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ESTIMAÇÃO DA EXCREÇÃO URINÁRIA EM OVINOS A PARTIR DA CREATININA

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Mazzilli Amaral Freitas , Mara Lúcia Albuquerque Pereira , Leonardo Ribeiro Nunes , Evanete
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Moura de Carvalho , Herymá Geovani de Oliveira Silva , Sandro de Souza Mendonça .

Resumo: Este trabalho foi desenvolvido, utilizando oito carneiros da raça Santa Inês, machos
castrados com idade adulta, em gaiolas metabólicas com peso corporal médio de 42,53 kg com o
objetivo de avaliar o uso da creatinina com indicador da produção de urina. Os animais foram
distribuídos em dois quadrados latinos (4x4), com períodos de 13 dias de duração cada, sendo
oito dias de adaptação e cinco dias de coleta de dados. As dietas consistiram da substituição do
feno da gramínea Cynodon spp (capim Tifton 85) por torta de dendê nos níveis de 0, 15, 30 e
45%. Em cada período experimental foram realizadas coletas totais de urina durante cinco dias
para determinação da excreção urinária de creatinina. Foram obtidas amostras spot de urina de
cada animal no 11º dia de cada período experimental, aproximadamente 4h após o oferecimento
matinal do alimento, durante micção espontânea. Observou-se que a concentração de creatinina
em amostras de urina spot pode ser utilizada como indicador da excreção urinária total e que a
dieta não influenciou a excreção média de creatinina por unidade de peso vivo (17,7 mg/kg de
peso vivo).

Palavras-chave: torta de dendê, urina spot, urina total, volume urinário

ESTIMATION OF URINARY EXCRETION IN SHEEP BASED ON CREATININE

Abstract : This work was carried using eight adult castrated male Santa Inês sheep, in cages of
metabolism, with average body weight of 42.53 kg with objective to evaluate the use of creatinine
as an indicator of urinary production in sheep. The animals were distributed in two Latin squares
(4x4) design, with experimental periods of 13 days each, which eight of those, are to adaptation
and five days, to data collection. The Cynodon spp (Tifton 85 grass) hay was replaced by palm
kernel cake in 0, 15, 30 and 45% levels. In each experimental period, urine total samples were
o
taken during a 5 days period, and four hours after morning feed, in 11 day (spot urine) of each
-1
experimental period. The daily excretion as proportion of body weight (mean of 17.7 mg kg live
weight) was not affected by diets. The estimative of urinary production based on urinary
concentrations of creatinine in spot samples, is reliable.

Keyword: palm kernel cake, spot urine, total urine, urinary volume.

Introdução:

A técnica dos Derivados de Purina (DP) é bem estabelecida como método indireto para estimativa
do suprimento de proteína microbiana aos animais ruminantes em condições experimentais.
Entretanto, a aplicação da técnica sob condições de campo é limitada pela dificuldade de executar
coletas totais de urina durante 24 horas. Contudo, na tentativa de simplificar a obtenção de dados
experimentais, tem-se utilizado a creatinina excretada na urina como indicador para estimativa do
volume urinário diário com a coleta spot de urina (única amostra de urina, coletada quatro horas
após a alimentação). A creatinina é um produto da degradação da fosfocreatina (creatina
fosforilada) no músculo, e é geralmente produzida em uma taxa praticamente constante pelo
corpo. A produção diária e a excreção de creatinina é dependente da massa muscular e , portanto,
proporcional ao peso do animal (KOREN, 2000). É pouco ou não afetada pela dieta, desse, modo

1 - Discente do curso de zootecnia- UESB- bolsista FAPESB- mazzillifretias@bol.com.br

2 - Professora Titular UESB/DEBI- mara@uesb.br

3 - Mestre em zootecnia

4 - Professor UESB/DTRA e doutorando/ UNESP-Jaboticabal.


não são esperadas variações decorrentes da dieta. Utilizando-se a concentração de creatinina na
urina como indicador da produção urinária, pode-se estimar a excreção dos DP e de outros
compostos nitrogenados (VALADARES et al. 1997).Desse modo, objetivou-se neste trabalho
avaliar o uso da creatinina como indicador da produção de urina em ovinos.

Material e Métodos:

O experimento foi realizado, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, Campus


Juvino Oliveira, na cidade de Itapetinga-Bahia, 2005. Foram utilizados oito carneiros da raça Santa
Inês, machos castrados, com peso corporal médio de 42,53 kg, com idade adulta. Os animais
foram alojados em gaiolas metabólicas com comedouros e bebedouros individuais, distribuídos em
dois quadrados latinos (QL) balanceados 4x4, com períodos de 13 dias de duração cada, sendo
oito dias de adaptação e cinco dias de coleta de dados. Os tratamentos constituíram-se da
substituição em 0, 15, 30 e 45% do feno de gramínea do gênero Cynodon spp (capim-Tifton 85)
pela torta de dendê. O feno foi fornecido picado em tamanho de 5cm para evitar desperdícios com
a seleção pelos animais. As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, às 7:30 e 16:00 horas, ad
libitum, de modo a permitir de 5 a 10 % de sobras. Os animais tiveram acesso a uma mistura
mineral fornecida, ad libitum, em cocho separado. Em cada período experimental foram realizadas
coleta total de urina durante cinco dias para determinação da excreção urinária diária de creatinina
por unidade de peso corporal. A média do peso dos animais foi obtida a partir da pesagem de
cada animal no início e final de cada período experimental. A urina foi coletada em recipiente
plástico, contendo 20 ml de ácido sulfúrico a 40%. Amostras equivalentes a 10% do total
excretado por dia foram congeladas a -20ºC para ao final do período de coleta compor a amostra
composta de cinco dias. Foram obtidas amostras spot de urina de cada animal no 11º dia de cada
período experimental, aproximadamente 4h após o oferecimento matinal do alimento, durante
micção espontânea. Imediatamente após a coleta, amostras de 10 ml foram diluídas com 40 ml de
ácido sulfúrico a 0,036N e armazenadas a -20ºC. O volume diário estimado de urina foi calculado
a partir de uma taxa média de excreção de creatinina (mg/kgPV/dia) obtida pela coleta total de
urina e da concentração de creatinina (mg/L) na amostra spot de urina de cada animal. A análise
de creatinina foi realizada nas amostras compostas de urina total e de urina spot utilizando-se kits
comerciais. Os resultados foram avaliados por meio de variância e regressão, a 5% de
probabilidade, utilizando o Sistema de Análises Estatísticas e genéticas – SAEG 8.0. Os dois
quadrados latinos foram analisados em conjunto. Para comparar as técnicas (coleta de urina total
e spot) de produção urinária, foi utilizado o teste t pareado.

Resultados e Discussão:

Constam na Tabela 1 as médias da excreção diária e da concentração de creatinina na urina total


de ovinos da raça Santa Inês, o desvio padrão e a probabilidade da influência de diferentes fatores
sobre a excreção urinária de creatinina. A excreção média diária de creatinina de 17,75 mg/kgPV
foi semelhante entre animais e tratamentos, e diferente entre períodos (P>0,05). Esse valor é
inferior ao valor de 23,2 mg/kgPV obtidos por Kosloski et al. (2005) em ovinos. O valor médio para
excreção total, de 771,20 mg/dia, foi diferente entre animais (P<0,01) e períodos (P<0,05), mas
não foi afetada pela dieta (P>0,05). A concentração de creatinina, obtida nas amostras de urina
total, foi diferente entre períodos (P<0,05), mas foi semelhante entre tratamentos e animais. Esse
resultado é consistente com a afirmação de Valadares et al. (1997), os quais relatam que a
excreção de creatinina é pouco afetada pela dieta. Estão apresentados na Tabela 2, coeficientes
de variação (CV), valores médios referentes ao volume urinário observado e estimado e
concentrações (mg/dl) e as produções diárias de creatinina (mg/d) na urina total e spot. Ao
comparar as concentrações de creatinina (mg/dl) entre a urina total e urina spot e o volume
urinário observado e estimado observou-se diferença estatística (P<0,01) pelo teste t pareado.
Esses resultados retratam as afirmações de Chen & Gomes (1992), de que para reduzir erros
devido a variações na produção urinária, as coletas de urina deveriam ser feitas durante pelo
menos cinco dias. Contudo, como as excreções de creatinina (mg/dia) obtidas na urina total e spot
foram semelhantes (P>0,05) pelo teste t pareado, pode-se inferir que a produção urinária estimada
utilizando a concentração de creatinina na urina spot a partir da excreção média deste metabólito
por unidade de peso corporal é confiável por não haver variação em sua quantidade diária
excretada.
Conclusão:

A concentração de creatinina em amostras pontuais de urina pode ser utilizada como indicador da
excreção urinária total.

A torta de dendê em substituição ao feno de Tifton 85 não influenciou a excreção média diária de
creatinina por unidade de peso corporal em ovinos da raça Santa Inês.

Bibliografia:

1. BARBOSA, A. M.; VALADARES, R. F.D. et al. Efeito do período de coleta de urina, dos
níveis de concentrado e de fontes protéicas sobre a excreção de creatinina, de uréia e de
derivados de purina e a produção microbiana em bovinos Nelore. Revista Bras.
Zootec. vol.35 no.3 viçosa maio/junho 2006

2. CHEN , X. B.; GRUBIC, G.; ORSKOV, E. R.; OSUJI, P. effect of feeding frequency in
diurnal variation in palsma and urinary purine derivatives in steers. Anim. Prod.; 55: 185 –
191.

3. KOREN, A. Creatinine urine. Medical encyclopedia. 2000.


www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/003610.htm

4. KOZLOSKI, G. V.; FIORENTINI, G.; HARTER, C. J.; SANCHEZ, L. M. B.Uso da creatinina


como indicador da excreção urinária em ovinos. Ciência Rural, v. 35, n. 1, p. 98 – 102, jan
– fev, 2005.

5. MENDONÇA, S. S.; PEREIRA, M. L. A.; ASSIS, A. J.; AGUIAR, L. V.; CARVALHO, G. G.


P. Estimação da produção de proteína microbiana em ruminantes baseado nas excreções
de derivados de purina. Revista Portuguesa de Ciência Veterinárias, pág 181-186, RPCV
2006.

6. VALADARES, R. F. D.; GONÇALVES, L.C.; SAMPAIO, I. B. et al. Níveis de proteína em


dietas de bovinos 2. consumo, digestibilidade e balanço de compostos nitrogenados .
Revista Brasileira de Zootecnia, v. 26, n. 6, p. 1259 – 1263, 1997.
Tabela 1 – Desvio padrão, médias e probabilidades pelo teste F da influência de diferentes fatores
sobre a excreção urinária de creatinina por ovinos da raça Santa Inês.

Excreção diária Creatinina mg/dl

ITEM N de creatinina

mg/dia mg kg PV

Média 32 771,20 17,76 83,97

Desvio padrão 163,69 2,75 37,24

Probabilidade do erro tipo 1


1
A 8 0,00002 0,01990 n.s.
2
T 4 n.s. n.s. n.s.
3
P 4 0,01339 0,00896 n.s.
1 2 3
Efeito dos animais Efeito dos tratamentos (dietas) Efeito dos períodos experimentais. n.s.: não
significativo (P>0,05)

TABELA 2 - Valores médios e coeficientes de variação (CV) do volume urinário observado


(VUobservado) e estimado (VUestimado), das concentrações de creatinina em mg/dl na
urina total e “spot” e das excreções diárias de creatinina em mg/dia na urina total e spot de
ovinos da raça Santa Inês alimentados com 0, 15, 30 e 45% de torta de dendê em
substituição ao feno de Cynodon spp (capim Tifton 85) .

Dieta (% de torta de dendê na MS) Equação de


Regressão
Variáveis 0 15 30 45 CV(%) Ŷ
1
VUobservado(L) 1,179 1,130 1,058 1,058 35,51 1,11 n.s.
1
VUestimado(L) 1,144 0,892 1,214 0,757 72,88 1,00 n.s.
1
Creatininatotal (mg/dl) 74,21 83,04 90,09 88,52 83,97 34,67 n.s.
1
Creatininaspot(mg/dl) 96,00 101,16 106,45 142,34 111,49 48,31 n.s.
2
Creatininatotal(mg/dia) 773,46 772,49 746,54 792,30 12,62 771,20 n.s.
2
Creatininaspot(mg/dia) 784,49 771,17 769,40 761,18 3,95 771,56 n.s.
1 2
Diferiram pelo teste t pareado (P<0,01); Não diferiram pelo teste t pareado; n.s. não significativo
(P>0,05)

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