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JOSÉ MARIA FERREIRA PEREIRA

A importância da auditoria ambiental como instrumento de prevenção a


crimes ambientais

José Maria Ferreira Pereira¹

Resumo

As ações predatórias que o homem pratica contra a natureza e as dificuldades


que a sociedade enfrenta por conta delas, assim como os impasses para reverter
o cenário de destruição do meio ambiental são agentes que causam inquietação
no meio social e do poder público. Sendo assim, o artigo apresenta, através de
pesquisas bibliográficas, conceitos importantes a respeito da Auditoria Ambiental
– instrumento que age na relação entre economia e meio ambiente - e como ela
se diferencia da Perícia Ambiental. Após um breve resumo sobre seu histórico
aborda-se sobre as legislações vigentes no Brasil acerca do meio ambiente. O
objetivo principal do artigo é mostrar como a Auditoria Ambiental pode criar
ferramentas que auxiliem as empresas para que se adaptem às leis brasileira
assim se tornando eficiente na prevenção de crimes ambientais. Concluiu-se que
Auditoria Ambiental é um instrumento valioso de proteção ao meio ambiente e,
também, contribui diretamente com diminuição considerável dos gastos das
empresas que a põe em prática.

Palavras-chave: auditoria ambiental, meio ambiente, desenvolvimento


sustentável, legislação ambiental

Abstract

The predatory actions that man practices against nature and the difficulties that
society faces because of them, as well as the impasses to revert the scenario of
environmental destruction are agents that cause uneasiness in society and in the
government. Therefore, the article presents, through bibliographical research,
important concepts regarding Environmental Auditing - an instrument that acts in
the relationship between economy and environment - and how it differs from
Environmental Forensics. After that, its history are discussed, as well as the
legislation in force in Brazil regarding the environment. The main objective of the
article is to show how Environmental Auditing can create tools to help companies
adapt to Brazilian law, thus becoming efficient in combating environmental
crimes. The conclusion is that Environmental Auditing is a valuable tool for the
protection of the environment and also contributes directly to a considerable
reduction in the costs of companies that put it into practice.

Keywords: environmental audit, environment, sustainable development,


environmental legislation

INTRODUÇÃO

Alanis Obomsawin, conhecida artista e ativista, fala que “Somente quando


for cortada a última árvore, poluído o último rio, pescado o último peixe é que o
homem vai perceber que não pode comer dinheiro”. Com uma sociedade cada
dia mais voltada para o consumo, o modelo econômico vigente acaba por
compremeter não só o equilíbrio ecológico do planeta, como também a qualidade
de vida dos seus habitantes.

É certo dizer que o Estado desenvolve, ou deveria tentar desenvolver,


ações ambientais que interajam com as políticas econômicas, afinal, eles estão
intrinsicamente ligados um ao outro, visto que há uma crescente utilização dos
recursos naturais que, independente do que se queira e do que gerem
economicamente, são finitos.

Essa situação trouxe à luz a necessidade do desenvolvimento de políticas


públicas, governamentais e regularização de profissões que possam ser
capazes de atuar em conjunto em pról da conscientização, aprimoramento,
responsabilização, assim evitando problemas ligados à degradação ambiental.

Nesse sentido, de acordo com Sales (2001), surge na década de 70 nos


Estados Unidos um movimento das empresas norte-americanas que visava
identificar de maneira prévia os problemas ambientais que poderiam ser
causados com suas operações, dessa maneira, poderiam tomar atitudes para
minimizá-los ou, até mesmo, eliminá-los.

Funcionava tal qual um tratamento preventivo para uma doença, que


objetiva diagnosticar problemas antes de sintomas ou complicações surgirem,
dando uma chance de recuperação maior e, desde que realizada corretamente,
melhora a saúde geral do paciente e reduz os custos com tratamentos
posteriores. Esse movimento é o que ficou conhecido como Auditoria Ambiental.

Diante desse contexto, esse artigo irá apresentar, através de revisão de


literatura, o conceito de auditoria ambiental, como ela se diferencia da perícia
ambiental, as principais leis ambientais no Brasil e sobre como a auditoria
ambiental tem relação com a prevenção de problemas ambientais, informação
sobre os mesmos e como está ligada ao desenvolvimento sistentável,
combatendo de maneira preventiva crimes ambientais.

1 AUDITORIA AMBIENTAL

1.1 Conceito de Auditoria

Definição: Segundo Brutti (2021) é um processo sistemático independente


e documentado para obter evidência objetiva e avaliá-la, a fim de determinar a
extensão na qual os critérios de auditoria são atendidos. É importante destacar
que evidência objetiva é diferente de inferência, ou seja, é necessário obter
provas no sistema avaliado que a empresa está trabalhando dentro das normas,
essas provas são documentos, procedimentos, fotografias, entrevistas, entre
outros.

Ainda de acordo com Brutti, (2021), dentro de uma auditoria ambiental há


termos importantes com os quais deve-se ter familiaridade, como o “Programa
de Auditoria”, que nada mais é que o arranjo para uma ou mais auditorias,
planejado para um período de tempo pré-determinado e direcionado a um
propósito específico, dessa maneira é possível juntar as informações
necessárias que o contratante vai passar, reunir o número de auditores
responsáveis, verificar qual a legislação e a abrangência e limites da mesma,
esse último chamado de “Escopo da Auditoria”. Além disso, há o “Plano de
Auditoria”, onde descreve-se as atividades e os arranjos da mesma, é nesse
momento que são informados os setores e documentos que serão avaliados.
1.2 Conceito de Auditoria Ambiental

Tendo em vista o que foi apresentado, a auditoria ambiental é um


processo de verificação formal, independente e documentado, voltado a avaliar
a conduta ou desempenho ambiental de uma entidade frente a um conjunto de
critérios especificados. É uma ferramenta que controla e monitora os processos
de uma empresa relacionados aos aspectos ambientais.

Sendo assim, o objetivo de uma auditoria ambiental é identificar se são


cumpridos os requisitos ambientais estabelecidos, em outras palavras:
 Identificar melhorias nos processos de Sistema de Gestão
Ambiental;
 Avaliar os riscos e oportunidades;
 Conformidade de requisitos legais;
 Obter e manter confiança na capacidade de um fornecedor
externo. (BRUTTI, 2021)

Não há uma legislação específica que determine quem pode ser um


auditor ambiental ou que ele precise de um treinamento preciso, mas ele precisa
ser um profissional com proficiência na área a ser auditada, com base em suas
competências, sejam elas: formação, conhecimento técnico, experiências. Além
disso, ele não pode estar envolvido na área a ser auditada, não pode fazer parte
do setor que está sendo auditado.
1.3 Histórico da Auditoria Ambiental
Dall’agnol (2008) defende que a auditoria como um todo não é algo
recente, afirmando que sua importância é reconhecida há milênios desde a
Antiga Suméria, vide provas arqueológicas que datam 4.500 anos antes de
Cristo. Em sua forma primária limitava-se à verificação de registros contábeis
com a finalidade de detectar sua exatidão e confrantar as provas obtidas com o
que era registrado.
Com o surgimento das normas de qualidade, principalmente pela
crescente demanda da certificação, originariamente pela British
Standards, com o lançamento da Norma BS7750, posteriormente com
a criação da família de certificação ambiental da ISO, passou-se a
verificar e acreditar empresas, dando certa procedência e credibilidade
ambiental a seus produtos, visando à competição instaurada pela
abertura do capital. Assim é que se desenvolveu a auditoria como
elemento fundamental para verificar a efetividade dos sistemas de
gestão da qualidade e ambiental no processo de certificação.
(DALL’AGNOL, 2008, p.73).

PIVA (2007) afirma que a maior parte das literaturas sobre auditoria
ambiental aponta os Estados Unidos como pioneiro na área, com os primeiros
indícios surgindo no fim dos anos 70 com o objetivo principal – para as empresas
– de identificar os problemas que viriam a ser causados por suas atuações e
verificar o cumprimento da legislação.
Com os avanços das Leis Ambientais no país e o rigor de sua aplicação
nos tribunais, as empresas passaram a perceber maior custo com ações
judiciais, desgaste de imagem perante o público e maiores custos para se
adequar as exigências. Essa situação, de acordo com Dall’agnol (2008), fez com
que as empresas passassem a considerar uma espécie de auditoria interna para
fazer controle de riscos, modelos de prevenção contra danos ambientais e
destacar que ações poderiam ser tomadas preventivamente para reduzir esses
riscos.
Assim como na maior parte dos países do mundo, a auditoria ambiental
no Brasil foi surgindo timidamente no final da década de 80 e início da de 90 por
empresas multinacionais de grande porte, visto que, segundo Dall’agnol (2008),
foram esforços internacionais que objetivam difundir a prática e estimulá-la que
a trouxeram. Uma dessas iniciativas foi, também, a publicação da Norma BS
7750 em 1992, na Inglaterra, que tratava sobre sistemas de gestão ambiental.

2 PRINCIPAIS LEIS AMBIENTAIS BRASILEIRAS


Com o objetivo de proteger o meio ambiente e reduzir as consequências
devastadoras que as práticas hodiernas implicam no mesmo, foram criadas Leis
Ambientais no Brasil, fiscalizadas por órgãos ambientais, são elas que definem
os parâmetros e as punições em caso de não cumprimento das normas.
O Artigo 225 da Constituição Federal Brasileira de 1988 prevê que
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988)

Isso significa que é papel de todos a preservação, mas é o poder público


o incubido de fazer a restauração, fiscalização, exigir estudos prévios de
impactos ambientais e torná-los públicos, além de promover educação
ambiental. O artigo também prevê que em caso de ações nocivas ao meio
ambiente, o infrator sofrerá sanções penais e administrativas, o que não tira sua
obrigação em reparar os danos causados.
Cita-se a seguir, para efeito de exemplo, três das principais leis brasileiras
que versam sobre preservação ambiental.
 Lei 12.651 de 25 de maio de 2012
Mais conhecida como novo Código Florestal, essa lei estabelece normas
a respeito da vegetação nativa, áreas de preservação permanente, reservas
legais e de uso restrito, exploração florestal, suprimento de matéria prima
florestal, controle da origem dos produtos florestais, controle e prevenção dos
incêndios florestais, e a previsão de instrumentos econômicos e financeiros para
o alcance de seus objetivos.
 Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998
Essa lei, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, trata de sanções
penais e administrativas no que diz respeito à práticas lesivas ao meio ambiente
e concede a órgãos ambientais mecanismos para punição de infratores.
 Lei 6.902, de 27 de abril de 1981
Estabelece diretrizes e normas para a criação de Estações Ecológicas,
Áreas de Proteção Ambiental, definindo-as seguindo
Art. 1º - Estações Ecológicas são áreas representativas de
ecossistemas brasileiros, destinadas à realização de pesquisas
básicas e aplicadas de Ecologia, à proteção do ambiente natural e ao
desenvolvimento da educação conservacionista.
Art . 8º - O Poder Executivo, quando houver relevante interesse público,
poderá declarar determinadas áreas do Território Nacional como de
interesse para a proteção ambiental, a fim de assegurar o bem-estar
das populações humanas e conservar ou melhorar as condições
ecológicas locais. (BRASIL, 1981)

3 AUDITORIA E A PREVENÇÃO DE CRIMES AMBIENTAIS


Dadas as definições anteriormente citadas, nota-se que a auditoria
ambiental deve ser ferramenta recorrente para auxiliar na implementação de
políticas, condutas e requisitos pré-determinados para diminuir ou, até mesmo,
evitar a degradação ambiental. Empresas públicas ou privadas que a
implementam tem vantagens no que se refere a uma maior atuação ambiental
positiva com benefícios que evitam riscos.
Desde que devidamente executada com responsabilidade e prerrogativa
profissional, a auditoria é capaz de mostrar com precisão e fidedignidade as
consequências e resultados dos procedimentos adotados por uma empresa aos
interessados.
Vale ressaltar que, em conformidade com o Art. 2º da Lei 9.605 – citada
anteriormente
Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos
nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua
culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de
conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de
outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-
la. (BRASIL, 1998, grifo nosso)

Isso significa que o responsável pela auditoria, se deixar de impedir uma


prática criminosa, também será autuado conforme as penalidades impostas
pelas lei. Essa questão frisa ainda mais a importância que o auditor tem no
processo.
Toda gestão que objetiva verificar se suas atividades caminham em
conformidade às questões ambientais utilizam a auditoria ambiental para
detectar prerrogativas fundamentadas. Ela irá detectar as necessidades de
adequação e recomendar atos corretivos.
Uma gestão empresarial que visa evoluir o caráter da sua instituição,
preocupa-se – também – com a comunidade e a preservação do meio ambiente
como estado imprescindível para a sobrevivência da humanidade agindo com
responsabilidade e cautela, todas fundamentas previamente.

4 CONCLUSÃO
Constatou-se a importância das auditorias ambientais como instrumento
de proteção ambiental, já que a mesma tem a função de identificar possíveis
transgressões das normas ambientais que trazem efeitos danosos à natureza.
Além disso, comprovados benefícios mostram que sua utilização é crescente,
principalemente dado às discussões recentes a respeito de desenvolvimento
sustentável.
É, como destacado ao longo do trabalho, uma ferrementa preventiva, por
isso permite que as empresas continuem suas atividades ao mesmo tempo que
buscam alternativas para solucionar problemas ambientais advindos com elas,
ajudando na construção de ambientes harmônicos e equilibrando economia e
ecossistemas, sem trazer danos a algum deles.
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidente da República, [2016]. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 02 nov. 2022.

BRASIL. Lei no 12.651, de 25 de maio de 2012. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/L12651compilado.htm>. Acesso em: 02 nov. 2022.

BRASIL. Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Disponível em:


<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm>. Acesso em: 02 nov.
2022.

BRASIL. Lei no 6.902, de 27 de abril de 1981. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6902.htm>. Acesso em: 02 nov. 2022.

BRUTTI, Juliana. Conceitos de Auditoria Ambiental. YouTube, 09 Abr.


2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iYtbNAYb5bE>.
Acesso em: 15 Nov. 2022.

DALL’AGNO, Alencar. Auditoria Ambiental: Instrumento do Princípio da


Prevenção no Sistema de Gestão Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Antônio
Iserhard. 2008. 115 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Direito: Concentração
em Direito Ambiental e Biodireito. Programa de Pós-graduação em Direito,
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2008. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp067414.pdf> Acesso
em: 17 Nov. 2022.

PIVA, Ana. Auditoria Ambiental: Um enfoque sobre a auditoria ambiental


compulsória e a aplicação dos princípios ambientais. In: CONGRESSO
NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO, 16, 2007,
Minas Gerais. Anais eletrônicos. Minas Gerais: Belo Horizonte, 2007. p. 4154
– 4174. Disponível em:
<http://www.publicadireito.com.br/conpedi/anais_bh.html> Acesso em: 19 Nov.
2022.

SALES, Rodrigo. Auditoria Ambiental. Aspectos Jurídicos, São Paulo:


LTR, 2001.

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