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Processo Nº CFQ /17.

893/2012
Nome:: MIG INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
Relator: NEWTON MARIO BATTASTINI
Parecer:
Sr. Presidente
Srs. Conselheiros,

HISTÓRICO:

O presente processo oriundo do CRQ-XXI trata do recurso interposto pela


empresa MIG INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA, localizada na Rua Fortaleza, 121 ote
10 Quadra S na cidade de Serra – ES, contra a decisão daquele Regional que a
enquadrou por infração ao disposto nos Arts. 335 e 341 do Decreto-Lei nº 5.452/43
(CLT), combinados com os Arts. 27 e 28 da Lei nº 2800/56, Art. 1° da Lei n o 6.839/80 e
Art. 2º e seus incisos do Decreto nº 85.877/81. O enquadramento foi motivado em
razão da referida empresa não estar registrada no CRQ-XXI e não ter apresentado
responsável técnico devidamente habilitado e registrado naquele CRQ.
O processo teve origem no Relatório de Vistoria nº 0022/11 de 18.08.2011
lavrado pelo Serviço de Fiscalização do CRQ-XXI por ocasião da visita às instalações
da empresa recorrente. De acordo com este Relatório de Vistoria, verifica-se que a
referida empresa do ramo da indústria de produtos de matérias plásticas, apresenta as
seguintes características:

- Nº total de funcionários: 62 (sescente e dois).


- Matérias primas utilizadas: polietileno (PE).
- Principais equipamentos: Sopradora e injetora.

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- Produtos finais: “Fabricação de embalagens de materiais plásticos, artefatos de
material plástico para uso pessoal e doméstico e para uso industrial comercio de
embalagens”
- Capacidade de produção: Processam 60 toneladas/mês.
- Tratamento de água: Não
- Tratamento de efluentes: NA
- Laboratório de controle de qualidade: Não
- Operações Unitárias: Processamento de materiais, transmissão de calor na injeção
e sopro.
-
Processo produtivo:
1) Matéria prima > injetora > moldes > produto final (tampas).
2) Matéria prima > aquecimento >máquina sopradora > moldes > produtos
final (garrafas ou potes).

Observação: a moagem de aparas de produtos não conformes para


reaproveitamento no processo. Impressão de logomarca nas tampas.
Em decorrência do Relatório de Vistoria, a empresa foi representada e o
CRQ-XXI emitiu a Intimação no 027/2011, em 22.09.2011, concedendo um prazo de 15
(quinze) dias para a empresa regularizar-se, junto aquele Conselho, ou apresentar
defesa por escrito.
A empresa apresenta defesa em 03 de novembro de 2011, alegando que
não é uma industria química e não necessita estar registrada em um Conselho
Regional e nem tem a necessidade de um profissional habilitado para se
responsabilizar pelo processo industrial.
Em 05 de setembro de 2012 o CRQ XXI emite o oficio 0351-PJ/2012
informando ao interessado que na 15° Reunião Ordinária do CRQ XXI, votou no

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sentido de negar provimento ao recurso da empresa e favorável à permanência da
exigência do registro de Pessoa Juridica da empresa e apresentação de um
profissional da química devidamente habilitado. O prazo que se estabelece para seja
cumpridas as exigências é de 15 dias a contar da dsta de recebimento deste oficio sob
pena de multa no valor de R$ 4.500,00(quatro mil e quinhetos reais).
Inconformada, a interessada apresentou recurso administrativo em 20 de
setembro de 2012 através do escritório SILVA & LAMAS Advogados Associados,
(folhas CFQ n° 36 a 45).

MÉRITO:

Este processo refere-se a uma indústria de plásticos cuja resina


termoplástica é o polietileno utilizado para a “fabricação de embalagens de materiais
plásticos, artefatos de material plástico para uso pessoal e doméstico e para uso
industrial comercio de embalagens”. Atividade básica desta indústria acha-se, na Área
da Química, pois se baseia em um conjunto de reações químicas dirigidas e
controladas através da faixa e regime de temperatura do processamento. Além disso, o
processo de fabricação utiliza um grupo de Operações Unitárias da Indústria Química.
Os argumentos apresentados pela empresa recorrente encontram-se
fundamentados no pressuposto de que não pertence à área da química e, por
conseguinte, não têm a obrigatoriedade de registrarem-se no Conselho Regional de
Química, nem de apresentar um responsável técnico habilitado e registrado. A questão
requer uma análise dos aspectos técnicos envolvidos e da legislação vigente, em
função das atividades desenvolvidas no âmbito da empresa.
De início é preciso salientar que o CRQ-XXI, assim como todos os demais
Conselhos Regionais de Química do Brasil, não tem a menor dúvida quanto ao registro
de indústria química e os profissionais delas encarregados em seus quadros.

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Neste sentido, o sistema CFQ/CRQ´s tem, no exercício de sua importante
missão, o objetivo de zelar para que a sociedade receba os benefícios da atividade
química nas melhores condições, não somente na fiscalização dos produtos oferecidos
a ela, mas também em relação aos profissionais que assumem Responsabilidade
Técnica, exercendo atividades, na área da química, como “supervisão, coordenação,
orientação e acompanhamento de todas as etapas do processo produtivo, bem como o
controle de qualidade (matérias-primas e produtos fabricados) e meio ambiente”.
Destes profissionais exige-se uma sólida formação acadêmica e, acima de tudo, que
exerçam a profissão em elevado nível de ética e com perfeita noção de
responsabilidade.
O sistema CFQ/CRQ’s luta para reverter à situação procurando esclarecer
os riscos a que todos estão sujeitos pela industrialização, sem conhecimento técnico,
de produtos alimentícios e pela condução de certas reações químicas e operações
unitárias. E, desta forma, cumprir a sua nobre missão que é de proteger a população,
essência maior da Lei no 2.800/56.

O processo industrial baseia-se nas seguintes etapas: recebimento de


matérias-primas, pesagem, sopro e injeção, controle de qualidade visual após a
operação de produção, estoque e vendas. A atividade básica é a transformação
química irreversível das matérias-primas polietileno e tintas para impressão, pelo
processo de injeção e sopro, com controle de temperatura, de modo que o artigo
produzido tenha consistência uniforme e com resistência a ruptura, de acordo com as
normas preconizadas pela ABNT, o que significa obediência aos padrões de identidade
e qualidade. Normas técnicas que levam a perfeita utilização dos materiais
termoplásticos.
A indústria de plásticos a base de resina termoplástica é tipicamente
química. Os materiais plásticos são produtos químicos e até sofisticado e o que se

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vende é o tipo molecular. Até a classificação dos plásticos é feita baseando-se no tipo
de suas moléculas. Os plásticos se dividem em: Termoplásticos e Termofixos.
Os TERMOPLÁSTICOS são plásticos cujas moléculas não apresentam
ligações cruzadas. Estes plásticos se amolecem ao serem aquecidos e se endurecem
ao ser resfriados.
MOLÉCULAS DE PLÁSTICOS TERMOPLÁSTICOS - Como se vê, podem
ser obtidos copolímeros de cada molécula e cada um com propriedades específicas
diferentes. O isotático é o mais estável e mais rígido. O atático e o sindiotático são mais
macios, tipo borracha e são menos estáveis à temperatura.
Os TERMOFIXOS OU TERMORÍGIDOS são plásticos que não se amolecem
ao serem aquecidos. As moléculas destes plásticos possuem ligações cruzadas.
Exemplo deste tipo de plástico: gliptal, baquelite e outros.
Quanto às matérias-primas utilizadas pela recorrente, o POLIETILENO é um
composto químico que contém como componente essencial uma substância orgânica
de elevada massa molar, que em seu estado final é sólido e que em alguma fase de
sua fabricação ou de sua transformação no artigo acabado, pode modelar-se por
fluidez.
É sempre um processo quimicamente controlado, embora usando de meios
mecânicos, através de injetoras e sopradoras utilizadas para se transformar o estado
de agregação da matéria plástica, pela temperatura e conformação. É o profissional da
química que está habilitado, conscientemente, a processar alterações nas estruturas
dos plásticos, no seu estado de agregação, sem prejudicar suas propriedades,
atribuídas pelas suas moléculas e seus arranjos, planejados quimicamente, quando de
sua fabricação como matéria prima ou quando utilizadas, através de operações
unitárias e reações químicas controladas e dirigidas.

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Portanto, o controle das operações unitárias que constituem o processo de
fabricação de peças em materiais plásticos, onde estão envolvidas variáveis físico-
químicas, deve ser conduzido por profissional da química.
Como ênfase, permita a empresa que possamos discordar das afirmações
contidas no recurso interposto e esclarecer das necessidades de manter um
responsável pelas atividades técnicas da empresa no âmbito da química e registrar-se
no CRQ-XXI.
Sabe-se que este processamento químico consiste na transformação das
resinas termoplásticas utilizadas como matérias primas até uma massa homogênea e
de viscosidade estrutural tal que lhe permita ser elaborada, que é a formação do
termoplástico. Este processo exige uma visão tecnológica da importância dos cuidados
e detalhamentos técnicos que devem ser observados no processo de fabricação de
materiais termoplásticos, visando o maior aproveitamento destes materiais.
Vale comentar que os polímeros são macromoléculas caracterizadas por seu
tamanho, sua estrutura química e interações intra e intermoleculares. Possuem
unidades químicas que são unidas por ligações covalentes, que se repetem ao longo
da cadeia. Partindo-se do princípio que a longa cadeia polimérica de um termoplástico
é composta por ligações carbono-carbono, a construção desta molécula está baseada
em ligações covalentes de forças intermediárias. Conseqüentemente, a estrutura
molecular não apresenta uma ligação forte, o que por outro lado pode ser interpretado
por uma ligação sensível. Estas ligações por sua vez, estarão sujeitas a extremas
solicitações termodinâmicas no momento do seu processamento.
Na sua trajetória pelo equipamento, as resinas termoplásticas utilizadas
desagregam-se partindo do estado sólido (quando chegam ao cilindro de plastificação)
para o termoelástico (inicia quando chegam à temperatura de amolecimento). Verifica-
se, neste estado, uma redução das forças de coesão intermoleculares – forças de Van

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der Waals, e, conseqüentemente, da resistência também dos materiais, devido à
fragmentação de suas estruturas moleculares.
A flexibilidade dos elementos de união intermolecular cresce em função do
aumento da influência térmica, perdendo-se por completo quando se ultrapassa a zona
da temperatura de fluidez o que propicia um deslocamento da molécula, caracterizando
o estado termoplástico. Isto significa que, através das operações unitárias que
ocorrem no equipamento, o polímero sofre profunda modificação em sua estrutura, por
efeito de fenômenos físico-químicos.
No momento do processamento muitos parâmetros são afetados pelas
propriedades intrínsecas deste polímero. A viscosidade, que é um parâmetro
fundamental da reologia, sofre grande influência atingindo diretamente a produtividade
da produção.
As diferenças nas propriedades dos materiais e de processamento são
identificadas pelo tamanho de cadeia, pelo grau de ramificações, reticulações entre
cadeias, formando redes tridimencionais que surgem no momento do reprocessamento
e que além de influenciar na reologia também altera propriedades como translucidez e
mobilidade molecular. Estes fatores moleculares influenciam diretamente as
propriedades físicas do produto acabado.
Podemos ainda salientar a importância da degradação macromolecular que
sofrem as moléculas poliméricas a cada processamento, levando à diminuição da
massa molar. Neste caso, ocorre um aumento da polidispersidade do tamanho das
cadeias, afetando algumas propriedades como aparência, resistência química e
características mecânicas. Isto é de fundamental importância, pois afeta diretamente as
propriedades macro e micro dos materiais termoplásticos.
Neste instante, as macromoléculas sofrerão um forte cisalhamento no
momento em que estão atritando contra as paredes e partes dos equipamentos de
transformação para se obter os termoplásticos. Acrescentando a esta problemática um

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efeito negativo de temperatura elevada para fluir ou amolecer a massa polimérica,
diminuímos ainda mais as possibilidades da cadeia polimérica de se manter
integralmente unida. Novamente, o resultado deste processamento é a quebra da
macromolécula em várias partes, diminuindo sensivelmente a cadeia molecular. Neste
sentido, é fundamental o conhecimento de que tais materiais podem não trazer consigo
propriedades tanto mecânicas como ópticas e químicas, necessárias para a qualidade
de desempenho do produto acabado.
O profissional da área da química é o profissional indicado para conduzir o
processo porque haverá sempre operações unitárias de cominuição e transformação
do material plástico através do aquecimento e conformação, transformando o plástico
em produto de valor realçado. Para isto tem que ser levado em consideração às
interações intermoleculares e o fenômeno de anisotropia.
A anisotropia desenvolvida durante a operação da moldagem (injeção
seguida de resfriamento nas formas), também deve ser controlada, pois podem ocorrer
reações secundárias, quando a degradação oxidativa que provoca a formação de
outros compostos químicos altera sensivelmente as características do produto final. Se
houver excesso de temperatura poderá haver rompimento das ligações químicas. Se
houver excesso de velocidade no processo, poderá haver rompimento do material por
cisalhamento.
Sendo assim, é lícito inferir que o processo de transformação de
termoplásticos envolve calor e cisalhamento mecânico geralmente ao mesmo tempo.
Isto implica em transformações nos materiais. Que tipo de transformação?
DEGRADAÇÃO. A degradação ocorre pela ruptura da cadeia polimérica,
transformando o polímero em pesos moleculares menores. Dependendo do processo
(calor, tempo de residência, carga, aditivos...) ocorre maior ou menor degradação.
Quando o polímero é rompido, a degradação é imediata. A ligação covalente que
predomina nos polímeros é uma ligação um pouco fraca e que se rompe (ou pode se

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romper) durante o processo. O polímero de baixo peso molecular formado pode
volatilizar, sendo percebido pelo odor e saturação do ambiente.
Contudo, estes produtos secundários, originados da degradação dos
polímeros, podem, durante o processamento, contaminar os artigos plásticos, vindo a
constituir os aditivos incidentais, alguns inócuos, outros tóxicos e que devem sofrer
rígidos controles para não influir perniciosamente sobre a saúde pública dependendo
da reutilização deste produto reciclado. Alguns são, inclusive, tóxicos cumulativos.
O profissional da química com o conhecimento que tem, devido à sua
formação técnico-cientifífica, pode controlar, dirigir, inibir e até provocar reações
químicas para atingir um fim desejado, mediante a efetivação de operações unitárias
(operações físicas também de competência do profissional da química) e pelo controle
das variáveis físicas (pressão, temperatura, concentração e outras).
É normal, hoje em dia, que os fornecedores entreguem as resinas
termoplásticas já convenientemente preparadas para o fim almejado. Contudo, esta
matéria-prima pode conter algumas substâncias adjuvantes que atuam como
plastificantes, estabilizantes, cargas, antioxidantes, lubrificantes, emulsificantes. Muitas
substâncias são capazes de dar origem, por reações químicas que se passam durante
o processamento, a compostos solúveis tóxicos. Alguns são, inclusive, tóxicos
cumulativos.
Além disso, devemos acrescentar ainda que por efeito dos fenômenos
físico-químicos ocorridos durante o processo industrial, os polímeros estão sujeitos a
reações de degradação ou despolimerização, por efeito do calor, tempo e pressão,
donde resultam monômeros dos mesmos, muitas substâncias capazes de elevada
toxidez.
Portanto, é importante o controle analítico químico da matéria prima, dos
resíduos e da atmosfera industrial e do produto acabado. Isto é feito pelos
profissionais da química e somente estes profissionais têm competência para

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estas tarefas de definir a formulação adequada para o cliente e desta forma
elaborar projetos para otimizar o processo produtivo.
Um controle de qualidade é imprescindível, o que beneficiará tanto o
produtor como o consumidor. Não se pode desprezar, no processo seletivo das
matérias primas, propriedades que são determinadas por sua composição química,
estrutural e morfológica, peso molecular, e sua distribuição, índice de fluidez e o seu
comportamento mecânico, térmico e elétrico.
Assim, ocorre que, mesmo a empresa não realizando ensaios químicos ou
físico-químicos, por não ter seu laboratório, não está dispensada de proceder a ensaios
em um laboratório oficial, cuja interpretação dos resultados cabe ao profissional da
química, como definido no Artigo 341 da CLT, o que lhe permitirá aplicar a tecnologia
indicada na correção das anomalias de fabricação.
Enfim, trata-se de um processo quimicamente controlado, embora usando de
meios mecânicos, através de injetora usada para se transformar o estado de
agregação de matéria plástica, pela temperatura e conformação. A empresa, para
atingir seu objetivo na fabricação de artefatos de plásticos, emprega operações
unitárias da indústria química no processamento industrial, além de obter, por meio de
reações químicas dirigidas e controladas, as características físico-químicas do produto
final com propriedades realçadas.
O profissional da química com o conhecimento que tem, devido à sua
formação técnico-cientifífica, pode controlar, dirigir, inibir e até provocar reações
químicas para atingir um fim desejado, mediante a efetivação de operações unitárias
(operações físicas também de competência do profissional da química) e pelo controle
das variáveis físicas (pressão, temperatura e outras). Tais atividades executadas pela
recorrente, demonstram que a atividade básica da empresa é da área da química.
Por tudo que foi apresentado, a empresa recorrente se equivoca ao afirmar
que não está enquadrada como indústria que necessita de um profissional da química

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responsável pelo seu processamento industrial. Na verdade, a sua atividade básica é
química, atividade básica essa que lhe permite desenvolver a atividade fim. Mostra
desconhecer a empresa que um processamento químico é aquele em que as matérias
primas são o polietileno são levadas à obtenção de um produto com valor realçado,
envolvendo reações químicas e operações unitárias da indústria química. Tais
operações devem ser conduzidas e controladas por um profissional da química,
conforme determina o Art. 2º do Decreto nº 85877/81.
Do que ficou exaustivamente demonstrado, a fabricação e
transformação termoplástica não é uma atividade para leigos e sim uma
indústria com atividade básica, tipicamente na área da química, de acordo com
a Lei 6.839 de 30/10/80 e a RN nº 105 e se enquadra no item 23 e seus sub-
itens do Código de Atividades do IBGE e por exigir tanto conhecimento de
química, se enquadra perfeitamente no Art. 341 da CLT e no Decreto nº
85.877/81 Art. 2º item II e item IV letra f mencionados e no Art. 335 da CLT.
Além desses fatos, segundo o Art. 1º da Lei n.º 6.839/80:

Art. 1º - O registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente habilitados,


delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização
do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação
àquela pela qual prestem serviços a terceiros.

Atividade básica de uma empresa é aquela indispensável para desenvolver,


no produto fabricado, as qualidades e propriedades necessárias para o desempenho
para o qual é fabricado.
Por outro lado, é preciso que a empresa se conscientize do fato de que os
produtos manufaturados e os serviços prestados à Sociedade devem ser tecnicamente

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perfeitos, qualquer que seja seu porte: é por essa razão que existe a fiscalização das
empresas e a exigência da presença obrigatória de profissional legalmente habilitado.
Assim, a obrigatoriedade do registro da empresa no CRQ-XXI, bem como a
responsabilidade técnica do químico nos seus processamentos fabris, encontra
respaldo legal face ao disposto nos Arts. 27 e 28 da Lei nº 2800/56, que diz:

Art. 27 - As firmas individuais de profissionais e as mais firmas, coletivas ou não,


sociedades, associações, companhias e empresas em geral e suas filiais, que
explorem serviços para os quais são necessárias atividades de químico, especificadas
no Decreto-Lei n.º 5452/43 CLT- ou nesta lei, deverão provar perante aos Conselhos
Regionais de Química que essas atividades são exercidas por profissional habilitado e
registrado.

Art. 28 - As firmas ou entidades a que se refere o artigo anterior são obrigadas ao


pagamento de anuidades ao Conselho Regional de Química em cuja jurisdição se
situam até 31 de março de cada ano...
E ainda, combinados com o Art. 2º do Decreto n.º 85877/81 e o Art. 1º da Lei
no 6.839 de 30/10/80, já descritos.

Assim sendo, de acordo com o Art. 335 da CLT de 01/05/43:

“É obrigatória a admissão de químicos nos seguintes tipos de indústrias”:


a) de fabricação de produtos químicos;
b) que mantenham laboratório de controle químico;
c) de fabricação de produtos industriais que são obtidos por meio de reações químicas
dirigidas, tais como cimento, açúcar e álcool, vidro, curtume, massas plásticas

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artificiais, explosivos, derivados de carvão ou de petróleo, refinação de óleos vegetais
ou minerais, sabão, celulose e derivados”.

A recorrente ao citar que sua atividade básica não se encontra incluída no


rol das indústrias citadas no art. 335 do Decreto-Lei nº 5.452/43 (CLT), demonstra um
total desconhecimento deste diploma legal. O legislador compreendendo sabiamente
que seria impossível estancar o progresso tecnológico quando da feitura do
regulamento retrocitado em 1943, fora motivado a estabelecer a figura jurídica
conhecida como Norma de Resto, contida no art. 341 do mesmo diploma legal, quando
diz: “cabe aos químicos habilitados, conforme estabelece o art. 325, alínea “a” e “b”, a
execução de todos os serviços que, não especificados no presente regulamento,
exijam por sua natureza o conhecimento de química”.
É evidente que quando da elaboração do artigo 335 do Decreto Lei n o
5.452/43, o legislador não poderia, por razões óbvias listar todas as indústrias que
utilizam de reações químicas controladas e, por isso, sabiamente, usou a expressão
"tais como", que é uma expressão meramente exemplificativa.
Com relação à mesma alegação quanto ao artigo 335 da CLT, a justiça já se
manifestou favorável no sentido de que o texto do artigo 335 da CLT é exemplificativo,
a listagem pode ser ampliada para qualquer tipo de atividade que envolva reações
químicas dirigidas, as decisões dos Tribunais Federais são:
1. Agravo de Petição em Mandato de Segurança nº 27.733, de
25/10/62, TRF, 1a Turma, Rio de Janeiro, Relator Ministro Henrique Dália. O texto do
artigo 335 CLT é exemplificativo e não taxativo. (grifos nossos).
2. Ac. nº 63.902 – RN, de 29/06/1981, 4 a Turma TFR, Relator o Senhor
Ministro Romildo Bueno de Souza. O texto do Art. 335, da CLT é exemplificativo, e
não taxativo, e não se exaure com a citação supra. (grifos nossos)

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Art. 341 da CLT de 1º/05/43:

- “Cabe aos químicos habilitados, conforme estabelece o Art. 325, alínea a e b, a


execução de todos os serviços que não especificados no presente regulamento, exijam
por sua natureza o conhecimento de química.”

De acordo com o Decreto no 85.877/81, que estabelece normas para


execução da Lei 2.800 de 18/06/56 sobre o exercício da profissão de químico e dá
outras providências, no seu Art. 2º item II estabelece: “São privativos do químico:
produção, fabricação e comercialização, sob controle e responsabilidade, de produtos
químicos, produtos industriais obtidos por meio de reações químicas controladas ou de
operações unitárias, produtos obtidos através de agentes físico-químicos ou biológicos,
produtos industriais derivados de matéria prima de origem animal, vegetal, ou mineral,
e tratamento de resíduos resultantes da utilização destas matérias primas sempre que
vinculadas à Indústria Química. (grifo nosso)
Do que ficou exaustivamente demonstrado, a fabricação e transformação
termoplástica é uma indústria com atividade básica, tipicamente na área da química, de
acordo com a Lei no 6.839/80 e a RN nº 105 e se enquadra no item 25 e seus sub-itens
do Código de Atividades do IBGE e por exigir tanto conhecimento de química, se
enquadra perfeitamente no Art. 341 da CLT e no Dec. 85.877 Art. 2º item II e item IV
letra f já mencionados e no Art. 335 da CLT.

25 – INDÚSTRIA DE PRODUTOS DE MATÉRIAS PLÁSTICAS

23.30 – Fabricação de artigos de material plástico para usos doméstico e pessoal —


exclusive calçados, artigos de vestuário e viagem (25.10 a 25.99 e 19.30).
23. 40 – Fabricação de móveis moldados de material plástico

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Como remate, cremos que estas considerações técnicas venham esclarecer
as dúvidas, que nos parece, ficaram na elaboração do recurso do processo em tela,
cremos que elas são de meridiana clareza, didática e esclarecem quanto à
obrigatoriedade do enquadramento da empresa nos dispositivos legais apontados.
Como confirmação ainda do exposto, vejamos as decisões abaixo.

APELAÇÃO CÍVEL n° 2005.70.01.000478-6/PR


Relatora: Des. Federal MARIA LUCIA LUZ LEIRIA
Apelante: POLY PLÁSTICOS E EMBALAGENS LTDA.
Advogado: Irineu Bertan
Apelado: Conselho Regional de Química da 9° região/PR
Advogado: Renato Antunes Villanova
EMENTA
Administrativo. Embargos à Execução. CRQ. Registro
Profissional e contratação de responsável técnico.
Necessidade. Atividade básica Lei 6.839/80

Após a entrada em vigor da lei n° 6.839/80, que trata do registro de


empresas nas entidades fiscalizadoras do exercício de profissões, o critério para a
exigência de instruções no órgão de classe é a atividade desenvolvida pela empresa,
segundo a orientação prevista em seu artigo 1°. Pela prova pericial, a atividade de
processamento de polímeros necessita de profissional com conhecimentos de reações
químicas, bem como a empresa embargante se caracteriza como indústria de
transformação de produtos químicos. Sendo assim, mantida a sentença que entendeu

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legítimas as autuações realizadas pelo Conselho Regional de Química em relação à
embargante, por falta de registro no órgão e de químico responsável técnico.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


decide a Egrégia 3° turma do Tribunal Regional Federal da 4° Região, por
unanimidade, negar provimento ao recurso de apelação, nos termos do relatório, votos
e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto alegre, 10 de novembro de 2009


Des. Federal MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA
Relatora

Embargos opostos por Indústria de Brinquedos Rabaker Ltda contra o


Conselho Regional de Química da 13 a região, no Estado de Santa Catarina, julgados
improcedentes os embargos condenando o Embargante ao pagamento das custas
processuais e honorário advocatício, estes fixados em 20% do valor da causa,
devidamente atualizado. Isto ocorreu em Pomerode, 29/10/93 Juiz de Direito Hildemar
Meneguzzi de Carvalho.

- Tribunal Regional Federal em Brasília decide:

Indústria de Materiais Plásticos tem atividade básica na área da Química.

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Mandado de Segurança contra a fiscalização do CRQ-14º Região.
Amazonas, em que o Juiz Euclides Aguiar, relator tem o seu voto aprovado por
unanimidade, negando a apelação em Mandado de Segurança da Vat Vídeo Audio
Tape do Amazonas S/A. Reconhece aquele Tribunal, tratar-se de atividade básica da
área da química, a produção de tampas, painéis de proteção, bases de carreteiese
visores plásticos. Obtidos por injeção plástica, na Vat Vídeo Audio Tape do Amazonas
S/A.

Como considerações finais, podemos então concluir:

a) é claro que existem reações químicas dirigidas em seu processo de fabricação, pois
a produção de cadeira plástica e utensílios de plásticos como baldes e bacias
envolvem um conjunto de reações químicas no estado sólido, que são controladas,
pela temperatura nas várias etapas do aquecimento e resfriamento. Além da existência
de operações unitárias como escoamento de fluído e transferência de calor.

b) a matéria plástica - o produto final do processo produtivo deve estar dentro de


padrões de qualidade, e estes só podem ser alcançados através de rigoroso controle
de qualidade, que envolvem, o preparo da massa, a temperatura da operação, a
quantidade de massa para uma dada espessura da peça plástica e a resistência da
peça plástica em função destes parâmetros. Além do importante controle dos
pigmentos utilizados e dos padrões de cores, uniformidade e reprodutibilidade dos
lotes.

c) a defesa do consumidor - pois a empresa tem um compromisso com a sociedade de


oferecer um produto seguro e de qualidade superior. E a exigência de um profissional

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responsável por suas atividades é na verdade uma delegação da sociedade ao
profissional para que este atue como garantia de que o produto esteja sendo elaborado
dentro da melhor técnica disponível.

Portanto, a apresentação do Responsável Técnico pelas atividades da


recorrente, e o seu conseqüente registro no CRQ, é.

OBRIGATÓRIA, do ponto de vista legal, conforme exposto ao longo deste parecer;

NECESSÁRIA, do ponto de vista tecnológico e científico;

CORRETA, do ponto de vista da ética.

VOTO:

Somos de parecer de negar provimento ao recurso, por absoluta falta de


amparo legal, e a favor da Decisão do Conselho Regional de Química - 21º Região, em
sua plenitude.
Brasília, 22 de novembro de 2012.

NEWTON MÁRIO BATTASTINI


Conselheiro Relator

NMB/dcl/2012

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