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RADIOENLACES: CONCEITOS E FUNDAMENTOS

Introdução

Os enlaces rádios representam uma importante área da Engenharia de Telecomunicações, já


que continuam sendo responsáveis por grande parte do atendimento a serviços de voz e dados,
principalmente em situações em que são a melhor alternativa em termos de viabilidade técnica.
A fibra óptica é outro tipo de enlace cada vez mais comum para comunicação entre dois pontos,
e possuem vantagens em relação aos enlaces rádio devido à alta capacidade de transmissão,
entretanto não são viáveis a todas as situações de relevo e demografia.
Os radioenlaces também apresentam benefícios significativos quanto ao tempo de instalação
de curto prazo e custos de implementação menores, já que possuem infraestrutura mais simples.

O que é um Radioenlace?

Um enlace, no geral, pode ser definido como sendo sistemas de comunicações entre pontos
fixos situados sobre a superfície terrestre, comumente chamados de estações, que
proporcionam uma capacidade de transmissão de informações.
O enlace rádio é um meio de transmissão que utiliza ondas eletromagnéticas para comunicação
entre de antenas transmissoras e receptoras.

Figura 1 – Torre de Telecomunicações


O espectro de frequência é composto desde as baixas até as altas frequências, o que permite
diferentes classificações para as ondas eletromagnéticas.
As chamadas ondas de rádio possuem frequências menores, alcançando longas distâncias, e
por isso são muito utilizadas em comunicações militares, especialmente entre navios e
submarinos, e transmissão de rádio AM e FM.
Já as microondas, usadas na maior parte dos radioenlaces em Telecomunicações, possuem altas
frequências e são amplamente utilizadas nas redes de transmissão de voz e dados.

Rádio X Fibra
Como já foi mencionado, as fibras ópticas são tecnologias cada vez mais presentes nos enlaces
em redes de Telecomunicações.

Estação de Telecomunicações e Configurações de Enlaces

Estação é o conjunto operacional de equipamentos, aparelhos, dispositivos e demais meios,


necessários à realização de determinada telecomunicação, assim como seus acessórios e as
instalações que os abrigam e complementam, concentrados em locais específicos ou em um
terminal portátil.
Logo, um enlace é composto por duas ou mais estações e, quanto a disposição dessas, podem
ser classificados em dois tipos.
Na configuração ponto a ponto, o sistema atende apenas uma estação diretamente, e na ponto
multiponto, um mesmo ponto de origem pode atender diversas estações ou usuários finais em
endereços físicos distintos ao longo da sua área cobertura.

Figura 2 – Exemplo de ligações Ponto-a-Ponto (Point-to-Point) e Ponto-Multiponto (Point-to-


Multipoint)

Radioenlaces de Microondas
As microondas são ondas eletromagnéticas cujas frequências estão no intervalo de 0.3GHz a
300GHz, podendo começar em 1Ghz de acordo com alguns padrões internacionais.
Em um enlace de microondas a informação se transmite através de ondas muito curtas e para
comunicação é usado um par de frequências: uma para transmissão e outra para recepção.

Onde os Radioenlaces de Microondas são utilizados


A possibilidade de implementar um enlace operando em microondas impactou grandemente o
setor de Telecomunicações quando ainda não haviam outras tecnologias para redes de
transporte, e ainda hoje é crucial para várias formas de comunicação.
São usados pelas grandes emissoras na TV digital, nos backbones de telefonia móvel, nas redes
de acesso de provedores de internet, em links entre satélites e bases terrenas, entre outras
modalidades.
Radioenlaces: A Importância da Visada
Por causa das altas frequências utilizadas, para um melhor funcionamento do sistema de
microondas é necessário que os pontos entre o enlace estejam em visada direta, tendo uma
altura livre adequada para a propagação durante toda época do ano, levando em conta as
variações das condições atmosféricas da região.
Também, para evitar perdas por reflexão ou atenuação, não deve haver obstáculos dentro do
primeiro raio da Zona Fresnel, modelo para cálculos de propagação que define uma região
(elipsóide) dentro da qual a maior parte da energia do sinal está contida.

Figura 3 – Visada direta em radioenlaces

Se houver impossibilidade de visada direta entre duas estações são utilizadas estações
intermediárias, as repetidoras, para transmissão do sinal.

Infraestrutura de Radioenlaces
Um radioenlace ponto-a-ponto então, pode ser composto por estações terminais (transmissoras
e receptoras) e repetidoras. Estas estações podem ter seus equipamentos dispostos no alto dos
prédios, postes e, mais frequentemente, em torres metálicas.
Figura 4 – Tipos de torres usadas em Telecomunicações
Estações Terminais de Radioenlace
As estações terminais são aquelas situadas nos extremos da rota, responsáveis por transmitir o
sinal e/ou recebe-lo.
Estas estações terminais são compostas basicamente por equipamentos de rádio, sistemas
irradiantes e fontes de alimentação, ligados por cabos e conectores, como exemplificado nas
figuras 5, 6 e 7.
Tecnologias de Equipamentos Rádio
Os equipamentos de rádio são responsáveis pelo tratamento do sinal, através de funções de
processamento, modulação e multiplexação, para prepará-los para a transmissão ou recepção.
Em seu início, a única tecnologia disponível de radiocomunicação era a analógica onde a
informação era transmitido com uma portadora única e ininterrupta que ‘imprimia’
continuamente sinais eletromagnéticos ocupando maior uma maior faixa no espectro.
Com as crescentes pressões e exigências associadas a qualidade de sinal e a necessidade de
otimização do espectro de frequência, começou-se a implementação das tecnologias de rádios
digitais, colocando os anteriores em desuso com o tempo.
Atualmente diversas tecnologias de rádio encontram-se em uso, sendo as mais comuns:
Rádio Enlaces Digitais: equipamentos rádio que permitem taxas desde 2 Mbit/s chegando em
400 Mbit/s, para enlaces em configurações ponto a ponto e em faixas de frequência que
dependem de obtenção de licença para uso. Podem alcançar grandes distâncias e possuem
excelente imunidade a interferências, embora o seu custo possa dificultar o uso em serviços de
pequeno porte.
Rádios Spread Spectrum: são implantados com o uso da tecnologia Spread Spectrum, que
permite um melhor uso do espectro de frequências, e normalmente operam em faixas que não
necessitam de licença para uso. Podem operar nas configurações ponto a ponto ou ponto
multiponto (mais comum), com taxas de bits que variam de 64 kbit/s a 150 Mbit/s. Alcançam
distâncias médias, possuem custo acessível, e por isso são muito utilizados por pequenos
provedores, embora possam sofrer problemas de interferência devido ao uso da faixa de
frequências livres.
Figura 5 – Exemplos de equipamentos rádio digital

Antenas de Enlaces Rádio


Já os sistemas irradiantes são as antenas que têm como objetivo transmitir e receber os sinais
eletromagnéticos gerados pelos equipamentos de rádio comunicação.
As antenas possuem uma série parâmetros para caracterizar o seu comportamento que são
importantes para a escolha adequada do modelo para sistemas de radioenlaces.
Alguns deles são:
Diretividade: capacidade de concentrar a energia numa determinada direção. Antenas para
enlaces microondas devem ser altamentes diretivas.
Ganho: densidade de fluxo de potência gerada por uma antena em relação a densidade de fluxo
de potência gerada por um radiador isotrópico (que irradia igualmente em todas as direções)
com a mesma potência de entrada.
Polarização: definida em função da orientação do vetor campo elétrico na direção de máxima
radiação.
Relação frente-costa: é a relação de ganho entre o lóbulo principal onde se tem a maior
concentração de energia eletromagnética, e o lóbulo de costas (oposto ao lóbulo principal).
Ângulos de meia potência: são definidos pelos pontos no diagrama onde a potência radiada
equivale à metade da radiada na direção principal. Estes ângulos definem a abertura da antena
no plano horizontal e no plano vertical.
Cada antena também é projetada para uma determinada faixa de frequências, de modo que fora
de sua banda de frequência de operação, a antena atenua o sinal acentuadamente ou o rejeita
completamente.
Figura 6 – Exemplo de uma antena
Estações Repetidoras
As estações repetidoras se localizam no meio da rota com a função de regenerar o sinal em
caso de obstrução do percurso ou quando não há visada direta entre duas antenas desejadas.
Os repetidores amplificam e redirecionam o sinal através de técnicas que os permitem
classificar de duas formas:
Ativos: nestes o sinal é recebido na frequência da portadora e é reduzido a uma frequência
intermédia (IF) para amplificar e retransmiti-lo na frequência de saída. São usados
transceptores, dispositivos que possuem um transmissor e um receptor que compartilham parte
de um mesmo circuito.
Passivos: comportam-se como espelhos que refletem o sinal e podem ser divididos em passivo
padrão, que é uma tela refletora, e passivos back-to-back, consistindo de duas antenas,
conectadas através de guias de onda, voltadas de costas uma para a outra.

Tipos de Instalações para Estruturas de Radioenlaces


Existem três tipos de instalações possíveis para uma estação de rádio: indoor (ou interna),
outdoor (ou externa) e split (mista).
Indoor: Na indoor os equipamentos rádio ficam no interior de um cômodo e a antena fica do
lado externo.
Outdoor: No tipo outdoor os equipamentos ficam acondicionados em um housing (ou gabinete)
externo e ligam-se aos equipamentos auxiliares internos via cabos de banda base.
Split: No tipo split os equipamentos rádio são divididos em unidades externas (ODU) e
unidades internas (IDU). A parte externa é composta basicamente pela unidade de
radiofrequência (a RFU) e a parte interna é composta pelo modulador/demodulador (modem),
banda base e multiplex (se houver estágio de multiplexação). A interligação entre as duas partes
é feita através de um multicabo operando em frequência intermediária (FI).

Figura 7 – Exemplo de conjunto antena + IDU + ODU

Administração das Faixas de Frequências


Como já foi mencionado, radiofrequência é a faixa do espectro eletromagnético de 3 kHz a 300
GHz e é um recurso limitado, constituindo-se em bem público e administrado em Angola pelo
INACOM.
As atribuições das faixas são definidas em tratados e acordos internacionais, aprovados na
União Internacional de Telecomunicações – UIT (em inglês International Telecommunication
Union – ITU).

Figura 8 – Frequências do espectro eletromagnético e aplicações em Telecomunicações

Projetos de Radioenlaces
No planejamento de um enlace rádio o objetivo é garantir que o sinal digital original que
transporta a informação possa ser regenerado na outra ponta com uma taxa de erros mínima.
Para que isto ocorra, modelos de propagação são usados para cálculos de parâmetros que
possam interferir na transmissão do sinal, como perdas no espaço livre, atenuação e
desvanecimento, que influenciam diretamente a escolha da potência de transmissão dos
equipamentos de rádio e modelos das antenas de modo a compensar as perdas.
O projeto de um enlace requer conhecimento de redes, protocolos de dados, tráfego de dados,
propagação de RF, tecnologias de transmissão, técnicas de medidas, metodologias de
otimização entre muitos outros tópicos.
Figura 9 – O sucesso de um projeto de radioenlace depende de um bom planejamento

Rádio Enlaces: Longa Vida Útil


Todos os projetos de enlaces são pensados para que a rede tenha vida útil de pelo menos
algumas décadas.
Os custos de um planejamento mal feito pode ser altíssimo para operadoras uma vez que a
localização dos equipamentos, geralmente em torres, é de difícil acesso e mandar uma equipe
para manutenção em campo pode sair muito caro.
Ajustes em Campo Custam Tempo e Dinheiro
Nesse processo é preciso fornecer informações sobre características técnicas das estações e por
isso, caso seja necessária alguma mudança no projeto original, também deverá ser feita a
atualização no cadastro o que significa um gasto de tempo e, às vezes, de dinheiro.
Por isso se torna cada vez mais valioso o uso de softwares capazes de suportar os provedores
de serviços no planejamento contínuo de suas redes de transmissão, permitindo maior rapidez
e precisão nos cálculos, otimizando investimentos em ampliações e evoluções.

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