Certificação e Legislação | Juliana Augusta Verona
Neste texto, você identificará os órgãos responsáveis pela
acreditação, normatização e certificação ambiental. Além disso, verá quais os passos necessários para as empresas conseguirem as certificações ambientais.
Identificará, ainda, algumas leis ambientais fundamentais nesse
contexto e compreenderá o papel das auditorias ambientais na verificação do funcionamento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), em relação às conformidades com os requisitos das normas de implementação e manutenção.
Certificação e Legislação
A certificação é uma ação formal realizada para atestar que uma
empresa/organização, ou seus determinados setores/produtos, estão em conformidade com alguma norma específica.
Mas por que surgiu a necessidade da certificação ambiental?
Segundo Bitar & Ortega (1998), surgiu pela necessidade de
diferenciar os produtos que apresentavam um desempenho ambiental adequado, considerando sua utilização pelo consumidor e todos os demais aspectos. Com o tempo, o processo de produção, desde a matéria-prima até a disposição de resíduos, começou a ser o principal fator para a obtenção da certificação ambiental.
A certificação ambiental pode ser fornecida tanto para empresas
que geram produtos, como para prestadoras de serviços. O principal objetivo a ser alcançado por empresas que pretendem conseguir a certificação ambiental é com a qualidade ambiental de todo seu processo de produção (produção, transporte e comercialização).
Cada país possui processos próprios para acreditar e controlar
atividades de certificação de outra organização/empresa. Sobre a acreditação, Barbieri (2016, p. 162) explica que:
Acreditação é o reconhecimento formal por parte do órgão
governamental competente de que um organismo, pessoa ou organização atende aos requisitos previamente definidos por leis e regulamentos para realizar atividades específicas de modo confiável. Um desses requisitos é a independência dos organismos acreditados.
No Brasil, os requisitos são definidos no âmbito do Serviço Público
Federal, denominado de Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (SINMETRO), criado pela Lei n. 5.966, de 1973. O órgão executor do SINMETRO é o CONMETRO (Conselho Nacional de Normalização), que é responsável pelo estabelecimento das políticas e diretrizes a serem seguidas nessas áreas. O CONMETRO é formado por representantes de vários Ministérios, como por exemplo do Trabalho, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Indústria e Comércio, Relações Exteriores, entre outros.
As questões concernentes à acreditação de organismos
certificadores são tratadas pelo Comitê Brasileiro de Avaliação da Conformidade (CBAC), sendo um dos comitês técnicos dessa área o Comitê de Certificação Ambiental, que assessora o CONMETRO na estruturação de um sistema de avaliação da conformidade. Esse comitê é quem define os critérios a serem seguidos pelos organismos que irão certificar as empresas, os critérios para habilitação de profissionais que irão realizar as auditorias (certificações dos auditores ambientais, credenciamento dos organismos que irão dar treinamento), critérios e procedimentos adicionais à ISO 14000 e estudos quanto à forma de realizar a certificação ambiental de produtos.
Segundo Moura (2008, p. 328), são três organismos envolvidos
nesse processo de certificação ambiental, conforme Tabela 1:
Tabela 1: Organismos envolvidos na certificação ambiental
Se a empresa obtiver o certificado, receberá os seguintes documentos: relatório de auditoria; informe de não conformidades; certificado de conformidade e anexos; procedimento para utilização do símbolo de empresa certificada e lista de empresas certificadas.
Dessa forma, a certificação de conformidade é o ato pelo qual um
organismo acreditado atesta que um sistema, processo, produto ou serviço atende aos requisitos especificados pelas normas. De acordo com a norma ISO 14001, um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) diz respeito de certificação voluntária realizada por um Organismo de Certificação de Sistema de Gestão Ambiental (OCA), que é um organismo de terceira parte acreditada pelo INMETRO.
A Tabela 2 mostra os Órgãos Públicos responsáveis pela
fiscalização de ações e atividades relacionadas ao meio ambiente:
Tabela 2: Órgãos Públicos e ações diversas relacionadas ao meio
ambiente
Vale a pena destacar que a CETESB (Companhia Estadual de
Tecnologia de Saneamento Básico) era responsável pelas atividades de licenciamento. Porém, com a criação da Secretaria de Meio Ambiente no estado de São Paulo (SMA), esta passou a integrar os órgãos licenciadores e fiscalizadores e cobrar dos empreendedores o EIA/RIMA (instrumento de licenciamento ambiental que você aprenderá na próxima aula!).
Para lembrar: a norma ISO 14001 aplica-se a qualquer
organização/empresa que deseja estabelecer, implementar, manter e aprimorar um Sistema de Gestão Ambiental, bem como assegurar-se da política ambiental definida e demonstrar conformidade com essa norma.
Segundo Barbieri (2016), “a Certificação é o procedimento pelo
qual uma terceira parte dá garantia escrita de que o SGA está em conformidade com os requisitos especificados”. Ressalta ainda que o SGA pode ser certificado por instituições/organizações que se relacionam com ele no seu ambiente de negócio.
LEGISLAÇÃO
Podemos dizer que a legislação brasileira é uma herança das leis
portuguesas que continham alguns tópicos ambientais, muito antes da chegada em terras brasileiras. Só para exemplificar, o corte de árvores frutíferas foi proibido em Portugal em 12 de março de 1393 e aqui no Brasil o corte de árvores frutíferas era considerado injúria ao rei, passível de punição. As Capitanias Hereditárias foram instauradas no território em 1930 para evitar o contrabando de pau-brasil. (MOURA, 2008, p. 331)
A legislação ambiental brasileira é considerada uma das mais
completas do mundo, justamente em função dos decretos, leis e regulamentos que foram emitidos a partir de 1981 (MOURA, 2008, p. 332).
Na Tabela 3 a seguir, destacam-se as principais Leis ambientais
brasileiras.
Tabela 3: Leis ambientais brasileiras
AUDITORIA AMBIENTAL
Como você viu na aula anterior, a ISO 14015 (refere-se aos
Sistemas de Gestão Ambiental - avaliações ambientais de localidades e organizações), e a ISO 19011 que indica as Diretrizes para Auditorias e Qualidade Ambiental. As auditorias são fundamentais para assegurar credibilidade a todo processo de certificação ambiental, visando as auditorias de terceiras partes, nas quais se verificam os compromissos estabelecidos pela empresa em seu Sistema de Gestão Ambiental.
Para Fornasari Filho et al (1994), a auditoria ambiental representa
um exame sistemático, periódico, documentado e objetivo envolvendo análises, ensaios e confirmações de ações práticas realizadas em uma empresa em relação às exigências ambientais legais, normativas e de política interna.
A auditoria ambiental poderá ser realizada por empresa privada ou
pelo poder público. A auditoria privada tem sido impulsionada pela "tomada de consciência das vantagens na concorrência, que pode conferir a certas empresas a adoção de medidas testemunhando sua 'consciência ecológica' no plano da estratégia de concorrência, dos novos produtos, das novas tecnologias e dos novos sistemas de gestão" (BOIVIN, 1992, apud MACHADO, 1995).
Os resultados e os procedimentos da auditoria ambiental podem
ser utilizados de forma interna e/ou externa ao empreendimento. Na auditoria interna, há o fornecimento de subsídios ao aprimoramento do desempenho ambiental do empreendimento e na auditoria externa ocorre: averiguação (fiscalização) deste desempenho pelo órgão ambiental; avaliação de clientes, consumidores e da sociedade; e, obtenção de certificação. Ressalta-se que, no caso de auditoria externa, a mesma precisa ser obrigatoriamente efetuada por auditor que não pertença ao quadro de funcionários do empreendimento (FORNASARI FILHO et al, 1994).
Alguns exemplos, segundo Fornasari Filho et al (1994),
demonstram que no Brasil algumas legislações estaduais e municipais tornaram obrigatória a auditoria ambiental, como: no município de Santos (SP) e o estado do Rio de Janeiro, em 1991; no estado de Minas Gerais, em 1992; e no estado do Espírito Santo, em 1993. O Quadro 1 demonstra, com mais detalhes, a legislação no estado do Rio de Janeiro, destacando as questões ambientais e a obrigatoriedade da realização de auditorias ambientais:
Quadro 1: Exemplo de auditoria obrigatória a partir da legislação
estadual (Rio de Janeiro - Lei 1.898/91)
Abrangência da Auditoria Ambiental:
Segundo artigo 5º da referida lei, os seguintes empreendimentos devem
realizar auditorias ambientais anuais:
1. Refinarias, oleodutos e terminais de petróleo e seus derivados;
2. Instalações portuárias; 3. Instalações destinadas a estocagem de substâncias tóxicas e perigosas; 4. Instalações de processamento e de disposição final de resíduos tóxicos ou perigosos; 5. Unidades de geração de energia elétrica a partir de fontes térmicas e radioativas; 6. Instalações de tratamento e os sistemas de disposição final de esgotos domésticos; 7. Indústrias petroquímicas e siderúrgicas; 8. Indústrias químicas e metalúrgicas.
Somente as atividades compreendidas nos incisos I a V é que são obrigados a
realizar auditorias ambientais, sendo o órgão ambiental estadual proibido de dispensar a auditorias. Para os demais empreendimentos é voluntária a auditoria.
Conteúdo da Auditoria Ambiental
A legislação estadual do Rio de Janeiro, regulamentada pela Lei 1.898/91,
estabelece que a auditoria ambiental determine, através de seus estudos e avaliações os seguintes parâmetros, de acordo com artigo 1º:
1. Os níveis efetivos ou potenciais de poluição ou de degradação ambiental
provocados por atividades de pessoas físicas ou jurídicas; 2. As condições de operação e de manutenção dos equipamentos e sistemas de controle da poluição; 3. As medidas a serem tomadas para restaurar o meio ambiente e proteger a saúde humana; 4. A capacitação dos responsáveis pela operação e manutenção dos sistemas, rotinas, instalações e equipamentos de proteção do meio ambiente e da saúde dos trabalhadores.
A referida lei ainda determina que seja considerada também a poluição
potencial e a degradação ambiental à fauna e flora.
Fonte: Machado (1995). Organizado por Verona, J. A. (2018).
Segundo Barbieri (2016), existem vários tipos de auditoria
ambiental. Veja na Tabela 4 os principais tipos:
Tabela 4: Tipos de auditorias ambientais
A conscientização sobre o cuidado com o meio ambiente levou à criação de leis e certificações ambientais para atestar a responsabilidade da empresa, produto ou serviços em relação à sustentabilidade e à qualidade de vida dos consumidores. Além disso, a realização das auditorias ambientais tornou-se instrumento fundamental na busca dessa melhoria contínua e conquista das certificações ambientais.
Obter um “certificado ambiental” é hoje um diferencial e aspecto
de grande concorrência, pois os consumidores, por exemplo, analisam esse critério para comprarem produtos e serviços. A empresa que passa por uma auditoria ambiental não pode receber consultoria da “terceira parte”, pois a empresa acreditada precisa ser independente e mostrar seriedade e transparência na avaliação. É possível verificar mudanças positivas no comportamento das empresas em relação às questões ambientais, já que precisam apresentar ações de menor impacto ambiental em todas as fases de seu processo produtivo (produção - distribuição - transporte - pós-consumo). Estamos avançando e nada melhor que um “selo verde” para demonstrar a responsabilidade em relação ao meio ambiente!
Na próxima aula, você aprenderá sobre os estudos que são
exigidos quando há o interesse em se implantar/construir grandes empreendimentos, ou seja, ações que possam causar grandes impactos ambientais. Para isso, você entenderá sobre o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA); relatórios ambientais e licenciamento ambiental. Será muito interessante! Aproveite!
O licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente e possui como uma de suas mais expressivas c