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02/05/2022 22:40 Facebook

 
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Christiano Galvão
29 de abril às 23:01 ·

A FEITIÇARIA NO CANGAÇO
Pouco antes de falecer, o último cangaceiro do bando de Lampião, Antônio Inácio da Silva, vulgo
"Moreno", que residia no subúrbio de Belo Horizonte, deixou uma caderneta contendo as orações
e feitiços usados por ele e seus comparsas durante a vida na jagunçagem.
Moreno, que era um índio da nação Pankararu, do Sertão meridional de Pernambuco, conhecia
todas as formas de pactos e ritos que, quando realizados nas quatro "horas abertas" do dia,
propiciavam vários "talentos".
Numa de suas últimas entrevistas, Moreno contou que fechou os corpos de quase todos os
companheiros, confeccionando-lhes patuás poderosos; e ainda consagrou-lhes os anéis para que
tivessem uma mira certeira e uma destreza mortal no manejo dos punhais.
Aos mais perigosos e mais procurados pela polícia de Vargas, como Corisco e Gato, ele ensinou
como se "envultar" (ficar invisível) através de pactos com "diabos menores".
Curiosamente, disse Moreno, Lampião quase sempre declinou dessas magias. Temente a Deus e
afilhado de Nossa Senhora, ele preferia "morrer a ferro frio (faca) ou quente (bala) a ter que ficar
devendo favor ao Diabo." Não obstante, ele aceitou levar um sinete na aba dianteira do chapéu
que lhe concedia talentos premonitórios.
Moreno contou que, desde o dia em que "ferrou" esse amuleto no chapéu do chefe, ele passou a
tomar as decisões mais imprevistas: acordava no meio da noite alarmado por algum sonho e
ordenava retiradas urgentes; mudava de rota e ou de paradeiro conforme os avisos que percebia
no voo ou no canto dos pássaros.
Quando foi abatido no cerco de Angico, em Sergipe, Lampião estava usando um chapéu novo,
"desprevenido", porque já não suportava o desassossego daqueles avisos. O chapéu mágico fora
devolvido ao próprio Moreno, que dele recortou o sinete e o guardou sempre consigo.
Foi graças a este amuleto, assim acreditava Moreno, que pôde escapar ileso das forças policiais e
migrar para a capital de Minas Gerais, onde teve uma vida sossegada e próspera. Superstição ou
não, Moreno foi de fato o sobrevivente mais longevo do cangaço. Quando faleceu, em 2010 -
poucos meses depois de entregar sua caderneta mágica aos historiadores da UFMG - ele tinha
100 anos, e estava tão lúcido quanto famoso.

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Alighieri Titania
Elvis Martins
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Elvis Martins respondeu · 1 resposta 10 h

Gregory Rodrigues
Carlos De Oxossi Sacerdote
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Carlos De Oxossi Sacerdote respondeu · 1 resposta 6 h

Yuri David Esteves


JorgeRayJamileIsaac
C i R d 11 h
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