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Produção Vegetal – Olericultura

Prof. Mágno S. F. Valente – IFAM – CPRF 17

3. EXIGÊNCIA CLIMÁTICAS NA OLERICULTURA

3. EXIGÊNCIA CLIMÁTICAS NA OLERICULTURA

Objetivos:
Ao final desta lição, você deverá ser capaz de:
• Conhecer sobre o efeito da temperatura, da luz e da umidade na produção
das hortaliças;
• Saber como utilizar o clima a favor da produção de hortaliças.

3.1. Influência do clima na produção de hortaliças

Os fatores climáticos influenciam de maneira decisiva na produção vegetal, e as


olerícolas não poderiam se furtar disto. Dentre os diversos aspectos na qual o clima
influencia a produção de olerícolas podemos citar:

• Influência do clima nas olerícolas:


Ciclo
Colheita
Fitossanidade
Produtividade
Qualidade de produto
Preço de mercado

Tome nota: O técnico agrícola deve conhecer as exigências climáticas


da olerícola que deseja cultivar e também das condições climáticas de
sua região ao longo do ano. Alguns sites como o
http://www.inmet.gov.br podem auxiliar na obtenção de algumas destas
informações.

A seguir, discutiremos, de maneira breve, a influência dos principais fatores


climáticos na produção de olerícolas.

3.1.1. Temperatura

É o elemento climático de maior influência. Originalmente, existem hortaliças que


são melhor adaptadas a clima quente, ameno ou frio, embora estas exigências tenham sido
atenuadas, com o trabalho de melhoramento vegetal, que desenvolve, todos os anos,
espécies aptas às diversas condições climáticas. Porém, é fato que as Cucurbitáceas, por
exemplo, são melhor adaptadas a temperaturas mais altas, assim como o tomate e a batata
desenvolvem-se melhor num clima mais ameno e o repolho e a couve flor, por exemplo,
preferem clima mais frio.
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3.1.1. Temperatura

Termoperiodicidade é o termo que se aplica a variação de temperatura, seja ela


diária (dia/noite) ou estacional (entre estações do ano). A termoperiodicidade diária, que
se refere a diferença de temperatura do dia para a noite, exerce grande influência em
olerícolas como, por exemplo, nas solanáceas (batata, tomate), em beterraba e no
morango. A condição ideal para se produzir batata inclui uma variação de 6 a 10 °C do
dia para a noite. Já a termoperiodicidade estacional afeta diretamente as fases fenológicas
(relação dos processos biológicos periódicos com o clima) da planta. É fácil perceber que
o verão e o inverno, por exemplo, influenciam muito o desenvolvimento da planta.
Ainda com relação a este tipo de termoperiodicidade, podemos introduzir alguns
conceitos que serão importantes. Planta anual refere-se a planta que não precisa de
temperaturas baixas para passar da fase vegetativa para reprodutiva (não se relaciona com
ciclo de duração de um ano). Planta bienal são aquelas que exigem frio para passarem
da fase vegetativa para a reprodutiva, ou seja, ela precisa de dois períodos de tempo, com
variação de temperatura, e não dois anos, para completar seu ciclo.

Tome nota: fase reprodutiva da planta é quando ela passa a emitir


flores, que se transformarão em frutos e depois sementes.

Podemos classificar as hortaliças conforme sua adaptação em relação a


temperatura em três grandes grupos:

Hortaliças de Clima Quente → exigente em temperaturas elevadas (ideal entre


18 e 30 °C). O frio prejudica ou inibe a produção. Ex: cucurbitáceas, batata-doce,
pimenta e quiabo;

Hortaliças de Clima Ameno → toleram temperaturas mais baixas, próximas e


acima de 0°C, e podem tolerar geadas leves. Temp. ideal entre 13 e 18 °C. Ex:
tomate, batata, cenoura e alface;
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3.1.1. Temperatura

Hortaliças de Clima Frio → toleram temperaturas ligeiramente abaixo 0 °C;


suportam geadas mais pesadas. Maior produtividade em temp. entre 7 e 13 °C.
Ex: repolho de inverno, couve, beterraba, alho, cebolinha e alcachofra.
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Mas conheço produtores em Presidente


Figueiredo que plantam couve e
cebolinha e aqui não é de clima frio.

O que acontece é que nas mais diversas


espécies, trabalhos de melhoramento
genético permitem o lançamento de
diversas variedades adaptadas a
diferentes condições climáticas.

O que acontece se plantarmos as olerícolas em épocas ruins (contrárias)? Se plantar


em época não ideal, a hortaliça terá produtividade baixa ou em alguns casos
3.1.2. Luminosidade

não se desenvolverá ocorrendo perda total do investimento. Veja no quadro abaixo o


que acontece com algumas olerícolas ao serem cultivadas em diferentes temperaturas.
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b) Comprimento do dia

3.1.2. Luminosidade

Quando falamos em luminosidade existem dois elementos importantes a se


considerar: a intensidade e o fotoperíodo.
O aumento na intensidade luminosa corresponde à elevação na atividade
fotossintética, normalmente resultando em maior produção de matéria seca nas plantas.
No entanto, tanto o excesso como a deficiência de luz podem causas efeitos graves as
hortaliças, muitas vezes inviabilizando a produção, veja abaixo alguns destes efeitos:

• Excesso de luz
Diminuição da absorção de água
Redução do teor de clorofila
Diminuição da taxa fotossintética
Distúrbio da atividade enzimática - Acúmulo de açúcares

• Deficiência de luz
Estiolamento
Menor teor de matéria seca Predisposição a doenças
Menor pegamento de mudas.

Existem plantas que necessitam de maior intensidade luminosas do que outras,


sendo que algumas requerem alto nível de luz (cucurbitáceas, berinjela, tomate,
batatadoce, feijão-de-vagem), médio (alho, cenoura, brássicas, alface, espinafre, taro) e
baixo (gengibre e broto-de-feijão).
O termo usado para quantificar o comprimento do dia é fotoperíodo, que, em
síntese, é o período de luz do dia. Ao longo do ano, os dias ficam mais longos na
primavera/verão e mais curtos no outono/inverno. Do ponto de vista prático, o
fotoperíodo torna-se fator limitante somente na produção de poucas espécies olerícolas.
3.1.3. Umidade

Essa variação é importante, principalmente, para a formação de flores e bulbos. Exemplos


de influência do fotoperíodo: dias longos estimulam a bulbificação de cebola e alho
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(ambos são bulbos); dias curtos estimulam o florescimento da maior parte dos
morangueiros e também a tuberização da batata (que é um tubérculo). Outros exemplos:

• Espécie indiferente ao fotoperíodo


Tomate

• Espécies sensíveis ao fotoperíodo


Cultivares gaúchas de cebola (Jubileu, Lusitana, Fotoperíodo
etc.)
Cultivares de alho (Gigante, Amarante e Chinês)
Cultivares europeias de alface: Dias longo e quentes
Pepino e outras cucurbitáceas: Dias Curtos - > número de flores femininas,
aumento na produtividade

3.1.3. Umidade

Existe uma definição para Olericultura que é mais ou menos o seguinte: ... é a arte
de vender água acondicionada em hortaliças... Isto demonstra bem a importância da água
para as olerícolas. Para a grande maioria delas, cerca de 75 a 90% do seu peso total
compõe-se de água. Além disso, a água tem grande importância na formação da biomassa,
ou seja, é essencial para o crescimento e o desenvolvimento das plantas.
A falta de água disponível é o principal fator que reduz a produtividade das
olerícolas e a umidade exerce influência sobre dois aspectos:

• Umidade no solo: condiciona a absorção de água e dos nutrientes minerais.


• Umidade do ar: influencia a transpiração (perda de água pelas folhas) e outros
processos que afetam as culturas.

O teor de umidade do solo é um fator que o olericultor pode controlar. Esse


controle da umidade do solo normalmente é feito pela irrigação. Já a umidade do ar é mais
complicada de ser controlada pelo agricultor (somente em cultivo protegido), com
algumas regiões apresentando amplitudes de umidade características para determinadas
épocas do ano. A umidade do ar geralmente está correlacionada com estado fitossanitário
da cultura, aumentando os ataques de fungos e bactérias fitopatogênicas em locais de alta
umidade. No caso de baixas umidades do ar, isto acaba favorecendo a manifestação de
ácaros e alguns insetos.

Tomate e batata ( Phytophthora


infestans) - sob umidade relativa do
3.2. Utilização do clima em favor da ar elevada e baixa temperatura (13
ºC -15 ºC)
produção de
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O excesso de água também pode ser um problema enfrentado em áreas alagadiças


ou próximas a brejos.

Abaixo você pode conferir alguns sintomas de excesso e deficiência de água em


olerícolas.

Sintomas excesso de água Sintomas falta de água

3.2. Utilização do clima em favor da produção de hortaliças

Controle da temperatura
Quando pretendemos diminuir
a temperatura do solo ou da sementeira para
formação de mudas, podemos aplicar a técnica
da cobertura palhosa: capim seco, palha de
arroz, palha de trigo, serragem, bagaço de cana
triturada, folhagem em geral seca, entre outros.
Esses restos vegetais são aplicados em
cobertura do solo em pequena quantidade,
evitando excesso. A principal vantagem da
utilização
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3.2. Utilização do clima em favor da produção de

desses restos de vegetais é baixar a temperatura normal do solo descoberto e mantê-la


estável nas horas mais quentes do dia.
Outra técnica para controle da temperatura seria a formação de sementeiras sob
cobertura protetora acima do solo. Essa cobertura pode ser feita com materiais disponíveis
na área, como bambu e cobertura folhosa - capim Napier, folhas de coqueiro, folhas de
babaçu, folhas de buritizeiro ou outro tipo semelhante. Atualmente, além dessas
alternativas naturais, existe à disposição o sombrite, material feito de plástico com
diferentes níveis de sombreamento e cores.

Controle da luminosidade
O fotoperiodismo é quase impossível de se controlar, exceto nos casos em que se
planta sob cultivo protegido, ou seja, nas casas de vegetação, sistematizadas com a
utilização de iluminação artificial com lâmpadas. Esse tipo de técnica é utilizado no Brasil
para produção de flores.
Por outro lado, é possível controlar a intensidade luminosa e, mais uma vez, a
técnica de cobertura protetora pode ser utilizada. Assim como vimos anteriormente, a
cobertura folhosa com capim Napier, folhas de coqueiro, folhas de babaçu ou outras
semelhantes e o sombrite podem ser utilizadas.

Controle da água no solo


Sabemos que água em falta no solo ou excesso pode causar problemas às
olerícolas conforme a espécie cultivada. Por isso devemos pensar em como manejar essa
água.
A oferta artificial de água para as plantas é realizada pela irrigação (iremos abordar
a irrigação com mais detalhes em capítulos posteriores). Atualmente o olericultor tem à
sua disposição vários sistemas de irrigação, como a irrigação manual com auxílio de
regador, mangueiras de jardim ligadas a torneiras ou pequenas motobombas. Entre os
tipos mais tecnificados de irrigação, podemos citar a irrigação por sulco até tipos mais
complexos, como o gotejamento, a microaspersão, o pivô central e a irrigação por
aspersão.

Irrigação por aspersão Irrigação por Pivô-Central Irrigação por gotejamento

A escolha do método de irrigação vai depender da disponibilidade de recursos


financeiros disponíveis pelo olericultor, da espécie cultivada e da quantidade de água
disponível. As olerícolas folhosas são as mais exigentes em água, devendo o teor ser
mantido próximo do máximo ao longo de todo o ciclo da cultura, inclusive durante a
colheita. No caso da alface, por exemplo, a irrigação no dia anterior à colheita é
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3.3. Exercícios de Fixação

necessária, e as plantas devem ser colhidas nas primeiras horas do dia para manter a
qualidade do produto.
Por outro lado, o alagamento ou o excesso de água (excesso hídrico), temporário
para algumas espécies, pode ser muito prejudicial. Nesse caso, o que podemos fazer para
reduzir esse alagamento? Primeiramente devemos escolher a área mais adequada para
cada espécie e verificar a profundidade do solo e a presença de água no subsolo. No caso
em que há muita água no subsolo, devem-se realizar práticas para a sua redução ou mesmo
evitar o plantio em certas áreas, que não drenam nas épocas chuvosas.
Em alguns casos, podemos sugerir ao olericultor que faça a drenagem do solo, ou
seja, que faça sulcos superficiais ou utilize outra forma para que a água do solo possa
escoar com maior facilidade e reduzir o encharcamento, que pode matar as plantas. Outra
técnica de controle de umidade seria o plantio em ambiente protegido.

Figuras. Casas de vegetação

3.3. Exercícios de Fixação

1. Sobre o efeito da temperatura na produção das principais hortaliças, pode-se dizer que:

a) Não afeta a produção das hortaliças, como na duração do ciclo, na precocidade da


colheita, na qualidade e, inclusive no preço de mercado.
b) A variação entre temperatura máxima e mínima não tem influência sobre todas as
famílias de olerícolas.
c) A temperatura do solo da sementeira não afeta a germinação, a emergência e o
desenvolvimento inicial das plântulas de olerícolas.
d) A temperatura é o fator climático mais importante a ser considerado na decisão da
espécie que será plantada na região.

2. Assinale a alternativa correta sobre a classificação da olerícolas em relação a


temperatura.

a) Olerícolas de temperatura elevada: aquelas que tipicamente são intolerantes ao


frio, sendo que este prejudica ou inibe sua produção.
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b) Olerícolas de temperaturas amenas: apresentam produtividade maiores sob


temperaturas entre 7 e 13 °C no período noturno.
c) Olerícolas de temperatura baixa: maior produtividade sob temperaturas entre 13 e
18 °C no período diurno.
3.3. Exercícios de Fixação

d) Todas estão corretas

3. São olerícolas que requerem temperaturas entre mais elevadas:

a) aspargos, alho, cebola morango


b) alface, ervilha, quiabo, acelga
c) batata, alface, cebola e tomate
d) abobora, pimenta, quiabo, melancia

4. Em relação a luz na produção de hortaliças, pode-se afirmar que:

a) O número de horas diárias de luz não depende da localização.


b) A luz solar é um fator climático importante para o desenvolvimento vegetal e,
normalmente, a alta intensidade luminosa aumenta a atividade fotossintética,
resultando em aumento na produtividade da planta.
c) O fotoperíodo exerce grande influência em todas as hortaliças.
d) A maioria das olerícolas tem melhor desenvolvimento quando cultivadas à
sombra, não necessitando de muita luminosidade.

5. Assinale a alternativa correta.

a) O teor de umidade do solo não é um fator que o olericultor pode controlar.


b) A falta de água pode ser um problema para algumas olerícolas, pois pode causar
apodrecimento das raízes, bem como o aumento no aparecimento de muitas
doenças.
c) Dependendo da região é possível ter grandes produtividades em área não irrigada.
Como exemplo de espécies mais tolerantes a falta de água podemos citar as
culturas da abóbora e chuchu.
d) Um exemplo de olerícola que é moderadamente tolerante ao excesso de água no
solo é a couve.

6. Que estratégias você utilizaria para manter o clima em favor da produção de hortaliças?

• Iria monitorar o clima regularmente, utilizar sistemas de irrigação eficientes,


aplicaria coberturas vegetais para conservar a umidade

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