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The pandemic of femicides in Latin America and the Caribbean

A pandemia de femicídios na América Latina e Caribe


Violência de gênero é a mais impactante, mas menos visível violação aos direitos humanos no
mundo. Ela afeta milhões de mulheres ao redor do mundo, provocando efeitos devastadores
na saúde, dignidade, liberdade e autonomia dessas mulheres. Essa violência pode assumir uma
grande variedade de formas: violência conjugal, femicídios, exploração sexual, tráfico,
violência laboral, violência política, e crimes contra a honra, entre muitas outras formas em
uma lista que parece interminável.

A América Latina e o Caribe não estão isentos dessa “pandemia” global. Ao longo de suas
vidas, todas as mulheres e meninas da região correm o risco de sofrerem violência de gênero
em uma de suas variadas formas, e entre 60% e 76% das mulheres foram vítimas ou
enfrentaram violência de gênero em alguma área de suas vidas (ECLAC, 2020). Com esses
dados, não surpreende que violência de gênero é uma das formas de violência mais difundidas
e que tem maior impacto na região, trazendo consequências devastadoras para as vítimas, que
vão desde lesões físicas, dor crônica, ansiedade, depressão ou pensamentos suicidas até
femicídios. Femicídio é entendido pela definição da Declaração de Viena como “o assassinato
de mulheres e meninas cometidos em razão do gênero”, e pode assumir diferentes formas. 1

Violência sexista causa milhares de femicídios anualmente na América Latine e Caribe. Os


números são alarmantes: 14 dos 25 países com as maiores taxas de femicídio no mundo estão
nessa região. Os dados mais recentes da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(CEPAL) mostram que em 2020 pelo menos 4091, e em 2021 ao menos 4473 mulheres foram
assassinadas por razões sexistas (ECLAC, 2020, 2021). Além disso, a tendência não é
encorajadora. De acordo com o relatório da CEPAL, em apenas um ano, entre 2018 e 2018, o
número de femicídios cresceu em 31.5%.

Na região, a maior taxa de femicídio por 100,000 mulheres corresponde a Honduras


(4.6/100,000), seguida pela República Dominicana (2.7/100,000) e El Salvador (2.4/100,000),
sendo que Brasil e México tem os maiores números totais de casos (ECLAC, 2022).

1
“(1) the murder of women as a result of intimate partner violence; (2) the torture and misogynist
slaying of women (3) killing of women and girls in the name of “honour”; (5) targeted killing of women
and girls in the context of armed conflict; (5) dowry-related killings of women; (6) killing of women and
girls because of their sexual orientation and gender identity; (7) the killing of aboriginal and indigenous
women and girls because of their gender; (8) female infanticide and gender-based sex selection
foeticide; (9) genital mutilation related deaths; (10) accusations of witchcraft; and (11) other femicides
connected with gangs, organized crime, drug dealers, human trafficking and the proliferation of small
arms”
Taxas de femicídio na América Latina e Caribe em 2021 (Números absolutos e taxas por
100,000 mulheres)
Absolute Number Rate (per 100,000 women)
1900

1015

234 231 210


150 108 138 136
80 71 44
26 22 35 18 12 15

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Dados obtidos da CEPAL (2022). Pôr fim à violência contra mulheres e meninas e ao femicídio
ou femicídio

O alto número de casos causou um aumento na atenção que os governos nacionais da região
dão ao assunto durante a última década. Vários países tomaram medidas para classificar
femicídio como um crime específico em suas legislações (OAS and UN Women, 2020). A
injustiça continua prevalecendo em relação a esses crimes; como alguns especialistas
apontam, a impunidade dos autores chega a 98% (UN Women, 2016).

Além disso, é essencial ter em mente que femicídios não são apenas atos homicidas. Isto está
sujeito a um contexto mais complexo em que gênero interage com fatores sociais, políticos,
culturais e econômicos. O número de assassinatos sexistas afeta todas as mulheres, mas
observando o problema a partir de uma perspectiva interseccional, a realidade cruel que
alguns grupos de mulheres enfrentam na América Latina e Caribe são evidentes. Esse post
destaca três exemplos de femicídio sob uma perspectiva interseccional: mulheres
afrodescendentes, mulheres indígenas e a comunidade LGBTQI+ 2.

No caso de mulheres afrodescendentes, há uma relação clara entre femicídios e racismo,


pobreza e marginalidade. Estudos na região mostraram o impacto de femicídios nesse grupo.
Por exemplo, no Brasil, a interação entre sexismo e racismo tem uma influência significativa,
sendo que entre 2007 e 2013 houve 17,818 assassinatos de mulheres negras e 10,844
assassinatos de mulheres brancas no país. O número de femicídios de mulheres negras cresceu
54.2% entre 2003 e 2013 (FLACSO, 2015).

2
Lésbica, gay, bissexual, trans, queer e intersexual.
Outro grupo profundamente afetado são as mulheres indígenas. O Instituto Nacional de
Estatística e Geografia do México (Instituto Nacional de Estadística y Geografía (INEGI) afirma
que, das mulheres assassinadas no México durante 2019, 40 falavam uma língua indígena.
Além disso, diversos estudos do instituto colombiano INDEPAZ (Instituto de Estudios para el
Desarrollo y la Paz) mostraram que um número significante de femicídios nessas comunidades
estão relacionados a diversos fatores, um dos principais sendo a inclusão de mulheres na
política. Na Colômbia, por exemplo, 269 líderes indígenas foram assassinadas entre 2016 e
junho de 2020 (INDEPAZ, 2020).

A comunidade LGBTQI+ também sofre com essa “pandemia” na América Latina e Caribe. Entre
janeiro de 2013 e março de 2014, pelo menos 594 pessoas LGBTQI+ ou entendidas como tal
foram assassinadas por motivos relacionados à percepção da orientação sexual ou sua
identidade de gênero e expressão. 282 assassinatos dentre os 594 foram cometidos contra
mulheres trans ou pessoas trans com expressão de gênero feminina (IACHR and OAS, 2015).
Os femicídios sofridos por mulheres trans ou pessoas trans com expressão de gênero feminina
ocorreram, geralmente, em espaços públicos e a maior parte dos casos esteve relacionada a
atacar o que “fazia elas mulheres”.

A situação na região é mais do que preocupante, por isso é crucial trabalhar por soluções reais
que podem reduzir o massacre sexista, com que impactam todos os grupos de mulheres. Para
isso, é essencial conhecer a realidade que essas mulheres enfrentam, prestando especial
atenção aos grupos mais vulneráveis a essa violência. Infelizmente, o sistema patriarcal, ou
melhor, aqueles que defendem uma visão sexista continuam cometendo crimes incluindo o
assassinato. Por fim, é de extrema importância coletar, analisar e entender os dados que giram
em torno dessas questões a fim de lutar contra essa brutal forma de violência de gênero.

Biografia dos autores

Antonio García Cazorla é um psicologista especialista em violência de gênero com mestrado


em igualdade e gênero. Já trabalhou em diversas organizações internacionais, agências, e
entidades com alto impacto na área de gênero, na Europa e na América Latina, como o

is a psychologist specialist in gender-based violence and holds a master's degree in equality


and gender. He has worked in diverse international organizations, agencies, and bodies with
high impact in the area of gender, both in Europe and Latin America, such as the Council of
Europe, the Spanish Agency for International Development Cooperation, the European
Institute for Gender Equality, and the UN Women Americas and the Caribbean Regional Office.

Alexandra Sipos works at the Institute for Sociology of the Centre for Social Sciences as a junior
research fellow and a scientific officer since September 2020. She received her PhD in
Sociology in 2022 at Eötvös Loránd University. Her doctoral research focused on the state-
recognition of partnerships and kinships in Hungary, especially on the institution of marriage.
Her research topics include human rights and equality concerning gender and sexual
minorities, recognition of same-sex couples, sociology of law, and youth policy.

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pandemia de COVID-19 requiere Financiamiento, Respuesta, Prevención y Recopilación de
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%C3%A9nero#:~:text=En%20Am%C3%A9rica%20Latina%20y%20el,del%20Caribe%2C
%20solamente%20en%202019

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https://www.unodc.org/documents/commissions/CCPCJ/CCPCJ_Sessions/CCPCJ_22/_E-CN15-
2013-NGO1/E-CN15-2013-NGO1_E.pdf

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