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Processo Nº CFQ/ 21.

231/2016
Nome: AFFARI PLÁSTICOS ECOLÓGICOS LTDA. ME
Relator: TEREZA NEUMA DE CASTRO DANTAS
Parecer:
Sr. Presidente
Srs. Conselheiros,

HISTÓRICO:

O presente processo oriundo do CRQ-XIII trata do recurso interposto pela


empresa AFFARI PLÁSTICOS ECOLÓGICOS LTDA- ME localizada a Rua 06, 95,
Município de Xaxim-SC contra a decisão daquele Regional que a enquadrou por
infração ao disposto nos Arts. 335, 341, 343 “b” e 350 do Decreto-Lei nº 5.452/43
(CLT), combinados com os Arts. 27 e 28 da Lei nº 2.800/56, Art. 2° e seus incisos do
Decreto nº 85.877/81. O enquadramento foi motivado em razão da referida empresa
não estar registrada no CRQ e não ter apresentado responsável técnico devidamente
habilitado e registrado naquele CRQ XIII.
O processo teve origem no Relatório de Vistoria nº 01162/C referente à
fiscalização à empresa realizada pelo Serviço de Fiscalização do CRQ-XIII, por ocasião
da visita às instalações da empresa recorrente, em 30/06/2015. De acordo com este
Relatório de Vistoria, verifica-se que a referida empresa do ramo da indústria de
artefatos plásticos, apresenta as seguintes características:
- Matérias primas utilizadas: sucata de polietileno de alta densidade, sucata
de polipropileno, pigmentos.
- Principais equipamentos: moinho de faca, secadora, aglutinador, picador,
extrusora (180 a 300 ºC).
- Produtos finais: recuperação de materiais plásticos, artefatos plásticos,
embalagens plásticas.

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- Capacidade de produção: Processam 70 Ton/mês.
- Tratamento de água: Sim
- Geração e Tratamento de efluentes: sim e possui estação de tratamento,
cujo tratamento é feito através de grades e peneira estática seguido de
flotação, lagoas anaeróbias e de aeração.
- Laboratório de controle de qualidade: Não
- Operações Unitárias: Processamento de materiais, peneiramento,
secagem, transmissão de calor na extrusora (180 - 300 ºC).
Processo produtivo:
Recebimento dos refugos (polietileno e polipropileno) de outras empresas,
separação por cor, moagem, lavagem, secagem, aglutinador, extrusão a 180 - 300 ºC,
resfriamento, corte, armazenamento, mistura com pigmentos, aglutinador, extrusão à
180 - 300 ºC, embalagem e expedição.
Em decorrência do Relatório de Vistoria, o CRQ XIII encaminhou
representação e intimação nº 0157/15, enviando decisão de que a mesma efetuasse o
seu registro e indicasse responsável técnico e o não atendimento poderá acarretar em
multa de até R$ 4.958,90.
Em 01/10/15, a empresa AFFARI PLÁSTICOS ECOLÓGICOS LTDA- ME
encaminhou ao CRQXIII defesa administrativas e esclarecimentos, e solicitação de
cacelamento da representação e intimação por entender que não exerce atividades
que exijam o seu registro e a presença de profissional da química.
Após essa solicitação o processo foi levado à reunião plenária do CRQXIII,
em 14/01/16, que aprovou o parecer do relator que manteve a exigência de registro e
indicação de responsável técnico e concedeu um prazo de 15 dias , cujo não
cumprimeto levaria a multa de R$ 1.600,00.
Inconformada, a interessada apresentou recurso administrativo, em 16 de
fevereiro de 2016, ao Conselho Federal de Química.

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MÉRITO:

Este processo refere-se a uma indústria de artefatos e embalagens plásticas


cuja matéria-prima é sucata de polietileno de alta densidade, sucata de polipropileno,
pigmentos. A atividade básica desta indústria acha-se, na Área da Química, pois se
baseia em um conjunto de reações químicas dirigidas e controladas através da faixa e
regime de temperatura do processamento. Além disso, o processo de fabricação utiliza
um grupo de Operações Unitárias da Indústria Química.
Os argumentos apresentados pela empresa recorrente encontram-se
fundamentados no pressuposto de que não pertence à área da química e, pois o seu
processo é somente físico e, assim, não tem obrigatoriedade de ter um profissional da
química responsável por suas atividades. A questão requer uma análise dos aspectos
técnicos envolvidos e da legislação vigente, em função das atividades desenvolvidas
no âmbito da empresa.
De início é preciso salientar que o CRQ-XIII, assim como todos os demais
Conselhos Regionais de Química do Brasil, não tem a menor dúvida quanto a
indicação dos profissionais delas encarregados em seus quadros.
Neste sentido, o sistema CFQ/CRQ´s tem, no exercício de sua importante
missão, o objetivo de zelar para que a sociedade receba os benefícios da atividade
química nas melhores condições, não somente na fiscalização dos produtos oferecidos
a ela, mas também em relação aos profissionais que assumem Responsabilidade
Técnica, exercendo atividades, na área da química, como “supervisão, coordenação,
orientação e acompanhamento de todas as etapas do processo produtivo, bem como o
controle de qualidade (matérias-primas e produtos fabricados) e meio ambiente”.
Destes profissionais exige-se uma sólida formação acadêmica e, acima de tudo, que
exerçam a profissão em elevado nível de ética e com perfeita noção de
responsabilidade.

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O sistema CFQ/CRQ’s luta para reverter à situação procurando esclarecer
os riscos a que todos estão sujeitos pela industrialização, sem conhecimento técnico,
de produtos alimentícios e pela condução de certas reações químicas e operações
unitárias. E, desta forma, cumprir a sua nobre missão que é de proteger a população,
essência maior da Lei no 2.800/56.
O processo industrial baseia-se nas seguintes etapas: recebimento dos
refugos (polietileno e polipropileno) de outras empresas, separação por cor, moagem,
lavagem, secagem, aglutinador, extrusão à 180 - 300 ºC, resfriamento, corte,
armazenamento, mistura com pigmentos, aglutinador, extrusão à 180 - 300 ºC,
embalagem e expedição. A atividade básica é a transformação química irreversível das
matérias-primas polietileno, polipropileno, pelo processo de injeção/extrusão, com
controle de temperatura, de modo que o artigo produzido tenha consistência uniforme e
com resistência a ruptura, de acordo com as normas preconizadas pela ABNT, o que
significa obediência aos padrões de identidade e qualidade. Normas técnicas que
levam a perfeita utilização dos materiais termoplásticos.
A indústria de plásticos a base de resina termoplástica é tipicamente
química. Os artefatos plásticos são produtos químicos e até sofisticados e o que se
vende é o tipo molecular. Até a classificação dos plásticos é feita baseando-se no tipo
de suas moléculas. Os plásticos se dividem em: Termoplásticos e Termorígidos.
Os TERMOPLÁSTICOS são plásticos cujas moléculas não apresentam
ligações cruzadas. Estes plásticos se amolecem ao serem aquecidos e se endurecem
ao ser resfriados.
MOLÉCULAS DE PLÁSTICOS TERMOPLÁSTICOS - Como se vê, podem
ser obtidos copolímeros de cada molécula e cada um com propriedades específicas
diferentes. O isotático é o mais estável e mais rígido. O atático e o sindiotático são mais
macios, tipo borracha e são menos estáveis à temperatura.

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Os TERMOFIXOS OU TERMORÍGIDOS são plásticos que não se amolecem
ao serem aquecidos. As moléculas destes plásticos possuem ligações cruzadas.
Exemplo deste tipo de plástico: gliptal, baquelite e outros.
Quanto às matérias-primas utilizadas pela recorrente, tem-se entre elas o
POLIETILENO que é um composto químico que contém como componente essencial
uma substância orgânica de elevada massa molar, que em seu estado final é sólido e
que em alguma fase de sua fabricação ou de sua transformação no artigo acabado,
pode modelar-se por fluidez.
É sempre um processo quimicamente controlado, embora usando de meios
mecânicos, através de injetoras e/ou extrusoras utilizadas para se transformar o estado
de agregação da matéria plástica, pela temperatura e conformação. É o profissional da
química que está habilitado, conscientemente, a processar alterações nas estruturas
dos plásticos, no seu estado de agregação, sem prejudicar suas propriedades,
atribuídas pelas suas moléculas e seus arranjos, planejados quimicamente, quando de
sua fabricação como matéria prima ou quando utilizadas, através de operações
unitárias e reações químicas controladas e dirigidas.
Portanto, o controle das operações unitárias que constituem o processo de
fabricação de peças em materiais plásticos, onde estão envolvidas variáveis físico-
químicas, deve ser conduzido por profissional da química.
Como ênfase, permita a empresa que possamos discordar das afirmações
contidas no recurso interposto e esclarecer das necessidades de manter um
responsável pelas atividades técnicas da empresa no âmbito da química e registrar-se
no CRQ-XIII.
Sabe-se que este processamento químico consiste na transformação das
resinas termoplásticas utilizadas como matérias primas até uma massa homogênea e
de viscosidade estrutural tal que lhe permita ser elaborada, que é a formação do
termoplástico. Este processo exige uma visão tecnológica da importância dos cuidados

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e detalhamentos técnicos que devem ser observados no processo de fabricação de
materiais termoplásticos, visando o maior aproveitamento destes materiais.
Vale comentar que os polímeros são macromoléculas caracterizadas por seu
tamanho, sua estrutura química e interações intra e intermoleculares. Possuem
unidades químicas que são unidas por ligações covalentes, que se repetem ao longo
da cadeia. Partindo-se do princípio que a longa cadeia polimérica de um termoplástico
é composta por ligações carbono-carbono, a construção desta molécula está baseada
em ligações covalentes de forças intermediárias. Consequentemente, a estrutura
molecular não apresenta uma ligação forte, o que por outro lado pode ser interpretado
por uma ligação sensível. Estas ligações por sua vez, estarão sujeitas a extremas
solicitações termodinâmicas no momento do seu processamento.
Na sua trajetória pelo equipamento, as resinas termoplásticas utilizadas
desagregam-se partindo do estado sólido (quando chegam ao cilindro de plastificação)
para o termoelástico (inicia quando chegam à temperatura de amolecimento). Verifica-
se, neste estado, uma redução das forças de coesão intermoleculares – forças de Van
der Waals, e, consequentemente, da resistência também dos materiais, devido à
fragmentação de suas estruturas moleculares.
A flexibilidade dos elementos de união intermolecular cresce em função do
aumento da influência térmica, perdendo-se por completo quando se ultrapassa a zona
da temperatura de fluidez o que propicia um deslocamento da molécula, caracterizando
o estado termoplástico. Isto significa que, através das operações unitárias que
ocorrem no equipamento, o polímero sofre profunda modificação em sua estrutura, por
efeito de fenômenos físico-químicos.
No momento do processamento muitos parâmetros são afetados pelas
propriedades intrínsecas destes polímeros. A viscosidade, que é um parâmetro
fundamental da reologia, sofre grande influência atingindo diretamente a produtividade
da produção.

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As diferenças nas propriedades dos materiais e de processamento são
identificadas pelo tamanho de cadeia, pelo grau de ramificações, reticulações entre
cadeias, formando redes tridimensionais que surgem no momento do reprocessamento
e que além de influenciar na reologia também altera propriedades como translucidez e
mobilidade molecular. Estes fatores moleculares influenciam diretamente as
propriedades físicas do produto acabado.
Pode-se ainda salientar a importância da degradação macromolecular que
sofrem as moléculas poliméricas a cada processamento, levando à diminuição da
massa molar. Neste caso, ocorre um aumento da polidispersividade do tamanho das
cadeias, afetando algumas propriedades como aparência, resistência química e
características mecânicas. Isto é de fundamental importância, pois afeta diretamente as
propriedades macro e micro dos materiais termoplásticos.
Neste instante, as macromoléculas sofrerão um forte cisalhamento no
momento em que estão atritando contra as paredes e partes dos equipamentos de
transformação para se obter os termoplásticos. Acrescentando a esta problemática um
efeito negativo de temperatura elevada para fluir ou amolecer a massa polimérica,
diminuímos ainda mais as possibilidades da cadeia polimérica de se manter
integralmente unida. Novamente, o resultado deste processamento é a quebra da
macromolécula em várias partes, diminuindo sensivelmente a cadeia molecular. Neste
sentido, é fundamental o conhecimento de que tais materiais podem não trazer consigo
propriedades tanto mecânicas como ópticas e químicas, necessárias para a qualidade
de desempenho do produto acabado.
O profissional da área da química é o profissional indicado para conduzir o
processo porque haverá sempre operações unitárias e transformação do material
plástico através do aquecimento e conformação, transformando o plástico em produto
de valor realçado. Para isto tem que ser levado em consideração às interações
intermoleculares e o fenômeno de anisotropia.

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A anisotropia desenvolvida durante a operação da moldagem (injeção
seguida de resfriamento nas formas), também deve ser controlada, pois podem ocorrer
reações secundárias, quando a degradação oxidativa que provoca a formação de
outros compostos químicos altera sensivelmente as características do produto final. Se
houver excesso de temperatura poderá haver rompimento das ligações químicas. Se
houver excesso de velocidade no processo, poderá haver rompimento do material por
cisalhamento.
Sendo assim, é lícito inferir que o processo de transformação de
termoplásticos envolve calor e cisalhamento mecânico geralmente ao mesmo tempo.
Isto implica em transformações nos materiais. Que tipo de transformação?
DEGRADAÇÃO. A degradação ocorre pela ruptura da cadeia polimérica,
transformando o polímero em pesos moleculares menores. Dependendo do processo
(calor, tempo de residência, carga, aditivos...) ocorre maior ou menor degradação.
Quando o polímero é rompido, a degradação é imediata. A ligação covalente que
predomina nos polímeros é uma ligação um pouco fraca e que se rompe (ou pode se
romper) durante o processo. O polímero de baixo peso molecular formado pode
volatilizar, sendo percebido pelo odor e saturação do ambiente.
Contudo, estes produtos secundários, originados da degradação dos
polímeros, podem, durante o processamento, contaminar os artigos plásticos, vindo a
constituir os aditivos incidentais, alguns inócuos, outros tóxicos e que devem sofrer
rígidos controles para não influir perniciosamente sobre a saúde pública dependendo
da reutilização deste produto reciclado. Alguns são, inclusive, tóxicos cumulativos.
O profissional da química com o conhecimento que tem, devido à sua
formação técnico-cientifífica, pode controlar, dirigir, inibir e até provocar reações
químicas para atingir um fim desejado, mediante a efetivação de operações unitárias
(operações físicas também de competência do profissional da química) e pelo controle
das variáveis físicas (pressão, temperatura, concentração e outras).

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É normal, hoje em dia, que os fornecedores entreguem as resinas
termoplásticas já convenientemente preparadas para o fim almejado. Contudo, esta
matéria-prima pode conter algumas substâncias adjuvantes que atuam como
plastificantes, estabilizantes, cargas, antioxidantes, lubrificantes, emulsificantes. Muitas
substâncias são capazes de dar origem, por reações químicas que se passam durante
o processamento, a compostos solúveis tóxicos. Alguns são, inclusive, tóxicos
cumulativos.
Além disso, deve-se acrescentar ainda que por efeito dos fenômenos físico-
químicos ocorridos durante o processo industrial, os polímeros estão sujeitos a reações
de degradação ou despolimerização, por efeito do calor, tempo e pressão, donde
resultam monômeros dos mesmos, muitas substâncias capazes de elevada toxidez.
Portanto, é importante o controle analítico químico da matéria prima, dos
resíduos e da atmosfera industrial e do produto acabado. Isto é feito pelos
profissionais da química e somente estes profissionais têm competência para
estas tarefas de definir a formulação adequada para o cliente e desta forma
elaborar projetos para otimizar o processo produtivo.
Um controle de qualidade é imprescindível, o que beneficiará tanto o
produtor como o consumidor. Não se pode desprezar, no processo seletivo das
matérias primas, propriedades que são determinadas por sua composição química,
estrutural e morfológica, peso molecular, e sua distribuição, índice de fluidez e o seu
comportamento mecânico, térmico e elétrico.
Assim, ocorre que, mesmo a empresa não realizando ensaios químicos ou
físico-químicos, por não ter seu laboratório, não está dispensada de proceder a ensaios
em um laboratório oficial, cuja interpretação dos resultados cabe ao profissional da
química, como definido no Artigo 341 da CLT, o que lhe permitirá aplicar a tecnologia
indicada na correção das anomalias de fabricação.

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Enfim, trata-se de um processo quimicamente controlado, embora usando de
meios mecânicos, através de extrusora usada para se transformar o estado de
agregação de matéria plástica, pela temperatura e conformação. A empresa, para
atingir seu objetivo na fabricação de artefatos de plásticos, emprega operações
unitárias da indústria química no processamento industrial, além de obter, por meio de
reações químicas dirigidas e controladas, as características físico-químicas do produto
final com propriedades realçadas.
O profissional da química com o conhecimento que tem, devido à sua
formação técnico-cientifífica, pode controlar, dirigir, inibir e até provocar reações
químicas para atingir um fim desejado, mediante a efetivação de operações unitárias
(operações físicas também de competência do profissional da química) e pelo controle
das variáveis físicas (pressão, temperatura e outras). Tais atividades executadas pela
recorrente, demonstram que a atividade básica da empresa é da área da química.
Por tudo que foi apresentado, a empresa recorrente se equivoca ao afirmar
que não está enquadrada como indústria que necessita de um profissional da química
responsável pelo seu processamento industrial. Na verdade, a sua atividade básica é
química, atividade básica essa que lhe permite desenvolver a atividade fim. Mostra
desconhecer a empresa que um processamento químico é aquele em que as matérias
primas e o polietileno são levados à obtenção de um produto com valor realçado,
envolvendo reações químicas e operações unitárias da indústria química. Tais
operações devem ser conduzidas e controladas por um profissional da química,
conforme determina o Art. 2º do Decreto nº 85877/81.
Do que ficou exaustivamente demonstrado, a fabricação e
transformação termoplástica não é uma atividade para leigos e sim uma
indústria com atividade básica, tipicamente na área da química, de acordo com
a Lei 6.839 de 30/10/80 e a RN nº 105 e se enquadra no item 23 e seus
subitens do Código de Atividades do IBGE e por exigir tanto conhecimento de

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química, se enquadra perfeitamente no Art. 341 da CLT e no Decreto nº
85.877/81 Art. 2º item II e item IV letra f mencionados e no Art. 335 da CLT.
Além desses fatos, segundo o Art. 1º da Lei n.º 6.839/80:
Art. 1º - O registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente
habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a
fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em
relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros.
Atividade básica de uma empresa é aquela indispensável para desenvolver,
no produto fabricado, as qualidades e propriedades necessárias para o desempenho
para o qual é fabricado.
Por outro lado, é preciso que a empresa se conscientize do fato de que os
produtos manufaturados e os serviços prestados à Sociedade devem ser tecnicamente
perfeitos, qualquer que seja seu porte: é por essa razão que existe a fiscalização das
empresas e a exigência da presença obrigatória de profissional legalmente habilitado.
Assim, a obrigatoriedade da responsabilidade técnica do químico nos seus
processamentos fabris, encontra respaldo legal face ao disposto nos Arts. 27 e 28 da
Lei nº 2.800/56, que diz:
Art. 27 - As firmas individuais de profissionais e as mais firmas, coletivas ou
não, sociedades, associações, companhias e empresas em geral e suas filiais, que
explorem serviços para os quais são necessárias atividades de químico, especificadas
no Decreto-Lei n.º 5452/43 CLT- ou nesta lei, deverão provar perante aos Conselhos
Regionais de Química que essas atividades são exercidas por profissional habilitado e
registrado.
Art. 28 - As firmas ou entidades a que se refere o artigo anterior são
obrigadas ao pagamento de anuidades ao Conselho Regional de Química em cuja
jurisdição se situam até 31 de março de cada ano...

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E ainda, combinados com o Art. 2º do Decreto n.º 85877/81 e o Art. 1º da Lei
no 6.839 de 30/10/80, já descritos.
Assim sendo, de acordo com o Art. 335 da CLT de 01/05/43:
“É obrigatória a admissão de químicos nos seguintes tipos de indústrias”:
a) de fabricação de produtos químicos;
b) que mantenham laboratório de controle químico;
c) de fabricação de produtos industriais que são obtidos por meio de reações
químicas dirigidas, tais como cimento, açúcar e álcool, vidro, curtume, massas plásticas
artificiais, explosivos, derivados de carvão ou de petróleo, refinação de óleos vegetais
ou minerais, sabão, celulose e derivados”.
A recorrente ao citar que sua atividade básica não se encontra incluída no
rol das indústrias citadas no art. 335 do Decreto-Lei nº 5.452/43 (CLT), demonstra um
total desconhecimento deste diploma legal. O legislador compreendendo sabiamente
que seria impossível estancar o progresso tecnológico quando da feitura do
regulamento retrocitado em 1943, fora motivado a estabelecer a figura jurídica
conhecida como Norma de Resto, contida no art. 341 do mesmo diploma legal, quando
diz: “cabe aos químicos habilitados, conforme estabelece o art. 325, alínea “a” e “b”, a
execução de todos os serviços que, não especificados no presente regulamento,
exijam por sua natureza o conhecimento de química”.
É evidente que quando da elaboração do artigo 335 do Decreto Lei n o
5.452/43, o legislador não poderia, por razões óbvias listar todas as indústrias que
utilizam de reações químicas controladas e, por isso, sabiamente, usou a expressão
"tais como", que é uma expressão meramente exemplificativa.
Com relação à mesma alegação quanto ao artigo 335 da CLT, a justiça já se
manifestou favorável no sentido de que o texto do artigo 335 da CLT é exemplificativo,
a listagem pode ser ampliada para qualquer tipo de atividade que envolva reações
químicas dirigidas, as decisões dos Tribunais Federais são:

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1. Agravo de Petição em Mandato de Segurança nº 27.733, de 25/10/62,
TRF, 1a Turma, Rio de Janeiro, Relator Ministro Henrique Dália. O texto do artigo 335
CLT é exemplificativo e não taxativo. (grifos nossos).
2. Ac. nº 63.902 – RN, de 29/06/1981, 4 a Turma TFR, Relator o Senhor
Ministro Romildo Bueno de Souza. O texto do Art. 335, da CLT é exemplificativo, e
não taxativo, e não se exaure com a citação supra. (grifos nossos)
Art. 341 da CLT de 1º/05/43:
- “Cabe aos químicos habilitados, conforme estabelece o Art. 325, alínea a e
b, a execução de todos os serviços que não especificados no presente regulamento,
exijam por sua natureza o conhecimento de química.”
De acordo com o Decreto no 85.877/81, que estabelece normas para
execução da Lei 2.800 de 18/06/56 sobre o exercício da profissão de químico e dá
outras providências, no seu Art. 2º item II estabelece: “São privativos do químico:
produção, fabricação e comercialização, sob controle e responsabilidade, de produtos
químicos, produtos industriais obtidos por meio de reações químicas controladas ou
de operações unitárias, produtos obtidos através de agentes físico-químicos ou
biológicos, produtos industriais derivados de matéria prima de origem animal, vegetal,
ou mineral, e tratamento de resíduos resultantes da utilização destas matérias primas
sempre que vinculadas à Indústria Química. (grifo nosso)
Do que ficou exaustivamente demonstrado, a fabricação e transformação
termoplástica é uma indústria com atividade básica, tipicamente na área da química, de
acordo com a Lei no 6.839/80 e a RN nº 105 e se enquadra no item 25 e seus subitens
do Código de Atividades do IBGE e por exigir tanto conhecimento de química, se
enquadra perfeitamente no Art. 341 da CLT e no Dec. 85.877 Art. 2º item II e item IV
letra f já mencionados e no Art. 335 da CLT.
25 – INDÚSTRIA DE PRODUTOS DE MATÉRIAS PLÁSTICAS

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23.30 – Fabricação de artigos de material plástico para usos doméstico e
pessoal — exclusive calçados, artigos de vestuário e viagem (25.10 a 25.99 e 19.30).
23. 40 – Fabricação de móveis moldados de material plástico
Como confirmação do exposto, tem-se algumas decisões, que serão
listadas a seguir, que corroboram com esses entendimentos apresentados.

APELAÇÃO CÍVEL n° 2005.70.01.000478-6/PR


Relatora: Des. Federal MARIA LUCIA LUZ LEIRIA
Apelante: POLY PLÁSTICOS E EMBALAGENS LTDA.
Advogado: Irineu Bertan
Apelado: Conselho Regional de Química da 9° região/PR
Advogado: Renato Antunes Villanova
EMENTA
Administrativo. Embargos à Execução. CRQ.Registro
Profissional e contratação de responsável técnico.
Necessidade. Atividade básica Lei 6.839/80

Após a entrada em vigor da lei n° 6.839/80, que trata do registro de


empresas nas entidades fiscalizadoras do exercício de profissões, o critério para a
exigência de instruções no órgão de classe é a atividade desenvolvida pela empresa,
segundo a orientação prevista em seu artigo 1°. Pela prova pericial, a atividade de
processamento de polímeros necessita de profissional com conhecimentos de reações
químicas, bem como a empresa embargante se caracteriza como indústria de
transformação de produtos químicos. Sendo assim, mantida a sentença que entendeu
legítimas as autuações realizadas pelo Conselho Regional de Química em relação à
embargante, por falta de registro no órgão e de químico responsável técnico.

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ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
decide a Egrégia 3° turma do Tribunal Regional Federal da 4° Região, por
unanimidade, negar provimento ao recurso de apelação, nos termos do relatório, votos
e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Porto alegre, 10 de novembro de 2009
Des. Federal MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA
Relatora

Embargos opostos por Indústria de Brinquedos Rabaker Ltda contra o


Conselho Regional de Química da 13 a região, no Estado de Santa Catarina, julgados
improcedentes os embargos condenando o Embargante ao pagamento das custas
processuais e honorário advocatício, estes fixados em 20% do valor da causa,
devidamente atualizado. Isto ocorreu em Pomerode, 29/10/93 Juiz de Direito Hildemar
Meneguzzi de Carvalho.
- Tribunal Regional Federal em Brasília decide:
Indústria de Materiais Plásticos tem atividade básica na área da Química.
Mandado de Segurança contra a fiscalização do CRQ-14º Região.
Amazonas, em que o Juiz Euclides Aguiar, relator tem o seu voto aprovado por
unanimidade, negando a apelação em Mandado de Segurança da Vat Vídeo Áudio
Tape do Amazonas S/A. Reconhece aquele Tribunal, tratar-se de atividade básica da
área da química, a produção de tampas, painéis de proteção, bases de carreteiese
visores plásticos. Obtidos por injeção plástica, na Vat Vídeo Áudio Tape do Amazonas
S/A.
Além da atividade produtiva, a empresa possui estação de tratamento de
efluente e este deve ser feito sob a responsabilidade de profissional da química
devidamente habilitado, pois com o tratamento correto realizado pelo profissional

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da química, evita-se o excesso de produtos químicos na água e desta forma
evita-se os riscos de doenças e intoxicações pelo uso indiscriminado dos
mencionados produtos e, consequentemente, é feita a prevenção de doenças
causadas por bactérias patogênicas.
Assim é que, todas as atividades executadas no tratamento químico e
controle de qualidade da água, requerem conhecimentos de química. Logo, para
garantir essa qualidade, é necessário que a condução dessas atividades seja de
responsabilidade técnica de um profissional da química, legalmente habilitado nos
termos da legislação pertinente.
As exigências legais referidas estão capituladas no artigo 341 da CLT.
O artigo 341 preconiza: “Cabe aos químicos habilitados, conforme
estabelece o art. 325, alíneas a e b, a execução de todos os serviços que não
especificados no presente regulamento, exijam por sua natureza o conhecimento
de Química” (Lei nº 5452 de 01.05.43-CLT). (grifos nossos).
Como considerações finais, pode-se então concluir:
a) Fica evidente que existem reações químicas dirigidas em seu processo de
fabricação, pois a produção dos artefatos plásticos envolvem um conjunto de reações
químicas no estado sólido, que são controladas, pela temperatura nas várias etapas do
aquecimento e resfriamento. Além da existência de operações unitárias como
escoamento de fluído e transferência de calor.
b) a matéria plástica - o produto final do processo produtivo deve estar
dentro de padrões de qualidade, e estes só podem ser alcançados através de rigoroso
controle de qualidade, que envolvem o preparo da massa, a temperatura da operação,
a quantidade de massa para uma dada espessura da peça plástica e a resistência da
peça plástica em função destes parâmetros. Além do importante controle dos
pigmentos utilizados e dos padrões de cores, uniformidade e reprodutibilidade dos
lotes.

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c) a defesa do consumidor - pois a empresa tem um compromisso com a
sociedade de oferecer um produto seguro e de qualidade superior. E a exigência de um
profissional responsável por suas atividades é na verdade uma delegação da
sociedade ao profissional para que este atue como garantia de que o produto esteja
sendo elaborado dentro da melhor técnica disponível.
Portanto, a apresentação do Responsável Técnico pelas atividades da
recorrente, é.
OBRIGATÓRIA, do ponto de vista legal, conforme exposto ao longo deste
parecer;
NECESSÁRIA, do ponto de vista tecnológico e científico;
CORRETA, do ponto de vista da ética.

VOTO:

Ante o exposto, e não tendo fundamento a defesa apresentada pela


Recorrente, o parecer é de negar provimento ao recurso, por falta de amparo legal,
e a favor da Decisão do Conselho Regional de Química - 13º Região, em sua plenitude.
Brasília, 21 de julho de 2016.

TEREZA NEUMA DE CASTRO DANTAS


Conselheira Relatora

TNCD/gv/2016

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