a intermediação para o envio de 20.000 metralhadoras
tchecas para o Brasil, a tentativa de associar os Estados Unidos ao golpe de 1964 por
meio da falsificação de documentos, bem como a intenção de criar uma rede de
telecomunicações de alcance continental.

A tomada do poder por parte dos militares em 1964, não prevista pela agência,
representou um grande baque para as operações soviéticas clandestinas no Brasil,
com a perda de diversos aliados em setores estratégicos para o fornecimento de
informações. As rígidas políticas de vigilância e controle implementadas pelo regime
militar praticamente inviabilizaram a atuação soviética no Brasil a partir daquele ponto.
Depois desse período, não se obteve informações relevantes sobre o assunto.

6. ÓVNIS?

Muito se falou sobre a existência de arquivos relacionados a ÓVNIS (objetos voadores


não identificados) em poder da KGB. Após muitas pesquisas sobre o assunto, o grupo
conseguiu sintetizar obter as informações que se seguem.

Segundo documento disponibilizado para o público no site oficial da CIA, com base em
informações obtidas da KGB após o colapso da União Soviética em 1991, teria
acontecido um incidente que resultaria na transformação de vinte e três soldados em
estátuas.

O relatório, que também contém imagens dos supostos objetos, descreve uma
aeronave que, enquanto sobrevoava a Sibéria, teria sido abatida por soldados
soviéticos. Após a queda da nave, teriam saído cinco seres, de forma humanoide, que,
segundo relatos de testemunhas, se fundiram em um único ser de formato esférico.
Essa esfera teria, em sequência, emitido uma luz branca, que explodiu e transformou
vinte e três dos soldados presentes em pedra.

Ressalta-se, contudo, que esses relatos devem ser vistos com uma grande dose de
desconfiança, uma vez que a fonte usada pela CIA foi o site Weekly World News,
popularmente conhecido pelas hoaxes (boatos sensacionalistas).
7. VLADIMIR PUTIN E SUAS CONEXÕES COM A KGB

Num contexto mais atual, não se pode deixar de falar do presidente russo Vladimir
Putin. É conhecido o passado de Putin na KGB, tendo atingido o posto de tenente-
coronel nos quinze anos em que serviu ao serviço secreto. Em 1990, ele deixou a
KGB e tornou-se pró-reitor na Universidade de Leningrado. Ingressou na política em
1996, quando tornou-se vice-assessor do Presidente da Rússia. Em 1999, foi
escolhido para o cargo de Primeiro--Ministro no governo do então presidente Boris
Iéltsin.

No ano de 2000, Putin foi eleito Presidente da Rússia pela primeira vez, exercendo o
cargo até 2008, quando foi substituído por Dmitri Medvedev. Durante o governo de
Medvedev, voltou a exercer o cargo de Primeiro-Ministro. Com novas eleições em
2012, Putin foi novamente conduzido ao cargo de Presidente, o qual exerce até hoje.

Interessante destacar o fato de que a Constituição Russa prevê que o presidente não
pode exercer o cargo por mais de dois mandatos consecutivos. Em manobra recente,
Putin assinou lei que zera o contador de mandatos presidenciais, e que lhe permite
disputar mais duas eleições.

Essa não foi sua primeira tentativa de se perpetuar no poder. Em 2012, quando voltou
a disputar eleições presidenciais, a Constituição foi alterada para estender o mandato
de quatro para seis anos.

Não são poucas as suspeitas que recaem sobre Putin de ataques contra seus
desafetos políticos. Alexei Navalny, o principal político de oposição na Rússia, após ter
sido condenado por injúria e violado sua liberdade condicional, cumpre pena de dois
anos e meio. Anteriormente, a Justiça da Rússia já teria ordenado a suspensão das
atividades do grupo de Navalny. Mas isso não é tudo. No dia 20 de agosto de 2020,
durante um voo da Sibéria a Moscou, Navalny foi envenenado por um agente químico
chamado Novichok, colocado em seu chá. Após um pouso de emergência em Omsk, o
político foi levado para o hospital e ficou em estado de coma.

Histórias semelhantes ocorreram com Sergei Skripal, ex-espião russo morto por
atuação de um gás neurotóxico; Pyotr Verzilov, ativista político internado em 2018
após overdose de drogas anticolinérgicas, as quais ele alegou que não tomava;
Vladimir Kara-Murza, político da oposição, envenenado duas vezes, em 2015 e 2017,
e diagnosticado pelo hospital com influência tóxica de uma substância desconhecida;
Anna Politkovskaya, jornalista que investigava relatos de tortura e que foi assassinada
no elevador do prédio em que morava; Alexander Litvinenko, ex-oficial da KGB
envenenado com radionuclídeo polônio-210; e Yury Shchekochikhin, jornalista ativista
contra a corrupção, que escrevera livro sobre os informantes da KGB, e que morreu
envenenado por materiais radioativos similares aos encontrados no caso de
Litvinenko, dias antes de embarcar para os Estados Unidos para se encontrar com
agentes do FBI.

Apesar de não haver comprovação de qualquer dessas mortes estarem diretamente


ligadas a Putin ou a integrantes de seu governo, certo é que cumpriram a função de
acobertar atividades ilícitas praticadas pelo Kremlin ou pela extinta KGB, o que, por si
só, já seria o suficiente para chamar a atenção da opinião pública.

8. UMA REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DAS AGÊNCIAS DE INTELIGÊNCIA SOB A


ÓTICA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
Após esse breve relato sobre a atuação da agência de inteligência soviética KGB,
podemos fazer algumas reflexões. Os serviços de inteligência têm um papel
importante para os Estados no sentido de obtenção de informações relevantes para a
defesa da segurança e dos interesses nacionais, garantindo, também, a proteção de
um país em relação à contraespionagem.

O limite à atuação dos serviços de inteligência são as premissas do Estado


Democrático de Direito, quais sejam, o respeito à legalidade e aos direitos e garantias
fundamentais, principalmente no que concerne ao direito à intimidade e à liberdade.
Tais órgãos de inteligência, a fim de respeitar os mandamentos constitucionais, devem
se pautar pela ideia de accountability transparência de seus atos, somada à noção de
responsabilização pelas consequências de sua atuação.

A história demonstra que, embora as agências de inteligência tenham desempenhado


papel importante para assegurar a integridade dos Estados e na defesa dos interesses
internos, também apresenta inúmeros exemplos de uma atuação que transgride os
direitos humanos e ameaça o Estado Democrático de Direito. Para que seus
benefícios suplantem os danos eventuais, é necessário que os princípios que regem a
atuação desses órgãos, estejam atrelados aos ditames constitucionais. Caso contrário,
o preço a pagar pela existência de tais serviços pode ser alto a ponto de comprometer
as próprias bases sobre as quais foram erigidos.

O Direito Internacional Público cumpre papel relevante como balizador da atuação das
agências de inteligência. A criação de uma comunidade internacional composta pela
conjunção de interesses supranacionais possibilita a garantia de um padrão de
razoabilidade no desempenho desses órgãos. Países que tem um histórico de
violação das premissas do Estado Democrático de Direito no exercício desses
serviços podem, por meio dessa comunidade, sofrer sanções políticas e econômicas.
Ela pode chegar, inclusive, a garantir a proteção de alguns direitos fundamentais que,
porventura, estejam sendo violados pela atuação indevida das agências de
inteligência.

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