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Violência contra a mulher e religião: vivências de mulheres evangélicas

Autora:

Ana Clara de Arruda Nunes (UFCat)- anaclara.arruda.nunes@gmail.com

Orientadora:

Tatiana Machiavelli Carmo Souza (UFCat)- tatimachiavelli@yahoo.com.br

Agradecemos ao apoio financeiro do CNPq para a realização da presente pesquisa

Introdução:  Resultados:
A violência contra mulheres (VCM) no âmbito religioso se faz Observou-se determinantes socioculturais como o machismo, o

presente em diversos segmentos religiosos brasileiros. A VCM patriarcado e a hierarquização dos papéis femininos e

está ligada à condição de privilégio, prestígio e poder do homem, masculinos nos discursos das participantes, além da vivência

herança cultural e histórica de séculos de submissão. Além disso, de todos os tipos de violências, especialmente, tentativa de

há aspectos religiosos que alimentam uma suposta superioridade feminicídio. Percebeu-se que as entrevistadas viveram longa

masculina - como por exemplo a figura masculina de Deus. rota de violência e vulnerabilidade. Notou-se que alguns (ex)

Apesar da VCM ser prática explicitamente condenável nas parceiros usavam os papéis tradicionalmente impostos pela

religiões, é experiência frequente, servindo-se do papel do homem sociedade às mulheres como justificativa para as agredirem.

como patriarca e da hierarquização existente nas igrejas. Aliado a Ademais, foi apontada a pressão exercida por familiares,

isso, a religiosidade pode desempenhar papel na manutenção de amigas/os e pela igreja para a preservação do matrimônio,

casamentos violentos, uma vez que os sentimentos de tolerância e acarretando a manutenção do relacionamento violento. Desse

compaixão, bem como a crença na mudança do cônjuge violento modo, na tentativa de continuidade desse relacionamento,

impedem a dissolução do relacionamento. recorrer à fé e às práticas de oração também foram alternativas

de lidar com a violência. A figura de deus foi vista como sendo


Objetivos:
capaz de aplacar o sofrimento advindo das violências sofridas
Este estudo investigou a relação entre VCM e religião
pelas participantes. Observou-se também que os valores
identificando os discursos religiosos sobre o papel da mulher e
religiosos atrelados ao medo da punição contribuíram para
as violências simbólicas presentes nas religiões cristãs.
manutenção da VCM na medida que geraram passividade,

tolerância e violência. Identificou a crença de que o


Metodologia:
autosacrifício acarreta salvação e de que como a crença que
Realizou-se pesquisa qualitativa de caráter analítico, com a
somente deus é capaz de proteger as participantes, não sendo
participação de seis (6) mulheres que vivenciaram contexto de
necessaria a denúncia do autor das agressões aos órgãos
violência doméstica. Como critérios de participação no estudo,
competentes.
as participantes deveriam ter maioridade penal, terem sofrido

violência doméstica perpetrada pelo parceiro, se Considerações finais:


autodenominarem evangélicas e frequentarem igrejas Dos vários fatores que engendram a VCM encontra-se a religião

pentecostais ou neopentecostais. Para a obtenção dos dados ao reforçar valores hierarquizados dos papéis masculinos e

realizou-se entrevistas semidirigidas, individuais, audiogravadas femininos e a submissão feminina. Além de contribuir para a

e transcritas na íntegra. Houve a assinatura do Termo de continuidade do relacionamento violento, podendo ser uma

Consentimento Livre e Esclarecido, além da utilização de barreia à denúncia em órgãos competentes. Entretanto, também

pseudônimos para resguardar a identidade das entrevistadas. Os é capaz de ser um auxílio, uma forma de lidar com os resultados

dados foram analisados e interpretados à luz dos núcleos de e os sofrimentos psíquicos e físicos do abuso. Dessa forma,

significação de Aguiar e Ozella (2006). Os resultados foram observa-se como a religião pode-se constituir em paradoxo na

discutidos e problematizados à luz das Teorias Feministas. relação com a VCM.

Referências

AGUIAR, Wanda Maria Junqueira; OZELLA, Sergio. Núcleos de significação como instrumento para a apreensão da constituição dos sentidos. Psicol. cienc. prof. Brasília, v. 26, n.

2, p. 222-245, jun. 2006.

BRASIL. Lei 11.340 (Maria da Penha) de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8° do art.226 da

Constituição Federal. Brasília: Diário Oficial da União, 2006.

SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. Cadernos Pagu. n. 16, p. 115-136, 29 mar. 2016.

SOUZA, Sandra Duarte de; OSHIRO, Claudia Poleti. Mulheres evangélicas e violência doméstica: o que o poder público e a igreja têm a ver com isso?. Revista Caminhos - Revista

de Ciências da Religião, Goiânia, v. 16, p. 203-219, nov. 2018.

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