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Universidade Metodista de Angola – U.M.

A
Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais
Curso de Direito

Direito do Ambiente
Auditoria ambiental em sede do Estado de calamidade

Docente
Pedro Kinanga dos Santos

Luanda
Dezembro de 2020.
Integrantes do grupo
Anastácia Bila, número 33277;
Paulo Cardoso, número 24252;
Rogério Lourenço, número 31726.

Ora bem, a priori, antes de adentrarmos propriamente no mérito da questão em


apresso, é necessário que se faça o devido enquadramento, sendo assim, será
indispensável frisar um aspecto em jeito de introdução.
Conceito de Auditoria
Auditoria é um processo de verificação de todos os registos financeiros e de
operações de uma empresa, com o objectivo de certificar aquilo que está correcto ou
identificar falhas que necessitem de correcções.
Este processo é feito por profissionais e que respeitam normas profissionais.
Já devidamente feito o enquadramento, entraremos agora no mérito da questão, que
é propriamente a Auditoria ambiental em sede do Estado de calamidade.

Aspecto histórico envolto à Auditoria Ambiental


A auditoria ambiental surgiu nos Estados Unidos da América, na década de 70.
Naquela época, a Auditoria Ambiental era vista como uma análise crítica dos
investimentos das operações das empresas Norte-Americanas que utilizam este
instrumento para identificar, de forma antecipada, os problemas resultantes das suas
actividades.
Na década de 80, é assumido este procedimento como instrumento de gestão
ambiental, também denominado de “Novos Instrumentos para Tutela Ambiental” no
plano de direito internacional.
Depressa verifica-se a Auditoria Ambiental no espaço europeu, particularmente na
Holanda em 1895, em filiais de empresas Norte-Americanas. Em seguida, outros países
adoptaram esses instrumentos, tais como o Reino Unido, a Noruega, e a Suécia.
No ordenamento jurídico angolano está figura é introduzida com a aprovação da Lei
n.° 5/98, de 19 de Junho, Lei de Bases do Ambiente. Tal sucede por força do artigo
18.° do aludido diploma, embora a sua natureza de lei de bases tenha levado a que esta
apenas definisse as respectivas linhas gerais. Assim sendo, o relevo desta temática
impôs a aprovação do Decreto n.° 1/10, de 13 de Janeiro, que regulamenta o
procedimento da Auditoria Ambiental.

Conceito de Auditoria Ambiental


A expressão “Auditoria Ambiental” pode ser utilizada em vários sentidos, e de
acordo com o ramo do conhecimento. Contudo, tendo em atenção a natureza do nosso
estudo, que é proporcionar pedagogicamente algumas linhas elementares do Direito do
Ambiente, afigura-se pertinente enumerar algumas dessas respectivas:
1. Auditoria Ambiental é uma ferramenta utilizada para apurar a eficácia do
processo de protecção ambiental integrado a uma organização. Nesta acepção, a
Auditoria Ambiental funciona como um aspecto extrínseco da actividade
organizacional;
2. Auditoria Ambiental é uma entendida como um instrumento gerencial, pois
fornece ao administrador de uma empresa ou de uma organização dados
inerentes aos pontos fortes e fracos da actividade levada a cabo pela
organização. Aqui a Auditoria Ambiental afigura-se como um aspecto intrínseco
da organização e podem ser utilizados para vários efeitos;
3. Auditoria Ambiental é o procedimento sistemático e documentado de gestão
e de avaliação objectiva da organização e funcionamento, bem como de uma
instalação do sistema de protecção do Ambiente.
Para além desta dogmática, deve ainda ter-se presente presente finalidade da
Auditoria Ambiental, estabelecida nos termos daquele diploma no artigo 2.°, mais
especificamente nas suas alíneas a); b); c); d); e); f); g); h); I); j); e K).

Benefícios da Auditoria Ambiental


A Auditoria Ambiental visa no essencial proporcionar três benefícios, nomeadamente:
a) Identificar e documentar um padrão de conformidade ambiental;
b) Aperfeiçoar o sistema de protecção ambiental no exercício da organização;
c) Averiguar o grau de implementação das decisões, directivas e
recomendações saídas do procedimento da avaliação do impacto ambiental.

Tipos de auditoria ambiental


Assim, a Auditoria Ambiental pode ser: pública, privada ocasional ou
obrigacional. Essas diferenciações atendem fundamentalmente aos critérios da
entidade e do momento, nomeadamente:
a) Quanto ao critério da entidade: a dicotomia classificatória aqui diz
respeito à entidade ou pessoa jurídica que realiza a auditoria ambiental. Este
critério permite distinguir, por um lado, a auditoria pública que é realizada por
uma entidade pública, por outro lado, as auditorias privadas, assim consideradas
por serem realizadas pelas empresas a título voluntário.
Como exemplo do primeiro tipo, que constitui a larga maioria, pode apontar-
se a Auditoria Ambiental realizada pelo Ministério do Ambiente no âmbito do
processo do Licenciamento Ambiental de ampliações ou alterações das
instalações. Já, quanto ao segundo, o mais significativo materializa-se nas
auditorias ambientais realizadas pela empresa com objecto de aferir o impacto
ambiental das suas actividades.
b) Quanto ao critério do momento: o que releva este critério classificatório é
o azado da realização da auditoria ambiental, sendo possível constatar a
existência de dois tipos:
Auditoria ocasional, fixada quando necessário;
Auditoria obrigatória, que é pré-determinada.
Como exemplo do primeiro, podemos apontar as auditorias ambientais
realizadas quanto exista indício de um derrame no ambiente. Quanto às auditorias
obrigatórias, pode-se apontar o exemplo das auditorias realizadas nos períodos
definidos no estudo de impacto ambiental ou do na licença ambiental.
Autoridades competentes
Pela análise do regime jurídico estabelecido para essa matéria, a nossa conclusão
vai no sentido de que as competências sobre a Auditoria são descentralizadas,
embora nos demais instrumentos de gestão ambiental anteriormente estudados,
tenha sido notório uma centralização de competências (no Ministério do Ambiente),
que no nosso estender afigura-se excessiva.
Assim, são competentes para impulsionar a realização das auditorias ambientais
o Ministério do Ambiente e as entidades locais (designadamente os órgãos da
Administração Local do Estado e da Administração Autónoma).
É de referir ainda, que nos termos do n.° 2 do artigo 3.° do Decreto n.° 1/10,
“as decisões, recomendações ou orientações do Ministério do Ambiente,
relacionados com os resultados de uma auditoria pública ou privada, são
vinculativas para as entidades auditadas.” Essa disposição parece denotar um
excessivo protagonismo do Ministério do Ambiente, o que não faz muito sentido
actualmente face à conjuntura Constitucional.
Isto é notório nos termos do artigo 219.° da CRA, em que se estabelece as
autarquias locais têm também atribuições no domínio do Ambiente. Por isso,
pensamos que os seus actos no quadro da Auditoria Ambiental devem ser
vinculativos, tendo em atenção o interesse em causa ou seja, o dever de protecção do
ambiente.

Incumbência dos Sujeitos


A este propósito, cabe dizer que os sujeitos a que fazemos regências são as
entidades responsáveis pela Auditoria Ambiental e referência são as entidades a ela
sujeitas. Ora, é nesta medida em que vamos analisar as incumbências destes,
nomeadamente:
a) Incumbência da entidade responsável pela auditoria ambiental: dever de
conservar num prazo máximo de cinco anos e de disponibilizar quando
necessário, os relatórios da auditoria ambiental, bem como as demais peças do
processo de auditoria ambiental; dever de proporcionar o acesso aos documentos
inerentes às auditorias ambientais para a consulta pública; dever de publicar no
Jornal de Angola o envio dos dados da auditoria ao Ministério do Ambiente ou à
entidade administrativa local competente;
b) Incumbência da entidade sujeita a Auditoria Ambiental: dever de
disponibilizar roda a documentação requerida pelos auditores; dever de facilitar
a realização da Auditoria Ambiental, bem como de proporcionar o cesso a todos
os aspectos susceptíveis de serem auditados.
Podemos contudo, reforçá-los com o seguinte:
- Acesso a todas as instalações (al., a) do artigo 11.° do Decreto n.° 1/10);
- Acesso aos relatórios de compra de matéria-prima, de consumo de
energia, água e utilização de mão-de-obra (al., b) do artigo 11.°, do Decreto
n.° 1/10);
- Acesso aos equipamentos e resultados de mediações para monitoriza
ambiental (al., c) do artigo 11.° do Decreto n.° 1/10).
Cumpre referir, por último, que os auditores por terem acesso a informações
privadas de uma determinada organização, estão obrigados a preservar a sigilo
profissional perante terceiros – que em alguns casos são concorrentes.

Auditores ambientais
Diferentemente do que se passa com as autoridades competentes, que, como vimos,
impulsionam a realização das auditorias ambientais, particularmente as públicas, os
auditores públicos são pessoas físicas ou jurídicas de comprovada capacidade
técnica em matéria do ambiente.
Afigura-se-nos importante analisar ao por menos os seguintes aspectos:
a) As entidades auditoras;
b) O registo é certificação dos auditores ambientais;
c) Os requisitos para o registo de auditores ambientais;
d) O exercício de actividade de auditor ambiental por estrangeiros.

Entidades auditoras

As auditorias ambientais, nos termos do artigo 12.° do diploma legal em estudo,


são efectuadas por pessoas singulares ou colectivas que possuem especialidade ou
experiência comprovada em matéria ambiental, devidamente registadas no Ministério
do Ambiente, a título de auditor individual ou colectivo.

Nesta disposição, nota-se um certo grau de concentração no Ministério do Ambiente


em detrimento da administração local cujas atribuições em matéria do ambiente devem
ser reforçadas, aos quais seriam atribuídas competências para cadastrar e certificar
auditores ambientais.

Registo e certificar dos auditores ambientais

Os auditores ambientais estão sujeitos a um registo destinado a cadastrá-los, bem


como a sua certificação, devendo solicitar ao Ministério do Ambiente o certificado de
registo, que deve ser emitido por esta entidade registadora no prazo de 30 dias.

Requisito para o registo de auditores ambientais


No que respeita aos requisitos para o registo de auditores ambientais, à luz do
disposto no artigo 14.° do Decreto n.° 1/10, apraz destacar os seguintes:

a) Informação dos seus consultores;


b) Compilação de relatórios de auditorias já realizadas;
c) Pacto sovial;
d) Alvará comercial ;
e) Certidão do registo estatístico;
f) Número do contribuinte.
Destes requisitos importa adicionar os seguintes requisitos das sociedades
comerciais de auditoria ambiental: a) informação dos seus consultores; b) compilação
de relatórios de auditorias já realizados; c) pacto social; d) alvará comercial; e)
certidão do registo estatístico; f) número do contribuinte.

Exercício de actividade de auditor ambiental por estrangeiros


Caso uma sociedade de consultoria estrangeira pretenda exercer a actividade de
Auditoria Ambiental em Angola, deve associar-se a auditores nacionais ou sociedade de
auditoria ambiental nacional (artigo 15.° do Decreto n.° 1/10).
Esta norma parece confusa, pois começa por referir exclusivamente em sociedade
(auditor colectivo), mas na parte final menciona auditores individuais, assim ficamos
sem saber com a predição se o auditor individual estrangeiro está sujeito a esta de
disposição ou não. Em nossa opinião, aqui está sujeito a esta disposição ou não.
Condensam-se os dois caso. Isto é, auditor, ambiental em nome individual e sociedade
auditoria ambiental.

Relatório final
O relatório final, nos temos do artigo 16.° do Decreto n.° 1/10, é uma ferramenta
fundamental do auditor ambiental e deve conter essencialmente três aspectos:
1. As falhas identificadas e as medidas recomendadas para as sanear;
2. Apuração do grau de cumprimento das recomendações das auditorias
anteriores;
3. Propensão da actividade desenvolvida em causar dano ao ambiente.
O relatório final da auditoria ambiental é submetido ao Mistério do Ambiente: pelas
razões já referidas acima, apesar de o legislador ter omitido a referência às autoridades
locais, pensamos que devem entregar a estes órgãos, pois, têm atribuições em matéria
ambiental e devem estar informados sobre as actividades susceptíveis de causar impacto
ao ambiente nas circunscrições por si administradas.

Responsabilidade dos auditores


Sem prejuízo da abordagem detalhada à ser feita no capítulo seguinte, afigura-se
oportuno fazer aqui uma brevíssima análise da responsabilidade dos auditores
ambientais. A responsabilidade pode assumir diversas naturezas, particularmente: civil,
administrativa, e criminal. Os auditores ambientais sujeitam-se a responsabilidade
civil é criminal pelas informações prestadas no âmbito da auditoria ambiental.

Fiscalização e sanções
A competência para a fiscalização dos auditores ambientais cabe ao Ministério do
Ambiente (cfr. Artigo 18.° do Decreto n.° 1/10. No que se refere às sanções, uma vez
mais o legislador não determinou quem tem competência para aplicar sanções parece-
nos que concorrem com o Ministério do Ambiente as autoridades do poder local, que
também são parte interessada. Em respeito à autonomia desses entes, afigura-se de todo
necessário que o legislador clarifique de modo expresso a competência dos entes locais
actuarem sobre questões dessa natureza, contrapondo o que nos parece ser hm excesso
de protagonismo do Ministério do Ambiente.
Quanto às multas, as mesmas são graduadas entre um mínimo, equivalente a USD
1.00.00 e um máximo equivalente a USD 1.000. 000, 00, em função da gravidade. O
artigo 22 do Decreto n° 1/10 prevê a possibilidade de duplicar o montante da multa nos
casos de reincidência de publicar o montante da multa nos casos de reincidência. As
infracções puníveis com multas são as previstas no n.° 2 do artigo 21 do Decreto Lei
n.° 1/10, nomeadamente:

a) A obstrução ou não colaboração com os serviços de auditoria ambiental;


b) O não cumprimento ambiental pública anterior;
c) A laboração sem cumprimento das normas ambientais;
d) O exercício da actividade de auditor ambiental, sem o prévio registo.

Auditoria ambiental em sede do Estado de calamidade


Para que de faça um ponto da situação, é importante que se perceba o eue bem então
a ser o Estado de calamidade.
O Estado de calamidade não está propriamente tipificado na Constituição da
República de Angola, mas, surge então como uma espécie de excepção ao Estado de
emergência, que tem disposição legal nos termos do artigo 58 n.° 1 da Constituição da
República de Angola. Sendo assim, limitações de direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos - como o de se locomover de um lado para o outro e até o de permanecer em
determinados lugares, já não serão tão postas em causa como no estado de Emergência.
Portanto, deixa de haver um estado de exceção constitucional e passam a haver apenas
medidas de naturais administrativa (para controlar a pandemia em questão que é a Covid-
19).
Desta feita, sendo a Auditoria Ambiental um instrumento de fiscalização dos
processos de adequação ambiental, verificando o comprometimento de diferentes
organizações com as questões ambientais, principalmente em relação ao
desenvolvimento sustentável. A pergunta que se coloca na realização da auditoria
ambiental em sede do estado de calamidade, é de saber como se procederá a fiscalização
dos diferentes organismos, empresas, industrias, pessoas colectivas ou singulares e
todos que de alguma forma, com actividade que desenvolvem têm algum impacto sobre
o ambiente.
Desde já, pensamos que, embora o estado de calamidade seja um pradrão de conduta
de vida social imposto face a uma situação incomum e um novo desenvolvimento das
próprias empresas e de todo o sector económico que desenvolvem actividades que de
uma ou de outra forma estão ligadas ao ambiente, é necessário que estas
independetemente da situação presente, ao desenvolverem as suas actividades tenham
sempre em conta aquilo que consta dos diplomas legais que fazem referencia a proteção
e o cuidado a se ter com o ambiente.
Numa situação de calamidade, os que exercem impacto sobre ao ambiente, não estão
isentos do cumprimento das obrigações ambientais uma vez que têm grande impacto
sobre a vida das dos seres humanos e seres vivos. É assim que estas entidades, mesmo
em estado de calamidade, têm de ser fiscalizadas no sentido de saber se têm cumprido
ou não com as disposições referentes ao ambiente, a previsão das consequências que
estas podem causar ao ambiente em detrimento da actividade realizada, e quais os meios
usados que usam para a proteção do mesmo.
Todas estas medidas, consubstanciam-se, na prevenção do não agravamento da
situação que já se vive, de modos a evitar prejuízos mais gravosos.

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