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O mundo e a mente de Alexander Tarchen

Quarta-feira, 18 de março de 2009. 06:10

Alexander desperta. Assim como em todas as manhãs, ela olha ao


redor em seu quarto e analisa os detalhes, como quem está processando a
informação do local onde se está. Levantando da cama, ela para de frente
para o espelho. Está vestida com um moletom vermelho vinho, uma calça
camuflada larga e desbotada. Apesar de despojada, Alexander é, sem
dúvidas, uma bela jovem. Se dirigindo à cozinha com certa sonolência, ela
identifica a silhueta de sua mãe perto da bancada de mármore.
- “Bom dia, Alex. ” – Indaga a mãe.
Sonolenta, porém levemente desperta após a curta caminhada, ela
responde em tom baixo e suave, porém amistoso.
- “Bom dia, Sash. ” – Diz ela coçando os olhos.
A verdade é que, por ter entrado em sua vida já tardiamente,
Alexander nunca se habituou a chamar sua mãe adotiva de “mãe”, mesmo
depois de quase uma década juntas.
Ela senta em uma das banquetas de frente para a bancada, ao lado de
sua irmã.
- “Bó-Dia, aéx. ” – É o que se ouve de uma garotinha com a boca cheia de
cereais.
Risonha, ela responde: - “Bom dia, pequenina. ”
As duas rapidamente terminam seu café e vão em direção a seus
respectivos quartos. Em torno de 15 minutos, Alexander estava vestida.
Ela vestia um outro moletom, desta vez, um branco com estampa de
alguma serie, talvez filme... bem, isso não vem ao caso. Juntamente, vestia
uma calça jeans umas duas vezes mais larga que suas finas pernas. Um
tênis “surrado”, o qual aparentava usar já há alguns anos. Em sua cabeça,
usava um gorro preto que escondia uma parte do seu curto e claro cabelo
liso que mal cobria as orelhas. Por isso talvez ela tenha optado pelo gorro.
Em seu rosto, uns óculos de lentes não muito grossas, diferentemente da
armação. Preta, grossa e chamativa, quase como os de uma velha
bibliotecária.
As 7:30, já estava na escola, buscando ver alguém que conhecesse.
Olhando ao redor, identifica-se novamente mais uma silhueta familiar.
Uma voz amistosa surge em bom tom. Logo ouve-se: - “Oi, Tarchen! ”
Rapidamente, ela identifica a voz como pertencente a sua melhor
amiga: Maxine Hasher, ou, para os mais íntimos, Max. Andando em sua
direção rapidamente, seus médios cabelos castanhos de pontas azuis
movimentam-se sobre seu rosto dificultando sua visão. Mesmo assim, isso
não a impede de andar ainda mais rápido. Ao chegar próximo a Alexander,
seus braços estendem-se para frente, na intenção de agarrá-la. Alexander
é recolhida, porém já acostumada com a personalidade excêntrica de sua
amiga. Então, mesmo que levemente constrangida pelo comportamento
exagerado de Max, um sorriso de canto se aloja em seu rosto. Quando ela
já está nos braços de Maxine há alguns instantes, sua postura parece
menos tencionada e seu rosto mais relaxado. Estar com a Maxine, é estar
em casa. Provavelmente é isso que se passou na cabeça dela. Ao soar do
seu toque de recolher diário, as duas rapidamente se direcionam ao lado
oposto ao seu encontro e correm rapidamente. Maxine corre sorridente e
risonha segurando a mão de Alexander. Chegando na porta da sala,
Maxine joga seu olhar diretamente para a professora. –“Bom dia
senhorita Hathaway! ” – Diz Max, em tom irônico. Antonye Hathaway,
desliga-se rapidamente de Maxine e olha para Alexander. – “Senhorita
Tarchen, no seu próximo atraso seus pais serão contatados, décimos de
sua nota serão descontados e você ficará do lado de fora desta sala de
aula. Francamente, a senhorita não tem modos? Além de atrasada, chega
fazendo esse caos pelos corredores. A senhorita não tem um relógio? Não
vê que é seu quinto atraso no mês? Do fundo do meu coração, espero que
melhore. ” Como se não já estivesse constrangida o suficiente, todos os
seus colegas de turma a olhavam com olhos arregalados, rindo de sua cara
ou igualmente constrangidos.
As 8:30, a aula acaba. Maxine e Alexander ficaram em carteiras
distantes durante a aula, mas Maxine constantemente virava-se para
checar a amiga, que parecia desanimada após a bronca. Alexander fingia
que não via a preocupação de sua amiga. A chata aula de gramática da
senhorita Hathaway fez com que ela buscasse refúgio no entretenimento
de assistir os pássaros pousaram próximos a janela. Isso fez com que a
velha mulher saísse do seu sério padrão de comportamento e levantasse o
tom para chamar a atenção da senhorita que mais parecia um senhor,
segundo a própria professora que tinha opiniões próprias envolvendo seu
conservadorismo. Os passarinhos na janela trouxeram inspiração para
mais um de seus famosos (ou nem tanto) poemas. As vezes escrevia-os
para publicar em seu blog online, já outras vezes, apenas para deixá-los
como recordação para os futuros leitores. O poema dizia mais ou menos:

Os pássaros na janela

Além do horizonte voam para onde tem vontade


Não se prendem a ninguém, nem a nada
Têm a própria liberdade

De que importa o amor de sua vida


Quando não se há felicidade?

Os pássaros deixam para trás filhotes


Acreditam que, para sobreviver, não tem capacidade
Mas seus pais, pássaros que voam, sabem a verdade

Saberão voar, saberão o que fazer


Sua felicidade não se prende a nada mais que você
A situação foi boa, mas não mais há felicidade
Não há tal necessidade

Não se há amor onde o “eu te amo” não se diz


Você merece sorrir, merece alegria, merece ser feliz.

A verdade é que Alexander nunca havia estado em qualquer


relacionamento amoroso. Ela apenas buscava abordar em seus poemas
temas que poderiam ser uteis para pessoas ao redor do mundo que
necessitassem ser confortadas por alguém e que não tivessem um ombro
amigo. Acima de sua timidez, era uma boa pessoa.
18/03/2009 - 15:30
Alexander já estava em casa. Envolvida na confusão de seus
pensamentos, está largada na cama olhando para o teto. A verdade é que
ela não é a adolescente mais alto astral já conhecida. Em seus 16 anos de
história, Alexander nunca foi muito animada ou falante em quesito
nenhum. Geralmente, guarda seus pensamentos para si. A única que sabe
o que se passa na sua cabeça é Maxine. Alexander sempre se
impressionou com a forma como ela quase sempre sabe o que se passa na
cabeça dela, quase como se lesse sua mente.
Após alguns momentos de procrastinação, ela decide levantar da cama
e cumprir seus deveres. Com certa dificuldade, ela levanta da cama. Não
havia comido nada além de seu café da manhã. Senta-se em sua
escrivaninha e põe a cadeira quase encostada na mesa. A mesa e a cadeira
estão separadas apenas pela fina cintura daquela magra moça. Ela se
esgueira para a lado para alcançar o bloco de notas no qual escreve suas
tarefas. Cá entre nós, Alexander não tem a melhor das memórias.
Checando suas notas em uma caligrafia apressada de quem passou a aula
escrevendo poemas e anotou tudo de última hora, ela vê três atividades
de três matérias diferentes. Checando o livro de biologia, ela
apressadamente para em páginas próximas à que ela está buscando. Seu
ritmo diminui para chegar na tal página. Estranhamente, a página não
existia. Ela, duvidosa, encarou o livro por alguns segundos. Voltando
algumas páginas e avançando novamente, ela conferia de novo, e de
novo, e de novo. Não adianta. Essa página não existe. Voltando ao seu
bloco de notas, foi checar sua anotação. Inacreditavelmente, essa
atividade não constava lá. Ela havia se enganado? .... Não! Ela tinha
certeza de que havia algo assim lá. Lembrava detalhadamente até de sua
caligrafia. Ela deixou isso de lado. Esse episódio foi suficiente para perder
o pouco ânimo que ela tinha para realizar as tarefas.

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