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| 2020
A prática da caridade
para vencer padrões
mentais doentios
Afinal:
por que A aplicabilidade do
adoecemos? passe espiritual
Editorial Estimado leitor,
Estamos retomando a edição
da revista Saúde & Espiritualidade
depois de uma pausa para rees-
truturarmos nosso trabalho. A
revista é um importante veículo
para a divulgação do paradigma
médico-espírita, sendo um espa-
ço fundamental para os articulis-
tas trazerem artigos atuais e de
grande impacto no campo da ci-
ência espírita em interseção com
a ciência médica e a bioética.
Alcançamos na atualidade dades de Medicina, assim como na criação de cursos
mais de 70 Associações Médico- de pós-graduação e de extensão universitária. Acre-
-Espíritas espalhadas por todo o ditamos que a força do bem é que sustenta a vida,
Brasil, reunindo médicos e profis- apesar dos percalços e das dificuldades naturais da
sionais da saúde. A cada dia sur- jornada terrena.
gem novos grupos de estudos in- Sigamos confiantes na expansão do bem, pois
teressados em criar novas AMEs, 2020 nos reserva um enorme campo de trabalho.
mostrando a força do ideal que Que os artigos aqui trazidos possam servir de inspi-
nos move e da relevância da es- ração, fortalecendo os valores da alma e o desejo de
piritualidade para as saúdes física colaborarmos cada vez mais em favor de um mundo
e mental. mais humano, justo e fraterno.
As AMEs são responsáveis Bom proveito!
pela introdução de disciplinas
optativas ou eletivas sobre saúde Gilson Luís Roberto
e espiritualidade em várias Facul- Presidente da AME-Brasil
18
MEDNESP 2019:
uma tarefa de muitas mãos
31
Espiritualidade como prática de trabalho:
perspectivas de uma equipe interdisciplinar
de cuidados paliativos
35
Relato de experiência da Liga Acadêmica
de Saúde e Espiritualidade da UFPE:
expandindo horizontes, modificando
trajetórias e formando profissionais
humanizados
09 12
A prática da caridade como meio de Afinal de contas,
vencer padrões mentais doentios por que adoecemos?
23
“É importante ajudar a educar especialistas
26
Entrevista sobre o
em saúde mental a reconhecer que essas passe espiritual
experiências não se enquadram como
patologias”
33
Hipertensão intracraniana idiopática e
34
Impacto da espiritualidade na saúde e
cirurgia espiritual: relato de caso recuperação social de detentos do método
APAC em Paracatu-MG
37
Relato de experiência institucional do
38
Setembro Amarelo:
projeto Falar é a solução! um relato de experiência
E
Luana Reis
“Muitas almas se perdem em pesquisas no sentido de perceber as causas que nos fazem
sentir pela pele, quando, muitas vezes, esquecemos de sentir pelo sentimento. Percep-
ções... sensações do Espírito, que estão associadas, sem dúvida, à própria capacidade do
Espírito que as sente. Dor, angústia, sofrimento maceram certos Espíritos deixando-os frá-
geis, vulneráveis, inseguros, quando não inquietos..., enquanto outros se sentem cada vez
mais enrijecidos pela dor; alguns se sentem perplexos, perturbados, doidos. Estudarmos
todas essas questões significa ampliar nosso entendimento acerca da realidade espiritual”
P
(Balthazar, 2016).
Para iniciar as nossas reflexões sobre o lenares, sem nos importarmos em convivermos
tema, vamos buscar entender melhor o que e com a impermanência de nobres sentimentos
quais são os padrões mentais doentios aos quais que necessariamente deveriam povoar o co-
ainda estamos aprisionados nesta encarnação, ração do Espírito imortal que busca a paz e o
apesar de sofrermos por eles e com eles. Gula, encontro com Jesus por intermédio do convívio
ciúmes, raiva, tristeza, maledicência, medo, harmonioso consigo e com o próximo.
ironia, sarcasmo, entre outros tantos, são tão Estamos ainda em processo inicial de nos-
comuns à nossa personalidade que muitas ve- sa evolução espiritual, por isso nossa mente se
zes não os reconhecemos em nós e não nos re- apresenta frágil e instável. Nossos pensamen-
conheceríamos sem eles por fazerem parte de tos e sentimentos em flutuação constante nos
nossas atitudes cotidianas. deixam em alguns momentos agitados ou an-
Tais padrões estão presentes na socieda- siosos, em outros embotados e deprimidos. Essa
de moderna de maneira oculta, instigados por instabilidade mental provoca reações fisiológi-
mensagens subliminares de normalidade e mo- cas e bioquímicas importantes, desencadeando
dernidade, travestidos em excesso de amor, em uma desarmonia no equilíbrio orgânico e fa-
desejo pelo bom e pelo belo ou até simulado vorecendo o surgimento ou a piora de padrões
pela necessidade de experimentação do novo. mentais doentios.
Novos relacionamentos, novas notícias, novos Joanna de Ângelis (1990), em seu livro A
alimentos que “precisam ser vividos” às custas mente em ação, elucida: “Por ser agente da vida
da fofoca desmedida, da gula oculta, da condes- organizada, a mente sadia propicia o desenvol-
cendência consigo na perpetuação de erros mi- vimento das micropartículas que sustentam
U
em bom estado, é impossível que a parte esteja bem”
(Sócrates, 400 a.C.).
A
Cacilda Lina Bastos da Silveira
O
Giovana Campos
A
1
Universidade Federal de Pelotas 2
Hospital Espírita de Pelotas 3
Universidade Federal de Santa Catarina
Atuar no contexto paliativista pode fomen- foi elaborado um questionário com perguntas
tar nos profissionais da saúde acontecimentos fechadas passíveis de justificativa no formato
subjetivos relacionados a experiências de perda aberto. Os profissionais foram convidados a
ou adoecimento, indagações sobre a morte e o responder sobre a relevância de abordar a espi-
significado da vida. Esses profissionais podem ritualidade de pacientes em CP e se tinham o
sentir necessidade de desenvolver a capacidade hábito de realizar essa abordagem. Responderam
de lidar com a finitude e com angústias causadas ao questionário seis profissionais das seguintes
pela iminência da morte dos pacientes. A espiri- áreas: assistência social, enfermagem, medicina
tualidade pode ser um caminho para trabalhar e nutrição. Todos os entrevistados consideraram
essas questões. A Organização Mundial da Saúde relevante abordar a espiritualidade de pacien-
(OMS) define espiritualidade como conjunto de tes em CP. Embora estudos apontem os possí-
todas as emoções e convicções de natureza ima- veis benefícios de se abordar a espiritualidade
terial, considerando que há mais no viver do que de pacientes, alguns profissionais não se sentem
pode ser plenamente compreendido, remetendo aptos para isso, o que pode ser justificado pela
a questões como o significado e sentido da vida, falta de conhecimento sobre o assunto, falta de
não estando limitado a qualquer tipo especí- treinamento para realizar a abordagem, receio
fico de orientação religiosa. Abordar a espiri- de impor pontos de vistas pessoais, acreditar que
tualidade do paciente pode ser desafiador para esse assunto não é importante para o bem-estar
profissionais da saúde. Este trabalho tem como do paciente ou ainda falta de reconhecimento da
objetivo apresentar opiniões de profissionais de própria espiritualidade. Apenas um dos profis-
uma equipe de cuidados paliativos (CP) domi- sionais da equipe entrevistada revelou não ter o
ciliar sobre a abordagem da espiritualidade de hábito de abordar a espiritualidade dos pacientes
pacientes em seu contexto de trabalho. Para isso, em CP.
I
Mendes, I. S., Aguiar, O. M. L.
Centro Universitário Atenas
I
Centro Universitário Atenas
I
Universidade Federal de Pernambuco
N
1
Universidade Federal de Juiz de Fora
2
Universidade Estácio de Sá
No Brasil, estima-se que uma pessoa se sui- executa uma ação em direção ao suicídio, como,
cide a cada 45 minutos. Notícias recentes apon- por exemplo, comprar uma grande quantidade
tam que o número de suicídios dentro de uni- de medicação. Já no nível 4, ocorre a tentativa
versidades, sejam elas particulares ou públicas, real do suicídio. A partir do exposto, foi criado,
tem aumentado de forma desproporcional ao no campus de Macaé-RJ, da Universidade Estácio
restante da população. Esses dados mostram a de Sá (UNESA), o projeto intitulado “Falar é a
importância da quebra do tabu de que conver- solução!”, com o intuito de divulgar a campanha
sar sobre suicídio induz ao ato, muito pelo con- nacional do mês do Setembro Amarelo, que é o
trário, conversar sobre o tema acalma e alivia mês de valorização da vida. Dessa forma, foram
a dor que até então parece ser insuportável. O espalhadas pela universidade caixas com for-
presente projeto baseia-se em um termo cha- mulários e um fôlder explicando o objetivo do
mado “ubuntu”, de origem africana que signi- projeto. A pessoa que desejasse o atendimento
fica que não podemos ser felizes enquanto todos preencheria esses formulários e depositaria nas
nós não pudermos ser felizes. Pessoas com idea- caixas. Ao final de cada dia, eram recolhidas
ção suicida estão constantemente dando sinais essas cartas, e ao final de cada semana do mês,
de que podem vir a fazer algo em relação a si, eram feitas as leituras e separadas nos níveis de
seja por isolamento social, despedidas diretas gravidade para fazer os encaminhamentos. Em
ou indiretas, nostalgia e falta de planos para o um intervalo de três semanas, foram deposita-
futuro, por isso devemos estar em alerta para das seis cartas. Ao final do mês de setembro, foi
esses sinais, perceber o outro que está próximo. feita uma roda de conversa para debater ideias
Nesse projeto foi utilizada como ferramenta de sobre o tema e a importância do termo “empa-
estudo a mensuração dos níveis de gravidade, tia” dentro das nossas relações diárias, pois isso
em uma escala de 1 a 4, em que são classificados é de suma importância para conseguirmos per-
os níveis da ideação até a realização do ato pro- ceber aqueles que estão ao nosso lado, porém em
priamente dito. No nível 1, a pessoa apresenta a dificuldades. Como desdobramento do projeto,
ideação suicida, mas não tem plano para isso. Já foi solicitada a continuidade das ações, por ser
no nível 2, a pessoa passa a formular um plano um assunto pouco explorado e extremamente
para o suicídio. Quando chega ao nível 3, a pessoa importante.
I
4
Universidade Federal de Pelotas
5
Centro Universitário de Anápolis
Introdução: O suicídio representa um agravo 2018. Também foram elaboradas artes gráficas
de saúde mental de grande relevância em nossa para que outras pessoas pudessem participar da
sociedade. Observam-se números crescentes campanha de conscientização sobre a preven-
desse ato, que já ultrapassa o número de óbitos ção do suicídio. Como foi aberto espaço para o
por homicídio ou de mortes em conflitos arma- diálogo, profissionais da área da saúde mental
dos no mundo. Tendo em vista esse cenário, tor- ligados às AMEs auxiliaram com a demanda que
na-se importante falar mais sobre o assunto e surgiu. Esse grupo também auxiliou nas publi-
desenvolver ações efetivas para modificar essa cações, avaliando o conteúdo publicado e suge-
realidade. rindo alterações.
Objetivos: Apresentar ação realizada por Resultados: Houve um alcance, em média,
intermédio das mídias sociais que possibilitou a de 16.199 pessoas nas 22 publicações, possibi-
criação de ambiente seguro de troca de informa- litando a oportunidade de leitura e de apro-
ções a respeito do tema prevenção do suicídio e fundamento no assunto, e 5 pessoas tiveram a
compartilhamento de publicações que visaram oportunidade de contatar com profissionais da
valorizar a vida. Além disso, o projeto buscou área da saúde mental ligados às AMEs para pedir
acolher aqueles que se sentiram necessitados
auxílio e orientações. Além disso, dois acadêmi-
de apoio e diálogo, levando orientações e amor.
cos e cinco médicos da AME-Brasil escreveram
Métodos e materiais: Por meio do Departa-
textos abordando temas sobre: fatores de risco e
mento Acadêmico da Associação Médico-Espí-
de proteção ao comportamento suicida; suicídio
rita do Brasil (AME-Brasil), oito acadêmicos, da
coordenação, elaboraram um total de 22 publi- infantojuvenil; a visão médico-espírita sobre sui-
cações em redes sociais, organizadas por temáti- cídio; homenagem a Yvonne do Amaral Pereira e
cas – informações médicas, produções artísticas o papel da religiosidade e espiritualidade como
e conteúdo religioso –, em setembro de 2017 e meio de prevenção ao suicídio.