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Serra de André Lopes Tufa (SP): distribution, genesis and paleoclimatic record View project
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do
Brasil
(3) à caracterização de períodos geológicos e decisões, de nível federal a municipal, referentes
registros expressivos na história evolutiva da Terra e à proteção desses sítios descritos.
da vida, (4) expressão cênica, (5) ao bom estado de No presente volume são descritos, na forma de
conservação entre outros critérios que indicam a capítulos, 18 sítios geológicos e paleontológicos
necessidade de sua conservação para esta e para divididos em 6 partes de acordo com a classificação
futuras gerações. Tais geossítios têm, assim, tipológica mais importante de cada sítio, a saber:
perspectivas de ajudar a alavancar o
Astroblemas (Astroblema de Vista Alegre, PR),
desenvolvimento econômico e cultural, desde local
a regional, por sua importância geoturística
VOLUME III Geomorfológicos (Pedra do Baú, São Bento do
Sapucaí, SP; Pico do Itambé, Serra do Espinhaço,
e utilidade didático-científica, servindo como um
MG; Três Morrinhos, Terra Rica, PR; Ponta de
verdadeiro laboratório geológico natural.
Jericoacoara, CE; Mar de Bolas do Lajedo do Pai
O cadastro é efetivado pela publicação de artigos
Mateus, Cabaceiras, PB; Pedra Furada de
científicos sobre cada geossítio, na internet e em
Venturosa, PE), da História da Geologia,
livro, na forma de capítulos que, além de tópicos
Paleontologia e Mineração (Estromatólitos de
descritivos relevantes, apresentam medidas de
Nova Campina e Itapeva, SP; Beachrock de Jaconé,
proteção e sugestões a respeito. Estas, no presente
RJ), Paleoambientais (Pavimento Estriado de
volume, são acompanhadas de anexo com poligonal
Calembre, Brejo do Piauí), Paleontológicos (Passo
de área de proteção proposta pelos autores.
das Tropas, Santa Maria, RS; Afloramento
Aspectos da linha metodológica e da evolução Fossilífero de Oiti, Bacia do Parnaíba, PI; Paleotoca
dos trabalhos, envolvendo pesquisadores que do Município de Cristal, RS; Répteis Fósseis de
estudaram o sítio ou a sua região, desde a fase de General Salgado, SP; Sítio Fossilífero Predebon,
proposta até a publicação de cada sítio na internet Quarta Colônia, RS), Sedimentológicos (Guaritas
e em texto impresso, bem como outras informações do Camaquã, RS; Arrecifes, a Calçada do Mar de
importantes podem ser vistos no website Recife, PE; Ponta das Lajes e o Encontro das
http://sigep.cprm.gov.br/. Águas, AM). A 7ª Parte, Descrições de Sítios com
A ação desta comissão, a custos públicos Linguagem Popular, traz quatro sítios (“Um
mínimos e em estreita parceria com os autores dos Deserto Antigo do Brasil" - Serra do Tombador, BA;
capítulos e proponentes de sítios, tem contribuído A Chapada dos Diamantes - Serra do Sincorá, BA;
não só para a divulgação de muitos de nossos Ossos de Mamíferos da Era do Gelo nas Barrancas
monumentos naturais, mas também para a do Arroio Chuí – RS; Estromatólitos de Nova
conscientização da importância de se preservar o Campina e Itapeva, SP), e a 8ª Parte versa sobre 50
nosso Patrimônio Geológico e Paleobiológico cujo propostas de geossítios aprovados pela SIGEP, mas
risco de perdas irrecuperáveis é cada vez maior. ainda não publicados.
SIGEP
Comissão Brasileira de Sítios
Geológicos e Paleobiológicos
Ministro de Estado
Edison Lobão
Secretário Executivo
Márcio Pereira Zimmermann
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretor-Presidente
Manoel Barretto da Rocha Neto
Organizadores
Manfredo Winge
Carlos Schobbenhaus
Celia Regina de Gouveia Souza
Antonio Carlos Sequeira Fernandes
Mylène Berbert-Born
William Sallun Filho
Emanuel Teixeira de Queiroz
Brasília, 2013
Publicação do Serviço Geológico do Brasil – CPRM
em co-edição com Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e PaLeobiológicos – SIGEP
Copyright 2013 – CPRM/SIGEP
Depósito legal: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
EDITORAÇÃO GRÁFICA
CPRM – Divisão de EDITORAÇÃO GERAL – DEPAT / DIEDIG
Valter A. Barradas
Projeto Gráfico / Coordenação de Editoração
Andréia Amado Continentino
Editoração
Agmar Lopes
Pedro da Silva
José Luiz Coelho
Coordenação de Tratamento de Imagens e Ilustrações
Juliana Colussi de Gouvêa
Tratamento de Imagens e Ilustrações
Leila Maria Rosa de Alcântara
Helena Soares Zanetti Eyben (CPRM-SEDE)
Isabela de Lima Leite (estagiária - edição de imagens e ilustrações)
Hugo Jathahy Barbosa (estagiário - edição de imagens e ilustrações)
1ª Capa
Visão de parte do campo de matacões graníticos alinhados em meio à vegetação típica e dispersos sobre o Lajedo
do Pai Mateus. Esses matacões formaram-se sobre superfície do Plutão Bravo, por processo de esfoliação esferoidal
sobre blocos limitados por sistemas de fraturas verticalizadas ortogonais e de alívio sub-horizontais, com remoção
completa do regolito intersticial em estágio atual de clima mais árido. Ver neste volume o capítulo: “Mar de bolas do
Lajedo do Pai Mateus, Cabaceiras, PB - Campo de matacões graníticos gigantes e registros rupestres de civilização
pré-colombiana” - SIGEP 068. Foto: Geysson Lages.
4ª Capa
Fronde de Dicroidium zuberi, um importante fóssil do Sítio Passo das Tropas, representante da flora do Mesotriás-
sico em terras de latitude paleotropical do supercontinente Gondwana e com desenvolvimento florístico decorrente
de estágio greenhouse. Ver neste volume o capítulo: “Passo das Tropas, Santa Maria, RS - Marco bioestratigráfico
triássico na evolução paleoflorística do Gondwana na Bacia do Paraná” – SIGEP 084.
Largura da foto representa ~ 15 cm. Foto: acervo pessoal de Margot Guerra-Sommer”.
Winge, Manfredo.
Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil / Editores
Manfredo Winge ...[et al.]... -- Brasília: CPRM, 2013.
332 p. , v. 3 : il. ; 30 cm
ISBN 978-85-7499-198-6
1.Paleontologia – Brasil. 2.Geologia – Brasil. 3.Espeleologia –
Brasil. I.Título.
CDD 560.981
1 Assim como cada vida humana é considerada única, não é chegado o tempo de reconhecer também a
condição única da Terra?
2 A Terra, nossa Mãe, é base e suporte de nossas vidas. Somos todos ligados à Terra. A Terra é o elo de
união entre todos nós.
3 A Terra, com quatro bilhões e meio de anos, é o berço da Vida, da renovação e das metamorfoses de
todos seres vivos. Seu longo processo de evolução, seu lento amadurecimento, deu forma ao ambiente no
qual vivemos.
4 Nossa história e a história da Terra estão intimamente entrelaçadas. As origens de uma são as origens
de outra. A história da Terra é nossa história, o futuro da Terra será nosso futuro.
5 A face da Terra, a sua feição, são o ambiente do Homem. O ambiente de hoje é diferente do ambiente
de ontem e será diferente também no futuro. O Homem não é senão um dos momentos da Terra. Não é
uma finalidade, é uma condição efêmera e transitória.
6 Da mesma forma como uma velha árvore registra em seu tronco a memória de seu crescimento e de
sua vida, assim também a Terra guarda a memória do seu passado... Uma memória gravada em níveis
profundos ou superficiais. Nas rochas, nos fósseis e nas paisagens, a Terra preserva uma memória passível
de ser lida e decifrada.
7 Atualmente, o Homem sabe proteger sua memória: seu patrimônio cultural. O ser humano sempre se
preocupou com a preservação da memória, do patrimônio cultural. Apenas agora começou a proteger seu
patrimônio natural, o ambiente imediato. É chegado o tempo de aprender a proteger o passado da Terra e,
por meio dessa proteção, aprender a conhecê-lo. Esta memória antecede a memória humana. É um novo
patrimônio: o patrimônio geológico, um livro escrito muito antes de nosso aparecimento sobre o Planeta.
8 O Homem e a Terra compartilham uma mesma herança, um patrimônio comum. Cada ser humano e
cada governo não são senão meros usufrutuários e depositários deste patrimônio. Todos os seres humanos
devem compreender que a menor depredação do patrimônio geológico é uma mutilação que conduz a sua
destruição, a uma perda irremediável. Todas as formas do desenvolvimento devem respeitar e levar em
conta o valor e a singularidade deste patrimônio.
N o final de 1993, o Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM foi solicitado a dar
apoio à iniciativa de conservação internacional do patrimônio geológico mundial do Grupo de
Trabalho Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Patrimônio Mundial, pelo então presidente Dr. J.W. Cowie,
através de propostas do Brasil para a Lista Indicativa Global de Sítios Geológicos (Global Indicative List of
Geological Sites-GILGES) e/ou para a Base de Dados Global de Sítios Geológicos da União Internacional
de Ciências Geológicas (IUGS Geosites - Global Data Base of Geological Sites of IUGS-International
Union of Geological Sciences). Como resposta criou-se no DNPM Grupo de Trabalho Nacional de Sítios
Geológicos e Paleobiológicos.
Em março de 1997, o DNPM promoveu em Brasília reunião de diversas instituições buscando uma
participação brasileira mais ampla, dentro dos objetivos propostos pelo Grupo de Trabalho de Sítios
Geológicos e Paleobiológicos do Patrimônio Mundial. Assim, foi instituída a Comissão Brasileira
dos Sítios Geológicos e Paleobiológicos - SIGEP, hoje com representantes das seguintes instituições:
Academia Brasileira de Ciências - ABC, Associação Brasileira para Estudos do Quaternário - ABEQUA,
Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional - IPHAN, Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRAS, Serviço Geológico do Brasil - CPRM,
Sociedade Brasileira de Espeleologia - SBE, Sociedade Brasileira de Geologia - SBG, Sociedade Brasileira
de Paleontologia - SBP e União da Geomorfologia Brasileira - UGB.
A principal atribuição da SIGEP – de elencar os geossítios brasileiros – tem sido implementada com o
gerenciamento de um banco de dados nacional, em atualização permanente, e a sua disponibilização em
site da Internet (atualmente no endereço http://sigep.cprm.gov.br) na forma de artigos científicos bilíngues
– inglês e português – elaborados por especialistas envolvidos com os sítios aprovados pela comissão.
Define-se geossítio como um sítio geológico de interesse singular pela importância científica, didática,
turística, pela beleza ou outro aspecto que justifique recomendar a sua proteção (geoconservação).
Esse processo iniciou em 1998, quando foram distribuídas cartas-convite a instituições e pesquisadores
incentivando-os à proposição de geossítios. Muitas propostas foram então apresentadas, oriundas
da comunidade geocientífica e dos próprios membros da Comissão, resultando 58 artigos científicos
disponibilizados na rede mundial e impressos em livro: Volume I da série de SÍTIOS GEOLÓGICOS E
PALEONTOLÓGICOS DO BRASIL.
Como evolução natural, a captação de novas propostas de geossítios avançou para uma dinâmica aberta
lastreada na Internet, envolvendo o cadastramento da proposta em formulário eletrônico desenhado pela SIGEP,
orientado por premissas básicas, seguido da livre análise, críticas e sugestões pela comunidade geocientífica,
sendo concluído com a homologação do resultado pela Comissão, com status de aprovado ou não aprovado.
De acordo com o processo seletivo, a avaliação dos geossítios leva em consideração a sua tipologia
principal, entre as seguintes categorias: Astroblema; Espeleológico; Estratigráfico; Geomorfológico;
Hidrogeológico; História da Geologia, da Mineração e da Paleontologia; Ígneo; Marinho-submarino;
Metamórfico; Metalogenético; Mineralógico; Paleoambiental; Paleontológico; Sedimentar; Tectono-
estrutural; ou, Outros. Os critérios de julgamento são:
• sua singularidade na representação de sua tipologia ou categoria
• importância na caracterização de processos geológicos-chave regionais ou globais,
períodos geológicos e registros expressivos na história evolutiva da Terra
• expressão cênica
• bom estado de conservação
• acesso viável
• existência de mecanismos ou possibilidade de criação de mecanismos que lhe assegure
conservação e consequente aproveitamento
A existência de elementos arqueológicos ou fatos históricos associados, bem como manifestações
tradicionais de celebração religiosa ou cultural ligados ao sítio geológico ou paleobiológico são considerados
aspectos que agregam valor ao sítio, ao par, entretanto, do critério geológico e/ou paleontológico principal
e essencial. De forma semelhante, a existência ou o potencial para uma Unidade de Conservação com
atributos não geológicos envolvendo a área do sítio proposto (Estação Ecológica, por exemplo), também
tem sido importante como critério da avaliação, mas por si insuficiente para a caracterização como um
sítio geológico a ser preservado.
Buscando facilitar a consulta das informações relativas a cada sítio, os artigos foram padronizados
de modo a apresentarem tópicos considerados essenciais:
• Título, subtítulo, autoria e informações associadas
• Resumo e Palavras-chave
• Abstract e key words
• Introdução
• Localização
• Descrição do sítio
• Sinopse sobre a origem, evolução geológica e importância do sítio
• Medidas de proteção
• Referências
• Curriculum vitae sinóptico de cada autor com foto
• Anexo com a área de proteção proposta pelos autores
Figuras, tabelas e fotos com legendas bilingues documentam a descrição, sendo exigido padrão de
qualidade que permita a publicação, de forma sistêmica e de alto nível, na Internet e em livros. Novos
volumes impressos da série SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS DO BRASIL são organi-
zados na medida em que um número suficiente de artigos tenha sido publicado em pre print na Internet.
Descrições sobre os mesmos sítios em linguagem mais popular são reiteradamente fomentadas, vi-
sando alcançar ampla divulgação junto à sociedade como um todo, estimulando o senso de valorização
e o espírito preservacionista. Estas descrições estão disponíveis na Internet e também estão publicadas
no presente volume.
Todavia, a despeito da organização e dinâmica que tem permitido à SIGEP exercer de fato as suas
competências, a sua oficialização jurídica no âmbito do Poder Público ainda não foi alcançada, restringindo
sua capacidade legal de propor ou adotar medidas formais para a preservação dos geossítios.
Com esse cenário, em agosto de 2012 é publicada a Portaria no 170 de 20 de junho de 2012, da Secretaria
de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, criando o Grupo
de Trabalho Interministerial de Sítios Geológicos e Paleontológicos (GTI-SIGEP) para elaborar proposta
de institucionalização das atividades da SIGEP, bem como a revisão dos procedimentos para a seleção
de novos sítios geológicos e paleontológicos de valor singular, e ainda o gerenciamento e divulgação das
informações produzidas. Ou seja, quinze anos após a criação da SIGEP surge a perspectiva para o Marco
Legal que irá impulsionar oficialmente a identificação, valorização, divulgação, conservação e uso de
sítios representativos do patrimônio geológico e paleontológico brasileiro.
Em novembro de 2012 o GTI-SIGEP finalizou a minuta de decreto presidencial para a criação da
Comissão do Patrimônio Geológico do Brasil, com as atribuições de identificar os bens que constituem
o Patrimônio Geológico do Brasil, definir e encaminhar propostas de acautelamentos aos órgãos com-
petentes. Nesse momento foi interrompido o processo de acolhimento de novas propostas no âmbito da
SIGEP original.
Em sua justificação, o GTI-SIGEP traz a seguinte argumentação:
“... por tratar-se de iniciativa importante e abrangente no movimento pela conservação do Patrimônio
Geológico do Brasil, a falta de institucionalização da SIGEP tem criado obstáculos à implantação de
políticas e procedimentos para o reconhecimento de geossítios. Pela envergadura alcançada e protagonis-
mo no tocante ao estudo da geodiversidade e do patrimônio geológico e paleontológico do Brasil, assim
como a certeza de representar o fórum mais adequado para o tratamento das questões relacionadas,
tornou-se imperiosa a sua formalização. (...)”
Em suma, a SIGEP, comissão multi-institucional atuante entre os anos de 1997 e 2012, coordenou
e promoveu de mãos dadas com a comunidade geocientífica o inventário de sítios geológicos e
paleontológicos do Brasil mediante produção de artigos científicos complementados por sugestões de
medidas de proteção. A ampla divulgação na Internet e a publicação de volumes impressos, na forma de
livros ricamente ilustrados, alcançaram órgãos públicos nas esferas municipal, estadual e federal, bem
como o setor produtivo e a opinião pública de maneira geral, representando uma contribuição extremamente
relevante para a conservação e uso adequado do patrimônio natural brasileiro e da sua geodiversidade.
A produção da SIGEP em seus quinze anos de existência pode ser assim resumida:
• 58 sítios publicados no Volume I
• 40 sítios publicados no Volume II
• 18 sítios publicados neste Volume III
• 4 sítios em linguagem popular e publicados neste Volume III
• 17 propostas de sítios aprovados e com candidatos definidos para descrevê-los
• 32 propostas de sítios aprovados e sem candidatos definidos para descrevê-los
• 26 sugestões preliminares de sítios não formalizadas
• 28 propostas de sítios canceladas (irrelevância, superposição com outras propostas, estado de
conservação etc.)
Resumidamente, este Volume III conta com dezoito capítulos em linguagem científica, organizados segundo
as categorias que melhor representam os sítios descritos: Astroblema; Geomorfológico; História da Geologia, da
Paleontologia e da Mineração; Paleoambiental; Paleontológico e Sedimentológico, quatro capítulos em linguagem
popular que foram aprovadas pela SIGEP, depois de amplamente divulgadas junto ao meio científico com direito a
comentários e réplicas na Internet.
Em um capítulo final (Parte 8) é apresentada uma relação das propostas de sítios aprovadas pela SIGEP, mas
que, por vários motivos, não foram descritos sistematicamente como determinam as normas da comissão.
É de ressaltar que a ação desta comissão, a custos públicos mínimos e sempre em estreita e indispensável par-
ceria com os autores dos capítulos e de proponentes de outros sítios, tem contribuído não só para a divulgação de
muitos de nossos monumentos naturais mas também para a conscientização da importância de bem se preservar
o nosso Patrimônio Geológico que, com o avanço de ações antrópicas nem sempre conscientes dessa importância,
corre riscos cada vez maiores de perdas irrecuperáveis.
vOLuME I
SIGEP nOME uf
VOLUME I
SIGEP nome UF
VOLUME II
SIGEP nome UF
VOLUME III
SIGEP nome UF
Pedra Furada de Venturosa, PE - Raro arco granítico com enclaves dioríticos (Sítio 063).................. 113
Gorki Mariano; Paulo de Barros Correia; Rogério Valença Ferreira; Ana Cláudia de Aguiar Accioly
Observação: Este e os demais volumes impressos são disponibilizados em cópias digitais (fac simile)
no site da SIGEP: http://sigep.cprm.gov.br/sitios.htm
Estromatólitos
de Nova Campina
e Itapeva, SP SIGEP 049*
Figura 3 - Mapa geológico (modificado de Theodorovicz et al., 1986) e localização das ocorrências de estromatólitos.
Figure 3 - Geologic map (modified from Theodorovicz et al., 1986) and location of stromatolite occurrences.
130 Estromatólitos de Nova Campina e Itapeva, SP
O afloramento principal (ponto 1, Fig. 3) é alcançado da continuação da mesma faixa de carbonatos ao sul de
pela estrada de asfalto municipal Itapeva-Grupo Orsa, a Itapeva até localidades no Estado do Paraná. Reconhe-
partir de Itapeva, distando cerca de 24 km de Itapeva e 3,2 cendo a distribuição desses fósseis como estratigrafica-
km a sul do centro da cidade de Nova Campina. O acesso mente significativa, Almeida sugeriu a individualização
ao afloramento de referência I (ponto 2, Fig. 3) é feito a dessa faixa como a Formação Itaiacoca (hoje elevada ao
partir de Itapeva pela estrada municipal Itapeva-Grupo nível de grupo).
Orsa, até a estrada de terra para a Pedreira Indumine, a O estudo de estromatólitos no Grupo Açungui con-
cerca de 20 km de Itapeva. O acesso ao afloramento de tinuou nas décadas seguintes, influenciado pela obra de
referência II (ponto 3, Fig. 3) é feito por asfalto, a partir Almeida. Em 1969, Petri & Suguio acrescentaram novas
de Itapeva, pela rodovia para Ribeirão Branco (SP-249), descobertas de estromatólitos na região de Itapeva e Bom
a cerca de 17 km de Itapeva. Sucesso de Itararé (SP).
A partir de 1970 ocorreu, mundialmente e no Bra-
HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA DAS DESCOBERTAS sil, um aumento dos estudos de estromatólitos que se
tornaram mais detalhados, visando, cada vez mais, à
A primeira descrição de fósseis pré-cambrianos no classificação taxonômica, tentativas de correlação e a
Brasil e na América do Sul foi de Almeida (1944) que bioestratigrafia, bem como interpretações paleoam-
identificou estromatólitos em dolomitos da “Série As- bientais e paleogeográficas. Naquele período, Marini &
sunguí” e denominou de Collenia itapevensis. Naquela Bósio (1971) concluíram que os estromatólitos que eles
época, estromatólitos não eram muito conhecidos mun- encontraram próximo de Abapã (PR) eram diferentes
dialmente e em toda a década de 1940 foram publicados em morfologia e origem das estruturas do outro lado do
apenas 11 trabalhos contendo a palavra “estromatólito” batólito granitóide Três Córregos, a 50-60 km a SE do
no título (Riding, 1999). O próprio trabalho de Almeida Grupo Itaiacoca, e descritas por eles e outros na Forma-
(1944) não consta dessa lista, pois a palavra “estromató- ção Capiru do Grupo Açungui (Bigarella & Salamuni,
lito” não aparece nem no título nem no texto. Isto ilustra 1956, 1959; Salamuni & Bigarella, 1967).
o estado incipiente do estudo de estromatólitos nesta data Fairchild (1977) reestudou os estromatólitos na
e demonstra a importância dessa descoberta (Fairchild região ao sul de Itapeva, nas localidades descritas por
& Sallun Filho, 2004). Esta descoberta de estromatólitos Almeida (1944), e reconheceu em Collenia itapevensis
em 1944 ocorreu quando Almeida era assistente do Prof. pelo menos duas formas distintas de estromatólitos co-
Octávio Barbosa na Escola Politécnica, encarregado da lunares. O próprio Almeida, em sua descrição original,
disciplina “Taxionomia Paleontológica”. Ocorria então já citara e ilustrara ampla variedade morfológica de
a 2ª Grande Guerra e a procura por minérios era grande, Collenia itapevensis, desde formas dômicas a cônicas.
o que o levou o Prof. Octávio a criar um escritório de Nessas formas cônicas, Fairchild (1977) identificou
pesquisa mineral. Almeida trabalhava com ele nesse características típicas do grupo Conophyton, com
escritório, o que o levou às pesquisas no Vale do Ribeira maior semelhança à forma Conophyton garganicum,
em busca de calcários para fabricação de cimento e de conhecida, mundo a fora, do Neoproterozoico inferior
mármores ornamentais. Como decorrência da disciplina e Mesoproterozoico. A outra forma é ramificada, apre-
na qual lecionava, F.F.M. de Almeida havia tido contato senta contorno transversal alongado, laminação até
com publicações sobre estromatólitos e tal conhecimento muito convexa, colunas próximas, sem conexões laterais
o levou a identificar estas estruturas nas pedreiras da (pontes) e com margens lisas, comumente destacadas
região de Itapeva. por uma fina zona escura.
O estudo de estromatólitos do Grupo Itaiacoca Fairchild (1977) também comparou os estroma-
prosseguiu com Almeida (1957), que estendeu o conhe- tólitos das formações Itaiacoca e Capiru, sugerindo,
cimento de novas ocorrências de estromatólitos ao longo face às diferenças constatadas na morfologia e modo
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 131
de ocorrência, a possibilidade das principais unidades litos coniformes em diversas localidades. A deformação
estromatolíticas da Faixa Ribeira terem histórias geo- afetou, ainda, os estromatólitos, em maior ou em menor
lógicas distintas. grau, chegando, em alguns casos, a obliterá-los (Sallun
Mais tarde Fairchild & Theodorovicz (1989) estende- Filho et al., 2005). Primeiramente, o arcabouço estrutural
ram a ocorrência de estromatólitos coniformes na região da zona de ocorrência do Grupo Itaiacoca exibe forte
ao sul de Itapeva, até a Fazenda Santo Antônio, no limite orientação NE-SW, com grandes dobras abertas nos
NE do Grupo Itaiacoca, 6-7 km a nordeste da localidade pacotes carbonáticos e quartzíticos, e dobras cerradas a
clássica de Lavrinhas descrita por Almeida (1944). isoclinais nos pacotes menos competentes. A vergência
Sallun Filho (1999) confirmou a presença de Co- estrutural é voltada para NW (Campanha et al., 1987).
nophyton, como principal componente dos bioermas O metamorfismo que afetou as rochas do grupo deu-se
da região e distinguiu mais quatro formas associadas, em condições da fácies xisto verde incipiente (Trein et
chamando de Forma 2, o morfotipo não coniforme iden- al., 1985; Campanha et al., 1987). A deformação e o
tificado por Fairchild (1977). As outras três formas são metamorfismo teriam sido gerados no Neoproterozoico
simples e muito raras e não serão comentadas aqui. A num ambiente de arco magmático continental (Reis
principal contribuição de Sallun Filho (1999), entretanto, Neto, 1994; Campanha & Sadowski, 1999). Ao final do
foi assinalar as diferenças nas condições de deposição Neoproterozoico e início do Fanerozoico, diversas falhas
dos estromatólitos coniformes nos metadolomitos claros e zonas de cisalhamento de direção geral NE-SW e de
de Lavrinhas e nos metacalcários escuros de Indumine, caráter essencialmente transcorrente afetaram toda a
como será visto adiante. área do Pré-Cambriano de São Paulo e Paraná, inclusive
a faixa de dobramentos do Grupo Itaiacoca (Campanha
DESCRIÇÃO DO SÍTIO & Sadowski, 1999). Estas falhas, com rejeitos até quilo-
métricos, transformaram muitos dos contatos originais
Contexto Regional - Geologia do Grupo Itaiacoca em tectônicos, dificultando ainda mais as reconstituições
paleogeográficas (Campanha et al., 1987).
O Grupo Itaiacoca faz parte de uma faixa de do- A idade do Grupo Itaiacoca ainda é assunto contro-
bramentos que se estende NE-SW, desde a região entre verso. Até o momento, não há uma idade precisa para
Guapiara e Itapeva (SP) até Itaiacoca (PR), dentro do a sedimentação do Grupo Itaiacoca. Foi primeiramente
contexto maior da Faixa Ribeira, no Sudeste do Brasil. proposta para o Grupo Açungui (sensu lato) uma idade
Os limites do Grupo Itaiacoca a noroeste e a sudeste se em torno de 650 Ma, ou mais, aplicando o método K/
dão com os complexos graníticos Cunhaporanga e Três Ar em rochas metamórficas e granitóides associados
Córregos (Neoproterozoico superior-Eopaleozoico), res- (Cordani & Bittencourt 1967a, 1967b). Cordani & Ka-
pectivamente, e a nordeste e sudoeste com os sedimentos washita (1971) obtiveram a idade de 608±48 Ma, pelo
paleozoicos da Bacia do Paraná em discordância angular método Rb/Sr para granitos intrusivos. Estas idades
e erosiva. O Grupo Itaiacoca é distinto e independente do representam idades brasilianas de metamorfismo e de
Grupo Açungui, a sudeste do Complexo Três Córregos, intrusões graníticas, e não podem ser consideradas idades
que também é conhecido por seu conteúdo estromato- de deposição da unidade. Estudos mais recentes confir-
lítico (Bigarella & Salamuni, 1958; Marini et al., 1967; maram idades entre 630 e 590 Ma para a geração dos
Marini & Bósio, 1971; Fairchild, 1977, 1982). batólitos granitóides de Cunhaporanga e Três Córregos,
O Grupo Itaiacoca possui grande variedade litológica que delimitam o Grupo Itaiacoca, em ambiente de mar-
e engloba uma seqüência de rochas vulcânicas, silici- gem continental ativa (Prazeres Filho et al. 2003). Com
clásticas e carbonáticas (Fig. 3). Embora não exista uma base na correlação de estromatólitos do Grupo Itaiacoca
estratigrafia detalhada para o grupo, pode-se reconhecer com Conophyton garganicum, conhecido de sucessões
uma sucessão geral, evidente em diversos trabalhos do Neoproterozoico inferior e Mesoproterozoico em
(Trein et al., 1985; Theodorovicz et al., 1986; Souza, outras partes do mundo, Fairchild (1977) sugeriu que a
1990; Reis Neto, 1994; Prazeres Filho et al., 1998), que sedimentação desta unidade teria se dado entre 1.700 e
se inicia com rochas clásticas, seguidas por rochas vulca- 850 Ma. Idades obtidas por Reis Neto (1994) por vários
nossedimentares (bastante variadas), seguidas por rochas métodos em vários tipos de rochas (Tabela 1) apontaram
químico-pelíticas. Uma estratigrafia regional fina para para deposição no Mesoproterozoico.
o grupo ainda não existe devido às complicações estru- Siga Jr. et al. (2003) obtiveram idades entre 635-630
turais, grande variação faciológica, relativamente baixo Ma pelo método U/Pb em rochas metavulcânicas do
número de dados geocronológicos e falta de bons marcos Grupo Itaiacoca no Estado do Paraná. Porém, esta idade
estratigráficos regionais e de fósseis morfologicamente é considerada, pelos mesmos autores, uma idade mínima
distintos, exceção feita talvez à presença de estromató- para a sedimentação da unidade, pois o Grupo Itaiacoca
132 Estromatólitos de Nova Campina e Itapeva, SP
localiza-se entre batólitos granitóides (Cunhaporanga e vados aqui se assemelham a estromatólitos observados
Três Córregos) que exibem, por vezes, contatos intrusivos na Pedreira Lavrinhas. Deste local provêm a fotografia e
e possuem idades muito próximas às do metamorfismo, desenho representados nas figs. 1 e 5H, como também os
entre 628 e 610 Ma. Mais recentemente Siga Jr. et al. espécimes-tipo depositados nas coleções do Instituto de
(2006), dando continuidade aos estudos anteriores, Geociências da USP, Instituto Geológico-SMA e DNPM
obtiveram idades de 934±36 Ma pelo método U/Pb em no Rio de Janeiro (Fig. 5 E, F e G).
rochas metabásicas do Grupo Itaiacoca no Estado do No corte mais a sul, ocorrem alguns estromatólitos
Paraná. A partir destas idades sugeriram que poderiam colunares, muito mal preservados, de aproximadamente
existir duas unidades distintas, a mais antiga, composta 7,5 cm de diâmetro, com eixos orientados N-S, mergu-
de rochas carbonáticas e metabásicas com idades entre lhando 40º para sul, e topo (normal) apontando para
1000 e 900 Ma, e outra mais jovem, composta de rochas norte. No outro corte, a norte (Fig. 5A), os estromatólitos
metavulcanossedimentares, entre 636 e 628 Ma de idade, estão melhor preservados, com formas colunares retos,
cujo vulcanismo teria sido associado ao arco magmático não ramificados, (Fig. 5C e D) e contornos elípticos a
responsável pela colocação dos corpos graníticos. Além circulares de até 30 cm de diâmetro (Fig. 5B). Os limites
disso, propuseram que a denominação Formação Itaia- destes estromatólitos são muito bem definidos pela tona-
coca representasse apenas as rochas carbonáticas, sendo lidade cinzenta, mais clara do que o sedimento entre as
que as outras, mais jovens, pertenceriam a outra unidade, colunas. Possuem laminação muito fina, pouco convexa,
a Formação Abapã. e estão pouco deformados.
Figura 5 - (a) Vista de uma das pedreiras abandonadas do sítio principal; (b), (c) e (d) Cortes transversal e longitudinal
de estromatólitos colunares no sítio; (e) Parátipo, “Collenia itapevensis”, F.F.M. de Almeida, coletor, localidade de Nova
Campina (Coleção do IG-SMA/SP, número IG-213); (f) Parátipo, “Collenia itapevensis”, F.F.M. de Almeida, coletor
(Coleção do IGc-USP, número GP/3T-80). (g) Espécime sem número da Coleção do DNPM, Rio de Janeiro, supostamente
“Collenia itapevensis” (mas não o holótipo), coletado por Almeida; (h) Desenho feito no campo por F. F. M. de Almeida
(1944, Fig.4, Est. II) de seção obliqua de “Collenia itapevensis”, arredores de Nova Campina.
Figure 5 - (a) View of one of the abandoned quarries at the principal outcrop; (b) , (c) e (d) Transverse and longitudinal sections
of columnar stromatolites at this site; (e) Paratype, “Collenia itapevensis”, F.F.M. de Almeida, collector, near Nova Campina
(Collection, IGc-SMA/SP, number IG-213); (f) Paratype, “Collenia itapevensis”, F.F.M. de Almeida, collector (Collection, IGc-USP,
number GP/3T-80). (g) Unnumbered specimen from the DNPM Collections, Rio de Janeiro, supposedly “Collenia itapevensis”
(but not the holotype) collected by F. F. M. de Almeida; (h) Field sketch by Almeida (1944, Fig.4, Pl. II) of oblique section of
“Collenia itapevensis”, near Nova Campina.
134 Estromatólitos de Nova Campina e Itapeva, SP
As colunas, originalmente retas, encontram-se inclinadas • Afloramento de Referência II: Pedreira Lavrinhas
(deformadas) e praticamente todas as formas coniformes
atribuíveis a Conophyton, que chegam a atingir vários A Pedreira Lavrinhas, explorada pelo Grupo Voto-
metros de altura, estão com seus eixos alinhados N50E, rantim, é composta por uma frente principal ativa (Fig.
mergulhando 40° para SW, com topo normal apontando 7A) e diversas frentes abandonadas (Fig. 7B), onde justa-
para NE. mente ocorrem os fósseis. Estas frentes são constituídas
Figura 6 - (a) Vista da Pedreira Indumine; (b) Corte transversal de amostra em exposição na Escola Técnica de Mineração
de Itapeva; (c) Corte longitudinal de colunas deformadas de Conophyton, próximas entre si, com laminação cônica e zona
axial evidente; (d) Estromatólitos em bloco intemperisado; (e) Coluna comprimida de Conophyton com zona axial evidente,
da Pedreira Chiquinho de Barros, próxima a Indumine. Coleção, IGc-USP, espécimes: (c) GP/6E–114; (e) GP/6T-15 a, b.
Figure 6 - (a) View of the Indumine quarry; (b) Transverse section of specimen at the technical school of Mining in Itapeva;
(c) Longitudianal section through three closely spaced deformed Conophyton columns, with conical lamination and axial zone
evident; (d) Weathered stromatolites; (e) Compressed column of Conophyton with distinct axial zone, Chiquinho de Barros
quarry, near Indumine. Collection, IGc-USP, specimens: (c) GP/6E–114; (e) GP/6T-15 a, b.
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 135
Figura 7 - (a) Vista da pedreira ativa em Lavrinhas; (b) Pedreira abandonada em Lavrinhas; (c) O ápice cônico de uma
coluna de Conophyton preservado tridimensionalmente; (d) Colunas de Conophyton com contornos elípticos; (e) Coluna
de Conophyton com contorno transversal circular; (f) Corte longitudinal de coluna mostrando laminação cônica e zona
axial; (g) Coluna longa e reta de Conophyton; (h) Coluna com zona axial. Coleção, IGc-USP, espécimes: C- GP/6E–126;
E, F- GP/6E–125; H- GP/3T–539a.
Figure 7 - (a) View of the active Lavrinhas quarry; (b) Abandoned quarry at Lavrinhas; (c) The conical apex of a column of
Conophyton preserved in three dimensions; (d) Columns of Conophyton with elliptical outlines; (e) Column of Conophyton with
circular transverse outline; (f) Longitudinal section of column showing conical lamination and axial zone; (g) Long, straight column
of Conophyton; (h) Column with axial zone. Collection, IGc-USP, specimens: C- GP/6E–126; E, F- GP/6E–125; H- GP/3T–539a.
136 Estromatólitos de Nova Campina e Itapeva, SP
quase que totalmente por estromatólitos (bioermas) do centro da pedreira (Fig. 7C, D, E, F, G, H). Apresentam
tipo Conophyton e outras formas colunares não-cônicas alternância de porções de tonalidades cinza bem claro
(Fairchild, 1977). Corresponde à segunda ocorrência e cinza médio. O material entre as colunas também é
de Almeida (1944) – os “sítios Boa Vista e Lavrinhas”. cinza médio a escuro.
A frente ativa da Pedreira Lavrinhas, localizada à Ocorrem quase encostados uns nos outros, havendo
beira da estrada Itapeva-Ribeirão Branco, é composta inclusive coalescência de formas, aparentemente nas
de metadolomitos estratificados com intercalações de margens de bioermas, formando conjuntos decimétri-
margas e não possui estromatólitos. Algumas dezenas cos. Os eixos das colunas estão orientados N20E, com
de metros a sul e sudeste desta área existem frentes mergulhos de 40° para SW, e o topo normal apontando
abandonadas, quase encostadas umas nas outras, que, para NE.
conjuntamente, constituem o sítio de referência II, pois O próprio pacote estromatolítico parece ocupar toda
todas exibem estromatólitos. O acesso a elas é feito ou os aproximadamente 70 m da extensão lateral da pe-
por uma estrada de terra a partir da estrada Itapeva- dreira, e pode ter alcançado cerca de 50 m de espessura.
-Ribeirão Branco, ou por dentro da pedreira ativa. A Outras duas formas de estromatólitos (Fig. 8), menos
frente principal, pequena e abandonada (ponto 02 de comuns, também são colunares, porém são menores
Sallun Filho, 1999) (Fig. 7B), é composta por metado- (centimétricos) e sua laminação pode ser muito convexa a
lomitos cinza claros, estromatolíticos na maior parte, parabólica, mas não chega a ser cônica. São ramificados e
bastante fraturados e com acamamento pouco evidente. possuem contornos transversais alongados e destacam-se
Onde não ocorrem estromatólitos, no lado SW da pe- pelos limites bruscos e o paralelismo das colunas, que,
dreira, o acamamento é mais nítido e os metacalcários por sinal, são muito próximas entre si.
estratificados que recobrem os estromatólitos apresen- Apesar dos contornos e da laminação estromatolítica
tam atitude de N50E/70-80NW.Atualmente é muito quase apagados nesta pedreira, este ponto representa,
difícil ver as estruturas estromatolíticas nesta pedreira atualmente, a melhor exposição de estromatólitos nos
porque a pequena quantidade de matéria orgânica que metadolomitos da região.
parece ressaltar a laminação original vem se oxidando, A outra frente abandonada e bastante deteriorada
restando poucas boas exposições. Os estromatólitos (ponto 27 de Sallun Filho, 1999) localiza-se a uns 500 m
ainda visíveis são formas colunares cônicas grandes a sul do ponto anterior, apresentando raros e mal preser-
atribuíveis a Conophyton vistos em planta e em perfil no vados estromatólitos em blocos soltos.
Figura 8 - (a) Estromatólitos colunares ramificados em corte longitudinal mostrando colunas com laminação fina, convexa
a parabólica; (b) Estromatólitos colunares ramificados em corte longitudinal com colunas paralelas com laminação muito
convexa a parabólica, alternância de camadas claras e escuras, e margens nítidas; (c) Estromatólitos colunares ramificados
em corte transversal exibindo colunas com contornos transversais elípticos a poligonais alongados e paralelos; Coleção,
IGc-USP, espécimes: A- GP/6E–133; B, C- GP/6E–132.
Figure 8 - (a) Branched columnar stromatolites in longitudinal section showing columns with convex to parabolic fine lamination;
(b) Branched columnar stromatolites in longitudinal section with convex to parabolic lamination, alternation of light and dark
laminae, and distinct margins; (c) Branched columnar stromatolites in transverse section exhibiting columns with parallel,
elongate, elliptical to polygonal outlines. Collection, IGc-USP, specimens: A- GP/6E–133; B, C- GP/6E–132.
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 137
3) quando cianobactérias filamentosas se movimentam Terra apenas formas primitivas de vida, microbianas,
em direção à luz, aprisionando grãos em um emaranhado que proporcionaram a intensa sedimentação carbonática
de filamentos. e a formação de estromatólitos. Desenvolveram-se es-
O crescimento da comunidade microbiana precisa tromatólitos em extensas áreas ao longo de toda a bacia,
superar a acumulação de sedimento, senão a esteira será por muito tempo, que deve ter perdurado visto a grande
soterrada, sem formar o estromatólito. Nessa luta pela espessura dos pacotes de rochas carbonáticas.
sobrevivência, as cianobactérias buscam a melhor posi- Eventualmente, a deposição dos carbonatos deu lugar
ção possível para receber a luz solar. Isso leva a maior à deposição de sedimentos argilosos. Com o passar do
espessamento de alguns locais, com a esteira se elevando tempo os sedimentos foram litificados.
acima dos sedimentos adjacentes e criando, assim, a Com o fechamento da bacia atuaram diversos pro-
laminação convexa típica da maioria dos estromatólitos. cessos que modificaram as características originais dos
O desenvolvimento e as características gerais dos fósseis, principalmente, a deformação e o metamorfis-
estromatólitos dependem, dessa forma, tanto de fatores mo. No limite do Pré-Cambriano com o Fanerozoico,
ambientais (profundidade, clareza, salinidade e energia da as massas continentais, antes separadas, passaram a se
água, grau de exposição ao ar, constância das condições aproximar e os sedimentos e rochas sedimentares que
do hábitat e outros) como de fatores biológicos (espécies haviam se acumulado no mar Itaiacoca, foram intensa-
de organismos presentes, taxas de crescimento e produção mente dobrados enquanto a região onde havia um oceano
de mucilagem). Isso torna possível avaliar, com base nes- transformou-se em elevada cadeia de montanhas.
sas estruturas, as condições ambientais, climáticas e pa- Após este soerguimento novos processos geológicos
leogeográficas da época em que se formaram no passado. se estabeleceram. No início do Paleozoico instalou-se um
Há cerca de um bilhão de anos atrás o ambiente mari- processo de subsidência que resultou na formação da Ba-
nho que existia no Grupo Itaiacoca era de águas calmas, cia do Paraná com a deposição dos sedimentos marinhos
bem iluminadas e relativamente profundas na maior parte da Formação Furnas sobre as rochas do Grupo Itaiacoca,
da bacia. Nessa época remota, ocorriam nos mares da no contexto do antigo Supercontinente Gondwana.
- Registro do fechamento
No limite do Pré-Cambriano com o Fanerozoico,
do oceano
as massas continentais, antes separadas, passaram a se
Deformação - Deformação e metamorfismo
aproximar e os sedimentos anteriormente depositados
e metamorfismo das rochas e estromatólitos
foram intensamente dobrados. Onde havia um
- Formação de cadeia
oceano,formou-se uma elevada cadeia de montanhas.
de montanhas
Soterramento dos Processo de subsidência e formação da Bacia do Paraná - Discordância angular e erosiva
Paleozoico
carbonatos debaixo com a deposição dos sedimentos marinhos da Formação dos sedimentos paleozoicos com
dos sedimentos da Furnas sobre as rochas do Grupo Itaiacoca, no contexto as rochas do embasamento
Bacia do Paraná do Supercontinente Gondwana. - Nova deposição marinha
Muito tempo depois, no Cenozoico, após a junção proteção. Em etapa posterior serão implantadas placas
de Gondwana no supercontinente Pangea e ruptura deste indicativas do sítio ao longo da estrada e painéis expli-
pouco depois, ocorreram a erosão dos sedimentos da Bacia cativos no local do sítio. O local ainda constitui uma
do Paraná e movimentação neotectônica (falhas), expondo área com mata atlântica preservada (área de reserva da
o embasamento, configurando o relevo atual e trazendo empresa proprietária) em uma região onde fragmentos
os fósseis à luz de estudiosos da Geologia e Evolução. de vegetação são raros e dispersos em meio a extensas
áreas de reflorestamento de Pinus para a indústria de
MEDIDAS DE PROTEÇÃO papel. O afloramento ainda ocorre no flanco de um cone
cárstico. Poderia ser criada uma trilha ao topo do cone
Vulnerabilidade do Sítio por dentro da mata, de onde se teria um mirante natural
das escarpas do Arenito Furnas a oeste.
Hoje, nenhum dos três afloramentos do sítio encontra- Por outro lado, os dois afloramentos de referências
-se protegido. O afloramento principal não apresenta risco não deverão ser indicados como Monumentos Naturais,
eminente de degradação, porém está englobado por dois pois situam-se dentro de áreas de mineração em ativida-
títulos minerários sobrepostos. Os dois afloramentos de de, o que poderia inviabilizar a atividade de exploração,
referência, Indumine e Lavrinhas, encontram-se dentro de iniciada há muitos anos. O DNPM já realizou vistorias
áreas de mineração ativa. Em Indumine a situação é mais em ambos e deve apresentar propostas de preservação
problemática, pois são os estromatólitos que compõem de porções das bancadas que contêm os fósseis, para não
quase a totalidade da rocha explorada. Já em Lavrinhas prejudicar a exploração e, ao mesmo tempo, resguardar
a frente ativa não contém fósseis. Porém, o avanço desta partes do sítio para gerações futuras. Esta ação está sendo
frente deve atingir num futuro próximo as frentes abando- realizada com apoio dos autores.
nadas onde ocorrem importante registro de estromatólitos.
Em 19 de julho de 2007, a Votorantim retirou três Problemas na Implementação das Medidas
grandes blocos de metadolomitos estromatolíticos da
Pedreira Lavrinhas e os doou ao Museu Geológico No momento o maior desafio é a criação do Monumento
Valdemar Lefèvre (MUGEO - IG-SMA/SP), ao Museu Natural, pois depende de vontade política. No afloramento
de Geociências (IGc-USP) e à Estação Ciência (USP). principal, após a criação do Monumento Natural, deverá
Esses blocos, cada um pesando cerca de 700 kg, são ocorrer a sua implementação, estudos de plano de manejo
um importante registro dos fósseis do afloramento de e demarcação, o que pode apresentar dificuldades de exe-
referência da Pedreira Lavrinhas, porém não substituem cução (devido a falta de recursos financeiros, por exemplo).
a preservação do próprio sítio. Os blocos encontram-se Por causa da localização dos afloramentos de referên-
expostos ao público nas instituições mencionadas. cia em áreas de mineração ativas, a ameaça da destruição
dos sítios continuará a ser real e constante, se não forem
Medidas Previstas tomadas a medidas necessárias.
cial, conta com uma escola técnica estadual com o Curso Fairchild,T.R. 1982. New stromatolites from the Upper
de Mineração, que poderá ser facilmente aproveitada na Precambrian Açungui Group, eastern Paraná, Brazil, and
multiplicação do conhecimento na região. their potential stratigraphic use. Bol. Inst. de Geociênc.-
O DNPM poderia rever os títulos, com mudança -USP, 13: 43-50.
nos limites ou exclusão de áreas. A Secretaria do Meio Fairchild,T.R.; Theodorovicz,A. 1989. Novas ocorrências de
estromatólitos no Grupo Itaiacoca (Proterozoico médio a
Ambiente do Estado de São Paulo deveria considerar a
superior), sul do Estado de São Paulo. In: SBP, Congresso
presença destes fósseis no processo de licenciamento
Brasileiro de Paleontologia, XI, Curitiba, Resumos, p. 4.
ambiental. O envolvimento e apoio das minerações que Fairchild,T.R.; Sallun Filho,W. 2004. Collenia itapevensis,
exploram os locais poderiam contribuir com a preser- o primeiro fóssil pré-cambriano brasileiro e sua impor-
vação de partes das frentes de forma a não prejudicar tância no estudo de estromatólitos no Brasil. In: Mantesso
suas atividades. Neto, V.; Bartorelli, A.; Carneiro, C.D.R.; Brito Neves,
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2701m
SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS DO BRASIL - VOLUME III - 2013 View publication stats