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Circuitos Lógicos

Material Teórico
Operações de Circuitos Digitais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Fábio Peppe Beraldo

Revisão Textual:
Prof. Esp. Márcia Ota

Revisão Técnica:
Prof. Ms. Rodrigo da Rosa
Operações de Circuitos Digitais

• Circuitos sequenciais síncronos


e assíncronos
• Os Latches
• Diagrama de Estados
• Análise de Circuitos Sequenciais
• Maquinas de Estados

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta unidade, o aluno terá conhecimento sobre os tipos de sistemas
e o trabalho com máquinas específicas. Dessa forma, estará apto a
realizar trabalhos com operações avançadas de circuitos digitais.

ORIENTAÇÕES
Olá, aluno (a)!

Nesta Unidade, aprenderemos um pouco mais sobre o trabalho com Circuitos


Digitais, suas operações, máquinas e diagramas de estado.

Desse modo, leia o material com atenção e, se sentir necessidade, releia


para que sua absorção seja adequada. Fique atento (a) nessa etapa, pois é
o momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de
registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor.

Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais
interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as
atividades de avaliação, uma atividade reflexiva e a videoaula. Cada material
disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado, por favor, estude
todos com atenção!
UNIDADE Operações de Circuitos Digitais

Contextualização
Para entendermos os circuitos sequenciais, precisamos estudar suas duas
formas de apresentação: Os sistemas Síncronos e Assíncronos. Para tanto, vamos
exemplificar e criar formas de se entender cada passo desses sistemas, analisando
também as máquinas de estado.

Além disso, vale lembrar que estudaremos técnicas simples para projetar circuitos
lógicos que satisfaçam um dado conjunto de requisitos.

Bom estudo!

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Circuitos sequenciais síncronos
e assíncronos
Como já visto, superficialmente, em outro momento de nossa disciplina, os
circuitos sequenciais podem ser divididos em dois tipos, conforme o comportamento
temporal dos seus sinais: síncronos e assíncronos.

O comportamento de um circuito sequencial assíncrono depende da ordem na


qual as entradas mudam e o estado do circuito pode se alterar a qualquer tempo,
como consequência de uma mudança de suas entradas. Os elementos de memória
utilizados nos circuitos sequenciais assíncronos apresentam uma capacidade de
armazenamento que está associada diretamente ao atraso de propagação dos
circuitos que os compõem.

Em outras palavras, o tempo que esses circuitos levam para propagar uma
mudança de suas entradas até suas saídas pode ser encarado como o tempo
durante o qual eles retêm os valores aplicados antes da mudança e, além disso,
esse fenômeno coincide com o conceito de memória, para os circuitos digitais.

Nos circuitos sequenciais assíncronos, os elementos de memória são compostos


por portas lógicas que provêm um atraso de propagação com valor adequado para
o funcionamento do circuito. Então, um circuito sequencial assíncrono pode ser
visto como um circuito combinacional com realimentação.

O projeto de circuitos com realimentação apresenta grandes dificuldades, uma


vez que seu funcionamento correto é dependente das características temporais dos
componentes (portas lógicas e fios). A principal dificuldade provém do fato de que
os componentes apresentam atrasos que não são fixos, podendo ser diferentes
mesmo para exemplares com mesma função e de um mesmo fabricante. Desta
forma, os circuitos sequenciais assíncronos têm sido evitados, sempre que possível,
em favor do uso de circuitos sequenciais síncronos.

Um circuito sequencial síncrono utiliza um sinal especial denominado de relógio


(ou clock, em inglês), o qual tem a função de cadenciar uma eventual troca de
estado. A figura 1 mostra um exemplo de sinal de relógio. A forma de onda de
um sinal de relógio é dita monótona, pois não se altera ao longo do tempo. Nela
podem ser identificados: a borda de subida, a borda de descida, o nível lógico zero
e o nível lógico um. O tempo que decorre para o sinal se repetir é denominado
período e é representado por T. Por exemplo, o tempo entre duas bordas de subida
sucessivas é igual a T. Da mesma forma, o tempo entre duas bordas de descida
sucessivas é igual a T.

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nível alto
borda período (T) nível baixo
ascendente

borda
descendente

Figura 1: Exemplo de Clock

A frequência de um sinal de relógio ou clock é representada por f ou Hz e pode


ser definida como sendo o inverso do período ou tempo, ficando:

1 1
=f = ou Hz , onde s = segundos
T S

Dessa forma, podemos facilmente observar que o período é mensurado,


usando-se múltiplos de segundo (ms = milissegundo = 10-3s; µs = microssegundo =
10-6s; ns = nanossegundo = 10-9s; ps = picossegundo = 10-12s) e para medir a
frequência, usam-se os múltiplos da unidade Hertz (KHz = quilohertz = 103HZ;
MHz = megahertz = 106Hz; GHz = gigahertz = 109Hz).

Exemplo: Se um circuito trabalha a frequência de 200MHz, significa que os


blocos combinacionais precisam ter um atraso menor que o período
do relógio, identificado pela função:
1
T= −6
= 0.005 × 10 −9 s = 5ns
200 × 10 s

Em um circuito sequencial síncrono, o sinal de relógio determina quando os


elementos de memória irão mostrar os valores de suas entradas. Dependendo do
tipo do circuito que será utilizado como um elemento de memória; esta amostragem
das entradas será sincronizada pela borda ascendente ou descendente do relógio.
Independentemente do tipo da sincronização, o tempo que passa entre duas
amostragens sucessivas equivale a T, o período do relógio. Isso implica que
mudanças no estado de um circuito sequencial síncrono irão ocorrer somente após
a borda do sinal de relógio, na qual seus elementos de memória são disparados.

Fonte: https://goo.gl/mz193N

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entradas Saídas
Variáveis do
circuito estado atual
combinacional

elementos de
memória

variáveis do
próximo estado

Figura 2: Diagrama de blocos de um circuito sequencial síncrono

Os flip-flops são os elementos de memória que são utilizados nos circuitos


sequenciais síncronos. Um flip-flop é um circuito digital com duas entradas e
duas saídas que é capaz de armazenar informação em um bit. Suas entradas não
são intercambiáveis, sendo uma reservada ao sinal de controle (que é o relógio)
e a outra entrada recebe o dado (que é o bit) que será armazenado. Já as saídas
correspondem ao dado (que é o bit) armazenado e o seu complemento direto.
O sinal do relógio descreve o preciso momento em que o flip-flop determina o valor
do dado, que pode corresponder a uma borda de subida ou a uma borda de descida,
de acordo como o flip-flop for constituído.
Na figura 2, é possível notar que o valor de cada uma das variáveis de estado é
armazenado em um flip-flop específico. Os valores do próximo estado apenas são
amostrados na borda ativa do relógio; dessa forma, o estado atual é armazenado
no conjunto de flip-flops até que uma nova borda do relógio seja ativada. Assim, o
próximo estado passa a ser o estado atual e um próximo estado novo é gerado pelo
circuito combinacional.

Fonte: https://goo.gl/mz193N

Se alimentado corretamente com energia, o flip-flop mantém indefinidamente


um estado até que os sinais de entrada assumam uma configuração que os façam
mudar de estado. Isso depende de como o flip-flop é constituído.

O estado atual de um flip-flop é relativo ao valor binário que ele armazena,


assim, em um instante, o flip-flop está armazenando o valor lógico 1 ou valor
lógico 0, sendo esses os dois valores possíveis para uma variável Booleana.

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Os Latches
Existem vários tipos de flip-flops e esses se diferem pelo número de entradas
que possuem e também pela maneira, pela qual tais entradas afetam o estado em
que se encontra o flip-flop.

Os tipos mais simples de flip-flops são chamados de latches, os quais operam


por níveis de sinais na entrada, também chamados de “sensíveis a nível” e eles são
a base da construção de qualquer outro flip-flop mais avançado.

Para entendermos como um latch funciona, vamos focar nosso estudo no Latch
RS. Importante salientar que há outros tipos a serem estudados e são de suma
importância, como o latch RS controlado e o latch D.

O Latch RS
Esse é o latch mais simples que existe, sendo construído com o uso de duas portas
NOR com 2 entradas em cada e essas portas podem ser conectadas, conforme a
figura 3. Você pode observar duas entradas, que são denominadas R e S e duas
saídas, que são denominadas Q e Q . É observável também uma conexão entre a
saída e a entrada NOR n2. Há a conexão entre a saída Q e a entrada NOR n1.
Essas conexões são chamadas de realimentações e, no caso dos circuitos digitais,
são responsáveis pela propriedade de armazenamento do circuito.

R
n1 Q

n2 Q
S

Figura 3: Latch RS com portas NOR

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Chamamos os circuitos que possuem realimentação de sequenciais, pois seu
comportamento depende não somente dos valores das portas de entrada, mas
somado a isso, o estado em que o circuito se encontra; dessa forma, a análise do
funcionamento do latch RS deve obedecer aos seguintes passos:

1º Identificação da combinação de entrada capaz de determinar o estado do


latch de maneira independente do estado anterior.

2º O estado determinado no passo 1 é assumido como sendo o estado inicial,


assim a aplicação de uma nova combinação de entradas para verificar como
o circuito se comporta, ou seja, se muda de estado ou não.

3º Repetição dos passos 1 e 2 para cada combinação de entradas capaz de


determinar o estado do circuito de maneira independente.

4º Feito os procedimentos iniciais, você encontra, agora, uma tabela de


comportamento denominada “tabela de transição de estados” ou “tabela de
transição” a qual é uma característica do latch.

Imagine que, no exemplo da figura 3, sejam aplicados simultaneamente os


valores 1 e 0 às entradas R e S no instante de tempo t0. É sabido que o valor 1
quando aplicado a qualquer entrada de uma porta NOR determina o valor da saída
desta porta como sendo 0, independente dos valores das demais entradas.

Seguindo esse procedimento, se aplicarmos R=1 e S=0 no tempo t0, a saída Q


será estabilizada com valor 0 em t0+td (n1), onde td (n1) é o atraso da porta por NOR
n1, a partir do tempo t0+td (n1), ambas entradas desta porta estarão estabilizadas
em 0. Assim, a partir do tempo t0+td (n1) + td (2), onde td (n1) é o atraso da porta
por NOR n2, a saída Q estará estabilizada com o valor lógico 1.

Continuando a operação desse latch, aplicam-se, agora, os valores R=0 e S=0


às entradas no instante de tempo t0, com t1 > t0 + td (n1) + td (n2) . Pensando em
função dos atrasos das portas n1 e n2, as saídas não se alterarão ineditamente.

Para efeitos de análise, consideramos que a entrada n1, que está conectada
a Q, continua com o valor lógico 1 e que a entrada de n2 que está conectada a
Q continua com o valor lógico 0. Desta forma, logo após o instante t1, n1 terá
0 e 1 em suas entradas, fazendo com que sua saída, que é a saída Q do circuito,
permaneça no valor lógico 0. De maneira semelhante, logo após, t1, n2 terá suas
entradas 0 e 0, fazendo com que sua saída, que é a saída Q do latch, permaneça
com o valor lógico 1. As formas de onda que ilustram o resultado da aplicação
sucessiva destes dois vetores de entrada (R=1,S=0) e (R=0,S=0) no latch RS são
mostradas na figura 4.

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valor indeterminado nada muda


t0 t1 nas saídas
(=desconhecido)
após t1
td(n1) td(n2)

Figura 4: Formas de onda para aplicação do vetor de entrada (R=1;S=0)


seguido do vetor (R=0;S=0) no latch RS
Continuando o processo, podemos trabalhar, agora, com a simulação (R=0 e
S=1) no tempo t0 e (R=0 e S=0) no tempo t1. Nesse exemplo, em t0 + td (n2) a
saída Q estará estabilizada com o valor lógico 0. Uma vez que existe a ligação física
entre a saída e uma das entradas da porta NOR n1, após o instante a saída de
estará estabilizada com o valor lógico 1.

Se supormos mais uma vez que t1 > t0 + td (n2) + td (n1) , é possível admitirmos
que, logo após o tempo t1, as saídas Q e Q continuaram com seus valores anteriores.
A figura 5 mostra as formas de onda para essa suposição.
valor indeterminado nada muda
t0 t1 nas saídas
(=desconhecido)
após t1
td(n2) td(n1)

Figura 5: Formas de onda para aplicação do vetor de entrada (R=0;S=1)


seguido do vetor (R=0;S=0) no latch RS.
É possível perceber que, em todas as situações vistas até aqui, os valores obtidos
pelas saídas Q e Q são sempre complementares, sendo este o motivo pelo qual
elas recebem tais denominações. Se aplicarmos o vetor de entrada (R=1 e S=1), as
duas saídas irão se estabilizar em 1, o que entra em conflito com o visto até agora.

Se um latch deve armazenar um dentre dois estados possíveis para uma variável
Booleana e se o estado está associado ao valor de Q e Q, onde Q exibe o estado

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e Q o seu complemento; então, como seria o estado representado pela situação
Q=1 e Q=1?

Por não haver uma resposta plausível a essa pergunta, acabou sendo decidido,
por convenção, que esse seria um estado proibido ou indeterminado; assim, a
situação (R=1 e S=1) deve sempre ser evitada, no caso do latch RS.

Conforme já mencionado, um latch, assim como um flip-flop, pode assumir


um dentre dois estados possíveis. Esses estados correspondem aos valores que uma
variável Booleana pode assumir, ou seja, 0 e 1. O estado 0 é chamado estado reset
e o estado 1 é também chamado estado set.

Ao analisarmos as formas de onda da figura 4, podemos extrair que a aplicação


do vetor (R=1 e S=0) faz com que o latch migre para o estado set (onde a saída é
estabilizada com o valor lógico 1), independente do seu estado anterior. Caso, após
isso, for aplicado o vetor (R=0 e S=0), o latch não muda seu estado.

Se continuarmos a análise com formas de onda da figura 5, podemos observar


que a aplicação do vetor (R=0 e S=1) faz com que o latch vá para o estado
reset (onde a saída Q estabiliza com o valor lógico 0), independente de seu estado
anterior. Se, após isso, for aplicado o vetor (R=0 e S=0), não muda o estado em
que o latch está, mas por outro lado, o vetor (R=1 e S=1) deve ser evitado, uma
vez que é o estado proibido.

Resumidamente, temos:

Tabela 1 - Resumo do Funcionamento Sequencial do latch RS


R S Q Q Ação
1 0 0 1 Vai para estado reset
0 0 0 1 Mantém estado reset (= estado anterior)
0 1 1 0 Vai para estado set
0 0 1 0 Mantém estado reset (= estado anterior)
1 1 0 0 Estado proibido
Fonte: TOCCI, Ronald J.; Sistemas Digitais

A tabela anterior pode ser escrita de maneira mais compacta, de modo a


incorporar a informação da dependência temporal.

Tabela 2 - Resumo de transição de estados para o latch RS


R S Qt+1 Comentário
0 0 Qt Mantém estado anterior
0 1 1 estado set
1 0 0 estado reset
1 1 - estado proibido
Fonte: TOCCI, Ronald J.; Sistemas Digitais

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UNIDADE Operações de Circuitos Digitais

Na tabela 2, há a listagem dos valores possíveis para as entradas na coluna à


esquerda, admitindo-se que esses valores estão sendo aplicados no instante de
tempo t. Para cada situação de entradas, o novo valor da saída para o instante
imediatamente posterior t+1 encontra-se na coluna à direita. Como a saída Q
sempre exibe o complemento da saída Q, apenas o valor de Q é listado, ficando
Q subentendido.

Diagrama de Estados
É possível expressar circuitos sequenciais por meio de um diagrama chamado
Diagrama de Estados, sendo o Latch RS um circuito sequencial, pode-se usar
um diagrama de estados para representar seu funcionamento, como pode ser
visto na figura 6.
R = 0 ∧ S =1

(R = 0 ∧ S = 0) ∨ (R = 0 ∧ S = 0) ∨
(R = 1 ∧ S = 0) (R = 0 ∧ S = 1)

reset set

R =1∧ S = 0

Figura 6: Diagrama de estados para o latch RS

No diagrama da figura 6, podem ser observados os estados reset e set


representados por nodos (os círculos). A transição entre os estados é representada
pelas setas. As condições das entradas, cuja determinada transição pode ocorrer,
está definida junto à aresta respectiva.

Um exemplo disso é o Latch RS no estado reset; para que ele vá para o estado
set, será necessário que (R=0 e S=1), caso isso não ocorra, o latch ficara no estado
em que se encontra.

Não é necessário desenhar o diagrama toda vez que houver uma ocorrência do
latch RS. Para facilitar, usa-se a simbologia apresentada na figura 7.

R Q

S Q

Figura 7: Símbolo do latch RS.

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Análise de Circuitos Sequenciais
É comum dentre os mecanismos de empregados na descrição de comporta-
mentos de circuitos sequenciais os Diagramas de Estados, as Tabelas de Transi-
ção de Estados, as Tabelas de Saídas e as Equações Booleanas.

Nós chamamos de análise o processo de avaliar e descrever o funcionamento de


um circuito, a partir de usa estrutura, ou seja, partimos de um esquema de projeto
de um circuito sequencial e determinamos o comportamento de seus recursos.

Como um exemplo de análise, vamos determinar uma tabela de transição de


estados, a tabela de saída e o diagrama de estados baseados no esquema da figura 8.
cnt

D0 Q0
Y

C Q0

D1 Q1

C Q1

CK

Figura 8: Esquema de Circuito Sequencial

Como pode ser visto, o circuito possui uma entrada camada (cnt) e uma saída
chamada (Y) e dois flip-flops.

Como primeiro passo na análise, temos de determinar as equações Booleanas


para as entradas de cada flip-flop, em função da entrada externa (cnt) e das saídas
dos flip-flops (Q0 e Q1), ficando:

D0 = cnt ⊕ Q0 = cnt × Q0 + cnt × Q0

D0 = cnt × Q1 + cnt × Q1 × Q0 + cnt × Q1 × Q0


As equações de D0 e D1 são conhecidas como “equações de excitação”, pois
elas descrevem o comportamento dos sinais que são aplicados às entradas dos
flip-flops, os quais irão determinar o estado do circuito sequencial para o próximo
ciclo de relógio.

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UNIDADE Operações de Circuitos Digitais

Para continuar a análise, é preciso aplicar as equações de excitação às equações


dos flip-flops, obtendo-se, assim, as “equações de estado”. Como no exemplo
da figura 8, temos flip-flops do tipo D, onde Qt+1 = Dt (a saída copia a entrada),
ficando as equações da seguinte forma:
Q0 t +1 = cnt × Q0 t + cnt × Q0 t

Q0 t +1 = cnt × Q1t + cnt × Q1t × Q0 t + cnt × Q1t × Q0 t


Y = Q0 × Q1 , para a saída

Utilizando as equações de estado, passa a ser possível montar a tabela de


transição de estados do circuito, onde, nas colunas mais para a esquerda, ficam
os valores referentes às variáveis de entrada e ao estado atual, enquanto que nas
colunas mais para a direita estão os valores correspondentes ao próximo esta-
do associado a cada combinação de entradas. Assim, os estados de um circuito
sequencial são definidos pelos valores binários armazenados nos seus flip-flops.

Dessa forma, temos quatro números de estados possíveis para o circuito


estudado, uma vez que as variáveis (Q0 e Q1) podem valor de 00, 01, 10 e 11.

Tabela 3: Tabela de transição de estados para o circuito da figura 8


Entrada Estado atual Próximo estado
cnt Q1t Q0t Q1t+1 Q0t+1
0 0 0 0 0
0 0 1 0 1
0 1 0 1 0
0 1 1 1 1
1 0 0 0 1
1 0 1 1 0
1 1 0 1 1
1 1 1 0 0
Fonte: TOCCI, Ronald J.; Sistemas Digitais

Na tabela, podemos observar oito combinações de entradas referentes aos 4


estados do circuito (estado atual), combinados com os 2 valores possíveis para a
entrada cnt.

Associado a cada uma destas combinações, existe um estado que será armazenado
pelo circuito após a próxima borda ascendente do sinal de relógio, que é o chamado
próximo estado. O próximo estado é definido pelas equações de estado:

Q0 t + t = cnt × Q0 t + cnt × Q0 t

Q0 t + t = cnt × Q0 t + cnt × Q0 t × Q0 t + cnt × Q1t × Q0 t


Também pode ser observado na tabela que sempre que (cnt) valer 0, o próximo
estado será igual ao estado atual, ou seja, não se muda de estado. Já quando (cnt)
vale 1 o circuito muda de estado na chegada de uma borda ascendente do relógio
(clock). Utilizando a equação de saída, temos, agora, a tabela de saída, conforme
a tabela 4.

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Tabela 4: Tabela de saída para o circuito da figura 8
Entrada Estado atual Saída
cnt Q1t Q0t Y
0 0 0 0
0 0 1 0
0 1 0 0
0 1 1 1
1 0 0 0
1 0 1 0
1 1 0 0
1 1 1 1
Fonte: TOCCI, Ronald J.; Sistemas Digitais

Tendo as tabelas de transição de estado e de saída, pode ter também uma


representação gráfica das informações das tabelas, a essa representação chamamos
de “Diagrama de Estados”, onde cada estado que o circuito pode armazenar é
representado por um nó em que são registrados os valores das variáveis de estado
e os valores das variáveis de saídas do circuito.

Nesse diagrama, temos as transições entre estados indicados por arestas (os
arcos com as setas) e junto a cada uma dessas arestas são anotadas as condições
das variáveis de entrada necessárias para a transição ocorrer.

Na figura 9, você pode observar o diagrama gerado para o circuito da figura


8, onde fica fácil perceber que o sinal (cnt) é um sinal de habilitação, em que se
(cnt)=0 a contagem é parada (os flip-flops mantêm os estados) e se (cnt)=1, o
circuito continua a contagem de onde parou. Com essa observação, pode-se dizer
que é a representação de um contador síncrono de módulo-4 (que conta de 0 a
3). Além disso, o sinal de saída Y serve para indicar quando a contagem atingiu o
valor 3 (Q1=1 e Q0=1). Logo, enquanto o circuito permanecer no estado 11, Y
permanecerá com o valor 1.

cnt=1
cnt=0 Q1Q0=00 Q1Q0=01 cnt=0
Y=0 Y=0

cnt=1 cnt=1

cnt=1
Q1Q0=11 Q1Q0=10
cnt=0 cnt=0
Y=1 Y=0

Figura 9: Diagrama de estados para o circuito sequencial da figura 8

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UNIDADE Operações de Circuitos Digitais

Na figura 10, são mostradas formas de onda que ilustram uma possível contagem:
o circuito foi suposto partir do estado 00 e o sinal (cnt) foi mantido com valor
lógico 1 por 3 ciclos de relógio consecutivos. Após, (cnt) foi feito igual a zero, o
que desabilitou a contagem. Com isso, o circuito contou de 0 a 3, parando em 3.
Verifique o comportamento da saída Y durante esta operação.
t0 t1 t2 t3

CK

cnt

Q1

Q0

Y
Figura 10: Diagrama de tempos para uma possível operação do circuito sequencial da figura 8

Vamos realizar mais exemplo que será bastante importante para o próximo
conceito. Vamos determinar a tabela de transição de estados, a tabela de saída e o
diagrama de estados para o circuito apresentado na figura 11.
cnt

D0 Q0
Y

C Q0

D1 Q1

C Q1

CK

Figura 11: Esquema de Circuito Sequencial

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Este circuito estudado agora se diferencia do apresentado anteriormente no
elemento de saída Y, que apesar de também depender da entrada (cnt), neste
caso, Y=1 somente quando (Q1 e Q0 = 11) e (cnt)=1 (somente quando o circuito
estiver contado).

Y = cnt x Q0 x Q1, para a saída

Como a diferença desse circuito está na saída, a tabela de transição de estados é a


mesma do exemplo anterior, ficando diferente somente a tabela de saída conforme
apresentado abaixo:
Tabela 5: Tabela de saída para o circuito da figura 11
Entrada Estado atual Saída
cnt Q1t Q0t Y
0 0 0 0
0 0 1 0
0 1 0 0
0 1 1 0
1 0 0 0
1 0 1 0
1 1 0 0
1 1 1 1
Fonte: TOCCI, Ronald J.; Sistemas Digitais

No diagrama de estados desse exemplo, além de se anotar as condições de


entrada para a transição ocorrer em cada aresta, anotam-se também os valores das
saídas, ficando como mostrado na figura 12.

cnt=1 / Y=0
cnt=0 / Y=0 Q1Q0=00 Q1Q0=01 cnt=0 / Y=0

cnt=1 / Y=1 cnt=1 / Y=0

cnt=1 / Y=0
cnt=0 / Y=0 Q1Q0=11 Q1Q0=10 cnt=0 / Y=0

Figura 12: Diagrama de estados para o circuito sequencial da figura 11

Na figura 13, são mostradas formas de onda que ilustram uma possível operação
do Circuito O circuito conta de 0 até 3. No meio do ciclo em que a contagem atinge
o valor 3 (portanto, Y=1), o sinal (cnt) passa a valer 0, o que suspende a contagem
e faz Y passar para 0.

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UNIDADE Operações de Circuitos Digitais

t0 t1 t2 t3

CK

cnt

Q1

Q0

Y
Figura 13: Diagrama de tempos para uma possível operação do circuito sequencial da figura 11

Máquinas de Estados
Nos dois exemplos anteriores, cada um dos circuitos estudados por nós
corresponde a um dos modelos possíveis de circuitos sequenciais, sendo eles:
cnt cnt

D0 Q0 D0 Q0
Y Y

C Q0 C Q0

D1 Q1 D1 Q1

C Q1 C Q1

CK CK

Exemplo1: Modelo dependente dos estados Exemplo2: Modelo dependente das entradas
ou modelo de Moore. ou modelo de Mealy.
Figura 14: Modelos de Circuitos Sequenciais

No caso do modelo de Moore, as saídas dependem única e exclusivamente do


estado em que o circuito se encontra, de modo que uma mudança nos valores das
entradas só toma efeito após a próxima borda do relógio. Já no caso do modelo de
Mealy, as saídas dependem não somente do estado em que o circuito se encontra,
mas também do valor atual das entradas externas, de modo que se estas se alteraram
ainda antes da troca de estados, as saídas do circuito podem se alterar.

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As figuras 15 e 16 mostram os diagramas de blocos para o modelo de Moore e
de Mealy, respectivamente.
Entradas
I1 I2 In CK

D1 Q1
FF1
> Q1
O1
D1 Q1
O2
lógica de FF2 Saídas
> Q1 lógica de saída
próximo estado On

D1 Q1
FF3
> Q1

Figura 15: Diagrama de blocos para o modelo de Moore


Nos diagramas de bloco, o bloco combinacional é subdividido em dois outros
blocos; um deles fica responsável pela geração do próximo estado, chamado “bloco
de próximo estado” (implementando equações de estado apenas) e outro bloco que
gera os valores de saída chamado de “bloco de saída”. Além desses blocos de lógica
combinacional, existe um conjunto de flip-flops que armazenam os estados do
circuito, sendo o número de estados possíveis 2n, sendo (n) o número de flip-flops.

No caso dos Exemplos 1 e 2, o bloco de saída caba sendo constituído apenas


pela porta E que gera o sinal de saída Y e o bloco de próximo estado contém as
portas que estão à esquerda dos flip-flops, sendo essas as que implementam as
funções de estado.
Entradas
I1 I2 In CK

D1 Q1
FF1
> Q1
O1
D1 Q1
O2
lógica de FF2 Saídas
> Q1 lógica de saída
próximo estado On

D1 Q1
FF3
> Q1

Figura 16: Diagrama de blocos para o modelo de Mealy

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UNIDADE Operações de Circuitos Digitais

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Eletrônica Digital - Teoria e Laboratório
Garcia, P. A., Eletrônica Digital - Teoria e Laboratório, Ed. Érica, 2006, ISBN:
853650109X
Eletrônica Digital Moderna e VHDL
Pedroni, A. V., Eletrônica Digital Moderna e VHDL, 1a edição, Ed. Campus
Eletrônica Digital: Lógica Combinacional
BIGNELL, J. W., DONOVAN R., L.: Eletrônica Digital: Lógica Combinacional, vol
1, Ed. Makron Books, 1995
Fundamentals of Digital Logic with VHDL Design
Stephen Brown, Zvonko Vranesic; Fundamentals of Digital Logic with VHDL
Design; 3a Edição; McGraw-Hill; 2008
Sistemas Digitais - Fundamentos e Aplicações
Floyd, Thomas L., Sistemas Digitais - Fundamentos e Aplicações, 9a Ed, Bookman,
2007. ISBN: 9788560031931

 Leitura
Circuitos Seqüenciais
https://goo.gl/mz193N

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Referências
IDOETA, I. V., CAPUANO, F. G., Elementos de Eletrônica Digital, Ed. Érica,
Ed. 40, 2000.

SEDRA A., S. et all: Microeletrônica, Ed. Makron Books, 1994

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