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A América Latina e o Caribe não estão isentos dessa “pandemia” global. Ao longo de suas
vidas, todas as mulheres e meninas da região correm o risco de sofrerem violência de gênero
em uma de suas variadas formas, e entre 60% e 76% das mulheres foram vítimas ou
enfrentaram violência de gênero em alguma área de suas vidas (ECLAC, 2020). Com esses
dados, não surpreende que violência de gênero é uma das formas de violência mais difundidas
e que tem maior impacto na região, trazendo consequências devastadoras para as vítimas, que
vão desde lesões físicas, dor crônica, ansiedade, depressão ou pensamentos suicidas até
femicídios. Femicídio é entendido pela definição da Declaração de Viena como “o assassinato
de mulheres e meninas cometidos em razão do gênero”, e pode assumir diferentes formas. 1
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“(1) the murder of women as a result of intimate partner violence; (2) the torture and misogynist
slaying of women (3) killing of women and girls in the name of “honour”; (5) targeted killing of women
and girls in the context of armed conflict; (5) dowry-related killings of women; (6) killing of women and
girls because of their sexual orientation and gender identity; (7) the killing of aboriginal and indigenous
women and girls because of their gender; (8) female infanticide and gender-based sex selection
foeticide; (9) genital mutilation related deaths; (10) accusations of witchcraft; and (11) other femicides
connected with gangs, organized crime, drug dealers, human trafficking and the proliferation of small
arms”
Taxas de femicídio na América Latina e Caribe em 2021 (Números absolutos e taxas por
100,000 mulheres)
Absolute Number Rate (per 100,000 women)
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Dados obtidos da CEPAL (2022). Pôr fim à violência contra mulheres e meninas e ao femicídio
ou femicídio
O alto número de casos causou um aumento na atenção que os governos nacionais da região
dão ao assunto durante a última década. Vários países tomaram medidas para classificar
femicídio como um crime específico em suas legislações (OAS and UN Women, 2020). A
injustiça continua prevalecendo em relação a esses crimes; como alguns especialistas
apontam, a impunidade dos autores chega a 98% (UN Women, 2016).
Além disso, é essencial ter em mente que femicídios não são apenas atos homicidas. Isto está
sujeito a um contexto mais complexo em que gênero interage com fatores sociais, políticos,
culturais e econômicos. O número de assassinatos sexistas afeta todas as mulheres, mas
observando o problema a partir de uma perspectiva interseccional, a realidade cruel que
alguns grupos de mulheres enfrentam na América Latina e Caribe são evidentes. Esse post
destaca três exemplos de femicídio sob uma perspectiva interseccional: mulheres
afrodescendentes, mulheres indígenas e a comunidade LGBTQI+ 2.
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Lésbica, gay, bissexual, trans, queer e intersexual.
Outro grupo profundamente afetado são as mulheres indígenas. O Instituto Nacional de
Estatística e Geografia do México (Instituto Nacional de Estadística y Geografía (INEGI) afirma
que, das mulheres assassinadas no México durante 2019, 40 falavam uma língua indígena.
Além disso, diversos estudos do instituto colombiano INDEPAZ (Instituto de Estudios para el
Desarrollo y la Paz) mostraram que um número significante de femicídios nessas comunidades
estão relacionados a diversos fatores, um dos principais sendo a inclusão de mulheres na
política. Na Colômbia, por exemplo, 269 líderes indígenas foram assassinadas entre 2016 e
junho de 2020 (INDEPAZ, 2020).
A comunidade LGBTQI+ também sofre com essa “pandemia” na América Latina e Caribe. Entre
janeiro de 2013 e março de 2014, pelo menos 594 pessoas LGBTQI+ ou entendidas como tal
foram assassinadas por motivos relacionados à percepção da orientação sexual ou sua
identidade de gênero e expressão. 282 assassinatos dentre os 594 foram cometidos contra
mulheres trans ou pessoas trans com expressão de gênero feminina (IACHR and OAS, 2015).
Os femicídios sofridos por mulheres trans ou pessoas trans com expressão de gênero feminina
ocorreram, geralmente, em espaços públicos e a maior parte dos casos esteve relacionada a
atacar o que “fazia elas mulheres”.
A situação na região é mais do que preocupante, por isso é crucial trabalhar por soluções reais
que podem reduzir o massacre sexista, com que impactam todos os grupos de mulheres. Para
isso, é essencial conhecer a realidade que essas mulheres enfrentam, prestando especial
atenção aos grupos mais vulneráveis a essa violência. Infelizmente, o sistema patriarcal, ou
melhor, aqueles que defendem uma visão sexista continuam cometendo crimes incluindo o
assassinato. Por fim, é de extrema importância coletar, analisar e entender os dados que giram
em torno dessas questões a fim de lutar contra essa brutal forma de violência de gênero.
Alexandra Sipos works at the Institute for Sociology of the Centre for Social Sciences as a junior
research fellow and a scientific officer since September 2020. She received her PhD in
Sociology in 2022 at Eötvös Loránd University. Her doctoral research focused on the state-
recognition of partnerships and kinships in Hungary, especially on the institution of marriage.
Her research topics include human rights and equality concerning gender and sexual
minorities, recognition of same-sex couples, sociology of law, and youth policy.
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pandemia de COVID-19 requiere Financiamiento, Respuesta, Prevención y Recopilación de
Datos. Retrieved from: https://www.cepal.org/es/publicaciones/46422-enfrentar-la-violencia-
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niñas. Retrieved from: https://lac.unfpa.org/es/temas/violencia-basada-en-g
%C3%A9nero#:~:text=En%20Am%C3%A9rica%20Latina%20y%20el,del%20Caribe%2C
%20solamente%20en%202019