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8 No entanto, o registro da observação humana é curto demais para o estudo de


muitos dos processos geológicos lentos (Figura 8.1). Na verdade, ele não é suficiente
nem para capturar alguns tipos de eventos rápidos, mas raros; por exemplo, nunca

Relógios nas Rochas: testemunhamos um impacto de meteorito tão grande quanto o que deixou a cratera
mostrada na Figura 1.7. Do contrário, devemos confiar no registro geológico: as infor-
mações preservadas nas rochas que sobreviveram à erosão e à subducção. Quase toda

Datando o Registro a crosta oceânica com mais de 200 milhões de anos sofreu subducção, mergulhando
de volta para o manto, então a maior parte da história terrestre está documentada
apenas nas rochas mais antigas dos continentes. Os geólogos podem reconstruir a

Geológico subsidência a partir do registro da sedimentação; do soerguimento, a partir da erosão


de camadas rochosas; e da deformação, a partir de falhas, dobras e rochas metamór-
ficas. Porém, para medir o ritmo desses processos e entender suas causas comuns, é
preciso ser capaz de atribuir idades a eventos observados no registro geológico.
Reconstrução da história geológica usando o registro estratigráfico 䊏 200 Neste capítulo, aprenderemos como os geólogos mediram, pela primeira vez,
o abismo do tempo encontrando ordem no registro geológico. A seguir, veremos
A escala do tempo geológico: idades relativas 䊏 206 como usaram a descoberta de “relógios radioativos nas rochas” para desenvolver
Medição do tempo absoluto com relógios isotópicos 䊏 210 uma escala de tempo geológico precisa e detalhada e datar os eventos que ocor-
A escala do tempo geológico: idades absolutas 䊏 214 reram ao longo da história da Terra de 4,56 bilhões de anos.
Avanços recentes na datação do sistema Terra 䊏 216

O
s filósofos vêm se debatendo com a noção de tempo ao longo da história humana,
somente conseguiam determinar se um evento era ante-
mas até épocas bem recentes, eles tinham muito poucos dados para limitar suas Reconstrução da história rior ou posterior a outro, ou seja, suas idades relativas.
especulações. A imensidão do tempo – o “tempo profundo”, medido em bilhões geológica usando o Eles podiam dizer, por exemplo, que as espinhas de peixe
de anos – foi uma grande descoberta geológica que mudou nosso pensamento sobre foram depositadas pela primeira vez em sedimentos ma-
como a Terra opera em termos de um sistema.
registro estratigráfico rinhos antes do aparecimento dos primeiros ossos de ma-
Os geólogos pioneiros como James Hutton e Charles Lyell levaram-nos a compreen- Os geólogos falam cuidadosamente sobre o tempo. Para míferos na terra, mas não sabiam precisar há quantos mi-
der que o planeta não era modelado por uma série de eventos catastróficos que ocorriam eles, a datação não se refere a uma atividade social popu- lhões de anos surgiram os primeiros peixes ou mamíferos.
lar, mas à mensuração da idade absoluta de um evento As primeiras observações geológicas pertencentes à
por meros milhares de anos, como muitos acreditavam. Em vez disso, o que vemos hoje
no registro geológico: o número de anos transcorridos questão do tempo profundo vieram em meados do século
é o produto de processos geológicos comuns operando por intervalos de tempo muito XVII, com o estudo dos fósseis. Um fóssil é um artefato de
desse evento até os dias atuais. Antes do século XX, nin-
maiores. Hutton enunciou seu entendimento na forma do princípio do uniformitarismo, guém sabia muito sobre idades absolutas; os geólogos vida preservada no registro geológico (Figura 8.2). Porém,
descrito no Capítulo 1. O conhecimento do tempo geológico ajudou Charles Darwin a
formular sua teoria da evolução, levando a muitas outras observações sobre o funciona-
mento do sistema Terra, do sistema solar e do universo como um todo.
Os processos geológicos ocorrem em escalas de tempo que variam de segundos
(impactos de meteoritos, explosões vulcânicas, terremotos) a dezenas de milhões de
anos (reciclagem da litosfera oceânica) e até bilhões de anos (evolução tectônica dos
continentes). Se formos cuidadosos o bastante, podemos mensurar as taxas de pro-
cessos de curto prazo, como erosão de praias ou variações sazonais no transporte de
sedimentos por rios, em alguns anos. A avaliação precisa pode monitorar os movi-
mentos lentos das geleiras (metros por ano) e, com o Sistema de Posicionamento Glo-
bal, podemos acompanhar os movimentos ainda mais lentos das placas litosféricas
(centímetros por ano). Documentos históricos podem fornecer certos tipos de dados
geológicos, como as datas dos principais terremotos ou erupções vulcânicas, de cen-
tenas ou, em alguns casos, milhares de anos atrás.

FIGURA 8.1 䊏 As duas fotografias do Meandro de Bowknot, no rio Green, no Estado de Utah
(EUA), foram tomadas em um intervalo de quase 100 anos e mostram que pouco mudou na
Trilobitas preservados como fósseis em rochas de cerca de 365 milhões de anos. Ontário, Canadá. [William configuração destas rochas e formações no transcurso desse tempo. [esquerda: E. O. Beaman/USGS;
E. Ferguson] direita: H. G. Stevens/USGS]

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poucas pessoas que viveram na Europa do século XVII te- 1. O princípio da horizontalidade original estabelece
riam compreendido essa definição. A maioria acreditava que os sedimentos são depositados sob a influência
que as conchas e outras formas de vida encontradas em ro- da gravidade como camadas quase horizontais. A ob-
chas datavam dos primórdios da Terra – aproximadamente servação de uma grande variedade de ambientes de
6 mil anos atrás – ou cresciam lá de forma espontânea. sedimentação suporta essa generalização. Se encon-
Em 1667, o cientista dinamarquês Nicolaus Steno, tramos estratos dobrados ou inclinados, sabemos que
que trabalhava para a corte real em Florença, Itália, de- as camadas foram deformadas por esforços tectônicos
monstrou que as “língua de pedra” encontradas em certas depois de seus sedimentos terem sido depositados.
rochas sedimentares do Mediterrâneo eram basicamente 2. O princípio da superposição estipula que, em uma
idênticas aos dentes dos tubarões modernos (Figura 8.3). sequência não perturbada tectonicamente, cada ca-
Ele concluiu que as línguas de pedra realmente eram an- mada de rocha sedimentar é mais nova que aquela
tigos dentes de tubarão preservados nas rochas e, mais sotoposta e mais antiga que a sobreposta. Uma ca-
genericamente, que os fósseis eram os remanescentes de mada mais nova não pode se alojar embaixo de uma
uma vida antiga depositados nos sedimentos. Para con- camada que já foi depositada. Assim, os estratos po-
vencer as pessoas de suas ideias, Steno escreveu um livro dem ser ordenados verticalmente no tempo da cama-
curto, mas brilhante, sobre a geologia da Toscana, no qual da mais inferior (mais antiga) à mais superior (mais (a) (b) (c)
assentou a base para a ciência moderna da estratigrafia – nova), como mostra a Figura 8.4. Uma sequência cro- FIGURA 8.3 䊏 Nicolaus Steno foi o primeiro a demonstrar que os fósseis são remanescentes
o estudo de estratos (camadas) nas rochas. nologicamente ordenada de estratos é chamada de da vida antiga. (a) Um retrato de Nicolaus Steno (1638-1686). [Conservado no presbitério de Santana,
sucessão estratigráfica. Schwerin, Alemanha/ Wikimedia] (b) “Línguas de pedra” do tipo encontrado em rochas sedimentares
Princípios da estratigrafia na região mediterrânica, onde Steno trabalhou. [CORBIS RF/Alamy] (c) Este diagrama é do livro de
Podemos aplicar os princípios de Steno no campo Steno de 1667, demonstrando que as línguas de pedra são os dentes fossilizados de antigos
Os geólogos ainda usam os princípios propostos por Ste- para determinar se uma formação sedimentar é mais tubarões. [Wikipedia Commons]
no para interpretar os estratos sedimentares. Duas de antiga do que outra. Depois, juntando as peças das for-
suas regras básicas são tão simples que parecem óbvias mações mostradas em diferentes exposições, podemos
hoje em dia: classificá-las em ordem cronológica e, com isso, cons- truir a sucessão estratigráfica de uma região – pelo me- cia de lamitos, digamos, na Toscana, era mais antiga, mais
nos em princípio. nova ou tinha a mesma idade de uma sequência seme-
Na prática, havia dois problemas com essa estratégia. lhante na Inglaterra. Era necessário expandir as ideias de
Em primeiro lugar, os geólogos quase sempre encontra- Steno sobre a origem biológica dos fósseis para solucionar
vam lacunas na sucessão estratigráfica de uma região, in- esses problemas.
dicando intervalos de tempo que passaram inteiramente
sem registro. Alguns desses intervalos eram curtos, como
períodos de seca entre inundações; outros duravam mi-
Os fósseis como marcadores
lhões de anos – por exemplo, períodos de soerguimento do tempo geológico
tectônico regional quando sequências espessas de rochas Em 1793, William Smith, um agrimensor que trabalhava
sedimentares eram removidas por erosão. Segundo, era na construção de canais no sul da Inglaterra, reconheceu
difícil determinar as idades relativas das duas formações que os fósseis poderiam ajudar os geólogos a determinar
que estavam amplamente separadas no espaço; a estrati- as idades relativas das rochas sedimentares. Smith era
grafia por si só não conseguia determinar se uma sequên- fascinado pela variedade de fósseis, coletando-os nos es-

Sedimentação
em um lago ou mar

Mais novo

Mais antigo

(a) (b)
(a) (b)
FIGURA 8.4 䊏 Os princípios de Steno guiam o estudo dos estratos sedimentares. (a) Os sedi-
FIGURA 8.2 䊏 Fósseis são traços de organismos vivos preservados no registro geológico. (a) mentos são depositados em camadas horizontais e lentamente transformados em rochas sedi-
Fósseis de amonite, exemplos antigos de um grande grupo de organismos invertebrados que mentares. Se não houver perturbação por processos tectônicos, as camadas mais novas perma-
estão agora, em grande parte, extintos. Seu único representante no mundo atual é o náutilo, necem no topo, e as mais antigas, na base. (b) O Cânion Marble, um braço do Grand Canyon,
cuja concha tem várias câmaras internas. (b) Floresta petrificada, Arizona (EUA). Estes troncos foi escavado pelo rio Colorado na região onde hoje se situa o norte do Arizona (EUA), revelando
têm milhões de anos. Seu lenho foi completamente substituído por sílica, a qual preservou to- esses estratos não perturbados, que registram milhões de anos de história geológica. [Fletcher and
dos os detalhes da forma original. [(a) Chip Clark; (b) Tom Bean] Baylis/Photo Researchers]

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tratos expostos ao longo de cortes no canal. Ele observou ele resumiu a pesquisa de toda sua vida na publicação do coletou muitos fósseis incomuns em sua famosa viagem a
que diferentes camadas tinham diferentes tipos de fósseis Mapa Geral dos Estratos da Inglaterra e País de Gales, uma bordo do Beagle (1831-1836). Durante sua volta ao mundo,
e foi capaz de posicionar cada camada a partir da outra obra-prima colorida à mão, com 2,5 metros de altura e ele também teve oportunidade de observar uma imensa
pelas características dos fósseis que continham. Ele esta- quase 2 metros de largura – o primeiro mapa geológico de variedade de espécies animais e vegetais nada familiares
beleceu uma ordem geral para a sequência de fósseis e um país inteiro. O original ainda está pendurado em uma em seus hábitats naturais. Darwin ponderou sobre o que
estratos, desde a camada mais inferior (mais antiga) até sala da Sociedade Geológica de Londres. havia visto até 1859, quando propôs sua teoria da evolu- D
a mais superior (mais nova). Independentemente de sua Os geólogos que seguiram os passos de Steno e Smith ção por seleção natural. Sua teoria revolucionou a ciência C
localização, Smith podia predizer a posição estratigráfica descreveram e catalogaram centenas de fósseis e suas rela- da biologia e forneceu um seguro arcabouço teórico para B
de qualquer camada individual, ou conjunto de camadas, ções com os organismos modernos, estabelecendo a nova a Paleontologia: se os organismos evoluem progressiva- A
de qualquer afloramento do sul da Inglaterra apenas com ciência da Paleontologia: o estudo da história de antigas for- mente com o tempo, então os fósseis em cada camada
base na associação de fósseis que continham. Essa ordem mas de vida. Os fósseis mais comuns foram as conchas de sedimentar devem representar os organismos que viviam TEMPO 1
estratigráfica de fósseis de espécies animais (fauna) pro- invertebrados. Alguns eram semelhantes a mariscos, ostras quando essa camada foi depositada. Os sedimentos acumulam-se,
duz uma sequência conhecida como sucessão faunística. e outras conchas vivas; outros representavam espécies es- sob o mar, nas camadas A-D.
O princípio de sucessão faunística de Smith afirma tranhas sem exemplos vivos, como os trilobitas mostrados
que os estratos sedimentares em um afloramento contêm na foto de abertura do capítulo. Menos comuns eram os Discordâncias: lacunas no
fósseis em uma sequência definida. A mesma sequência ossos de vertebrados, como mamíferos, aves e os enormes registro geológico
pode ser encontrada em afloramentos em outras locali- répteis extintos aos quais chamavam de dinossauros. Fo-
Ao compilar a sucessão estratigráfica de uma região, os
zações, de forma que os estratos de um local podem ser ram encontradas plantas fósseis abundantes em algumas D
correlacionados com os de outro. rochas, particularmente em camadas de carvão, onde fo- geólogos frequentemente encontram lugares no registro
C
Usando sucessões faunísticas, Smith conseguiu iden- lhas, brotos, ramos e mesmo troncos inteiros de árvores geológico onde está faltando uma formação. Nenhuma
B
tificar as formações de idades similares encontradas em podem ser reconhecidos. Os fósseis não foram encontra- rocha foi depositada ou ela sofreu erosão antes que os
próximos estratos fossem depositados. A superfície entre TEMPO 2 A
diferentes afloramentos. Pela observação da ordem verti- dos em rochas ígneas intrusivas, o que não surpreende,
cal em que as formações eram encontradas em cada lugar, porque qualquer material biológico seria perdido na fusão duas camadas que foram depositadas com um intervalo Posteriormente, as forças
de tempo entre elas – o limite ao longo do qual as duas tectônicas causam o soergui-
compilou uma sucessão estratigráfica composta para toda quente. Também não havia fósseis em rochas metamórficas mento das camadas acima do
a região. Sua série composta mostrava como a sucessão de alto grau, pois quaisquer remanescentes de organismos formações existentes encontram-se – é chamada de dis- nível do mar, expondo-as à Soerguimento
completa seria observável se as formações dos diferentes encontram-se quase sempre tão transformados e deforma- cordância (Figura 8.6). A sequência sedimentar é uma série erosão.
níveis de todos os afloramentos pudessem ser vistas reu- dos que dificilmente podem ser reconhecidos. de camadas delimitadas acima e abaixo por discordâncias.
nidas em um único perfil. A Figura 8.5 mostra tal compo- No início do século XIX, a Paleontologia havia se tor- Uma discordância, assim como uma sequência sedimen-
sição para uma série de duas formações. nado a mais importante fonte de informação sobre a his- tar, representa a passagem do tempo.
Smith monitorava seu trabalho mapeando aflora- tória geológica. Contudo, o estudo sistemático dos fósseis Uma discordância pode implicar que forças tectôni-
mentos com cores atribuídas a formações específicas, afetou a ciência muito além da Geologia. Charles Darwin cas soergueram a rocha acima do nível do mar, onde a C
inventando o mapa geológico (ver Figura 7.4). Em 1815, estudou Paleontologia quando era um jovem cientista e erosão removeu algumas camadas rochosas. Alternativa- B
mente, a discordância pode ter sido produzida pela erosão A
de uma rocha recém-exposta, enquanto o nível do mar TEMPO 3
descia. Como veremos no Capítulo 21, o nível do mar A erosão remove a camada
1 Os fósseis encontrados em algumas camadas pode baixar em centenas de metros durante as idades do D e parte da C, deixando uma
rochosas no afloramento A são os mesmos superfície irregular de morros
daqueles encontrados em algumas camadas
gelo, devido à retirada de água dos oceanos para formar
e vales.
do afloramento B, mais distante. os mantos de gelo continental.
Afloramento A
As discordâncias são classificadas de acordo com as
Afloramento B Sucessão estratigráfica
relações entre o pacote superior e o inferior de camadas.
Uma discordância em que o conjunto superior de cama-
Rochas mais novas das assenta-se em uma superfície erosiva desenvolvida
I sobre um pacote de camadas não deformado e ainda E
I disposto na posição horizontal é chamada de desconfor-
II C
midade (ver Figura 8.6). Quedas no nível do mar e amplos
TEMPO 4 B
II soerguimentos tectônicos geralmente criam desconfor- Com a subsidência da A
2 Camadas com os mesmos midades. Uma discordância em que o pacote superior de região, o nível do mar sobe,
fósseis são de mesma idade. camadas recobre rochas metamórficas ou ígneas intrusi- permitindo que uma nova
II 1 camada, E, se deposite sobre
III vas é uma não conformidade (veja um exemplo no Jornal
a C. A superfície irregular no Subsidência
da Terra 8.1, páginas 208-209). Uma discordância em que topo de C é preservada como
o pacote superior de camadas sobrepõe-se a um inferior uma discordância. Discordância
cujas camadas foram dobradas por processos tectônicos e,
III
depois, sofreram erosão em uma superfície mais ou me- FIGURA 8.6 䊏 Uma discordância é uma superfície entre
Rochas mais antigas nos plana é denominada discordância angular. Em uma duas camadas rochosas que representa uma camada nunca
discordância angular, os planos de acamamento dos dois formada ou que sofreu erosão. O tipo de discordância repre-
pacotes de camadas não são paralelos. A Figura 8.7 repre- sentado aqui, criado por meio de soerguimento e erosão,
3 Uma composição dos dois afloramentos senta uma impressionante discordância angular encon- seguidos de subsidência e outro ciclo de sedimentação so-
poderia mostrar as formações I e II trada no Grand Canyon. A Figura 8.8 ilustra os processos bre o topo de uma superfície não deformada, é chamado de
FIGURA 8.5 䊏 O princípio de sucessão faunística pode ser usado para correlacionar
sobrepondo-se à formação III.
formações rochosas em diferentes afloramentos. pelos quais uma discordância angular pode se formar. desconformidade.

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gia é complexa (Figura 8.10). O Jornal da Terra 8.1 (páginas


208-209) fornece um exemplo mais detalhado de como os
geólogos trabalham no sentido contrário do tempo para
determinar as idades relativas das rochas em uma região.

A escala do tempo geológico:


idades relativas
TEMPO 1
Os sedimentos acumulam-se No início do século XIX, os geólogos começaram a aplicar
em camadas, sob o nível do mar. TEMPO 1 os princípios estratigráficos de Steno e Smith em aflora-
Os sedimentos acumulam-se mentos por todo o mundo. Os mesmos fósseis caracte-
em camadas sob o nível
do mar.
rísticos foram descobertos em formações semelhantes em
Seção através dos estratos vários continentes. Além disso, as sucessões faunísticas de
diferentes continentes frequentemente exibiam as mes-
do Grand Canyon mas mudanças nas sequências de fósseis. Comparando as
sucessões faunísticas e usando relações de seccionamen-
Compressão to, os geólogos conseguiram determinar as idades relati-
vas de formações rochosas em nível global. Por volta do
Discordância fim do século, haviam montado uma história mundial de
angular eventos geológicos – uma escala do tempo geológico.
TEMPO 2 TEMPO 2
Posteriormente, forças tectô- Posteriormente, as
nicas causam soerguimento, forças tectônicas causam Intervalos de tempo geológico
dobramento e deformação Soerguimento soerguimento, dobramento A escala do tempo geológico divide a história da Terra em
das camadas sedimentares. e deformação das camadas intervalos marcados por conjuntos distintos de fósseis, im-
sedimentares.
pondo limites nesses intervalos quando esses conjuntos
sofreram uma mudança abrupta (Figura 8.11). As divisões
básicas dessa escala de tempo são as eras: a Paleozoica (do
FIGURA 8.7 䊏 A grande discordância no Grand Canyon, Colo- grego paleo, que significa“antigo”, e zoi,“vida”), a Mesozoi-
rado (EUA), é uma discordância angular entre o arenito horizontal co (“vida intermediária”) e a Cenozoica (“vida recente”).
Tapeats do Período Cambriano (acima) e as camadas com alto As eras são subdivididas em períodos, a maioria deles
TEMPO 3
ângulo de mergulho do Grand Canyon, do Período Pré-Cambria- A erosão remove os
TEMPO 3 denominados de acordo com o nome da localidade geográ-
no (abaixo). [GeoScience Features Picture Library] Um dique de magma fica onde as formações estão mais bem expostas ou onde
topos das camadas dobradas,
líquido intrude-se foram descritas pela primeira vez ou, ainda, por alguma ca-
deixando um plano irregular
com porções expostas de nas camadas dobra-
das, cortando-as trans-
racterística distintiva das formações. O Período Jurássico,
várias camadas dobradas.
Relações de seccionamento versalmente. Como é Dique
por exemplo, é denominado devido às Montanhas Jura, na
Outras feições de rochas sedimentares acamadas também possível verificar que o França e na Suíça, e o Período Carbonífero, por causa das
dique corta as camadas Plúton rochas sedimentares portadoras de carvão da Europa e da
fornecem chaves para a datação relativa. Lembre que os dobradas, é claro que a
diques podem seccionar e romper as camadas sedimen- América do Norte. Os períodos Terciário e Quaternário da
sedimentação e o dobra-
tares; as soleiras podem ser intrudidas paralelamente aos mento antecederam
Era Cenozoica são duas exceções: esses nomes gregos sig-
planos de acamamento (ver Capítulo 4); e as falhas po- a intrusão. nificam “origem antiga”e “origem nova”, respectivamente.
dem deslocar planos de acamamento, diques e soleiras Alguns períodos têm outra subdivisão em épocas,
quando separam blocos de rochas (ver Capítulo 7). Essas como a Miocena, a Pliocena e a Pleistocena do Período
relações de seccionamento podem ser usadas para estabe- TEMPO 4 Quaternário (ver Figura 8.11). Hoje estamos vivendo na
lecer as idades relativas de intrusões ígneas ou falhas na Com a subsidência da Época Holocena (“completamente nova”) do Período
sucessão estratigráfica. Sabemos que eventos deforma-
região, o nível do mar so-
TEMPO 4
Quaternário da Era Cenozoica.
be, permitindo que novos
cionais ou intrusivos ocorreram depois que as camadas sedimentos se acumulem
O falhamento des-
sedimentares afetadas foram depositadas e que, portanto, loca as camadas e
essas estruturas devem ter sido mais novas que as rochas
sobre a superfície erosiva
anterior. A superfície onde o dique. Como as ca- Limites de intervalos marcam
que elas cortaram (Figura 8.9). Se os deslocamentos por os novos sedimentos e as Subsidência madas sedimentares
e o dique estão ambos
extinções em massa
camadas dobradas se limi- Discordância
intrusões ou falhas forem erodidos pela superfície de uma tam é preservada como angular deslocados, a ocorrência Muitos dos principais limites na escala de tempo geoló-
discordância e, depois, sobrepostos por uma série mais discordância angular. do falhamento é consi- gico representam extinções em massa: intervalos curtos
nova de formações, saberemos que essas estruturas são derada posterior a eles. Falha durante os quais uma grande proporção das espécies vi-
mais antigas que os estratos mais novos. FIGURA 8.8 䊏 Uma discordância angular é uma superfície que vendo ao mesmo tempo simplesmente desapareceram do
Os geólogos podem combinar observações de campo, separa dois pacotes de camadas cujos planos de acamamento FIGURA 8.9 䊏 As relações de seccionamento permitem que os registro fóssil, seguidos do surgimento de muitas novas
relações de seccionamento, discordâncias e sucessões es- não são paralelos entre si. Esta série de desenhos mostra como geólogos estabeleçam as idades relativas de intrusões ígneas ou espécies. Essas mudanças abruptas nas sucessões faunís-
tratigráficas para decifrar a história de regiões cuja geolo- tal superfície pode ser formada. falhas em uma sucessão estratigráfica. ticas eram um grande mistério para os geólogos que as

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F
Arenito contendo fósseis continentais
Os geólogos usam seções transversais E
com base em mapas de campo para
entender as características dos estratos
D Discordância angular E Jornal da Terra
e das relações entre eles. C
Arenitos, calcários e folhelhos O próximo pacote de estratos, em direção ao topo da pa-
A contendo fósseis marinhos
8.1 Estratigrafia do Planalto do Colorado:
B rede do cânion, é o Grupo Supai (Carbonífero e Permiano), que
um exercício de datação relativa
Discordância C
reúne formações que contêm fósseis de vegetação terrestre,
Intrusão granítica
Os estratos expostos no Grand Canyon e em outras partes do como aqueles encontrados em camadas de carvão na América
Rochas sedimentares Planalto do Colorado podem ser usados para ilustrar como do Norte e em outros continentes. Sobrepondo-se ao Grupo
metamorfizadas e deformadas funciona a datação relativa. Essas camadas registram uma Supai, está o Hermit, um folhelho arenítico vermelho.
longa história de sedimentação em uma variedade de am- Continuando em direção ao topo, encontramos outro
bientes, algumas vezes continentais e, outras, marinhos. Pela depósito continental, o Arenito Coconino, o qual contém
correlação de formações rochosas expostas em diferentes rastros de animais vertebrados. Os rastros desses animais
localidades, os geólogos construíram uma sucessão estra- sugerem que o Coconino foi formado em um ambiente ter-
6 Durante um período de compressão tigráfica de um intervalo de mais de 1 bilhão de anos, que restre durante o Período Permiano. No topo dos penhascos
tectônica, as novas camadas abrange as eras Paleozoica e Mesozoica.
1 Camadas sedimentares na borda do cânion, estão mais duas formações de idade
marinhas são basculadas e
são depositadas em
soerguidas, iniciando o processo As rochas expostas mais basais e, portanto, as mais an- permiana: a Toroweap, constituída predominantemente de
um leito plano e horizontal. tigas do Grand Canyon são as rochas ígneas e metamórficas
de erosão. calcário, sobreposta pela Kaibab, uma camada maciça de cal-
A escuras do Grupo Vishnu, um grupo de formações com idade cário arenoso contendo sílex. Essas duas formações registram
de cerca de 1,8 bilhão de anos. a subsidência da região sob o nível do mar e a deposição de
Camadas
sedimentares Sobrepostas ao Grupo Vishnu, e mais novas, portanto, es- sedimentos marinhos.
D tão as Camadas Grand Canyon. Embora essas rochas sedimen- Acima do calcário Kaibab e da própria borda do cânion,
C tares contenham fósseis de microrganismos unicelulares que mas exposta no Parque Nacional Grand Canyon, está a forma-
2 A deformação e o meta- A oferecem evidências de vida anterior, elas não contêm os fósseis
morfismo das camadas ção Moenkopi, um arenito vermelho do Período Triássico – a
sedimentares ocorrem B de conchas distintivos do Cambriano e de períodos posteriores primeira aparição de rochas da Era Mesozoica nessa sucessão
durante o soerguimento e Camadas e, por essa razão, são classificadas como rochas pré-cambrianas. estratigráfica.
a compressão tectônicos. Basculamento
sedimentares Uma não conformidade separa as camadas do Grupo A sucessão de estratos no Grand Canyon, embora pito-
com fósseis Vishnu e as do Grand Canyon, representando um período de
A
marinhos resca e instrutiva, representa uma imagem incompleta da his-
deformação estrutural que acompanhou o metamorfismo tória da Terra. Períodos mais novos do tempo geológico não
3 A intrusão de magma
líquido corta as camadas 7 A erosão aplaina as desse grupo e, depois, de erosão, antes da deposição das ca- estão preservados, e devemos nos deslocar para lugares em
B camadas basculadas.
sedimentares previamente madas mais novas. A inclinação das Camadas Grand Canyon, Utah, nos parques nacionais dos cânions Zion e Bryce, para
deformadas. formando um ângulo em relação à posição horizontal de completar os últimos eventos dessa história. Em Zion, encon-
quando foram geradas, mostra que elas também foram do- tramos as unidades equivalentes de Kaibab e Moenkopi, que
bradas depois da deposição e do soterramento. nos permitem estabelecer uma correlação com a região do
C E Uma discordância angular separa as Camadas Grand
D Grand Canyon e encadear a história dessas regiões. Diferen-
4 Uma superfície de Canyon das camadas horizontais sobrepostas do Arenito Ta-
erosão desenvolve-se nas C temente da área do Grand Canyon, entretanto, as rochas em
camadas deformadas. A peats (ver Figura 8.7). Essa discordância indica um longo perí- Zion estendem-se, em direção ao topo, até o tempo jurássico,
B odo de erosão depois do basculamento das rochas inferiores. incluindo dunas arenosas antigas representadas pelos are-
A O Arenito Tapeats e o Folhelho Bright Angel podem ser data- nitos da Formação Navajo. No Cânion Bryce, a leste de Zion,
dos como do Cambriano pelos seus fósseis, muitos dos quais encontra-se novamente o arenito Navajo, assim como os es-
B são de trilobitas. tratos que se empilham em direção ao topo até a formação
8 Finalmente, a deposição de sedimentos arenosos sobre Sobreposto ao Folhelho Bright Angel está um grupo de Wasatch, de idade terciária.
a discordância angular ocorre em um ambiente formações horizontais de calcário e folhelho (Calcário Muav, A correlação dos estratos dessas três áreas do Planalto do
continental – evidenciado pelos fósseis Calcário Temple Butte e Calcário Redwall) que representam Colorado mostra como as sequências de lugares bastante se-
continentais. cerca de 200 milhões de anos, desde o final do Período Cam- parados – cada qual com um registro incompleto do tempo
briano até o Período Carbonífero. Existe um lapso de tempo geológico – podem ser empilhadas para construir um regis-
5 Novas camadas de sedimentos
marinhos formam-se na muito longo representado pelas discordâncias dessa sequên- tro composto da história da Terra.
superfície de erosão durante cia, sendo que os estratos das rochas materializam realmente
a subsidência sob o nível do
Discordância menos de 40% do Paleozoico (ver Exercício 4).
mar, resultando em uma D E D
C angular F
discordância.
Camadas sedimentares C
A com fósseis continentais A
Discordância B Sucessão estratigráfica do Planalto do Colorado, reconstruída a
B
partir de estratos expostos no Grand Canyon, no Cânion Zion e
no Cânion Bryce. [Grand Canyon: John Wang/Photo Disc/Getty Images; Câ-
nion Zion: David Muench/CORBIS; Cânion Bryce: Tim Davis/Photo Researchers]

FIGURA 8.10 䊏 Os geólogos usam princípios estratigráficos e relações de seccionamento para


estabelecer uma cronologia relativa de eventos geológicos.

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Tempo

ERA Paleozoica Mesozoica Cenozoica

Terciário Fm Wasatch

Extinção em massa

Extinção em massa

Extinção em massa

Extinção em massa

Extinção em massa
Ordiviciano
Cambriano
Fm Kaiparowits

Devoniano

Carbonífero

Permiano

Jurássico

Neógeno
Siluriano

Cretáceo

Terciário
Triássico
Ar Wahweap PERÍODO
Cretáceo Ar Straight Cliffs

Folhelho Tropic

Ar Dakota
Parque Nacional Zion

Pleistoceno
Paleoceno

Oligoceno

Holoceno
Fm Winsor

Mioceno

Plioceno
Eoceno
ÉPOCA
Ar Curtis
Jurássico Ar Entrada
Fm Carmel Fm Carmel

Parque Nacional do Grand Canyon Ar Navajo Ar Navajo

Fm Kayenta
Ar Wingate
Rochas mais antigas não expostas
Triássico Fm Chinle
Fm Moenkopi
Fm Moenkopi

Cc Kaibab Cc Kaibab
Rochas mais antigas não expostas
FIGURA 8.11 䊏 A escala de tempo geológico, mostrando eras, períodos e épocas, diferencia-
Permiano Fm Toroweap
Parque Nacional do Cânion Bryce dos por assembleias de fósseis. Os limites desses intervalos são marcados pelo desaparecimento
Ar Coconino abrupto de algumas formas de vida e o surgimento de novas formas. As cinco extinções em
Folhelho Hermit
massa mais dramáticas estão indicadas. Note que este diagrama mostra apenas as idades rela-
Fm Supai tivas dos intervalos.
Carbonífero
Cc Redwall Fm = Formação
Ar = Arenito
Devoniano Cc Temple Butte
Cc = Calcário
Fm Moav
Cambriano
Folhelho Bright Angel descobriram. A teoria da evolução de Darwin explicava eras, períodos e épocas. Estimativas do tempo necessário
Ar Tapeat
como as novas espécies conseguiam evoluir, mas o que para haver erosão de montanhas e acúmulo de sedimentos
Ca

Rio Colo-
havia causado as extinções em massa? sugeriram que a maior parte dos períodos geológicos havia
m

rado
ad
as

Em alguns casos, pensamos ter a resposta. A extinção durado milhões de anos, mas os geólogos do século XIX
do

Pré-Cambriano
Gr

em massa no final do Período Cretáceo, que dizimou 75% não sabiam se a duração de qualquer período específico era
an

Xisto
d
Ca

Vishnu das espécies vivas, inclusive todos os dinossauros, foi quase de 10 ou 100 milhões de anos ou mesmo mais do que isso.
ny
on

com certeza o resultado do impacto de um grande mete- Eles não sabiam que a escala de tempo geológico es-
Localização da secção (abaixo) orito que escureceu e envenenou a atmosfera e imergiu a tava incompleta. O período mais recente da história geo-
Parque Parque Terra em muitos anos de clima extremamente frio. Esse de- lógica registrado por sucessões faunísticas era o Cambria-
B no, quando a vida animal, na forma de fósseis de conchas,
Nacional C Nacional sastre marcou o fim da Era Mesozoica e o início da Ceno-
Zion do Cânion zoica. Em outros casos, ainda não temos certeza. A maior apareceu subitamente no registro geológico. No entanto,
Nevada

Utah Bryce Colorado


Arizona extinção em massa, no fim do Período Permiano, que defi- muitas formações rochosas eram nitidamente mais an-
Novo México
ne o limite entre as eras Paleozoica e Mesozoica, eliminou tigas, porque ocorriam abaixo de rochas cambrianas em
N
Parque Nacional aproximadamente 95% de todas as espécies vivas, mas a sucessões estratigráficas. Mas essas formações não conti-
Grand Canyon Cânion Zion Cânion Bryce
A do Grand Canyon causa desse evento ainda é debatida. Os eventos extremos nham nenhum fóssil reconhecível, então não havia como
que separam intervalos de tempo geológico são objeto de determinar suas idades relativas. Todas essas rochas foram
muitas pesquisas ativas, como veremos no Capítulo 11. agregadas na categoria geral chamada de Pré-Cambriano.
Que fração da história da Terra estava trancada nessas ro-
Falha chas enigmáticas? Que idade tinha a rocha mais antiga do
Pré-Cambriano? Que idade tinha a própria Terra?
B Falha Medição do tempo absoluto Essas questões suscitaram um debate acalorado na
com relógios isotópicos segunda metade do século XIX. Físicos e astrônomos usa-
ram argumentos teóricos (hoje se sabe que estavam in-
N

A C A escala do tempo geológico, baseada em estratigrafia e corretos) para deduzir uma idade máxima menor do que
em sucessões faunísticas, é relativa. Com ela, os geólogos 100 milhões de anos, mas a maioria dos geólogos consi-
podem dizer se uma formação ou assembleia de fósseis é derava essa idade recente demais, embora não houvesse
mais antiga que outra, mas não a duração real, em anos, de dados precisos para respaldá-los.

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Descoberta da radioatividade gunda meia-vida, a metade daquela metade, ou um quarto


do número original, ainda resta. No final da terceira meia- QUADRO 8.1 Principais elementos radioativos utilizados na datação isotópica
Em 1896, um avanço na física moderna pavimentou uma
-vida, um oitavo ainda resta e assim sucessivamente (Figura Isótopo Meia-vida do Intervalo de
maneira confiável e precisa de medição das idades abso-
8.13). As meias-vidas de elementos radioativos comumente isótopo-pai datação efetiva Minerais e materiais que podem
lutas. Henri Becquerel, um físico francês, descobriu a ra-
usados para datação isotópica estão listadas no Quadro 8.1. Pai Filho (anos) (anos) ser datados
dioatividade do urânio. Menos de um ano depois, a quí-
Isótopos radioativos são bons relógios porque suas
mica francesa Marie Sklodowska-Curie descobriu e isolou Rubídio-87 Estrôncio-87 49 bilhões 10 milhões-4,6 bilhões Muscovita, biotita, ortoclásio
meias-vidas não variam com mudanças de temperatura,
outro elemento altamente radioativo, o rádio.
pressão, ambiente químico ou outros fatores que podem Urânio-238 Chumbo-206 4,5 bilhões 10 milhões-4,6 bilhões Zircão, apatita
Em 1905, o físico Ernest Rutherford sugeriu que a ra-
acompanhar os processos geológicos na Terra e em outros
dioatividade poderia ser usada para medir a idade exata Potássio-40 Argônio-40 1,3 bilhão 50 mil-4,6 bilhões Muscovita, biotita, hornblenda
planetas. Assim, quando os átomos de um isótopo radio-
de uma rocha. Ele calculou a idade de uma rocha a partir Urânio-235 Chumbo-207 0,7 bilhão 10 milhões-4,6 bilhões Zircão, apatita
ativo são criados em qualquer lugar do universo, eles co-
de medições de seu teor de urânio. Esse foi o início da da-
meçam a atuar como as batidas de um relógio, alterando- Carbono-14 Nitrogênio-14 5.730 100-70 mil Madeira, carvão vegetal, turfa; ossos e
tação isotópica, que consiste em usar elementos radioati-
-se de forma estável de um tipo de átomo para outro a tecidos; conchas e outros carbonatos
vos naturais para determinar as idades das rochas. Poucos
uma taxa constante. de cálcio
anos depois, as idades de muitas outras rochas foram de-
Podemos medir a razão entre isótopos-pais e isóto-
terminadas, enquanto os métodos de datação iam sendo
pos-filhos com um espectrômetro de massa, um instru-
refinados e mais elementos radioativos eram descobertos.
mento muito preciso e sensível, que pode detectar até
Uma década depois da primeira tentativa de Rutherford, A idade isotópica de uma rocha corresponde ao tem- 1/4 (250 átomos); em três meias-vidas, para 1/23 = 1/8 (125
quantidades ínfimas de isótopos e determinar quanto do
os geólogos conseguiram demonstrar que algumas rochas po em que o relógio isotópico foi “zerado” quando os átomos); e assim por diante (ver Figura 8.13).
átomo-filho foi produzido a partir do átomo-pai. Sabendo
pré-cambrianas tinham bilhões de anos. isótopos foram fixados nos minerais da rocha. Essa “in- O decaimento radioativo de cada átomo do isótopo-
a meia-vida, podemos, então, calcular o tempo transcorri-
Em 1956, o geólogo Clair Patterson mediu o decai- corporação” geralmente ocorre quando um mineral se -pai gera um novo átomo do isótopo-filho. Se o grão de
mento do urânio em meteoritos e em rochas terrestres do desde que o relógio isotópico começou a bater.
cristaliza a partir de um magma ou recristaliza durante o mineral permanecer um sistema fechado (isto é, se ne-
para determinar que o sistema solar – e, por implicação, metamorfismo. Porém, durante a cristalização, o número nhum isótopo for transferido para dentro ou para fora
a Terra – havia se formado 4,56 bilhões de anos atrás. de átomos-filho em um mineral não é necessariamente do grão), o número de novos átomos-filho produzidos a
Núcleo do Rubídio-87 Núcleo do Estrôncio-87
Essa idade foi modificada em menos de 10 milhões de (37 prótons, 50 nêutrons) (38 prótons, 49 nêutrons) zerado, de forma que o número inicial de átomos-filho partir dos átomos-pai pela idade T deve ser igual a 1.000
anos desde a medida original de Patterson; portanto, po- deve ser considerado no cálculo da idade isotópica (ver  (1  1/2T), porque os novos filhos e pais remanes-
demos dizer que ele deu o último passo para a descober- Nêutrons Prótons Prática de Geologia). centes devem ser adicionados à quantidade inicial do
ta do tempo geológico. Muitas outras complicações tornam a datação isotópica isótopo-pai (1.000 átomos). Assim, a razão entre novos
uma atividade complicada. Um mineral pode perder isóto- filhos e pais remanescentes depende apenas da idade do
pos-filho por intemperismo ou ser contaminado por fluidos grão mineral:
Isótopos radioativos: que circulam na rocha. O metamorfismo de rochas ígneas
os relógios das rochas pode zerar a idade isotópica de minerais nessas rochas para
Como os geólogos utilizam a radioatividade para deter- Elétron uma data muito posterior à sua idade de cristalização.
minar a idade de uma rocha? Lembre que o núcleo de À medida que a idade do grão mineral aumenta de 0 para
um átomo consiste de prótons e nêutrons. Para um deter- Um nêutron do átomo de … e produzindo um próton, 3 meias-vidas, por exemplo, essa razão aumenta de 0 para
minado elemento, o número de prótons é constante, mas rubídio-87 desintegra-se, e o átomo muda para 7, independentemente do número inicial de átomos-pai.
ejetando um elétron… estrôncio-87.
o número de nêutrons pode variar entre diferentes isóto- Com o espectrômetro de massa, podemos medir os
pos do mesmo elemento (ver Capítulo 3). A maioria dos FIGURA 8.12 䊏 O decaimento radioativo do rubídio para es-
GEOLOGIA NA PRÁTICA isótopos pai e filho com precisão: hoje, tais instrumentos
isótopos é estável, mas o núcleo de um isótopo radioativo trôncio. Como os isótopos nos informam sobre as podem literalmente contar os átomos de uma amostra
pode desintegrar-se (ou decair) espontaneamente, ejetan- pequena. Mas para determinar a idade de um grão mi-
do partículas e formando um átomo de um elemento di-
idades dos materiais terrestres? neral, devemos incluir qualquer isótopo-filho incorpo-
ferente. Chamamos o átomo original de pai, e o produto Métodos de datação isotópica permitem-nos datar mui- rado no grão mineral quando ocorreu sua cristalização.
1
do seu decaimento é conhecido como filho. tos tipos de materiais terrestres para muitos propósitos Em nosso exemplo, se houvesse 100 átomos-filho no
Fração de átomos-pai restantes

Um elemento útil para a datação isotópica é o rubí- práticos: formações rochosas na busca de minerais e grão em T = 0, então o número de átomos-filho aumen-
dio, que tem 37 prótons e dois isótopos de ocorrência na- petróleo; amostras de água para entender a circulação taria para 500  100 = 600 após uma meia-vida; para
tural: o rubídio-85, que tem 48 nêutrons e é estável, e o oceânica; núcleos de gelo para criar gráficos de variações 750  100 = 850 após duas meias-vidas; e para 875 
rubídio-87, que tem 50 nêutrons e é radioativo. Um nêu- 1/2 climáticas; e até bolhas de ar presas em rochas e no gelo 100 = 975 após três meias-vidas. Portanto, a expressão
tron no núcleo de um átomo de rubídio-87 pode ejetar para medir mudanças na composição da atmosfera. Por- geral para o número total de átomos-filho é:
um elétron de forma espontânea, assim transformando- tanto, vale a pena entender em maior detalhe como os
-se em próton, que permanece no núcleo. O isótopo-pai 1/4 geólogos realmente determinam as idades de materiais número de filhos = (2T  1)  número de pais
rubídio-87, então, forma um isótopo-filho estável, o es- 1/8 usando isótopos. remanescentes  número de filhos iniciais
trôncio-87, com 38 prótons e 49 nêutrons (Figura 8.12). 1/16 1/32 Considere um grão de mineral que se formou no tem- Talvez você tenha notado que esta é uma equação para
Um isótopo-pai forma um isótopo-filho por decaimen- 0 po T = 0 e contém uma determinada quantidade de isó- linha reta com inclinação de (2T  1) e intercepção igual
0 1 2 3 4 5
to a uma taxa constante. As taxas de decaimento radioati- topo-pai, digamos, 1.000 átomos. Se medirmos a idade do ao número inicial de átomos-filho, conforme ilustrado
Tempo, em meias-vidas
vo são estabelecidas em termos da meia-vida de um ele- grão de mineral nas meias-vidas do isótopo-pai, a quanti- na parte (a) da ilustração.
dade deixada em qualquer idade T será 1.000  1/2 . Em
T
mento – o tempo requerido para que a metade do número FIGURA 8.13 䊏 O número de átomos de um isótopo radioati- Embora seja possível mensurar apenas a quanti-
inicial de átomos transforme-se em átomos-filho. No final vo em qualquer mineral declina numa taxa precisa ao longo do outras palavras, em uma meia-vida, ou seja, quando T = dade total do isótopo-filho, podemos, com frequência,
do período da primeira meia-vida, a metade do número de tempo. Essa taxa de decaimento é estabelecida pela meia-vida 1, a quantidade inicial do isótopo-pai será reduzida para inferir a quantidade inicial de outro isótopo do mesmo
2
átomos-pais ainda permanece. No final do período da se- do isótopo. 1/21 = 1/2 (500 átomos); em duas meias-vidas, para 1/2 = elemento. Por exemplo, o estrôncio-87 é criado pelo

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(a) Como os isótopos pai e filho evoluem ao longo do tempo decaimento do rubídio-87 (ver Figura 8.12), mas outro Usando uma calculadora científica (provavelmente seu carbono-14) para comparar a razão na atmosfera quando
isótopo, o estrôncio-86, não é produzido por decaimen- computador tem uma), descobrimos que log(1,067)  = o vegetal morreu. Essa razão pode ser estimada a partir das
975 filhos to radioativo e não é, em si, radioativo. Desta forma, se 0,0282 e log(2) = 0,301, o que resulta em idades do carbono-14 calibradas com a utilização de ou-
125 pais
um grão mineral permanecer um sistema fechado após tras medidas de tempo absoluto, como a dendrocronologia
1000 850 filhos a cristalização, o número de átomos de estrôncio-86 não (contagem dos anéis de árvores).
T=3
900
250 pais será alterado com a idade. O truque é dividir a relação Um dos métodos mais precisos de datação para ro-
T=2 entre filhos e pais pela quantidade de estrôncio-86: A multiplicação do número de meias-vidas pela meia- chas antigas baseia-se no decaimento de dois isótopos
800 -vida do rubídio-87, 49 bilhões de anos (ver Quadro relacionados: o decaimento do urânio-238 para chum-
Número de átomos-filho

600 filhos
700 500 pais 8.1), gera uma idade do meteorito de bo-206 e o decaimento do urânio-235 para chumbo-207.
600 0,094  49 bilhões de anos = 4,59 bilhões de anos Isótopos do mesmo elemento comportam-se de modo
T=1
semelhante nas reações químicas que alteram as rochas
–1
500 T
2 O erro dessa estimativa é de aproximadamente 0,07 bi- porque a química de um elemento depende basicamente
=
400 çã
o Te 100 filhos lhão de anos, então é consistente com a idade de 4,56 de seu número atômico, e não de sua massa atômica. Po-
na m 1000 pais
cli
po bilhões de anos obtida pela primeira vez para a Terra por rém, os dois isótopos de urânio têm meias-vidas diferen-
300 In Patterson em 1956.
Diferentes grãos minerais em uma rocha serão tes, o que significa que, juntos, oferecem uma verificação
200
cristalizados com quantidades iniciais diferentes de es- PROBLEMA EXTRA: Quando representadas em um dia- de consistência que auxilia os geólogos a compensar os
100 Número inicial de átomos-filho = 100 T=0 trôncio e rubídio. No entanto, como os dois isótopos de grama como a parte (b) da figura, as razões dos isótopos problemas do intemperismo, da contaminação e do me-
estrôncio comportam-se de modo similar nas reações de rubídio e estrôncio de diversos grãos minerais cole- tamorfismo discutidos anteriormente. Os espectrômetros
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 químicas que ocorrem antes da cristalização, a razão tados da mesma rocha estão sobre uma linha com incli- de massa modernos são tão precisos que os isótopos de
Número de átomos-pai restantes entre estrôncio-87 e estrôncio-86 na cristalização será a nação de 0,0143. Presumindo que esses grãos minerais chumbo de um único cristal de zircão – silicato de zircônio,
mesma para todos os grãos na mesma rocha. Portanto, foram sistemas fechados desde sua cristalização, calcule um mineral crustal com concentração relativamente alta
encaixando uma linha aos dados de diversos grãos mi- a idade da rocha. Dica: log(1,0143) = 0,00617. de urânio – podem ser usados para datar as rochas mais
(b) Datação do meteorito Juvinas nerais, podemos determinar a razão inicial entre estrôn- antigas na Terra com um erro menor do que 1%.
cio-87 e estrôncio-86, bem como a idade T.
0,706
Na parte (b) da figura, aplicamos esse método às
medidas de estrôncio e rubídio de um famoso meteorito Métodos de datação isotópica A escala do tempo geológico:
0,705 pétreo, chamado de Juvinas, que caiu no sul da França
Vidro em 1821. Acredita-se que o meteorito Juvinas, que é se- A datação isotópica é possível somente se uma quanti- idades absolutas
Estrôncio-87/Estrôncio-86

0,704
7 melhante ao mostrado na Figura 1.10a, tenha vindo de dade mensurável de átomos-pais e filhos permanecer na
,06 rocha. Por exemplo, se a rocha é muito antiga e a taxa de Armados com técnicas de datação isotópica, os geólogos
0,703 =0 um corpo planetário formado ao mesmo tempo em que
T –1 decaimento muito rápida, quase todos os átomos-pais já do século XX conseguiram definir com exatidão as idades
2 a Terra, mas que foi subsequentemente destruído por
0,702 ã o= foram transformados. Nesse caso, poderíamos concluir absolutas dos principais eventos sobre os quais seus an-
na
ç colisões planetárias (ver Capítulo 9). Usando medidas
li que a pilha do relógio isotópico acabou, mas não sabe- tecessores haviam baseado a escala do tempo geológico.
Inc com espectrômetro de massa de quatro amostras, po-
0,701 ríamos dizer há quanto tempo ele parou. Assim, aqueles Mais importante ainda, puderam explorar a história inicial
demos criar um gráfico das razões entre o estrôncio-87
Quartzo e o estrôncio-86 e entre o rubídio-87 e o estrôncio-86 que decaem lentamente durante bilhões de anos, como do planeta registrada nas rochas pré-cambrianas. A Figura
0,700
ao longo de uma linha cuja intercepção dá uma razão o rubídio-87, são utilizados para medir a idade de rochas 8.14 apresenta os resultados desse esforço de um século
Piroxênio
0,699 Taxa inicial = 0,699 inicial entre estrôncio-87 e estrôncio-86 de 0,699. Essa antigas, enquanto os que decaem rapidamente, como o de duração.
Plagioclásio carbono-14, são úteis para determinar as idades de rochas A atribuição de idades absolutas à escala do tempo
0,698 linha é uma isócrona (um local de mesmo tempo) com
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 inclinação de 0,067. muito novas (ver Quadro 8.1). geológico revela enormes diferenças nos intervalos de
Rubídio-87/ Estrôncio-86 Para solucionar T, começamos com O carbono-14, que tem uma meia-vida em torno de tempo dos períodos geológicos. O Período Cretáceo (que
5.700 anos, é especialmente importante para datar ossos abrange 80 milhões de anos) é três vezes maior do que o
(2  1)  0,067
T
fósseis, conchas, madeira e outros materiais orgânicos em Período Quaternário (apenas 23 milhões de anos), e a Era
Vidro sedimentos muito novos com algumas dezenas de milha-
Meteorito Juvinas Adicionando 1 e obtendo logaritmos de base 10 nos dois Paleozoica (291 milhões de anos) durou mais tempo do
lados dessa equação, temos res de anos. O carbono é um elemento essencial nas células que as eras Mesozoica e Cenozoica juntas. A maior sur-
Quartzo vivas de todos os organismos. Quando os vegetais verdes presa é o Pré-Cambriano, que teve duração de mais de
T log(2)  log(1,067) crescem, eles continuamente incorporam carbono em seus 4.000 milhões de anos – quase nove décimos da histó-
ou tecidos a partir do dióxido de carbono da atmosfera. Porém, ria terrestre!
quando um vegetal morre, ele para de absorver dióxido de
carbono. No momento da morte, a quantidade de carbo-
Piroxênio no-14 em relação aos isótopos estáveis de carbono-12 no Éons: os maiores intervalos
Plagioclásio
vegetal é idêntica àquela da atmosfera. Entretanto, a quan- do tempo geológico
tidade decresce à medida que o carbono-14 no tecido mor-
Para representar a rica história do Pré-Cambriano, foi
(a) O número de átomos-pai em um grão mineral diminui, e o número de átomos-filho aumenta to se desintegra. O nitrogênio-14, que é o isótopo-filho do
introduzida uma divisão da escala do tempo geológico
durante o decaimento radioativo. Conforme o grão mineral envelhece, sua representação nes- carbono-14, é gasoso e, assim, abandona o sedimento, de
maior do que a era, chamada de éon. Quatro éons, com
te gráfico move-se continuamente para cima e para a esquerda, ao longo da linha vermelha. modo que não pode ser medido para determinar o tempo
base nas idades isotópicas de rochas e meteoritos terres-
Os pontos representam 0, 1, 2 e 3 meias-vidas. (b) Um gráfico das razões entre estrôncio-87 e transcorrido desde que o vegetal morreu. Contudo, pode-
tres, são agora reconhecidos.
estrôncio-86 versus rubídio-87 e estrôncio-86 para o meteorito Juvinas. Os dados são obtidos a mos estimar a idade absoluta do material vegetal extrapo-
partir de medidas com espectrômetro de massa de diferentes minerais do meteorito. [Dados de C. lando a razão entre o carbono-14 e o carbono-12 medida ÉON HADEANO O éon mais antigo, cujo nome deriva de
2
Allègre et al., Science 187 (1975): 436. Foto de Martin Prinz, American Museum of Natural History] no material voltando no tempo (usando a meia-vida do Hades (a palavra grega para “inferno”), começou com a

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4.000 Ma 3.000 Ma 2.000 Ma 1.000 Ma 0 Ma

ÉON HADEANO ÉON ARQUEANO ÉON PROTEROZOICO

ÉON FANEROZOICO

ERA Paleozoico Mesozoico Cenozoico

500 400 300 200 100 50

PERÍODO Cambriano Devoniano Permiano Triássico Jurássico Cretáceo 20 m


Siluriano Carbonífero Paleógeno Neógeno
Orvidiciano

ERA CENOZOICA

PERÍODO Paleógeno Neógeno

Terciário Quaternário
60 50 40 30 20 10 5

ÉPOCA Paleoceno Eoceno Oligoceno Mioceno


Plioceno
FIGURA 8.14 䊏 A escala completa do tempo geológico. (Ma = milhões de anos atrás.) Os in- Pleistoceno
tervalos classificados de “Terciário” e “Quaternário” são as divisões mais antigas que foram larga- Holoceno
mente substituídas pelos períodos Paleógeno e Neógeno, mas ainda são utilizadas às vezes por
3
geólogos.
FIGURA 8.15 䊏 O afloramento em Jack Hills, no oeste da Austrália, onde os geólogos encon-
traram grãos de zircão de até 4,4 bilhões de anos atrás. [Bruce Watson, Rensselaer Polytechnic Institute]
formação da Terra há 4,56 bilhões de anos e terminou “vida”), que cobre o intervalo de tempo de 2,5 bilhões a Detalhe: Um cristal de zircão (ZrSiO4) do Éon Hadeano, extraído de Jack Hills. [Chd GFDL/Wikipedia]
aproximadamente 3,9 bilhões de anos atrás. Durante 542 milhões de anos atrás. Por volta do início desse éon,
seus primeiros 650 milhões de anos, a Terra foi bombar- os sistemas da tectônica de placas e do clima estavam
deada por blocos de material dos primórdios do sistema operando de forma semelhante à que ocorre hoje. Duran- decaimento radioativo do urânio-238 e do urânio-235,
solar. Embora muito poucas formações rochosas tenham te o Proterozoico, os organismos que produziam oxigênio conforme descrito acima, foi identificado um pequeno
Avanços recentes na
sobrevivido a esse período violento, foram encontrados como resíduo (como as plantas fazem hoje) aumentaram fragmento de cristal com idade de 4,4 bilhões de anos – o datação do sistema Terra
grãos individuais de zircão com idades de até 4,4 bilhões a quantidade de oxigênio na atmosfera terrestre. A evo- grão mineral mais antigo já descoberto na crosta terrestre.
de anos, indicando que a Terra tinha uma crosta félsica lução inicial da vida e seus efeitos sobre o sistema Terra Como podemos relacionar-nos com um período de tem- Vimos que as escalas de tempo de processos geológicos não
no período de 150 milhões de anos depois de sua forma- serão explorados no Capítulo 11. po tão impressionante? são uniformes, mas variam de segundos a bilhões de anos.
ção. Também há evidências de que existia água líquida na Imagine comprimir os 4,56 bilhões de anos da histó- Devemos, portanto, usar uma variedade de métodos para
ÉON FANEROZOICO O início do Éon Fanerozoico é marca- marcar o tempo do sistema terrestre: alguns para determi-
superfície terrestre mais ou menos nessa época, sugerin- ria da Terra em um único ano, começando com a formação
do pela primeira aparição de fósseis de conchas no come- o
da Terra em 1 de janeiro e terminando à meia-noite de 31 nar as idades de rochas muito antigas; outros para medir
do que o planeta resfriou rapidamente. No Capítulo 9,
vamos explorar essa fase inicial da história da Terra em ço do Período Cambriano, agora datado em 542 milhões de dezembro. Na primeira semana, a Terra foi organizada mudanças rápidas. Novos métodos para determinar as ida-
maior detalhe. de anos atrás. O nome desse éon – do grego phaneros,“vi- em núcleo, manto e crosta. O grão de zircão mais antigo des relativa e absoluta dos materiais terrestres continuam a
sível”, e zoi,“vida” – certamente é adequado, porque com- da Jack Hills cristalizou-se em 13 de janeiro. Os primeiros ser desenvolvidos, e essas ferramentas têm melhorado con-
ÉON ARQUEANO O nome do éon seguinte vem de archaios preende todas as três eras originalmente reconhecidas no tinuamente nosso entendimento sobre como funciona o sis-
organismos primitivos apareceram em meados de março.
(grego para “antigo”). As idades das rochas arqueanas va- registro fóssil: a Paleozoica (542 a 251 milhões de anos tema Terra. Para concluir nossa história da escala do tempo
Em meados de junho, os continentes estáveis desenvol-
riam entre 3,9 e 2,5 bilhões de anos. Durante o Éon Arque- atrás), a Mesozoica (251 a 65 milhões de anos atrás) e a geológico, descreveremos alguns desses avanços recentes.
veram-se e, durante o inverno e o início da primavera,
ano, os sistemas do geodínamo, da tectônica de placas e Cenozoica (65 milhões de anos até o presente). a atividade biológica da vida em evolução aumentou a
do clima foram estabelecidos, e a crosta félsica acumulou-
concentração de oxigênio na atmosfera. Em 18 de no-
-se para formar as primeiras massas continentais estáveis,
vembro, no início do Período Cambriano, os organismos
Estratigrafia de sequências
como veremos no Capítulo 10. É provável que os proces- Perspectivas sobre o tempo Até poucas décadas atrás, os geólogos tinham que se
complexos, incluindo aqueles com conchas, chegaram.
sos da tectônica de placas estivessem em operação, embo- geológico Em 11 de dezembro, os répteis evoluíram e, no Natal, basear em rochas expostas em afloramentos, em minas
ra talvez de uma forma substancialmente distinta de como e em perfurações para mapear sucessões estratigráficas.
Na empoeirada região rural de criação de ovelhas, no os dinossauros foram extintos. Os humanos modernos,
operavam mais tarde na história terrestre. Estabeleceu-se Conforme mencionado no Capítulo 1 (e descrito em
extremo ocidente da Austrália, existe um pequeno pro- Homo sapiens sapiens, apareceram em cena às 23h42min,
a vida, na forma de microrganismos unicelulares primiti- maior detalhe no Capítulo 14), as inovações tecnológicas
montório de antigas rochas vermelhas chamado de Jack na véspera do Ano Novo, e a última idade do gelo ter-
vos, conforme indicado pelos fósseis encontrados em al- no campo das imagens sísmicas agora nos permitem ver
Hills (Figura 8.15). Os geólogos pulverizaram uma enor- minou às 23h58min. Três centésimos e meio de segundo
gumas rochas sedimentares dessa idade. abaixo da superfície terrestre sem necessariamente abrir
me quantidade dessas rochas para isolar alguns cristais antes da meia-noite, Colombo aportou em uma ilha das
ÉON PROTEROZOICO A última parte do Pré-Cambriano é de zircão do tamanho de grãos de areia. Pela medida dos Índias Ocidentais. E poucos milésimos de segundos atrás, buracos. A partir de registros de ondas sísmicas geradas
o Éon Proterozoico (do grego próteros,“anterior”, e zoikós, isótopos do chumbo-206 e do chumbo-207 gerados pelo você nasceu! por explosões controladas ou por terremotos naturais,

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(a) Seção sísmica (b) Sequências sedimentares


Estratigrafia paleomagnética estimativas de temperatura para camadas de núcleos de
Estratos mais novos
sedimento obtidos de vários locais no assoalho oceânico,
Estratos mais novos Outra técnica para obter a impressão digital de forma-
podemos ver como as temperaturas mudaram ao longo
Sequência C ções rochosas é a estratigrafia paleomagnética. Como vimos
do tempo. Esse procedimento deu-nos um registro preci-
Sequência C Sequência C no Capítulo 1, o campo magnético da Terra reverte-se em
so dos ciclos glaciais desde o início da Época Pleistocena,
intervalos irregulares. Essas reversões magnéticas são re-
Sequência B
1,8 milhão de anos atrás (ver Capítulo 15).
gistradas por magnetização termorremanente em rochas
Sequência B Sequência B Também podemos medir a quantidade de dióxido
Sequência A vulcânicas, que podem ser datadas por métodos isotópicos.
de carbono na atmosfera analisando os gases aprisiona-
Sequência A Sequência A A cronologia resultante de reversões magnéticas – a escala
dos em outro tipo de núcleo: amostras de gelo extraídas
de tempo magnético – permite-nos“rodar novamente a fita
de furos feitos nos mantos glaciais da Antártida e da Gro-
magnética”da expansão do assoalho oceânico e determinar
Estratos mais antigos Estratos mais antigos enlândia, que se acumularam incontáveis tempestades de
as taxas de movimentos de placas, como fizemos no Capítu-
neve durante centenas de milhares de anos. O dióxido de
lo 2. Padrões ainda mais detalhados de reversões magnéti-
carbono desempenha um papel importante no sistema do
(c) (d) cas podem ser observados em núcleos sedimentares, e essas
clima, como vimos no Capítulo 1, porque é um gás do efei-
impressões magnéticas podem ser datadas usando suces-
sões faunísticas. A estratigrafia paleomagnética tornou-se to estufa que ajuda a aprisionar o calor solar na atmosfera
recentemente um dos principais métodos para mensuração terrestre. Infelizmente (e, de certa forma, ironicamente), o
das taxas de sedimentação ao longo das margens continen- dióxido de carbono em si não pode ser datado pelo méto-
tais e no oceano profundo. Discutiremos a estratigrafia pa- do do carbono-14; as pequenas bolhas de gás nos núcle-
leomagnética em maior detalhe no Capítulo 14. os de gelo não contêm átomos suficientes de carbono-14.
C
Delta As camadas nos núcleos de gelo podem ser datadas com
exatidão por outros métodos, inclusive pela datação iso-
B
B Datando o sistema do clima tópica de depósitos de cinza vulcânica que ocorrem como
As épocas Pleistocena e Holocena foram tempos de mu- camadas finas nos núcleos e pela contagem das camadas
Sedimentos dança climática global rápida e drástica. Dados obtidos anuais de gelo nos núcleos. (O segundo método é muito
A por estratigrafia de sequências e por outros métodos in- semelhante à contagem dos anéis de árvores, que também
dicam que ocorreram ciclos repetidos de glaciação com foi usada para datar mudanças climáticas.)
1 Uma sequência da sedimentação 2 O nível do mar sobe e a 3 Outra sequência períodos variando de 40 mil a 100 mil anos, e ciclos mais A combinação de registros de temperaturas em nú-
deltaica, B, acumula-se sobre uma linha de costa retrocede sedimentar, C, acumula-se curtos de centenas a milhares de anos também são evi- cleos de sedimento com registros em núcleos de gelo
sedimentação prévia, A. para o continente. sobre a sequência B.
dentes. Os efeitos desses ciclos climáticos, como elevações de concentrações de dióxido de carbono na atmosfe-
FIGURA 8.16 䊏 A estratigrafia de sequências pode ser usada para entender como foram cria- e quedas no nível do mar, podem ter efeitos profundos na ra mostra-nos que, durante os últimos 400 mil anos, as
dos os padrões de acamamento sedimentar. (a) Um perfil sísmico revela camadas sedimentares superfície terrestre. Exploraremos esses ciclos e suas cau- temperaturas globais estiveram mais altas quando a at-
individuais. (b) Os geólogos podem agrupar essas camadas em sequências sedimentares. (c) e sas em maior detalhe nos Capítulos 15 e 21. mosfera continha mais dióxido de carbono e menores
(d) Neste caso, imagens sísmicas revelam uma sucessão estratigráfica que é característica de Vários métodos foram usados para medir esses ciclos quando continha menos. Esse padrão é uma das razões
uma série de sequências deltaicas. climáticos. Os geólogos podem usar isótopos estáveis de pelas quais a maioria dos geólogos está preocupada com
oxigênio em fósseis de conchas para estimar a tempe- a queima de combustíveis fósseis, que está causando um
ratura da água do mar em que os organismos viveram, aumento muito rápido nas concentrações de dióxido de
podemos construir imagens tridimensionais de estruturas plas. As idades relativas dessas sequências podem, então, além de usar o carbono-14 para determinar quando suas carbono atmosférico e tem alta probabilidade de resultar
soterradas a grandes profundidades (Figura 8.16). Ima- ser usadas para reconstruir a história geológica de uma conchas foram formadas. Com a tabulação cuidadosa das em um aquecimento global substancial (ver Capítulo 23).
gens sísmicas de rochas sedimentares permitem aos ge- região, inclusive qualquer soerguimento tectônico regio-
ólogos identificar sequências sedimentares e mapear sua nal que tenha contribuído com mudanças no nível do
distribuição em três dimensões, um tipo de mapeamento mar. A estratigrafia de sequências foi particularmente efi-
geológico chamado de estratigrafia de sequências. ciente para encontrar óleo e gás a grandes profundidades
Sequências sedimentares comumente formam-se nas
bordas de continentes quando a deposição de sedimentos
em margens continentais, como o Golfo do México e a
margem atlântica da América do Norte.4
Projeto no Google Earth
por rios é modificada por flutuações no nível do mar. No No Grand Canyon, na região norte do Estado norte-americano do Arizona, o rio Colorado atra-
exemplo mostrado na Figura 8.16, os sedimentos foram vessa sedimentos depositados por centenas de milhões de anos de história terrestre (ver Jornal
depositados em um delta onde o rio desembocou no oce- Estratigrafia química da Terra 8.1). Esse intervalo de tempo inimaginavelmente longo é marcado por mudanças nas
ano. À medida que os sedimentos acumularam-se, o delta Muitas camadas sedimentares contêm minerais e químicos formas de vida preservadas em rochas sedimentares. Como resquícios de vegetais e de animais são
avançou para dentro do mar. Quando o nível do mar des- que as identificam como unidades distintas. Por exemplo, a depositados e preservados em sedimentos, a idade de um fóssil é basicamente igual à da camada
ceu em função da glaciação continental, os depósitos del- quantidade de ferro ou manganês em sedimentos carboná- sedimentar em que ele se encontra. Essa relação, junto com os princípios básicos de estratigrafia,
taicos foram expostos e erodiram. Assim que as geleiras ticos pode variar entre camadas se a composição da água permite-nos determinar as idades relativas das camadas sedimentares. Vamos usar esse ambiente
derreteram e o nível do mar subiu, a linha de costa deslo- marinha alterou-se durante a precipitação dos minerais espetacular como laboratório natural para compreender o tempo geológico.
cou-se para o continente, e uma nova sequência deltaica carbonados. Quando os sedimentos são enterrados e trans-
começou a cobrir a antiga, criando uma discordância. formados em rochas sedimentares, essas variações químicas LOCALIZAÇÃO Trilha Bright Angel, Centro de Turismo do Grand Canyon, Estados Unidos.
Ao longo de milhões de anos, ciclos como esse po- podem ser preservadas, marcando as formações com “im-
dem se repetir muitas vezes, produzindo um pacote com- pressões digitais”. Essas digitais químicas podem estender- OBJETIVO Visualizar a sequência sedimentar do Grand Canyon.
plexo de sequências sedimentares. Como as flutuações do -se regional ou mesmo globalmente, permitindo a compara- REFERÊNCIA Jornal da Terra 8.1
nível do mar são globais, os geólogos podem comparar ção de rochas sedimentares por estratigrafia química quando
sequências sedimentares de mesma idade em áreas am- nenhuma outra feição, como fósseis, está disponível.

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Pergunta-desafio opcional mentares foram depositadas nos dois lados do


canal fluvial.
5. Navegue atá a seguinte latitude e longitude ao b. Rochas sedimentares foram depositadas, de-
longo do cânion: 36°10’56’’ N; 113°06’52’’ W. Vi- pois uma erupção vulcânica produziu derra-
Arenito Coconino sualize-o de uma altitude de 30 km e use o zoom mes de lava que cobriram os sedimentos e,
conforme necessário. Abaixo existe uma feição finalmente, o rio Colorado atravessou toda a
vulcânica que produziu derrames de lava basálti- sequência para criar um cânion grande.
ca, os quais interagem com o rio Colorado na base c. Rochas sedimentares foram depositadas, de-
do cânion. Baseado no princípio de superposição pois o rio Colorado atravessou entre elas para
e nas relações visíveis de seccionamento, qual das criar um cânion grande e, finalmente, uma
Arenito
sequências de eventos abaixo parece ser mais pro- erupção vulcânica produziu derrames de lava
Tapeats
vável? (Talvez seja útil inclinar o enquadramento que fluíram para o rio.
para o norte, ao longo do rio, para obter uma pers- d. Uma erupção vulcânica produziu derrames
pectiva melhor da sequência de eventos.) de lava sobre os quais as rochas sedimentares
a. Uma erupção vulcânica produziu derrames de foram depositadas, depois o rio Colorado atra-
lava, depois o rio Colorado atravessou os der- vessou toda a sequência para criar um cânion
rames e, finalmente, camadas de rochas sedi- grande.

Quais são as principais divisões da escala do tempo geoló-


RESUMO gico? A escala do tempo geológico é dividida em quatro
Image USDA Farm Service Agency Como os geólogos sabem se uma rocha é mais antiga que éons: o Hadeano (4,56 a 3,9 bilhões de anos atrás), o Ar-
Image © 2009 DigitalGlobe queano (3,9 a 2,5 bilhões de anos atrás), o Proterozoico
outra? Pode-se determinar as idades relativas de rochas
pelo estudo da estratigrafia, dos fósseis e das relações de (2,5 bilhões a 542 milhões de anos atrás) e o Fanerozoico
seccionamento de formações rochosas observadas em (542 milhões de anos atrás até o presente). O Éon Fane-
1. Digite “Bright Angel Trail, Grand Canyon, Arizona” gem do cânion e a camada rochosa espessa e cor afloramentos. Segundo os princípios de Steno, uma se- rozoico divide-se em três eras, a Paleozoica, a Mesozoi-
na janela de busca do Google Earth. Depois de che- de canela logo acima das exposições mais baixas quência não deformada de camadas sedimentares será ca e a Cenozoica, sendo que cada uma subdivide-se em
gar lá, use o zoom e vá para uma altitude de 10 km. de rocha vermelha visíveis no cânion. Essas for- horizontal, sendo que cada camada é mais nova do que as períodos mais curtos. Os limites das eras e dos períodos
Use o cursor para medir a diferença de elevação en- mações são o Arenito Coconino do Período Per- camadas soto-postas a ela, e mais antiga do que as cama- são marcados por mudanças abruptas no registro fóssil;
tre o início da trilha Bright Angel, próximo ao Cen- miano e o Arenito Tapeats do Período Cambriano, das sobrepostas a ela. Além disso, os fósseis encontrados muitas correspondem a extinções em massa.
tro de Turismo do Grand Canyon, e o rio Colorado, respectivamente. Meça a distância vertical entre em cada camada refletem os organismos que viviam na-
diretamente ao norte. Que valor representa a me- essas duas formações e consulte o Jornal da Terra quela camada quando ela foi depositada. Saber a suces- Que outros métodos estão sendo usados atualmente para
lhor aproximação dessa diferença de elevação? 8.1. Que estimativa você faz da espessura do se- são faunística torna mais fácil localizar discordâncias, que datar o registro geológico? O ciclo de subida e descida do
a. 30 m c. 1300 m dimento entre as duas formações e quais períodos indicam lacunas de tempo no registro estratigráfico onde nível do mar produz sequências sedimentares complexas
b. 100 m d. 2500 m geológicos estão faltando? nenhuma rocha foi depositada ou nenhuma rocha exis- em margens continentais em todo o mundo, que podem
tente sofreu erosão antes que os próximos estratos fossem ser mapeadas por meio de técnicas de imagem sísmica e
2. Navegue pelo cânion ao longo da trilha Bright a. 800 m de sedimento, e os períodos Ordovicia-
depositados. datadas com a utilização de fósseis. Impressões digitais
Angel, usando altitude em torno de 2 km. Incline no e Siluriano estão faltando
químicas e reversões magnéticas fornecem informações
o enquadramento para o norte, de forma a obter b. 400 m de sedimento, e nenhum período geo-
Como foi criada a escala global do tempo geológico? adicionais sobre a idade de sequências sedimentares. Os
uma visão oblíqua da parede norte do cânion, ao lógico está faltando
Utilizando-se as sucessões faunísticas para correlacionar ciclos glaciais registrados em sedimentos podem ser da-
longo do rio Colorado. Marque o traçado das ca- c. 800 m de sedimento, e os períodos Permiano, tados usando núcleos de gelo das calotas da Antártida e
Cambriano e Devoniano estão faltando as rochas em afloramentos mundo afora, os geólogos
madas rochosas com cores diferentes através da da Groenlândia.
d. 200 m de sedimento, e o Período Carbonífero compilaram uma sequência estratigráfica, para a qual
paisagem. Qual é a orientação geral das camadas
está faltando desenvolveram uma escala de tempo relativo. O uso da
de rocha sedimentar próximo à superfície?
datação isotópica permitiu aos cientistas atribuírem ida-
a. quase horizontal 4. Com base na relação da camada rochosa exposta des absolutas para os éons, eras, períodos e épocas que CONCEITOS E TERMOSCHAVE
b. quase vertical nas paredes do cânion e o próprio cânion, qual das constituem a escala do tempo geológico. A datação iso-
c. inclinada em torno de 45° em relação à hori- afirmativas abaixo deve ter se formado primeiro? datação isotópica (p. 211) extinção em massa (p. 206)
tópica é baseada no decaimento de isótopos radioativos,
zontal para o leste quando os átomos-pais instáveis são transformados em discordância (p. 204) idade absoluta (p. 200)
a. A camada de rocha mais próxima ao fundo do
d. inclinada em torno de 45° em relação à hori- isótopos-filhos estáveis a uma taxa constante. Ao medir- éon (p. 214) idade relativa (p. 200)
cânion
zontal para o sul -se a quantidade de pais e filhos em uma amostra, os
b. A camada de rocha na margem do cânion época (p. 206) meia-vida (p. 211)
3. Usando altitude de aproximadamente 2 km para c. O próprio Grand Canyon geólogos podem calcular a idade absoluta de rochas. O
era (p. 206) período (p. 206)
visualizar a parede norte do cânion, localize a ca- d. O cânion com laterais menores que a trilha relógio isotópico começa a bater quando isótopos radio-
ativos são aprisionados em minerais à medida que há escala do tempo princípio da
mada rochosa delgada e branca abaixo da mar- Bright Angel acompanha
cristalização de rochas ígneas ou recristalização de ro- geológico (p. 206) horizontalidade
chas metamórficas. estratigrafia (p. 201) original (p. 201)

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