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Felipe Schardong 1
Nicolas de Oliveira Cardoso 2
Claudia Galvão Mazoni 3
Universidade Luterana do Brasil, Gravataí, RS, Brasil
RESUMO
Esta pesquisa objetivou analisar as estratégias de enfrentamento e o nível de
ansiedade de pais de crianças com câncer. Realizou-se uma revisão integrativa
da literatura com busca de artigos nas bases de dados BVS, Pubmed e
PsycINFO. Os descritores utilizados foram coping, anxiety, parents e cancer.
Os critérios de inclusão foram pesquisas empíricas, nos idiomas inglês,
espanhol e português, que respondessem o problema de pesquisa. Foram
identificados dez artigos sobre a temática, somente no idioma inglês. Os
resultados apontam que os pais de crianças com câncer têm mais dificuldades
para utilizar estratégias de enfrentamento e lidar com a ansiedade, quando
comparados com os pais de crianças com outras doenças. Concluiu-se que a
sobrecarrega psíquica, em muitos dos pais, refletiu no aumento da ansiedade e
na escolha da utilização das estratégias de enfrentamento. A produção
científica é escassa sobre o tema, indicando a necessidade de investigações,
principalmente em cenário nacional.
Palavras-chave: estratégias de enfrentamento; ansiedade; pais; crianças;
câncer.
ABSTRACT
This study aimed to analyze the coping strategies and parental anxiety level of
parents of children with cancer. A integrative review of the literature was
conducted, searching for articles in the databases BVS, PubMed and
PsycINFO. The used descriptors were coping, anxiety, parents and cancer.
Inclusion criteria were empirical researches, written in english, spanish and
portuguese, that answered to the research problem. Ten articles were identified,
1
Psicólogo Clínico – Universidade Luterana do Brasil – Gravataí – Rio Grande do Sul – E-mail:
felipe.s.psico@gmail.com.
2
Acadêmico do curso de psicologia da Universidade Lutera do Brasil – Cachoeirinha – Rio
Grande do Sul – E-mail: nicolas.deoliveira@hotmail.com.
3
Mestre em Ciências da Saúde – Universidade Luterana do Brasil – Gravataí – Rio Grande do
Sul – E-mail: cgmazoni@gmail.com.
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regarding the subject, only in English. The results showed that parents of
children with cancer had more difficulties to deal with coping strategies and
anxiety when compared to parents of children with other diseases. It was
concluded that the psychic burden, in many of the parents, reflected in
increased anxiety and in the choice of the use of coping strategies. The
scientific literature on the subject is scarce, indicating the need for
investigations, especially on the brazilian scene.
Keywords: coping strategies; anxiety; parents; children; cancer.
Introdução
Ao abordar o tema estratégias de enfrentamento e a ansiedade dos pais
de crianças com câncer, deve-se ter um entendimento multifacetado, em
especial pelo fato do paciente ser uma criança. O primeiro grupo de convívio
da criança é a família, sendo o alicerce de suas relações com outros sujeitos,
além de desempenhar de forma fundamental a aprendizagem comportamental,
estruturação de personalidade e o desenvolvimento dos seus sentimentos
(Barbeiro, 2013).
Desta forma há uma intensa ligação entre a família e a condição de
saúde de seus integrantes. O adoecimento causa desequilíbrio e a estrutura
familiar fica claramente modificada, forçando os membros a se adaptarem à
nova situação. Por outro lado, a família tem grande importância na prevenção,
manutenção e no enfrentamento de doenças (Gudmundsdottir, Schirren, &
Boman, 2011).
A doença do câncer, em qualquer idade durante a infância, se
caracteriza como um elemento estressor para os pais, pois é uma ameaça real
e imprevisível, na mesma medida em que, receber notícias de que seu filho
tem uma doença que oferece risco de vida, é um evento que pode se tornar
traumático (Norberg & Boman, 2008; Stehl et al., 2008; Gudmundsdottir et al.,
2011). Neste momento de perturbação familiar, a criança com câncer pode
identificar os seus pais como uma das principais fontes de suporte emocional.
Porém, a capacidade dos pais de oferecer uma atenção adequada ao seu filho
pode ficar fragilizada por não conseguirem lidar adequadamente com o
diagnóstico e as suas possíveis consequências (Norberg & Boman, 2008). Os
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Método
O método utilizado para a construção dessa pesquisa foi a revisão
integrativa da literatura, a qual, de acordo com Mendes, Silveira & Galvão
(2008), objetiva reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado
tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o
aprofundamento do conhecimento do tema investigado. Com isso, a questão
norteadora da presente revisão foi: quais são as estratégias de enfrentamento
utilizadas pelos pais de crianças com câncer para manejo de sua ansiedade?
A coleta de dados foi conduzida através de buscas on-line para seleção
das principais produções científicas nacionais e internacionais, através da
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Resultados
Inicialmente, foram localizados, nas três bases de dados virtuais, um
total de 405 artigos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão
restaram 10 artigos que abordaram o tema do presente estudo, sendo sete
artigos selecionados na base de dados PubMed, dois artigos da BVS e um
artigo da PsycINFO. A Figura 1 demonstra os procedimentos executados para
a seleção de artigos.
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1. Ansiedade
Pesquisas apontam que os pais de crianças com câncer apresentaram
níveis mais elevados de ansiedade, quando comparados com pais de crianças
saudáveis, com doenças agudas ou crônicas, no período próximo ao do
diagnóstico. E nesta comparação com os outros pais, os de crianças com
câncer também apresentaram níveis maiores de ansiedade a longo prazo
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2. Estratégias de Enfrentamento
Em um dos estudos, o apoio social utilizado como estratégia de
enfrentamento beneficiou todos os pais, considerando tanto o tamanho da rede
quanto a satisfação com esta, porém o tamanho da rede de apoio teve principal
benefício para os pais com maiores níveis de sofrimento psíquico (Artigo A). Na
comparação dos pais da criança com câncer, as mães relataram uso mais
frequente de busca de apoio social em situações estressantes do que os pais.
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Discussão
Conforme exposto nos resultados, os estudos apontam que há diferença
na variável ansiedade em pais de crianças com diagnóstico de câncer quando
comparados o gênero, a fase de tratamento, outras patologias e população. Os
sintomas de ansiedade são uma resposta normal da população frente a
situações ameaçadoras. Entretanto, em relação ao gênero, as mulheres
costumam apresentar o dobro de manifestações de ansiedade do que os
homens (Alencar et al., 2015). Acredita-se que isso ocorra devido a uma maior
vulnerabilidade, nas mulheres para a ansiedade devido a fatores biológicos e
sociais (Bloch, Daly, & Rubinow, 2003).
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Limitações
Algumas lacunas foram identificadas ao longo da elaboração do
presente artigo, relacionadas principalmente à qualidade dos estudos
analisados e seus resultados, principalmente devido ao fato dos estudos
trazerem poucas informações relacionadas às estratégias de enfrentamento.
Outra limitação está relacionada à exclusão dos artigos escritos em outros
idiomas que não o português, espanhol e inglês. Além disso, não foram
avaliados os possíveis viéses de pesquisa dos estudos selecionados e a
maioria dos artigos não explicitou quais foram os profissionais que aplicaram os
treinamentos ou as intervenções, tampouco a formação necessária para
realizá-los.
Considerações Finais
Ao longo desta pesquisa, observou-se que os pais de crianças
adoecidas são afetados diretamente pelo estado de saúde de seu filho. Os
resultados apontaram que os pais de crianças com câncer são os que
apresentam mais dificuldades para lidar com estratégias de enfrentamento
focadas na emoção, focadas no problema, apoio social e com a ansiedade,
quando comparados com os pais de crianças com doenças agudas, graves ou
sem patologias.
Este resultado não surpreende, pois o câncer é uma doença que carrega
o estigma de ser fatal, consequentemente, traz um grande temor e desperta
sentimentos intensos nos pais. Desse modo, conclui-se que a sobrecarrega
psíquica de ter um filho com câncer influencia o comportamento e as emoções
de muitos pais, refletindo no aumento do nível de ansiedade e na maneira que
utilizaram as suas estratégias de enfrentamento.
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