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AREIA-PB
2020
Angélica da Silva Salustino
Demichaelmax Sales de Melo
Wilma Freitas Celedônio
AREIA-PB
2020
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos principais produtores mundiais de frutas sendo responsável
por 4,6% do volume colhido e produção estimada de 39,9 milhões de toneladas, ficando
atrás apenas da China e Índia. Portanto, um país de clima tropical que tem mostrado
potencial na produção de frutas (ANDRADE, 2020).
Atualmente, a região Nordeste se destaca como sendo a região que mais
contribui para produção e exportação de frutas no país, sendo o cultivo voltado para
uma quantidade bastante restrita de frutíferas, mantendo a produção daquelas
consideradas tradicionais da região (banana, mamão, manga, goiaba, etc.) (LOPES et
al., 2014). Assim, surge a necessidade de diversificação do cultivo, onde fruteiras de
clima subtropical e temperado surgem como uma alternativa, tornando possível cultivar
frutíferas de maior valor agregado e que possibilitam aproveitar uma grande janela de
mercado.
De acordo com Lopes et al. (2014), o cultivo de fruteiras de climas subtropical e
temperado está concentrado nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, devido às limitações
climáticas existentes para as outras regiões. Contudo a demanda por frutas de clima
temperado é elevada e para o país continuar competitivo no mercado externo depende
de técnicas de adaptação dessas frutíferas no clima tropical.
Lopes et al. (2016), afirma que pesquisas realizadas na Embrapa Semiárido têm
demonstrado a possibilidade de cultivo de espécies de clima temperado de alto potencial
econômico para as áreas irrigadas do semiárido brasileiro e as condições
edafoclimáticas do semiárido nordestino são capazes de assegurar o bom desempenho
agronômico de espécies frutíferas independentemente da sua origem.
Para a evolução do desenvolvimento da fruticultura nacional faz notável a
importância da fruticultura de clima temperado, onde no Brasil algumas espécies já são
realidade como: uva, maçã, pêssego, caqui, figo, pêra e marmelo seguindo a ordem das
que são mais produzidas para as menos cultivadas, respectivamente (Fachinello et al.,
2011).
Segundo Furlan. (2008), graças aos programas de melhoramento genético a
produção de frutas de clima temperado tem se desenvolvido no Brasil, a exemplo do
melhoramento da macieira que tem mostrado sucesso em desenvolver cultivares
resistentes a doenças e porta-enxertos adaptados às condições edafoclimáticas.
Desse modo, investigar e destacar os modos de como se dá a adaptação climática
de frutíferas de clima temperado em ambientes subtropicais e tropicais preenche uma
lacuna e possibilita a importação de outras espécies ainda não explorada nesse
ambiente. Portanto, esse estudo tem como objetivo abordar sobre as espécies frutíferas
que são cultivadas em clima temperado e que estão sendo introduzidas em clima
tropical, elencando as principais alterações necessárias para tornar possível tal
introdução.
Acúmulo de frio
Uma das maiores limitações de produção de fruteiras de clima temperado em
regiões tropicais é o insuficiente acúmulo de frio hibernal para que haja uma efetiva
superação do período de dormência (EREZ, 2000). Para que as gemas venham a brotar
de maneira efetiva, é necessário que as plantas sejam expostas a temperaturas mínimas,
assegurando o pleno florescimento e frutificação efetiva ao chegar da primavera
(ALLAN, 2004).
Quando o requerimento climático de frutíferas temperadas não é satisfeito, as
plantas exibem heterogeneidade tanto na brotação quanto no florescimento, que é
manifestada de forma temporal e espacial. A heterogeneidade temporal é caracterizada
pela presença de gemas em diferentes estádios de desenvolvimento no mesmo
momento, enquanto que a heterogeneidade espacial refere-se à formação de gradiente
anormal de brotação e floração ao longo de um mesmo ramo. Essa condição só é
observada quando há baixa ocorrência de frio durante o período hibernal, maximizando
a heterogeneidade e consequentemente dificultando os tratos culturais, como o controle
de doenças, bem como raleio e colheita de frutas, tendo em vista a presença de vários
estádios fenológicos (Leite, 2004; Leite, 2005).
De acordo com Hauagge (2007), temperaturas que estejam na faixa de 0°C e
15°C já são suficientes para realizar a quebra de dormência, sendo a máxima eficiência
alcançada em temperaturas de até 7°C. Dessa forma criaram a unidade de frio (UF), que
é um tipo de modelo, definida como o equivalente a 1 hora de exposição a temperatura
de máxima eficiência (7 ºC). Para determinar a quantidade de UF de uma variedade
deve-se notar a quantidade de UF mínima ocorridas em dada localidade durante o
outono/inverno/primavera, de tal forma que esta variedade brote, floresça, e produza
normalmente, ou seja, quebre a dormência.
Assim, para que haja adequada superação da dormência, a regularidade de
baixas temperaturas durante o período hibernal é fundamental. O suprimento
inadequado em frio para espécies de clima temperado determina a ocorrência de
problemas relacionados à brotação, afetando o potencial produtivo das espécies. Petri e
Leite (2004) destacam ainda que um dos principais problemas ocasionados pelo não
atendimento do requerimento em frio é a assincronia entre o florescimento de cultivares
produtoras e suas respectivas polinizadoras, o que limita a efetividade da polinização
cruzada e reduzindo os índices de frutificação em espécies/cultivares autoincompatíveis.
Temperatura
Além de interferir em inúmeros outros fatores, a temperatura vem a modificar de
maneira direta os parâmetros de qualidade dos produtos a serem colhidos, uma vez que
altera tanto o sabor quanto a coloração, fatores de fundamental importância para a
comercialização. As variedades de maça ‘Gala’ e ‘Fugi’, por exemplo, são favorecidas
quando as temperaturas mínimas que ocorrem durante o mês que antecede maturação
ficam entre 13° e 15°C, produzindo assim frutos de qualidade superior quando
comparados a frutos obtidos sem que esse critério fosse atendido.
Quando a temperatura fica situada em torno de 20°C, os frutos podem ser verdes
e sem coloração, uma vez que a qualidade e intensidade de coloração diminuem de
acordo com o aumento destas temperaturas. Temperaturas abaixo de 8ºC, mesmo que
durante poucos dias, já é suficiente para induzir a coloração adequada para os frutos.
Assim, atentar à temperatura mínima exigida pelas cultivares é de extrema importância
antes da instalação do pomar, tendo em vista que a qualidade dos frutos, produto final, e
preço de comercialização, dependem da aparência e sabor dos frutos, os dois fatores que
sofrem interferência direta da temperatura do local de cultivo (HAUAGGE, 2007).
Redução de vigor
Uso de porta-enxertos
O uso de porta-enxertos compatíveis com cada cultura é bastante utilizado para
implantação de pomares e para isso algumas exigências são necessárias para um porta-
enxerto de sucesso, dentre elas pode-se ser citada; a propagação destes por sementes ou
estacas, facilidade de enxertia, presença de sistema radicular capaz de suportar a copa,
indução de uma produção precoce e de qualidade assim como apresentar elevada
resistência ao frio em determinadas regiões (Donadio et al, 2019). De uma forma geral o
grande intuito dessa utilização tem sido a redução do crescimento vegetativo bem como,
o auxílio para maior resistência às condições climáticas adversas e aumento da
produtividade (Dēķena, et al, 2017).
Em estudos com a macieira Malus x domestica Borkh. foi observado por Kumar
& Chandel (2017) que clones de porta-enxerto apresentam desempenho maior e melhor
quando comparados aos padrões comerciais atuais, promovendo saúde e produtividade
dos pomares e favorecendo maior resistência a pragas e doenças.
Poda
A poda é um método que age reduzindo a área foliar, eliminando ramos grandes
e altos considerados improdutivos como, por exemplo, aqueles sem ramificação lateral e
que não apresentam botões florais e frutos em bom estado (Anthony et al, 2020). De
acordo com Anthony & Musacchi (2019), a poda de verão é um tipo de poda usada para
abrir a copa permitindo a incidência de luz para os frutos, sendo necessária
principalmente para os brotos de um ano, essa incidência de luz na parte aérea favorece
o surgimento de botões florais.
Caso esses métodos não forem suficientes para reduzir o vigor dos ramos, esse
controle pode ser obtido pela utilização de regulares de crescimento, principalmente
substâncias inibidoras da biossíntese de giberelinas ativas, responsáveis por auxiliar no
alongamento de ramos (Hawerroth & Petri, 2014).
Os compostos químicos mais utilizados são como paclobutrazol, uniconazol e
prohexadiona-Ca responsáveis por inibir o crescimento vegetativo, aumentar a floração
e produtividade de várias espécies frutíferas inclusive maçã e pera (Albarracín et al,
2019). O proexadione cálcio, regulador de crescimento, vem sendo bastante estudado no
intuito de reduzir a crescimento vegetativo em espécies frutíferas, esse além de regular
os estágios finais da biossíntese de giberelinas causa interferências na 3 β-hidroxilação
(Ilias & Rajapakse, 2005).
Uva
A uva é uma das principais culturas que vem ganhando destaque como cultivo de
sucesso em regiões adversas. No Brasil a produção se concentra especialmente no Vale
do São Francisco incluindo partes de Pernambuco e Bahia. O sucesso da viticultura
nesses locais está atribuído principalmente às condições climáticas, temperatura média
entre 24 ° C e 30 ° C, chuvas em torno de 500 milímetros / ano e umidade do ar de 50%
Maçã
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