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Saúde &
Espiritualidade
Nº 15 • JUL / AGO / SET 2014
A alma chora...
A
Mediante as dores da alma, as pessoas vão os frutos destas escolhas que o tempo, elemento
levando o seu dia-a-dia sem se aperceberem que inexorável da vida, devolve imediatamente pelas
vão ou estão adoecendo... A correria da vida, leis universais na forma de situações para que haja
entranhas cármicas nem sempre bem assumidas algo não vai bem nesta trajetória humana, que é falível
por parte de quem pouco ama o seu semelhante por natureza, mas é também ávida de aprendizado se
(pela genética ou pela companhia), vão de alguma tiver cabeça para pensar, ouvidos de ouvir e olhos de
sentimentos e intenções para consigo mesmo. mentais ou psicológicas é quando ainda mais se
Pensando somente no prazer imediato que esta ou acentua a imaturidade humana para transformar seus
o indivíduo vende sua alma à sedução barata da reclamar ou blasfemar contra tudo e contra todos,
ilusão das aparências, e preenche de lama aquilo suas ilusões e frustrações não correspondidas de
que deveria ser composto de paz de espírito. Sua acordo com a sua vontade. Depressões, ansiedades,
religiosidade se resume apenas a um bom dia ou somatizações variadas, inúmeras compulsões onde
uma boa noite ao Criador antes de se desligar de abusos de comportamento demonstram no mínimo
sua jornada sem uma conversa mais intimista com um desequilíbrio, etilismo, drogadição e finalmente
o Pai, sempre disposto a ouvir e orientar seus filhos, ideias de abreviação da própria vida surgem cada
pois afinal de contas não dá tempo mesmo e não vez mais nas estatísticas em nossa “moderna”
tem tanta importância assim já que se defende sociedade do século XXI. Pesquisas do Departamento
dizendo com toda sua prepotência, que ele que é de Psiquiatria da Universidade de Oxford, no Reino
o super-herói de sua própria vida. Daí para colher Unido, demonstraram que doenças mentais graves
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a vinte anos na trajetória de uma pessoa, sendo deixando de lado valores ditos piegas por parte
um problema tão ou mais grave quanto às mortes da sociedade consumista e liberalista onde tudo
por doenças físicas. Sem contar também que se pode para se buscar a tal felicidade a qualquer
muitos doentes esquizofrênicos são literalmente preço doa a quem doer. Amor incondicional,
ignorados por alguns profissionais de saúde quando generosidade, fé racionalizada, perdão, brandura,
apresentam também enfermidades orgânicas. resignação nunca foram tão necessários nos
Mas o que abordamos aqui nestas poucas linhas é inter-relacionamentos humanos. Fingir se tratar
que precisamos alertar sobre a etiofisiopatogenia das dores da alma pelo fim, ou seja, somente
como um todo e o quanto as questões do nosso sem o substrato de uma renovação interior no
próprio jeito de ser, que vem sendo construído há receituário médico, torna o profissional da saúde
séculos, são corresponsáveis no surgimento ou não, humana muito limitado, não sendo à toa que os
conforme as nossas escolhas pessoais diárias, dos ambulatórios de psiquiatria estão cada vez mais
ditos transtornos mentais na saúde humana. O cheios de gente cada vez mais vazias de esperança.
Sumário
Editorial 2
Dr. Responde 4
Médico-Espírita na Prática:
s Dor
u – Uma
m á abordagem
r i médico
o espírita Dr. Rodolfo Moraes 6
Notícias 24
Saúde e Espiritualidade é uma publicação da Associação Médico Espírita do Brasil (AME Brasil). AME Brasil - Diretoria - Biênio 2013-2015. Presidente: Dra.
Marlene Rossi Severino Nobre. Vice-Presidente: Dr. Gílson Luís Roberto. 1º Secretário: Jorge Cecílio Daher Júnior. Tesoureira: Dra. Márcia Regina Colasante
Salgado. Conselho Editorial: Alessandra Granero Lucchetti, Carlos Roberto de Souza, Décio Iandoli Júnior, Fernando Augusto Garcia Guimarães, Fernando de
Souza, Fernando Sant’Anna, Giancarlo Lucchetti, Jorge Cecílio Daher Júnior, José Roberto Pereira Santos, Márcia Regina Colasante Salgado, Marlene Rossi
Severino Nobre, Paulo Batistuta, Sérgio Luís Lopes, Vicente Pessoa Júnior. Textos: Gílson Luís Roberto, Rodolfo Moraes, Rossandro Klinjey. Arte e Projeto Gráfico:
André Egido. Jornalista Responsável: Giovana Campos: MTb 28.767. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Associação Médico-
Espírita do Brasil - Av. Pedro Severino, 323 – Jabaquara - São Paulo/SP - CEP: 04310-060 amebrasil@amebrasil.org.br
Dr. Responde
D R . R E S P O N D E
Passe Magnético e Depressão obsessões que o tempo todo tentam nos afastar. O
Preciso de uma ajuda sobre o tema depressão, humor dela muda de repente e às
assisti ao vídeo - Estudando a Depressão - que em vezes do nada! Sou extremamente equilibrado e con-
resumo para que possamos sair da depressão nós te- sigo contornas muitas situações, mas às vezes, aca-
mos que tomas as seguintes atitudes: receber passes, bo perdendo o controle e caio também de vibração.
assistir a palestras, tomar água fluidificada, orar e Vocês poderiam nos ajudar?
ir ao médico especialista. Em seu livro O passe como (D.N. – Brasília – DF)
cura magnética, não fala se há um passe específico Prezado irmão D.
para depressivo, isto é, há passe específico, usando
técnicas diferentes, no passe para depressivo? Inicialmente lembramos que Emmanuel em O Con-
(M.Z. – Brasília – DF) solador, pergunta 175, diz-nos que o instituto família é
organizado no plano espiritual com as “almas” com as
Prezada M., quais temos necessidade de trabalhar nossos sentimen-
tos e refazimento de atos para o bem. Sugerimos uma
A depressão tem de ser tratada como doença multifato- dose de paciência uma vez que já observou uma proble-
rial que tem que ter assistência médica e espiritual. Não mática e está como parte equilibrada da situação, então
se descuide de ir ao médico, prestar atenção no diagnós- existem algumas intervenções que dependem de nós:
tico que lhe for dado e tomar os medicamentos recomen-
dados. Antes de iniciar um tratamento espiritual devemos
No meu livro não falo em passes especiais para a depres- sempre buscar uma avaliação com um profissional de
são, porque isso não existe. Os passes constituem exce- saúde mental para afastar qualquer origem orgânica a
lente medicação para todas as doenças. qual deveria ser tratada em concomitância com o trata-
Constituem em transfusão de energia vital de uma pes- mento do espírito.
soa para outra. Eles são direcionados, principalmente,
pelos médicos do além a fim de melhorar a condição do 1. Promoção do estudo e culto do evangelho do lar,
doente encarnado. Tudo vai depender da absorção que o mesmo que ela não participe, isto higieniza o ambiente
paciente fizer do auxílio que lhe é dado. e também auxilia aqueles desencarnados que ali estão
Continue com fé a realizar o tratamento médico e espi- para receber amor e orientação - o obsessor nada mais
ritual. Os milagres são obras da fé, diz o Evangelho de é que um irmão nosso o qual sofreu os nossos disparates
Jesus. em vidas passadas e agora nos cobra pesado débito,
então, para lhes alcançar o perdão não basta afastá-los
Dra. Marlene Nobre – Presidente da AME-Brasil mas também alterarmos o nosso mundo íntimo nas ati-
tudes do cotidiano e com isto induzindo-lhes a reflexão
de também modificarem-se.
Tratamento Espiritual
Tenho uma Companheira que muda o humor cons- 2. O cultivo da prece solicitando auxílio dos seus men-
tantemente. Nós somos espíritas. Ela é obsediada por tores.
encarnados e desencarnados, mas tem dificuldades
para acreditar nessa possibilidade, porque nas Casas 3. Procurar a prática do Bem: dizem nossos benfeitores
Espíritas nada falam da situação. Sou extremamente espirituais que não existe um coração endurecido que
compreensivo, mas ela com relação a mim sofre cons- não ceda diante de uma prática de amor desinteressada.
tantes obsessões. Estamos bem e do nada ela começa
a se irritar por coisas bobas. Ela tem uma mediuni- 4. Por fim acrescentamos a Casa Espírita, em Brasília
dade muita aguçada, vidente e tem vários desdobra- existem casas que prestam excelente trabalho, não
mentos, mas não consegue por si só se livrar dessas precisamos buscar um rótulo de tratamento, pois o dife-
não decide ao acaso quem irá sofrer, ou sofrerá menos Denis no livro O problema do ser, do destino e da dor:
ou mais. Crendo na sua bondade e justiça infinitas, “Tudo se resgata e repara pela dor. Há, vimos, uma arte
concluiremos que o acaso não existe e que tudo o que profunda nos processos que ela emprega para modelar
acontece, seja de bom ou de mal, fará sempre parte a alma humana e, quando esta se transvia, reconduzi-la
da execução de suas leis, que são perfeitas. Todo efeito à ordem sublime das coisas”4.
tem uma causa. Na imensa maioria das vezes, as angustias da alma
Há um ditado antigo e bastante conhecido que diz: são sofrimentos silenciosos, que passam despercebidos.
“se não vai pelo amor, vai pela dor”. Trata-se de frase Acomodados em nossas máscaras, enquanto encarna-
simples, pequena, mas com significado muito profundo dos, julgamos as aparências. Dessa forma, pessoas apa-
e verdadeiro. O caminho que Deus nos propõe é o do rentemente felizes e realizadas podem carregar, dentro
amor, que nos conduz à paz de espirito e à felicidade, de si, dores indefiníveis. Quando temos a oportunidade
sem dores ou sofrimentos. No entanto, ao longo de de sondar o interior dessas almas, nos assustamos com
nossa existência, durante múltiplas reencarnações, es- a carga de pesar aí existente.
colhemos caminhos que são opostos, plantando coisas E não dá para se aferir ou se comparar isso. Não po-
ruins, sentimentos ruins, através dos quais colheremos demos medir esse ou aquele “nível de rancor” de cada
(ou estamos colhendo) muitas dores e sofrimentos. alma. Não podemos pontuar o “orgulho ferido” deste
No Livro dos Espíritos, questão 257, somos instruídos ou daquele irmão. Cada um sabe a dor que tem e o que
a respeito da origem de nossos sofrimentos: “Remonte é sofrimento insuportável para uns, pode não ser para
cada um à origem deles e verá que a maior parte de tais outros, e assim por diante. Assim, cabe-nos respeitar as
sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido pos- queixas e as dores de nossos irmãos, no exato modo
sível evitar”3. Em algum momento de nossas vidas, por- como são descritas.
tanto, seja nessa ou em outras, plantamos as sementes O que agrava ainda mais a sensação de sofrimento
que nos conduziram aos sofrimentos atuais. Não fomos da alma é a sensação de que sua dor é interminável.
obrigados a plantá-las, mas usamos de nosso livre arbí- Quando cortamos o pé, por exemplo, sabemos que,
trio para tanto e devemos arcar com as consequências. por mais intensa que seja a dor, ela terá um fim, quan-
Em um dado momento, o ciumento que agora sofre do fizermos uma sutura, um curativo e tomarmos um
poderia ter exercido o desprendimento, entendido que analgésico. Agora, com relação ao que vai em nosso
ninguém tem a posse de ninguém, mas não. O ciúme coração, muitas vezes não vemos ou não dispomos de
penetrou seu coração, que ofereceu campo aberto para solução, o que faz com que o sofrimento pareça ainda
tanto, e o sofrimento foi consequência. Se hoje eu sofro maior. Quando não enxergamos um fim, as dores pare-
as dores da solidão, por exemplo, pode ser por, num cem maiores.
dado momento de minha vida, não ter perdoado um Outro fato importante é que todas essas mágoas
amigo arrependido, que então se afastou de mim. E acumuladas em nosso interior podem desencadear do-
assim por diante. enças em longo prazo. Aliás, na maioria das vezes é isso
A dor, portanto, vem, assim como no caso da dor físi- que acontece. Sentimentos ruins armazenados levando
ca para o corpo, nos lembrar de que algo está errado em a um estado de estresse crônico que acaba por gerar
nossas almas, em nossas vidas. Quando nos sentimos desequilíbrios em nossos sistemas orgânicos. Surgem
angustiados e paramos para pensar, podemos sempre as crises hipertensivas, as enxaquecas, as lombalgias, as
encontrar as causas, por mais recônditas que estejam. doenças endocrinológicas, câncer, entre diversas outras.
Se nossos atos e escolhas fossem inconsequentes, ou O corpo somatizará de alguma forma o sofrimento da
só gerassem felicidade, por piores que fossem, jamais alma, a menos que interrompamos esse processo, bus-
teríamos estímulos para a melhoria. Como disse Leon cando a superação.
Buscando a superação das dores. Sinceramente, acredito que ainda menosprezamos o po-
Antes de tudo, para superarmos um problema (e a dor der da oração em nossas vidas, bem como na de nossos
pode ser considerada dessa forma) precisamos com- semelhantes.
preendê-lo. Precisamos voltar para nós mesmos e nos Quando se ora ciente das coisas que mencionamos
questionarmos: Por que eu? Por que assim? Por que ago- até aqui, da lei de causa e efeito, das possíveis origens de
ra? Devemos, como orienta a espiritualidade, voltar nas suas dores, a pessoa o faz de forma diferente. Ela deixa
origens para entendermos o que está se passando em de dizer simplesmente “pai tira essa dor e esse sofrimen-
nossas vidas. Aquele que não expande seu olhar sobre si to de mim” (o que, aliás, não está em nada errado em se
mesmo e sobre suas próprias mazelas, buscando compre- pedir para um pai misericordioso) e passa a dizer tam-
endê-las, jamais sairá do círculo vicioso do conformismo bém “pai, tira essa dor de mim, se assim for possível e de
infrutífero. Buscando tal compreensão, nós fatalmente meu merecimento. Se não, dai-me Pai coragem para bus-
nos espiritualizaremos. car a cura ou o alivio e a força suficiente para suportar o
Outro importante trunfo que temos é a oração. Ela nos que me cabe, para meu próprio bem e daqueles que me
servirá de forma direta, através do recebimento de fluidos amam”. As coisas mudam quando há compreensão.
benéficos para nossa saúde, e indireta, dando-nos força A resignação que se busca diante da dor e do sofri-
e estímulos para o enfrentamento de nossos problemas. mento não é a total e completa aceitação dos mesmos,
levando a um “cruzar de braços” que em nada contribui Queridos leitores e leitoras, irmãos e irmãs. A verdade
para nossa evolução. O individuo resignado, de forma é que não existem fórmulas mágicas ou roteiros pré-
cristã, aceita o que lhe é imposto por que conhece as leis -estabelecidos para que possamos superar nossas dores,
de causa e efeito, mas por outro lado usa sua força e in- estejam elas no corpo, na alma ou em ambos. Cada
teligência para superar o problema, ou pelo menos aliviá- um terá que traçar seu próprio caminho. De uma coisa
-lo, de alguma forma. Ou, mesmo com a dor instalada, sabemos: todos os nossos caminhos para o bem devem
busca fazer o melhor da parte que lhe cabe na harmonia passar pelo Evangelho do Cristo, roteiro maior para nossa
da vida, para o próprio bem e de seus semelhantes. cura espiritual.
Seguindo nossas ponderações sobre a superação da Ninguém mais do que Ele exemplificou isso. Foi traí-
dor, temos o trabalho como fonte inesgotável de recursos do, abandonado, açoitado, carregou a própria cruz na
analgésicos para nossas vidas. Lembrando que, como dis- qual seria crucificado com pregos, usou uma coroa de
seram os espíritos, na questão 675 do Livro dos Espíritos, espinhos. Ser perfeito que é, sofreu, sem merecimento,
“toda ocupação útil é um trabalho”5. Portanto, ocupar descendo até nós para nos ensinar como devemos nos
nossas mentes é fundamental, e não apenas sentar-se portar diante das dificuldades: com esquecimento de si
e ficar “curtindo o sofrimento”. Uma boa conversa, uma mesmo, com perdão, com caridade, com oração, enfim,
boa leitura, um trabalho, beneficente ou não são recursos com muito amor.
preventivos importantes para quem sofre de dor crônica. Sigamos seu exemplo! O Evangelho é analgésico para
Não raro ouvimos expressões como “Doutor, quando eu o corpo e a alma!
trabalho até esqueço minha dor...”. Afinal de contas, como disse Carlos Drummond de An-
Outra forma de aliviar nossas dores é, sem duvida, drade, a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.
observarmos as dores do próximo. Normalmente, en-
ceguecidos por nosso egoísmo, damos valor apenas às Referências Bibliográficas
nossas dores, que se tornam grandes, fazendo com que Seybold KS. Physiological Mechanisms Involved in
pensemos coisas do tipo “ninguém sofre mais do que eu”. Religiosity/Spirituality and Health. J Behav Med, 2007;
Assim, elas assumem proporções que normalmente não 30:3003-9.
deveriam ter. Se, por outro lado, observássemos o que faz Moreira-Almeida, A; Koenig, HG. Religiousness and
nossos irmãos, às vezes tão próximos, sofrerem e chora- spirituality in fibromyalgia and chronic pain patients.
rem, e nos apiedássemos deles, nossas dores seriam re- Current Pain and Headache Reports, v. 12, p. 327-332,
duzidas ao tamanho que merecem e até perceberíamos 2008.
o quanto somos abençoados. Kardec, A. O Livro dos Espíritos, questão 257. Rio de
Faço questão de citar pequeno trecho do Evangelho Janeiro: FEB, 2010.
Segundo o Espiritismo que fala de grande parte daquilo Denis, L. O problema do ser, do destino e da dor. São
que aqui tentamos colocar. Está localizado no capitulo Paulo: Petit, 2000.
IX, no item sobre a paciência: “A vida é difícil, bem o sei. Kardec, A. O Livro dos Espíritos, questão 675. Rio de
Compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas Janeiro: FEB, 2010.
de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, aten- _________. Capítulo IX: Bem Aventurado os mansos
tarmos nos deveres que nos são impostos, nas consola- e pacíficos. In: __________ Evangelho segundo o Espiri-
ções e compensações que, por outro lado, recebemos, tismo. Rio de Janeiro. FEB: 2002.
havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais
numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesa-
do, quando se olha para o alto, do que quando se curva Rodolfo Moraes Silva – médico especialista em clínica médica, pós-
graduado em dor, área de atuação em clínica da dor e cuidados
para a terra a fronte”6. paliativos. Presidente da AME Franca-SP.
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Espiritismo
e Saúde Mental
U Uma das queixas mais comuns que encontramos no
atendimento espírita se refere aos aspectos emocionais.
Há uma grande busca de apoio para as angústias e afli-
ções da vida. Situações essas que fazem parte da história
de todos nós, mostrando que o problema de um é de
todos e que estamos congregados na grande família
desconhecido ou não aceito por muitos. A personalidade
é um arranjo, uma forma da psique se organizar e de se
mostrar numa determinada encarnação.
Essa personalidade é resultado dos conteúdos intrapsí-
quicos que trazemos das inúmeras experiências reencar-
natórias somados às influências dos pais e do meio em
humana. que nascemos.
No atendimento fraterno não se busca um diagnóstico, Esses conteúdos do passado carregam uma cota de
a tônica é a fraternidade, mas isso não invalida a neces- energia psíquica, e sua maior ou menor influência no
sidade de conhecermos alguns referenciais sobre saúde presente dependerá da carga emocional que conduzam.
mental. Através do conhecimento, ampliamos a possibili- Da mesma forma, a influência dos pais e do meio estará
dade de compreensão de cada situação auxiliando com relacionada com a carga emocional que essa experiência
maior eficiência. vai gerar, seja ela positiva ou não, e de como ela é acolhi-
Existem inúmeras concepções da mente. Assim como da pela alma.
cada corrente filosófica tem um olhar diferenciado de É fundamental ressaltar que o espírito é quem sempre
mundo e de homem, as diversas abordagens psicológicas dá o sentido da experiência. Cada um vai olhar o mundo
vão ver a mente sob determinado ângulo e entendimen- com os olhos que têm. É por isso que numa mesma
to. situação familiar, por exemplo, cada espírito encarnado
Para nós espíritas, os conceitos de mente e de alma se como filhos reagirão de forma individual, dando um
confundem. Podemos, por uma questão didática, tentar colorido emocional diferente a cada situação.
separar as duas coisas, mas no fundo elas são indissocia- Sabemos que nesse mundo de provas e expiação todos
das, já que a mente é a própria expressão do espírito. O possuímos um passado difícil, naturalmente somos força-
termo psicologia (psico = alma + logia = estudo) já nos dos a concluir que todos trazem feridas da alma.
remete a esse entendimento. A individualidade vive dentro de um contexto coletivo,
A mente, portanto, é o instrumento de relação da alma onde se movimenta no meio de milhares de ondas men-
com o mundo, através da qual se expressa e se movimen- tais, no qual está constantemente influenciando e sendo
ta revelando a sua natureza. influenciado conforme a nossa forma particular de sentir
Em cada nova encarnação, formamos uma personali- e ver a vida.
dade. Embora a personalidade seja vista dentro da psico- Portanto, além dos conteúdos do passado, teremos
logia como uma totalidade, essa visão deve ser entendi- que enfrentar a realidade que a vida nos reserva, com
da dentro de uma contextualidade, já que o conhecimen- suas dificuldades e surpresas. Dentro dessa realidade, so-
to da sobrevivência da alma e da reencarnação ainda é mos convocados a agir, fazendo escolhas que se refletirá
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no nosso processo individual, ao mesmo tempo em que nossos atos. Mas como em qualquer outra situação, é
demonstramos o grau de maturidade emocional e espiri- preciso avaliar a sua adequação, em que medida, em
tual que já conquistamos. que momento e de que forma ela aparece. O problema,
O desafio se torna ainda maior na atualidade, já que portanto, não é de sentir culpa, mas o de ficarmos presos
passamos por uma crise de proporção mundial, com per- nela e fixados no passado. Aí, a culpa, em vez de ser liber-
da dos referenciais morais e o aumento assustador das tadora, é aprisionante e asfixiante.
doenças emocionais como a depressão e a ansiedade. A culpa nos abre a possibilidade de reconhecimento
Vivemos a pós-modernidade com a sua superficialidade, do erro e a perspectiva de mudança. Ela impõe uma
onde a imagem e o ter sobrepõem à realidade e o ser, dolorida pausa reflexiva apontando e cutucando as
patologizando as relações e gerando uma maior insegu- nossas feridas para percebê-las e dimensioná-las. A sua
rança. presença deve nos apontar uma nova atitude, uma mu-
Não é nosso objetivo se ater aqui na análise das causas dança que nos liberta do passado e condicionamentos
das doenças mentais, mas sim procurar entender o seu inadequados. O problema é que na maioria das vezes
significado e para onde nos aponta, refletindo um pouco não sabemos lidar com essa dor devido a nossa dificul-
sobre algumas queixas e de que forma o entendimento dade de perdoar, tanto ao outro como a nós próprios.
espiritual pode nos ajudar. Como ainda não dominamos a capacidade de amar,
Toda a doença possui um significado e um objetivo. As que cura todas as nossas feridas, acabamos pegando um
doenças mentais vêm chamar a atenção para a falta de caminho mais “fácil” ou o único que sabemos que é o do
cuidado para com a nossa realidade interna, que esta- julgamento e da punição como forma de tentar aliviar a
mos muito preocupados e voltados para com as coisas tensão interna gerada pela culpa.
de fora e esquecendo-se de cuidar daquilo que é o mais Se essa culpa está associada a uma onipotência, assu-
essencial e vital para a nossa felicidade, a alma humana. mimos a culpa do mundo todo. Nos responsabilizamos
Esquecidos da alma, perdemos o rumo, desvirtuamos os por tudo que acontece. Ficamos “poderosos”, um poder
objetivos essenciais da vida, tornamo-nos autômatos e mágico de interferir na vida, só que destrutiva. Achamos
sem profundidade. A doença mental é uma forma de res- que tudo que acontece de ruim é nossa responsabilidade,
gatar esse olhar, impor uma pausa reflexiva sobre como é um pensamento de grandiosidade, de poder divino.
estamos levando a vida, quais os valores que elegemos, Nosso imaginário está alimentado pelo nosso orgulho e
exigindo um olhar mais cuidadoso e uma mudança de onipotência. Ou seja, a nossa não pode ser apenas uma
atitude. Mesmo as situações traumáticas, que abalam a “culpinha”, tem que ser a maior de todas as culpas.
nossa estrutura emocional, tem algo para nos dizer. A culpa faz com fiquemos remoendo e nos punindo,
Entre as queixas mais comuns para a nossa análise só que isso não resolve nada e acabamos enrodilhados
destacaremos a culpa, os medos ou inseguranças, a nesse círculo, gastando uma energia enorme sem resulta-
ansiedade e a tristeza. dos, ou caindo na armadilha da autopiedade, o do “coi-
A culpa é inerente ao ser humano. À medida que tadinho”, e passamos justificar a nossa imobilidade com
vamos ampliando a nossa consciência, a nossa noção a desculpa do estarmos sofrendo e assim nada fazemos
de erro e a capacidade de discernimento também vai para mudar a situação. A consciência do erro exige uma
aumentando. As mais graves patologias mentais são atitude ativa, de responsabilidade e de ação. É preciso se
aquelas em que o indivíduo não tem nenhuma noção responsabilizar, assumir as conseqüências dos atos reali-
dos seus erros. Os psicopatas são frios e calculistas, não zados. Como “adultos” emocionais, se “sujamos” é preciso
conseguem dimensionar a gravidade do ato e não con- suportar o cheiro desconfortável e limpar a “sujeira” e não
seguem acessar o arrependimento, que só aparece com jogá-la no terreno do vizinho.
o sentimento de culpa. A culpa não só é inerente como Outro mecanismo defensivo reflete a dificuldade de
necessária. Ela é conseqüência da noção do outro e dos lidarmos com o nosso orgulho. A culpa revela a nossa
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casos viram tormentos. A questão é bem maior do A ansiedade, por sua vez gera uma necessidade, uma
que simples ter ou não ter. Por mais que construamos preocupação de querer controlar a vida. É preciso dar
um “castelo perfeito”, chegará o dia que seremos conta de tudo, tudo deve estar sob o nosso olhar e nossas
surpreendidos por algo ou mesmo pela morte. Na minha mãos. Essa necessidade leva a querer antecipar as coisas,
vida de médico, naqueles momentos em que a ciência a resolver tudo antes delas acontecerem. É o que cha-
não consegue mais oferecer algo, presenciei muitos mamos de ansiedade antecipatória, sofremos antes das
pacientes que dariam todo o seu dinheiro por um pouco coisas acontecerem, e quando acontecem geralmente
de fé que lhe sustentasse a paz. Mas a fé não se compra são bem mais simples que imaginamos. Essa é uma das
em supermercados e nem nos shopping centers, é algo grandes armadilhas da mente. Ficamos presos na própria
que se adquire com muito esforço. A fé é a ginástica da mente, remoendo as preocupações como se fosse uma
alma, é uma árdua conquista! É por isso que vivemos teia de aranha em que ficamos nos debatendo. Aquilo
cheios de medos. Medo da vida, medo da morte, medo que parece ser um grande controle na verdade é um
do outro, medo de errar, medo de tudo. Está nos faltando grande descontrole. Queremos enganar a mente e somos
fé na vida, fé no futuro, fé no homem, fé em si mesmo por ela enganados. Tudo isso é fruto da nossa inseguran-
e principalmente fé em Deus nosso Pai que nunca dos ça e onipotência. Quem tem o controle da vida e de tudo
desampara. não somos nós, é DEUS! Na verdade o que precisamos
O medo que demonstra uma fuga de nós mesmos. não é controlar e sim entregar nossas vidas a Deus. É ne-
Para superarmos os medos primeiramente é preciso reco- cessário fazer o nosso melhor e o possível, depositando o
nhecê-los e acolhe-los para depois enfrentá-los. resto em Suas mãos sábias e operosas.
Uma das consequências do medo é ansiedade. O A ansiedade nos leva a necessidade de cultivarmos a
medo de enfrentar a vida, que representa nossos fantas- paciência. Paciência é a ciência da paz, filha da tolerân-
mas internos, provoca ansiedade. Em muitos casos esse cia e da sabedoria.
medo está associado a culpa. Quando reencarnamos, Muitos confundem a paciência com submissão ou ina-
temos consciência do nosso passado e de quando pre- tividade. Ao contrário, a paciência é uma atitude ativa de
cisamos fazer para superá-lo. Mas se nos prendermos superação das dificuldades. É uma perseverança que nos
demasiadamente a essa exigência ou numa atitude leva suportar as adversidades sem perder a nossa paz.
autopunitiva, geramos um medo de errar ou de não con- Paciência é a persistência silenciosa no bem. Diante das
seguirmos aproveitar todas as oportunidades que a vida dificuldades da vida, é a paciência aliada à fé que nos
nos oferece. Ficamos com uma preocupação interna que dará clareza, determinação e equilíbrio.
a vida é passageira, que o tempo está passando e é pre- Nos dias de hoje, com tantas turbulências, nunca foi
ciso “correr” para recuperar o “tempo perdido”. tão necessário a calma que a paciência nos dá.
Quando o espírito fica com muito medo perante as Outra situação que tem requisitado um grande esforço
provas e lutas que sabe que terá que passar, ele pode de todos é a depressão que vem aumentando assustado-
interromper o seu o processo reencarnatório durante o ramente.
desenvolvimento embriológico através da fuga, abando- Assim como temos o cansaço físico que produz o desâ-
nando o corpo e provocando o aborto espontâneo. Esse nimo, temos na tristeza o “cansaço’ da alma que gera o
processo de fuga é bem mais raro depois de efetivado a desalento e conduz à depressão.
reencarnação, já que os laços que prende o espírito ao É interessante observar que muitas pessoas que en-
corpo vão se apertando com o passar da fase infantil, frentam sérias dificuldades, possuindo inúmeros motivos
mas não impossível. Há casos em que o espírito entra para se queixarem da vida, nos dão um exemplo de
num processo tão grande de perturbação e de inanição dignidade, coragem e fé. Outros, por sua fez, que tem
psíquica e física que acaba antecipando o seu desencar- tudo para serem feliz se deixam levar pela insatisfação e
ne. queixa constante. O desencanto da vida surge tanto pela
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Por essa reflexão logo se percebe que a proposta é de produzidos pelos seus pensamentos. Mas à medida que
um tratamento de profundidade para toda a nossa vida se evangeliza, ele estará evangelizando os que o cercam.
envolvendo os aspectos morais e emocionas. Cabe ressaltar também, que nunca se deve suspender
O mais importante no atendimento fraterno, em ter- a medicação ou o tratamento indicado pelo médico e do
mos prático, é identificar a estrutura de ego de quem seu terapeuta. A retirada da medicação sem orientação
busca o auxílio. Não importa tanto saber se as queixas médica poder gerar uma grave descompensação com
emocionais são mais de cunho psicológico ou obsessi- sérias conseqüências ao paciente.
vo. Tanto os nossos desequilíbrios emocionais podem De forma alguma devemos desqualificar o tratamento
favorecer a obsessão como a obsessão provocar um indicado pelos profissionais ou a ajuda que já tenha rece-
ruptura emocional e gerar uma descompensação psí- bido. Quem desqualifica o outro não está seguro daquilo
quica grave. Sempre esses dois aspectos estarão envol- que realiza.
vidos, não tem como separá-los. O fundamental é saber O esforço deve ser de todos, respeitando a tarefa que
como a pessoa está lidando com a sua dor, se os seus cada um representa dentro do objetivo de se alcançar
pensamentos estão desconectados, delirantes, o grau a melhora daquele que nos procura na Casa Espírita,
de consciência do seu sofrimento e a sua capacidade inclusive sugerindo o profissional especializado quando a
de suportá-lo. Mesmo que identifiquemos um processo situação exigir.
obsessivo grave temos que nos perguntar como a pes- Não existem soluções mágicas ou caminhos fáceis,
soa está lidando com esse sofrimento psíquico, se ela tudo requer esforço e determinação. O importante é as-
precisa de um auxílio maior para conter essa dor. sumir um compromisso consigo próprio e persistir na ca-
É essa análise que vai nos indicar a necessidade de minhada. O caminho geralmente é visto como algo que
encaminhar a pessoa para um acompanhamento médi- nos afasta do objetivo. Dentro dessa expectativa tudo
co e psicológico além do espiritual. fica difícil. Ficamos nos perguntando “é preciso caminhar
Há pessoas que possuem uma grande capacidade de tudo isso para chegar?” Quando na verdade o caminho é
suportar as adversidades da vida, enquanto outras su- que nos permite chegar lá. Caminhando já estamos em
cumbem frente ao primeiro obstáculo. O que parece ser processo de realização!
simples para nós pode ser muito difícil para o outro. É preciso corrigir nosso olhar imediatista e, como nos
Quem faz o atendimento fraterno tem que estar apto orienta Bezerra de Menezes, perseverarmos com passos
a fazer essa escuta, respeitando a dor e avaliando a lentos e firmes.
constituição emocional de quem nos procura.
Há casos que vão necessitar um acompanhamento Ajudando os outros esquecemos as nossas dores e
mais cuidadoso e mais freqüente. aliviamos as nossas culpas. A caridade é o amor em mo-
Através do atendimento fraterno, temos a grande vimento. Movimento significa possibilidades de trocas, de
oportunidade de colaborarmos com Jesus, que tem experiências, de crescimento. É necessário nos movimen-
acreditado em nossas promessas de fidelidade e coo- tar na vida, em favor da vida e em favor de todos! Ajuda-
peração. Em nossa singela tarefa, deixemos de lado a mos e somos ajudados! No esforço de cumprir os nossos
curiosidade e o julgamento, acolhendo aqueles que nos deveres alcançaremos uma consciência tranqüila!
chegam de todos os lugares, implorando esperança, Somente assim agindo encontraremos a paz como re-
consolo e braços fraternos. Somos solicitados a ver em flexo de uma boa saúde mental.
cada irmão do caminho necessitados de mais amor que
Ele nos envia. Gílson Luís Roberto é médico com orientação em homeopatia,
especialista em psicologia clínica junguiana. Coordenador e professor
Devemos lembrar que cada encarnado representa do curso de pós-graduação em Saúde e Espiritualidade das Faculdades
um grupo de doentes desencarnados que estão Monteiro Lobato. Presidente da AME-Rio Grande do Sul e vice-
ligados pelo passado ou através da associação mental presidente da AME-Brasil, vice-presidente do Hospital Espírita de Porto
Alegre, presidente da Sociedade Espírita Amor do Mestre Jesus.
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Médecine et Spiritualité:
Un nouveau paradigme pour la santé
Dr. Marlene Nobre
Présidente d'AIMES
Schizophrénie à la lumière
d'un nouveau paradigme
Dr. José Fernando Barbosa de Souza
Neuropédiatre
Interconnexion
Médecine - Spiritualité
AIMES: Association Internationale de Médecins Spirites
http://www.ameinternational.org
Bruxelles, Belgique
Le 13 Novembre 2014
de 19h30 à 22h30
http://www.lmsf.org
Adresse du jour:
Inscriptions: Rue de Danemark 15-17
Courriel: info@lmsf.org 1060 Saint-Gilles (Bruxelles)
http://congres.lmsf.org/bruxelles près de la Gare du Midi 19
Rossandro Klinjey
Mediunidade
e emoções
C
Giovana Campos
Como relacionar as emoções com o desenvolvimento na mente. E essa fonte pode, em muitos casos, ser provo-
mediúnico à luz da psicologia? Delinear como as insta- cada pela inteferência de uma personalidade extracorpó-
bilidades emocionais podem afetar a qualidade da co- rea que tem, por isso mesmo, por não estar claramente
municação entre os dois planos é o tema abordado pelo visível, mais capacidade de influenciar as emoções de
psicólogo Rossandro Klinjey, da AME-Campina Grande, alguém, instigando-a a perceber aquele sentimente que
na Paraíba. Acompanhe. foi passado (via obsessão) como pertencete à pessoa.
André Luiz nos informa que: “A ideia é um ‘ser’ organi-
É possível relacionar as emoções com a mediuni- zado por nosso espírito, a que o pensamento dá forma
dade? e ao qual a vontade imprime movimento e direção”.
Sim, de forma bastante simples até. Sabe-se que as Levando-se em consideração que pensamento (ideia),
emoções exercem uma força incrivelmente poderosa no emoção e ação estão ligados e sobrepostos, na medida
comportamento humano. Se as bases das emoções são em que uma entidade desencarnada influi no nosso pen-
fruto da forma e tipo de relações que estabelecemos samento, ela também o faz em nossas emoções e ações2.
com outros seres humanos, desde a família, colegas de
trabalho até alguém que esbarra conosco no metrô, esse Quando e como o psicólogo pode identificar sinais
raciocínio e válido também para a mediunidade, já que de afloramento da mediunidade através das emo-
ela, também, é a capacidade de continuar sentindo o ções do paciente?
relacionamento com aqueles que estão fora do corpo Quando estas emoções surgem em meio a algum
(desencarnados), e que continuam a se relacionar conos- transtorno emocional, e geralmente surgem, percebe-
co interferindo em nossos pensamentos, sentimentos e mos como é complexa essa identificação dos elementos
ações. mediúnicos através das emoções. Muitos dos transtornos
Segundo Pettinelli1, os sentimentos, pensamentos e emocionais têm características que, numa análise pouco
ações podem ocorrer em qualquer ordem, existindo uma cuidadosa, podem parecer obsessão e vice-versa, ou seja,
escala de atenção, ou seja, ora eu foco no que estou muitas obsessões podem parecer ser apenas um trans-
pensando, ora no que estou fazendo e ora no que estou torno emocional. Então, a premissa inicial é a mesma das
sentindo, havendo sempre uma uma sobreposição entre AMEs: o tratamento espiritual não dispensa o tratamento
os três, uma vez que qualquer emoção pode ser dividida psiquiátrico e psicológico, para se evitar negligenciar os
nas sensações e acontecimentos reais que causou. Assim, sintomas. Há que se levar em consideração ainda que, na
emoções, sentimentos e pensamentos, todos têm a mes- grande maioria dos casos, senão em todos, a obsessão
ma fonte. Eles são apenas expressos de forma diferente ou é causa ou agrava os transtornos. Dito isto, percebe-
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mos que sempre haverá mediunidade nas emoções, o ção das tramas dos Espíritos enganadores. Se estes ilu-
que importa é saber a intensidade e interferência desta dem a homens feitos, claro é que a infância e a juventu-
no quadro clínico do paciente. É bom ressaltar ainda que de mais expostas se acham a serem vítimas deles”. Allan
não existe um instrumento de anamnese clínico, preciso, Kardec. Livro dos Médiuns. – Pag 309
que nos possibilite delimitar emoções e mediunidade,
quantificando a que está mais em evidência numa deter- A educação mediúnica pode atenuar as intempé-
minada pessoa. ries emocionais?
Sem sombra de dúvidas! O conhecimento é um ins-
E em relação a sexo ou idade? Há alguma interfe- trumento que permite ao ser humano assenhorar-se
rência? cada vez mais do próprio destino. No entanto, lamenta-
Em relação à idade Kardec é bem específico no Livro velmente, ocorre em muitos grupos mediúnicos, como
dos Médiuns, no capítulo 18, cujo título é bem sugestivo: também na evangelização das crianças e jovens, uma
Dos inconvenientes e perigos da mediunidade. Lá, ele intelectualização conceitual, sem o necessário apelo para
afirma que “Não há idade precisa, tudo depende intei- o que mais importa, a transformação moral. O conhe-
ramente do desenvolvimento físico e, ainda mais, do de- cimento, sem mudança de atitude, apenas torna mais
senvolvimento moral”. Por dedução, com o sexo ocorre a comprometida a criatura que não tem mais o atenuante
mesma coisa, ou seja, não haveria um sexo mais propício da ignorância para a continuidade de seus equívocos mo-
nem à mediunidade nem à interferência espiritual. O que rais. Mais do que saber as técnicas da prática mediúnica,
determina a interferência é sempre o desenvolvimento devemos buscar um coração tranquilo, pois com isso,
moral do ser. Entendo aqui interferência como processo mesmo que não possamos entender em detalhes as tra-
obsessivo, já que os espíritos luminosos, a meu ver, não mas e formas de atuação dos espíritos obsessores, nossa
interferem, apenas sugerem, já que o mal impõe e o bem conduta não permitirá a ação destes.
propõe.
Apenas devemos relembrar o que o mestre lionês as- Os processos obsessivos podem desencadear trans-
severa no mesmo capítulo no comentário 222: “A prática tornos na esfera psicológica?
do Espiritismo (…) demanda muito tato, para a inutiliza- O mentor espiritual Alexandre, no livro Missionários
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da Luz, em diálogo com André Luiz (1945) afirma que bretudo levando-se em consideração o refinamento dos
“Desencarnados e encarnados, em todos os setores de instrumentos que escaneiam o cérebro humano, como o
atividade terrestre, vivem na mais ampla permuta de SPECT (single photon emission computed tomography),
ideias. Cada mente é um verdadeiro mundo de emissão ou tomografia computadorizada de única emissão de
e recepção e cada qual atrai os que se lhe assemelham. photon, numa tradução livre, o que nos permitirá levar
(…) Aqui temos o fenômeno intuitivo, que, com maior ou à comunidade científica mundial evidêncas irrefutáveis
menor intensidade, é comum a todas as criaturas, não da mediunidade como uma experiência dissociativa não
só no plano construtivo, mas também no círculo de ex- relacionada a transtornos mentais. As pesquisas dessa
pressões menos elevadas.” Assim, os processos obsessivos área evidenciam que as avaliações neurocientíficas dos
que interferem no pensamento da criatura obsediada estados de transe medúnico têm revelado dados interes-
podem sim desencadear transtornos psicológicos. santes para a melhor compreensão da mente humana,
e, como afirma o Dr. Andrew Newberg8 “merecem uma
Os processos mediúnicos são estudados pela psico- investigação mais aprofundada, tanto em termos de re-
logia? plicação como em hipóteses explicativas”.
Sim, como também pela psiquiatria. Claro que no início
as pesquisas tendiam a categorizar a mediunidade como Referências bibliográficas
um transtorno. No Brasil, chegou-se mesmo a falar da PETTINELLI, Mark. The Psychology Of Emotions,
“loucura espírita”, como um tipo de transtorno descrito Feelings and Thoughts book. Publisher: Connexions,
no livro “Tendências Modernas da Psiquiatria” de Henri- 2011
que Roxo em 191834 . LUIZ, André. Nos domínios da mediunidade. Capítulo
Ao longo do tempo, o que se percebe é que a visão 1. Estudando a mediunidade, Pag. 7. Feb. 1945.
das chamadas “ciências da alma” sobre os fenômenos ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro.
mediúnicos variou muito. Essas experiências foram vis- Umbanda: Integração de uma religião numa sociedade
tas como patológicas e como pertencentes apenas ao de classes. Petrópolis: Vozes, 1978. p. 181.
inconsciente pessoal do médium por Sigmund Freud5. ROXO, Henrique. Tendências Modernas de Psiquia-
Já William James6 e Carl Gustav Jung7 não creditavam tria. (1918). In: ORTIZ, Renato. op. cit. p. 180.
à mediunidade uma ordem exclusivamente patológica, FREUD, Sigmund. - Uma neurose demoníaca do século
e embora concordassem com Freud ao afirmar que XVII. In: Edição eletrônica brasileira das obras psico-
tinha conteúdo advindo do inconsciente pessoal do lógicas completas de Sigmund Freud. Imago, Rio de
médium, não negavam a possibilidade de uma variável Janeiro, 1923.
paranormal e chegaram mesmo a afirmar que havia real JAMES, W. - Review of “Human Personality and Its Sur-
possibilidade de existir uma comunicação espiritual. vival of Bodily Death”. Proceedings of the Society for
Hoje, pesquisas sérias estão sendo realizadas para Psychical Research, vol. XVIII, Part XLVI, 1903.
investigar os fenômenos mediúnicos, como as que estão JUNG, C.G. - Psychology and Spiritualism. In: Jung, C.G.
sendo feitas pelo professor MD Andrew Newberg do Re- Collected Works, vol. XVIII, The Symbolic Life. Routledge
search at the Jefferson-Myrna Brind Center of Integrative & Kegan Paul, London, 1977.
Medicine da Universidade Thomas Jefferson, e o Doutor PERES, Julio Fernando, MOREIRA-ALMEIDA, Alexander,
em neurociências e comportamento, Júlio Fernando CAIXETA, Leonardo, LEAO, Frederico, NEWBERG, Andrew.
Peres, do Instituto de Psicologia da USP sobre a mediú- Neuroimaging during Trance State: A Contribu-
nidade psicográfica, com aceitação da publicação em tion to the Study of Dissociation. PLoS ONE, 2012;
revistas qualificadas internacionalmente. Longe dos pre- 7 (11): e49360 DOI: http://www.plosone.org/article/
conceitos do passado, se vislumbra um novo tempo, so- info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0049360
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ASSOCIAÇÃO SERGIPANA
ASSOCIAÇÃO SERGIPANA
DE PSIQUIATRIA
DE PSIQUIATRIA
Notícias N O T Í C I A S
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dos departamentos de pesquisas das AMEs em bases suas decisões. O Dr. Roberto Lúcio é o atual Diretor
uniformes com a AME Brasil. O objetivo é criar um do Departamento de Saúde Mental da AME Brasil e
rede de pesquisadores afinados com os objetivos de já nos enviou material sobre várias coisas entre elas a
pesquisa da AME Brasil. Lembramos que as pesquisas liberação da maconha.
espíritas são em 3 tópicos grandes: imortalidade (ou Estamos sendo questionados sobre a redução da
sobrevivência), espiritualidade (na prática clínica e na maioridade penal para 16 anos e também opinamos.
educação médica) e terapias complementares. Outros assuntos também foram abordados e encami-
ESTUDO/ENSINO nharemos vários relatórios no dia 25 ou 26 de agosto.
Estudo sinótico da obra de André Luiz Uma das propostas que iremos investir bastante é
Estudo da obra de Emmanuel sobre a parceria entre as AMEs e as Casas Espíritas.
Estudo da obra de Allan Kardec Nessa pesquisa do passe, passada pelo Dr. Bezerra,
Desenvolvimento de metodologia que integre ... ele deixou bem clara a importância da parceria com
Intercâmbio inter-AMEs a Casa Espírita. Os médicos nesse caso estarão prote-
gidos contra acusações de charlatanismo. Em um dia
Dra. Marlene coloca que é necessário que cada determinado da semana a AME dirige os trabalhos.
AME produza algo escrito sobre a obra que estão Depois recebemos orientações de como deveria ser a
estudando. É necessário aprofundar nessas teorias: parceria entre a AME e a Casa Espírita. Há que se ter
Glândula pineal, Consciência não local (cérebro humildade de parte a parte. Poderemos influir positi-
quântico), Saúde Integral, Terapias Complementares. vamente nos casos de psiquiatria e epilepsia.
Todas as AMEs têm que trabalhar num mesmo senti- As AMEs terão que se debruçar sobre essas ques-
do, temos que reservar espaço mental para a AME. tões, ver e agir com bastante diplomacia. Outra coisa
é que quem participou da Assembleia Geral da AME
ASSISTÊNCIA/BENEMERÊNCIA Brasil em Maceió no ano passado (2013), lembra-
Programas de ação construtiva AME e Casa Espírita -se de que eu falei sobre as cartilhas. Cartilhas sobre
Atendimento fraterno vários assuntos, não médicas apenas, mas contendo
Amparo à maternidade e à paternidade orientações úteis para a população. Minha intenção
Amparo à vida reprodutiva seria enviar essas cartilhas às Casas Espíritas para que
Amparo à família servissem de orientação médica às famílias. Como
Amparo à criança e ao jovem essas cartilhas fazem parte da assistência e beneme-
Amparo ao idoso rência das AMEs, estou colocando em aberto para as
Prevenção da dependência química AMEs fazerem isso.
Atividades gerais Temos que trabalhar desde a infância para termos
Dra. Marlene Nobre – Conselho Nacional das um envelhecimento sadio.
Especializadas (CNE): várias associações se reuniram, Dra. Marlene: duas coisas para lembrar: Dr. Bezer-
incluindo a AME Brasil (representada pelo seu vice-pre- ra me disse uma vez que o médico que quisesse atu-
sidente, Dr. Gilson Luís Roberto), e a criação do CNE foi ar na AME deveria ter ampla liberdade. Há médicos
o resultado dessas reuniões/discussões. Seu objetivo que gostam de dar passes; outros, de preparar aulas
principal é influir ou ajudar com assuntos de sua área para a Academia; outros ainda, de escolher um as-
para que os Conselhos Federativos Nacionais tomem sunto e decifra-lo. Você precisa dar oportunidade na
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